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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

"Ilha dos Cachorros", de Wes Anderson (2018)


Belo, bem escrito, bem dirigido, uma  animação espetacular! O filme é fantástico, Wes Anderson é incrível, “ Ilha dos Cachorros” pode não ser perfeito mas é sublime em todos os aspectos.
Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos de idade que mora na cidade de Megasaki sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de viverem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo, porém o pequeno Atari não aceita se separar de seu cachorro, Spots. Ele então convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. E essa aventura vai transformar completamente a vida da cidade.
É uma obra que você tem que assistir completamente dedicado a ela pois necessita muito da sua atenção, uma vez que é fundamentada nos diálogos e detalhes.  Apesar de ser uma animação e ter bichinhos, "Ilha dos Cachorros" não é um filme infantil. Tem seus momentos cômicos mas de um modo geral seu enredo é bastante político, além de um ritmo lento que, certamente não chama atenção das crianças em geral, não é mesmo? (Podemos dizer que nem de alguns adultos).  Portanto, não vá com espírito de ver algo Disney/Pixar, ou Dreamworks.
A nada bela ilha para onde os cães são enviados.
Visualmente falando, o filme é perfeito e logo na primeira cena você já fica impressionado com a perfeição e naturalidade dos movimentos dos bonecos, já que estamos falando de uma obra de stop-motion. A forma como a câmera passeia pelo cenário também chama muito atenção. Temos planos abertos que são obras de artee lembram muito os filmes japoneses de samurais. Temos homenagens a Miyazaki e o estúdio Ghibli, aos animes de Tezuka, e muitas outras  referências a cultura japonesa.
É curioso como ficamos distanciados e não conseguimos ter muita empatia com os personagens humanos, o que é provável que seja proposital pelo fato do elenco de cachorros ser o principal,  o que fez com que nenhum humano me cativasse muito. Já os cães, são magníficos! O trabalho de arte de movimentação, as atuações, o trabalho vocal do grande elenco do filme (Angelica Huston, Bill Murray, Bryan Craston e mais uma galera... até Yoko Ono), e as partes cômicas também ficam por conta do cães que, por sinal, se saem muito bem.
Mesmo envolto numa polêmica de uma suposta apropriação cultural, que no meu ponto de vista é muito mais como uma linda homenagem ao cinema e à cultura japonesa, o longa vem com força e se continuar assim pode ser candidato ao próximo Oscar de animação. Não é uma obra de fácil absorção até pela grande quantidade de referências à arte nipônica, o que exige um certo conhecimento para captá-las, porém a beleza visual, a sutileza do enredo podem te colocar dentro  do filme e prender sua atenção. Mais uma bela obra de Wes, que vem conquistando meu coração a cada novo filme.
O divertido grupo de cães que ajudam o jovem Atari.




Vagner Rodrigues

domingo, 14 de agosto de 2022

"Procurando Nemo", de Andrew Stanton e Lee Unkrich (2003)




O cinema tem, ao longo de sua história, tantos pais marcantes, de todos os estilos, bons, maus, amorosos, relapsos, loucos, autoritários, passivos..., mas, por incrível que pareça, dentre tantos homens, o meu pai preferido do cinema, o que mais me emociona, não é um humano. Nem toda a ascendência de um Vito Corleone em "O Poderosos Chefão", o empenho de melhora como pai, de um Ted Kramer em "Kramer vs. Kramer", uma dedicação com sentimento de impotência de um Chris Gardner em "À Procura da Felicidade", fúrias vingativas como a de um Bryan Mills em "Fúria Implacável", ou uma inconformidade transformada em criatividade de um Daniel Hillard em "Uma Babá Quase Perfeita", se igualam à figura paterna de Marlin, de "Procurando Nemo". Um peixe, num filme de animação simboliza mais do que qualquer outro a condição de pai. 
Marlin, um peixe-palhaço, é um pai solteiro, e aí entra a habilidade da Disney/Pixar em lidar com tragédias dando-lhes a devida relevância no âmbito geral da história, sem contudo, deixar o filme pesado. A mãe de seu filho morre, tragicamente, quando seu ninho com as ovas que ela pusera, é atacado por uma barracuda. Apenas um ovo se salva e este será Nemo. Nemo nasce com uma nadadeira menor que a outra, mais um ponto sensível da trama que lida com deficiências físicas de uma maneira muito natural e bonita, mas até por isso e por ser o filho único de uma ninhada quase totalmente exterminada, é tratado por seu pai com um cuidado excessivo. Merlin não permite que Nemo faça nada minimamente arriscado, que se afaste alguns metros a mais, que tente alguma coisa diferente do rotineiro, que explore possibilidades, que descubra coisas novas. Essa restrição toda faz com que Nemo, que é um bom "menino", na verdade, meio que se rebele e desobedeça o pai em uma orientação importante. Só que essa teimosia pontual, em especial, é determinante para o destino do peixinho, que acaba sendo apanhado por mergulhadores que o levarão para ser peixe decorativo em algum aquário, em algum lugar, sabe-se lá onde.
Tudo perdido! Não há como encontrar alguém assim... Pode ter ido parar em qualquer lugar do mundo. Impossível! Não para o Marlin.
Com uma determinação comovente, juntando o mínimo de pistas que vai conseguindo, a partir de uma máscara perdida de um dos mergulhadores, ele vai seguindo o rastro do filho numa contagem regressiva antes que aquele seja vendido, descartado ou comido, num destino que ele desconhece mas que sabe que precisa impedir que aconteça. Para isso ele rompe mares com uma coragem que nem ele mesmo conhecia em si mesmo, enfrentando seus piores medos e passando por cima de suas próprias regras e restrições, tudo isso contando com a "ajuda" da atrapalhada mas simpaticíssima e cativante Dory, uma peixinha cirurgiã-patela com problemas de memória que, por mais que muitas vezes ponha o amigo em enrascadas, é decisiva para que o peixe-palhaço encontre o filho. 

Cena em que um pelicano conta para Nemo
 as peripécias do pai à sua procura


Ele passa do limite que estabelecera para que o próprio filho nunca passasse, ele enfrenta tubarões famintos, ele nada entre águas-vivas, pega correntes perigosas, conhece tartarugas centenárias, pega carona numa baleia, escapa de gaivotas e, por todas essas façanhas, praticamente se torna uma lenda: a história do pai que atravessou oceanos enfrentando a tudo e a todos para encontrar o filho é contada pelos sete mares. Predadores, moluscos, crustáceos, cardumes e até pássaros conhecem a lenda e a contam, exaltando os feitos do pai-herói. E, exatamente, pelo fato da lenda ter ido tão longe e chegar até de outras espécies, um desses pássaros, um pelicano acaba tornando possível o tão improvável reencontro entre pai e filho.
Marlin é um pai exemplar, um pai que faz a gente chegar a se perguntar se iria a tal ponto, tão longe como ele foi (e a reposta acaba sendo sim). Um pai para o qual nada importa mais no mundo do que o filho. Mas Marlin é, sobretudo, um pai que aprende a lição de que é importante ser zeloso, sim, cuidadoso mas que, na verdade, não se cria um filho para si mesmo, se cria um filho para o mundo. E essa condição, a de pai, é uma condição na qual se está sempre aprendendo. e o mais importante nela é, exatamente, ficar atento às lições.
Sejamos, nós pais, todos, um pouco como Marlin, e aprendamos todos os dias mais um pouco sobre essa coisa mágica mas desafiadora que é ser pai.



Cly Reis

terça-feira, 7 de março de 2023

"Pinóquio" ou "Pinóquio por Guillermo Del Toro", de Guillermo Del Toro e Mark Gustafson (2022)

VENCEDOR DO OSCAR
MELHOR ANIMAÇÃO



O lar da sabedoria
por Cly Reis


Guillermo Del Toro é daqueles diretores que já consolidou de tal forma uma identidade cinematográfica, uma série de marcas registradas, características estéticas, que sua obra é facilmente identificável pelos admiradores de seu trabalho. "Pinóquio", embora seja uma animação com um argumento originalmente infantil, traz consigo o melhor das características de Del Toro. A adaptação do mexicano, vencedor do Oscar com "A Forma da Água (2018), em colaboração com o norte-americano Mark Gustafson, para a consagrada obra do escritor italiano Carlo Collodi, acrescenta seu tradicional tom sombrio e um olhar crítico e engajado, à singeleza do conto infantil.

O diretore se utiliza da magia da história do velho marceneiro que cria um boneco de madeira que ganha vida, para denunciar o fascismo e as sociedades conservadoras, situando sua adaptação entre as duas grandes guerras, especialmente no início da Segunda, quando a Itália encontra-se sob o governo totalitário direitista de Mussolini. Mais uma marca registrada, uma vez que não é a primeira vez que isso acontece na obra de Del Toro: ele já havia contextualizado outros filmes seus em períodos de guerra, pós ou sob regimes fascistas, como em "Labirinto do Fauno" e "A Espinha do Diabo" e mesmo quando não ambienta nessas circunstâncias, aborda situações que se assemelham ao fascismo e cerceamento de liberdade, individualidade e identidade.

No "Pinóquio por Guillermo Del Toro", depois de perder o filho Carlo, de 10 anos, num bombardeio no final da primeira guerra, o marceneiro Gepetto, depressivo e nunca totalmente conformado pela morte do garoto, dez anos depois, embriagado, num acesso de fúria, corta o pinheiro vizinho ao túmulo do filho e resolve dele fazer um boneco para 'substituir' o filho. Compadecida por tamanha dor de um pai, uma Fada da Floresta concede vida ao pedaço de madeira, no qual, por acidente, residia, antes da marcenaria, um grilo escritor e intelectual que, recusando-se a sair, assume o papel de conselheiro do boneco-menino.

E pode crer que ele precisa de um conselheiro! O boneco é  completamente espirocado. É agitado, tagarela, curioso, teimoso e incontrolável... É lógico que nem o grilo, Sebastião, com toda sua sabedoria, nem o pai, com seu zelo, conseguem pôr o guri na linha, o que resulta em inúmeros problemas para o velho. Pinóquio é um daqueles espírito livres, independentes, aquele tipo de 'gente' que não se submete, não aceita um  'não porque não', e isso incomoda a sociedade, incomoda os conservadores, os conformistas, e incomoda o poder. Assim que se apresenta ao mundo, o menino de madeira é considerado uma aberração, algo satânico aos olhos dos católicos, que insistem em não enxergar nada além da Criação Divina. Mais do que sua aparência, sua procedência, o garoto, contestador e crítico, choca por desafiar a ordem e os bons costumes. Na cena da igreja, quando todos da cidadezinha tomam conhecimento de sua existência e suas habilidades humanas, e manifestam seu espanto, desaprovação e condenação a seu convívio com os demais, Pinóquio aponta, no fundo do altar, para uma enorme imagem de Cristo crucificado, esculpido pelo mesmo marceneiro que o criara, e questiona por que gostam tanto daquela imagem da madeira e dele não. "Blasfêmia!"

Rejeitado pela sociedade por não se enquadrar nos padrões, cobiçado pelo exército do Duce por suas propriedades metafísicas, e contestado pelo próprio pai-criador por conta de seu comportamento, o garoto, em busca de aceitação, de encontrar seu lugar no mundo, iludido por um um dono de circo, abandona a escola, a cidade e o pai, e segue com a trupe em turnê, sendo exibido pelo país afora como grande atração. Aí, a partir dessa rebeldia, se desencadeiam uma série de fatos, aventuras e perigos, sendo alguns deles fatais. Sim, fatais! O garoto morre mas descobre, em meio a esse turbilhão de acontecimentos, que sempre voltará a viver, o que poderá vir a representar um fardo em sua vida, uma vez que todos que ele ama, partirão e ele, eterno, terá que lidar com essas perdas. Bom menino, amoroso, bem intencionado mas confuso, talvez tenha nesse ponto seu grande desafio enquanto ser não-humano e imortal: entender o valor da vida e de cada momento.

Obra repleta de sutilezas, questionamentos, mensagens, "Pinóquio, por Guillermo Del Toro" é mais que somente uma animação ou uma adaptação de um clássico infantil. É uma utilização de uma linguagem mais acessível, lúdica, fantástica, para transmitir uma série de pequenos recadinhos, que servem, perfeitamente, tanto para os pequenos como para os crescidinhos.

Há uma série de detalhes importantes como as mudanças na parede do vilarejo, perto da igreja, que no início do filme, enquanto Carlo ainda vivia, tinha um anúncio de produtos da região; depois, quando surge Pinóquio, passa a ter uma convocação para o exercito com a inscrição "Crer-Obedecer-Combater"; e mais tarde, quando o boneco resolve fugir, um anúncio do circo, ou seja, três maneiras de manipulação do indivíduo (capitalismo, poder e entretenimento); o fato do livro que Gepetto dá ao filho (tanto o humano quanto o de madeira), ser de História, sugerindo que quem tem conhecimento, quem sabe o que se passou, torna-se menos suscetível a ser enganado; a própria declaração do boneco, que afirma não gostar de ser chamado de marionete, rebatendo a argumentação do dono do circo, "Adoramos marionetes. São  o melhor que há"; ou mesmo a ordem de Mussolini para queimar o teatro e matar a todos, depois de desacatado pela estrela principal do espetáculo, nosso intrépido Pinóquio, só comprovando que a arte só serve para o fascista se for ao encontro de seus propósitos.

Mesmo com tantas mensagens sérias, tanta carga dramática, "Pinóquio..." é divertido e tem doses de humor na medida certa. A cena de seu "despertar", de quando ganha vida, descobrindo as coisas e perguntando a utilidade de tudo, é hilária, suas idas e retornos do mundo da morte são, ao mesmo tempo soturnas, engraçadas e graciosas; e sua inocência, sua pureza, são absolutamente cativantes.

Além de tudo, o diretor brinda os cinéfilos e amantes de filmes com diversos easter-eggs e referências a outras obras como "Moby Dick", "Nascido Para Matar", "Hellraiser III" e, "Trainspotting", até porque a voz do grilo Sebastião, é de ninguém menos que Ewan McGregor, o eterno Renton do filme de Danny Boyle. E aí, pescou todas?

Quando acabei de assistir o Pinóquio de Guillermo Del Toro já projetei que o filme não somente seria indicado ao Oscar de melhor animação como também para melhor filme na categoria principal. Me enganei... A Academia preferiu indicar coisas como o comum "Nada de Novo no Front" e o blockbuster banal "Top Gun: Maverick". Pior que, diante dos tradicionais bambambans badalados da Disney/Pixar e da DreamWorks, mesmo com todas suas qualidade e méritos, periga sair de mãos vazias. Fazer o quê? Mas certamente, independente do prêmio, seu Pinóquio terá lugar garantido em muitos corações, que, como nos ensina o filme, é onde mora a sabedoria.

O dono do circo engambelando o menino de madeira.
Sempre vai ter algum "esperto', algum explorador, 
pronto para se aproveitar da inocência.


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De peito aberto
por Vagner Rodrigues


Sabe quando você pega uma receita na internet, que é muito boa, e na hora de fazer você altera algo, coloca um tempero que você gosta muito e a receita se transforma e algo fabuloso? Isso é "Pinóquio por Guillermo Del Toro".

Conto de fadas clássico de um boneco de madeira que se transforma em um menino real, situada na Itália dos anos 30, quando o fascismo estava em ascensão e Benito Mussolini estava tomando controle do país.

O longa diferente da nova versão da Disney, até consegue mostrar melhor seus personagens coadjuvantes mas ainda assim, esse foi um ponto que não me agradou muito. O grilo até tem um enredo bem bacana, mas o restante dos personagens são muito rasos e só fazem a história evoluir por conveniências do roteiro.

No entanto, o que essa versão faz com o cenário em que a história se passa é algo fantástico! Todo cenário é incrível e o fato da história se passar na Itália fascista é um detalhe que só faz o longa crescer. Apesar de se tratar de uma fantasia, esse fato histórico conseguiu trazer um peso real para a obra.

Quanto ao protagonista, o que temos é mais uma versão inocente de Pinóquio, só que esta é tão exageradamente inocente que chega a nos fazer perder a paciência com o personagem, em muitos momentos. O que muito bom! Só mostra como estamos imersivos e nos envolvemos com ele e com a história. E essa ingenuidade essa pureza, é muito bem utilizada pelo diretor, deixando patente toda a evolução da aprendizagem do personagem, aumentando a sua forma de relacionar tanto com o mundo quanto com seu pai, Gepetto, cuja profundidade do personagem merece destaque, uma vez que as cenas mais comoventes e emocionantes do longa vem dele.

Essa nova versão de Pinóquio, consegue ser tão mágica e impactante quanto a primeira, preservando a magia, o encanto, mas ganhando em humanização e verdade dos personagens principais. Seus dramas se tornam mais profundos uma vez que acompanhamos com bastante clareza sua evolução emocional, o que é muito bom. 

"Pinóquio" mostra mais uma vez porque e um dos melhores diretores da atualidade consegue andar pelo drama profundo e a pureza da magia infantil, como um mestre.  Apesar de todo o esplendor visual que o longa mostra em um trabalho perfeito de stop-motion, acredito que a maior beleza esteja mesmo na sua narrativa, na mensagem sobre a vida. Como ela é compartilhada e como pegamos um pouquinho de cada pessoa com quem nos relacionamos, para o bem e para o mal, além da importância de saber lidar com tisso, de modo a construímos, a partir dessas experiências e convívios, nossa própria jornada. Recomendo muito! Vá assistir ao filme de peito aberto, assim como faria Pinóquio.

Não é todo mundo que tem o "privilégio" de voltar a viver
várias vezes até aprender algumas lições, né Pinóquio...



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Oscar 2016 - Os Indicados



DiCaprio tem mais uma chance de conseguir
seu tão almejado Oscar com "O Regresso".
E saiu a lista dos indicados para o Oscar 2016!
Surpresa para mim, apesar dos muitos elogios que ouvi e li a respeito, é "Mad Max: Estrada da Fúria" ter recebido 10 indicações, só atrás de 'O Regresso" de Alejandro González Iñárritu que pode fazer um bicampeonato em Hollywood. Outros que aparecem como bons candidatos, pelas qualidades que vem sendo apontadas e pelo número de indicações são 'Spotlight" (6 indicações), "Perdido Em Marte" (7) e "A Grande Aposta" (5). Tarantino, com seu "Os Oito Odiados"  dessa vez ficou de fora da corrida principal de filme e direção, e  até de sua especialidade, o roteiro original, mas  mesmo assim concorre em três categorias. Nas categorias técnicas "Star Wars: O Despertar da Força" deve fazer uma limpa, mas sempre de olho em "Mad Max" que também disputa com qualidade algumas delas.
No mais, Leo DiCaprio que goza de grande torcida feminina, muito mais por suas qualidades físicas do que técnicas, terá uma nova chance por sua atuação no filme de Iñárritu; Stallone recebe reconhecimento importante pela nominação a ator coadjuvante; e a animação brasileira "O Menino e o Mundo" tem a honra de ser indicado mas terá uma parada duríssima pele frente, o favoritíssimo "Divertidamente" da Disney/Pixar.
Conheça, abaixo, todos os indicados. A premiação ocorre no dia 28 de fevereiro em Los Angeles.



  • Melhor filme
"A grande aposta"
"Ponte dos espiões"
"Brooklyn"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"O quarto de Jack"
"Spotlight: Segredos revelados"

  • Melhor ator
Bryan Cranston ("Trumbo")
Matt Damon ("Perdido em Marte")
Leonardo DiCaprio ("O regresso")
Michael Fassbender ("Steve Jobs")
Eddie Redmayne ("A garota dinamarquesa")


  • Melhor atriz
Cate Blanchett ("Carol")
Brie Larson ("O quarto de Jack")
Jennifer Lawrence (“Joy”)
Charlotte Rampling (“45 anos”)
Saoirse Ronan ("Brooklyn")


  • Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")
Tom McCarthy ("Spotlight: Segredos revelados")
George Miller ("Mad Max: Estrada da fúria")
Adam McKay ("A grande aposta")
Lenny Abrahamson ("O quarto de Jack")


  • Melhor animação
"Anomalisa"
"O menino e o mundo"
"Divertida mente"
"Shaun, o carneiro"
"Quando estou com Marnie"


  • Melhor filme estrangeiro
"Embrace of the Serpent" (Colômbia)
"Cinco graças" (França)
"O filho de Saul" (Hungria)
"Theeb" (Jordânia)
"A war" (Dinamarca)


  • Melhor trilha sonora
"Ponte dos espiões"
"Carol"
"Os 8 odiados"
"Sicario"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor roteiro adaptado
"A grande aposta"
"Brooklyn"
"Carol"
"Perdido em Marte"
"O quarto de Jack"


  • Melhor roteiro original
"Ponte dos espiões"
"Ex Machina"
"Divertida mente"
"Spotlight: Segredos revelados"
"Straight Outta Compton"

  • Melhor design de produção
"Ponte dos espiões"
"A garota dinamarquesa"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"


  • Melhor fotografia
"Carol"
"Os oito odiados"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"
"Sicario"


  • Melhor figurino
"Carol"
"Cinderela"
"A garota dinamarquesa"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"


  • Melhores efeitos visuais
"Ex Machina"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor montagem
"A grande aposta"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"O regresso"
"Spotlight: Segredos revelados"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor atriz coadjuvante
Jennifer Jason Leigh ("Os 8 odiados")
Rooney Mara ("Carol")
Rachel McAdams ("Spotlight: Segredos revelados")
Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")
Kate Winslet ("Steve Jobs")


  • Melhor ator coadjuvante
Christian Bale ("A grande aposta")
Tom Hardy ("O regresso")
Mark Ruffalo ("Spotlight: Segredos revelados")
Mark Rylance ("Ponte dos espiões")
Sylvester Stallone ("Creed")

  • Melhor edição de som
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Sicario"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor mixagem de som
"Ponte dos espiões"
"Mad Max: Estrada da fúria"
"Perdido em Marte"
"O regresso"
"Star Wars: O despertar da força"


  • Melhor curta de animação
"Bear Story"
"Prologue"
"Sanjay's Super Team"
"We can't live without Cosmos"
"World of tomorrow"


  • Melhor curta de live action
"Ave Maria"
"Day one"
"Everything will be okay (Alles Wird Gut)"
"Shok"
"Stutterer"

  • Melhor cabelo e maquiagem
"Mad Max"
"The 100-year-old man who climbed out the window and disappeared"
"O regresso"

  • Melhor documentário
"Amy"
"Cartel Land"
"The look of silence"
"What happened, Miss Simone?"
"Winter on fire: Ukraine's Fight for Freedom"


  • Melhor documentário de curta-metragem
"Body team 12"
"Chau, beyond the lines"
"Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah"
"A Girl in the River: The Price of forgiveness"
"Last day of freedom"


  • Melhor canção original
"Earned it", The Weekend ("Cinquenta tons de cinza")
"Manta Ray", J. Ralph & Antony ("Racing extinction")
"Simple song #3", Sumi Jo e Viktoria Mullova ("Youth")
"Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")
"Til it happens to you", Lady Gaga ("The hunting ground")

domingo, 9 de agosto de 2020

Claquete Especial Dia dos Pais - 9 filmes sobre paternidade


Aproveitando a data comemorativa do Dia dos Pais, lembramos aqui de filmes que, sob enfoques distintos entre si, abordam o tema da paternidade. Produções de diferentes nacionalidades e épocas que, a seu modo, trazem, por conta das peculiaridades culturais e históricas, também diferentes formas de expressão daquilo que é ser pai. Porém, uma coisa fica evidente em todos estes títulos: o amor. Seja incondicional, conflituoso, arrependido, culpado ou manifesto, está lá sentimento que norteia a relação entre eles, pais, e seus filhos. 

Fazendo uma panorâmica, vê-se que há menos filmes significativos sobre pais do que de mães. Pelo menos, aqueles em que o pai é protagonista e não simplesmente uma figura acessória. Até por isso, torna-se interessante levantar uma listagem como esta no dia dedicado a eles. Escolhemos 9 títulos, afinal, estamos no dia 9. E detalhe: selecionamos apenas filmes premiados, desde Oscar até premiações estrangeiras ou nacionais. Indicações imperdíveis aos que ainda não viram, lembrança bem vinda aos que, como eu, terão a felicidade de revê-los - de preferência, com seus pais.


PAI PATRÃO, irmãos Taviani (Itália, 1977)

Baseado no romance autobiográfico de Gavino Ledda, conta a história da dura infância e adolescência do escritor quando, aos seis anos, é obrigado pelo pai a abandonar os estudos para trabalhar no campo. Todas as suas tentativas de mudar de vida são abortadas pela ignorância e violência do patriarca. Aos 20 anos, ainda analfabeto, Gavino acaba entrando para o exército, onde adquire, enfim, algum conhecimento. Renunciando à carreira militar, ele volta à sua terra para seguir estudando. No entanto, o choque com o pai é inevitável.

Explorando a linda paisagem e luz naturais da região da Sardenha, “Pai Patrão” é um tocante e contundente drama que põe a nu extremos da relação entre pais e filhos, fazendo-se psicanalítico mesmo naqueles confins da Itália. O pai (muito bem interpretado por Omero Antonutti) é uma representação do quanto os instintos do bicho homem falam mais alto quando a ignorância impera. O amor, existente – e contraditoriamente motor disso tudo –, submerge diante do medo e da insegurança de uma pessoa despreparada para aspectos da paternidade. A abordagem dos Taviani é crítica ao ressaltar o comportamento de vários personagens muito próximo ao de animais. Também, surpreendem ao desviar em alguns momentos o foco dos protagonistas, mostrando ações e pensamentos de outros que os rodeiam, evidenciando sentimentos muito parecidos com os de Gavino e de seu pai.

Gavino, já adulto, encara seu pai: amor e ódio
Palma de Ouro no Festival de Cannes, “Pai Patrão” foi a afirmação dos irmãos Vittorio e Paolo Taviani como importantes cineastas da cinematografia moderna italiana a partir dos anos 70, uma vez que tinham como herança a responsabilidade de fazer jus à obra de gênios já consolidados como Fellini, Antonioni e Pasolini. Os Taviani, no entanto, cunharam um estilo mais próximo ao dos neo-realistas, principalmente De Sica, no engenhoso jogo de grandes e médios com primeiros planos, adicionando a isso um modo sempre muito peculiar de contar as histórias, este, próprio do cinema moderno.


A FONTE DA DONZELA, de Ingmar Bergman (Suécia, 1960)

Na Suécia do século XIV, um simples casal cristão dono de uma propriedade rural incumbe a filha Karin (Birgitta Pettersson), uma adolescente pura e virgem, de levar velas para a igreja da região. No caminho, ela é estuprada e assassinada por dois pastores de cabras. Quando a noite chega, ironicamente os dois vão pedir comida e abrigo para os pais de Karin, onde são recebidos cordialmente. Porém, ao descobrirem a tragédia, os pais são tomados pelo sentimento de ódio.

Temas recorrentes na obra do sueco, a morte, a religiosidade e a compaixão servem de tripé para essa história magistralmente dirigida por Bergman. O contraste entre luz e sombra da fotografia em preto-e-branco do mestre Sven Nykvist realça, principalmente a partir da segunda metade da fita, a polaridade emocional da trama: bem e mal, Deus e Diabo, brutalidade e candura, vingança e perdão, vida e morte. O dilema recai sobre o pai, interpretado pelo lendário Max Von Sydow (recentemente morto, no último mês de março), que, com o coração dilacerado e pressionado pela mulher a matar os criminosos, perde a cabeça. E sua religiosidade? E a culpa em sujar-se de sangue? E a dor sua e da esposa? Isso aplacará a perda? Como administrar tudo isso?

filme "A Fonte da Donzela"

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e do Globo de Ouro na mesma categoria, esta obra-prima de Bergman valoriza, como em “Pai Patrão”, os elementos da natureza (água, pedra, sol, terra) como representação dos desafios essenciais da vida, mas difere do filme dos Taviani no tratamento da relação pai-filho. Se no outro a questão centra-se na distância emocional entre os personagens, aqui, é a morte que se impõe como separação. Por este ângulo, mesmo num filme transcorrido na Idade Média, “A Fonte da Donzela” é atualíssimo, pois traz um dilema muito comum na sociedade urbana atual: o de como os pais se posicionam diante da perda de um filho vitimado pela violência. Afinal, trata-se de uma obra incrível e significativa a qualquer época.


STALKER, de Andrei Tarkowski (Rússia, 1979)

Em um país não nomeado, a suposta queda de um meteorito criou uma área com propriedades estranhas, onde as leis da física e da geografia não se aplicam, chamada de Zona. Dentro dela, segundo reza uma lenda local, existe um quarto onde todos os desejos são realizados por quem pisa seu chão. Com medo de uma invasão da população em busca do tal quarto, autoridades vigiam o local e proíbem a entrada de pessoas. Apenas alguns têm a habilidade de entrar e conseguir sobreviver lá dentro: os chamados "stalkers". É aí que um escritor, um cientista querem entrar e contratam um stalker para guiá-los lá dentro. No caminho até o quarto, vão passar por rotas misteriosas e muitas vezes, mutáveis, que simbolizam uma ida ao subconsciente e a verdades de suas próprias naturezas nem sempre afáveis. Acontece que este stalker (Alexandre Kaidanovski) quer salvar a sua filha mutante e desenganada alcançando o misterioso quarto.

Talvez o melhor filme de Tarkowski, “Stalker” é uma ficção-científica hermética e reflexiva sobre o homem e a sua existência, sendo a questão da paternidade a chave para tal reflexão. Trazendo a atmosfera onírica comum aos filmes do russo, vale-se do fantástico de “Solaris” (1971), porém burilando-lhe o cerebralismo existencial. A narrativa, transcorrida num clima de suspensão do tempo/espaço, tem como motor o amor de um pai desesperado em salvar sua filha. Ou seja: assim como em “Solaris”, a percepção difusa da realidade é totalmente explicável pelo estado de angústia vivido pelo protagonista. É como se, participante de sua busca, o espectador também adentre naquele mundo surreal. A sempre brilhante fotografia sombreada, o cenário apocalíptico e o recorrente uso de elementos sonoro-visual-narrativos como a água (símbolo da vida) unem-se ao ritmo muito peculiar, pois contemplativo e poético, de Tarkowski.

Os três homens adentram a Zona, mas é o pai que carrega a motivação mais genuína
Vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes de 1980, este filme ímpar na história do cinema alinha-se, em verdade, com outros filmes de arte do gênero ficção científica produto do período de Guerra Fria, em que a noção temporal é imprecisa, a humanidade jaz desenganada, o estado comprometeu-se e os avanços tecnológicos, promessas de avanço no passado, não deram tão certo assim no presente. Haja vista “Alphaville” (Godard, 1965), “Laranja Mecânica” (Kubrick, 1972) e “Fahrenheit 451” (Truffaut, 1966).  Esse compromisso de crítica recai ainda mais sobre Tarkowski como cidadão da Rússia, um dos pilares da tensão planetária junto com os Estados Unidos.


KRAMER VS. KRAMER, de Robert Benton (EUA, 1979)

Se já falamos da questão paterna nos confins da Itália rural, na Idade Média e num lugar imaginário, aqui o tema é colocado na modernidade urbana norte-americana. No enredo, Ted Kramer (Dustin Hoffman), leva seu trabalho acima de tudo, tanto da família quanto de Joanna (Maryl Streep), sua mulher. Descontente com a situação, ela sai de casa, deixando Billy, o filho do casal, com o pai. Ted, então, tem que se deparar com a necessidade de cuidar de uma vida que não apenas a dele, dividindo-se entre o trabalho, o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Quando consegue ajustar a estas novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a guarda da criança. Ted porém se recusa e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia de Billy.

“Kramer vs. Kramer” é arrebatador. Começando pelas interpretações dos magníficos Hoffman e Maryl. No entanto, mesmo com o talento que os é inerente, não estariam tão bem não fosse o roteiro contundente, que aprofunda o drama familiar e social aos olhos do espectador. Os diálogos são tão reais e bem escritos, que naturalmente transportam o espectador para situações conflituosas da vida cotidiana, gerando identificação com os personagens. Quantos pais já não foram despedidos do emprego justo no momento em que estava tentando se erguer. E qual pai não ficaria desesperado e sentindo-se culpado por um acidente com seu filho, principalmente quando o acontecido pode ser usado pela mãe para justificar a perda da guarda?

Ted aprendendo e gostando de ser pai
Tamanho êxito como obra não passou despercebido. O filme foi o principal vencedor do Oscar de 1980, abocanhou os de Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz Coadjuvante e Roteiro Adaptado, além de vários Globo de Ouro e outros festivais. Exemplo de drama da cinematografia norte-americana, uma vez que o filme de Robert Benton consegue unir atuações muito bem dirigidas, um roteiro “europeizado”, visto que forte e realista – feito raro em Hollywood – e um enredo tocante, mas que facilmente poderia escorregar para o piegas ou uma enfadonha DR. Filmado no mesmo ano de “Stalker”, traz a figura do pai em um momento de autorreconhecimento desta condição, ao passo de que o filme russo, esta condição já foi compreendida. No entanto, em ambas as produções, a distância entre as culturas são movidas pela mesma busca de um pai pela sobrevivência do filho.


A BUSCA, de Luciano Moura (Brasil, 2012) 

Filme brasileiro relativamente recente, renova o olhar para o problema da distância entre pais e filhos (estado inicial e propulsor da narrativa de “Kramer...”) por questões sentimentais não resolvidas ou dialogadas. Theo Gadelha (Wagner Moura) e Branca (Mariana Lima) são casados e trabalham como médicos. O casal tem um filho, Pedro (Brás Antunes), que desaparece quando está perto de completar 15 anos. Para piorar a situação, Theo fica sabendo que Branca quer se separar dele e que seu mentor (Germano Haiut) está à beira da morte. Theo sai em busca do filho sumido, viagem que o impele a se redescobrir e a ressignificar a relação com o filho.

Road-movie muito bem realizado, “A Busca” tem na atuação de Moura, principalmente, a grande força da obra. Ele transmite ao espectador desde a irascibilidade e insensibilidade de um homem controlador e fechado em si próprio até, conforme o trama se desenrola nos lugares que percorre em busca do filho, passar pelo desespero, a frustração, a esperança e o encontro consigo mesmo. Todos estes momentos perfeitos por uma grande solidão emocional, estado ao qual o caminho lhe dá condições de repensar e transformar.

Wagner Moura em etapa do trajeto em busca de seu filho e de si mesmo
Vencedor do Prêmio do Público no Festival do Rio 2012, “A Busca” lembra o recorrente mote narrativo de filmes iranianos, a se citarem “Vida e Nada Mais”, “Gosto de Cereja”, “O Círculo” e “O Balão Branco”. Sempre há algo a se buscar, seja alguém ou algo que não se sabe exatamente ao certo. Metáfora da vida, essa busca simboliza a passagem do tempo e a (mesmo que não acontece durante o filme) inevitável morte, que um dia alcançará a todos independentemente da rota. Essa simbologia ganha ainda mais realce pelo fato de se tratar da genealogia sanguínea, ou seja: a única possibilidade de não-morte. O longa de Luciano Moura reafirma o entendimento de que, mais do que o final, o importante mesmo é o que se faz na jornada.


IRONWEED, de Hector Babenco (EUA, 1987)

Francis Phelan (Jack Nicholson) e Helen Archer (Maryl Streep, olha ela aí de novo!) são dois alcoólatras que vivem mendigando nas ruas tentando sobreviver às lembranças do passado: Ela, deprimida por ter sido uma cantora e pianista cheia de glórias e hoje estar na sarjeta. Já o caso dele é o que tem a ver com o tema em questão: o motivo por viver como um vagabundo é a não superação do trauma de ter sido o responsável pela morte do filho, ao deixá-lo cair no chão ainda bebê 22 anos antes. Ao mesmo tempo, Francis precisa voltar à realidade, e conseguir um emprego para dar um pouco de conforto à companheira Helen, já muito doente e enfraquecida. E o sentimento de pai do protagonista é, ao mesmo tempo, pena e salvação, uma vez que se configura como a única força capaz de tirá-lo da condição de mendicância.

Ainda mais do que “Kramer...”, “Ironweed” é um filme sui generis na cinematografia dos Estados Unidos, e isso se deve, certamente, ao olhar sensível do platino-brasileiro Hector Babenco. Com o aval dos estúdios para fazer uma produção própria em terras yankees após o grande sucesso do oscarizado “O Beijo da Mulher Aranha”, produção financiada com dinheiro norte-americano mas bastante brasileira em conteúdo e abordagem, o cineasta transpõe para as telas – com a habilidade de quem havia extraído poesia do abandono infantil – o romance de William Kennedy e dá de presente para dois dos maiores atores da história do cinema um roteiro redondo. Isso, ajudado pela fotografia perfeita do craque Lauro Escorel e edição de outra perita, Anne Goursaud, responsável pela montagem de filmes com “Drácula de Bram Stocker” e “O Fundo do Coração”, ambos de Francis Ford Coppola.

cenas de "Ironweed"

“Ironweed” levou o prêmio da New York Film Critics Circle Awards de Melhor Ator para Nicholson, embora tenha concorrido tanto a Oscar quanto Globo de Ouro. Babenco foi um cineasta tão diferenciado que, conforme contou certa vez, Nicholson, bastante sensibilizado com o filme que acabara de realizar, procurou-o um dia antes da estreia e pediu para ir à sua casa para o reverem juntos e que, durante aquela sessão particular, segurou bem firme na mão de Babenco e não a soltou até terminar.


À PROCURA DA FELICIDADE, de Gabriele Muccino (EUA, 2007)

Chris (Will Smith) enfrenta sérios problemas financeiros e Linda, sua esposa, decide partir e deixá-lo. Ele agora é pai solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de 5 anos. Chris tenta usar sua habilidade como vendedor de aparelhos de exames médicos para conseguir um emprego melhor, mas só consegue um estágio não remunerado numa grande empresa. Seus problemas financeiros, inadiáveis, não podem esperar uma promoção nesta empresa e eles acabam despejados. Chris e Christopher passam, então, a dormir em abrigos ou onde quer que consigam um refúgio, como o banheiro da estação de trem. Mas, apesar de todos os problemas, Chris continua a ser um pai afetuoso e dedicado, encarando o amor do filho como a força necessária para ultrapassar todos os obstáculos.

Se é difícil a vida de um pai solteiro na América urbana, como em “Kramer...”, imaginem um jovem-adulto negro e pobre 30 anos atrás? Baseado na história real do empresário Chris Gardner, este comovente filme tem alguns trunfos em sua realização. Primeiramente, o de trazer à luz a superação individual de um negro na sociedade norte-americana e no meio corporativo capitalista, ainda hoje majoritariamente dominado por brancos. Segundo, por revelar Jaden, filho de Will na vida real que, além de uma criança graciosa, é talentoso, vindo a lograr uma carreira de sucesso a partir de então a exemplo do pai, também um talento mirim no passado. Por fim, o êxito de consolidar Will como um dos mais importantes nomes de sua geração, daqueles Midas de Hollywood capazes de fazer brilhar onde quer que ponham a mão.

Will e Jaden: pai e filho no cinema e na vida real
Além de indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, “À Procura da Felicidade” faturou o NAACP Image Award de Melhor Filme mas, principalmente, premiou pai e filho por suas maravilhosas atuações. Will, o Phoenix Film Critics Society Awards. Já o pequeno Jaden levou não só este como o MTV Movie Award de Melhor Revelação. A sintonia entre pai e filho na frente e atrás das câmeras é captada com delicadeza pelo cineasta italiano Gabriele Muccino, que se valeu desta química para transpor para o cinema esta história inspiradora para qualquer pessoa, quanto mais, para um pai. 


UP: ALTAS AVENTURAS, de Pete Docter (EUA, 2009)

Carl Fredricksen é um solitário idoso vendedor de balões que está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie. Após um incidente, Carl é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado. Para evitar que isto aconteça, ele põe balões em sua casa, fazendo com que ela levante voo e vá em direção a Paradise Falls, na América do Sul, onde ele e Ellie sempre desejaram morar. Porém, Carl descobre que um “problema” embarcou junto: Russell, um menino de 8 anos.

A divertida e tocante animação, dirigida pelo assertivo Pete Docter (dos dois primeiros “Toy Story” e “Wall-E”), é das mais felizes realizações da Disney/Pixar. Acertos técnicos inquestionáveis como é de costume ao megaestúdio, mas principalmente, no enredo e nas metáforas que suscita. A simbologia do voo como elevação espiritual, da velhice e a proximidade com a morte é uma delas, bem como a casa como representação do corpo e daquilo que há no interior de cada um. Mas a trama toca também na questão da amizade, da lealdade e da paternidade, mas não necessariamente sanguínea. O ranzinza Carl, contrariado de princípio com a presença de Russell, vai se afeiçoando ao menino e compreendendo a importância do papel e da figura para este de um pai, o qual, ocupado com sua vida, pouco lhe dá atenção. As altas aventuras vividas por eles provam o quanto o pai também pode ser o que adota. Não no papel, mas no sentido mais emocional da palavra. Com o coração. O garoto, por sua vez, traz para o melancólico cotidiano de Carl, além de confusões – afinal, criança dá trabalho também – vida. Ah, e nisso inclui também a tiracolo um cãozinho, o simpático (e falante!) Dug.

O trio impagável de "Up": paternidade de quem adota com o coração
“Up” ganhou Oscar e Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora (Michael Giacchino), e chegou a concorrer a Oscar de Filme com títulos como “Guerra ao Terror” (vencedor), “Bastardos Inglórios”, “Avatar” e “Preciosa”, um feito para uma animação que seria igualado apenas por “Toy Story 3”, um ano depois. Uma qualidade do filme é que, devido à sua abordagem fantástica e resolução da trama, dificilmente terá uma continuidade, que, assim como acontece com várias outras animações, seguidamente entregam a primeira realização pela inconsistência e pela mera repetição caça-níquel. Vale muito também a pena assistir a versão brasileira dublada, que tem Chico Anysio impagável como Carl Fredricksen em um dos últimos trabalhos do humorista antes de morrer.


RAN, de Akira Kurosawa (Japão/França, 1985)

Adaptação de “Rei Lear”, de William Shakespeare, retrata de forma épica e brilhante o Japão feudal do século XVI, onde um velho senhor da guerra Hidetora, patriarca do clã Ichimonji (Tatsuya Nakadai), renuncia ao poder, entregando o seu império e conquistas aos três filhos: Taro, Jiro e Saburo. Tarô, o mais velho, seguindo a tradição do patriarcado japonês, torna-se o líder do clã e recebe o Primeiro Castelo, centro do poder, ficando Jiro e Saburo, respectivamente, com o Segundo e o Terceiro Castelo. Hidetora retém para si o título de “Grande Senhor” para permanecer com os privilégios Contudo, ele subestima como o poder recém-descoberto dos filhos irá corrompê-los e levá-los a virarem-se uns contra os outros. 

Obra-prima, “Ran” é mais uma adaptação de Shakspeare que Akira Kurosawa promoveu de forma pioneira no cinema japonês – assim como para com outros autores não-orientais como Dostoiévski, Gorky e Arsenyev. Porém, desta vez em cores, diferentemente do que fizera em 1957 adaptando “Macbeth” em “Trono Manchado de Sangue”, o que amplia a magnífica fotografia em grandes planos, o desenho de cena primoroso, os figurinos em que os tons simbolizam estados psicológicos e cenografia que remete ao milenar teatro japonês.

trailer de "Ran"

“Ran” levou o Oscar de Melhor Figurino e concorreu a Melhor Direção de Arte, Fotografia e Diretor, sendo a primeira e última vez que Kurosawa seria nomeado pela Academia. A tragédia teatral ganha uma dimensão ainda mais bela na tela grande, mais do que adaptações anteriores da mesma peça, ao retratar os desacertos internos dos Ichimonji, evidenciando um problema recorrente em famílias poderosas, que é a briga pelo poder e o desafio à autoridade e figura do pai. Numa produção digna do anseio de seu realizador, "Ran" revela conflitos e sentimentos muito genuínos como inveja, cobiça e orgulho e questionando a ancestralidade como formas de manutenção (ou não) do sangue.


Daniel Rodrigues
com colaborações de Leocádia Costa e Cly Reis


sábado, 8 de fevereiro de 2020

"Klaus", de Sergio Pablos (2019)



Uma espécie de origem do Papai Noel e do hábito de dar presentes, "Klaus", longa de animação da Netflix, é mais do que um filme sobre Natal. Ele é  sobre fazer do mundo um lugar melhor. A conduta, inicialmente interesseira, de um carteiro que, enviado por seu pai para uma ilha remota com a missão de registrar pelo menos 6.000 cartas num lugar tão beligerante que a comunicação praticamente não existe, acaba sobrepujada pelo efeito de suas ações que fazem, sem querer, com que as crianças  comecem a escrever cartas para um lenhador recluso e ranzinza que fabrica brinquedos de madeira, gerando no local uma onda de generosidade e amabilidade. O filme do diretor Sergio Pablos quer demonstrar exatamente isso: a importância de atos de gentileza, amor, de bondade e como estes podem transformar as pessoas e até mesmo o ambiente mais hostil. A parte técnica de "Klaus" é de muita qualidade e a animação não fica devendo nada às  consagradas Pixar e DreamWorks. A construção dos personagens é que fica devendo um pouquinho mas nada que impeça de fazer o espectador dar boas risadas e também  se emocionar em vários momentos.
Um recado importante, em forma de fábula natalina, para os dias de hoje tão cheios de tanto ódio e intolerância. Pena que muitos dos que deviam ver com os olhos da autocrítica, certamente, o verão como somente mais uma animação  bonitinha. Olhe com mais atenção... Tem gente que está precisando. Todos nós estamos precisando, na verdade.
O carteiro Jesper consegue convencer o recluso Klaus
a atender os pedidos das cartinhas das crianças do vilarejo.




Cly Reis