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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

"Aquarelas do Brasil ", vários autores, organização de Flávio Moreira da Costa - ed. Nova Fronteira (2018)




"São uma gente à parte - 
quase uma raça distinta das outras. 
Os que amam o Carnaval, como amam todas as outras festas, não são  dignos do nome de carnavalescos. 
O carnavalesco é um homem que nasceu para o Carnaval, que vive para o Carnaval, que conta os anos de vida pelos Carnavais que tem atravessado, e que, na hora da morte, só tem uma tristeza: 
a de sair da vida sem gozar os Carnavais incontáveis que ainda se hão de suceder no Rio de Janeiro pelos séculos sem fim.
(...) Porque o verdadeiro, o legítimo, o autêntico, 
o único tipo de carnavalesco real
 é o carnavalesco do Rio de Janeiro."
Olavo Bilac,
na crônica "Carnavalescos"



"Aquarelas do Brasil" não é exatamente um livro sobre Carnaval, mas os contos sobre a festa mais popular do Brasil, se destacam, em alguns casos até mesmo nos demais capítulos não dedicados aos festejos de Momo. A antologia, organizada pelo pesquisador e também escritor Flávio Moreira da Costa, se propõe a reunir contos de autores brasileiros que, de alguma forma, colocam música na literatura. Assim, o organizador, numa escolha muito criteriosa e feliz, compila episódios musicais narrados por grandes nomes das letras, abordando temas, estilos e festas diferentes, transitando entre o dramático, o trágico e o cômico, em doses certas e oportunas. Há histórias de compositores frustrados, de cantores conquistadores, coristas de baile, músicos sonhadores, passeando entre polcas, jazz, música clássica, bossa nova e, é claro, o samba. O capítulo de Carnaval é, não só o mais numeroso em contos, como também o que apresenta as histórias mais excitantes, como a do funcionário público que passara mal e viria a falecer preocupado com as filhas que não voltaram dos blocos já na quarta-feira de cinzas ("O Bloco das Mimosas Borboletas"); a de um expert na já extinta "guerra" de bexigas com águas-de-cheiros, no conto "O Último Entrudo", de Raul Pompeia; a do crime passional de um compositor ciumento em "A Morte da Porta-Estandarte, de Aníbal Machado; e a sinistra história de uma foliã que se revelaria não tão atraente quanto parecia com a fantasia, em "O Bebê da Tarlatana Rosa", de João do Rio.
Dos capítulos não dedicados especificamente ao Carnaval, alguns contos inevitavelmente se aproximam do tema, seja pelo destaque para determinado instrumento musical, pela menção ao samba, ou mesmo por conta do próprio apelo quase incontrolável que a festa exerce sobre os indivíduos. É o caso de "Quem Cai Na Dança Não Se "Alembra" de Mais Nada", causo popular em que um batalhão do exército cai na folia e os superiores se veem incapazes de punir os soldados pois também se entregam ao folguedo; sobre instrumentos, "O Machete", de Machado de Assis trata sobre um tocador de cavaquinho que rouba a esposa de um violoncelista clássico; e o comovente "O Samba", de Magalhães de Azeredo, de 1900, é uma das primeiras vezes que o termo que dá nome ao conto é referido na literatura brasileira.
Mas, como eu disse, "Aquarelas do Brasil", não é um livro de Carnaval. Tampouco é um livro de samba, ou de polcas, de bolsas ou qualquer outro ritmo ou festa. "Aquarelas..." é  uma celebração à música, à musicalidade do brasileiro, à sua riqueza criativa e à  ligação que tudo isso tem com o nosso cotidiano e com o jeito de viver desse povo. Mas, é claro, tudo isso, a musicalidade, a arte, a tradução do cotidiano, a manifestação popular, acaba, naturalmente, se traduzindo na maior manifestação popular brasileira e, no fim das contas, a brilhante antologia de Flávio Moreira da Costa, acaba sendo, sim, se não um livro sobre Carnaval, uma das boas publicações que temos sobre o tema.


por Cly Reis

domingo, 27 de fevereiro de 2022

cotidianas #744 - "Cordões"




"
(...) - Mas que pensas tu? O cordão é o carnaval, o cordão é vida delirante, o cordão é o último elo das religiões pagãs. Cada um desses pretos ululantes tem por sob a belbutina e o reflexo discrômico das lantejoulas, tradições milenares; cada preta bêbada, desconjuntando nas tarlatanas amarfanhadas os quadris largos, recorda o delírio das procissões em Biblos pela época da primavera e a fúria rábida das bacantes. Eu tenho vontade, quando os vejo passar zabumbando, chocalhando, berrando, arrastando a apoteose incomensurável do rumor, de os respeitar, entoando em seu louvor a "prosódia" clássica com as frases de Píndaro - salve grupos floridos, ramos floridos da vida...

Parei a uma porta, estendo as mãos.

- É a loucura, não tem dúvida, é a loucura. Pois é possível louvar o agente embrutecedor das cefalgias e do horror?

- Eu adoro o horror. É a única feição verdadeira da humanidade. E por isso adoro os cordões, a vida paroxismada, todos os sentimentos tendidos, todas as cóleras a rebentar, todas as ternuras ávidas de torturas.

Achas tu que haveria carnaval se não houvesse os cordões? Achas tu que bastariam os préstitos idiotas de meia dúzia de senhores que se julgam engraçadíssimos ou esse pesadelo dos três dias gordos intitulado - máscaras de espírito? Mas o Carnaval teria desaparecido, seria hoje menos que a festa da Glória ou o "bumba-meu-boi" se não fosse o entusiasmo dos grupos da Gamboa, do Saco, da Saúde, de São Diogo, da Cidade Nova, esse entusiasmo ardente, que meses antes dos três dias vem queimando como pequenas fogueiras crepitantes para acabar no formidável e total incêndio que envolve e estorce a cidade inteira. Há em todas as sociedades, em todos os meios, em todos os prazeres, um núcleo dos mais persistentes, que através do tempo guarda a chama pura do entusiasmo. Os outros são mariposas, aumentam as sombras, fazem os efeitos.

Os cordões são os núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio.

Quantos cordões julgas que há da Urca ao Caju? Mais de duzentos! E todos, mais de duas centenas de grupos, são inconscientemente os sacrários da tradição religiosa da dança, de um costume histórico e de um hábito infiltrado em todo o Brasil.

- Explica-te! bradei eu, fugindo para outra porta, sob uma avalanche de confetti e velhas serpentinas varridas de uma sacada.

Atrás de mim, todo sujo, com fitas de papel velho pelos ombros, o meu companheiro continuou:

- Eu explico. A dança foi sempre uma manifestação cultual. Não há danças novas; há lentas transformações de antigas atitudes de culto religioso. O bailado clássico das bailarinas do Scala e da Ópera tem uma série de passos do culto bramânico, o minueto é uma degenerescência da reverência sacerdotal, e o cakewalk e o maxixe, danças delirantes, têm o seu nascedouro nas correrias de Dionísios e no pavor dos orixalás da África. A dança saiu dos templos; em todos os templos se dançou, mesmo nos católicos.

O meu amigo falava intercortado, gesticulando. Começava desconfiar da sua razão. Ele, entretanto, esticando o dedo, bradava no torvelinho da rua:

- O Carnaval é uma festa religiosa, é o misto dos dias sagrados de Afrodita e Dionísios, vem coroado de pâmpanos e cheirando a luxúria. As mulheres entregam-se; os homens abrem-se; os instrumentos rugem; estes três dias ardentes, coruscantes são como uma enorme sangria na congestão dos maus instintos. Os cordões saíram dos templos! Ignoras a origem dos cordões? Pois eles vêm da festa de Nossa Senhora do Rosário, ainda nos tempos coloniais. Não sei por que os pretos gostam da Nossa Senhora do Rosário... Já naquele tempo gostavam e saíam pelas ruas vestidos de reis, de bichos, pajens, de guardas, tocando instrumentos africanos, e paravam em frente à casa do vice-rei a dançar e cantar. De uma feita, pediram ao vice-rei um dos escravos para fazer de rei. O homem recusou a lisonja que dignificava o servo, mas permitiu os folguedos. E estes folguedos ainda subsistem com simulacros de batalha, e quase transformados, nas cidades do interior (...)



(...) Isto no carnaval quando todos nós sentimos irreparável a desgraça. Mas o cordão perderia a sua superioridade de vivo reflexo da turba se não fosse esse misto indecifrável de dor e pesar. Todos os anos as suas cantigas comemoram as fatalidades culminantes.

Neste momento, porém, os "Amantes de Sereno" resolveram voltar. Houve um trilo de apito, a turba fendeu-se. Dois rapazinhos vestidos de belbutina começaram a fazer "letra" com grandes espadas de pau prateado, dando pulos quebrando o corpo. Depois, o achinagú ou homem da frente, todo coberto de lantejoulas, deu uma volta sob a luz clara da luz elétrica e o bolo todo golfou - diabos, palhaços, mulheres, os pobres que não tinham conseguido fantasias e carregavam os archotes, os fogos de bengala, as lâmpadas de querosene. A multidão aproveitou o vazio e precipitou-se. Eu e meu amigo caímos na corrente impetuosa.

Oh! sim! ele tinha razão! O cordão é o carnaval, é o último elo das religiões pagãs, é bem o conservador do sagrado dia do deboche ritual; o cordão é a nossa alma ardente, luxuriosa, triste, meio escrava e revoltosa, babando lascívia pelas mulheres e querendo maravilhar, fanfarrona, meiga, bárbara, lamentável.

Toda a rua rebentava no estridor dos bombos. Outras canções se ouviam. E, agarrado ao braço do meu amigo, arrastado pela impetuosa corrente aberta pela passagem dos "Amantes do Sereno", eu continuei rua abaixo, amarrado ao triunfo e à fúria do cordão!..
"


**********************
trecho do conto "Cordões"
de João do Rio, (1904)


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Música da Cabeça - Programa #202

 

Convenhamos: é infalível montar uma arte com as poesias do mestre Augusto de Campos, né? Celebrando os 90 anos do grande poeta concretista, mas também lamentando a partida da lenda Chick Corea, o MDC de hoje vem sem ziriguidum, mas com muita coisa boa. Luiz Melodia, Sex Pistols, Ely, Caetano Veloso e Cibo Matto estão entre elas. Ainda, os quadros e muito mais. Se o teu Carnaval não teve batucada, vem escutar o programa hoje, às 21h, na Rádio Elétrica, que vai dar samba. Produção, apresentação e tamborim guardado: Daniel Rodrigues.




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #151


Bolsonazis que querem acabar com a democracia, um recado pra vocês: "o pulso ainda pulsa"! Em plena quarta-feira de cinzas, o MDC sacode a poeira e dá a volta por cima com o enredo de gente como R.E.M., Tracy Chapman, Tom Jobim, Titãs, Grant Green, Renato Russo e Neil Young. Ainda, uma homenagem a José Mojica Marins e um "Cabeça dos Outros" de quadro móvel. Aqui a gente não acaba na quarta-feira: a gente começa. E é às 21h, na carnavalesca Rádio Elétrica. Produção, apresentação e estandarte de ouro: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

Folia





"Folia" - COSTA, Leocádia
Março/2019

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

COTIDIANAS nº 669 ESPECIAL CARNAVAL - "As Forças da Natureza"



foto: Juca Varela - Folhapress

Quando o sol
Se derramar em toda a sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar
O barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, lá, lá, iá
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir, ô, ô
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval


***********************
"As Forças da Natureza"
(João Nogueira/ Paulo César Pinheiro)

Ouça:

terça-feira, 5 de março de 2019

cotidianas #621 - Carnaval de Veneza



O tombo na poça d'água só foi mais uma motivo para que as risadas dos rapazes aumentassem ainda mais. Nem a vítima da queda pareceu se importar, caindo na gargalhada pelo próprio desastre. Completamente bêbados, aqueles quatro turistas, Joe, Allan, George e Charlie, universitários americanos aproveitando férias na famosa cidade das gôndolas, meio perdidos pelas estreitas e traiçoeiras vielas da cidade tentando voltar ao hotel, tinham frouxos de riso incontidos por qualquer motivo desde que começaram a abusar do álcool no baile de máscaras na Piazza San Marco, mais cedo. Numa espécie de transe de hilaridade e ainda recuperando o fôlego pelo trambolhão do amigo Charlie, os outros três nem perceberam que um quinto elemento se juntara a eles naquela pequena travessa escura. Usava uma capa preta com capuz e um máscara branca, simplesmente branca, de uma ausência de expressão inevitavelmente perturbadora. Assim que Allan, que sentara no chão de tanto rir, percebeu o estranho entre eles, tirando a mácara e levantando-a à testa, exclamou com uma fala ébria e completamente enrolada:
- Ei,... eu acho que essa cara aí também tá perdido!
Só então todos olharam para ele e, como não fora diferente durante boa parte daquela noite, caíram na risada.
- Cara, lamento informar mas nós também estamos perdidos. -  conseguiu falar Joe à muito custo ainda ofegante. - A propósito você não saberia onde fica o Hotel Ducalle?
O homem apenas permanecia imóvel.
- Pelo jeito ele não sabe. - respondeu Allan pelo estranho, achando graça.
- Fala alguma coisa, então. - exigiu George.
Nada. Impassível, silencioso.
- Se não quer nada então cai fora, amigão.
Imóvel, estático ainda.
A atmosfera começava a perder um pouco o ar descontraído e os rapazes já começavam a se chatear e ficarem preocupados com o estranho ali parado.
- Olha só, se não quer dar o fora, a gente é que vai indo então. - decidiu George convocando os demais.
- É, vamos lá. Prazer, viu, sr. Mascarado Misterioso. - soltou Allan o mais galhofeiro, quebrando o clima tenso e fazendo os outros rirem novamente.
Foram saindo devagar, um tanto desconfiados do homem que permanecia ali em pé, imóvel, andaram alguns passos e para certificarem-se de que o estranho não os seguiria, voltaram-se mais uma vez. O homem não estava mais ali. Não tinha como ter saído dali tão rápido. Não tinha para onde ir.
- Onde é que tá o cara?
- Sei lá!
- Sumiu, evaporou.
- Cara, vamos sair daqui que isso tá muito estranho.
- Vamos, então.
- Ei, cadê o Charlie?
Um deles não estava mais ali.
- Olha, Charlie, para com essa brincadeira. Não tem graça.
- Cadê o Charlie, cadê o Charlie??? - perguntava quase histericamente Joe, agora já sendo tomado por um certo desespero.
- Deve ter ido pro hotel. Enquanto a gente se virou pra ver o cara, ele deve ter corrido. Deve ter sido isso.
- Mas a gente não viu, não ouviu os passos dele...
- Mas, sei lá, deve ter sido muito rápido...
Assim que Allan acabou a frase percebeu que, durante a rápida conversa com o nervoso Joe, George sumira também.
- Cadê o George?
- George, George!!! - gritou Joe, o mais assutado dos dois.
- Eles devem estar de sacanagem com a gente. Devem estar de combinação com aquele cara da capa. É isso mesmo: desde o início eles devem ter combinado com o cara.
- Eu sei qual é a de vocês!!! - gritou Allan ao vazio - Chega dessa palhaçada! Vamos pro hotel.
Olhando em volta, procurando os amigos, num relance avistou novamente o estranho da máscara branca. No mesmo lugar que antes. Parado, impassível.
A visão ameaçadoramente silenciosa o distraiu por um breve instante mas foi o suficiente para que, ao voltar-se novamente na direção de Joe para convocá-lo para darem o fora dali urgentemente, percebesse que estava sozinho.
Olhou novamente na direção do mascarado. Não estava mais lá.
Que diabos era aquilo? Era alguma espécie de pesadelo?
Não ficou esperando que a reposta viesse de algum lugar. Saiu em disparada pelo labirinto dos estreitos becos de Veneza mesmo não sabendo exatamente para onde estava indo.
Nunca chegou a lugar nenhum. Nunca mais foi visto, bem como seus três amigos. As famílias pediram investigações sobre o paradeiro dos filhos que já  deviam ter retornado a seu país e ligaram pela última vez de lá, de Veneza. A polícia local trabalhou duro nas investigações mas nunca foi encontrado o menor vestígio dos rapazes e nada foi descoberto sobre seu desaparecimento naquela noite de Carnaval.
No ano seguinte, um caso semelhante de desaparecimento sem pistas foi relatado. Novamente no carnaval. Desta vez se deu com três jovens garotas espanholas mas diferentemente do outro caso, uma delas reapareceu, completamente transtornada, alguns dias depois, dizendo que um homem mascarado havia levado as amigas. Apesar de uma certa desconfiança dado o estado emocional da jovem, aquela era a única pista que a polícia tinha e resolveu investir nela para chegar a alguma solução. As autoridades procuram abafar os casos e evitar que a informação sobre um maníaco de máscara se espalhe e cause pânico entre os turistas e comprometa uma das mais antigas tradições da cidade, mas já corre pela região, à boca-pequena, um burburinho a respeito de um certo misterioso mascarado no carnaval de Veneza. Hoje é carnaval. A polícia está atenta. Há homens infiltrados na multidão por todos os lados da praça. Os visitantes, turistas, aristocratas, populares exibem suas máscaras orgulhosamente por toda a parte. Engraçadas, tristonhas, elegantes, exageradas, sinistras... Ele pode estar em qualquer lugar. 



Cly Reis

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

cotidianas #499 - Lamento de Carnaval




Fotografia da série Antropologia da Face Gloriosa, de Arthur Omar (1997)
Para muitos é um pecado, ô, ô, ô
Que do imposto que pagamos ao estado
E do lucro que damos ao mercado
Um pedaço seja destinado ao carnaval

Para outros no entanto, ô, ô, ô

Da magia do tambor, da cor do canto
É que vem o calor que seca o pranto
Em seus olhos já cansados de ver tanto mal

Hoje é dia de folia

Hoje eu canto pra esquecer
Que a escola do bairro está sem professor
Amanhã depois da festa
A cidade que protesta
Entrará pela fresta da porta do corredor

Não adianta fugir

Não adianta fugir, seu doutor
Não adianta trancar a porta
Não adianta fugir, seu doutor

Para alguém neste momento, ô, ô, ô

Sua condição de dor e sofrimento
Deve ser cimentada com o cimento
Do rancor, do desespero, da exasperação

Para um outro, o lamento, ô, ô, ô

Da triste canção levada pelo vento
Pode ser uma luz no firmamento
Uma noite estrelada em seu coração

Não adianta fugir

Não adianta fugir, seu doutor
Não adianta trancar a porta
Não adianta fugir, seu doutor


*********************

Lamento de Carnaval
(Gilberto Gil/ Lulu Santos)

Ouça a música