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terça-feira, 10 de novembro de 2020

Ricky Bols, Um Artista Visual Literário

 

Crédito:
Rosane Furtado/Divulgação

Ontem terminei meu dia com a notícia do falecimento do querido e talentoso Ricky Bols. Apesar de sabermos que há muitos anos a saúde dele vinha debilitada, Ricky não se entregava as etapas de tratamento foi forte e guerreiro até o final. A última vez que nos vimos foi na Exposição no CCCEV, de mesmo nome do livrão, com toda a história artística e a bio dele, chamado “Ricky Bols por Ricardo Irigoyen Bolsoni” em 2014. No dia da abertura, Daniel e eu fomos lá para abraçá-lo triplamente, pois levávamos o abraço da minha irmã, Carolina, e da Maria da Paz. Saímos de lá com pôsteres que ele produziu para quem comprasse o livro, podíamos escolher e não foi nada fácil. Tudo muito bem produzido por Rosane Furtado, que fotografou tudo registrando aquele momento lindo. 

Ele um canceriano clássico, viveu sua vida de forma intensa sempre através das Artes. Ricky promoveu inúmeros artistas da música (uma de suas paixões) e atendeu clientes ligados ao surf, futebol, moda, fez capas de livro, discos, CDs, encartes, etc através da sua arte gráfica. Até onde eu sei, o único livro na íntegra ilustrado por ele desde a capa foi “Lili inventa o Mundo”. – que honra! O conheci numa temporada em que fomos, eu e minha irmã, visitar a artista Zoravia Bettiol. Nesta época Ricky estava produzindo o material sobre um espetáculo teatral da atriz e diretora Débora Finochiaro com a obra de Mario Quintana, que apresentava obras de Zoravia. Meses depois, a minha terapeuta Maria da Paz Ceppas C. Peixoto, que o conhecia do movimento de contracultura de Porto Alegre (eles eram da mesma geração), me falou carinhosamente nele. Ela admirava a sua Arte e a sua forma de ser humano. Ricky conservava a rebeldia saudável de questionar tudo o que fazia, por isso gostava de trocar ideias, não aceitava nada sem dialogar bastante. Mas sempre nos recebeu com carinho, cuidado e atenção típicas de um canceriano. 

Anos mais tarde, em 2009 quando tivemos uma oportunidade de trabalho que envolvia ilustradores o convidamos. Aprata estava realizando a Coleção Mario Quintana para a Infância e ele ilustrou o volume com a obra “Lili inventa o Mundo” com suas aquarelas, representando tão lindamente aquele universo poético que é uma publicação muito acalentada por mim desde então. Nesta época, na sua agitação produtiva e criativa estivemos na sua casa em Petrópolis e lá também gravamos com ele para o documentário do Quintana, da mesma Coleção. Em 2016 chamei ele novamente para participar de um Calendário da Casa do Jardim que reunia ilustradores do Brasil, de forma voluntária divulgando os 10 anos de Evangelização para Crianças e Adolescentes dessa instituição. Ele veio novamente muito feliz, dizendo para escolhermos a obra que mais se adequasse ao calendário e novamente foi bem difícil, porque haviam muitas que eu gostava demais. Depois compareceu à cerimônia de lançamento, emocionado pela realização. 

Ontem eu pensei nele, mas sem saber conscientemente que estava hospitalizado. Ele não era uma pessoa de alarde, sempre foi muito discreto com a sua vida, com a sua família e profissão. Na dedicatória sem data, do livro que conta a sua trajetória, ele nos deixou a seguinte frase: “Leocádia e Carolina que legal tê-las aqui comigo. Espero que gostem! Um beijo Ricky Bols”. Acredito que um artista talentoso é atemporal, voa querido amigo e muito obrigada por ter estado conosco num projeto tão desafiador como este: viver e fazer Arte! Gratidão.    

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RICKY BOLS
(Sant'Ana do Livramento, 4 de julho 1952 - 
Porto Alegre, 9 de novembro 2020)

Reprodução do face de Ricardo Irigoyen Bolsoni Ricky Bols com a ilustração feita para a capa de "Lili inventa o Mundo", Coleção Mario Quintana para a Infância - Aprata 2009

Leocádia Costa

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 12 ANOS DO CLYBLOG - Milton Nascimento & Lô Borges - "Clube da Esquina" (1972)


Um clube na esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, em Beagá


“Memória de tanta espera
Teu corpo crescendo, salta do chão
E eu já vejo meu corpo descer
Um dia te encontro no meio
Da sala ou da rua
Não sei o que vou te contar”.
"Ao que vai nascer" – Milton Nascimento e Fernando Brant


Muitas histórias cercam a criação do LP "Clube da Esquina", e cada uma delas nos mostra esse universo que jovens músicos e compositores deixaram como parte do seu legado artístico a todos nós.

Vou contar brevemente as histórias que me ligam a esse grupo e às canções.

Na minha lembrança musical, comecei a escutar Minas através de Milton Nascimento e Fernando Brant muito pequena. Meus pais tinham uma maior predileção por Chico e Caetano, mas Milton era alguém que eles admiravam através das canções interpretadas por Elis Regina, que é guardada por Milton e Fernando, integrantes desse grupo de uma forma muito afetiva. Daí, através de intérpretes como Joana, conheci "Nos Bailes da Vida", e essa canção entrou para a minha vida. Sempre que transformava a sala do nosso apartamento em palco, "Nos Bailes da Vida", de Fernando Brant e Milton Nascimento, me levava às lágrimas. Emocionava profundamente uma criança de 7 anos.

Museu Clube da Esquinsa, entre a Paraisópolis
 e Divinópolis, em Santa Tereza (BH)
Elis cantava em seu repertório muitas canções de Milton e seus parceiros de Clube e eu, muito atenta às criações musicais, sempre olhava quem eram o compositor e o letrista. Fui identificando o jeito de cada um deles, ora diverso, ora profundamente lírico, e daí Ronaldo Bastos e "Trem Azul" entraram para a minha vida. "Cais" era uma das canções prediletas, que constava no disco de 78 de Elis, ao qual eu que sempre confundi letras, troquei palavras, mas sabia tudo de cor. "Cais" era outra canção que fazia a minha plateia imaginária delirar, no volume 10, do aparelho três em um da CCE que tivemos.

Com o tempo fui escolhendo escutas de outros mineiros. Vieram os irmãos Borges, descobri Flávio Venturini e o maestro Wagner Tiso e meu pai comprou o disco “O Som Brasileiro de Sarah Vaughan”, com a participação de Milton, abrindo o LP cantando com a Diva Sarah "Travessia" ("Bridges"). Este disco furou de tanto escutarmos lá em casa. Com o tempo e a chegada do Daniel em minha vida, conheci, vendo-os tocar ao vivo, Toninho Horta e Robertinho Silva, que estavam em torno desse clube.

Capa do livro
"Coração Americano"
"Minha parceria com Bituca nasceu de uma amizade que começou na Galeria do Maleta, em Belo Horizonte, num bar chamado Oxalá. Ficamos muitos amigos, mas depois Milton foi para São Paulo. Eu sempre ia visitá-lo e nunca tinha pensado em fazer letra para música, embora curtisse muito as coisas que o Bituca fazia com o Márcio Borges. Numa dessa visitas a São Paulo, ele me mostrou uma música e disse que eu tinha que escrever a letra. Não queria, mas acabei levando uma fita para Belo Horizonte e escrevi a letra de 'Travessia', sem nenhuma pretensão”, contou Fernando Brant, parceiro de Milton, ao Jornal de Música em 1976. Esse trecho foi compilado do livro maravilhoso que comprei em Ouro Preto, publicado pela PRAX editora, “Coração Americano: 35 anos do álbum duplo Clube da Esquina”, em 2008.

Daí, sem imaginar que algo dessa grandeza fosse acontecer, a vida me apresenta uma chance de conhecer o Fernando Brant. Isso aconteceu em 2004, quando eu estava produzindo uma edição do Rumos Itaú Cultural em Porto Alegre. Fernando não participou desse evento, mas o seu amigo, o pesquisador Luiz Carlos Prestes Filho, sim. Por razões óbvias – já que fui batizada com o nome da sua avó, mãe de Prestes, Leocádia – ficamos amigos, trabalhamos juntos em algumas ações culturais aqui na cidade e, anos mais tarde, em 2008, o próprio Luiz Carlos me comentou que Fernando estaria aqui para lançar uma unidade da União Brasileira de Compositores (UBC) na capital. Meu nome havia sido cogitado para gerenciar o escritório, ele queria me conhecer e eu fiquei chocada e feliz com a possibilidade.

Nos conhecemos numa atividade de lançamento da UCB muito bonita e nossa amizade já antiga, pois eu o escutava desde pequena, se estreitou. Fernando me trouxe Minas, me nutriu de mais canções, de novos intérpretes, ampliou minha visão do Clube da Esquina. Participou do projeto Coleção Mario Quintana em 2011 produzido por mim e minha irmã, na Aprata sobre a obra do poeta Mario Quintana, a quem visitou numa das vindas a Porto Alegre. Através do Fernando, conheci pessoalmente Ronaldo Bastos e Edmundo Souto, além de ter a oportunidade de assistir, em 2011, a um show que reabriu o Cine Palladium (SESC-MG) com Milton Nascimento ao vivo e convidados, em Belo Horizonte. Durante quase duas horas e meia de show, pude chorar enlouquecidamente, de mãos dadas com Fernando, igualmente emocionado, ouvindo a magnitude de Milton, apresentando seu repertório. Dentre as canções, muitas delas compostas por Fernando e Bituca (como ele chamava Milton), muitas interpretadas por Elis - eu ali sentada, ia sendo lembrada por Fernando, canção a canção, me dizendo as histórias que estavam guardadas em seu coração.

Foi um dos momentos mais belos que tive nessa vida. Um momento de total reconexão com as minhas raízes, de compreensão sobre a minha vida, sobre a nossa música e o que ela de fato representa na trajetória de cada ser humano brasileiro.

Fiz de Minas minha casa. É um estado ao qual sempre quero retornar. Gosto do clima, das pessoas, das sonoridades, dos prédios, das histórias e do sotaque que dá uma falsa impressão de timidez, mas é puro charme e singeleza. 

Fernando Brant e Milton Nascimento à época do Clube da Esquina

Esse clube aconteceu numa esquina, entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis, em Beagá, aonde está mantida a atmosfera de empatia e encontro, parecendo que a qualquer momento eles irão se reencontrar, pegar o violão, tomar um chopp e fazer novas e velhas canções, entre risadas e comentários profundos sobre a nossa realidade brasileira. Este espaço físico e emocional do Clube da Esquina emana essa importância viva de cada músico em nossas vidas, da sua Arte e da sua gentileza em mostrar para todos nós suas inquietações. Eles tocam os nossos corações através dos corações que eles gentilmente compartilham, abrem e escancaram com a gente. Deixam a gente com mais coragem para se expor e mostrar que nem tudo é planejado, simplesmente, acontece. Trazem à tona essa força da canção brasileira, tão diversa e tão entrosada, que não se pode dizer qual gênero estamos escutando, porque em cada faixa muitas vozes se misturam, muitas energias impulsionam num só coro ânimo para viver.

Vi isso num coral de primeira infância num evento de educação que participei e compreendi o quanto Minas é agraciado com tanta música. Eles estão marcados na história de todas as gerações, para que cada indivíduo possa refazer sua vida, restabelecer seu equilíbrio e seguir em frente, pois “nada será como antes, amanhã”. 

A trilha do Clube da Esquina, seus compositores e intérpretes, estão gravados na trilha sonora da minha vida. Fernando foi um amigo que guardo no lado esquerdo do peito, com sua risada aberta e tempinho para um chopp, bate-papo e troca de e-mails rápidos, porque o melhor da vida é estar com os amigos presencialmente, sempre que possível.

A todos vocês a minha profunda gratidão.

”...mas  agora eu quero tomar suas mãos
Vou buscá-la onde for
Venha até a esquina
Você não conhece o futuro
Que tenho nas mãos...”
"Clube da Esquina nº 1" - Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges


por  L E O C Á D I A     C O S T A



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Documentário: "História do Clube da Esquina - A MPB de Minas Gerais"




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FAIXAS:
Disco 1
1. "Tudo Que Você Podia Ser" - Interpretação: Milton Nascimento (Lô Borges, Márcio Borges) - 2:56
2. "Cais" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 2:45
3. "O Trem Azul" - Lô Borges (Lô Borges, Ronaldo Bastos) - 4:05
4. "Saídas e Bandeiras nº 1" - Beto Guedes e Milton Nascimento (Milton Nascimento, Fernando Brant) - 0:45
5. "Nuvem Cigana" - Milton Nascimento (Lô Borges, Ronaldo Bastos) - 3:00
6. "Cravo e Canela" - Lô Borges e Milton Nascimento (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 2:32
7. "Dos Cruces"  - Milton Nascimento (Carmelo Larrea) - 5:22
8. "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" - Lô Borges (Lô Borges, Márcio Borges) - 4:13
9. "San Vicente" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Fernando Brant) - 2:47
10. "Estrelas" - Lô Borges (Lô Borges, Márcio Borges) - 0:29
11. "Clube da Esquina nº 2" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges) - 3:39

Disco 2 
12. "Paisagem da Janela" - Lô Borges (Lô Borges, Fernando Brant) - 2:58
13. "Me Deixa em Paz" - Alaíde Costa e Milton Nascimento (Monsueto, Ayrton Amorim) - 3:06
14. "Os Povos" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Márcio Borges) - 4:31
15. "Saídas e Bandeiras nº 2" - Beto Guedes e Milton Nascimento (Milton Nascimento, Fernando Brant) - 1:31
16. "Um Gosto de Sol" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 4:21
17. "Pelo Amor de Deus" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Fernando Brant ) - 2:06
18. "Lilia" - Milton Nascimento (Milton Nascimento) - 2:34
19. "Trem de Doido" - Lô Borges (Lô Borges, Márcio Borges) - 3:58
20. "Nada Será Como Antes" - Beto Guedes e Milton Nascimento (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) - 3:24
21. "Ao Que Vai Nascer" - Milton Nascimento (Milton Nascimento, Fernando Brant) - 3:21


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OUÇA O DISCO

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Calendário Casa do Jardim 2015


A Casa dos Jardins



O calendário da Casa do Jardim comemora os 50 anos de atividade da entidade, que desenvolve um trabalho de atendimento espiritual gratuito desde sua criação numa casa do jardim do Hospital Espírita de Porto Alegre. Com o tempo, o grupo, que começou pequeno, foi crescendo. Com isso, uma sede nova se fez necessária. Assim, em meados dos anos 80, a Casa do Jardim migrou para uma casa no bairro Menino Deus, onde está situada até hoje.

Conheci a Casa do Jardim em 2008 quando fui convidada pela minha irmã Carolina para fazer um atendimento. Já cheguei na Casa sendo atendida por um grupo chamado Renascer. Lá recebi a orientação de trabalhar com crianças em uma instituição que eu escolhesse. Na saída da sala, num dos murais da Casa, desvelou-se para mim o Grupo Ação Voluntária Francisco de Assis - GAVFA (instituição atendida pela Casa do Jardim através do trabalho do grupo de Assistência Social). O GAVFA me acolheu em 2009 e permitiu a criação de um ateliê de Arte-Educação com a colaboração de amigos e doações voluntárias. Lá realizei também dois filmes para ajudar a instituição a mostrar o seu trabalho para possíveis mantenedores, um em 2009 (institucional) e outro em 2011 (comemorativo dos 10 anos), sempre com equipe voluntária.

Em 2010, decidi que estudaria a Doutrina Espírita nos cursos gratuitos e regulares da Casa. Desde então, frequento-a duas vezes por semana, uma para estudar e outra para receber o passe.

Foi então que, em maio de 2014, recebi um convite para desenvolver alguma ação voltada à cultura na Casa do Jardim. A ideia do calendário foi inspirada na ação desenvolvida por muitos anos pela pedagoga Cecilia Machado Bueno, que ajudava instituições em Porto Alegre através da venda de calendários com suas obras em desenho e pintura. Por vários anos Cecília colaborou como voluntária para a Instituição De Peito Aberto em Porto Alegre.  Este trabalho foi encerrado em 2013, quando Cecilia desencarnou, deixando então seu último calendário com obras de sua autoria. Cecilia foi minha professora de Arte-Educação, e me inspirei neste exemplo de caridade em ação e propus à Casa do Jardim a elaboração do seu primeiro calendário. 

Mais uma vez a ação seria realizada com a colaboração voluntária de todos os envolvidos. Pensei então na equipe e na temática. Os jardins me vieram de forma muito precisa. Afinal de contas, essa instituição nasceu em um jardim e chama seus trabalhadores de jardineiros. Nada mais coerente do que ressaltar esse caráter histórico e muito particular da Casa. Mas como transformar esse conceito de jardim em algo original e diferenciado? E quem convidar para essa ação?

Eu queria que a maior parte de profissionais representativos da área da fotografia e afins participasse do calendário, mas pela quantidade de meses só caberiam 12 fotógrafos, então a seleção ficou mais delicada. Propus aos 12 fotógrafos selecionados para participar do calendário que eles me enviassem seus jardins. Alguns me disseram: “Mas Leocádia eu não fotografo jardins!” E eu comentei: “Tens certeza disso?” A proposta era trabalharmos com um conceito de jardim mais ampliado, mais inusitado. Todos tinham em seus acervos uma imagem com esse tema o difícil para todos foi escolher.
 
Convidei Amy Hildebrand, que conhecemos nos anos 2000 quando pesquisávamos na minha empresa, Aprata, sobre cegueira e ela, fotógrafa norte-americana com baixa visão produzia um projeto chamado “With Little Sound”, onde diariamente fotografava alguma imagem do seu cotidiano e publicava num blog. Amy me disponibilizou primeiro uma fotografia de inverno, com neve em P&B, pois ela havia sido escolhida para ilustrar o mês de janeiro. Mas conversando resolvemos trocar a imagem por duas, mais parecidas com o clima do Brasil nesta época do ano. Então as fotografias de janeiro reunidas num díptico, mostram a poesia e o registro inusitado, duas características de Amy. 
Amy Hildebrand - janeiro
Bruno Alencastro está no mês de fevereiro e nos enviou duas imagens, uma delas, a selecionada traz a flor de hibisco da Zona Sul de Porto Alegre, região mais arborizada e que possui uma flora muito própria. Bruno foi meu colega nas edições da Feira do Livro de Porto Alegre, quando trabalhamos juntos na equipe de fotografia.
Bruno Alencastro- fevereiro
Dulce Helfer, que já era uma colaboradora antiga com fotografias de Mario Quintana em projetos da Aprata, me deixou à vontade para escolher entre 14 opções de fotografias o jardim. A que mais gostei foi essa, que dentro do conjunto nos traz uma visão dos pampas, numa estrada do interior do RS, no caminho para a cidade de Horizontina e os girassóis na plantação. As flores junto às plantações são muito utilizadas para reduzir o uso de agrotóxico afastando de maneira natural as pragas e insetos. A fotografia ilustra o mês de março.
Dulce Helfer - março
Gal Oppido, fotógrafo paulista, já era muito admirado por mim duplamente, por seu trabalho em fotografia e nos projetos gráficos voltados para música. Sua única opção de imagem foi o jardim de Claude Monet, registrado por ele em 2014 com uma visão muito poética. Gal traz a conexão desse jardim francês, com a doutrina espirita que nasceu na França e fez do Brasil seu berço de difusão. O jardim de Giverny ilustra o mês de abril.
Gal Oppido - abril
Fernando Schmitt foi meu professor de fotografia na Famecos-PUCRS quando estava cursando Publicidade e Propaganda no final da década de 90. Além disso, Fernando faz parte da Escola de Fotografia Fluxo em Porto Alegre, que cresce oferecendo formação aos interessados em fotografia e em artes visuais. Ele me enviou sete opções de jardins, mas o inusitado da fotografia “Tupi Paulista” me arrebatou. A fotografia mostra a copa de uma árvore que aparece em forma de sombra na calçada da cidade do interior do estado paulista Tupi Paulista, ilustrando o mês de maio.
Fernando Schmitt - maio
Frederico Mendes é carioca e trabalhou conosco na Coleção Mario Quintana para a Infância volumes IV e V em 2011. Na Coleção ele fez as fotografias do trio de compositores Waldemar Falcão, Monique Aragão e Fernando Gamma. Frederico fotografou lugares de todo o mundo para revistas de viagem, jornais e outros. Ele enviou “Um certo açude em Pernambuco”, quase sumindo no entardecer, um jardim nordestino que ilustra o mês de junho. 
Frederico Mendes - junho
Bruno Polidoro traz o jardim plástico que tem uma história muito particular. Bruno trabalha como diretor de fotografia no cinema, e enviou sua fotografia realizada no dia em que seu avô desencarnou. A imagem mostra uma flor de plástico em meio a vidros, narrativa de um momento onde algo mudou e não será como antes. A imagem ilustra o mês de julho quando se comemora em vários lugares do país, o dia dos Avós.
Bruno Polidoro - julho
 Gustavo Diehl conheci em 2009, quando comecei meu Pós em Artes Visuais na Feevale. Fomos colegas e Gustavo já fotografava imagens decompostas através da ação do tempo. Aqui, duas opções muito verdejantes vieram para minha seleção. A escolhida nos faz sentir o adentrar da mata, da floresta, deixando um verde tomar conta de toda a imagem, ilustrando o mês de agosto.
Gustavo Diehl - agosto
Jefferson Gonzalez já era conhecido no fotojornalismo e, em 2013, realizei o casamento dele e da sua esposa Camila com muita alegria. Ao convidá-lo ele me abriu a opção de escolher uma imagem em seu banco de imagens, que é um oásis para qualquer curador. A tarefa ficou mais fácil quando encontrei essa imagem de um local da Praia da Pinheira e a figura de uma linda mulher e seu cão, com o título: “Amizade”. Daí a seleção foi imediata para ilustrar o mês da Primavera. Jefferson ilustra o mês de setembro.
Jefferson Gonzales - setembro
Lúcia Simon foi minha professora de fotografia e, junto com Nede Losina, administram a Escola Projeto, que existe há 10 anos formando novas turmas de fotógrafos no RS. Lúcia me enviou sua primeira fotografia digital, realizada em 2004, com a imagem dos pés de uma menina, narrando para a gente a proximidade da data do Dia das Crianças, que se comemora em outubro.
Lúci Simon - outubro
Luis Ventura tem sido um parceiro para trabalhos voluntários ou não desde que começamos a trabalhar, em 1999. Fotógrafo e cinegrafista, participou dos vídeos para o Grupo Ação Voluntária Francisco de Assis e reside faz alguns anos no bairro Menino Deus. Luis me enviou a fotografia de um arbusto florido de uma das calçadas do bairro, onde está situada a Casa do Jardim. A imagem ilustra o mês de novembro.
Luís Ventura - novembro
Rogério Amaral Ribeiro é fotógrafo e atua como professor da Escola Câmera Viajante. Ele nos envia a “Flor da Estação”. A fotografia tem a ver com os olhares de Rogério sobre a natureza, a flora mais especificamente. E assim o mês de dezembro encerra o calendário.
Rogério Amaral Ribeiro - dezembro
Fazem parte do calendário os voluntários: no projeto gráfico Beth Azevedo e Thomaz Benz, na tradução Cleiton Echeveste, na assessoria em direitos autorais Patrícia Mello, nas peças de divulgação (cartazes e convite web) Gabriela Bohns e na assessoria de imprensa o nosso blogger Daniel Rodrigues.  A direção da Casa do Jardim assina um texto de apresentação através do seu Diretor Presidente, Carlos Barradas, que conta um pouco da historia e do trabalho espiritual. Toda a produção do calendário foi acompanhada pelos departamentos da Casa do Jardim, de Assistência Social e Educação. Inclusive o lançamento institucional do calendário foi realizado gentilmente no Jantar Beneficente realizado no Clube do Professor Gaúcho pela Assistência Social em 22 de novembro de 2014.

Como a Casa do Jardim continua crescendo, toda a renda dos calendários será revertida ao “Projeto Jardim Maior”, que prevê a ampliação do espaço físico da casa para um melhor atendimento realizado através dos grupos de passe e dos grupos de atendimento presencial.

Com a alma renovada e agradecida a todos pela conclusão desse trabalho tenho ideias para os próximos. Sim, porque pretendo repetir a ação na Casa do Jardim para o ano de 2016  e, se houver, outra instituição que precise desse trabalho, por que não ajudar? Vamos em frente!

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Serviço:
Calendário Casa do Jardim 2015
onde encontrar: Livraria da Casa do Jardim (Rua Beck, 129 - Porto Alegre/RS)
valor: R$ 15,00/ A partir de 5 unidades, R$ 10,00.
informações 51- 3231-3826


sexta-feira, 20 de setembro de 2024

"Verissimo", de Angelo Defanti (2023)


por Leocádia Costa

“Tudo em Verissimo – a emoção, o lirismo, o drama e até a erudição de quem leu, viveu, ouviu e assistiu do bom e do melhor – é contido e temperado pela autoironia e por um humor generoso e irresistível”. 
Zuenir Ventura – "Conversa sobre o tempo"

“A vida privada do brasileiro, contudo, é o seu forte – ou as comédias da vida privada, para dizer melhor. Os rituais do namoro e do casamento, o sexo, as infidelidades, o choque de gerações, tudo isso é um prato cheio para o escritor. Quanto ao humor de Verissimo, ele é de um tipo muito especial. Por mais incisivas que sejam, suas piadas nunca destilam raiva. Ele não procura o fígado do leitor nem professa um humor amargo, desiludido com a humanidade. Verissimo afirma que, à medida que envelhece, talvez esteja caminhando para um ceticismo terminal, daqueles que não dão desconto. Mas ainda não chegou lá.”
Revista Veja, em reportagem de capa sobre Luis Fernando Verissimo

“Superlativo já no nome, Verissimo possui dois instrumentos de audição, dois de visão, um, bifurcado, de olfato, um gustativo (exemplarmente cultivado) mas, homem cheio de dedos, é bom mesmo no tato. Humorismo nunca ninguém lhe ensinou. Ele se riu por si mesmo.” 
Millôr Fernandes - "Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos"


Assistir ao filme do multiartista Luis Fernando Verissimo é vivenciar a passagem do tempo e a chegada da maturidade de um homem perto de completar os seus 80 anos de vida. 

O filme começa de uma forma muito bonita, revelando o dia a dia, a rotina desse escritor, a sua escuta permanente de todos os sons ao redor, a sua relação íntima com a família (com a esposa Lúcia, com os filhos Pedro, Mariana e Fernanda, com os netos Lucinda e Davi), a sua predileção apaixonada pelo time do coração, Internacional. Aliás, essa é uma das paixões, além da literatura, que temos em comum, pois também me tornei igualmente torcedora, de forma irreversível, após sucessivas experiências traumáticas: vestir uma camiseta pinicante do Grêmio quando criança, uma apreensiva ida ao estádio clássico da Medianeira e passar 90 minutos na iminência de receber um saco de urina na cabeça, e por fim, namorar um gremista... disso tudo  se salva somente a entrada do almoço do restaurante Mosqueteiro, que era “mara” e onde fui com meus pais algumas vezes ainda na primeira infância. 

Voltando ao filme: o documentário mostra uma série de relações que foram se estabelecendo no decorrer do tempo entre a sua produção literária, a sua produção jornalística e a sua forma de estar no mundo. É um filme que encanta a gente! Deixa-nos ver de forma tão íntima a rotina dele e nos permite encontrar um escritor com o corpo idoso, mas com uma mente superligada em tudo que está acontecendo. Verissimo tem uma incrível curiosidade, um senso de humor permanente, né? E de uma forma muito imediata, embarcarmos naquilo que a gente poderia dizer que é o imaginário dele, sabe? 

Momento de intimidade com os netos
No filme me chamou atenção a relação dele com a neta Lucinda, a mais velha entre os netos e muito parecida com ele. Os dois se entendem no olhar, se entendem nas pausas e se entendem nessa “maluquice do bem” que é vivenciar mundos paralelos diversos, enquanto inventam personagens, estórias e situações, só para se divertir, só por ser prazeroso, só por haver essa troca entre os dois. Avô e neta, escrevendo os dias – é tocante. 

O filme me fez lembrar também da primeira vez que eu entrei na casa dos Verissimo. Porque essa casa tem uma identidade muito forte: é uma casa que estrutura parte da história de uma família, desde a existência dos pais do cronista, o renomado Érico Verissimo e a Dona Mafalda. Interessante perceber que pai e filho souberam costurar o tempo em suas existências. Foi ali que o valioso núcleo familiar vivenciou e construiu suas vidas em Porto Alegre. Ver Luis Fernando ali, nesse ambiente tão fértil, e ao mesmo tempo, tão sólido, onde tudo continua existindo é, sim, parte dessa história. 

Lembrei-me da primeira e única vez que eu entrei, lá em 1997, quando eu fui entrevistá-lo para o meu Trabalho de Conclusão de Curso da PUCRS, em Comunicação Social – Publicidade intitulado: “Comédias da Vida Privada – uma produção ficcional na televisão brasileira”. Quem conseguiu o contato foi a minha queridona Gagá (Maria da Graça Dhuá Celente), que era amiga da família, coordenava o Departamento de Publicidade da FAMECOS/PUCRS, onde eu, estudante quase me formando, era sua monitora e na mesma instituição que eu havia sido sua aluna. Ela, com toda a gentileza, colocou-me em contato com a agente literária e com a esposa do Verissimo. Eles se conheciam acredito que dos tempos da publicidade em que Verissimo foi redator no Rio de Janeiro, mesma cidade em que conheceu sua esposa, Lúcia. Uma ponte muito amorosa se ergueu naquele momento, reverberando posteriormente na minha entrada em outros mundos literários. Gagá me ingressou na Publicidade e, de certa forma, me fixou na Literatura.

Em 09 de junho de 1997, foi apresentado o TCC para uma banca potente, com a cineasta Flávia Seligman, a Gagá e o professor Bob Ramos, além da minha orientadora, Ana Carolina Escosteguy. Falar nessa produção do “Comédias da Vida Privada”, que era muito contemporânea, ainda fresca e presente na televisão e que me deixava totalmente arrebatada, foi algo ousado, mas somente hoje, depois de 27 anos, é que percebo isso. Naquela ocasião, tinha o dever de concluir, em meio a tantos compromissos, uma faculdade. Percebi, muito jovem, esse trâmite entre a Literatura e o Audiovisual, e as entrevistas que se sucederam com Jorge Furtado e Carlos Gerbase me deram essa certeza de que estava com uma percepção fina da realidade.

Como leitora do Verissimo, eu vi verter das páginas que ele tinha escrito, diálogos para televisão com atores e atrizes de uma geração supertalentosa e muito bem dirigidos. Ao entrar naquela casa fui bem recebida pela Dona Lúcia e por ele, que chegou silenciosamente e timidamente sentou-se numa cadeira thonart em frente à minha. Ficamos os dois em cadeiras por alguns minutos ali. Um pouco tímida, fui fazendo perguntas para ele e ele me respondendo, algumas de forma mais breve e outras com o maior profundidade, com a maior atenção.

 O som da rua e o som do relógio estavam presentes naquele meu encontro com Verissimo, como se um estivesse conectado ao mundo externo e o outro marcasse o tempo interno. E no filme esse quase personagem constante se mostra pelo som, o que me trouxe a mesma sensação de quando entrei na casa.

O reservado Verissimo em seus momentos de retiro

Eu estava na frente de uma pessoa que eu admirava muito e simpática a mim, mas totalmente reservada. Ele escutava muito, e isso para mim, que sou super tagarela, foi me dando um senso maior de responsabilidade do que dizer sem ser óbvia ou burra. Mas o fato é que a entrevista foi muito boa, me rendeu algumas informações direto do autor daquela produção toda, que eu rapidamente adicionei no meu trabalho. Um tempo depois enviei uma cópia do TCC para ele ter/ler e fiquei muito surpresa quando soube que ele havia adicionado ao site que ele mantinha com indicações de obras, entre outros itens e indicações de trabalhos sobre a sua produção. Então, acabei concluindo que ele leu e gostou! 

No filme aparece uma cena poética desse respeito que ele tem com as pessoas que se dirigem a ele, como leitoras ou como referência, na espera de uma leitura daquilo que escrevem. O retorno que ele proporciona para quem abre esse diálogo sincero com ele é muito bonito! Um misto de gentileza com escuta, algo cada vez mais raro na sociedade em que se vive. Enquanto eu assistia ao filme tudo isso emergiu, revelando, inclusive, algumas pessoas importantes da minha biografia, além do próprio Verissimo e da Gagá. Relembrei que havia conhecido a Lúcia Riff (agente literária dele e de boa parte dos escritores brasileiros) não num trabalho da Casa de Cultura Mario Quintana, através do Sergio Napp e, sim, nesse momento aí, do TCC, sendo que a Lúcia até hoje é uma pessoa importantíssima em minha vida. Ela foi quem sempre me apoiou e me deu aval para que eu pudesse desenvolver vários trabalhos com a obra do Mario Quintana e foi muito bonito rever a nossa história a partir deste filme. Além dela, outras personagens importantes aqui da nossa cidade aparecem e se relacionam com a momentos da vida de Verissimo e da minha: o inventivo Cláudio Levitan, o poeta Mario Pirata e a pesquisadora Maria da Glória Bordini, pessoas que fazem parte da história de Porto Alegre. 

Foi muito emocionante para mim assistir Verissimo completar 80 anos através deste filme, pela TV após ter sido impedida de ver no cinema, em maio deste ano, em função das enchentes que atingiram não somente a programação da estreia mas a sala de cinema onde aconteceria a exibição. Verissimo sempre esteve muito presente na minha casa, era lido por meus pais, muito antes de eu ser sua leitora. Nestes mais de 40 anos que eu convivo com seus pensamentos e senso de humor muito lúcidos e geniais, volto a dizer que os artistas não deveriam se afastar dos seus ofícios. Sendo eternos mesmo quando se tornam um dia invisíveis à nossa percepção, a obra, o olhar e o recorte do tempo permanecerão imortais para quem os leu profundamente. O tempo é uma realidade com a qual precisamos saber lidar. Afinal, somos nós quem passamos por ele e, Verissimo faz isso de maneira suave, constante e inspiradora. 

Obrigada, Verissimo, por tanto! E agradeço também por esse encontro às sensíveis e generosas mulheres Gagá e as “Lúcias” Verissimo e Riff.

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tralier oficial de "Verissimo"


"Verissimo"
Direção: Angelo Defanti
Gênero: Documentário
Duração: 90 min.
Ano: 2023
País: Brasil
Onde encontrar: NET/Claro - Now


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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Exposição 'METROPOLITANOS' - Casa de Cultura Mário Quintana - Porto Alegre - RS




por Valéria Luna


A mostra Metropolitanos – A Nova Urbanidade em Exposição, que abriu no último dia 15/03, no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul - Casa de Cultura Mário Quintana, leva às dependências do Museu à arte das ruas pela expressão de 25 artistas gaúchos. Em Metropolitanos, a exposição nos trás a realidade exibida nos muros e viadutos, expostas ali diariamente e que, na maioria das vezes, passa despercebida aos olhos da população. Artista como: Pedro Gutierres, Carol W e Luciano Scherer levam seu trabalho “marginal” para as salas do museu, despertando uma dialética de boa discussão: "onde realmente é o lugar da arte?"
No cotidiano podemos nos deparar quase que em cada esquina com as manifestações do Cusco Rebel, Trampo e Xadalu, por exemplo. Porém a discussão acerca da mesma manifestação nas dependências do museu é a consolidação da manifestação urbana, a arte pela arte, e sua importância como obra, reforçando seu valor e todo o reflexo da arte Urbe-POA, por vezes perturbadora por ser tão explicita e singular.
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Exposição METROPOLITANOSA NOVA URBANIDADE EM EXPOSIÇÃO
ARTISTAS: Braziliano, Carla Barth,CarolW, Celo Pax, Cusco Rebel, Guilherme Nerd, Jotapê, Holie, Lidia Brancher, Luciano Scherer, Luciano Spinelli, Matheus Grimm, Nina Moraes, Paula Plim, Pablo Etchepare, Pedro Gutierres, Renan Santos, Ricardo Dias, Seilá Pax, Sergio Rodriguez, Talita Hoffmann, Trampo, Tridente, True e Xadalu

Local: Museu de Arte Contemporânea do RS, Rua dos Andradas 6° andar da Casa de Cultura Mario Quintana
Visitação: Até 15 de abril, Segunda das 14h às 19h, de Terça à Sexta das 10h às 19h, Sábados, Domingos e Feriados das 12h às 19h.



confira abaixo alguns trabalhos da exposição:

Carol W.


Carol W.


Luciano Scherer


Luciano Scherer


Luciano Scherer


Pedro Gutierres
 
Cusco Rebel

Trampo

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Valéria Luna é Relações Públicas formada pela ESURP – Escola Superior de Relações Públicas de Pernambuco. Teve seu exercício profissional pautado na Produção Executiva de Moda durante quase 10 anos de atuação no mercado do Nordeste, onde coordenou a Feira de Componentes Têxteis – COMTEX, por seis anos e, em 2008, criou a Rede ModaMercado – Rede de Profissionais de Moda, voltada para o agenciamento de profissionais em todo o país para a execução de ações de informação, como palestras, workshops e consultorias. Através da rede, realizou produção executiva de marcas e estilistas, ainda, eventos de moda pelo país.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

II Festival de Cinema Negro em Ação - Longas-Metragens

 

Tive a satisfação de participar, pelo segundo ano consecutivo, do Festival Cinema Negro em Ação, que é realizado com muita garra pela competente cineasta Camila de Moraes juntamente à Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e Instituto Estadual de Cinema (Iecine). Como já abordei noutras ocasiões, o festival tem uma importância singular no cenário audiovisual gaúcho e brasileiro por sua simbologia e ação. Particularmente, por meio da ACCIRS, tive o prazer e a felicidade de ser novamente convidado a integrar o corpo de jurados, desta vez na seleção de longas-metragens.

"Trem do Soul": a história dos bailes
negros dos anos 70/80
Iniciado no Dia da Consciência Negra, a segunda edição do evento, teve este ano ainda maior relevância, tanto por sua resiliência quanto por integrar as comemorações pelo cinquentenário do 20 de novembro. Em um formato híbrido, o festival ocorreu durante uma semana com programação na grade da TVE-RS e do Prime Box, na Cinemateca Paulo Amorim e na plataforma Cultura em Casa, da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Se o primeiro festival, juntamente com todas as vozes que reverberam o protagonismo negro em Porto Alegre, marcou lindamente uma trajetória que começa a se consolidar, ao mesmo tempo também foi maculado pelo terrível assassinato de João Alberto horas antes da estreia, desviando por força maior o foco das manifestações. Manifestações de luta, mas de revolta e não artísticas. 

Este ano, impossível não lembrar deste episódio, mas também – como é característica do povo negro – novos passos de superação foram dados. Em resposta, o próprio festival representa um marco nas políticas afirmativas das instituições envolvidas, resultado de um programa de inclusão e representatividade que aposta no audiovisual como um caminho de desenvolvimento econômico e social.

Sob o axé de Oliveira Silveira, cujo movimento em favor da criação desta data ainda tão fundamental completa meio século, o II Festival Cinema Negro em Ação transcorreu somente dentro do que o feito merece: com celebração e respeito.

Cena de "A Última Negra", que recebeu Menção Honrosa

O belo doc sobre
os clubes sociais do RS
Entre os sete longas e médias-metragens que competiram a mim e aos queridos e competentes colegas de júri Jeferson Silva, do Coletivo Macumba Lab, e Alexandre Mattos, da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC) escolher, destaco os que, após longa e saudável discussão, selecionamos: o aprazível documentário “Trem do Soul”, do carioca Clementino Junior, com o Prêmio Nacional; o tocante e revelador documentário “Meu Chão: Clubes Negros do Rio Grande do Sul”, de  Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, na categoria Destaque RS – Direção; e a Menção Honrosa à instigante ficção futurista “A Última Negra”, de Silvana Rodrigues e Camila Bauer, também gaúcho.

Justo falar ainda, porém, de outro dos quatro documentários em competição, que é o paulista “Tambores da Diáspora”, de João Nascimento. Pode-se dizer que é o filme mais bem acabado entre todos desta categoria, inclusive dos três premiados, embora por critérios consensuais não o tenhamos escolhido. Aliás, cabe ao mesmo tempo um olhar generoso e compreensivo, visto que ainda deficiente por reflexo de um contexto sociocultural muito mais amplo e complexo, mas também o do vislumbre de um avanço técnico por parte destes realizadores e de políticas públicas e privadas que fomentem a produção audiovisual negra. Com condições técnicas e oportunidades melhores, não há dúvida de que, em pouco tempo, despontarão novos Jeferson De fazendo cinema negro com autenticidade, propriedade e competência.

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Confira a lista dos premiados do II Festival Cinema Negro em Ação:

CATEGORIA VIDEOARTE
Prêmio Estadual: A GOTA D’ÁGUA (Direção: Luis Ferreirah)
Prêmio Nacional: A QUEDA (Direção: Lia Leticia, Pernambuco)
Destaque RS - Direção: LANCEIROS NEGROS (Thaise Machado)
Menção Honrosa: UM TRANSE DE DEZ MILÉSIMOS DE SEGUNDOS (Direção:
Jamile Cazumbá, Bahia)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)

CATEGORIA VIDEOCLIPE
Prêmio Estadual: PULSO - DESSA FERREIRA (Direção: Kaya Rodrigues)
Prêmio Nacional: KOLAPSO - MONKEY JHAYAM, ENME E TERRA TREME
(Direção: Lazaro e Jessica Lauane, Maranhão)
Destaque RS - Direção: SORRISO MARFIM - W NEGRO feat. N JAY (Direção:
Deivid Makaveli)
Menção Honrosa: AMBIÇÃO - CRISTAL (Direção: Cleverton Borges, Rio Grande
do Sul)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)


CATEGORIA CURTA-METRAGEM
Prêmio Estadual: ROTA (Direção: Mariani Ferreira)
Prêmio Nacional: A SÚSSIA (Direção: Lucrécia Dias, Tocantins)
Prêmio Distribuição - Produtora Tarrafa: TÁ QUENTE (Direção Bruno Ferreira,
Amazonas)
Destaque RS - Direção: DESVIRTUDE (Gautier Lee)
Destaque RS - Roteiro: NAÇÃO PRETA DO SUL- O CURTA (Nando Ramoz)
Destaque RS - Intérprete: ALÉM DA FRONTEIRA (Clara Meireles)
Destaque RS - Montagem: ROTA (Rodolfo de Castilhos)
Destaque RS - Trilha Sonora: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos
Meirelles)
Destaque RS - Desenho de Som: OLHOS DE ANASTÁCIA: CONEXÕES
QUILOMBOLAS (Técnico de Som Giuliano Lucas)
Destaque RS - Direção de Arte: SERIAM OS DEUSES AFRONAUTAS (Direção:
Rogério Fanrandóla)
Destaque RS - Direção de Fotografia: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção de
Fotografia: Felipe Campal)
Prêmio TodesPlay: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos Meirelles,
Rio Grande do Sul)
Menção Honrosa: SUBSIDÊNCIA (Direção: Beatriz Vilela, Alagoas)
Menção Honrosa: PELE DE MONSTRO (Direção: Barbara Maria, Minas Gerais)
Jurados: Uilton Olivieria (APAN - Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), Miriam Juvino (SIAV-RS - Sindicato da Indústria Audiovisual RS) e Mario Costa (EDTRS)

CATEGORIA LONGA-METRAGENS
Prêmio Nacional: TREM DO SOUL (Direção: Clementino Junior, Rio de Janeiro)
Destaque RS - Direção: MEU CHÃO: CLUBES NEGROS DO RIO GRANDE DO SUL
(Direção: Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga)
Menção Honrosa: A ÚLTIMA NEGRA (Direção: Silvana Rodrigues e Camila
Bauer, Rio Grande do Sul)
Jurados: Daniel Rodrigues (ACCIRS), Jeferson Silva (Coletivo Macumba Lab), Alexandre Mattos (Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos - APTC)

PRÊMIO DONA DE SI
1- Thaise Machado, do Rio Grande do Sul, diretora da videoarte “Lanceiros
Negros”
2- Lia Letícia, de Pernambuco, diretora da videoarte “Queda"
3- Jessica Lauane, do Maranhão, diretora dos videoclipes “Kolapso - Monkey,
Enme e Terra Treme”, e “Garruncha do Sampaio - Marco Gabriel”
4- Rosandra Leone, do Rio de Janeiro, diretora do videoclipe “Melhor Assim -
Cesanne"
5- Roberta Liana Vieira, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “O
Futuro do Mundo é Preto”
6- Gabriela Cardozo Barrenho, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Nação Preta do Sul - O Curta”
7- Silvana Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “A
Última Negra”
8- Alini Guimarães, de São Paulo do curta-metragem “Inventário do Corpo”
9- Beatriz Vilela, de Alagoas, diretora do curta-metragem “Subsidência"
10- Raquel Cardozo, do Rio Grande do Norte, diretora do curta-metragem “Curta
Os Congos”
11- Barbara Maria, de Minas Gerais, diretora do curta-metragem “Pele de
Monstro”
12- Vanessa Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Olhos de Anastácia: Conexões Quilombolas”
13- Domenica Guimarães, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
14- Manoela Ramos, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
15- Dandara de Morais, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
16- Diana Paraíso, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
17- Adry Silva, do Rio Grande

Confira também os vídeos com as defesas de todos os jurados para os filmes escolhidos nesta segunda edição do festival.


Daniel Rodrigues