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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2017



Gilberto Gil e Jorge Ben lideram o quadro nacional
graças a seu disco conjunto de 1975
Chegou a hora da verdade! A hora dos números! É hora de atualizar a situação dos nossos discos favoritos e seus autores depois de mais um ano. Não, a nossa seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS não é uma disputa, um campeonato, mas é sempre divertido e interessante fazer este levantamento e expô-lo desta maneira "competitiva".
Em 2018 a discografia nacional deu uma belo salto na nossa lista abrindo uma certa distância para os ingleses que, até nosso último levantamento, disputavam palmo a palmo a vice-liderança entre os países. Para que se tenha uma ideia, dos vinte e nove álbuns fundamentais apontados este ano, treze foram brasileiros deixando todo o restante distribuído entre outros quatro países. Mas a dianteira continua, é claro, com os norte-americanos que, apesar de terem, em média, registrado números menores do que nos últimos anos, continuam numa situação muito confortável.
A propósito de liderança, entre os artistas internacionais a ponta de cima não teve alteração, uma vez que tanto Beatles quanto Stones quanto Bowie não colocaram mais nenhum disco na lista durante este ano. Mas é bom abrirem o olho porque Miles Davis, Talking Heads, The Who e Pink Floyd que se igualaram aos alemães do Kraftwerk, se aproximam ameaçadoramente da ponta. Já no quadro nacional só o que mantém Jorge Ben e Gilberto Gil à frente de Tim Maia, Chico Buarque, Titãs, Legião, Caetano e Engenheiros, é o disco que fizeram em parceria em 1975, porque tirando isso, todos estariam empatados com três álbuns cada.
Em épocas, a década de 70 continua mandando ver, seguida lá de longe pelos anos 80; em compensação o ano de 1986 é o que continua tendo maior número de indicados, com 19 obras, vendo o ano de 1976 segui-lo de perto com 16 álbuns. O que chama  a atenção é o aumento de títulos do século XXI, sendo quatro somente este ano, que também registrou o álbum fundamental mais recente até então, o ótimo "No Voo do Urubu" de Arthur Verocai, de 2016.
E 2018, ano da primeira década de existência do ClyBlog, virá repleto de publicações especiais comemorativas por esta data e outras ainda envolvendo futebol e Copa do Mundo como já aconteceu em 2014. Já demos início aos festejos com o número 400 dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS com o convidado especial Michel Pozzebon e vem mais por aí com outros amigos dando suas contribuições e falando de seus discos do coração.
Mas por enquanto é isso aí. Fiquem com os números de 2017 e vamos em frente:



PLACAR POR ARTISTA (GERAL)

  • The Beatles, David Bowie  e The Rolling Stones: 5 álbuns cada
  • Kraftwerk, Miles Davis, Talking Heads, The Who e Pink Floyd: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Smiths, Led Zeppelin, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth e Bob Dylan: 3 álbuns cada


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben e Gilberto Gil: 4 álbuns*
  • Caetano Veloso, Chico Buarque, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia; 3 álbuns cada
*contando o álbum Gil & Jorge

PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 71
  • anos 70: 108
  • anos 80: 97
  • anos 90: 71
  • anos 2000: 10
  • anos 2010: 10


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1

PLACAR POR ANO

  • 1986: 19 álbuns
  • 1976: 16 álbuns
  • 1985: 16 álbuns
  • 1977: 15 álbuns
  • 1967, 1991: 13 álbuns
  • 1968, 1972, 1979 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1965, 1969, 1970, 1971, 1972 e 1987: 11 álbuns cada
  • 1980, 1989 e 1994: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 140 obras de artistas*
  • Brasil: 107 obras
  • Inglaterra: 93 obras
  • Alemanha: 8 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália e Islândia: 2 cada
  • Jamaica, Gales, Itália, Hungria, Suíça e França: 1 cada

*artista oriundo daquele país


C.R.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Fúria de Titãs" de Louis Leterrier (2009)






E fui eu, sábado, ver o remake de “Fúria de Titãs”.
Amigos...
Desnecessário.
Nada a acrescentar.
Nem o 3D ajuda. Aliás quase não se justifica. Poucas cenas são válidas o suficiente para que o recurso tivesse sido utilizado num filme como este. Sem contar que o tal 3D acaba meio que se perdendo na movimentação e velocidade intensíssimas das cenas de luta e perseguições, na proximidade da câmera nestas mesmas situações e na escuridão da fotografia. Pra piorar ainda mais, com todo o dinheiro, efeitos especiais, tantas dimensões e tudo mais, a ambientação do Olimpo com os deuses em pé sobre umas nuvenzinhas e a caracterização de Zeus com uma roupitcha brilhante-desfocada são ridiculas. Com toda a limitação de técnica e de recursos da época, os efeitos do clássico são bem mais legais do que os do novo, até mesmo pela importância e inovação no contexto daquele momento.
Agora vamos à história em si: outro desperdício!
O roteiro consegue destruir elementos extremamente interessantes do clássico de 1981 que eram a pureza de Perseu e a predileção dos deuses por ele. O novo Perseu, ao mesmo tempo que é alheio aos interesses dos nobres e deuses no seu conflito, é um jovem orgulhoso e movido pela vingança pela morte dos seus pais adotivos e não pelo amor pela bela Andrômeda como no antigo, o que o tornava naquele caso realmente envolvido com os objetivos da jornada na qual irá se lançar. Em nome de uma dinâmica e adrenalina para o filme, o herói acaba se mostrando bem menos racional e inteligente que seu predecessor oferecendo-nos apenas uma sucessão de correrias, lutas, vôos e saltos. Prova disso é a diferença da cena da Medusa na versão original, na qual Perseu pensa, aguarda o momento certo e finalmente age; sendo que nesse novo desde que entram no covil da Górgona, é só “loucura total”, culminando numa desenfreada perseguição entre as ruínas do mundo subterrâneo que vai, aí sim desfechar-se da mesma maneira que no outro filme mas de um modo muito mais ‘heróico”, com um salto acrobático e tudo mais. E a atual Medusa também não ajuda. Ainda guardando resquícios de sua extinta beleza não é nem sombra da apavorante criatura da primeira versão que, lembro, me impressionou muito na época.
A ajuda dos deuses, desprezada pelo diretor Louis Leterrier (de “O Incrível Hulk”) e conseqüentemente negada pelo seu Peseu, seria elemento importante na tramae, creio, enriquecedor para os novos objetivos de um remake. O herói teria bem mais "brinquedinhos", apetrechos, equipamentos, sendo quase que um James Bond de Argos com um recurso para cada situação difícil. A espada, o cavalo alado Pégasus, o elmo e o escudo que inclusive o salva no confronto com a Medusa, que apareciam como oferendas das entidades do Olimpo ao filho de Zeus; neste novo, Perseu  por "beicinho" e orgulho insiste em não utilizar até que lá pelo final, acaba no aperto, tendo que usar a espada e montar no cavalo, mas muito contrariado. O escudo, antes presente dos deuses, é substituído agora, por um feito da carcaça dos escorpiões gigantes que eles mataram e o elmo da invisibilidade, é esquecido.
Trama mal amarrada, mal explorada, diálogos infantis, motivações pueris e atuações caricatas...
Olha,... bem fraco.
Mas desta vez eu mereci. Eu sabia que não ia ser grande coisa e tentei.
Bem feito.
Quem não assistiu, procure o antigo em DVD. Vale a pena.




Cly Reis

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Os Paralamas do Sucesso - "D" (1987)



“’D’ é um instantâneo de uma banda lidando com uma recém-conquistada consagração em plena forma. O disco não encerra um ciclo artístico, pelo contrário, coloca possibilidades sobre a mesa, exala total frescor e antecipa as direções que o grupo seguiria, profundamente transformado por este aceno ao Brasil. Jamais eles seriam os mesmos.” Carlos Eduardo Lima, jornalista e historiador

Desde muito cedo tive uma ligação especial com Os Paralamas do Sucesso. Quando comecei a gostar de música, nos anos 80, ali pelos 7, 8 anos, era o Paralamas, entre os grupos surgidos no rock brazuca da época, que mais me faziam a cabeça. Gostava, claro, da Legião Urbana, dos Titãs, do RPM, do Capital Inicial e de outras. Mas o power trio formado por Herbert Vianna (guitarra e vocais), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) me transmitia algo a mais. Talvez já antevisse o meu gosto – que mais crescido passaria a tomar lugar igualmente especial em meu imaginário musical – pelos ritmos latinos e brasileiros, aos quais cedo souberam mesclar a seu rock potente e melódico. Tanto é fato essa ligação forte com a banda que o meu primeiro disco que ganhei, no Natal de 1986, foi um cassete de “Selvagem?”, daquele ano, disco no qual o Paralamas consolidava o discurso social e seu estilo de rock tomado de reggae e ska jamaicanos, mas também conectado com os ritmos Brasil e a América Latina.

Sucesso nas rádios, uma apresentação histórica no primeiro Rock in Rio e três discos lançados deram ao grupo a maturidade suficiente para os levar ao Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Acompanhada do hoje “quarto Paralama”, o não à toa chamado João Fera, que estreava com eles nos teclados, a banda desembarcava no festival mais democrático e amplo do jazz mundial, repetindo o feito de outros brasileiros que marcaram época por lá, como Elis Regina, Gilberto Gil e João Gilberto. Se no passado estes foram os responsáveis por difundir a MPB na Europa, agora era a vez da mais completa banda do rock brasileiro dos anos 80 mostrar o que esta geração tinha de melhor. O resultado disso é o brilhante disco “D”, registro ao vivo que está completando 30 anos.

Com os quatro tocando tudo e mais um pouco sobre o palco, “D” tem repertório muito bem escolhido, valorizando, obviamente, a safra do último trabalho em estúdio, mas também incluindo hits, material novo e até surpresas. De “Selvagem?”, há as versões irrepreensíveis da filosófica “O Homem” (“O homem traz em si a santidade e o pecado/ Lutando no seu íntimo/ Sem que nenhum dos dois prevaleça...”) e do reggae-punk “Selvagem”, tão político e cru que poderia muito bem ser uma canção dos Titãs – tanto tem semelhança, que Herbert canta incidentalmente durante a execução "Polícia", clássico deles.

Ainda referentes à turnê do recente álbum, outras duas: "A Novidade", que reproduz o reggae suingado da original, imbatível diante das outras duas versões ao vivo que a música ganhou anos depois: uma, com o coautor, Gil, em 1994, num reggae arrastado, e a meio ragga, que os Paralamas gravariam em “Vâmo Batè Lata”, de 1995. Além disso, o primor da letra de Gil - com quem a parceria já denotava a intencionalidade de maior diversidade sonora da banda - merece sempre destaque: lírica, reflexiva, surrealista: “A novidade era o máximo/ Do paradoxo estendido na areia/ Alguns a desejar seus beijos de deusa/ Outros a desejar seu rabo pra ceia”. A segunda é a salsa pop "Alagados", um dos hits da época que, na esteira da MPB de protesto dos anos 70, denunciava as condições indignas de vida dos miseráveis, seja da vila dos Alagados, em Salvador, das favelas cariocas ("a cidade que tem braços abertos num cartão-postal") ou de Trenchtown, na Jamaica, tão próxima do Brasil em cultura e miséria. Não por acaso, neste número, Herbert cita versos de "De Frente Pro Crime", um dos sambas-denúncia de João Bosco e Aldir Blanc escritos nos anos 70.

“D”, porém, guarda também surpresas. Uma delas é a que abre o disco: o arrasador reggae "Será Que Vai Chover?” em sua primeira execução pública e cuja inspiração em Jorge Benjor é inequívoca, seja em “Chove Chuva” ou “Que Maravilha”. A presença espiritual do Babulina se confirma mais adiante durante o show, quando o trio manda uma interpretação histórica de "Charles, Anjo 45", comprovando o que a banda já sabia muito bem fazer desde seu primeiro disco: versar outros artistas.

Não faltaram, igualmente, os sucessos, como uma matadora "Ska" (com a participação do “abóbora selvagem” e amigo George Israel no sax), "Óculos" e "Meu Erro", esta última, que fecha este memorável show d'Os Paralamas do Sucesso em solo suíço. A banda lançaria ainda mais sete álbuns ao vivo ao logo da carreira. Porém, mesmo três décadas decorridas, nenhum se equipara à qualidade, pegada e espírito de “D”. Com os rapazes no auge, esta apresentação simbolizou o merecido reconhecimento à geração do rock brasileiro dos anos 80 no mundo. Em uma época de alta efervescência no universo do pop-rock, com gente do calibre de U2, The Cure, Sting, Madonna, Duran Duran, Bon Jovi, Prince, entre outros, em plena forma, o BRock mostrava que também merecia atenção pela originalidade inimitável da música feita no Brasil.

Os Paralamas do Sucesso - "Ska" 
(ao vivo em Montreux, 1987)



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FAIXAS:
1. "Será Que Vai Chover?" (Herbert Vianna)
2. "Alagados" (Música incidental "De Frente Pro Crime" - João Bosco, Aldir Blanc) (Bi Ribeiro, João Barone, Herbert Vianna)
3. "Ska" (Herbert Vianna)
4. "Óculos" (Herbert Vianna)
5. "O Homem" (Bi Ribeiro, Herbert Vianna)
6. "Selvagem" (Música incidental: "Polícia" - Toni Bellotto) (Bi Ribeiro, João Barone, Herbert Vianna)
7. "Charles, Anjo 45" (Jorge Ben)
8. "A Novidade" (Bi Ribeiro, João Barone, Gilberto Gil, Herbert Vianna)
9. "Meu Erro" (Herbert Vianna)


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OUÇA O DISCO


Daniel Rodrigues

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ira! - "Vivendo e Não Aprendendo" (1986)


“O Edgard senta na mesa e diz assim: ‘Olha, não é nada disso, não tem nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não agüentava essa coisa de música baiana, de Caetano, de Gil'. Na hora, esse foi mais um dos insights que eu tive. Puta que o pariu, defendi durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia, eu saí de lá falando assim ‘eu nunca mais canto essa música.’ ”
Nasi, à Revista Trip em 2008
sobre a música “Pobre Paulista”


Um dos melhores discos do rock nacional.
Mais um daquela safra brilhante da metade da década de 80 que inclui o "Dois" do Legião, o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs, o "Selvagem?" dos Paralamas, o Capital Inicial com seu disco de mesmo nome, entre outros bons que apareceram por ali.
“Vivendo e não Aprendendo” do Ira! era a afirmação de uma banda que havia aparecido bem no seu primeiro trabalho, “Mudança de Comportamento” de 1985, mas que então ganhava o respeito definitivo de público e crítica. Mais do que isso, era a afirmação Edgar Scandurra como o melhor guitarrista brasileiro dos últimos tempos e com certeza o melhor daquela geração. Músico capaz de riffs agressivos como o da espetacular “Dias de Luta”, melodias ternas como a da melancólica “Quinze Anos”, ou referenciais como em “Envelheço na Cidade”.
Nas composições de Scandurra pela voz de Marcos Valadão, conhecido como Nasi, o Ira! proporcionava com “Vivendo e não Aprendendo”, retratos urbanos recheados de imagens, sentimento coletivo e realidade cotidiana. A confusão da cidade, a violência, as multidões, as paixões e os desencontros na ótima "Vitrine Viva" com sua linha de baixo forte e matadora; a alienação, o dinheiro, a indignação na punkzinha “Nas Ruas”; o preconceito pueril de Edgar Scandurra em “Pobre Paulista (“não quero ver mais essa gente feia / não quero ver mais os ignorantes / só quero ver gente da minha terra / eu quero ver gente do meu sangue”); e o grito coletivo de desemprego, fome poluição de “Gritos na Multidão” são exemplos perfeitos desse desenho musical social proposto pelo Ira!.
No entanto, o grande sucesso do disco, muito devido ao fato de fazer parte da trilha de uma novela, foi “Flores em Você”, canção de letra curta, que nas mãos do produtor Liminha ganhou um belíssimo arranjo de cordas que lhe conferiram toda uma grandiosidade e graça.
O Ira! nunca mais conseguiu produzir um álbum como este. Fez uma coisa boa aqui, outra ali, os integrantes principais, Nasi e Edgar envolveram-se em projetos paralelos interessantes mas o grupo nunca mais foi o mesmo. A obra excessivamente diversificada, atirando em todas as direções, fez com que nunca tivessem conseguido manter uma unidade de estilo ou de intenção e não conquistassem um grande público de fãs como foram os casos de Legião, Titãs, Capital. Talvez se tivessem se fixado um pouco mais em determinada linha, ou principalmente, se tivessem feito coisas próximas a este “Vivendo e Não Aprendendo”, tivessem se consolidado posteriormente e tivessem mantido o interesse do público por seu trabalho. Mas isso não é tudo e o Ira!, por mais que tenha sumido da grande mídia, sempre teve seu público fiel. O que importa é que certamente tratou-se de uma das grandes bandas do cenário nacional e que foi fundamental no alavancamento do rock brasileiro naquela metade de anos 80. Se teve seus erros, teve, mas teve seus acertos também, e que foram muitos.
Enfim... a vida é assim, é vivendo e aprendendo.

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FAIXAS:

01.  Envelheço Na Cidade 3:17
02. Casa De Papel 3:36
03. Dias De Luta 4:26
04. Tanto Quanto Eu 2:50
05. Vitrine Viva 2:20
06. Flores Em Você 1:54
07. Quinze Anos (Vivendo E Não Aprendendo) 2:40
08. Nas Ruas 4:17
09. Gritos Na Multidão 3:08
10. Pobre Paulista 4:57


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Ouça:

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fellini "O Adeus de Fellini", "Fellini Só Vive Duas Vezes", "3 Lugares Diferentes", "Amor Louco"e "Amanhã é Tarde"


Chegou, para mim, na semana passada uma encomenda que fiz do selo Baratos Afins de São Paulo que é o CD da banda Fellini com os álbuns "O Adeus de Fellini" e o "Fellini só vive duas vezes" juntos num 2 em 1.
Pra quem não sabe a Baratos Afins é uma gravadora independente que atuou mais intensamente nos anos 80 tendo em seu cast bandas como Mercenárias, Smack, Akira S e o próprio Fellini, além de outros nomes do underground do rock brasileiro.
O Fellini nunca foi conhecido do grande público, nunca estourou vendagens nem emplacou hits, mas gozava de um grande respeito de críticos, músicos e do pessoal alternativo desde o seu aparecimento. Lembro que a Bizz, que na época era a maior revista do segmento musical no Brasil, costumava eleger todos os anos os melhores em diversas categorias e na escolha do público dava, Titãs, Legião, Paralamas e para crítica, Fellini. Eu ficava curioso pra saber do que se tratava. Por que esta banda tinha tal simpatia dos especialistas? Só fui conhecer algum tempo depois, num especial na TVE de Porto Alegre, com trechos de um show, acho que realizado na Reitoria da UFRGS. Conheci ali gostei e fiz o processo retroativo, fui buscar os tais dos discos que a Bizz tanto elogiava e relamente não me decepcionaram.
Curiosamente o primeiro disco da banda chama-se "O Adeus de Fellini", um álbum de uma banda pretensiosa (num bom sentido), cheia de gás, ainda com respingos de punk e com bastante influência do rock inglês. Destacam-se "Funziona Senza Vapore", "Rock Europeu", a agressiva e sarcástica"Cultura" e a adorável "História do Fogo".
"Fellini só vive duas vezes", o segundo disco, gravado num mini-estúdio de 4 canais, apenas pelo núcleo da banda, o volcalista Cadão e pelo guitarrista Thomas Pappon, ainda traz esse rock inglês incorporado mas já apresenta alguma queda para o samba e para a bossa-nova, além de muitos experimentalismos, que se dão muito, em parte, por conta da limitação técnica de serem apenas os dois e uma bateria eletrônica, que ainda soa muito crua e pouco trabalhada neste disco.
"Tabu" é um poema declamado sobre uma base samba-canção, "Mãe dos Gatos" e "Socorro" e as duas "Padre Hippie" demonstram bem o experimentalismo e alguma inconseqüência do disco, que tem destaque para "Domingo de Páscoa", a melhor do disco, que também tem uma levada meio samba e traz o "trumpete-bucal" de Cadão Volpato, como ele mesmo definiu.
O resultado destas duas experiências anteriores chega preciso e afinado no terceiro álbum, "3 lugares diferentes", no qual o rock, o pop, o samba, a bassa-nova e os experimentalismos estão todos juntos mas com um produto final muito mais maduro.
Mesmo a batida eletrônica que soava crua para se fazer sambas, neste disco volta aparecer mas fica mais bem entrosada com os outros elementos e a proposta do samba/rock/bossa-nova fica maravilhosa em "Ambos Mundos", "Teu Inglês", "Lavorare Stanca" e "Rio-Bahia". As "doideiras" do disco anterior aparecem também neste mas neste, mais musicais, como em "Rosas" e "Onde o Sol se Esconde". "Massacres da Coletivização" lembra o pop-rock do primeiro disco, "Valsa de la Revolución" mistura espanhol com português com uma letra falada sobre uma base de bateria eletrônica e "Zum Zum Zum Zazoeira" com uns efeitos de bichos na introdução tem um sotaque meio nordestino e soa até meio regionalista.
Depois destes o Fellini trocou de gravadora, saiu da Baratos e foi para a Wop-Bop e lá lançou o bom disco "Amor Louco" no qual esta linguagem samba já estava bem consolidada. A ótima faixa título é doce e delicada, "Cidade Irmã" traz uma poesia urbana cheia de imagens e "Kandinsky Song" é arrebatadora.
Soube que o Fellini tentou ainda mais uma experiência posterior, com o álbum "Amanhã é Tarde", mas que não teria sido muito bem sucedida. Este eu não ouvi e não posso opinar, mas dos que conheço posso dizer que entendo perfeitamente porque a crítica tomava aquele rumo diferente da opinião geral, mesmo diante de álbuns como o "Dois" do Legião e o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs, dos quais o ótimo "3 lugares diferentes", por exemplo, é contemporâneo.
Pra quem quiser dar uma conferida, abaixo links de dois trabalhos da banda: "O Adeus de Fellini" e "3 lugares diferentes".

















Ouça:
O Adeus de Fellini
Três Lugares Diferentes

quarta-feira, 12 de maio de 2010

cotidianas #25 - Tudo Em Dia


Vou comprar uma casa, vou ganhar dinheiro
Vou pensar no futuro, vou fazer um seguro
Vou ganhar o pão nosso de cada dia
Vou por tudo o que tenho na garantia
Vou ter conta no banco, vou trabalhar no escritório
Vou tomar um chope, vou tomar sorvete
Vou tomar remédio, que maravilha
Vou casar e constituir família
Vou andar de táxi, vou deixar o troco
Vou pagar os impostos, vou por os filhos na escola
Vou ser respeitado, vou engraxar o sapato
Vou botar o chinelo, vou sentar na poltrona
Vou jantar na melhor churrascaria
Vou pedalar domingo na ciclovia
Vou ter conta na mercearia
Vou gozar a aposentadoria
Vou ter cic, eleitor, reservistas, rg
Automóvel, tv
Crediário, poupança, carnê
Tudo em dia, tudo em dia
Tudo em dia, tudo em dia
**************************
"Tudo em Dia"
(Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sérgio Britto)
álbum "Domingo"
Titãs

Ouça:
Titãs Tudo em Dia

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Fellini - "3 Lugares Diferentes" (1987)






" A rapaziada tá brincando bastante.
Ninguém ganha nada, não tá vendendo nada,
o disco não tá legal mas a gente
tá dando muita risada 
e tá realmente sendo uma grande curtição,
vamos levar isso pra frente."
Osmar Santos,
trecho do programa "Balancê" com participação do Fellini,
na introdução da música "Rio-Bahia"





Mas o que era aquilo? Legião e Titãs detonando tudo aqui pelo Brasil em vendagens, hits, shows, popularidade e a Bizz insistindo destacar o disco de um tal de Fellini como um dos grandes de 1987? A Bizz, para quem não sabe, era a grande publicação musical do país e todo ano elegia os melhores de crítica e público. É lógico que a galera, na qual me incluía, não tinha dúvidas que o "Que País é Este" da Legião Urbana, embora fosse praticamente uma "coletânea" de material antigo mas cheio de protesto, carisma e hits, como o improvável sucesso radiofônico "Faroeste Caboclo" era um dos favoritos a disco do ano; mas especialmente o ótimo "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" com suas "Lugar Nenhum", "Comida", Diversão" e "Desordem", até por ser um álbum de inéditas e sucessor à altura do revolucionário "Cabeça Dinossauro" era para o público geral imbatível. Mas os críticos da revista, convidados e músicos que votavam, para minha surpresa, os equivaliam ao quase desconhecido "3 Lugares Diferentes", do tal Fellini, fazendo-o empatar na primeira colocação daquele ano com o discaço dos Titãs. Bom, "quase desconhecido" para mim, uma vez que o projeto da dupla de amigos Cadão Volpato e Thomas Pappon já gozava de uma certa reputação no underground paulistano, vinha de dois discos no mínimo interessantes na bagagem e orgulhava-se, com justiça, de já ter sido tocado no programa do lendário DJ inglês John Peel, que apresentara ao mundo entre outros bandas como Pink FloydJoy DivisionThe Cure, no seu Radio 1 da rádio BBC.
Devo admitir que, naquela época, descobrindo muitos sons novos e com a enxurrada de boas bandas que apareciam naquela metade dos anos 80, ávido por conhecer o máximo de coisas legais que pudesse, diante da premiação da Bizz, fiquei bastante curioso para conhecer o som dos caras, mas não era um som que se encontrasse em qualquer Mesbla da vida e na época isso acabou não cruzando meu caminho o que só veio a acontecer alguns anos depois assitindo a um show que a TV Educativa de Porto Alegre transmitiu, realizado na Reitoria da UFRGS e que já trazia o repertório do disco "Amor Louco", mas o que foi suficiente para fazê-los caírem nas minhas graças e ganharem minha total simpatia a admiração.
O Fellini fazia uma espécie de samba experimental, minimalista, eletrônico, com raízes no punk paulista, admitindo no entanto quaisquer inter-relações musicais que pudessem torná-lo interessante como blues, valsa, funk, reggae, bossa nova, bolero, apresentando letras de enorme sensibilidade poética cantadas muitas vezes com um vocal quase declamatório por seu vocalista, Cadão Volpato, que compensava sua limitação vocal com moderação, inteligência e criatividade interpretativa. 
"3 lugares diferentes", traz todos esses elementos. É um disco, ao mesmo tempo, primário e sofisticado. Se por um lado suas gravações muito básicas, quase artesanais, com condições técnicas mínimas, muitas vezes somente com uma bateria eletrônica e uma guitarra, sua concepção sonora e é avançada com uma leitura ímpar dos ritmos brasileiros numa quase improvável, mas muitíssimo bem sucedida, integração com o rock e suas vertente. O conceito já havia sido explorado no segundo "Fellini Só Vive Duas Vezes", contudo, limitados pelas condições técnicas, seu resultado, embora interessante, mostrava-se ainda muito duro, cru, com pouca plasticidade e flexibilidade. "3 Lugares Diferentes" conseguia o resultado estético mais interessante com canções mais sonoras e marcantes.
Depois de um texto de abertura, um manifesto sobre música (que de certa forma sugere que uma banda como o Fellini, por exemplo, não poderia fazer música), sucedido por uma introdução de gaita harmônica, a programação eletrônica que marca o singular samba felliniano já dá as caras na maravilhosa "Ambos Mundos", canção de uma poesia urbana lindíssima que une cotidiano, sonho, astronomia e surrealismo ("Depois do batente Vênus descansava/ Marte sempre cortês jogava cartas/ preto era o céu/ bom de se olhar/ onde Três Virgos queriam se arrumar"). "Rosas", que a segue, é uma espécie de blues experimental, lento, arrastado e sussurrado;  e "La Paz Song, a seguinte, traz uma sonoridade que, por conta de sua percussão eletrônica e do teclado, sugere algo militar, numa letra que mistura o português com o espanhol de maneira bastante sonora.
O Fellini não tocou nas rádios, não teve um grande hit, mas se tem uma canção que teria esse potencial seria a adorável "Teu Inglês", uma das faixas mais bem acabadas da banda, com a participação do percussionista Silvano Marcelino, de trabalhos com vários artistas da MPB, que combina sua contribuição à batucada eletrônica característica da banda, uma guitarra leve e requintada primorosa em todos os momentos, uma nova aparição oportuna e interessante da harmônica e um refrão absolutamente gostoso e cativante.
Outra das melhores do disco, "Zum Zum Zum Zazoeira", com um mínimo de elementos, uma batida repetida básica, uma base de teclado quase constante, uma linha de guitarra sinuosa e perturbadora e um inteligente e preciso jogo de palavras-chave ("poeira", "lampião", porteira", "boi") consegue sugerir uma atmosfera regionalista, sertaneja, nevoenta, quente e árida. Genial!
A bela "Pai", de andamento meio new-wave, por assim dizer, é mais um exemplo da doce poesia cotidiana de Cadão Volpato ; de letra repleta de enigmas, signos e chaves, mais uma vez mesclando português com espanhol, "Valsa de La Revolución" justifica o nome num valseado minimalista conduzido pela guitarra de Thomas Pappon; e soturna, característica da turma do underground paulistano das noites de Madame Satã, "Massacres da Coletivização" divaga de forma pesada sobre o tempo e memórias.
"Rio-Bahia" apresenta novamente o tal "samba-maluco da rapaziada do grupo Fellini" como definira o falecido Osmar Santos na introdução da própria música, numa gravação do programa de rádio "Balancê" que apresentava e do qual a banda participara em certa ocasião. Além da batucada eletrônica, "Rio-Bahia" e "Lavorare Stanca", que são praticamente emendadas, mostram desta vez alguma intervenção acústica dos próprios integrantes com tamborins e outros elementos percussivos. Sem falar no do tradicional "trompete bucal" do vocalista Cadão, mais um dos muitos improvisos espontâneos da banda que costumava seguir seus instintos musicais e que pela ausência de um instrumento, pela vontade de enriquecer o som, pela sensibilidade de perceber que um determinado som cairia bem, arriscava uma brincadeira, a registrava e tornava seu som ainda mais interessantes e original.
Como um ocaso, a ainda mais esquisita "Onde o Sol se Esconde", minimalista sonoramente, de vocal embriagado e letra non-sense misturando palavras em português, inglês, francês, espanhol, traz o encerramento do álbum não sem ainda uma pequena vinheta da descontração de estúdio da gravação de "Teu Inglês" ao final.
O relançamento em CD traz ainda gravações bem interessantes ao vivo de "Zum Zum Zum Zazoeira", "Ambos Mundos" e "Teu Inglês", além de uma faixa oculta, a canção "Aeroporto", gravada ao vivo no antigo programa "Matéria Prima" de Serginho Groissman na rádio Cultura.
Embora os cabeças da banda tenham restrições técnicas ao álbum e o próprio Thomas Pappon admita uma certa decepção com ele pela ausência de baixo, "3 Lugares Diferentes", reconhecem também, por outro lado, que o disco foi inovador, quase revolucionário, antecipando muitas coisas que só começaram a serem feitas agora no pop-rock nacional, e seu reconhecimento com a premiação da Bizz, embora apenas simbólico, e posteriormente essa aura cult que paira sobra a banda, representam uma espécie de vitória da independência, da liberdade, do idealismo, da arte enquanto senso de seguir o próprio coração e ter prazer no que se faz.
O trabalho do Fellini, seu conceito, sua concepção de música, sua produção, seu conteúdo, seu resultado e seu reconhecimento, atualmente, como uma das bandas mais interessantes do rock nacional fazem com que o texto do gaitista norte-americano "Sugar Blue, sugerido pelo próprio Pappon para a introdução do disco, soe hoje ainda mais curioso, controverso e irônico: “Música não é para preguiçosos, música não é para engraçadinhos, música não é para desmiolados. Música é um negócio sério que reflete esforços humanos para nos tornarmos o que buscamos quando nos manifestamos".
Será mesmo?
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FAIXAS:
  1. Ambos Mundos
  2. Rosas
  3. La Paz Song
  4. Teu Inglês
  5. Zum Zum Zum Zazoeira
  6. Pai
  7. Valsa de La Revolución
  8. Massacres da Coletivização
  9. Rio-Bahia
  10. Lavorare Stanca
  11. Onde o Sol se esconde

A versão relançada em 1995 contém as seguintes faixas gravadas ao vivo:
12. Zum Zum Zum Zazoeira
13. Ambos Mundos
14. Teu Inglês

faixa oculta:
15. Aeroporto

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Ouça:

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2015





David Bowie nos deixou
ainda na liderança dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS
2015 acabou e como sempre, fazemos aqui no ClyBlog aquele balanço da movimentação dos álbuns fundamentais no ano anterior: artistas com mais discos na nossa lista, países com mias representantes, o ano e a década que apresentam mais indicados e outras curiosidades.
O ano abriu com a publicação de número 300 dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS que teve a especialíssima participação do escritor Afobório falando sobre o grande "Metrô Linha 743", resenha que marcou assim a estreia, mais que merecida, de Raul Seixas no nosso time de fundamentais.
Outros que já estavam maIs que na hora de entrarem pra nossa lista e que finalmente botaram seu primeiro lá foram a musa punk, Patti Smith; o poeta do rock brasileiro, Cazuza; a banda cult Fellini; o grande Otis Redding, os new wave punk do Blondie; os na´rquicos e barulhentos Ratos de Porão; o mestre do blues Howlin' Wolf; e em especial o Mr. Dynamite, James Brown, com seu clássico no Apollo ThetreAlguns, por sua vez, se afirmaram entre os grandes tendo enfim seu segundo disco indicado pra mostrar que não foi acaso, como é o caso de Cocteu TwinsChico Science com sua Nação ZumbiLobão e Björk.
Com o ingresso, em 2015, do ótimo Ouça o que eu digo: não ouça ninguém", os Engenheiros do Hawaii finalmente completam sua trilogia da engrenagem; Bob Dylan que foi o primeiro a ter dois álbuns seguidos nos Álbuns Fundamentais, lá em 2010, depois de um longo jejum finalmente botou seu terceiro na lista, o clássico "Blonde On Blonde"; já John Coltrane que passou um bom tempo apenas com seu "My Favourite Things" indicado aqui, de repente, num salto, apenas em 2015, teve mais dois elevados à categoria de Fundamental, muito por conta do cinquentenário destes dois álbuns, bem como de outro cinquentão da Blue Note que também mereceu sua inclusão em nossa seleção, o clássico 'Maiden Voyage" de Herbie Hancock, alem do fantástico The Shape of Jazz to Come" como homenagem merecida a Ornette Coleman, falecido este ano.
Por falar em falecido recentemente, não tem como deixar de falar em David Bowie que deixa este mundo na liderança dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS mostrando que toda a idolatria e reconhecimento do qual gozava não era a toa. Mas ele não está sozinho na ponta! Alavancado pela inclusão de seu ótimo "Aftermath", os Rolling Sones alcançam os líderes e empatam com Bowie e com seus "rivais", os Beatles, prometendo grandes duelos para as próximas edições dos A.F.
Como curiosidades, se no ano passado tivemos mais trabalhos de séculos passados, no último ano os A.F. tiveram um certo crescimento o número de álbuns produzidos no século XXI. Muito por conta de uma nova galera talentosa que vem surgindo por aí como Lucas Arruda e Tono que tiveram seus álbuns, "Sambadi" e "Aquário", respectivamente, reconhecidos  e incluídos no hall dos grandes álbuns. Os garotos também colaboraram para um fato interessante: o altíssimo número de discos nacionais neste ano. Foram 15 no total, empatando com o número dos norte-americanos neste ano e deixando bem para trás os ingleses com apenas 3 em 2015. O pulo brasileiro refletiu-se na tabela geral e pela primeira vez desde o início da seção o Brasil está à frente da Inglaterra em número de discos.
A propósito, falando de Brasil, se formos falar em termos nacionais, a principal mudança foi a elevação de Caetano VelosoEngenheiros do Hawaii e Tim Maia à vice-liderança, dividindo-a ainda com GilLegião e Titãs. Na ponta, segue firme o Babulina, Jorge Ben, com 4 álbuns fundamentais.
E aí? O que será que nos reserva 2016? Como será a batalha Beatles vs Stones? Alguém alcançará ou passara Jorge Ben na corrida nacional? E os ingleses reagirão contra os brazucas e mostrarão que são a terra do rock? Aguarde as próximas postagens e acompanhe o ClyBlog em 2016. Por enquanto ficamos com os números de 2015 e uma visão geral de como andam as coisas nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.


PLACAR POR ARTISTA (GERAL)

  • The Beatles: 5 álbuns
  • David Bowie 5 álbuns
  • The Rolling Stones 5 álbuns
  • Stevie Wonder, Cure, Led Zeppelin, Miles Davis, John Coltrane, Pink Floyd, Van Morrison, Kraftwerk e Bob Dylan: 3 álbuns cada


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben (4)*
  • Titãs, Gilberto Gil*, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia; 3 álbuns cada
*contando o álbum Gil & Jorge

PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 13
  • anos 60: 63
  • anos 70: 90
  • anos 80: 82
  • anos 90: 62
  • anos 2000: 8
  • anos 2010: 7


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1

PLACAR POR ANO

  • 1986: 15 álbuns
  • 1985 e 1991: 13 álbuns cada
  • 1972 e 1967: 12 álbuns cada
  • 1968, 1976 e 1979: 11 álbuns cada
  • 1969, 1970, 1971, 1973, 1989 e 1992: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 125 obras de artistas*
  • Brasil: 85 obras
  • Inglaterra: 80 obras
  • Alemanha: 6 obras
  • Irlanda: 5 obras
  • Canadá e Escócia: 4 cada
  • México e Austrália: 2 cada
  • Suiça, Jamaica, Islândia, Gales, Itália e Hungria: 1 cada

*artista oriundo daquele país




Cly Reis

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

The La's - "The La's" (1990)

Os (outros) quatro rapazes de Liverpool


“A The La’s é a [banda] que está mais próxima do sublime.” 
Liam Gallagher

O mais puro e original som saído diretamente de Liverpool e que marcou as gerações futuras de roqueiros. Quatro jovens rapazes, que, por um curto espaço de tempo, promoveram uma revolução na música pop. Não, não estamos falando dos Beatles. Outra banda da mesma cidade do noroeste da Inglaterra, guardadas as devidas proporções de abrangência e profusão, também teve papel fundamental para a linha evolutiva do rock feito na Terra da Rainha: a The La's

Se Paul, John, George e Ringo transformaram a música mundial em menos de 10 anos, a atuação deste outro quarteto, liderados por Lee Mavers (voz e guitarra), mais Peter "Cammy" Cammell (guitarra), Neil Mavers (bateria) e John Power (baixo, vocais), foi ainda mais meteórica. Tanto que, diferentemente dos primeiros, autores de 13 discos de estúdio nos libertários anos 60, a The La’s registrou apenas um histórico e irreparável álbum no início da instável e inconstante última década do século passado. Tempo suficiente, contudo, para seu rock sintético, melodioso e inspirado influenciar toda a geração do rock britânico dos anos 90, a qual teria na figura da Oasis a sua maior representação. Aliás, tanto a banda dos irmãos Gallagher quanto outras como Blur, Ride, Lemonheads e Supergrass, que, juntamente com a leva do grunge norte-americano, dominaram a cena rock noventista. O self-titled da The La’s, o qual completa 30 anos de lançamento, ao lado do igualmente estreante da Stone Roses, de um ano antes, ajudariam a formatar a estrutura que o britpop passaria a ter a partir de então. 

Esta perspectiva sonora passa, como não poderia deixar de ser, pelos originais rapazes de Liverpool. Melodias vocais apuradas, riffs criativos, reelaboração das bases do blues e a energia da Swingin’ London que remetem inevitavelmente a Fab Four. No entanto, o trunfo da The La’s vai além disso, uma vez que captam tudo aquilo que veio antes deles em termos de rock, como o glam, o punk, o pós-punk, o collage, o shoegaze e o indie. Isso faz com que o som do grupo, muito bem produzido pelo craque Steve Lillywhite junto com Mark Wallis, soe certeiro, objetivo, sem rodeios. Psicodélico na medida certa e com tudo no lugar: timbres, vocais, arranjos e instrumentação.

O quarteto liderado por L. Mavers: inconstância 
que lhes rendeu apenas um álbum

Rock, aliás, quando é bom, não tem muito o que se falar. Basta curtir. É o que faixas como a de abertura, “Son of a Gun” (rock no melhor estilo Buffalo Springfield), “I Can't Sleep” (cujo riff já ouvi de uma dita original banda brasileira...) e ”Timeless Melody” (mais Oasis, impossível) fazem: deixar quem as escuta sem palavras – porém, altamente empolgado. Que riffs grandiosos! A postura propositiva típica de um rock puro com seu saudável grau de afetação, mas despido de egocentrismo desnecessário. É rock bom e pronto! “Liberty Ship”, “Doledrum” e “Feelin'” são aulas de como fazer um country-rock. Igual pedagogia são as bluesers “I.O.U.” e “Failure”, esta última, com uma pegada do psychobilly da The Cramps. Nesta linha também, mas retrazendo a atmosfera picaresca de Syd Barrett, “Freedom Song”, outra excelente. Ainda, a balada “Looking Glass”, que encerra dignamente o álbum sob de uma melodiosa base de violão e os vocais saborosamente insolentes de Lee Mavers.

O conceito da The La's foi seguido, naqueles anos 90 de ascensão do tecno e da acid house, por outros artistas que não deixaram a música pop degringolar e repuseram o rock no seu lugar de destaque. Repetindo a "volta às raízes" que os Bealtes propuseram em “Let It Be”, os tarimbados R.E.M. (“Monster”, 1993) e Titãs (“Tudo ao Mesmo Tempo Agora”, 1991) seguiram a linha da The La’s de reencontrar a “pureza perdida”. Para novas bandas de então, como The Strokes, The Killers e Kings of Leon, pode-se dizer ainda mais fundamental a proposta desses irmãos dos Beatles. Seja de maneira mais conceitual ou por influência direta, o fato e que seu único e exemplar disco relembrou ao gênero rock, o qual recorrentemente se desvirtua demais de si mesmo, que “menos é mais”, que o “certo é o fácil”. Ter entendido este ensinamento talvez tenha sido o grande mérito da Oasis, cujo sucesso mundial provavelmente seria ameaçado caso a própria The La’s não ficasse somente no primeiro tiro, o que, mesmo cultuados, inegavelmente lhes limitou ao meio underground

Tá certo: é exagero comparar a The La’s aos autores de "Yesterday", afinal, esta disputa talvez seja somente cabível quando se fala em Rolling Stones. Mas que a The La’s é a segunda melhor banda de Liverpool (junto com a Echo & the Bunnymen, claro), isso é bem provável. Rankings como dos 40 grandes álbuns únicos de um artista/banda da Rolling Stone, em que o disco aparece em 13º, e da Pitchfork, no qual é apontado como um dos principais álbuns do britpop de todos os tempos, não deixam mentir. Por motivos pouco explicados, logo após lançá-lo, Mavers encheu-se e quebrou os pratos com os parceiros. A cara dos anos 90: instável e inconstante. Mesmo tendo havido esporádicos retornos posteriormente, o principal resultado daquilo que produziram fez com que virassem lenda, que é este incrível álbum. O primeiro e, como o próprio nome da banda sugere, “último”. E se não fosse o azar de terem nascido na mesma terra dos Beatles, eles seriam certamente os primeiros.

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The La's - Clipe de "There She Goes"


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FAIXAS:
1."Son Of A Gun" - 1:56
2. "I Can't Sleep" - 2:37
3. "Timeless Melody" - 3:01
4. "Liberty Ship" - 2:30
5. "There She Goes" - 2:42
6. "Doledrum" - 2:50
7. "Feelin'" - 1:44
8. "Way Out" - 2:32
9. "I.O.U." - 2:08
10. "Freedom Song" - 2:23
11. "Failure" - 2:54
12. "Looking Glass" - 7:52
Todas as composições de autoria de Lee Mavers

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OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues