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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

CLAQUETE ESPECIAL DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - “Também Somos Irmãos”, de José Carlos Burle (1948)

 

Os movimentos negros surgidos no século 20 no Brasil edificaram a mentalidade e o discurso antirracista como hoje conhecemos, bem como a valorização da cultura afro-brasileira e a luta pelos direitos sociais, civis e políticos do povo preto. Aquilo que passou a ser mais comum na tela do cinema ou da televisão a partir dos anos 90, intensificando-se anos 2000 afora, é certamente resultado da organização formal de grupos como Palmares e Movimento Negro Unificado, surgidos à base de muita resistência em plenos anos de chumbo da Ditadura Militar.

Porém, um fundamental movimento ocorrido no Brasil ainda em um período em que a mentalidade escravagista e colonial era ainda mais forte, visto que vigente em um país jovem e recém-saído do sistema escravocrata, foi o Teatro Experimental do Negro. Fundado pelo genial Abdias do Nascimento, ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, este centro de cultura e arte serviu não apenas para formar profissionais, como atores, diretores, técnicos, entre outros, mas cidadãos negros conscientes de sua posição na sociedade brasileira. 

A força simbólica e prática do TEN foi tamanha, que chegou até o cinema. O principal resultado deste impulso é o filme “Também Somos Irmãos”, de José Carlos Burle, de 1948. Embora com características comuns a outros filmes produzidos pela Atlântida, como a abordagem popular, a narrativa linear, o maniqueísmo da trama, os números musicais e a dramatização de situações cotidianas, o filme absorve estes mesmos elementos de forma muito consciente para abordar corajosamente o tema do racismo no Brasil dos anos 40.

Como menciona o jornalista e crítico de cinema João Carlos Rodrigues em seu essencial livro “O Negro e o Cinema Brasileiro’, “Também...” é um caso raro dentro da cinematografia brasileira, dada a sua capacidade de abordar um tema mais do que apenas sensível, pois também negado e desvirtuado. Com roteiro de Burle e Alinor Azevedo, o longa trata do racismo e das relações de classe de forma muito consistente e realista dentro das possibilidades de um cinema melodramático como propunha a Atlântida.

Na história, dois irmãos negros, Renato e Miro (Aguinaldo Camargo e Grande Otelo respectivamente), cresceram na casa do rico Sr. Requião (Sérgio de Oliveira), que também adotou duas crianças brancas, Marta (Vera Nunes) e Hélio (Agnaldo Rayol). Enquanto Renato, apaixonado por Marta e determinado a concluir seus estudos em Direito, se mantém submisso, Miro comete pequenos delitos. Renato, compositor nas horas vagas, tem grande carinho pelo irmão caçula Hélio, que interpreta suas canções. Após se formar, Renato assume a defesa de Miro, acusado de crimes. Quando Walter Mendes (Jorge Dória), um golpista, tenta enganar Marta e o Sr. Requião, o amor fraterno é colocado à prova.

Tecnicamente muito bem realizado, "Também..." traz, contudo, a sua grande força nas atuações. É absolutamente tocante a interpretação de Grande Otelo, o maior ator que este país já teve, em um papel que é certamente um dos seus melhores em cinema e, talvez, o que mais dignifique sua genialidade interpretativa. No papel de Miro, ele consegue encontrar um equilíbrio dificílimo entre os arquétipos do negro revoltado, do malandro e do favelado, pegando as definições estudadas por João Carlos Rodrigues quanto à figura do negro na história do cinema brasileiro.

Mas não apenas Grande Otelo brilha. Aguinaldo Camargo, um dos frutos do TEN, assim como Ruth de Souza, que faz Rosália no filme. Dada a importância de seu personagem, Aguinaldo, no entanto, desempenha um papel essencial na construção maniqueísta da história de luta entre bem e o mal, cumprindo uma posição ideológica diretamente oposta a do seu irmão. Ele, um “homem da lei”; o irmão, um “fora-da-lei”. Ele é o típico “negro de alma branca” ao representar a superfície na qual o brancocentrismo o coloca; o irmão, ao contrário, não está nessa superfície, e, sim à margem. Um “marginal”.

Burle, que ainda dirigiria clássicas comédias musicais da Atlântida como ”Carnaval Atlântida”, de 1952, e “Quem Roubou meu Samba”, de 1959, conduz a história dramática com habilidade. Primeiramente, pelo fato de que não há concessões sentimentalistas. Os negros seguem sendo negros, os brancos seguem sendo brancos, a polícia segue sendo polícia e os ricos seguem segregando e dando as cartas. Igualmente, porque Burle consegue dar a este drama social a dose certa de chanchada, como as cenas musicais com Grande Otelo e do pequeno Agnaldo Rayol, bem como as de ação. 

Porém, o roteiro é o que acende o filme. Alguns diálogos são primorosos. Um dos mais brilhantes da história do cinema brasileiro, inclusive, é o que abre este destoante filme do cinema brasileiro. Em pouco mais de 4 minutos e com atuações memoráveis, a conversa entre os irmãos no barraco de Renato, após Miro fugir da polícia pelas ruelas do morro, é exemplar. Devidamente salvo, Miro, então, passa a travar um diálogo com o irmão mais velho na qual é possível compreender e identificar elementos narrativos importantes a toda a continuidade do filme. Fica clara a relação existente entre os dois, o papel simbólico de cada um dentro da sociedade racista, o histórico de vida que os levou até ali e as diferentes aspirações. Tudo isso sem, contudo, tomar partido de ninguém. O espectador é quem, com os elementos cênicos e narrativos que lhe são informados, formará a sua opinião a partir de então. 

Aguinaldo e Grande Otelo: dupla de atores negros de extremo talento

Nesta mesma cena, um desses elementos cênicos é especialmente simbólico: o contraste entre branco e preto nos sentidos físico e psicológico do termo. Perceptível desde a fotografia até o figurino, este aspecto se dá principalmente por conta da contraposição “sujeira x limpeza”. Explicando: ao fugir dos policiais pelas ruas enlameadas e sem estrutura urbanística de uma favela, Miro acaba por emporcalhar a bainha de sua calça clara, o que é imediatamente percebido por ambos e motivo de reprimenda do irmão mais velho para com o caçula. Porém, não se trata apenas de uma roupa suja como um inconveniente doméstico. Esta “sujeira” representa as ideias de mácula de caráter e de limpeza étnica alimentada pela sociedade pós-escravidão. É o próprio racismo, que age indistintamente sobre os dois personagens: um que o identifica e se revolta e o outro, que busca não enxergar para ser aceito pelo sistema e salvo da sua condição desumanizada. 

Para uma sociedade preconceituosa e mal resolvida, ser negro é errado, pois ser negro é ser sujo, enquanto que o branco deve ser o padrão a se seguir. Além de desencadear a discussão entre os irmãos de um ponto tão central para a trama, a cena serve também para contrapor, mais adiante, outro momento importante da fita. Quando Renato está se dirigindo à cerimônia de formatura, onde acredita que receberá o diploma das mãos da irmã adotiva por quem é apaixonado, os vizinhos, num ato muito bonito do senso de comunidade dos negros, vão para a rua festejar sua conquista e estendem tábuas sobre o chão barrento para que este não manche suas calças e chegue ao destino limpo. No entanto, Renato volta para casa frustrado pela ausência da irmã, proibida pelo impositivo pai de comparecer à formatura. Resultado: Renato volta para casa mais cedo e não encontra mais o simbólico tapete vermelho sobre o chão para o salvar. Isso faz com que, justo ele, que sempre buscou responder à sociedade branca da forma como esta gostaria, acaba por sofrer a mesma indignidade que o irmão marginal. O racismo estrutural é implacável.

Dado como perdido por muitos anos, o filme foi restaurado pela Cinemateca Brasileira a partir de materiais remanescentes em 16mm. A cópia existente, ainda que com prejuízos no som e na imagem, preserva o filme em sua íntegra. Um trabalho de importância cívica, visto que “Todos...” é uma obra ousada e corajosa essencial para entender os processos que o povo preto enfrenta e como esses reflexos foram levados à popular arte do cinema. Nem mesmo o desfecho denota sentimentalismo, ainda que num contexto melodramático. A moral, imperiosa, age, assim, com pesos desiguais. Tanto que uma mentira é muito mais cabível para resolver uma questão jurídica do que um amor verdadeiro mas proibido. 

A despeito de Burle ser um homem branco da alta sociedade carioca (justamente, o alvo de crítica do filme na figura dos Requião), o próprio título “Também...” contém, se não ingenuidade, certo simplismo advindo do perigoso (mas bastante vigorante à época) conceito de "democracia racial". Há, contudo, de se desculpar possíveis equívocos de uma obra datada de um momento histórico brasileiro em que recém se construía algum tipo de consciência negra, quanto mais por não saber manejar o que hoje se entende como letramento racial. Até porque, ainda hoje, o filme se mantém atual em diversos aspectos da questão antirracista, mesmo que ainda nem se pensasse em usar esse termo para designar o óbvio: que a verdadeira sujeira da alma é o racismo.


Filme "Também Somos Irmãos" completo e restaurado



Daniel Rodrigues

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Zumbi - Senhor das Guerras, Senhor das Demandas



Zumbi - Senhor das Guerras, Senhor das Demandas - REIS, Cly
arte estilo HQ inspirada na canção "África Brasil (Zumbi)", de Jorge Ben


Ouça: África Brasil (Zumbi) - Jorge Ben

Zumbi,
Senhor das Guerras,
Senhor das Demandas
arte: Cly Reis

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

cotidianas #878 - Mês da Consciência Negra - "Antirracismo"



Detalhe de obra sem título de Antonio Poteiro, déc. 60-2000
Ninguém fará eu perder a ternura
Como se os quatro besouros
Geração da geração
Gestação da liberdade
Voo de garça, seguro
Ninguém fará eu perder a doçura
Seiva de palma, plasma de coco
Pêndulo em extensão
Em extensivo mar – aberto
Cavala escamada em leito de areia
Ninguém me fará racista
Haste seca putrificada
Sem veias, sem sangue quente
Sem ritmo, de corpo, dura?
Jamais fará que em mim exista
Câncer tão dilacerado


*********************
"Antirracismo"
Beatriz Nascimento

sábado, 23 de novembro de 2024

Tony Tornado & Banda Funkessência - Encontro Black - Museu da Cultura Hip Hop RS - Porto Alegre/RS (20/11/2024)

Se Jesus Fosse Um Homem de Cor

Um gigante. Tony Tornado é um gigante. Mas não só por sua estatura de 1,90 metro, que se avoluma ainda mais no palco. Tony é gigante por sua importância para a cultura black, por sua figura emblemática para o povo preto, por sua música, por sua idade quase centenária, prova da força arrebatadora de um homem negro filho de escravo. Por sua existência divina.

Nada mais adequado que, então, celebrar o primeiro feriado do Dia da Consciência Negra em Porto Alegre, a cidade que viu nascer a ideia do 20 de novembro há mais de 50 anos com Oliveira Silveira e a ANdC em homenagem ao herói da resistência Zumbi dos Palmares, em pleno Museu do Hip-Hop, o primeiro do Brasil sobre este tema tão ligado à cultura negra moderna, recebendo este homem gigante, enorme física e simbolicamente chamado Antônio Viana Gomes. Ex-engraxate, ex-crooner, ex-cafetão, ex-traficante, ex-paraquedista do Exército, ex-combatente da Guerra de Suez, filho de um foragido da Guiana sobrevivente da seita Jim Jones, ex-exilado político, o ator de papéis memoráveis. Uma lenda. Ou seja: quando Tony Tornado pisa num palco, não é só um show que se vislumbra: é uma festa de santo, uma celebração, um toque, um ritual, um culto onde a divindade está ali, diante de nossos olhos. 

Foi nesse clima de epifania que Tony Tornado subiu ao palco montado no pátio do Museu para, como se diz atualmente, entregar uma apresentação não menos que memorável. Como um totem que expõe uma mensagem de resistência negra, vestia uma camiseta preta com uma escancarada estampa de Malcom X tão grande e auto-iluminada que se podia ver a quadras de distância. Acompanhado da excelente banda Funkessência e tendo ao lado o talentoso filho Lincoln Tornado, o mítico interprete de BR3, música com a qual venceu o Festival Internacional da Canção em 1971 impactando todo o Brasil com aquela performance histórica, já não dança mais como antigamente. Perfeitamente compreensível, afinal, os 94 anos que carrega naquele corpanzil lhe desculpam totalmente. Equilibrando performance sua com a do restante da banda, o show é uma aula de repertório e narrativa, com aqueles funkões cheios de groove intercalados por baladas para diminuir o ritmo, e formado por sucessos de Tony, homenagens e algumas surpresas.

O gigante negro toma
o palco
A abertura não podia ser com outra: “Tornado”, o excepcional funk autorreferente a la James Brown que encerra o clássico primeiro disco de Toni (ainda escrito com “i”), de 1971. Na sequência, o velho emenda outra pérola: “Me Libertei”, com seu refrão cativante: “Todo meu canto/ Sai do meu coração”. Aí, uma preciosidade escondida: “Manifesto para Angola”, escrita quando do exílio político de Tony no país africano, mas justamente quando este finalmente se libertava do colonialismo de Portugal. Por isso, esse ska africanado espetacular diz assim: “Temos que fazer algo agora/ Sem desesperar como outrora/ Retomar o tempo perdido/ Sentido, ferido/ Todo nosso tempo perdido/ E covardemente agredido/ Nós estamos voltando agora/ Angola é hora”.

O filho Lincoln, que faz as vezes daqueles clássicos mestres de cerimônia dos shows de soul, é um verdadeiro crooner que "soluciona" a menor mobilidade do astro principal cantando, dançando e divertindo com a plateia. E como dança! Ele é quem assume os microfones, com autoridade e irreverente, deixando o pai no backing-vocal, quando este dá as devidas paradas para descanso. Entoa, logo em sua primeira incursão, um clássico da black music brasileira: “Mandamentos Black”, do seu “tio” Gerson King Combo. Mais tarde, noutra pausa de Tony, aumenta ainda mais o nível evocando o pai de todos do funk: James Brown. É “Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine”, para delírio geral. Lincoln canta, dança, chama o público, interage com a banda e com a plateia. Um showman, que segue muito bem, com o mesmo sangue negro, o legado de seu pai.

Mas não se enganem que Tony faz um show “meia-boca” e delega para os mais jovens da banda a condução. Não! Mesmo com as pausas estratégicas para sentar e tomar um fôlego, Tony canta, e canta muito bem, ainda mais para a sua idade (diante de cantores com 60 anos menos que ele, inclusive). O cara manda ver nos gritos tipo James Brown, entoa frases em inglês com o sotaque de um negrão do Harlem ("clap your hands!", "everybody!") e, principalmente, é afinado. Sim! Tony cantou os versos melancólicos da primeira parte da clássica "BR-3", a penúltima do show, com afinação e direito a vibratos! Muito cantor jovem desses que se vê nos festivais por aí não tem esse cuidado - e nem essa qualidade. Isso quando não manda um rap em inglês que não deixa a dever a nenhum Notorius Big ou Snoop Dogg.

Tony Tornado mandando ver no rap

Visivelmente emocionado com o carinho e a vibração do público, Tony volta para dar mais presentes. E este presente se chama Tim Maia. Homenageando o amigo a quem conheceu nas ruas do Harlem, quando ambos viveram de contrabando em Nova York, e que viu nos últimos momentos antes de morrer, Tony faz um medley com “Primavera”, “Azul da Cor do Mar” e "Sossego", apoiado pela estupenda voz da cantora Francine Moh. Ela, aliás, com capacidade para isso, chamou outro hino de Mr. Dynamite, “I Got You (I Feel Good)” e, a pedido de Tony, “Respect”, de Aretha Franklin, em que Francine atingiu boas oitavas como pouco se vê. Muito respeito aos dois.

Tony retorna ao microfone principal trazendo outras maravilhas de seu repertório: “Podes Crer, Amizade”, com a qual é impossível ficar parado, e “Sou Negro”, com seu refrão tomado de resistência e negritude: “Sou negro, sim/ Mas ninguém vai rir de mim”. Para encerrar, “BR-3”. Quando inicia a segunda parte da música, naquela explosão funk da virada, é fechar os olhos e ver a imagem daquele negrão gigantesco com um sol desenhando no peito e dançando frenética e sensualmente para todo o Brasil no Festival da Canção. Já saindo do palco, forte o suficiente para sustentar o seu peso e importância, a Funkessência toca “Descobridor dos Sete Mares”, outra do Síndico. Lincoln se esbalda dançando. Francine explora as oitavas. A banda carrega no groove. Tony se despede com o punho cerrado dos Black Panthers.

Esta tarde histórica para a cidade e para a vida do público presente começou com muita alegria e emoção. Música preta - funk, soul, rap, charme, reggae, samba - emanava e se conectava aos fios dos cabelos black que desfilavam pelo lugar, mas também às mentes e corações. Um senso de pertencimento era sentido por todos: pretos, brancos, jovens, idosos, crianças, adolescentes. E Tony, neste sagrado dia de consciência secular, foi o ápice. Todos dançaram, se divertiram, conversaram, cantaram. Sacralizaram em torno de um Deus negro. E se Jesus fosse um homem de cor?...

Palmares se (re)instaurou. Porto Alegre aquilombou-se. Zumbi estava lá.

*********

Tony com a ótima banda Funkessência, Lincoln Tornado e Francine Moh


Começando o show com clássicos do seu  repertório


Trecho de "Me Libertei"



Crooner, Lincoln agita a galera


Duas gerações talentosas no palco


Francine e Lincoln mandam ver 
com James Brown



Sou negro, sim! Como um Black Panther


Dos momentos altos do show: "Sou Negro"


O Deus negro se despede



texto, fotos e vídeos: Daniel Rodrigues


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #387

 

"Abrindo todas as pennas/ Das suas azas serenas/ Sobre o negro soffredor,/A Liberdade esperada/ Foi assim como uma fada/ Que allivio lhe deu á dôr" É com a poesia negra de Lino Guedes, de 1936, que, resistindo a açoites e chibatadas, o MDC de hoje celebra o Dia da Consciência Negra. Poetas tanto quanto, Arthur Verocai, Jim Morrison, Azymuth, The Ambitious Lovers, Chico Science, Ronaldo Bôscoli também clamam por Palmares. O grito na mata se ouvirá às 21h, na quilomba Rádio Elétrica. Produção, apresentação e senhor das demandas: Daniel Rodrigues


 (www,radioeletrica.com)

COTIDIANAS nº 847 Especial Dia da Consciência Negra - todo negro





todo negro




Daniel Rodrigues



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

"O Mistério de Candyman", de Bernard Rose (1989) vs. "A Lenda de Candyman, de Nia Da Costa (2019)

 



Bom jogo.

Dois bons times!

"O Mistério de Candyman", de 1989 já ocupa seu lugar entre os clássicos do terror, mas "A Lenda de Candyman", de 2019, não veio pra brincadeira e quer desbancar o favorito.

É o caso de remake que não é exatamente uma refilmagem, estaria mais para uma sequência, um reboot, uma vez que tem ligação com os fatos já acontecidos, faz referência a personagens da trama original, mas cria de tal forma um novo conceito que o termo re-fazer torna-se totalmente mais adequado.

No original, de 1989, uma pesquisadora acadêmica, Helen, em busca de um bom assunto para sua tese universitária, investiga uma suposta lenda urbana de um homem negro, com um gancho no lugar de uma das mãos, que, segundo dizem, aparece sempre que invocado, cada vez que seu nome é repetido cinco vezes diante de um espelho. Ela mergulha na pesquisa e descobre que, há mais de um século atrás, o homem em questão, um negro filho de escravos, dotado de grande talento artístico, contratado para pintar um retrato da filha de um importante aristocrata, teria sido morto cruelmente por um poderoso aristocrata,  depois de se apaixonar e engravidar a moça. O negro, conta a lenda, teria sido torturado, sua mão decepada e colocado um gancho em seu lugar, além de lambuzado em favos de mel, exposto a abelhas dentro de um antigo apiário, sendo picado até a morte e depois ainda, como se não bastasse jogado em uma fogueira. Ela visita um conjunto habitacional de baixo padrão na periferia de Chicago, o Cabrini-Green, construído no local onde há tempos atrás teria ocorrido a barbaridade com o artista, e onde moradores alegam ver a entidade, atribuindo a essa assombração a autoria de vários crimes ocorridos lá.

Ainda cética e incrédula quanto à lenda, ela invoca a entidade e a partir de então sua vida torna-se um inferno. Visões, apagões, pesadelos passam a fazer parte de seus dias, e assassinatos nos quais ela estivera presente nas cenas dos crimes, a tornam a principal suspeita das mortes, sendo que, sem memórias claras, nem ela mesmo tem certeza de não tê-los cometido.

É que Candyman, depois de invocado por Helen, passa a ter com ela uma estranha ligação e a exige em sacrifício em troca da vida de um bebê que sequestrara no Cabrini-Green. E, vingativo e ressentido, não pretende parar de matar até que Helen se entregue a ele e compense, de certa forma, a mulher por quem foi sacrificado.


"O Mistério de Candyman" - trailer


No novo, essa questão da injustiça social, do julgamento racial, de um negro pobre ser morto simplesmente por ser negro e pobre, ganha muito mais força e significação. Em "A Lenda de Candyman", todos aqueles fatos já teriam acontecido e agora ecoam como um boato, um mito distante, uma lenda, que quase ninguém leva a sério. No entanto, Anthony, um artista plástico em crise criativa, em busca de uma maior expressão em sua arte, que pretende recorrer às raízes do povo negro, suas mazelas, suas dores como inspiração para sua arte e nesta busca, numa conversa casual, esbarra na tal da lenda de Candyman. Descobre que o bairro onde vive localiza-se numa área hoje revitalizada mas que outrora abrigava um bairro de classe baixa tido como "barra pesada", onde um homem negro que costumava dar doces para as crianças, fora morto injustamente, linchado pela polícia. Resolve desenterrar a história e ver até onde aquilo tudo tem algum fundo de verdade. O próprio interesse dele na história, no personagem e sua verificação dos fatos e contestação dos acontecimentos desperta a força sobrenatural adormecida. Curioso, cada vez mais intrigado e envolvido com a história, meio que na brincadeira, ele resolve invocar a entidade, só que aquilo era tudo que Candyman precisava: um homem negro, angustiado, em busca de respostas, em busca de si mesmo... Quando esse negro se olha no espelho ele vê todos os negros injustiçados, subestimados, subvalorizados, pré-julgados, espancados, linchados, mortos, e todos esses negros estão simbolizados na figura de Candyman.

Inspirado pelo personagem que pesquisara e descobrira, Anthony cria uma instalação artística, uma espécie de espelho de banheiro, repleto de símbolos, imagens e recados em seu interior, que, exposta numa galeria causa alvoroço e incita alguns brancos desavisados, céticos, descrentes, ignorantes, a ousarem dizer seu nome na frente do espelho. "Candyman, Candyman,  Candyman, Candyman, Candyman...".  Branco, você não devia ter feito isso...

Se para um negro que o chama ele surge com essa força ancestral poderosa (assustadora, é verdade, difícil de incorporar com naturalidade), para um branco que o faz, por galhofa ou curiosidade, Candyman revela toda sua fúria justiceira deixando um rastro de sangue vingativo.

Aos poucos Candyman vai se apossando de Anthony. O que vemos é desagradável, não é bonito mas... é isso: nunca foi bonito. É a vez do artista encarnar toda a injustiça e a violência sofrida pelos negros ao longo dos tempos. Mas ele aceitará essa tarefa?


"A Lenda de Candyman" - trailer


Jogo duríssimo, hein...

Propostas de jogo parecidas mas com alternativas táticas diferentes.

Se o primeiro é um filme de serial-killer sobrenatural que toca em pontos sensíveis, como machismo, desigualdade social, violência policial, gentrificação e, sobretudo, racismo; o segundo coloca essas discussões no centro da trama e, ao contrário, faz do terror um acessório importante.

É o duelo dos técnicos! De um lado o britânico Bernard Rose que não brilhou muito em trabalhos posteriores mas que aqui mostra muita competência, e do outro a jovem treinadora Nia da Costa, cheia de novas ideias e já mostrando um ótimo trabalho em seu segundo longa. Mas com tramas tão bem desenvolvidas, mais do que um duelo de treinadores, a batalha dos Candyman revela-se uma guerra dos roteiristas. De um lado, nada menos que o mestre do terror Clive Barker, idealizador e roteirista do filme de 1989, e do outro um dos grandes nomes do gênero na atualidade, o excelente Jordan Peele.  Como dá pra notar, comissões técnicas de peso. 

E dentro de campo a coisa não é diferente. O antigo aposta nas individualidades com Virginia Madsen, do primeiro "Duna", numa ótima atuação, no papel da pesquisadora Helen, e o lendário Tony Todd, do remake de "Noite dos Mortos-Vivos", espetacular como o personagem que dá nome ao filme. O novo, sem nenhuma grande estrela, aposta no conjunto e como ponto a seu favor traz um  um elenco predominantemente preto num filme sobre questões negras.

Partida equilibradíssima!!!

Quem leva?

Tony Todd é um Candyman muito melhor, mais assustador, mais impressionante com aquele rosto crivado de abelhas, do que o inexpressivo Michael Hargorve que é o Candyman que aparece na maior parte das vezes na nova versão. Embora sejam utilizados outros atores também no papel ao longo do filme em diferentes situações, Hargrove é quase aquele jogador que joga 'no nome'. Impressiona porque é O CANDYMAN, pois qualquer ator podia estar ali que faria o mesmo efeito, tanto que, grande parte das vezes, sequer vemos seu rosto com nitidez. Candyman 89 abre o placar.

Nia da Costa mostra-se mais diretora que Bernard Rose com um produto final mais bem acabado. Cor, iluminação, direção de arte, opções estéticas... tudo depõe a favor da norte-americana que conduz seu time com fluidez para o gol. Candyman 2019 empata o jogo. Jogada com o dedo da treinadora.

Mas o time de 1989 tinha uma arma secreta. A trilha sonora ficara a cargo de ninguém menos que o gênio Philip Glass. E ele não decepciona, entregando uma atmosfera tensa mas ainda assim extremamente elegante e sofisticada. É Candyman 89, novamente à frente no placar. 2x1.

Num time sem grandes estrelas, a diferença está na casamata. A treinadora Nia da Costa desequilibra de novo, com três momentos incríveis: o flashback recontando a origem do Candyman e os acontecimentos em Cabrini-Green, contado com muita sensibilidade estética num teatro de sombras; a morte da crítica de arte, Rebecca, sendo erguida e arrastada por uma força invisível, no interior de seu apartamento, filmada numa tomada afastada, quase como um vizinho observando; e a evocação final de Brianna, a namorada de Anthony, dentro da viatura entendendo o verdadeiro significado do Candyman. Cena fantástica, linda mas brutal, violenta mas emocionante. Golaço! Candyman 2019 deixa tudo igual novamente, 2x2.

Michael Brown, Jesse Washington, Sarah Bland, Geroge Floyd...
Todos eles são Candyman.
Diga o nome deles.

Difícil dar a vitória para algum dos dois aqui mas... a denúncia social, o recado anti-racista, a incisividade do discurso, a reinvenção de um clássico, dão a vitória para "A Lenda de Candyman". 

A evocação de Candyman na frente do espelho é um convite a que cada negro olhe seu reflexo e entenda que a imagem que vê guarda consigo cada um dos outros tantos que foram escravizados, espancados, pendurados em árvores, injustiçados, vistos com desconfiança só por serem negros, presos só por serem negros, mortos por serem negros. Quando Nia da Costa propõe que seus personagens falem o nome de Candyman, remete ao "Say Her Name", movimento que defende mulheres vítimas de agressão policial. Uma provocação inteligente colocada de forma brilhante. Chamar o Candyman é um desafio para que evoquemos nomes como Jesse Washington, Michael Brown, George Floyd e outros tantos. Você, irmão, negro, não esqueça dos nomes deles e delas. Você, branco, você tem coragem de dizer o nome deles? É golaço! Sabe de quem? Candyman é o nome da emoção! 

Vitória da Lenda de Candyman. Mas não foi fácil. Dois times de respeito num jogo, daqueles, para não esquecer.


No alto, à esquerda, Helen, e à direita, Anthony, ambos em busca de respostas sobre Candyman.
Abaixo, os dois Candyman, à esquerda, o da primeira versão e, à direita, o (ou um dos) da refilmagem.



Parafraseando a letra daquela música que a galera canta no estádio:
"Porque esse time bota pra ferver
E o nome dele são vocês que vão dizer"

(Digam vocês porque eu tô fora!
Vai que ele apareça mesmo...)








por Cly Reis


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #345

 

Lá se vai mais um 20 de novembro, mas nossas cabeças permanecem preenchidas de consciência. Negra. O que inclui a música, seja o rock de John Lennon, o ska da The Specials, o samba de João Bosco ou o hip hop de Thaíde & DJ Hum. Todos ritmos legitimamente negros, como será o nosso MDC desta semana, que se aquilomba às 21h na consciente Rádio Elétrica. Produção, apresentação e punho em riste: Daniel Rodrigues.

www.radioeletrica.com

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

cotidianas #815 - "Sorriso Negro"



Um sorriso negro, um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego, fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade

Negro é uma cor de respeito
Negro é inspiração
Negro é silêncio, é luto
negro é a solidão

Negro que já foi escravo
Negro é a voz da verdade
Negro é destino é amor
Negro também é saudade

Um sorriso negro, um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego, fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade

********************
"Sorriso Negro"
Dona Ivone Lara
(composição: Adilson Barbado / Jair / Jorge Portela)

Ouça:

Os Sambistas

 




"Os Sambistas" - REIS, Cly
ilustração digital GIMP



"Os Sambistas"
Cly Reis

domingo, 27 de novembro de 2022

Live Museu do Festival de Cinema de Gramado - Homenagem a Sirmar Antunes (24/11/2022)


Tive a honra de mediar, dias atrás, a convite do meu amigo e colega de profissão e de ACCIRS Matheus Pannebecker, uma live promovida pelo Museu do Festival de Cinema de Gramado em homenagem ao ator Sirmar Antunes. Na ocasião, durante a Semana da Consciência Negra, pude intermediar uma conversa muito proveitosa com a cineasta Mariani Ferreira e a educadora e integrante do Coletivo Sanfoka - Valorização da Diversidade Cultural Lis Reis. 

Com quase 50 anos de carreira no cinema e no teatro, Sirmar, falecido em agosto deste ano, dias antes da realização do 50º Festival de Cinema de Gramado, do qual ele tanto é uma referência quanto, igualmente, participaria como jurado, foi um dos mais queridos e competentes homens do audiovisual gaúcho. 

Na live, pelo Instagram do Museu, Mariani e Lis trouxeram seus olhares afetivos e conscientes tanto sobre Sirmar quanto a condição da pessoa negra nos seus meios e na sociedade como um todo. A própria existência e exemplo de Sirmar, aliás, deu este lastro para que o tema se aprofundasse. Chamou-me atenção, além das próprias falas das convidadas, a capacidade de enxergar a questão da negritude pela ótica da coletividade e da ancestralidade. 

Particularmente, tenho grande apreço pela figura de Sirmar tanto como ator preto quanto por sua importância referencial no cinema gaúcho que aprendi a gostar desde os anos 80. É ele quem interpreta o Sargento de “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, de 1986 (Jorge Furtado e José Pedro Goulart), filme especial em minha trajetória como cinéfilo e crítico de cinema, tanto por ter me apresentado a ele quanto por ser um dos filmes mais pungentes sobre o racismo que já assisti. Esta obra, inclusive, me motivou a escrever, em 2020, uma resenha crítica após o episódio de racismo na live da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS) sobre o filme “Inverno”, e que envolveu, aliás (mas não coincidentemente, por mais triste que seja) a própria Mariani. Várias conexões.

Enfim, confiram o vídeo, que vale a pena.

SOBRE MARIANI FERREIRA
É roteirista, diretora e produtora. Começou sua carreira como trabalhadora doméstica, estudou jornalismo, foi crítica de cinema e redatora e diretora de publicidade. Atualmente trabalha como roteirista na TV Globo. Seu filme de estreia, o curta-metragem de ficção “Léo", foi exibido em diversos festivais pelo mundo. Mariani também é produtora executiva e roteirista do documentário “O Caso do Homem Errado”. Também é roteirista da sitcom “Necrópolis”, exibida pela Netflix, e diretora do curta-metragem "Rota", que ganhou Menção Honrosa do Júri do 49º Festival de Gramado e o Prêmio Canal Brasil de Curtas no Cabíria Festival de 2021. Em 2022, estreia duas séries das quais é criadora e roteirista, a animação "Os Pequenos Crononautas" e o drama histórico "Filhos da Liberdade".

SOBRE LIS REIS
Educadora da rede de Gramado, trabalha com consciência vocal desde 2009. Participa como cantora em espetáculos da região desde 2004. Atuando como  oficineira em pontos de cultura e de grupos teatrais nas cidades de Canela e Gramado. Integrante do coletivo Sankofa.

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Assista: https://www.instagram.com/p/ClXH8zPh_XB/ 


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

II Festival de Cinema Negro em Ação - Longas-Metragens

 

Tive a satisfação de participar, pelo segundo ano consecutivo, do Festival Cinema Negro em Ação, que é realizado com muita garra pela competente cineasta Camila de Moraes juntamente à Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e Instituto Estadual de Cinema (Iecine). Como já abordei noutras ocasiões, o festival tem uma importância singular no cenário audiovisual gaúcho e brasileiro por sua simbologia e ação. Particularmente, por meio da ACCIRS, tive o prazer e a felicidade de ser novamente convidado a integrar o corpo de jurados, desta vez na seleção de longas-metragens.

"Trem do Soul": a história dos bailes
negros dos anos 70/80
Iniciado no Dia da Consciência Negra, a segunda edição do evento, teve este ano ainda maior relevância, tanto por sua resiliência quanto por integrar as comemorações pelo cinquentenário do 20 de novembro. Em um formato híbrido, o festival ocorreu durante uma semana com programação na grade da TVE-RS e do Prime Box, na Cinemateca Paulo Amorim e na plataforma Cultura em Casa, da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Se o primeiro festival, juntamente com todas as vozes que reverberam o protagonismo negro em Porto Alegre, marcou lindamente uma trajetória que começa a se consolidar, ao mesmo tempo também foi maculado pelo terrível assassinato de João Alberto horas antes da estreia, desviando por força maior o foco das manifestações. Manifestações de luta, mas de revolta e não artísticas. 

Este ano, impossível não lembrar deste episódio, mas também – como é característica do povo negro – novos passos de superação foram dados. Em resposta, o próprio festival representa um marco nas políticas afirmativas das instituições envolvidas, resultado de um programa de inclusão e representatividade que aposta no audiovisual como um caminho de desenvolvimento econômico e social.

Sob o axé de Oliveira Silveira, cujo movimento em favor da criação desta data ainda tão fundamental completa meio século, o II Festival Cinema Negro em Ação transcorreu somente dentro do que o feito merece: com celebração e respeito.

Cena de "A Última Negra", que recebeu Menção Honrosa

O belo doc sobre
os clubes sociais do RS
Entre os sete longas e médias-metragens que competiram a mim e aos queridos e competentes colegas de júri Jeferson Silva, do Coletivo Macumba Lab, e Alexandre Mattos, da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC) escolher, destaco os que, após longa e saudável discussão, selecionamos: o aprazível documentário “Trem do Soul”, do carioca Clementino Junior, com o Prêmio Nacional; o tocante e revelador documentário “Meu Chão: Clubes Negros do Rio Grande do Sul”, de  Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, na categoria Destaque RS – Direção; e a Menção Honrosa à instigante ficção futurista “A Última Negra”, de Silvana Rodrigues e Camila Bauer, também gaúcho.

Justo falar ainda, porém, de outro dos quatro documentários em competição, que é o paulista “Tambores da Diáspora”, de João Nascimento. Pode-se dizer que é o filme mais bem acabado entre todos desta categoria, inclusive dos três premiados, embora por critérios consensuais não o tenhamos escolhido. Aliás, cabe ao mesmo tempo um olhar generoso e compreensivo, visto que ainda deficiente por reflexo de um contexto sociocultural muito mais amplo e complexo, mas também o do vislumbre de um avanço técnico por parte destes realizadores e de políticas públicas e privadas que fomentem a produção audiovisual negra. Com condições técnicas e oportunidades melhores, não há dúvida de que, em pouco tempo, despontarão novos Jeferson De fazendo cinema negro com autenticidade, propriedade e competência.

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Confira a lista dos premiados do II Festival Cinema Negro em Ação:

CATEGORIA VIDEOARTE
Prêmio Estadual: A GOTA D’ÁGUA (Direção: Luis Ferreirah)
Prêmio Nacional: A QUEDA (Direção: Lia Leticia, Pernambuco)
Destaque RS - Direção: LANCEIROS NEGROS (Thaise Machado)
Menção Honrosa: UM TRANSE DE DEZ MILÉSIMOS DE SEGUNDOS (Direção:
Jamile Cazumbá, Bahia)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)

CATEGORIA VIDEOCLIPE
Prêmio Estadual: PULSO - DESSA FERREIRA (Direção: Kaya Rodrigues)
Prêmio Nacional: KOLAPSO - MONKEY JHAYAM, ENME E TERRA TREME
(Direção: Lazaro e Jessica Lauane, Maranhão)
Destaque RS - Direção: SORRISO MARFIM - W NEGRO feat. N JAY (Direção:
Deivid Makaveli)
Menção Honrosa: AMBIÇÃO - CRISTAL (Direção: Cleverton Borges, Rio Grande
do Sul)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)


CATEGORIA CURTA-METRAGEM
Prêmio Estadual: ROTA (Direção: Mariani Ferreira)
Prêmio Nacional: A SÚSSIA (Direção: Lucrécia Dias, Tocantins)
Prêmio Distribuição - Produtora Tarrafa: TÁ QUENTE (Direção Bruno Ferreira,
Amazonas)
Destaque RS - Direção: DESVIRTUDE (Gautier Lee)
Destaque RS - Roteiro: NAÇÃO PRETA DO SUL- O CURTA (Nando Ramoz)
Destaque RS - Intérprete: ALÉM DA FRONTEIRA (Clara Meireles)
Destaque RS - Montagem: ROTA (Rodolfo de Castilhos)
Destaque RS - Trilha Sonora: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos
Meirelles)
Destaque RS - Desenho de Som: OLHOS DE ANASTÁCIA: CONEXÕES
QUILOMBOLAS (Técnico de Som Giuliano Lucas)
Destaque RS - Direção de Arte: SERIAM OS DEUSES AFRONAUTAS (Direção:
Rogério Fanrandóla)
Destaque RS - Direção de Fotografia: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção de
Fotografia: Felipe Campal)
Prêmio TodesPlay: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos Meirelles,
Rio Grande do Sul)
Menção Honrosa: SUBSIDÊNCIA (Direção: Beatriz Vilela, Alagoas)
Menção Honrosa: PELE DE MONSTRO (Direção: Barbara Maria, Minas Gerais)
Jurados: Uilton Olivieria (APAN - Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), Miriam Juvino (SIAV-RS - Sindicato da Indústria Audiovisual RS) e Mario Costa (EDTRS)

CATEGORIA LONGA-METRAGENS
Prêmio Nacional: TREM DO SOUL (Direção: Clementino Junior, Rio de Janeiro)
Destaque RS - Direção: MEU CHÃO: CLUBES NEGROS DO RIO GRANDE DO SUL
(Direção: Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga)
Menção Honrosa: A ÚLTIMA NEGRA (Direção: Silvana Rodrigues e Camila
Bauer, Rio Grande do Sul)
Jurados: Daniel Rodrigues (ACCIRS), Jeferson Silva (Coletivo Macumba Lab), Alexandre Mattos (Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos - APTC)

PRÊMIO DONA DE SI
1- Thaise Machado, do Rio Grande do Sul, diretora da videoarte “Lanceiros
Negros”
2- Lia Letícia, de Pernambuco, diretora da videoarte “Queda"
3- Jessica Lauane, do Maranhão, diretora dos videoclipes “Kolapso - Monkey,
Enme e Terra Treme”, e “Garruncha do Sampaio - Marco Gabriel”
4- Rosandra Leone, do Rio de Janeiro, diretora do videoclipe “Melhor Assim -
Cesanne"
5- Roberta Liana Vieira, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “O
Futuro do Mundo é Preto”
6- Gabriela Cardozo Barrenho, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Nação Preta do Sul - O Curta”
7- Silvana Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “A
Última Negra”
8- Alini Guimarães, de São Paulo do curta-metragem “Inventário do Corpo”
9- Beatriz Vilela, de Alagoas, diretora do curta-metragem “Subsidência"
10- Raquel Cardozo, do Rio Grande do Norte, diretora do curta-metragem “Curta
Os Congos”
11- Barbara Maria, de Minas Gerais, diretora do curta-metragem “Pele de
Monstro”
12- Vanessa Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Olhos de Anastácia: Conexões Quilombolas”
13- Domenica Guimarães, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
14- Manoela Ramos, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
15- Dandara de Morais, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
16- Diana Paraíso, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
17- Adry Silva, do Rio Grande

Confira também os vídeos com as defesas de todos os jurados para os filmes escolhidos nesta segunda edição do festival.


Daniel Rodrigues