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terça-feira, 9 de maio de 2023

Rita Lee e Tutti-Frutti - "Fruto Proibido" (1975)




Fruto Proibido álbum de Rita Lee (1975)
"Acho que eu sempre fui
a ovelha negra, mesmo.
Uma vez uma pessoa me parou na rua,
me agradecendo:
'Depois que eu ouvi "Ovelha Negra"
eu tive coragem de sair de casa'. "
Rita Lee



Rita Lee se foi!

Cara, que coisa...

É mais uma daquelas artistas que a gente parece nunca estar preparado para perder.

A gente sabe que um dia esses mitos vão, a própria Rita já vinha bem debilitada, em virtude de um câncer, mas era difícil aceitar que uma hora aconteceria.

Bom, mas temos que aceitar. Temos que entender, nos consternar. Nos conformar com tudo o que já nos proporcionou, o legado de atitude que deixou e com a obra que construiu.

Obra que começou com "Fruto Proibido" de 1975, embora a cantora já tivesse dois álbuns lançados numa época meio enrolada com sua ex-banda, os lendários Mutantes, no curso de sua separação com Arnaldo Baptista e sua expulsão do grupo.

Uma pena, se formos considerar tudo o que construiu com os Mutantes, mas uma sorte considerando tudo o que ela podia fazer e mostrou-se capaz a partir dali.

"Fruto Proibido" é uma das grandes obras do rock brasileiro! Disco que escancara o rock de Rita, sua atitude, destrava sua ânsia por dizer coisas, por se revelar, por se mostrar mulher cheia de personalidade, reivindicações, desejos. 

Disco que já traz alguns dos grandes hits de sua carreira como "Agora Só Falta Você", que soa quase como um recado para sua ex-banda ("Um belo dia resolvi mudar /e fazer tudo o que eu queria fazer /me libertei daquela vida vulgar / que eu levava estando junto a você") ; a irreverentíssima "Esse tal de Roque Enrow", parceria com "O Mago" Paulo Coelho; a auto-reveladora e feminista "Luz Del Fuego", a desafiadora faixa que dá título ao disco, "Fruto Proibido", ("quem foi que disse que eu devo me cuidar"); e a que se tornaria praticamente um "hino" de sua carreira, "Ovelha Negra", alcunha que, de certa forma, sempre a acompanhou por sua rebeldia e atitude.

Só nos resta agradecer por coisas como essa, por álbuns como este, por suas letras, por seu doboche, por ter sido até o fim essa ovelha negra inspiradora para todos os rebeldes.

Vai em paz, Rainha Mutante!

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FAIXAS:

1. "Dançar pra não Dançar" (Rita Lee) 4:13
2. "Agora só Falta Você" (Luis Sérgio Carlini / Rita Lee) 3:25
3. "Cartão Postal" (Paulo Coelho / Rita Lee) 3:25
4. "Fruto Proibido" (Rita Lee) 2:04
5. "Esse Tal de Roque Enrow" (Paulo Coelho / Rita Lee) 3:53
6. "O Toque" (Paulo Coelho / Rita Lee) 5:20
7. "Pirataria" (Lee Marcucci / Rita Lee) 4:29
8. "Luz del Fuego" (Rita Lee) 4:42
9. "Ovelha Negra" (Rita Lee) 5:39

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Ouça:





Cly Reis

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Música da Cabeça - Programa #317

 

O 1º de Maio já passou, mas a gente não para de trabalhar nunca para fazer prosperar a boa música, evidentemente. Enfileirando na esteira a gente tem Mutantes, Aimee Mann, Maria Rita, Duran Duran, Milton Nascimento e mais. Na pausa para o descanso, ainda um Sete-List para escutar um jazz enquanto pega um sol com os colegas. O portão da fábrica já foi aberto e é só entrar e bater o ponto, às 21h, na fordista Rádio Elétrica. Produção, apresentação e produção em série: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Música da Cabeça - Programa #316

 

Diferentemente do outro, a gente está autorizado a sujar um pouquinho o prêmio do Chico. Afinal, é por um bom motivo, como veem. Laureado de sons e letras, o MDC de hoje se escreve com L7, Cocteau Twins, Sepultura, Dr. Feelgood, Gil Scott-Heron, Led Zeppelin e mais. No Cabeção, uma homenagem a Ivan Conti Mamão, as baquetas mágicas da Azymuth e da MPB. Em desagravo à estupidez e ao obscurantismo, o programa às 21h, na camoniana Rádio Elétrica. Produção, apresentação e rara fineza: Daniel Rodrigues


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quarta-feira, 19 de abril de 2023

Música da Cabeça - Programa #315

 

Vamos combinar que nada disso de "índio" e nem de que cocar é fantasia? No Dia dos Povos Indígenas, a gente quer, sim, é muito respeito. E música. Originando só coisas boas hoje tem Patti Smith, Bob Dylan, Walter Franco, Grace Jones, Koko Taylor e mais. Ainda, um Sete-List com artistas indígenas brasileiros da nova geração. O MDC hoje vem demarcando terras às 21h, na originária Rádio Elétrica. Produção, apresentação e patrimônio cultural preservado: Daniel Rodrigues. 


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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Música da Cabeça - Programa #314

 

Pode ser o mês do Ramadã, da Páscoa ou Nissan. Não importa. Importa, sim, que o MDC não escolhe momento para música boa. Hoje, por exemplo, é dia de Pearl Jam, Led Zeppelin, Renato Russo, Titãs, Modern Lovers e mais. Também é a data certa para mais um Cabeça dos Outros, com música de quem ouve o programa. No nosso calendário, é certo que na quarta-feira vai ter programa, 21h, na almanáquica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e meio de semana: Daniel Rodrigues. www.radioeletrica.com



quarta-feira, 5 de abril de 2023

Música da Cabeça - Programa #313


Não precisa nem entender ideograma  pra sacar que a gente tá falando de Ryuichi Sakamoto, o genial artista japonês que perdemos esta semana. O MDC presta homenagem ao mestre destacando a sua música, mas também as de Carlos Dafé, Som Imaginário, Cássia Eller, John Cale, Sergei Rachmaninoff e outros. Lamentando as perdas, mas celebrando a arte, o programa hoje vai ao ar às 21h, na nipônica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e konnichiwa: Daniel Rodrigues





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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ryuichi Sakamoto - "Beauty" (1989)

 

"O mundo dá adeus comovido a um dos seus maiores músicos."
Caetano Veloso

“O que eu quero fazer agora é música livre das restrições do tempo.”
Ryuichi Sakamoto

Como pode a gente se apegar a alguém que nunca se viu pessoalmente – nem sequer através da distância plateia/palco como se dá a artistas a que se assiste – e que está a quilômetros de ti, noutro país? Neste caso, não somente noutro país, mas ainda mais longe, noutro continente, no outro lado do mundo. No Japão. Ryuichi Sakamoto era, é, como um parente sanguíneo na minha casa. Ele é seguidamente convidado a entrar, sentar-se ao sofá, estender-se na cama, a cozinhar ouvindo música. Sempre aceitou os convites com a gratidão e a sapiência calma dos orientais. Embora toda esta intimidade, obviamente, o parentesco não existe. Nem sequer, como abri dizendo, conheci-o pessoalmente quando em vida - quanto menos conhecemo-nos, de ele e eu reconhecerem-se mutuamente como fazem os próximos. Eu, brasileiro fruto da África e da Europa. Ele, japonês, filho de dinastias orientais longevas.

Então, como se explica tamanha familiaridade, tamanha cumplicidade? Bastam poucas audições de sua grandiosa e universal música para se entender. Afora a proximidade dele com a música daqui do Brasil, a qual não apenas admirava como atuava a se ver pelas parcerias com Caetano Veloso, Arto Lindsay, Marisa Monte, Jacques Morelembaum e outros, a obra de Sakamoto, mesmo as mais identificavelmente orientais, pertencem ao Planeta. Até mesmo quando diversas vezes usou os elementos folclóricos típicos do Japão em sua música, Sakamoto o fez à sua maneira: abarcante, cosmopolita, conectada, democrática, inclusiva. Soava japonês, mas africano, americano, indígena, nórdico. Soava a todos os povos. 

Sakamoto, de fato, são muitos. O Sakamoto do final dos anos 70, que ajudou a cunhar o synth pop e a new wave com a precursora Yellow Magic Orchestra e que tanto inspirou grupos do Ocidente como Cabaret Voltaire, Human Leaugue, New Order, Depeche Mode. O Sakamoto maestro, que regeu a Filarmônica de Tóquio. O Sakamoto dono de uma das discografias mais ecléticas e diversas da música pop, com trabalhos que vão desde o experimental à bossa nova, passando pela eletrônica, o erudito e a trilhas sonoras. O Sakamoto instrumentista, colaborador de obras marcantes do pop-rock, como da Public Image Ltd., David Sylvian, Thomas Dolby e Towa Tei. O Sakamoto que engendrava trabalhos multiplataformas, que cruzavam música, artes visuais e performance. 

"Beauty", seu oitavo disco solo, de 1989, é, afora a própria nomenclatura, um resumo de uma concepção de mundo múltipla, pois humanista e libertária. Gente de todas as nacionalidades tocam em suas 11 faixas. Suíça, Senegal, Brasil, Inglaterra, Japão, Espanha, Jamaica, Índia, Estados Unidos, Burkina Faso, Canadá, Coréia... Sakamoto realizou, com a naturalidade de um mestre sensei, a conjunção difícil da world music, aventada por alguns, mas nem sempre acessível e palatável. "Beauty" aprofunda a experiência lançada em “Neo Geo”, seu álbum anterior, convidando para este passeio sonoro músicos da mais alta qualidade e diferentes vertentes, como o icônico beach boy Brian Wilson, o veterano “The Band” Robbie Robbertson, a poesia ancestral de Youssou N'Dour, os percussionistas africanos Paco Yé, Seidou "Baba" Outtara e Sibiri Outtara, os jazzistas Mark Johnson e Eddie Martinez e mais uma turba de conterrâneos arraigados na música tradicional oriental. 

Do Brasil, especialmente, Arto toca guitarra, canta e coassina com ele cinco faixas, entre elas as tocantes “A Pile Of Time”, com o som característico do gayageum coreano; “Rose”, com percussões de ninguém menos que Naná Vasconcelos, e a linda “Amore”, que além da sonoridade arábica do shekere e da batida especial do talking drum, tem contracantos de N'Dour sobre os simples versos cantados pelo próprio Sakamoto: “Good morning/ Good evening/ Where are you?” De arrepiar.

Os encantos não param por aí. O craque Robert Wyatt empresta sua dolorida voz para Sakamoto versar Rolling Stones em "We Love You", que tem ainda as contribuições do congolês Dally Kimoko na guitarra, do britânico Pino Palladino no baixo, do porto-riquenho Milton Cardona no shekere e de coro multiétnico encabeçado por Wilson, Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko e o próprio Sakamoto. Tem ainda “Calling From Tokyo”, a faixa de abertura, um art-pop com a bateria jamaicana de Sly Dunbas e a tabla indiana de Pandit Dinesh; a espetacular “Diabaram”, com a voz penetrante de N'Dour, que faz remeter a uma humanidade pacífica da Ática-Mãe quiçá perdida; a contemplativa “Chinsagu No Hana”, adaptação de canção tradicional do folclore de Okinawa, assim como “Chin Nuku Juushii”, de “Neo Geo”; “Asadoya Yunta”, cujo inconfundível som do samisém tocado pela japonesa Yoriko Ganeko lhe confere séculos de conhecimento, e “Romance”, totalmente oriental, mas totalmente planetária.

Por essa riqueza toda que a obra de Sakamoto carrega que fico chateado (mas não surpreso) com as manchetes de anúncio de sua morte, ocorrida no último dia 28, aos 71 anos. As notícias de veículos referenciais da imprensa dão conta, em sua maioria, de que: "Morre Ryuichi Sakamoto, célebre compositor que levou o Oscar por 'O Último Imperador'". Ora, Oscar é importante, sim, mas ESSE é o destaque para se falar em Sakamoto?! Pegando-se apenas o cinema, não precisa ser um fã ou profundo conhecedor de Sakamoto para apenas atentar-se a outras trilhas sonoras assinadas por ele e perceber o quanto sua obra se entrelaça com as nossas vidas há décadas, a exemplo de “De Salto Alto”, "Femme Fatale", "O Regresso" e "Black Mirror".

Sakamoto, como Akira Kurosawa, me mostrou há muitos anos que essa dicotomia Orient-Occident, tal o yin-yang taoísta, serve para a geografia ou a estadistas divisionistas. Se Kurosawa quebrou as barreiras ao levar para o cinema do Oriente Shakespeare, Dostoiévski e Gorki, intercambiando, igualmente, a cultura japonesa com o Ocidente, Sakamoto fez, a seu curso, semelhante trajeto. Ao atravessar o Greenwich com sua música, provou que não existem divisões na humanidade. Difícil ensinamento para um mundo tão desigual e superficial... E mais: mostrou que lhe existe, sim, o belo. Sakamoto, esse meu ente que se foi. Mas só de corpo físico. As outras matérias ele generosamente deixou para nós mundanos através dos sons. Por isso, estará sempre presente aqui em casa, pois sabe que a porta está permanentemente aberta para ele entrar com sua beleza e ficar quanto tempo quiser. 


RYUICHI SAKAMOTO 
(1952-2023)



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FAIXAS:
1. "Calling from Tokyo" (Arto Lindsay, Roger Trilling, Ryuichi Sakamoto) - 4:26
2. "Rose" (Lindsay, Sakamoto) - 5:12
3. "Asadoya Yunta" (Katsu Hoshi, Choho Miyara) - 4:35
4. "Futique" (Lindsay, Sakamoto) - 4:09
5. "Amore" (Lindsay, Sakamoto) - 4:55
6. "We Love You" (Mick Jagger, Keith Richards) - 5:16
7. "Diabaram” (Sakamoto, Youssou N'Dour) - 4:13
8. "A Pile of Time" (Lindsay, Sakamoto) - 5:34
9. "Romance" (Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko, Stephen Foster) - 5:29
10. " Chinsagu no Hana" (Folclore japonês) - 7:26
Faixa Extra da versão CD americana*
11. "Adagio" (Samuel Barber) - 7:47 


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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues


quarta-feira, 29 de março de 2023

Música da Cabeça - Programa #312

 

Sei que não dá pra ver direito assim de longe o que tá escrito no dirigível. A gente põe uma lupa pra facilitar, mas já dava pra imaginar que é o anúncio do MDC 312, né? O que mais seria? Sobrevoando a cidade hoje estão Nas, Pixinguinha, Lobão, The Clash, Planet Hemp e mais. No quadro especial, um Sete-List daqueles de pura interessância. Também quer viajar nesse balão? Vem com a gente, que é só subir às 21h, na zepeliniana Rádio Elétrica. Produção, apresentação e altos voos: Daniel Rodrigues


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quarta-feira, 22 de março de 2023

Música da Cabeça - Programa #311

 

Nem tudo que brilha é joia. No MDC, por exemplo, não falta. Quem vem reluzindo com suas musicalidades hoje é Jards Macalé, Robert Wyatt, Nei Lisboa, Massive Attack, Naná Vasconcelos e mais. Quem também brilha aqui é o músico gaúcho Carlos Bolacha, no "Cabeça dos Outros". Totalmente legal, o programa de hoje passa tranquiaço pela alfândega às 21h na insuspeita Rádio Elétrica. Produção, apresentação e brilho próprio: Daniel Rodrigues.



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quarta-feira, 15 de março de 2023

Música da Cabeça - PROGRAMA ESPECIAL Nº 310

 

É Lucio Agace in da house, man! O Lucio da banda Código Penal e outros projetos. É ele no MDC de nº 310, que roda nesta quarta-feira, 15/3, às 21h, na antenada Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Confere o vídeo aí!



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quarta-feira, 8 de março de 2023

Música da Cabeça - Programa #309

O poeta disse que, se a gente abre uma clareza dendela, encontra uma escureza ainda muito mais bela. No Dia da Mulher, o MDC, que é feito de muitas clarezas e escurezas, é dedicado a elas. Mais que representante, Sueli Costa, a quem perdemos esta semana, é homenageada no nosso "Cabeção". E ainda tem Pato Fu, Wayne Shorter, Little Richard, Djavan  e mais. Se música e cabeça são feminino, então casa com a gente às 21h na Rádio Elétrica - que também se escreve no feminino. Produção e apresentação dela: Daniel Rodrigues
(poesia de Ricardo Aleixo e arte de Cly Reis)
#diainternacionaldamulher
#diadamulherétododia


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quarta-feira, 1 de março de 2023

Música da Cabeça - Programa #308

 

Ele voltou! Ah, está falando do Zé Gotinha? Tudo bem, pois a gente voltou também, mas com o programa de hoje. Vamos pingar de novo muita música boa com Miles Davis, Raul Seixas, Sinéad O'Connor, Jovelina Pérola Negra, Pat Metheny e outros. Também, sete doses de George Harrison, este curandeiro que faria 80 anos. A receita é a seguinte: pegue meio copo d'água, adicione gotas de MDC e beba tudo às 21h na vacinada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e conta-gotas: Daniel Rodrigues


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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #307

 

Naquele clima de fim de Carnaval? Não deixa as cinzas da quarta-feira te cobrirem. Mas como? A gente dá uma ajudinha no MDC. Levantando a poeira, o programa de hoje vem com The Cure, Chico Buarque, Yoko Ono, Tim Maia, Nina Simone e mais, além de uma da Velha Guarda da Portela pra não dizer que a gente se esqueceu de sambar. Hora de guardar a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira pra tudo começar na quarta-feira, às 21h, na ressacada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e começo da quaresma: Daniel Rodrigues.


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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

U2 - "Zooropa" (1993)

 

Atento, bebê?

“Quando começamos ‘Zooropa’, sugeri à banda que ficassem improvisando no estúdio regularmente. Eles haviam perdido esse hábito de improvisar e, por vários motivos, não o faziam. Então eu disse: ‘devemos imaginar que estamos fazendo trilhas sonoras de filmes hipotéticos, não fazendo músicas.’”
Brian Eno

Nunca acreditei em “Achtung Baby”, o tão celebrado disco da U2 de 1991. É este mesmo o termo: "acredito". Não se trata de "gostar", mas sim de crer. Aliás, gostar, até gosto. "One", "Until the End of the World" e “Acrobat” estão aí para provar. Porém, estas e todas as demais nove faixas de “Achtung...” são, a rigor, de longe menos inspiradas do que diversas outras da banda e, principalmente, graus abaixo do que Bono Vox, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton têm condições de entregar. Por que, então, falo de credibilidade e não necessariamente de qualidade? E por que abro o texto indo na contramão da maioria falando de uma obra consagrada e não daquela que motiva este artigo, “Zooropa”? Afora a ordem sucessória entre um disco e outro, é necessário que se volte alguns anos antes ao grande sucesso comercial e de crítica da U2 nos anos 90 para entender aquela que considero a maior farsa planejada da música pop moderna.

O ano é 1988. A U2 ostentava a posição de grande banda do rock internacional. Com o término da The Smiths e os às vezes errante caminhos da The Cure, a U2 somava todos os elementos para ocupar tal posição, rompendo a linha que divide o underground do início da carreira para o status de lotadores de estádio. Musicalmente, um fenômeno gerador de hits, vendas de discos e canções clássicas. Tinha um vocalista de admiráveis qualidades vocais e letrísticas, um guitar hero sofisticado e criativo e a "cozinha" mais competente do rock 80. Politicamente, foi o grupo mais engajado da sua geração. A coroação veio com “The Joshua Tree”, de 1987, que deu aos irlandeses discos de ouro, platina e diamante em vários países e um Grammy de Álbum do Ano, consolidando-os no mercado mundial com sucessos como "With ir Without You" e "I Still Haven't Found What I'm Looking For".

Arte do famigerado "Achtung...", de 1991
Ocorre que “Joshua...” é daquelas obras tão divisórias na carreira de qualquer artista, que lhes surtiu o efeito contrário. Ao invés de orientar Bono & Cia., desnorteou-os. Que rumo tomar depois de tamanho êxito comercial e artístico? O longo e irregular “Rattle and Hum”, no qual voltam os olhares para a cultura folk norte-americana, simboliza este hiato conceitual. A imagem da capa de Bono apontando o holofote para The Edge, mais do que uma mostra da saudável parceria entre ambos, simboliza uma necessidade (talvez inconsciente) de valorização da forma sobre a aparência. A U2 queria dizer que não se resumia ao Bono front man e, sim, que formavam um coletivo do qual seu guitarrista era o melhor representante. Nem todos entendiam isso, entretanto; E pior: continuavam exigindo-lhes a divindade cega atribuída às celebridades. Então, para que lado ir se já afastados da forte pegada política de “Sunday Blood Sunday” e alçados a astros planetários? Foi então que, naquele mesmo ano de 1988, a resposta se insinuou como uma solução: a fraude da dupla alemã Milli Vanilli.

Surgidos como revelação da música pop, Fab Morvan e Rob Pilatus foram acusados de não interpretarem as próprias músicas. Desmascarados, foram demitidos da gravadora que os fez vender milhões e tiveram que devolver o Grammy que venceram. Morvan e Pilatus precisaram convocar uma vexatória coletiva para confessarem que, de fato, apenas faziam playback em cima do palco e que ghostsingers cantavam por eles em estúdio. Justificaram que haviam sido recrutados pelo visual, como uma estratégia de publicidade. Bono, então, ouviu e ligou os pontos: “Fraude, Grammy, publicidade, paradas de sucesso, personagens...”. Deu-lhe um estalo: ali estava a chave para os problemas da U2.

Não é possível medir o quanto Bono ficou impactado com tal ocorrido, embora a polêmica da Milli Vanilli tenha ganhado tamanha proporção que, provavelmente, deu um sinal de alerta para qualquer um que pertencesse à indústria cultural. Bono, ao que tudo indica, perspicaz como é, captou a essência da discussão, mas injetou-lhe doses de ironia. Numa fase de “crise de identidade”, o negócio era assumir uma “não identidade”. Genial! Já distante da figura politizada que os consagrou e diante da incerteza que o estrelato provocou, a escolha da U2 foi criar uma nova imagem pública: dar vida a personagens fictícios e produzir músicas de fácil assimilação. 

Os riffs de “Achtung...”, basta notar, são bastante simples, até simplórios em alguns casos em se tratado da alta técnica de The Edge. "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", "The Fly", "Mysterious Ways", "Tryin' To Throw Your Arms Around The World" são assim: quase sem graça. O minimalismo característico de The Edge transformou-se em preguiça. Praticamente todas as faixas têm o mesmo embalo. Mas, claro, com a caprichada produção de Brian Eno, que mascarava tudo. Além disso, fotos e clipes de Anton Corbijn, mixagem de Daniel Lanois e Robbie Adams e engenharia de som de Flood. Invólucro perfeito, como todo produto premium de supermercado. Para arrematar a traquinagem, o disco é gravado na mesma Alemanha em que David Bowie e o mesmo Eno conceberam a nova música pop no final dos anos 70. Mas também a mesma Alemanha da Milli Vanilli... 


Agora, valendo!

Jamais a U2 tinha feito algo tão raso como “Achtung Baby”, e isso queria dizer alguma coisa. O circo foi tão bem montado que, com absoluta unanimidade, todos caíram na deles. Público e crítica elevaram o disco a obra-prima mesmo sem ter um riff à altura de “Bad”, “Red Hill Minning Town”, “God Part 2”, “Like a Song...” e por aí vai. Quando um artista chega a determinado estágio, o que se espera é que, no mínimo, supere o que já fez. Mas diante da incapacidade crítica da pós-modernidade, a U2 percebeu que isso não se aplicaria a ídolos acima de qualquer suspeita como eles. Na verdade, fizeram o contrário: ao invés de evoluir, deram passos para trás, mas com muita inteligência e marketing. E ego. Bono encarnava personagens como The Fly e The Macphisto com visível falta de habilidade cênica, mas suficiente para encantar os fãs. A piada foi tão bem contada que, somado ao respeito e a credibilidade de que jamais uma banda “séria” como a U2 faria algo assim, ninguém desconfiou de nada.

Por sorte, a enganação deliberada de “Achtung...” foi, em trocadilho com o próprio título, apenas para ver se a galera estava “atenta”. Como ninguém estava, no fundo o tiro saiu pela culatra. O negócio era desistir da palhaçada e fazer algo bom novamente. Fruto de canções surgidas durante a turnê e de suspeitas “sobras” do afamado disco anterior, “Zooropa” mostra porque a U2 chegava, enfim, à maturidade. Improvisos, experimentações, ousadias, ludicidade. É possível sentir um clima de liberdade criativa em suas faixas. Se a ida para Berlim anos antes foi, como fez Bowie, para se afastar do burburinho da mídia, enfim a intenção funcionava para a U2. 

Um rápido paralelo entre as faixas de um disco e outro provam que a turma estava mesmo interessada em fazer o que sempre soube: pop-rock forjado no pós-punk, somado aos elementos do tecno, como downtemto, synth pop e experimental. Na abertura, para uma pirotécnica ”Zoo Station”, mandam ver “Zooropa”, extensa, pouco vendável, sem pressa para começar e nem para terminar. Riff bem elaborado que, lá pelas tantas, ainda sofre uma virada que acelera seu compasso, gerando quase que uma outra música. Excelente cartão de visitas para deixar claro que a U2, definitivamente, havia deixado as máscaras de mosca em segundo plano.

A melódica “Babyface”, algo semelhante em atmosfera a “So Cruel”, de “Achtung...”, faz homenagem ao músico de R&B que influenciaria bastante o som da banda naquele momento. Esta antecipa a primeira obra-prima do álbum: “Numb”. Desviando os holofotes quase monopolizados por Bono, a banda realiza de vez o que prenunciavam na capa de “Rattle...” com The Edge fazendo as vezes de protagonista. E aqui Eno, novamente recrutado como um quinto integrante, faz valer sua arte de produção. E não para “salvar” a música, mas para potencializá-la. Construtiva, a partir de uma programação eletrônica e um riff estetizado, “Numb” vai agregando elementos como bateria, efeitos de teclados, frases de guitarras, sintetizadores e contracantos, como o belo falsete de Bono dizendo versos como: “I feel numb” e “Too much is not enough”. Tão original que é sem comparação com qualquer uma de “Achtung...”.

Outra pérola: “Lemon”. Mais uma cantada em falsete, agora com Bono retomando o centro do palco, lembra “Misterious Ways” por certa latinidade da percussão de Mullen Jr. Mas apenas de longe, pois é muito melhor e bem mais elaborada. A começar pelo riff, este sim minimalista como The Edge é craque, mas saborosamente criativo, forjado apenas no efeito de pedal, que se forma através de ressonâncias. O baixo de Clayton, idem: seguro como sempre, fazendo a base perfeita para esta world music moderna. Mas principalmente: o arranjo de Eno. Nesta faixa fica evidente o quanto o papel do eterno Roxy Music foi fundamental para a retomada da U2 à sua raiz de beleza estética com liberdade e ousadia. Os coros em tom menor, com contracantos acentuados, dão um exótico ar étnico à música. Impossível não lembrar das contribuições de arranjo e melodia de Eno para a Talking Heads em “Remai in Light” (“Born Under Punches”/“Crosseyed and Painless”/”The Great Curve”), de 1980, ou músicas de seus trabalhos solo como “No One Receiving” (de “Before and After Science”, 1977).

clipe de "Lemon", com direção de Mark Neale

Já “Stay (Faraway, So Close!)”, se não supera “One”, sua mais evidente correspondente em “Achtung...”, emparelha, ainda mais porque, balada sentimental tanto quanto, faz paralelo também com outra do álbum anterior, “Until...”, pois ambas são temas de trilhas sonoras de filmes do cineasta alemão Win Wenders – neste caso, a tocante continuação de “Asas do Desejo” homônima à canção. Virando a chave, “Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car” devolve energia a “Zooropa” – aliás, como até então não havia ocorrido. Tecno industrial com um riff bem sacado, bateria eletrizante e uma produção, meus amigos! Que habilidade numa mesa de som tem o sr. Brian Peter George St. John le Baptiste de la Salle Eno! Ele colore a música do início ao fim, ressaltando todas as texturas e detalhes que ela tem de melhor, mas sem tirar o brilho original, deixando os louros para a performance da U2. Distantes da espetacularização da turnê Zoo TV, a banda irlandesa realmente está espetacular.

Se “Daddy’s...” lembra em certa medida “The Fly” e “Zoo Station”, de “Achtung...”, “Some Days Are Better Than Others” equivale a "Tryin' To Throw Your Arms Around The World". Novamente, contudo, vencendo a disputa. E quão simbólica a letra para aquele momento de autorreconhecimento, quase um mea culpa: “Alguns dias você usa mais força do que o necessário/ Alguns dias simplesmente nos visitam/ Alguns dias são melhores do que outros”. Já a escondida “The First Time” é uma surpresa altamente positiva, que começa com uma leve base de baixo sob a linda voz de Bono para ir ganhando, aos poucos, outros instrumentos/elementos, que lhe aumentam a emotividade. Além disso, faz analogia com “Love Is Blindness”, última do trabalho antecessor. Mas como assim, se ela não encerra “Zooropa”? Aham! A estratégia narrativa usada para gerar estardalhaço anteriormente, agora era empregada a favor da feitura da obra. “The First...” prepara o terreno para a penúltima faixa, “Dirty Day”, outra que, assim como “Zooropa”, não se apressa em começar e a se desenrolar. Pop eficiente, tem o detalhe da voz de Bono sobre todos os outros sons, como que viva diante do microfone, expediente imortalizado por Eno e pelo produtor Tony Visconti em “Heroes”, de Bowie, em 1978, daquela mesma inspiradora fase alemã do Camaleão do Rock. 

Eno com Edge e Bono em estúdio
dando as coordenadas pra banda
Toda essa construção narrativa, quase como a de um filme ou de uma ópera-rock (seria a tragédia do famigerado personagem The Fly?), converge para um gran finale: “The Wanderer”. Pode ser que tenha sido coisa de Bono ou dos outros integrantes da U2, mas ninguém me tira da mente que a ideia de chamar o mitológico Johnny Cash para cantar triunfalmente a última faixa do disco foi de Eno. A base totalmente em teclados, contrastando com o estilo country-folk orgânico de Cash, dão uma clara pista de que a música surgiu desta ideia central pensada por ele. O estilo melódico, a reelaboração modernista do rock 50, os coros estilo Phil Spector, o refrão com melodia emotiva terminado em uma nota baixa e melancólica... Tal “The River”, de Eno e John Cale, tal “Golden Hours”, do seu solo “Another Green World”. Muita coincidência. Ou a U2 emulou Eno, ou essa música, meus amigos, é de Eno com participação da U2! O que, na verdade, é uma prova de grandiosidade da banda, que soube abrandar os egos e delegar a alguém um fator importante da obra, mas sem perder sua marca própria. Isso se chama maturidade.

E quanta beleza em “The Wanderer”! Escritos para o barítono embriagado Cash, os versos (de Bono, credite-se) largam dizendo: “I went out walking/ Through streets paved with gold/ Lifted some stones, saw the skin and bonés/ Of a city without a soul” (“Eu saí caminhando/ Pelas ruas pavimentadas com ouro/ Levantei algumas pedras, vi pele e ossos/ De uma cidade sem alma”). Uma clara referência ao clássico “Walked in Line”, imortalizada na voz do errante Homem de Preto, mas também à própria consciência da U2 pelas perigosas trilhas da fama. “The Wanderer” ainda serviu como uma homenagem em vida a Cash. Eterno outsider e já no ostracismo naqueles idos, ele viria a se revitalizar como artista e gravar seus últimos álbuns na série “American”, morrendo 10 anos depois daquela gravação (a versão definitiva de “One”, aliás, é de seu “American III”, de 2000). Um digno final de disco da U2, o mais tocante e melhor de sua discografia, mais bonito até do que “MLK” encerrando “The Unforgatable Fire” ou do que “All I Want Is You” fechando “Ratlle...”. Um final para desfazer mal-entendidos e enterrar qualquer piada de mal gosto que um dia tenham feito.

clipe de "The Wanderer", com participação de Johnny Cash

“Zooropa”, o melhor disco da banda em toda a década de 90 e seu último grande álbum, completa 30 anos de lançamento. Isso nos leva a deduzir que, há três décadas, a U2 desfazia um erro grotesco chamado “Achtung Baby” para, responsavelmente para com sua própria obra, dignidade e reputação, conceber “Zooropa”. O processo de concepção conduzido por Eno, livre das amarras do enterteinment e voltado às origens deles como músicos, foi tão rico, que rendeu, dois anos depois, o ótimo “Passengers: Original Soundtracks 1”, em que encarnam com humildade a inédita nomenclatura para compor trilhas sonoras para diversos filmes. Um pouco do que já era “Zooropa”: uma narrativa, uma história.

O certo seria Bono, Edge, Mullen Jr., Clayton e Eno, assim como fez a Milli Vanilli no passado, chamar a imprensa para uma coletiva e confessarem o engodo de "Achtung Baby" – de preferência, em Berlim, cidade acostumada a reconstruções e onde a farra foi cometida. Mas isso jamais acontecerá. Para mim, contento-me em ouvir “Zooropa” e saber que ele veio reestabelecer minha relação com a U2, o que vinha gradativamente perdendo força e sofrera considerável abalo quando do meu desmascaramento solitário. “Zooropa”, com sua força e identidade, zerou tudo. A U2 está para sempre desculpada.

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FAIXAS:
1. Zooropa - 6:30
2. Babyface - 4:00
3. Numb - 4:18
4. Lemon - 6:56
5. Stay (Faraway, So Close!) - 4:58
6. Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car - 5:19
7. Some Days Are Better Than Others - 4:15
8. The First Time - 3:45
9. Dirty Day - 5:24
10. The Wanderer - 5:42
Todas as composições de autoria de Bono Voz, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton

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OUÇA O DISCO


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #305

 

Não é porque a gente tira uns dias, que deixa de ter MDC. Dando uma pisada no freio, a gente reprisa nesta quarta e na próxima programas especiais. Hoje, a edição 300, que teve como entrevistado convidado o mangueboy Fred Zeroquatro, da Mundo Livre S/A, além de músicas, notícia e aquela coisa toda. Estende tua rede e escuta hoje, às 21h, na ferial Rádio Elétrica. Produção, apresentação e relaxamento: Daniel Rodrigues.


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terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Asian Dub Foundation - "Rafi's Revenge" (1998)

 



"E agora nós ocupamos o espaço com barulho
O ruído negro será um som que você não poderá evitar
Ouça o drum'n bass
Diferentes comunidades se encontram no mesmo lugar
Estamos misturando os sabores para todos os gostos
Esta música tem o poder para toda a raça humana
Dub é o professor
Jungle é a pregação"
trecho de Dub Mentality




Descobri os caras no antigo programa Mondo Massari, exibido por um breve período na MTV Brasil, no qual o "Reverendo" Fábio Massari, refrerência em se tratando do universo musical alternativo, apresentava bandas, artistas, curiosidades musicais do mundo inteiro, até mesmo dos lugares menos prováveis que a gente pudesse imaginar.
Numa dessas, me veio com a tal da Asian Dub Foundation, um pessoal meio inglês, meio indiano, meio paquistanes, meio bengali, com um pop-rock indie esfuziante repleto de elementos eletrônicos de várias correntes e pitadas certeiras de tradição oriental.
Na época, vi um videoclipe da música "Buzzin'", que seque era um vídeo oficial, e sim uma edição quase amadora de uma apresentação ao vivo, em que o vocalista aparecia no palco, provavelmente em um festival, com uma camiseta do Barcelona. Aquilo era contagiante, elétrico, bombástico. Uma batida drum'n bass alucinante, com um "riff" acelerado remetendo a uma sonoridade oriental e um vocal rap cantado em inglês, mas cheio de um sotaque asiático que dava um tempero todo muito original para o produto final.
Depois é que vim a descobrir que aquela música fazia parte do álbum "R.A.F.I.", de 1997, disco de musicalidade impressionante, transitando entre o punk, o eletrônico, o rap, o reggae e a música oriental com muita naturalidade e criatividade, além de muita atitude, com discursos incisivos contra racismo, xenofobia, direitos humanos e desigualdade social.
Relançado um ano depois, praticamente com as mesmas faixas, algumas regravadas, outras remixadas, outras aperfeiçoadas tecnicamente, o disco rebatizado "Rafi's Revenge" trazia além da ótima "Buzzin'", repaginada, a drumbera não menos incendiária "Naxalite", o embalo dub de "Hypocrite", a mistura de Jamaica e Índia do ragga "Dub Mentality", o baixo possante de "Charge", a intensidade de "Satpal Ram" e "Operation Eagle Lie", e o experimentalismo eletrônico de "Tribute to John Stefens".
Peso, balanço, ritmo, engajamento, tecnogia, raízes, tradição, tudo numa banda só, tudo num disco só. Esse coquetel molotov musical chama-se "Rafi's Revenge" e quem o lançou contra o sistema foram esses caras cheios de ideias, musicalidade e atitude, do Asisn Dub Foundation.

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FAIXAS:
1 Naxalite
2 Buzzin
3 Black White
4 Assassin
5 Hypocrite
6 Charge
7 Free Satpal Ram
8 Dub Mentality
9 Culture Move
10 Operation Eagle Lie
11 Change
12 Tribute To John Stevens

faixas bônus da edição norte-americana
13 Raf1
14 Digital Underclass

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Ouça:
Asian Dub Foundation - Raf's Revenge




Cly Reis



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #304

 

Enquanto o Bozo pede arrego nos States e você tenta descobrir como o ursinho Pooh foi parar em Marte, a gente traz coisa aqui pra terrinha mesmo. Só pra ter ideia, tem Stevie Wonder, Aum, Bob Dylan, Elis Regina e Television. Quer mais? 'Cabeça dos Outros' com a dupla Sinatra e Tom e 'Palavra, Lê' pra Iemanjá. Mantém a atenção no MDC, que começa às 21h, na marciana Rádio Elétrica, que você ganha mais. Produção, apresentação e alto grau de interessância: Daniel Rodrigues. 


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #303

 

Tentaram acertar, mas a gente se esquiva. Desviando dos atiradores, o programa vem só com aqueles que acertam no alvo: Chico Buarque, Mundo Livre S/A, McCoy Tyner, Marlui Miranda e outros. No "Música de Fato", a catástrofe humanitária dos Yanomami e no "Sete-List' sete chances para acertar uma homenagem a David Crosby. Mira no MDC, então, às 21h, na certeira Rádio Elétrica. Produção, apresentação e pontaria para o que merece: Daniel Rodrigues


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sábado, 21 de janeiro de 2023

"Sinal de Alerta: Lory F.", de Frederico Restori (2021)

 

"Sabe aqueles vendavais, ciclones que acontecem e que devastam uma cidade inteira? Lory era assim: por onde passava, ela devastava".
Charles Finocchiaro, falando sobre a irmã


Para onde vai a lembrança da arte quando o pouco que se guarda dela se encontra fragmentado, seja nas mídias empoeiradas ou nas mentes embaçadas? Quem recordaria de Lory F. Band a não ser roqueiros viúvos da Rádio Ipanema com boa memória musical, os familiares da artista ou as pessoas do meio cultural (e ainda somente aquelas "das antigas")? A resposta está em "Sinal de Alerta: Lory F.", filme de Frederico Restori.

Vencedor do Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas no 50° Festival de Gramado e um dos dois melhores curtas-metragens gaúchos de 2022 pela escolha da Accirs, "Sinal de Alerta: Lory F." também foi exibido no festival In-Edit Brasil 2022 e um dos selecionados para a mostra de filmes gaúchos do V CineSesc.

Documentário que retrata a meteórica passagem da cantora e compositora Lory Finochiaro, o filme de Restori resgata com lucidez e ternura esta figura pouco lembrada no cenário cultural do Rio Grande do Sul, evidenciando um legado que espelha (e critica) a identidade do ser contemporâneo. Para a cena rock gaúcha, ainda mais importante a figura da artista. Basta dizer que da sua primeira banda, A Nata, saíram De Falla, Taranatiriça e a própria Lory F. Band, três grupos lendários para o rock feito no Rio Grande do Sul nos anos 80.

“Sinal de Alerta: Lory F.” traz depoimentos colhidos por Restori junto a familiares, amigos e músicos que tocaram com a roqueira. No curta, destaque para uma arrojada montagem, responsável por dosar informações em ritmo certeiro distribuídas entre uma quantidade surpreendente de cortes, filtros e efeitos visuais sobre a imagem. O único porém é que fica a impressão de que cabia em um longa-metragem, pois deixa a sensação do desejo de mais conteúdo. Tendo em vista, contudo, que a história se encerra bem dentro dos pouco mais de 18 minutos de fita, este porém é muito menos crítica e mais um elogio.


assista o filme "Sinal de Alerta: Lory F."


Daniel Rodrigues


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #302

 

Vamos pegar carona nos acordes de Jeff Beck no programa para uma viagem musical, que tem ele e muitos outros passageiros. Acompanham Caetano Veloso, The Crusaders, Red Hot Chili Peppers, Arthur Verocai, The Breeders e outros. Além de homenagear o guitarrista, que nos deixou dias atrás, também há os quadros fixos e móvel e um Palavra Lê para os 60 anos de Nando Reis. Que passeio bonito o deste MDC de hoje, que sai da estação às 21h, na britânica Rádio Elétrica . Produção, apresentação e guia turístico: Daniel Rodrigues


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