Jogo difícil! Confronto equilibrado. Dois times muito competentes e muito parecidos. Um daqueles casos em que o remake é muito próximo ao original, não inventa muito, mas consegue ter sua identidade e seus pontos de diferenciação. Tanto em "A Família Bélier" quanto em "No Ritmo do Coração", nossa protagonista, Paula, no original francês, e Ruby, no americano, é uma adolescente que, por ser a única sem deficiência auditiva em casa, serve como a comunicação dos pais e do irmão com o resto do mundo, para todas as finalidades, mas especialmente para os assuntos de trabalho. Aí vem uma diferença entre os dois filmes: na produção francesa de 2014, a família era uma pequena-produtora rural, enquanto que, na nova versão, faz parte de uma comunidade de pescadores. A questão toda é que, quase por acidente, mais para estar na turma de um garoto por quem está interessada, nossa heroína acaba descobrindo seu enorme talento para o canto e passa a ser estimulada pelo professor de música a mirar voos mais altos, incluindo o ingresso em uma renomada universidade de música na cidade grande. O problema é que, em ambos os filmes, quando o núcleo familiar se envolve de maneira mais efetiva nas questões administrativas e organizacionais do respectivo negócio (liderando os produtores, em um, e criando uma cooperativa de pescadores, na outra), a garota fica sobrecarregada e limitada de sua própria vida, não conseguindo dedicar o devido tempo para o canto, as aulas, os ensaios, e ao professor, uma vez que sua família, por mais amorosa que seja, não tem noção do significado daquilo para a filha e, por nunca terem podido ouvi-la, não tem dimensão do tamanho de seu talento.
"A Família Bélier"
teste de Paula para a faculadade
"No Ritmo do Coração"
teste de Ruby para a faculdade
Salvo pequenas diferenças, os filmes correm muito parecidos e um consegue pequenas vantagens sobre o outro: prefiro Paula Bélier do que Ruby Rossi; no entanto, o pai, por mais competente que seja, no primeiro, nem se compara ao do remake, numa atuação brilhante do ator Troy Kotsur, premiada com o Oscar de ator coadjuvante. O irmão da protagonista, na refilmagem é mais interessante como personagem e mais significativo no enredo; em compensação, na minha opinião, o envolvimento da garota com o namoradinho da escola é mais bem explorado emocionalmente na primeira versão. A cena do exame, na audição da universidade, é mais emocionante, para mim, com a garota Paula, inclusive com uma canção mais adequada e tocante. Mas o professor de música da nova versão, Bernardo Villalobos , interpretado por Eugênio Derbez, é mais cativante e divertido. O remake levou um Oscar de roteiro, é verdade, mas é um roteiro adaptado, justamente, sobre o, já muito bom, enredo do original. Ou seja, ninguém leva vantagem nessa. Ao que parece o jogo vai se encaminhando para um justo empate mas aí um detalhezinho faz diferença: aquela estatueta dourada desempatar o jogo. Muita reclamação por parte dos franceses que entendem que, no seu ano deveriam ter sido indicados a melhor filme estrangeiro, mas o juiz faz que nem ouve as reclamações e confirma o gol. Um gol pra cada por todos os méritos e virtudes de cada um, elenco, roteiro, atuações, emoção; e o gol de ouro por conta do Oscar de melhor filme, que não é pra qualquer um. No detalhe, por pouco, apertado... mas a vitória é norte-americana num confronto equilibradíssimo. "No Ritmo do Coração" cala a torcida da Família Bélier.
Treinador paizão, família Scollari... Mais do que times, famílias. Dois times que mostram o quanto é importante a união do grupo.
Ruby Rossi comemora o gol da vitória passando na frente da torcida francesa,
levando a mão à orelha, provocando, como quem pede para ouvir o grito deles agora.
"Democracia em Vertigem" não é ficção. É muita realidade e é a realidade do golpe que a elite brasileira faz questão de obscurecer, que a classe média vaidosa (sabe-se lá porquê) quer constantemente minimizar com argumentos ocos como "pelo menos tiramos o PT", e que parte da população mais pobre, manipulada pela mídia, pelos patrões e pela própria incapacidade de julgamento, engoliu acreditando que era tudo em nome do fim da corrupção. Esse é o grande mérito do documentário de Petra Costa, que concorre ao Oscar nesta categoria, o de contar a verdade, detalhe por detalhe, minuciosamente, desde o início da onda de manifestações que, apoiada fragilmente num aumento de vinte centavos na passagem de ônibus, foi alvo fácil manipulação para os fins dos que realmente tinham interesse naquela revolta que atirava para qualquer lado.
O filme relembra quase didaticamente todos os acontecimentos ocorridos e que levaram ao afastamento de Dilma Roussef, por uma questão fiscal à qual muitos presidentes antes dela recorreram. Dizer que é fantasioso, mentiroso, que manipula os fatos como afirmou o patético Presidente da República e, recentemente o jornalista Pedro Bial, só para ficar em dois personagens é uma imbecilidade, uma vez que o filme apresenta imagens dos canais oficiais de governo, como TV Câmara e Senado, imagens de telejornais (inclusive da emissora à qual Pedro Bial serve), entrevistas com membros do congresso e integrantes da cena política nacional daquele momento, praticamente em sequência cronológica sem deixar dúvida, não somente da ordem dos acontecimentos, como da veracidade deles. Exercício de ficção é ignorar o que é apresentado ali.
Se esta é uma virtude, também é um defeito. "Democracia em Vertigem" é muito certinho, é muito linear e aí, enquanto obra cinematográfica, fica muito simplificado, quase que como uma mera compilação de documentos visuais variados. Sei que o principal compromisso do filme é o de relatar os acontecimentos daquele período mas a falta de criatividade e de dinâmica no modo de fazê-lo depõe contra a obra numa análise qualitativa pensando em uma premiação, como a que concorre.
Não será dessa vez que o Brasil ganhará o Oscar e certamente a não-premiação desta obra será motivo de regozijo por parte da ignóbil direita brasileira. "Democracia em Vertigem" é extremamente válido, extremamente importante como documento histórico mas é fraco enquanto obra cinematográfica. Já vi muitos documentários vencedores de Oscar mais interessantes e envolventes, mais criativos na sua forma de narrar, com edições mais dinâmicas ou mesmo mais surpreendentes. Me surpreenderia muito se ganhasse. Mas, se acontecer, será pelo outro grande mérito do filme, que foi o de levar a conhecimento do resto do mundo, esmiuçadamente, o que está acontecendo por aqui e que, uma vez sabedores dos fatos, os membros da Academia tenham ficado tão impressionados com a maneira como um país, deliberadamente, sepulta a própria democracia.
Conforme minha pequena e modesta predição, as estatuetas douradas foram mesmo distribuídas irmanamente de modo que ninguém ficasse muito chateado. Só, provavelmente esqueceram, nesta repartição, de destinar algunzinho para o "Bravura Indômita" dos Irmãos Cohen, que de 10 indicações acabou saindo com as mãos vazias. Mas se por um lado houve sim este equilíbrio, e um filme como "A Origem" acabaria por ter o mesmo número de prêmios que "O Discurso do Rei", e seu mais forte concorrente "A Rede Social", um a menos; é certo que os do Monarca Gago têm irrefutável maior relevância, o que lhe garante, com efeito, a consagração como o GRANDE da noite; tendo sido esta a parte principal onde errei em meus chutes, julgando que não parariam nas mesmas mãos os prêmios de filme e direção. Mas como todo palpite, esta-se sujeito a errar. E, de todo modo, foram apenas palpites e nada mais que isso.
Sinceramente não vi "O Discurso do Rei", e, sinceramente, não verei. Talvez, dia desses, quando passar num Telecine da vida ou coisa assim, mas, em princípio, não me desperta nenhum interesse, nem agora de posse de um Oscar de melhor filme.
No mais, confirmadas as barbadas dos páreos: "Toy Story 3" justamente premiado como animação; Natalie Portman, cuja interpretação não me convenceu (mas não sou eu que voto), como melhor atriz; "A Origem" com os prêmios técnicos; Colin Firth emplacando como Rei Gago; e roteiros, original e adaptado, destinados ao Rei e a Rede.
Mas legal mesmo foi ver Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, costumeiramente tão rebelde, arredio e anti-social, subir ao palco, dentro do protocolo, de smoking e visivelmente emocionado, para receber o Oscar de Melhor Trilha Sonora. O cara, que é um baita músico, extremamente criativo e inventivo, e já vinha montando ótimos sets pra cinema como em "Assassinos por Natureza" e "Estrada Perdida", agora teve o coroamento desta investidura no mundo do cinema com uma premiação desta importância.
Destaque positivo, desta vez, para a dupla de apresentadores da festa, Anne Hathaway e James Franco. Discretos, charmosos, engraçados na hora certa, com bom ritmo e condução, sem exageros... Ambos bem, no fim das contas. A cerimônia ficou legal com eles. Não ficou tão cansativa. Fraquinho mesmo foi aquele coral infantil com "Somewhere Over the Rainbow", mas ainda bem que já estava acabando.
Segue abaixo a lista com todos os vencedores da noite de ontem:
Enquanto alguns brasileiros saíram à rua este ano pedindo incrivelmente
a volta da ditadura, os argentinos continuam lambendo as feridas que os anos de
intervenção militar deixaram naquele país. Esta discussão está presente no
cinema argentino que não foge da raia e vem com mais um grande exemplo de como
o golpe militar interferiu na vida da população. “Kóblic” é o novo filme de Sebastián
Borenztein (“Um Conto Chinês”).
Nele, o onipresente Ricardo Darín interpreta Tomás Kóblic, um capitão
da marinha que se recusa a abrir as portas de um avião para que se pudessem
jogar os opositores do regime no mar, prática que ficou conhecida durante a
intervenção militar naquele país. Para evitar a perseguição de seus colegas de
armada, Kóblic se esconde em um lugarejo do interior chamado Colonia Elena. Mal
sabe ele que será alvo da ira de Velarde (Oscar Martinez), o delegado da cidade
que tem íntimas ligações com o regime militar. Ao mesmo tempo, Kóblic se
envolve com a mulher de um comerciante da cidade (Inma Cuesta), tornando sua
permanência na cidade ainda mais perigosa.
Oscar Martínez é o delegado
com íntimas relações com o regime militar
O diretor Sebastián e seu co-roteirista Alejando Ocon mantém o clima de
suspense durante todo o filme e ainda dão um pequeno toque de faroeste num
duelo final entre os protagonistas. Algumas críticas dão conta de que “Kóblic”
perde sua intenção no final, quando se transforma de um filme de denúncia
política a um banho de sangue a laSam Peckinpah. Na verdade, a violência da ditadura argentina esteve sempre pronta
para explodir durante todo o filme.
O clímax é apenas consequência do que os personagens vivem na tela.
Como sempre, Darín está excelente, sabendo dosar sua performance com as devidas
emoções. Já Oscar Martinez consegue compor um vilão de polícia do interior,
sempre perseguindo o forasteiro que veio trazer balbúrdia á sua pacata cidade,
enquanto Inma Cuesta dá credibilidade à sua Nancy mas tem pouco a fazer durante
o filme. Novamente, o cinema argentino dá mostras de seu vigor e de que não há
tema tabu em suas telas.
E "Mad Max: Estrada da Fúria" foi o grande vencedor da noite! Bom, isso quantitativamente, porque qualitativamente o vencedor da noite pode ser considerado "O Regresso", com prêmios em algumas das principais categorias. Mas isso se, mesmo ganhando prêmios tão significativos, "Spotlight: Segredos Revelados" não tivesse levado o principal prêmio da noite. Foi isso, uma noite de premiações bastante divididas. Enquanto o road-movie apocalítico "Mad Max" arrebatava praticamente todos os prêmios técnicos, o incensado filme do mexicano Iñárritu conquistava aqueles que dão o grande indicativo de qualidade de um grande filme, exceto o de melhor filme que foi parar nas mãos do investigativo "Spotlight".
Numa cerimônia marcada pela polêmica das indicações para atores negros em Hollywood, tivemos um Chris Rock bastante desenvolto na condução dos trabalhos apesar de uma desconfortável insistência na questão racial, uma bela performance de Lady Gaga apresentando a canção do filme "The Hunting Ground", uma interpretação pífia de Dave Grohl tocando "Blackbird" dos Beatles durante a homenagem aos falecidos; o tricampeonato de Emmanuel Lubezki na fotografia e o bi de Iñárritu como diretor, fato que só acontecera duas vezes anteriormente na história da premiação.
As surpresas ficaram por conta de "Ex Machina" cujo principal mérito na minha opinião é o roteiro de trama labiríntica e inteligente, ter levado o prêmio de efeitos visuais em detrimento a "Star Wars ep.VII: O Despertar da Força" ou até mesmo a "Mad Max" que vinha faturando todos os técnicos até então; a canção original ter ficado com a chatíssima trilha de "007 contra Spectre", a pior da história de James Bond; e, não exatamente surpresa, mas uma ponta de desapontamento que tenho certeza muitos compartilham comigo, com o fato do carismático Silvester Stallone não ter levado sua estatueta por sua atuação em "Creed" nesta que provavelmente terá sido sua última chance.
No mais, "Amy", confirmou o favoritismo nos documentários; o mestre Ennio Morricone, com a trilha para "Os Oito Odiados", finalmente ganhou seu Oscar por um filme (havia ganho pelo conjunto da obra); e Leo, de grande crescimento artístico nos últimos anos, é verdade, mas favorecido esse ano por todo um contexto de ausência de medalhões como Nicholson, Redford, De Niro, de concorrentes em papeis de deficientes que sempre sensibilizam a academia, ou que revivessem personalidades históricas, finalmente levou sua tão desejada estatueta dourada pra casa. Nunca vi uma campanha tão grande para que um ator levasse esse prêmio mas, enfim... Que seja. Aleluia!
Ah, e antes que eu esqueça, não foi dessa vez que o Brasil trouxe o seu Oscar.
Confira abaixo a lista completa dos ganhadores:
Di Caprio e Iñárritu, os dois grandes
vencedores da noite.
Melhor filme "Spotlight: Segredos revelados"
Melhor ator
Leonardo DiCaprio ("O regresso")
Melhor atriz Brie Larson ("O quarto de Jack")
Melhor diretor Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")
Melhor canção original "Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")
Melhor trilha sonora "Os 8 odiados", de Ennio Morricone
Melhor filme estrangeiro "O filho de Saul" (Hungria)
Melhor curta de live action "Stutterer"
Melhor documentário "Amy"
Melhor documentário de curta-metragem "A Girl in the River: The Price of forgiveness"
Melhor ator coadjuvante Mark Rylance ("Ponte dos espiões")
Melhor animação "Divertida mente"
Melhor curta de animação "Bear Story"
Melhores efeitos visuais "Ex Machina"
Melhor mixagem de som "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor edição de som "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor montagem "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor fotografia "O regresso"
Melhor cabelo e maquiagem "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor design de produção "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor figurino "Mad Max: Estrada da fúria"
Melhor atriz coadjuvante Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")
Melhor roteiro adaptado "A grande aposta"
Melhor roteiro original "Spotlight - Segredos revelados"
Fern (Frances McDormand) é uma
mulher de 60 anos que, depois de perder tudo na Grande Recessão, embarca em uma
jornada pelo oeste americano, vivendo como uma nômade dos tempos modernos.
O ritmo mais lento, o texto cheio
de alegorias podem afastar algumas pessoas, mas nada disso tira o
mérito de "Nomadland", o grande vencedor do Oscar desse ano, com os prêmios de melhor filme e direção. O longa acerta em momentos certos, como quando pretende mostrar Fern
no mundo, seus desafios, asbelezas
naturais, além de fazer planos abertos lindos com uma fotografia única. E quando quer
mostrar as emoções de Fern, tem closes longos no rosto da personagem que você se
pega refletindo junto com ela.
Tecnicamente, é um longa impecável! Fotografia,
som direção, tudo funciona. Mas uma das grandes forças do filme está em,
Frances McDormand, não à toa, vencedora do Oscar de melhor atriz. Seu silêncio grita neste filme. Uma atuação contida, para
dentro, mas cheia de força, na qual, ao mesmo tempo em que você vê uma mulher forte e
decidida, também expõe sua fragilidade em alguns momentos de solidão ou quando sente a pressão
do julgamento da sociedade por não seguir um padrão de vida ideal segundo o sonho
americano.
"Nomadland" - trailer
Além da beleza estética do longa,
seu discurso também é muito forte fazendo uma forte crítica, pesada e incisiva, ao consumismo e ao american way of life.
Além da ótima direção, da
excepcional atriz principal, o longa ainda consegue falar sobre o sentimento da
perda, como cada um trabalha isso, a dificuldade de encarar isso e permanecer forte, e de dar adeus para alguém, para algo, para algum lugar, para uma situação, etc. "Nomadland" nos lembra o quanto é preciso coragem para começar novos ciclos.
Perfeição! Olha essa fotografia! O nome disso é "Aulas cria".
E o Oscar vai para... Bem, a gente merece a estatueta em Trilha Sonora Original. Na semana do Oscar, o Música da Cabeça estende o tapete vermelho para Barão Vermelho (banda), The Beatles, Gene Kelly, Tim Maia e outros fortes indicados em suas categorias. E tem também "Palavra, Lê", "Música de Fato" e um "Sete-List" com o tema do Oscar. Então, prepara a pipoca, te ajeita no sofá e escuta o programa hoje, às 21h, pela Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
Tá, ó, vamos falar sério: "Barbie" não é nada mais que um filme bonitinho. "Ah, mas tem mensagem...". Ora, é um filme bonitinho com mensagem. Valorizo muito o cinema de ficção como arte e quando a arte é sacrificada em nome do discurso, entendo que ela fica comprometida. é como um poeta que abandona as figuras em nome da literalidade, um pintor que passa a simplesmente imprimir sem intervir numa imagem, um letrista que abdica da rima, do verso, da melodia para meramente discorrer, falar a letra de uma música. Entendo que é muito o que acontece com "Barbie", filme da diretora Greta Gerwig, com oito indicações ao Oscar 2024, que em nome de um discurso, altamente válido, pertinente, justo, urgente, é verdade, fazem de sua obra de arte um manifesto pela causa feminista. Tem todo o cenário, o figurino, as caracterizações, as músicas, as tiradas, ok... Isso tudo só faz de "Barbie" um manifesto pintado de cor-de-rosa. Discurso, causa, reivindicação, explícitos, que relegam a arte a um segundo plano, abdicando da poesia, de modo a se fazer entender, em cinema, cabem em documentários. Assuntos assim, postos de forma tão insistente, incisiva e cansativa, por mais justos que sejam precisam de um tratamento mais sutil, mais inteligente.
"Barbie" é um filme superestimado e supervalorizado pela própria expectativa fabricada em torno dele. Quando começou o ti-ti-ti a respeito do lançamento do filme tratou-se logo de esclarecer que não seria um filme bobinho, que não era o filme da "boneca", que "apesar de ser da Barbie", tratava-se de um filme com reflexões importantes. Ora, valor do tema não enriquece o valor da obra. Se é por isso os filmes da Marvel, da DC, de super-heróis deveriam sistematicamente concorrer a melhor filme uma vez que, por trás de todo aquele monte de saltos e explosões existem mensagens sobre a paz, racismo, etc. E, sinceramente, filmes de super-heróis valem tão pouco cinematograficamente quanto um filme de boneca. Como se não bastasse toda a comoção por um filme comercial bancado pela indústria de brinquedos, eu vejo uma choradeira pela não indicação da atriz principal, Margot Robbie para o Oscar na sua categoria. Ora, só quem não viu uma Meryl Streep em "Kramer vs. Kramer", uma Jodie Foster em "Acusados", ou uma Ana Magnani em "O Amor" que nem ganhou, pode exigir um Oscar para uma atuação não mais que... competente. Margot Robbie faz um papel de boneca, gente! Expressões forçadas, olhos arregalados, largos sorrisos, de vez em quando um choro, uma carinha tristinha, lá no final, no mundo real, algo um pouco mais consistente, mais humano, mas é só isso.
Entendo que nós homens precisamos ver e ouvir tudo isso, o puxão de orelhas é válido, todos somos Ken, as coisas têm que mudar, mas é dose pra elefante que um filme tão pueril como esse sirva como símbolo de tudo isso. O marketing e o convencimento foi tamanho que o público feminino, para o qual o filme foi mais especificamente direcionado, até 'perdoou' a Barbie por ser um objeto de opressão e condicionamento estético feminino por muito tempo. E não é o contraponto apresentado no filme, de que Barbie propõe que "você pode ser tudo o que quiser" que vai isentá-la de moldar padrões de beleza e intimidar mulheres que não tinham o mesmo perfil físico da boneca. Essa coisa de Barbie cheinha, Barbie negra, Barbie oriental, só foi produzida em grande escala de uns anos pra cá. Não me venha com essa!
Vão dizer, "Ah, mas você não gostou porque é homem". Já vi filmes com temas feministas sensíveis, peritnentes, bem mais válidos, interessantes e inteligentes que esse. "Bela Vingança", "Thelma & Louise", "Frida", "Huesera", "O Babadook", são só alguns exemplos.
"Ah, mas você não entendeu...". Entendi. Podem ter certeza que entendo e entendo a motivação. E exatamente por ter entendido é que entendo que não gosto do que vi, da obra em si, e fico pensando que "Barbie" até teria sido um bom filme de entretenimento se não tivesse se levado tão a sério.
Margot Robbie é uma grande atriz mas, sinceramente, em "Barbie" ela só faz "cara de boneca".
Cada vez menos tenho dado bola pra 'quem ganhou tal Oscar' ou 'quantos Oscar tal filme levou' mas dei uma olhada na festa de ontem, um pouco pelo glamour, um pouco pelo espetáculo, um pouco pela curiosidade e outro tanto, naturalmente, pelo meu gosto por cinema. O favorito para melhor filme era "Argo" e ele não contrariou as expectativas, embora já se soubesse que não ganharia melhor direção, pelo simples fato de seu realizador, Ben Affleck, não ter sido indicado; assim, Ang Lee por "As Aventuras de Pi", levou esta premiação, que somadas a outras 3 estatuetas de seu filme, fizeram da aventura fantástica do jovem Pi, o grande ganhador da noite.
Confira abaixo os demais vencedores:
foto: Mario Anzuoni/Reuters
Filme: “Argo”, de Ben Affleck Diretor: Ang Lee (“As aventuras de Pi”) Atriz: “Jennifer Lawrence (“O lado bom da vida”) Ator: Daniel Day-Lewis (“Lincoln”) Atriz coadjuvante: Anne Hathaway (“Os miseráveis”) Ator coadjuvante: Christoph Waltz (“Django livre”) Roteiro original: “Django livre” Roteiro adaptado: “Argo” Filme estrangeiro: “Amor”, de Michael Haneke (Áustria) Fotografia: “As aventuras de Pi” Montagem: “Argo” Figurino: “Anna Karenina” Maquiagem e penteado: “Os miseráveis” Documentário: “Searching for Sugar Man”,de Malik Bendjelloul Longa de animação: "Valente", de Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell Efeitos especiais: “As aventuras de Pi” Trilha sonora: “As aventuras de Pi” Canção original: “Skyfall”, de “007 — Operação Skyfall”, de Adele Direção de arte (Design de produção):“Lincoln” Curta-metragem de ficção: "Curfew", de Shawn Christensen,“Paperman” (animação) e “Inocente”, de Sean Fine e Andrea Nix (documentário) Mixagem do som: “Os miseráveis” Edição de som: “007 — Operação Skyfall”e “A hora mais escura” (empate)
“Licorice Pizza” não irá ganhar o Oscar se Melhor Filme em 2022. Isso é certo. O mais cotado é, de fato, “Ataque dos Cães”, de Jane Campion, mesmo que “O Beco.do Pesadelo”, do já ganhador desta estatueta Guillermo Del Toro, em 2018, com “A Forma da Água”, pareça o mais talhado entre os 10 títulos concorrentes – e embora “Amor Sublime Amor” e “O Ritmo do Coração” corram por fora. O filme de Paul Thomas Anderson, portanto, não figura entre os favoritos. Aliás – e isso não é um demérito – o cineasta norte-americano talvez nunca venha a obter este êxito, visto que o seu cinema, definitivamente, não confere em conceito com a badalada premiação da indústria cinematográfica, e o seu novo longa é mais uma prova disso.
Mas não se enganem: “Licorice...” é, por mais que pareça uma contradição, quiçá o melhor entre os candidatos nesta categoria junto com “Drive my Car” (outro que também não deve levar o Oscar de Melhor Filme, uma vez que, ao que tudo indica, o de Melhor Filme Internacional esteja lhe esperando). O filme de Anderson (cujo estranho título faz uma referência a uma loja de discos que realmente existiu, mas que não aparece em nenhum momento), conta a história de Alana Kane (Alana Haim) e Gary Valentine (Cooper Hoffman), dois jovens que, embora a diferença de 10 anos dela para ele, vivem a adolescência no Vale de San Fernando, no Sul da Califórnia do início dos anos 70, engendrando vários negócios juntos e flertando um com outro, mas também se desencontrando.
Comédia romântica com ares de nouvelle vague e realismo poético, “Licorice...”, que também é escrito por PT Anderson, diferencia-se, por isso, muito do que a Academia costuma prestigiar. Desde seu primeiro longa, “Jogada de Risco", de 1996, passando pelo genial “Boogie Nights” (1997) e pelo retumbante “Magnolia”, Melhor Filme em 1999 (só que em Berlim...), fica claro que o estilo de seu "cinema de autor" carrega singularidades que lhe aproximam bastantemente da escola europeia. Neste sentido, ele é muito mais peculiar do que seus contemporâneos Tarantino, Rodriguez e Nolan, todos também autorais mas com um pé muito mais firme em Hollywood do que ele. Com o forte “Sangue Negro”, de 2007 – para muitos, sua melhor realização –, pode-se dizer que Anderson tenha se esforçado para arrebatar o prêmio máximo do cinema, mas sua mão “pesada” o fez dar tons muito mais trágicos à história que os jurados da Academia estão acostumados.
trailer de "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson
A última tentativa de Anderson de levar esse bendito Oscar de Melhor Filme parece ter sido há quatro anos com “Trama Fantasma”, seu até então último longa e no qual repete a parceria com o excelente ator irlandês Daniel Day-Lewis. Porém, mesmo recebendo seis indicações (inclusive a de Filme), novamente sem sucesso. “Licorice...”, assim, dá a impressão de ser saudavelmente aquele filme em que o diretor disse a si mesmo: “Quer saber? Foda-se! Aceitem-me como eu sou!”. E deu muito certo. Descompromissado, o cineasta fez uma obra carregada de sentimentos, daquelas que ao mesmo tempo fazem emocionar terna e alegremente. É de encher o peito em uma gargalhada, mas também de soltar risos surpresos durante o decorrer por conta de seus diálogos e roteiro inteligentes.
Gary e Alana: feitos um para o outro (mas será que eles próprios sabem disso?)
Estão preservados elementos clássicos do estilo de Anderson: trilha sonora escolhida com esmero e paixão; ritmo de montagem que intercala agilidade com planos bem demorados, tributo a um de seus mestres, Martin Scorsese; planos-sequência realizados com bastante habilidade; o olhar especial para as musas, as quais invariavelmente dedica belos enquadramentos como faz desta vez com Alana; direção de atores bem encontrada entre o drama e a comédia; aparição de tipos exóticos impagáveis (Bradley Cooper, em uma ponta, arrasa fazendo o tresloucado playboy Jon Peters); mas principalmente, personagens que fascinam o espectador. Por que isso? Porque são, como sensivelmente fizeram Renoir, Carné ou Clair, pais do realismo poético francês ao qual o cinema de Anderson faz tributo, são capazes de construir personagens que refletem o interior humano equilibrando beleza e naturalidade. Os medos, as angústias, as aflições, os desejos, os amores. Alana e Gary, protagonistas a quem se torce para que fiquem juntos e parem com a infantilidade de se brigarem para fugirem do medo de não serem aceitos, são a tradução disso: gentes. Mas, claro: com o “filtro” mágico do cinema: não só o filtro da câmera, mas o do olhar.
Se não é o melhor entre todos da safra 2021/22, “Licorice...”, ao menos, é o que melhor cumpre um dos requisitos dos grandes filmes: o encerramento marcante. O cineasta conduz o espectador até o último segundo para, com sutileza, deixá-lo suspirando na poltrona com um sorriso no rosto – ou uma lágrima. Sabe aquele sabor de terminar de assistir “Nós que nos Amávamos Tanto”, “Pierrot le Fou” ou “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”? É este o sentimento que fica com "Licorice...". Tudo bem: “Ataque...”, “O Beco...” e “Drive...” também terminam muito bem. Mas é tão mais impactante sentir uma ponta de "cinema de arte", assim, tão espontaneamente numa produção norte-americana, que o valor se duplica. Neste caso, o melhor que PT Anderson pode fazer é não ganhar prêmio nenhum mesmo. Será sinal de que continuará fazendo seu cinema tão original quanto encantador.
Teve de tudo! Dessa vez teve cerimônia completa, casa cheia, números musicais, mestres de cerimônia e até porrada. Mas vamos começar pela cerimônia e pelos prêmios: pra compensar a premiação chocha do ano passado, bem discreta e quase intimista, por conta da pandemia, a Academia veio logo com três apresentadoras esse ano, Amy Shurmer, Regina Hall e Wanda Sykes que, muito inteligentes e bem-humoradas, conduziram a festa com competência, entregando, é claro, para os convidados apresentadores dos prêmios. E a propósito, na maior parte dos casos não houve muitas surpresas: "Duna" faturou os prêmio técnicos, Jane Campion confirmou o favoritismo para Direção; "Encanto" levou Animação; "Drive My Car", Filme Internacional, mas também tivemos premiações inéditas, como a do primeiro ator surdo a receber um Oscar, Troy Kotsur, e o próprio filme em questão, "No Ritmo do Coração", de certa forma surpreendendo ao desbancar "Ataque dos Cães" que levava algum favoritismo. Mas de uma cerimônia tão marcante por diversos fatores, protagonismo feminino, inclusão, diversidade, ineditismos, o que acabou mais chamando atenção, sem dúvida, foi o tapa na cara dado por Will Smith em Chris Rock por conta de uma piadinha, de mau gosto, envolvendo sua esposa. O que parecia, em princípio, mais uma brincadeira, mais uma encenação ensaiadinha dessas típicas de Hollywood, acabou se revelando uma indignação genuína de Smith quando ele, depois de subir ao palco e agredir o comediante, ao retornar para seu assento, continuou xingando e reafirmando sua ira, "Não mexa com o nome da minha esposa!", dizia furioso. Simplesmente inusitado. De certa forma, o incidente roubou a cena da festa, ainda que depois disso ainda viessem a ser anunciados vários prêmios importantes, inclusive o Oscar de melhor ator para o próprio Will. No fim das contas, numa edição que marcou a segunda conquista consecutiva de mulheres na direção, um ator deficiente auditivo sendo premiado, um filme de inclusão batendo um dos favoritos, vai acabar entrando para a história como aquela em que o Will Smith deu-lhe um sopapo no Chris Rock. Mas, mesmo sendo "fato secundário", vale a pena, também, a gente saber quem foram os premiados da noite. Vai aí:
Agora sim posso declarar o meu ponto de vista sobre "Bravura Indômita". Ainda não
tinha assistido ao primeiro filme, que foi dirigido por Henry Hathaway, em
1969. Em 2010, foi filmado o remake
dos irmãos Joel e Ethan Coen. O filme gerou críticas positivas, mas nem todo
mundo gostou e as semelhanças entre ambas produções são grandes. A fotografia
do primeiro filme, que foi quase todo filmado com luz de outono, é esplêndida e
brilhante, muitas vezes parece saída de um quadro de época. Creio eu que John Wayne
deva ter amado filmar "Bravura", pois o ator passava o tempo todo
bebendo de verdade, algo que já era normal em seus filmes. Muitos dizem que seu
personagem era uma paródia de si mesmo, tanto que lhe deu o único Oscar da
carreira, merecido, é claro, e com muito álcool.
Outro ponto a destacar do longa de Hathaway, o qual não
canso de repetir, é sobre a habilidade do Duke com o cavalo. Em diversas cenas
isso é explícito, inclusive na cena final em que ele pula uma cerca alta,
dispensando o dublê. A forma como ele manejava as armas demonstra certamente
que em outra vida ele foi um cowboy
de verdade. Todo o elenco desse filme é ótimo, da maravilhosa atriz adolescente,
Kin Darby, a um iniciante Dennis Hopper e o já careca Robert Duvall.
trailer "Bravura Indômita" (1969)
cartaz da versão dos
irmãos Cohen, de 2010
Na versão dos Cohen,
praticamente idêntica em história ao de Hathaway, os diretores dão seu pitaco
estilístico e o deixam mais "sujo", mas não menos violento e satírico
que o primeiro. Depois de assistir, cheguei à conclusão que Jeff Bridges é o único
ator neste planeta que conseguiria com seu estilo errante e versátil estar à
altura de Wayne para reviver o personagem de "Rooster" Cogburn. Pena
não ter sido tão reconhecido, porque ele também merecia o Oscar. E o filme foi
indicado a vários prêmios, perdeu em quase todos. Hailee Steinfeld que fez a
menina Mattie Ross no segundo filme, e está no meu panteão das grandes atuações
femininas do cinema atual. O elenco também conta com os bons atores Matt Damon
e Josh Brolin.
Resumindo, os filmes são diferentes mas ao mesmo tempo
parecidos. Hoje, revendo pela ótica dos Coen, os diretores e produtores foram
muito corajosos e ousados ao fazer um remake
que muitas vezes se sai melhor que o original, acertaram em tudo, desde a
escolha dos atores a toda equipe técnica, que foi indicada para um penca de
Oscar. Voto final: em direção, prefiro os Coen; roteiro, os Coen; entre Wayne e
Bridges, dá empate; fotografia, fico com o de 1969; Mattie Ross, meu voto vai
para Haillee Stenfield; Ranger La Boeuf, vitória de Glen Campbell; e sobre os
dois filmes, ambos são ótimos.
O ator Chiwetel Ejiofor em "12 Anos de Escravidão": essencial
A morte precoce do ator Chadwick Boseman deixou de luto seus fãs e cinéfilos do mundo inteiro. Sua partida marcou principalmente a comunidade negra, que tinha no artista afro-americano um símbolo de representatividade e de empoderamento em um mundo ainda pautado pelo racismo e pela discriminação. Ao encarnar o super-herói “Pantera Negra”, Boseman se transformou em uma referência. Mas, antes dele, muitos outros personagens negros do cinema também deram sua contribuição para essa história de reconhecimento e pertencimento. Por conta disso, fui convidado pela Cinemateca Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, em nome de sua programadora, a jornalista Mônica Kanitz a destacar alguns destes filmes, que figuram neste vídeo especial produzido pela instituição. Confira o vídeo e a lista dos respectivos filmes aos quais selecionei.
Vídeo"Chadwick Boseman e Outros Protagonistas Negros no Cinema" Cinemateca Paulo Amorim
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1 -"Adivinhe Quem Vem para Jantar", de Stanley Kramer (1967)
Em São Francisco, Matt Drayton (Spencer Tracy) e Christina Drayton (Katharine Hepburn), um conceituado casal, se choca ao saber que Joey Drayton (Katharine Houghton), sua filha, está noiva de John Prentice (Sidney Poitier), um negro. A partir de então dão início à uma tentativa de encontrar algo desabonador no pretendente, mas só descobrem qualidades morais e profissionais acima da média. Primeiro filme a abordar o tema do racismo e dos conflitos nas relações socioraciais. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Hepburn), Melhor Roteiro Original (William Rose) e Melhor Ator (Tracy).
2 -"Faça a Coisa Certa", de Spike Lee (1989)
Numa pizzaria no bairro do Brooklyn, NY, onde a maioria da população é negra, há uma parede com fotos de ídolos ítalo-americanos. Quando o ativista Buggin' Out (Giancarlo Esposito) pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega, inicia-se um boicote ao lugar, o que desencadeia uma série de incidentes. Spike Lee surgia para o mundo com essa obra-prima marcante na história do cinema e da causa negra diretamente contundente contra o racismo. Indicado a dois Oscars, incluindo o de Melhor Roteiro Original.
3 - "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen (2013)
Adaptação da autobiografia homônima de 1853 de Solomon Northup, conta a história real de um negro livre nascido em Nova Iorque, que é sequestrado em Washington e vendido como escravo. Ele trabalhou em plantações no estado de Louisiana por 12 anos antes de sua libertação, passando por todo tipo de sofrimento, violência e desumanidade. Primeiro filme de um cineasta negro a ganhar o Oscar de Melhor Filme, além de ter conquistado também os de Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o) e Melhor Roteiro Adaptado (John Ridley).
4 - "Madame Satã", de Karim Ainouz (2002)
O filme retrata a vida de uma referência na cultura marginal urbana do Rio de Janeiro, o célebre transformista João Francisco dos Santos. Malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre, homossexual, o artista, conhecido como "Madame Satã", se transformou num mito da vida boêmia carioca. Entre os vários prêmios, que recebeu, destacam-se o de Melhor Filme no Chicago International Film Festival, o Prêmio Especial do Júri para melhor primeiro trabalho (Ainouz) no Festival de Havana e os quatro que abocanhou no Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, incluindo o de Melhor Ator para Lázaro Ramos.
5 -"Pantera Negra", de Ryan Coogler (2018)
Após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, T’Challa (Chadwick Boseman) volta para casa para a isolada e tecnologicamente avançada nação africana para a sucessão ao trono e para ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho e poderoso inimigo, o valor de T’Challa como rei – e como Pantera Negra – é testado quando ele é levado a um conflito formidável que coloca o destino de Wakanda, e do mundo todo em risco. Marco na história do cinema, "Pantera..." é o primeiro filme com um super-herói negro, o personagem criado nos anos 60 por Stan Lee, e também um símbolo necessário para uma época de empoderamento de homens e mulheres negras. Levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Ludwig Göransson), Figurino (Ruth E. Carter) e Direção de Arte para Hannah Beachler, também a primeira negra a ganhar a estatueta nesta categoria.