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quinta-feira, 13 de agosto de 2020

"Manhunter - Caçador de Assassinos" ou "Dragão Vermelho", de Michael Mann (1986) vs. "Dragão Vermelho", de Brett Ratner (2002)



Tom Noonam até é um bom vilão, é convincente, é assustador, mas Ralph Fiennes, no mesmo papel, como o desequilibrado Francis Dolarhyde, com sua insegurança imprevisível, joga mais; William Petersen faz um bom policial Will Graham, correto, sem defeitos, mas Edward Norton, é mais jogador ; Joan Allen como a cega Reba está normal, dá conta do recado, mas Emily Watson, desempenhando a mesma função, é show de bola; Brian Cox, mesmo com uma aparição muito breve, faz um Hannibal Lecter discreto em campo, suficiente para sua posição, mas Anthony Hopkins, que já imortalizara o personagem no cinema em "O Silêncio dos Inocentes", é sacanagem!!! É craque! Michael Mann até é mais técnico que Brett Ratner, mas isso não basta para que o time de "Manhunter" de 1986, seja superior ao do "Dragão Vermelho" de 2002.
A refilmagem é mais completa, desde a introdução ao personagem de Hannibal Lecter, nos dando detalhes de como ocorrera sua captura, passando pelo próprio afastamento do policial Graham decorrente dessa prisão, chegando a uma construção melhor do serial killer, fazendo-o mais presente ao longo do filme e aperfeiçoando sua relação com o espectador.
O filme original passa longe de ser ruim. Na verdade é um cult policial dos anos 80, mas a refilmagem soube utilizar o que o antigo tinha de bom, aprimorar a estratégia de jogo tão bem e ainda preencher espaços vazios do campo.
Nos dois filmes, um agente do FBI, Will Graham, aposentado por questões físicas e emocionais depois dos incidentes que levaram à prisão do canibal Hannibal Lecter, é chamado a voltar às atividades para investigar um novo serial-killer que vem matando famílias, dentro de suas próprias casas e colocando cacos de espelho no lugar dos olhos das vítimas. O curioso é que o assassino, apelidado entre os policias e pela imprensa de Fada-do-Dente, parece ter conhecimento das casas, do dia a dia das famílias e isso intriga o FBI. Graham concorda em voltar à ativa e entende que, por mais desagradável que seja a melhor maneira de entrar na mente de um psicopata é consultando outro. Sim! Ele decide então pedir ajuda ao homem que capturara, Lecter que, além de um bom gourmet de carne humana, era também um conhecido e respeitado psiquiatra e poderia dar alguma colaboração no entendimento das razões e perfil psicológico do novo assassino. O problema é que o Dr. Lecter não é lá flor que se cheire e faz um jogo duplo com o agente, ao mesmo tempo lhe dando dicas sobre o serial killer mas fornecendo, mesmo de dentro da cadeia, informações sobre o agente ao procurado, deixando-o extremamente exposto ao criminoso.
Fora os elementos já citados como a apresentação do episódio que viria a levar à prisão de Lecter, o aproveitamento melhor do personagem canibal ao longo do filme, a presença mais constante do Fada-do-Dente no decorrer do longa, a maior importância dada à colega cega do assassino no enredo, há uma diferença fundamental entre os filmes que é o final. Sem dar spoiler, enquanto o antigo se encerrava no embate entre o Graham e Dollarhyde, numa das mais cultuadas cenas do cinema policial, a segunda versão vai além desse momento, se estendendo para um final mais dramático e operístico na casa do agente.

"Manhunter" - cena final


"Dragão Vermelho" - cadeira de rodas em chamas

A sequência incial do concerto, do jantar e de Graham capturando Lecter, é gol para o novo filme logo nos primeiros minutos de jogo; e o matador Fada-do-Dente põe fogo no jogo fazendo o segundo para o remake com toda a sequência da cena do repórter em chamas colado na cadeira de rodas, muito mais impactante que a do original. Por outro lado, ainda que a extensão do epílogo da nova versão seja bem interessante, o primeiro final, cultuado pelos fãs, com a entrada do policial estilhaçando a vidraça, a luta entre os dois dentro da casa de Dolarhyde, a troca de tiros e a fotográfica posição do corpo formando o Dragão Vermelho, tudo ao som alucinante de "In-A-Gadda-Da-Vida", do Iron Butterfly, garante um golaço para o time de 1986. Por mais que Edward Norton e Ralph Fiennes estejam muito bem em seus papeis, os do original, William Petersen e Tom Noonan, não desapontam em nada e esse quesito não constitui vantagem pra nenhum dos lados, mas aí o craque desequilibra e Anthony Hopkins, com seu Hannibal Lecter, garante mais um para o remake de 2002. Só que como muitos jogadores espetaculares, Hannibal é temperamental e logo depois de fazer o gol, dá uma mordida no adversário, ao melhor estilo Luís Suárez, e deixa seu time com uma menos em campo, o que acaba não fazendo diferença pelo bom esquema de jogo montado pelo seu técnico. A propósito, no que diz respeito à direção, mesmo com um jogo correto, bem estruturado de Brett Ratner, Michael Mann joga mais e guarda o seu lá no fundo da meta adversária. Mas o placar fica assim: 3x2 para o remake num jogo emocionante.

De cima para baixo,
os dois agente Graham, os dois Fada-do-Dente e os dois Hannibal Lecter.
À esquerda os da versão original de 1986 e à direita os da refilmagem de 2002.

Bom jogo de dois times mordedores e com matadores de ambos os lados.




Cly Reis

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

10+1 Filmes de Terror Para Curtir no Halloween



Halloween pede um bom filmezinho de terror, não? É só ver por aí, hoje, as programações dos canais recheadas de títulos do gênero em todas as suas variações possíveis. Tem de demônios, de casa assombrada, de serial-killer, de zumbis, de mutilações e podreiras e assim por diante. O ClyBlog pediu para que alguns amigos listassem seus favoritos do gênero e reuniu os mais mencionados numa super lista de filmes altamente recomendáveis para os amantes do lado sinistro do cinema. Na verdade, a maioria deles já são conhecidos, batidos, alguns já são clássicos mas exatamente por conta dessa imortalidade, dessa aura mítica que os envolve é que merecem sempre serem assistidos de novo e de novo e de novo.
Então vamos a eles:


As perspectivas de Kubrick ficam mais sufocantes.
1. "O Iluminado", de Stanley Kubrick (1980)
Frequentemente apontado como o melhor terror de todos os tempos, o clássico de Stanley Kubrick não foi esquecido pelos votantes. Um escritor, Jack Torrance, se candidata a trabalhar como zelador num hotel nas montanhas na época de baixa temporada quando o mesmo fica completamente vazio e leva para lá sua esposa e seu filho pequeno. Só que lá ele começa a ser influenciado por "alguma coisa" e seu comportamento vai mudando chegando ao ponto de ameaçar a integridade física de sua própria família. Ao mesmo tempo o garoto começa a ter visões para o espectador vai ficando claro que alguma coisa de não muito bom andou acontecendo naquele lugar. A câmera em movimento e as perspectivas de Kubrick, sempre muito marcantes, talvez nunca tenham sido mais adequadas e perfeitas do que neste filme, causando uma sensação de opressão, claustrofobia e inquietude, especialmente nos momentos em que perambula pelos corredores quietos e vazios do hotel. E as meninas no corredor, e a mulher na banheira, e a cascata de sangue no elevador, e o REDRUM... Ah, cara, que filmaço!




2. "O Exorcista", de William Friedkin (1973)
Passa o tempo, surgem filmes e mais filmes de terror, aperfeiçoam-se as técnicas, surgem novos recursos, mas "O Exorcista'continua lá, sempre sendo lembrado como um dos grandes filmes de sua categoria. Não é para menos, o drama da menina Regan possuída por um demônio é impactante visualmente ainda hoje mesmo com o avanço dos efeitos especiais. Como não lembrar da cena em que a garota vira completamente o pescoço?

As cenas mais impactantes de "O Exorcista"



3. "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski (1968)
Outro dos mais lembrados nas listas dos votantes e outro da "veterano" do terror. Clássico de Roman Polanski em que  um casal se muda para um novo apartamento e lá, Rosemary grávida, começa a suspeitar de um plano maligno dos vizinhos, um casal de idosos, com o próprio marido para fazer de seu bebê o Filho das Trevas. Filme muito mais inquietante, angustiante do que aterrorizante. Não é de dar medo mas mantém o espectador em um estado de tensão constante. Brilhante roteiro e excepcionais atuações, especialmente de Mia Farrow no papel principal. De um modo geral, o impacto visual é bem brando, mas, mesmo muito sutilmente e sem forçação nenhuma, a parte em que aparecem os olhinhos da criança é bem perturbadora.






4. "Evil Dead - A Morte do Demônio", de Sam Raimi (1981)
Como se faz um clássico? Com um sítio no meio da floresta, um grupo de amigos, pouca grana e uma câmera na mão. Exagerando é mais ou menos isso. Com baixíssimo orçamento, com alguns amigos, uma boa ideia, criatividade e muito talento, o então novato Sam Raimi, criava um dos filmes mais cultuados do gênero de terror. Um livro misterioso encontrado no porão de uma cabana onde um grupo de jovens vai passar um final de semana grupo de amigos que vai passar um final de semana dá início a uma demoníaca e sangrenta jornada de terror. Um espírito é libertado e cada um deles começam a ser possuídos pela entidade maligna. A cenas da câmera correndo rapidamente rente ao chão no meio da floresta com um efeito sonoro agoniante são muito legais e a da árvore estuprando a garota, uma das mais marcantes de todos os filmes de terror.


Tralier de "Evil Dead", A Morte do Demônio"




O Freddy vai te pegar...
5. "A Hora do Pedsadelo" de Wes Craven (1984)
O filme de Wes Craven consegue ter um dos personagem mias carismaticamente sinistros ou sinistramente carismáticos do cinema. Sabemos que Freddy Krugger, pedófilo, sequestrados e matador de criancinhas é um filha da puta mas aquele jeitão desleixado e seu humor negro fazem com que inevitavelmente mantenhamos alguma simpatia por ele. O fato do assassino se materializar no sonho dos adolescentes da cidade, filhos das pessoas que o queimaram vivo é um grande achado do filme e seu grande diferencial. Além de lhe conferir um charmoso toque surrealista, também lhe atribui características de desenho animado uma vez que o mundo dos sonhos possibilita de forma ilimitada variações de forma, espaço, dimensões, estado físico, etc. com uma justificativa muito mais natural do que teria em outra situação no mundo real.





Quem é aquela mulher?
6. "Psicose", de Alfred Hitchcock (1968)
"Ah, mas não é filme de terror!". Não é? Uma mulher é morta brutalmente a facadas no chuveiro por outra "mulher"... Como assim? Não havia mais ninguém no motel além do dono e gerente Norman Bates. Mas poderia ser sua mãe... Não! Ela e falecida. Mas então com quem ele conversa? De quem é aquela voz de mulher? O espírito da velha? Será? Não! Antes fosse. é algo pior. "Psicose" tem o grande mérito de ir mudando de gênero ao longo de seu desenvolvimento e ir moldando a expectativa do espectador: começa como um filme policial, um roubo; passa a ser um terror sobrenatural talvez, uma vez descartado a assombração, passa a ser um suspense e por fim descobrimos que é um filme de serial-killer. Ora, se um filme de assassino em série não é terror então que me desculpem Leatherface, Michael Myers e cia.






Samara, dos personagem mais marcantes
do mundo do terro nos últimos tempos.
7. "O Chamado", de Gore Verbinski (2002)
Uma das várias refilmagens americanas de originais japoneses e, neste caso, assim como em "O Grito" com competência e êxito. Pode-se  até discutir quanto a qual das versões é melhor mas é fato que a ocidental já um clássico do gênero. O filme da fita de vídeo matadora, à qual quem a assiste acaba morrendo em uma semana, mantém a tensão no alto o tempo inteiro por conta da expectativa de saber se a mãe, a jornalista Rachel, conseguirá em tempo hábil salvar o filho que assistiu à fita. A edição, muito videoclípica, nas cenas do tal VHS maldito é simplesmente agoniante, e Samara com sua cabeleira sobre o rosto e seus movimentos quebrados ao sair da tela e atacar as vítimas já é uma referência entre os personagens de horror.






Ih, tá na hora.
8. "O Exorcismo de Emily Rose", de Scott Derrickson (2005)
Outro dos novos clássicos este é um filme daqueles constantemente apontado como extremamente assustador, de não deixar dormir. Um dos motivos desta inquietação de provoca no espectador é o fato de ser baseado numa história real, o que inapelavelmente esfrega na nossa cara que TUDO AQUILO ACONTECEU DE VERDADE. Outro é a grande atuação da triz Jennifer Carpenter garantindo um incrível realismo às possessões. E outro ainda, possivelmente seja a tal da "hora do demônio" que tanto atormenta a jovem e depois as noites da advogada. Eu mesmo, quando vi, pensei duas vezes quanto a deixar o relógio ao lado da cama e quis dormir tão profundamente pra não correr o risco de acordar às 3 da manhã. Curiosamente é um filme de tribunal com flashbacks no referido exorcismo o que mais méritos lhe dá quanto ao fato de ser considerado tão assustador.






O vampiro repugnante de Murnau.
9. "Nosferatu", de F.W. Murnau (1922)
É incrível como muitos dráculas depois nenhum tenha conseguido superar esse. Baseado no "Drácula" de Bram Stoker, o filme do genial alemão F.W. Murnau traz um vampiro completamente fora dos padrões que depois nos acostumamos a ver no cinema,  o tipo bonitão e sedutor. Seu Conde Orlock é feio, bizarro, estranho e aterrorizante. Em 1922, mudo, com recursos primaríssimos de efeitos especiais, "Nosferatu" não é responsável apenas pela formação da linguagem do terror mas pela consolidação da linguagem cinematográfica como um todo. Obra-prima. Não é à toa que seu subtítulo é "uma sinfonia do horror".





O menino com seu "brinquedinho".
10. "Cemitério Maldito", de Mary Lambert (1989)
Filme que é cult desde que nasceu por conta da trilha sonora dos Ramones mas que, pode ter certeza, não fica só nisso. Depois de em um antigo cemitério indígena, revelado por um vizinho, ressuscitar o gato atropelado numa movimentada rodovia, o pai da família Creed desesperado pelo fato do filho ter tomado o mesmo destino que o mascote, resolve utilizar o mesmo recurso para reanimar o menino já sabedor que, assim como acontecera com o bichano, quem é enterrado naquele solo sagrado não volta como era antes. O filme tem cenas fortes de violência, de brutalidades, de mutilação especialmente as do menino com o bisturi na mão mas poucas coisas são mais aterrorizantes que a risadinha do garoto antes de aprontar "alguma das suas".






"Parece que tem alguém ali. Ih, tem alguém ali!"
10+1. "Os Inocentes", de Jack Clayton (1961)
Esse pra falar a verdade não foi tão votado mas é escolha da redação uma vez que eu e o Daniel, editores deste blog, adoramos esse filme e ambos os consideramos um dos grandes de todos os tempos. "Os Inocentes" conta a história de uma moça que vai trabalhar como governanta numa propriedade afastada para cuidar de duas crianças orfãs cujo tio, dono da casa, prefere se eximir da tarefa. O problema é que naquela casa enorme, naquela propriedade imensa, no jardim, no lago, a governanta começa a ver fantasmas. Só que os fantasmas não passam rápido, não "parece" que vimos alguma coisa. Eles realmente estão ali! E este é o grande mérito do terror do filme. É assustador pela sobriedade, pela leveza, pelo silêncio, pela fotografia primorosa e pela grande atuação de Deborah Kerr no papel da governata, Srta. Giddens. Na minha opinião tem um final um tanto exagerado, excessivamente teatral que contrasta com toda a sobriedade do restante do filme, mas o filme é taõ bom, tão bom o tempo todo que a gente até releva algum excessozinho que possa ter sido cometido no final. Mas nada demais! Não se deixe influenciar por essa última impressão. é obra de arte.



Agradecimentos a Claudia Melo; Vagner Rodrigues; Jowilton da Costa; Lisiane Möller; Thamy Lopes; Marcelo Silva; Roberta Motta; Roberta Miranda, José Júnior; Carolina Costa, Daniel Rodrigues, Valeska, Jamal e Lúcio Agacê que colaboraram nesta enquete.

Cly Reis


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Meus 50 atores e Christhopher Walken



Christopeher Walken na marcante cena
da roleta russa em "O Franco Atirador"
Ainda hoje tenho certeza que foi o Christopher Walken que matou a atriz Natalie Wood em 1981. Na fatídica noite, estavam ela, seu marido, o ator Robert Wagner, e Walken, todos bebendo muito a bordo de um iate. Após uma discussão entre os dois "amigos", a atriz sumiu e só foi encontrada horas depois, morta afogada. Naquele ano o caso foi encerrado e a causa da morte foi diagnosticada como afogamento. Em 2011, os arquivos foram reabertos e com novas evidências, hematomas no corpo da atriz levaram a investigação para outros rumos que poderiam apontar um assassinato. Acusações à parte, o certo é que Walken sempre me assustou. Aquela sua cara de “American Psycho” poderia muito bem ter dito a Wagner; "Se você me dedurar, será o próximo, te acharei no inferno". Eu entenderia o aviso rapidinho.

Quatro anos antes ele ganhava o Oscar de melhor ator coadjuvante por "O Franco Atirador", do Michael Cimino, um filme totalmente ambientado em diversos contrapontos que vão da loucura, drogas, sexo etc. Pra ter uma noção do clima do filme, nas cenas de roleta russa, os atores Robert De Niro, Walken e John Cazale chegaram a usar balas de verdade para das mais veracidade. Cazale, que já estava com seus dias contados por um câncer terminal, dizia que nada tinha a perder. Na minha lista de 50 atores em grandes atuações, Walken está presente como um símbolo de visceralidade, loucura e medo em termos de atuação. O ator já fez mais de 100 filmes, clipes e peças. Na vida real, ele consegue ser um dos únicos seres na terra o qual eu temeria mesmo. Tenho um certo “amor e ódio” por sua figura. Mas desejo longa vida ao mr. Walken, e que não saia impune de seu(s) crime(es), se é que foi ele.

Abaixo, senhores, minha lista de melhores atores em suas grandes atuações. Completei com atores das listas que amigos compartilharam comigo e fiz uma única:



Marlon Brando - O Poderoso Chefão


- Robert De Niro - Touro Indomável
- Al Pacino - Scarface
- Malcom McDowell - Laranja Mecânica
- Dustin Hoffman - Midnight Cowboy
- Henry Fonda - Era uma Vez no Oeste
- Sean Connery - Os Intocáveis
- Jack Nicholson - O Iluminado
- Paul Newman - Butch Cassidy
- Robert Redford - Todos os Homens do Presidente
- Robert Duvall - Apocalypse Now
- Anthony Hopkins - Silêncio dos Inocentes
- Joe Pesci - Os Bons Companheiros
- Tom Berenger - Platoon
- Val Kilmer - The Doors
- River Phoenix - Conta Comigo
- Bruno Ganz - A Queda
- Jean Reno - O Profissional
- Cristian Bale – Psicopata Americano
- Gael Garcia Bernal - Amores Perros
- Heath Ledger – Batman - O Cavaleiro das Trevas
- Cristhoph Waltz - Bastardos Inglórios
- Wagner Moura - Tropa de Elite
- Ian McKellen - O Senhor dos Anéis
- Daniel Day-Lewis - Sangue Negro


- Kevin Costner - Dança com os Lobos
- Charlton Heston - Ben-Hur
- Leonardo DiCaprio – O Lobo de Wall Street
- Rutger Hauer - Blade Runner
- Javier Bardem - Onde os Fracos não Tem Vez
- Eli Wallach - O Bom, o Mau e o Feio
- Harrison Ford - Indiana Jones, Caçadores da Arca Perdida
- Russel Crowe - Gladiador
- Charlie Sheen - Platonn
- Ricardo Darin - O Segredo dos Seus Olhos
- Woody Harrelson - O Povo Contra Larry Flint
- Emile Hirsch - Na Natureza Selvagem
- Roberto Benigni - O Monstro
- Willian Holden - Meu Ódio será Sua Herança
- Morgan Freeman - Um Sonho de Liberdade
- John Cazale - O Poderoso Chefão II
- Warren Oates - Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia
- Matheus Nachtergaele – O auto da Compadecida
- César Troncoso – O Banheiro do Papa
- Juan Villegas - El Perro
- Mel Gibson - Gallipoli
- Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
- Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas
- Sean Penn - O Pagamento Final
- Christopher Walken - O Franco Atirador





com a colaboração de:
Carlos França, Josi Rizzari, Daniel Cóssio Porto,
Daniel Russell Ribas, Fernando De Souza Médici,
Daniel RodriguesRicardo Lacerda e José Francisco Botelho.


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Os 12 personagens mais assustadores do cinema


O cinema é capaz de mexer com as nossas emoções como pouca coisa consegue, mesmo a gente sabendo que, na grande maioria das vezes, aquilo que estamos vendo seja apenas uma encenação. Somos, com total aceitação, levados a acreditar na “mentira” e com ela se comover. Jean-Claude Carrière, fascinado por essa magia que talvez apenas o cinema tenha no universo das artes, comenta em seu “A Linguagem Secreta do Cinema” que os instrumentos de persuasão do cinema podem parecer simples: emoção, sensação de medo, repulsa, irritação, raiva, angústia. Mas, pontua ele, “na realidade, o processo é muito mais complexo”, provavelmente até indefinível. “Envolve os mais secretos mecanismos do nosso cérebro, incluindo, talvez a preguiça, a natural indolência, a disposição para renunciar às suas virtudes por qualquer adulação.”

Isso explica em parte porque sentimos tanto medo de alguns personagens. E não estou falando apenas dos assassinos dos filmes de terror: há pessoas (afinal, acreditamos que elas, mesmo lá dentro da tela, existam de verdade) que, mesmo num drama ou outro gênero menos horripilante nos provocam igual sensação de temor. Quando essa magia intrínseca do cinema observada por Carrière se junta ao talento de cineastas e atores, a química é bem dizer infalível. Aí, soma-se a isso ainda nossa aceitação quase pueril ao que vemos e dá pra imaginar o que acontece: frio na espinha.

Ainda por cima, o universo dos vilões aterrorizantes é inegavelmente fascinante. Quem, mesmo tremendo as pernas a cada gesto que o dito cujo venha a dar, não aprecia (ou pelo menos reconhece que é sui genneris) a figura de um Freddy Krueger ou Michael Myers? Mas, como disse, não tratamos aqui somente dos carniceiros, afinal, destes é até previsível que imputem medo. Elencamos aqueles personagens e seus respectivos atores cujos papeis são tão críveis que não faríamos nenhuma questão de cruzar com eles algum dia na vida – e não precisa nem ser uma pessoa, inclusive.



O penetrante olhar do canibal Lecter.
1 – Hannibal Lecter (Anthony Hopkins)
O absolutamente frio psiquiatra, que atravessou a fronteira da sanidade para passar a matar por prazer – às vezes, até se alimentando de suas vítimas, dando-lhe o simpático apelido de Hannibal “Canibal” –, é provavelmente o mais célebre psicopata da história do cinema. Hopkins, com talento e muita sensibilidade, dá vida ao personagem do escritor Thomas Harris, o qual aparece pela primeira vez na tela no clássico “O Silêncio dos Inocentes” (Demme, 1991). Continuou assustador em outros longas, “Hannibal” (2001), “Dragão Vermelho” (2002) e “Hannibal - A Origem do Mal” (2007), mas vê-lo no primeiro e disparado melhor da série é até hoje imbatível em termos de qualidade cênica – e de medo também.





2 – Norman Bates (Anthony Perkins)
É inegável que as patologias psíquicas dão muito substrato para a criação deste tipo de personagem, seja na literatura ou no cinema. E claro que os diversos transtornos mentais existentes são um prato cheio para roteiristas. Norman Bates, psicótico atormentando pelo Complexo de Édipo encarnado como jamais o próprio Perkins conseguiu igualar, é até hoje um enigma que desafia os psiquiatras. Mas numa coisa todo mundo concorda: o cara dá medo pacas! Com a mão habilidosa de Alfred Hitchcock"Psicose", de 1960, tem talvez o melhor personagem de um thriller no melhor filme do mestre do suspense.


Monólogo final de Norman Bates - "Psicose"


Pacino, mais assustador que
muito serial-killer.
3 – Michael Corleone (Al Pacino)
Os filmes de máfia são recheados de personagens marcantes e não raro assustadores, pois altamente violentos. Porém, talvez pelo tratamento literário de drama dado por Mario Puzo, pela escolha acertada de Coppola do jovem Pacino para o papel e, obviamente, pelo talento do ator, nenhum se compare ao filho mais novo de Don Corleone. Empurrado pelo destino para o crime organizado, o ex-oficial do Exército tornou-se, mais do que qualquer outro de seus irmãos, o chefão mais impiedoso e frio da cosa nostra. Se no primeiro longa vê-se sua conversão à máfia até a natural sucessão ao pai, em "O Poderoso Chefão - parte 2", de 1974, ele está mais apavorante do que muito serial killer. Com um olhar, ele faz qualquer um congelar. Poderoso, dá-se direito a qualquer coisa, e nunca se sabe o que está maquinando naquela mente obsessiva. Coisa boa, não é. Seja nos acessos de raiva, seja no mais contido e calculista silêncio, Michael é apavorante.





Close com um sorriso nada covidativo.
4 - Alex Forrest (Glenn Close)
Não são apenas homens que fazem o espectador arrepiar. A maníaca de Alex Forrest, de “Atração Fatal” (Lyne, 1988), vivida por Glenn Close, é o melhor exemplo. Inconformada com um “pé na bunda” que levara de um homem casado, Dan Gallagher (Michael Douglas), com quem tivera um caso, ela passa a persegui-lo e a assombrar não apenas a ele, mas toda a sua família. Memoráveis cenas, como a do coelhinho de estimação da filha de Dan cozinhando na panela ou quando, depois de uma briga em que ele quase a estrangula, ela solta um sorriso horripilante, não deixam dúvida da força dessa personagem. Aliás, através da psicopatia, um símbolo à época do novo comportamento feminino, que não aceita mais a imposição machista nas relações. Não tem mais perdão: traiu, é penalizado.





5 - Alien (Bolaji Badejo)
Na magia do cinema, o medo pode vir da maneira que se bem entender. Pois não é a forma humana do ator nigeriano Bolaji Badejo que configura o seu personagem mais marcante. É a fantasia que ele veste, a do extraterrestre mais apavorante do cinema: Alien. Vários da mesma espécie dão as caras no bom “Aliens - O Resgate” (Cameron, 1986) e nas desnecessárias sequências. Mas nada se compara à excelente ficção-terror de 1979, de Ridley Scott, em que apenas um exemplar da espécie vai parar dentro da nave espacial em uma missão cheia de problemas. Um, aliás, é mais que suficiente para botar terror em todo mundo. O mais interessante é que o bicho não é muito visto, pois há o recurso fotográfico e cênico de dificultação do olhar, como pede um bom thiller. O vemos de fato, por inteiro e em luz suficiente, apenas mais para o fim da fita, quando o clímax já está lá em cima. Aí, só resta se segurar na poltrona.


Cena do gato de Ripley - "Alien, o oitavo passageiro"


O Cady da primeira e o da segunda vaersão.
6 - Max Cady (Robert De Niro)
Um dos maiores atores da história, De Niro de tempo em tempo encarna figuras assustadoras, desde o taxista louco de “Taxi Driver’ até o comerciante de escravos Rodrigo Mendoza de “A Missão”. Mas nada se compara a Cady, em que revive o já ótimo personagem de Robert Mitchum na versão que inspirou Martin Scorsese a rodar "Cabo do Medo", de 1991 (“Círculo  do Medo”, 1962). União de QI elevado e músculos, o algoz da família Bowden é capaz de, aliado à abordagem do roteiro, confundir os papeis de vilão e herói. Quem é mais filha da puta ali: o ex-presidiário que se vale da liberdade para perseguir os outros, o advogado que o prendeu deliberadamente, a esposa conivente ou as leis da sociedade, interpretáveis e permissivas?






7 - HAL-9000 (Douglas Rain – voz)
Quem disse que só a violência do homem ou a selvageria do bicho podem assustar? A inteligência, quando direcionada para o lado ruim, é devastadora. Ainda mais quando essa inteligência for artificial, como a do computador HAL-9000, o cérebro-mãe da nave especial de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968). Kubrick e Clarke criam o personagem mais estático e, talvez até por isso, amedrontador do cinema moderno. Mirar aquele seu “olho” de plástico é deparar-se com a frieza inumana capaz das piores coisas. Através de meticulosos comandos, a máquina, rebelde e neurótica, põe à sua mercê toda a tripulação, afetando, mesmo depois de “morto”, toda a expedição. Detalhe: a voz original de Douglas Rain já é suficientemente aterradora, mas a da dublagem para o português, feita pelo célebre Marcio Seixas na clássica versão da Herbert Richards, consegue superar.

Dublagem clássica de HAL-9000 - "2001: Uma Odisseia no Espaço"




8 - Zé Pequeno/Dadinho (Leandro Firmino da Hora/ Douglas Silva)
Tem que ser muito sem noção para dizer para um mal-encarado “como é que tu chega assim na minha boca?!” Não precisa ser cinéfilo pra conhecer a resposta que é dada, pois é naquela cena que um dos personagens mais incríveis do cinema dos últimos 30 anos surgia ainda mais temível. Se o pequeno Dadinho já apavorava por se ver uma criança com sede de matar nos olhos, o jovem traficante vivido magistralmente por Firmino em “Cidade de Deus” (2002), então, “lavou a égua” neste quesito. Violento, entorpecido, marginal, cruel. Como não esbugalhar os olhos quando esse cara manda matar uma criança pequena a sangue frio? Ninguém se meta com Dadinho! Ops! Agora é Zé Pequeno, foi mal aí.






O brilhante personagem de Barden.
9 - Anton Chigurh (Javier Barden)
Os irmãos Cohen são mestres do anticlímax, uma vez que seus filmes se valem largamente desse expediente, usado por eles com muita habilidade de forma a gerar impactos surpreendentes no espectador pelo jogo oportuno de quebra ou confirmação da expectativa. O personagem Anton Chigurh, encarnado por Javier Barden no faroeste moderno "Onde Os Fracos Não Tem Vez" (2007), é montado todo em cima dessa premissa. Absolutamente inexpressivo e unidirecional, o psicótico Anton não sente nada, apenas mata. A naturalidade com que ele elimina suas vítimas não tem glamour nenhum. Ele simplesmente pega e mata, e nada é capaz de freá-lo. Fora isso, dá um pavor danado sempre que ele aparece com aquela arma de ar comprimido.







10 - Harry Powell (Robert Mitchum)
“Lobo em pele de cordeiro” é a melhor definição para Harry Powell. Afinal, quem desconfiaria que um pastor aparentemente cheio de boas intenções se revelaria um tirano doméstico da pior espécie? Se a interpretação de Mitchum fora superada pela de De Niro como Max Cady, esta de "O Mensageiro do Diabo" (Laughton, 1955) fica para a história do cinema como uma das mais fortes e impressionantes já vistas nas telas. Filme impecável, também mas não apenas pelas atuações. Mas Mitchum, inegavelmente é o destaque.

"Amor-Ódio" - "O Mensageiro do Diabo"



Mais insano que qualquer outro Coringa.
11 – Coringa (Heath Ledger)
 O alucinado e diabólico vilão das histórias do Batman é um dos personagens mais originais da cultura pop mundial. Interpretá-lo é, obviamente, um privilégio. George Romero o fez muito bem na série e até o craque Jack Nicholson mandou muito bem no papel, mas nada se compara ao que Heath Ledger fez em "O Cavaleiro das Trevas" (Nolan, 2008). Ele encarna Coringa, a ponto de, dizem, amaldiçoar-se, haja vista que morreu logo depois das filmagens. Ledger achou como poucos atores para o limiar entre a loucura e a lucidez, entre o burlesco e o austero. Menção que não podia deixar de faltar na lista.






12 - Jack Torrance (Jack Nicholson)
Se Stanley Kubrick já conseguira assustar com um computador, imagina quando ele volta toda a história para isso. É o caso do perfeito "O Iluminado" (1979), outra das obras-primas do cineasta costumeiramente reconhecido como o grande filme de terror de todos os tempos e a melhor adaptação de Stephen King para as telas. Mas seu impacto certamente não seria o mesmo se não tivesse a força de Nicholson no papel de Jack Torrance. Ele vale-se de toda sua técnica e sensibilidade cênicas a serviço da construção do personagem que vai perdendo o controle de sua sanidade, pois, mediunicamente vulnerável, sucumbe aos espíritos “sanguessugas” ligados àquele que Jack foi na vida passada: um serial killer que matou toda sua família.

por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fleetwood Mac - "Tusk" (1979)



"Para mim, sou uma espécie de culpado por trás desse álbum singular, que foi feito de forma a minar uma espécie de fórmula de fazer apenas uma continuidade de ‘Rumors’.
Nós realmente estávamos prontos para fazer isso, o que poderia ter sido o início de uma autoimagem em termos de viver de acordo com os rótulos que nos estavam sendo colocados como banda.
Você sabe, tem havido vários momentos durante a trajetória da Fleetwood Mac ao longo dos anos em que tivemos que minar quaisquer que fossem as máximas que nos imputassem de maneira a nos mantermos com o espírito de artistas iniciantes,
e o álbum Tusk foi um desses momentos."
Lindsey Buckingham



Essa história começa em 1974. O grupo inglês Fleetwood Mac tava numa pior. O baterista Mick Fleetwood – e a metade do nome da banda, pois a outra é de John McVie, o baixista – foi visitar um estúdio e descobriu um casal de cantores e compositores e os convidou pra integrar o grupo. Eles eram Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. Sem querer, tropeçou numa mina de ouro. O primeiro disco com os caras, “Fleetwood Mac”, de 1975, vendeu muito: cinco milhões de cópias. Mas ninguém esperava que o trabalho seguinte, “Rumours” se transformasse num fenômeno: 40 milhões de cópias vendidas e o terceiro disco mais comprado da história da música.
 Superar esta marca era uma tarefa inglória. Depois de excursionar pelo mundo inteiro, chegou a hora de fazer um novo disco. A pressão era muito grande. E, como quem é pressionado acaba fazendo exatamente o contrário, o guitarrista e cabeça musical da banda Lindsey Buckingham resolveu adotar um approach diferente. Trancou-se em casa e gravou metade das músicas do disco sozinho, tocando todos os instrumentos, fazendo vocais no banheiro – porque tinha a melhor reverberação – e detonando com as expectativas de todo mundo. Pra completar, usou as músicas que suas companheiras de banda e compositoras, a cantora Stevie Nicks e a tecladista Christine McVie, tinham na manga e fez um álbum duplo daqueles que parece ser, na verdade, três discos distintos. Mas que, numa ouvida do começo ao fim, apresenta uma coerência maluca. Se eu fosse louco, o compararia ao “Álbum Branco” dos Beatles, pela variedade estilística. Mas eu não sou. E este é “Tusk”, o 15º disco favorito aqui da casa.
Pra começar na manha e não assustar ninguém, Buckingham colocou uma balada romântica de McVie como primeira canção, “Over and Over”, daquelas que a gente ouvia na rádio nos anos 80. Mesmo num clima meloso desses, se ouve o toque LB: os vocais inspirados nos Beach Boys, grandes ídolos do guitarrista, especialmente o líder Brian Wilson. O vocal de Christine é bem característico das canções que ela interpretou no grupo até sua saída, em 1998.
 Em “The Ledge”, começa a viagem sonora do guitarrista. E a mensagem é dirigida diretamente à sua namorada da época, Carol Ann Harris (que, anos depois, escreveu um livro sobre suas aventuras e desventuras ao lado de Buckingham): “Você pode me amar/ mas não pode ir embora/ Alguém tem de te dizer/ o que tudo isso significa”. Os vocais são fantasmagóricos e ele toca todos os instrumentos. Não que tenham muitos nesta faixa: o trio básico de guitarra, baixo e bateria.
 Após o primeiro susto, Lindsey Buckingham amacia de novo com outra composição de McVie, “Think About Me”, essa mais no clima “Rumours” do Fleetwood Mac. Christine faz esta canção pra Dennis Wilson, o baterista dos Beach Boys (sempre eles) que namorava na ocasião. “Tudo que precisou foi um olhar especial/ e eu senti que te conhecia/ não pretendia te amar/ não achava que fosse dar certo... não vou te segurar/ deve ser por isso que você está aqui/ mas se eu for aquela que você ama/ pense em mim”.
 “Save me a Place” é um pedido de ajuda de Lindsey. Os violões e mandolins dão a medida da canção, na qual o guitarrista diz: “Guarde um lugar pra mim/ Eu virei correndo/ se você me amar hoje”. A confusão é uma tônica da música. “Não sei porque devo ir embora/ não sei porque devo ficar/ talvez eu queira ficar sozinho/ eu acho que preciso ser conquistado”.
 “Sara” foi o grande sucesso do disco e a primeira composição de Stevie Nicks no álbum. Dá pra se dizer que é uma clássica canção estilo FM dos anos 70: limpa, clara, pop e direta ao ponto, apesar da letra estranha de Nicks, numa carta à sua amiga - quem mais? - Sara: “Se afogando no mar do amor/ Onde todo mundo gostaria de se afogar/ mas agora se foi/ não interessa mais/ quando você construir sua casa/ me chame... Sara, você é uma poeta no meu coração/ nunca mude, nunca pare”. Estas palavras estranhas são embaladas por uma batida irresistível do baterista Mick Fleetwood, com o baixo seguro de John McVie, os teclados discretos de Christine McVie e pelos violões de Buckingham.
 Por falar no guitarrista, ele volta a se vingar da namorada em “What Makes You Think You're the One”, num título autoexplicativo que abre o Lado 2. Nesta canção, se pode dizer que ele, como baterista, é um ótimo guitar hero e produtor. “O que faz você pensar que é a única?/ Quem pode rir sem chorar... cada pedaço/ está aí/ para ser visto/ cada pedaço/ meu/ e seu”. E a retaliação continua: “O que faz você pensar que eu sou o cara?/ que vai te amar pra sempre?/ tudo o que você fez está feito/ e não vai durar pra sempre”. Tava furioso o moço... No livro, ela conta que as brigas eram diárias. E as reconciliações também.
 “Storms” vem de piano elétrico e guitarra se entrelaçando para criar a cama na qual Stevie Nicks vai cantar uma história de amor não muito bem sucedida. Certamente a que viveu ao lado de Lindsey Buckingham. “E eu não tenho lidado contigo, eu sei/ Apesar do amor ter sempre estado aqui/ Então tento encontrar uma resposta lá/ para que eu possa realmente ganhar”. Ao lavar a própria roupa suja, Nicks consegue ser sincera: “Então eu tento te dizer adeus, meu amigo/ Gostaria de te deixar com algo carinhoso/ mas eu nunca fui um mar calmo e azul/ eu tenho sido sempre uma tempestade”. Admitindo sua personalidade, ela consegue ir em frente.
 “That's All for Everyone” é uma canção de Lindsey Buckingham que tem um quê de folk song com uma wall of sound de vocais, muitos provavelmente feitos no banheiro. Como na maioria das canções do guitarrista, a perplexidade é que domina: “É tudo pra todo mundo/ É tudo pra mim/ última chamada para todo mundo/ deve ser exatamente o que eu preciso”. Durante a gravação de “Tusk”, o guitarrista se envolveu pesado com a cocaína e não se tornou um recluso porque Carol Ann Harris vivia na mesma casa que ele. Ela conta no livro “Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac” que ele se trancava no estúdio caseiro o dia inteiro com uma montanha de pó e ficava gravando infinitas faixas, muitas delas não usadas no disco.
 A barra pesada de Buckingham continua em “Not That Funny”. “Não é tão engraçado/ quando você não sabe o que é/ Mas não consegue o suficiente disso... não me culpe/ por favor/ você está aqui porque eu quis assim”. A impressão é que o músico entrava em seu bunker particular e dizia em música tudo o que não conseguia falar abertamente e ao vivo com sua namorada. Uma briga musical. E quem levou a melhor fomos nós.
 O tão falado misticismo de Nicks aparece em “Sisters of the Moon”. “Silêncio intenso/ quando ela entra no quarto/ suas roupas pretas esvoaçando/ Irmã da Lua”. Outra faixa com bateria marcada de Mick e as guitarras de Lindsey aqui a serviço da canção. Poderia se dizer que esta canção é uma sub-”Rhiannon”, o grande sucesso das canções solo de Stevie. Possui, inclusive, a mesma pegada de guitarra e os backing vocals uivantes, como lobos em lua cheia.
 O Lado 3 do LP inicia com mais uma canção de Nicks. A faixa mais pop de todo o álbum. “Angel”, que é mais uma direcionada ao guitarrista. “Às vezes/ as coisas mais bonitas/ as coisas mais inocentes/ e muitos destes sonhos/ passam pela gente/ e continuam passando/ Você se sente bem/ Eu digo que é engraçado que tu entendas/ Eu sabia que sim/ Quando você era bom/ Você era muito, muito bom”. Lá pelas tantas, Nicks vai direto na couve: “Houve um fim/ mas não houve um encerramento”. O piano elétrico de McVie é que dá o tom.
“That's Enough for Me” é mais um trabalho solo do disco que Buckingham gravou com o Fleetwood Mac. “Toda vez que você me faz sorrir/ é do mesmo jeito que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim/ Toda a vez que eu não consigo dormir/ é a mesma dor que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim”. Para Lindsey Buckingham, amor rima com dor.
 Na sequência, vem a minha preferida de todo o disco, “Brown Eyes”, composição de Christine McVIe e cantada por ela. O baterista Mick Fleetwood faz miséria com uma batida que tem bumbo num tempo, baqueta na ferragem da caixa, prato de condução e chimbau, cada um fazendo uma coisa. E o Fender Rhodes de McVie fazendo as harmonias, juntamente com a guitarra. O baixo de John McVie está totalmente solto. Mas o que chama a atenção são os vocais que parecem vindos de outra galáxia. Lindsey, McVie e Nicks fazem o que uma amiga chamou, um tempo atrás, de “sha-la-lá etéreo”. E é exatamente isso. Esta faixa é a mostra do talento de Lindsey Buckingham como produtor. Com quase nada, ele criou um belo momento do disco. 
“Never Make Me Cry” traz Christine num clima “mulherzinha da antiga”. “Vá e faça o que quiser/ Sei que tu tens tuas vontades/ Você sabe que eu vou esperar, quanto tempo for necessário/ então vá e faça o que quiser/ você nunca vai me fazer chorar... Eu não posso aceitar tudo/ mas fico feliz de ter o seu amor/ Então não se preocupe, eu estarei bem/ e eu nunca vou te fazer chorar”. Misoginia feminina. As feministas devem ter ficado furiosas com Christine.
 Pra fechar este lado do LP, "I Know I'm Not Wrong", mais um rock de Buckingham dizendo que "os sonhos de uma vida inteira/ me mostram que eu estava errado/ Tudo está certo/ E agora se foi/ Não me culpe, por favor seja forte, eu que não estou errado". Um astro pop se queixando da vida que leva. Pobre menino rico.
 O lado 4 começa com "Honey Hi", outra composição de Chrsitine McVie que parece que vai se desmanchar, tamanha a suavidade e a dolência. Novamente o piano elétrico Fender Rhodes comanda as ações, com Fleetwood nas percussões e o violão de Lindsey transformam a canção em uma daquelas músicas que a gente canta num luau ou numa ida à praia no inverno. Esta é a verdadeira “música para acampamento”.
 "Beautiful Child" é outra balada de Nicks, onde ela consegue sua melhor performance vocal em todo o disco. A dificuldade no relacionamento contado na música fica evidente quando Nicks canta: "Eu não sou mais uma criança/ Eu sou alta o suficiente/ para atingir as estrelas/ sou velha o suficiente pra te amar/á distância/ Para confiar?.. sim/ Mas normalmente as mulheres são confiáveis". As pressões de ser uma pop star e viver na estrada detonam qualquer relacionamento. É isso que Nicks quer dizer na canção.
 "Walk a Thin LIne" é uma das "canções de banheiro" de Buckingham que mais funcionam como um artefato pop, se é que vocês me entendem. Uma introdução nos moldes da cartilha, um refrão pegajoso e, desta vez, ele resolve fazer uma música que poderia ser gravada por qualquer um. E foi, pelo baterista Mick Fleetwood em seu disco africano "The Visitor" com direito a guitarra slide de George Harrison. Aqui, o compositor empilha vocais a la Brian Wilson, conseguindo um efeito muito interessante.
 A faixa-título é das mais pretensiosas do disco inteiro, mas, ao mesmo tempo, é das mais bem-sucedidas. Uma batida tribal de Fleetwood começa os trabalhos, com os vocais novamente fantasmagóricos dos três cantores. Aos poucos, vão entrando os outros instrumentos. A letra não poderia ser mais enigmática. tanto que existe no site The Penguin uma página inteira de divagações e possíveis explicações para: "Por que você não pergunta se ele vai ficar?/ Por que você não pergunta se ele vai embora?/ Por que você não me diz o que está acontecendo?/ Por que você não me diz quem está no telefone?/ Porque você não pergunta pra ele o que está acontecendo?/ Por que você não pergunta pra ele quem é o próximo em seu trono?/ Não me diga que me ama/ Apenas diga que me quer". No meio de tudo isso, entra a US Trojan Marching Band, uma banda marcial que começa a tocar um tema sugerido pela guitarra. Uma faixa esquisita, porém muito boa. Um verdadeiro clássico pop.
Pra fechar, mais uma balada de Christine McVie, "Never Forget", que dá o tom final desta grande viagem sonora proposta pelo grupo. “Tusk” começa e termina com canções de Christine McVie para aliviar a pressão imposta por Buckingham. Ao invés de lançar três discos individuais, os compositores da banda, Lindsey Buckingham, Stevie Nicks e Christine McVie resolveram juntar esforços (mais ou menos, né?) para conseguir alguma tipo de coerência musical nesta tentativa de dar prosseguimento à carreira depois do sucesso estrondoso de "Rumours". E receberam a ajuda de John McVIe e de Mick Flçeetwood, uma das cozinhas mais criativas do rock. Musicalmente, estes esforços deram certo. Em termos de vendagens para um álbum duplo até que “Tusk” foi bem: 4 milhões de cópias. Mas o disco custou 1 milhão de dólares e foi considerado, na época, um fracasso de vendas. A recuperação aconteceria só em 1982, com o disco "Mirage", e depois de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham lançarem seus primeiros discos solo. Mas isso é outra história.
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FAIXAS:
1. Over & Over (Christine McVie) - 4:34               
2. The Ledge (Lindsey Buckingham) - 2:07          
3. Think About Me (McVie) - 2:44           
4. Save Me a Place (Buckingham)- 2:42
5. Sara (Stevie Nicks) - 6:30        
6. What Makes You Think You're the One (Buckingham) - 3:30 
7. Storms (Nicks) - 5:31
8. That's All for Everyone (Buckingham) - 3:02  
9. Not That Funny (Buckingham) - 3:14
10. Sisters of the Moon (Nicks) - 4:44   
11. Angel (Nicks) - 4:54
12. That's Enough for Me (Buckingham) - 1:50  
13. Brown Eyes (McVie) - 4:27  
14. Never Make Me Cry (McVie) - 2:18
15. I Know I'm Not Wrong (Buckingham) - 3:01
16. Honey Hi (McVie) - 2:45       
17. Beautiful Child (Nicks) - 5:21              
18. Walk a Thin Line (Buckingham) - 3:46             
19. Tusk (Buckingham) - 3:37    
20. Never Forget (McVie) - 3:38

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