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segunda-feira, 5 de março de 2018

Oscar 2018 - Os Vencedores



Frances McDormand, uma das atrações da noite,
conclamou suas colegas a erguerem-se
em nome da igualdade de oportunidades.
E viva México! Parece que nos últimos tempos a festa do Oscar passou a ser uma grande celebração mexicana. Nos últimos cinco anos, nada mais nada menos do que em quatro oportunidades diretores daquele país receberam prêmio de melhor direção, sendo que em duas delas fizeram dobradinha filme/diretor. Não é pouca coisa! Desta vez foi a poesia visual fantástica de Guillermo del Toro, "a Forma da Água" quem conquistou a academia e levou os principais prêmios da noite para casa. Para completar a festa mexicana, "Viva - A vida é uma festa" bateu o favorito "Com amor, Van Gogh" e faturou o prêmio de animação e levou de quebra ainda o de melhor canção original.
De um modo geral não houve grandes surpresas e os prêmios ficaram bem distribuídos. "Dunkirk", de Christopher Nolan, dominou nos prêmios técnicos levando em três categorias, "Três Anúncios para um Crime" teve premiadas suas atuações individuais com prêmios de ator coadjuvante e atriz principal e "O Destino de Uma Nação", além do Oscar de maquiagem garantiu o primeiro e merecidíssimo troféu para Gary Oldman. "Blade Runner 2049 também ficou com dois, o de efeitos especiais e fotografia e nas categorias de roteiro, o elogiadíssimo "Me chame pelo seu nome" ficou com o de adaptado e o inusitado "Corra!" o de roteiro original, premiando o primeiro roteirista negro no Oscar. Destaque também para a categoria de filme estrangeiro, vencida pela produção chilena "Uma mulher fantástica", que trouxe a primeira protagonista transexual da história no Oscar.
Ao contrário do que eu imaginava, considerando a cerimônia do Globo de Ouro, as manifestações feministas e as questões de assédio não roubaram a cena. Frances McDormand, no entanto, vencedora do prêmio de melhor atriz, não deixou passar a oportunidade e o assunto, e numa manifestação oportuna e na medida certa, lembrou a desigualdade de oportunidades nos estúdios e pediu o apoio de todas as mulheres presentes, ao que foi atendida prontamente com uma salva de palmas em pé.
Numa cerimônia sem percalços ou imprevistos conduzida de maneira bastante competente por Jimmy Kimmel, os mesmos protagonistas do episódio da troca de envelopes do ano passado, Warren Beatty e Faye Dananway, foram chamados novamente, para desta vez anunciarem, sem susto, "A Forma da Água" como grande vencedor de 2018.
Olha, tô achando que a Academia tenha que começar a tomar medidas tipo as do Trump pra barrar esses chicanos porque eles não sabem brincar: se deixar participar, os caras levam.

Confiram abaixo todos os premiados da noite.


Guillermo del Toro o grande vencedor por seu
"A Forma da Água"
MELHOR FILME
A Forma da Água

MELHOR DIREÇÃO
Guillermo del Toro (A Forma da Água)


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A Forma da Água



MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água

MELHOR ATOR
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

MELHOR ATRIZ
Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Alison Janney (Eu, Tonya)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Corra!

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Me Chame pelo Seu Nome

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Viva - A Vida é uma Festa

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Uma Mulher Fantástica (Chile)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Ìcaro

MELHOR FOTOGRAFIA
Blade Runner 2049

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Remember Me" (Viva - A Vida é uma Festa)

MELHOR FIGURINO
Trama Fantasma

MELHOR MAQUIAGEM
O Destino de uma Nação

MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
Blade Runner 2049

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Dunkirk

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Dunkirk

MELHOR EDIÇÃO
Dunkirk

MELHOR CURTA-METRAGEM
The Silent Child

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Dear Basketball

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Heaven is a Traffic Jam on the 405




C.R.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Os Imperdoáveis - O Último Grande Western




Engana-se quem pensa que Sergio Leone foi a grande inspiração para Clint Eastwood se tornar diretor. Clint sempre considerou como seu maior mentor Don Siegel, sobre o diretor ele disse; “Acho que aprendi mais sobre direção com Don do que qualquer outra pessoa no mundo”. Antes mesmo de conhecer Siegel e até mesmo Leone, Clint atuou em um famoso seriado Cowboy dos anos 60, chamado Rawhide, lá ele começava a ensaiar os primeiros passos da direção, tinha ideias de takes e movimentos de câmera, chegou a se oferecer para dirigir episódios, mas os produtores negaram. Após uma pausa nesta produção, Clint rumou para Itália onde iria filmar com um tal de Leone, que não falava inglês e já tinha trabalhado em produções americanas ao lado de; Wyllian Wyler, Fred Zinnemann entre outros. Este momento mudaria a vida do ator para sempre, ele se tornaria um grande astro na Europa e posteriormente nos EUA, com Leone, Clint começava a perceber algo diferente da estética Hollywoodiana de fazer um filme, algo que o tocou profundamente e para sempre.

Don Siegel tinha um temperamento forte e muito parecido com o de Clint, mas ambos se deram muito bem, Siegel queria um pupilo, Clint era o cara certo, e exatamente por esta afinidade de personalidade com a do diretor. Don ensinou tudo que pode ao seu garoto, técnicas de filmagens, postura, fotografia, roteiros e moldou seu caráter no cinema, além de ator o transformou em um diretor promissor e ganhador de Oscar, um dia o roteiro de Os Imperdoáveis bateria a sua porta, até lá ele estaria preparado. Na biografia de Eastwood o crítico Brett Westbrook comenta que; “Os Imperdoáveis deram fim a trajetória iniciada com "Por um punhado de dólares”. Este filme seria uma metáfora para a volta do “homem sem nome” dos filmes de Leone, seria o gran finale do Western e ao mesmo tempo uma critica contra violência. “Eu devo esse filme ao western e por tudo que ele me deu, quero que em meu filme as pessoas morram com um motivo”, disse o diretor. Segundo os produtores, Clint o faria de olho fechado e a seu modo, a produção foi rodada com baixo custo e rapidamente, cerca de um mês tudo estava pronto. Sua produtora a Malpaso foi responsável pela escolha do elenco que era fenomenal, com veteranos como Richard Harris, Gene Hackman e Morgan Freeman que tinha a pouco ganhado um Oscar. O próprio diretor seria o protagonista principal e viveria um pistoleiro lendário, mas meio fora de forma e que remetia ao seu personagem dos filmes de Leone. Elementos como racismo, sexo e violência fariam parte da trama que tinha um roteiro impecável e com poucas mudanças. Quando acabaram as filmagens a produtora organizou um grande trabalho de divulgação para a mídia, o velho Clint queria o prêmio a todo custo e o merecia realmente.

No dia do Oscar em 1993, Clint papou quatro estatuetas, incluindo melhor filme, diretor, roteiro e ator coadjuvante para Gene Hackman. Clint chegou a ser indicado para melhor ator, mas perdeu para Al Pacino que merecia (Perfume de Mulher). O filme faturou 160 milhões de dólares, ganhou quatro Oscar, vários prêmios e excelentes críticas de todos os lados. Clint tinha chegado ao auge aos 62 anos, mesma idade com que John Wayne chegou ao topo ao ganhar o único Oscar de sua vida por "Bravura Indômita" em 1969.

Eu considero "Os Imperdoáveis" o último grande Western de todos os tempos, ele encera de forma metafórica as eras de todas as gerações de filmes, diretores, atores e produtores que se dedicaram ao gênero e subgênero, tanto nos EUA e Europa, foi o cartucho final dos grandes Westerns, uma homenagem justa e autêntica de um verdadeiro filho do estilo, que ainda diria; “depois de tudo isso eu me sinto cansado, depois de tudo isso eu farei filmes”. Como grande aluno Eastwood nunca esqueceria seus bons professores e ainda dedicaria a eles sua maior obra prima, na linda fotografia do final do filme, dois conhecidos nomes subiriam nos créditos, Sergio Leone e Don Siegel, aos mestres com carinho, Clint Eastwood. Don tinha partido havia um ano e com certeza  e onde estivessem, os dois sorriram agradecidos.



segunda-feira, 13 de março de 2017

ARQUIVO DE VIAGEM – Caminho Niemeyer - Niterói/RJ – 04/01/2017




“Não foi difícil projetar para Niterói, porque esta é uma cidade de orla tão bela que possibilita a criação a céu aberto, como um itinerário cultural e religioso.” 
Oscar Niemeyer

Já havia ido duas vezes a Niterói por conta, obviamente, do Museu de Arte Contemporânea, o MAC, aquele monumento que a cidade carioca abriga. Entretanto, sempre tivemos curiosidade de conhecer também o Caminho Niemeyer, altamente recomendado por concentrar o segundo maior conjunto arquitetônico assinado por esse genial brasileiro depois de Brasília, e também por estes serem alguns de seus últimos projetos construídos. Aliás, Oscar Niemeyer nos é um dos fatores turísticos mais instigantes sempre que viajamos, e isso em várias partes do mundo. Embora conheçamos pessoalmente apenas algumas delas e apenas brasileiras, todo local que conte com construções suas, seja São Paulo, Belo Horizonte, Tel Aviv, Paris, Milão ou Nova York, são, se não pelo óbvio, destinos turísticos interessantes também por conterem obras do arquiteto em suas paisagens.

Pois é a paisagem litorânea de Niterói, beirada à Baía de Guanabara e a qual se contempla a cidade do Rio de Janeiro ao fundo, que faz cenário para o Caminho Niemeyer, que finalmente visitamos Leocádia, Carolina e Iara em nossa estada no Rio em dezembro. Ao todo, ali na Praça Popular de Niterói, são 3 prédios – sem contar com o administrativo, simples mas bonito: a Fundação Oscar Niemeyer, o Memorial Roberto Silveira e o Teatro Popular de Niterói. Mas ao longo da orla da cidade há também outros edifícios espalhados: o Terminal de Barcas de Charitas, o Centro Petrobras de Cinema e a Praça JK. Da catedral da cidade, que deve ser erguida, vimos o lindo projeto: um alto prédio que remete a um galero religioso.

O exuberante teatro com formar que
lembram o corpo feminino
Embora não tenhamos conseguido entrar em nenhum deles, visto que fomos num horário da manhã que não havia nenhum funcionamento, admirar os prédios e integrar-se com eles já vale a visita à Praça. O Teatro Popular é um desbunde. Com traços artísticos que lembram o curvilíneo corpo feminino, dialoga com outras de suas últimas obras, como o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba. É o prédio que mais interage com a natureza da Baía entre todos dali, até pela proximidade com o mar. Isso se percebe tanto no foyer inferior, com pilotis espaçados que lhe conferem profundidade e amplitude, quanto no andar de cima, entre o mural com a marcha do MST e a entrada para o teatro. O desenho da bailarina, o mesmo do MON, está lá em impressão feita sobre os ladrilhos. Por falar no traço de Niemeyer, o espetacular mural, propositadamente incompleto, traz a ideia das transformações sociais ainda em curso em que o povo virá a protagonizar na ideia sonhadora do comunista Niemeyer. O Teatro traz ainda os vidros escuros que abrem “olhos” na arquitetura, mesmo material usado nos outros prédios, dando unidade ao complexo.

O Memorial Roberto Silveira lembra bastante a Oca do Ibirapuera, em São Paulo, e o Museu Nacional da República Honestino Guimarães, de Brasília, mas num formato menor, como uma pequena nave espacial branca ali assentada. Já o da Fundação Oscar Niemeyer – cujo conteúdo original fora transferido para a sede da mesma em Brasília, estando atualmente funcionando uma sessão administrativa da prefeitura de Niterói – foi possível subir a rampa curva e admirar o olho d'água logo abaixo, que dialoga com a Baía de Guanabara  (assim como, mais adiante mas dentro do mesmo complexo de obras, o MAC o faz novamente, porém espelhando do alto do morro a água do mar).

Não deu pra tirar mais fotos, que o sol começou a ficar castigante a certa altura, mas esses registros aqui dão noção do quão deslumbrante é.

Espaço amplo do foyer com vista para a cidade do Rio

Leocádia integrando-se à arquitetura do Teatro do Povo

Eu em frente ao belíssimo painel desenhado por Niemeyer em homenagem à luta no campo

Caminhando em direção à Oca

Na entrada do Memorial Roberto Silveira 

Mais um detalhe do fabuloso Teatro, as bailarinas, as mesmas vistas no MON, em Curitiba

Na rampa de acesso ao prédio da Fundação Niemeyer


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa, Carolina Costa e Daniel Rodrigues

segunda-feira, 13 de março de 2023

Oscar 2023 - Os Vencedores




Michelle Yeoh, vencedora como Melhor atriz no Oscar 2023
Michelle Yeoh, a primeira asiática
a ganhar o Oscar de melhor atriz.
Você pode até não ter gostado de "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", pode ter achado tudo aquilo uma loucurada sem fundamento, mas não tem como negar que poucas vezes se viu algo parecido. Drama, comédia, aventura, uma montagem alucinante, uma história dentro da outra, várias histórias dentro de uma, universo, multiverso, personagens que não são aquilo que parecem, outros que são vários ao mesmo tempo... Até por tudo isso, pelo ineditismo, pela originalidade, pela ousadia, acho que a Academia não tinha como ignorar o fenômeno que estamos presenciando. O filme dos "Daniels", Kwan e Scheinert, levou 7 das onze estatuetas que disputou na noite de ontem, na cerimônia do Oscar, em Los Angeles e entrou para a galeria dos grandes vencedores, daqueles que além de fazer quantidade, levam os prêmios mais significativos, aqueles que atestam a majestade da obra, melhor filme e diretor.
A produção alemã "Nada de novo no front" foi outro destaque da noite, levando 4 prêmios, incluindo filme internacional. "A Baleia" ficou com dois, um deles para a excepcional atuação de Brendan Fraser, batendo o também impressionante Elvis de Austin Butler. De resto, os prêmios ficaram bem distribuídos. O ótimo "Pinóquio", de Guillermo Del Toro, com muita justiça, levou o prêmio de melhor animação; os badalados "Avatar" e "Top Gun: Maverick", ganharam um prêmio técnico, cada um e o novo "Pantera Negra" levou o de melhor figurino.
"Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", dominou também os prêmios de atuação, o que não chega a ser uma surpresa para mim, embora minhas preferências, nos três casos, melhor ator e atriz coadjuvantes e atriz, fosse diferente das escolhidas, especialmente no último caso, na qual considerava a atuação de Cate Blanchett, por "Tár" absolutamente incrível e superior, embora não veja nenhum absurdo no reconhecimento da  Academia pela ótima e versátil performance de Michelle Yeoh.
No mais, emocionantes discursos da própria Yeaoh, valorizando a mulher e desfazendo tabus  e mitos sobre a idade; de seu parceiro de filme Ke Huy Quan, vencedor como coadjuvante; da figurinista de "Pantera Negra", Ruth E. Carter, enfatizando o valor da mulher negra; do emocionado Brendan Fraser, cuja carreira parecia ter ido pelo ralo até, de repente, ressurgir com um papel dessa magnitude; e ainda da esposa do ativista russo Alexei Navalny, que encontra-se preso por sua luta contra o regime de Vladimir Putin, retratado no documentário "Navalny", vencedor em sua categoria.
Quer conhecer também todos os outros vencedores? Dá uma olhada, então, aí.

Segue abaixo a lista com todos os ganhadores do Oscar 2023:



- Melhor Animação:
Pinóquio

- Melhor Ator Coadjuvante:
Ke Huy Quan - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Atriz Coadjuvante:
Jamie Lee Curtis - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Documentário:
Navalny

- Melhor Curta-metragem:
The Irish Goodbye

- Melhor Fotografia:
Nada de novo no front

- Melhor Cabelo e Maquiagem:
A Baleia

- Melhor Figurino:
Pantera Negra: Wakanda Forever

- Melhor Filme Internacional:
Nada de novo no front

- Melhor Documentário em Curta-metragem:
Como cuidar de um bebê elefante

- Melhor Curta-metragem de Animação:
O menino, a toupeira, a raposa e o cavalo

- Melhor Direção de Arte:

Nada de novo no front

- Melhor Trilha Sonora Original:

Nada de novo no front

- Melhores Efeitos Visuais:
Avatar, O Caminho da Água

- Melhor Roteiro Original:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Roteiro Adaptado:
Entre Mulheres

- Melhor Canção Original:

Naatu Naatu - RRR

- Melhor Som:
Top Gun: Maverick

- Melhor Montagem:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Direção:

Daniel Kwan e Daniel Scheinert - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Ator:
Brendan Fraser - A Baleia

- Melhor Atriz:
Michelle Yeoh - Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

- Melhor Filme:

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo



C.R.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Aqueles 10 filmes argentinos imperdíveis

 

Darín, o grande astro do cinema argentino
contemporâneo e presente em várias obras
Este post vem cumprir uma promessa feita há alguns anos. Conversávamos eu e dois colegas de trabalho durante o almoço e, papo vai, papo vem, lá pelas tantas o assunto caiu – como não é incomum de acontecer comigo e amigos meus – em cinema. O tema: cinema argentino contemporâneo. Compartilhamos ali do mesmo gosto pelo cinema realizado pelos hermanos e começamos a falar sobre nossas preferências dentro desta cinematografia. Foi então que, percebendo-se que alguns dos títulos dos quais eu comentava ambos não tinham visto ainda, eles ficaram curiosos para conhecer e tratamos de que eu fizesse uma lista com os meus filmes argentinos preferidos.

A lista, como se vê, não saiu em seguida. Voltamos do almoço para nossos postos e as obrigações nos fizeram esquecer de qualquer ludicidade. Mas os anos se passaram e o cinema da Argentina segue muy bien, gracias. Vários filmes foram produzidos neste meio tempo, inclusive dignos de comporem uma lista como esta além dos que já haviam sido realizados até então quando daquela nossa conversa. A bem da verdade, desde o brilhante “A História Oficial”, o primeiro Oscar de Melhor Filme para um argentino, em 1985, isso já se anunciava. A meu ver, no entanto, não foi com o hoje cult “Nove Rainhas”, de 2000, o start, pois o ainda considero imaturo e artificial. Porém, o filme, mesmo com suas inconsistências, já era o sinal que o curso do Rio do Prata havia sido achado. A partir dali, só foi “golazo”.

O contundente "A História Oficial":
1º Oscar da Argentina
Pois a indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional de “Argentina, 1985”, certamente um dos novos entrantes deste rol, fez-me resgatar a ideia agora atualizada. Esta amostragem aqui, então, vem resgatar – mesmo com este atraso do tamanho do Obelisco – a tal promessa. As 10 indicações servem tanto para estes meus amigos (espero que esta postagem chegue a eles) como qualquer um que também admire o melhor cinema feito na América Latina nos últimos 30 anos. Sim, porque a Argentina certamente passou o Brasil neste quesito, o que se reflete inclusive nas conquistas e na simples comparação entre um cinema e outro durante este tempo. (e olha que o cinema brasileiro se tornou bastante pujante nas últimas duas décadas!)

Mas não tem comparação: é na terra de Gardel que se atingiu um nível muitas vezes de excelência (e de exigência) técnica que contamina uma grande parte da produção cinematográfica do país. Seja nos roteiros bem escritos, seja na técnica de nível “primeiro mundo”, seja na habilidade cênica, seja no carisma e competência de símbolos desse cinema, como o principal deles: Ricardo Darín. Mas não somente ele: Oscar Martínez, Martina Gusmán, Dario Grandinetti, Leonardo Sbaraglia, María Onetto e outros que brilham nas telas. Tudo está a serviço de um cinema eficiente, que sabe contar bem (e com criatividade) uma história. Um cinema que achou o tão almejado equilíbrio entre arte e entretenimento.

E como se trata de uma produção vultosa (inclusive aqueles que eu nem assisti), teve, claro, o que ficou de fora. Mas se quiserem incluir “Leonera” (Pablo Trapero, 2008), “A Odisseia dos Tontos” (Sebastián Borensztein e Eduardo Sacheri, 2019), “Koblic” (Borensztein, 2016), “Elefante Branco” (Trapero, 2012) e “Neve Negra” (Martín Hodara, 2017), sintam-se perfeitamente à vontade, que também merecem toda audiência.

***********

“O Segredo de Seus Olhos”, Juan José Campanella (2009)

Não se poderia falar em lista de melhores filmes argentinos sem incluir “O Segredo...”. Afinal, não se trata apenas de um dos melhores da história de seu país, mas, tranquilamente, da década de 2000 em todo o mundo, no mesmo patamar de "Match Point", "Cidade dos Sonhos", "Elefante" e "Onde os Fracos não Tem Vez". Muito teria para se falar do filme de Campanella: a atuação sublime de Ricardo Darín, o hipnotismo que a musa Soledad Villamil causa no espectador, do merecido Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, do impressionante plano-sequência do jogo de futebol, enfim. Mas o que pauta esta grande obra é, definitivamente, sua trama, tão envolvente quanto literária, visto que extraída com maestria por Campanella do livro de Eduardo Sacheri (que, aliás, colabora com o roteiro). Thriller, romance, comédia, policial, aventura, drama. Um pouco de tudo e tudo muito bem amarrado. (Amazon Prime)


“Abutres”, Pablo Trapero (2010)

Aqui, duas recorrências próprias do atual cinema da Argentina. A primeira delas, obviamente, é Ricardo Darín, que estrela vários filmes dessa lista e muitos outros dignos de estarem aqui mencionados também. A outra repetição é Trapero, o mais talentoso cineasta de sua geração na Argentina. Em ”Abutres”, ambos dão um show. Numa trama que, como é de costume aos argentinos, envolve drama, denúncia e história de amor, o filme trata de um advogado especializado em acidentes rodoviários, que descobre um esquema de corrupção e desvio de dinheiro às custas do sofrimento de pessoas simples. A cena final, sem dar spoiler, além de um surpreendente desfecho da história, tem o recurso de plano-sequência característico aos encerramentos dos filmes de Trapero. (Star Plus)


“Medianeiras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, Gustavo Taretto (2011)

Comédia romântica, mas não como os enlatados de Hollywood, e sim com um olhar muito próprio da vida contemporânea na era que tudo impele a ser digital – inclusive as relações amorosas. Ganhador de melhor direção e melhor longa estrangeiro no Festival de Gramado, “Medianeiras” narra os encontros e desencontros de Martín e Mariana, os protagonistas-símbolo de uma geração emparedada pelas linhas simétricas das metrópoles. Solidão, neuroses, traumas, aflições, desilusões. Tudo sob o olhar da selva de concreto chamada Buenos Aires, que se revela como uma personagem onipresente. Para quem ama comédias românticas inteligentes como “Encontros e Desencontros”, “Bar Esperança”, e “(500) Dias com Ela”, pode por pra rodar “Medianeiras”, que o longa de Taretto é deste naipe. 


“O Clã”, Pablo Trapero (2015)

Trapero de novo. E aqui impecável. A assustadora história da família acima de qualquer suspeita, os Puccio, que sequestra pessoas ricas, cobra o resgate e assassina as vítimas assim que coloca a mão no dinheiro, guarda o aspecto de crítica político-social própria do cinema argentino. Baseado num caso real, mais do que apenas evidenciar fragilidades de seu país, “O Clã” revela perversidades obscuras sorrateiramente entranhadas na sociedade platina. Afinal, como duvidar que tamanha maldade aconteça numa sociedade que, em parte, acolheu uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina? Memoráveis as cenas em que "Afternoon Tea", da Kinks, rola enquanto o circo de horrores acontece e, como de praxe quando se trata deste cineasta, o plano-sequência. Vencedor do Urso de Prata de Melhor Diretor em Veneza, Trapero faz seu melhor filme - e isso significa bastante considerando sua filmografia quase irretocável. (Star Plus)


“Relatos Selvagens”, Damián Szifron (2014)

A tradição dos filmes de episódios dos europeus e mesmo do Brasil nos anos 60 e 70 é inteligentemente recuperado, claro, pelos argentinos. E que filme! Potente, ferino, mordaz, grotesco. "Relatos Selvagens" reúne seis histórias distintas, que se complementam entre si por um fio condutor subjetivo mas evidente: o conflito entre barbárie e civilização. E pior: a primeira, fatalmente, sempre vence de algum jeito, seja nas vias de fato após, seja com uma bomba que exploda tudo. Darín, igualmente, não poderia estar de fora, estrelando o episódio em que um engenheiro de minas que se revolta contra o sistema e resolve se vingar com aquilo que ele melhor sabe fazer: explodir bombas. Embora não tenha levado, foi selecionado para os dois maiores prêmios do cinema mundial: a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. (HBO Max e Amazon Prime)


"O Pântano”, Lucrécia Martel (2001)

Além do já mencionado Trapero, o cinema argentino conta com vários outros cineastas talentosos. Porém, nenhum deles possui um estilo tão pessoal como Lucrécia Martel. Dona de um cinema de linhagem moderna carregado e perspicaz, ela vale-se da dificultação do olhar e da fragmentação narrativa para expressar sentimentos e angústias da sociedade contemporânea, adentrando nas profundezas de seus personagens. Texturas, sensorialidades e densidade se homogeizam para expor tensões interpessoais, que se encaminham fatalmente para o pior. Uma reflexão visceral sobre classe, natureza, sexualidade e política, e uma das mais aclamadas estreias de realização contemporâneas. Prémio para Melhor Primeira Obra no Festival de Cinema de Berlim.


“Um Conto Chinês”, Sebastián Borensztein (2011)

O típico filme do novo cinema da Argentina: comédia dramática, com roteiro envolvente, referência a traumas nacionais (Guerra das Malvinas), um toque de romance e, claro, a estrela de Ricardo Darín. A trama é relativamente simples, mas convidativa: o ranzinza Roberto (Darín) trabalha numa loja de ferragens e vive de maneira metódica, mas sua rotina muda quando um chinês que não fala uma palavra de espanhol aparece em seu caminho, e ele decide ajudar o adorável forasteiro. Longe de se resumir a uma fórmula como no tradicional cinema comercial, “Um Conto...” faz uso desses elementos narrativos para compor um filme divertido e delicioso de se assistir, sem deixar de propor reflexão. Diversão com cérebro. Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano. (Star Plus)


“Vermelho Sol”, Benjamín Naishtat (2019)

Esqueça o formato "diversão inteligente" de “Relatos...”, o toque romântico de “O Silêncio...” a comicidade de “Um Conto...”. “Vermelho Sol” é pura tensão e embrulho no estômago. Contando a história de um advogado arrogante, que vê sua vida perfeita desmoronar quando um detetive particular chega na sua pacata cidade para investigar um desaparecimento, o longa de Naishtat se assemelha a filmes marcantes do cinema que souberam narrar, com acuidade, o "começo do fim", como “A Fita Branca”, de Michael Haneke, para com a Primeira Guerra, ou “O Ovo da Serpente”, de Ingmar Bergman, que previa o que levou ao Holocausto. Duro, forte e absolutamente real. Afinal, por trás dos segredos dos personagens de “Vermelho...” havia uma ditadura militar se anunciando. Premiado em diversos festivais, como Toronto, Havana, San Sebastian, Rio de Janeiro e Recife.


“Nascido e Criado”, Pablo Trapero (2006)

Antes de “Leonera”, de “Abutres” e de “O Clã”, Trapero realizou está pequena obra-prima tocante e profunda sobre os limites da existência, confrontando o inato e a superfície, a natureza e a convenção social. Conta a história da família de Santiago, um jovem dedicado à decoração e à restauração de antigos objetos, que vive um repentino acidente na estrada, o qual desencadeia uma tragédia familiar e um violento giro em sua vida. Numa paisagem gelada do extremo-sul argentino, Santiago, irreconhecível, reaparece empregado num aeroporto perdido no fim de mundo. O cineasta volta sua lente para dois interiores: o humano e o das paisagens rústicas do pampa, para onde o personagem principal se refugia de si próprio. Na mesma medida, Trapero, dado a este olhar penetrante, atinge outro interior: o do espectador. (Prime Vídeo)


“Argentina, 1985”, Santiago Mitre (2022)

Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro (não levou o Oscar por pouco, pois merecia muito mais do que o badalado “Sem Novidades no Front”), "Argentina, 1985" narra a história verídica dos promotores públicos Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, que ousaram investigar e processar a ditadura militar mais sangrenta da Argentina. Sob forte pressão política, pública e militar, a dupla, amparada por uma jovem equipe de universitários engajados, encabeçou uma longa pesquisa antes de começar a julgar os cabeças do regime argentino naquele que é conhecido como Julgamento das Juntas. Não apenas Darín, que faz Strassera, mas Juan Pedro Lanzani, no papel de Ocampo, estão fenomenais. Igualmente, magnífica a cena da leitura da acusação no tribunal, um dos textos mais pungentes que o cinema latino-americano já viu. (Prime Video)




Daniel Rodrigues

segunda-feira, 11 de março de 2024

Oscar 2024 - Os Vencedores

 


"Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, faturou sete Oscar na cerimônia deste domingo à noite. com seu
Christopher Nolan, finalmente, ganhando seu
tão aguardado Oscar.
A noite deste domingo, dia 10 de março, marcou a cerimônia da 96ª edição do Oscar, na qual "Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, foi o grande vencedor, com sete estatuetas, mas com grande destaque para "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos, que levou quatro.

Apresentada pelo comediante Jimmy Kimmel, a festa não teve grandes novidades nem surpresas. A presença de cinco apresentadores, todos já vencedores, para apresentar os prêmios de atuação foi algo interessante, John cena apresentando "pelado" o prêmio de figurino foi engraçado, Slash, do Guns'n' Roses, dando uma canja na performance de "I'm Just Ken" foi muito show, e o momento mais emocionante, sem dúvida, ficou com o diretor do documentário "20 dias em Mariupol", sobre a guerra da Ucrânia, Mstyslav Chernov, emocionado, declarando que gostaria de nunca precisar ter feito um filme sobre algo assim.

A meu ver, nenhuma grande injustiça. "Anatomia de Uma Queda", de enredo brilhante, justamente agraciado com o prêmio de roteiro original, "Zona de Interesse", o mais complexo e artístico dos estrangeiros ganhando o prêmio de filme internacional, "Godzila Minjus One" desbancando os gigantes e vencendo a categoria de efeitos visuais... Até dá pra discutir um Downey Jr. ao invés de um DeNiro, uma Emma Stone e não Lily Gladstone, mas, de um modo geral, nenhum absurdo gritante, a meu ver.

Bom, quer saber como foram todos os prêmios? Dá uma olhada aí abaixo e conheça, então, todos os vencedores da noite:

📹📹📹📹📹📹📹📹

MELHOR FILME

• Oppenheimer


MELHOR DIREÇÃO


• Christopher Nolan, por Oppenheimer


MELHOR ATOR

• Cillian Murphy, por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ


• Emma Stone, por Pobres Criaturas


MELHOR ATOR COADJUVANTE

• Robert Downey Jr., por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

• Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

• Justine Triet & Arthur Harari, por Anatomia de uma Queda


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

• Cord Jefferson, por American Fiction


MELHOR ANIMAÇÃO

• O Menino e a Garça


MELHOR FILME INTERNACIONAL


• A Zona de Interesse (Reino Unido)


MELHOR DOCUMENTÁRIO


• 20 Days in Mariupol


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM


• The ABCs of Book Banning


MELHOR CURTA-METRAGEM

• The Wonderful Story of Henry Sugar


MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

• War is Over (inspired by the music of John & Yoko)


MELHOR TRILHA SONORA


• Ludwig Göransson, por Oppenheimer


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

• "What Was I Made For?" (Barbie)


MELHOR SOM


• A Zona de Interesse



MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

• Shona Heath, por Pobres Criaturas


MELHOR FOTOGRAFIA

• Hoyte van Hoytema, por Oppenheimer


MELHOR CABELO E MAQUIAGEM


• Pobres Criaturas


MELHOR FIGURINO

• Holly Waddington, por Pobres Criaturas


MELHOR MONTAGEM


• Jennifer Lame, por Oppenheimer


• MELHORES EFEITOS VISUAIS

• Godzilla Minus One





C.R.

sábado, 24 de abril de 2021

"O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal", de Darius Marder (2019)


VENCEDOR DO OSCAR DE
MELHOR EDIÇÃO E
MELHOR PRODUÇÃO DE SOM

É sempre muito legal assistir algum filme cuja forma dialoga com a gramática do cinema. Desde obras propositadamente metalinguísticas como “Blow Up” e “Amnésia” ou mesmo comédias aparentemente banais, tal “Cegos, Surdos e Loucos”, o uso de maneira intencional de algum dos sentidos humanos como objeto do filme é capaz de, em igual proporção, enriquecer semiologicamente a obra e intensificar a mímese desta – mesmo que isso se dê apenas subliminarmente quando o espectador não está atento ao uso desse trato técnico. Além da visão, da memória ou da fala, sentidos mais comuns de serem abordados no cinema, há filmes que se dedicam ao tema da audição, como é o caso de "O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal".  O filme de Darius Marder vale-se deste recurso narrativo-linguístico para colocar o espectador em contato com uma realidade tocante e não rato aflitiva: a dos deficientes auditivos.

Na história, Ruben (vivido magistralmente por Riz Ahmed), um jovem baterista de uma banda de heavy metal que tem com a namorada Lou (Olivia Cooke), teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Suas duas paixões estão em jogo: a música e ela. Essa mudança drástica acarreta em muitas incertezas e angústias, a qual provoca uma série de acontecimentos, frustrações e encontros com questões muito profundas dos personagens.

Diferentemente de clássicos thrillers como "Um Tiro na Noite" e "A Conversação", que integram os diferentes aspectos da sonoridade para imprimir tensão e mistério a suas narrativas, "O Som" vale-se deste recurso sensorial em um drama, o que é bastante interessante. É comum o espectador “sentir” o som como algo a lhe provocar a intensificação dos sentidos, caso das explosões e estardalhaços das cenas de ação, mas perceber esse elemento fílmico de maneira dramática é mais incomum. Os momentos em que se ouve o som abafado do ouvido de Ruben, os ruídos estridentes, os cacos ou a angustiante sensação de silenciamento a qual o protagonista vai se deparando gradativamente são como que vividas também por quem assiste, até porque o roteiro, envolvente, é muito bem construído. Concorrente ao Oscar de Roteiro Original, a trama de “O Som” narra um percurso pessoal e existencial, que, novamente, tem tudo a ver com a gramatica cinematográfica: a percepção/captação de algo externo (som) e a consequência externa dessa transformação.

Oscarizáveis: Ahmed e Raci contracenam em "O Som do Silêncio"

Quanto ao Oscar, dos seis que disputa, mais provável são dois ou apenas um para "O Som". Ahmed, por melhor que esteja, dificilmente levará, haja vista que concorre com fortes candidatos como Gary Oldman ("Mank") e, principalmente, Chadwick Boseman ("A Voz Suprema do Blues"), apto a abocanhar a estatueta postumamente. Mas nessa categoria é daqueles casos que só a indicação e estar ao lado de excelentes e oscarizados atores, como estes dois e Anthony Hopkins (“Meu Pai”), já é um reconhecimento. De Filme, igualmente, não leva, pois têm outros bem mais fortes favoritos na frente. Ator Coadjuvante, parecido, pois somente "Judas e o Messias Negro" põe dois nesse páreo (LaKeith Stanfield e Daniel Kaluuya) contra Paul Raci. 

Restam-lhe os prêmios técnicos: edição e, o que seria muito legal se acontecesse, o de Produção de Som. Contrariando a prática comum de premiar produções espetaculosas, como musicais, aventuras ou ficções científicas, cairia muito bem à Academia num momento de revisão de conceitos valorizar um drama de abordagem humana e mais humilde perto de superproduções como “Dunkirk”, “Bohemian Rhapsody” e "Ford vs. Ferrari", vencedoras das últimas três edições do Oscar na categoria Edição de Som, como era classificada a categoria até ano passado.

Independente de prêmio ou não, o fato é que "O Som" é um filme peculiar e sensível, capaz de extrair da pequena história de um drama pessoal questões universais como amor, família, caridade e perdão. Uma história que leva à compreensão de que, independentemente dos sentidos físicos, o que vale é saber escutar o som que vem do coração.

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trailer de "O Som do Silêncio"


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

"Nada de Novo no Front", de Edward Berger (2022)

 

VENCEDOR DO OSCAR
MELHOR FILME INTERNACIONAL
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
MELHOR FOTOGRAFIA
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL


Nada de novo...

O título do filme já antecipa o que temos em pouco mais de duas horas. 

"Nada de novo no front", produção da Netflix, com nove indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor filme internacional, na minha opinião, é apenas mais um filme de Primeira Guerra Mundial. Bem feitinho, bem acabado, bem desenvolvido, ok, mas sinceramente, já vi coisas melhores acerca do assunto e muito mais impactantes visual e dramaticamente. "Lawrence da Arábia", de David Lean, e todo seu deslumbre cinematográfico; "Glória Feita de Sangue", de Kubrick, com toda sua questão ética e humana; o recente "1917", de Sam Mendes, com sua corajosa proposta de filmagem contínua. Todos, para mim, mais impactantes que o novo "Nada de Novo no Front", refilmagem do clássico de 1930, de Lewis Milestone. 

Não me entendam mal: o filme não é ruim. Boa direção, bela fotografia, tem toda a questão humana do "roubo" da juventude, do desperdício de vidas promissoras, enquanto velhos barrigudos com bigodes retorcidos decidem a vida desses jovens como se fossem peças de um joguinho de tabuleiro, mas parece que não tem nada muito além disso, e isso a gente vê em um monte de filmes de guerra.

Na história, um grupo de jovens idealistas, alista-se no exército alemão com a expectativa de heroísmos, glórias e honras à pátria mas, assim que pisam no campo de batalha percebem que a realidade não seria o jardim de infância que imaginaram. Expostos a inúteis e suicidas missões de ataque, tudo que os garotos encontram pelo caminho é, simplesmente, barbárie, crueldade, mutilações, fome, frio, dor e morte, em meio às trincheiras e os campos gelados no norte da França. Paralelamente aos combates, burocratas e militares, devidamente protegidos e abrigados em suas mansões ou instalações especiais, decidem, sem pressa e com indiferença sobre um possível cessar-fogo, ao redor de suas mesas fartas e bem servidas.

Retrato típico do que representa uma guerra, ainda nos dias de hoje, mas muito mais naquela época em que os combates se davam diretamente, no corpo a corpo e em campo aberto: velhos generais em gabinetes entregando jovens à morte, em nome de soberania, territórios, orgulho, religião, ou seja lá o que for. Enquanto via o filme, e ainda agora, lembro muito da letra de "A Canção do Senhor da Guerra", de Renato Russo muito precisa na descrição dessa situação: "Existe alguém que está contando com você/ pra lutar em seu lugar já que nessa guerra / não é ele quem vai morrer/ E quando longe de casa/ ferido e com frio o inimigo você espera/ ele estará com outros velhos/ inventando novos jogos de guerra". E não é isso mesmo?

"Nada de novo no front" pode sair da cerimônia do Oscar, no dia 12 de março, consagrado e com um caminhão de estatuetas, mas não vai mudar muito minha impressão sobre ele... Um bom filme, legal, terror da guerra, beleza, mas... para mim, deixa aquela impressão de "já vi esse filme antes". Sem nenhuma novidade no Oscar.

No alto, à esquerda, o jovem Paul, entusiasmado por ingressar no exército
 ao lado, a belíssima fotografia numa das cenas de combate;
abaixo, dois dos momentos mais intensos e chocantes do filme:
os tanques avançando sobre as trincheiras e os soldados franceses
usando lança-chamas contra o que os blindados não conseguiram amassar.



Cly Reis

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Oscar 2019 - Os Vencedores


Peter Farrely, diretor de "Green Book", comemorando a vitória
na categoria de melhor filme.
A cerimônia do Oscar, esse ano, veio sem um mestre de cerimônias fixo, o que deu uma certa agilidade à festa. Atores, atrizes, diretores e personalidades se revezavam na condição de apresentadores dosando bem descontração, humor, reverência e emoção. E a coisa toda já começou em grande estilo com o Queen abrindo os trabalhos, acompanhado pelo vocalista Adam Lambert, mandando ver com dois clássicos da banda inglesa. A partir daí foi dada a largada para a entrega das estatuetas e embora "Green Book" tenha abocanhado o prêmio principal, as premiações ficaram bem distribuídas. "Bohemian Rhapsody" teve o maior número e ficou com quatro estatuetas, incluindo melhor ator, consagrando a atuação marcante de Rami Malek"; Pantera Negra" fazendo história entre filmes de super-heróis, ficou com três; "A favorita" levou o seu; "Infiltrado na Klan" também; "Roma", um dos favoritos, mesmo não tenha garantido o de melhor filme no geral, teve reconhecida toda sua inegável qualidade com os prêmios de melhor filme estrangeiro, direção e fotografia; além do próprio "Green Book", que somados ao grande prêmio da noite, levou mais dois, os de roteiro original e de ator coadjuvante.
O esfuziante Spike Lee
comemorando com o amigo
Samule L. Jackson.
Alguns dos pontos altos foram, além da já mencionada performance do Queen, foram a entrega do prêmio de canção original para Lady Gaga, por "Nasce uma estrela"; a surpresa e o bom humor de Olivia Colman ao receber o prêmio de melhor atriz; e a entrega do prêmio de roteiro adaptado para um emocionado e elétrico Spike Lee que aproveitou para lembrar a todos da dura trajetória de um negro até alcançar o lugar onde ele conseguia chegar naquele momento.
Uma cerimônia mais direta, mais enxuta e divertida, sim, mesmo sem tantas gracinhas dos cicerones habitualmente convidados. No que diz respeito aos prêmios, a Academia tratou de fazer todo mundo voltar feliz pra casa: cada um dos favoritos levou o seu e, nas categorias principais tratou de ser bem política, dando o melhor filme para "Green Book" e o de direção para Alfonso Cuarón uma vez que seu "Roma" já tinha o reconhecimento de melhor filme pelo prêmio entre os estrangeiros. A propósito, volta chamar atenção esta, praticamente, hegemonia mexicana no Oscar que faz com que nos últimos anos, sempre que indicados na categoria de direção, os profissionais daquele país tenham vencido. 
Além de mais uma festa mexicana, a cerimônia da noite passada foi uma celebração do cinema e do talento negro com diversos prêmios e reconhecimento, mas também uma oportunidade para reflexões e discussão sobre o racismo e a condição dos afro-descendentes, não somente na sociedade americana, como em todo o mundo. A vitória de "Green Book" e sua temática, os três de "Pantera Negra", com seu empoderamento e com sua equipe técnica predominantemente negra recebendo orgulhosa cada troféu; a segunda estatueta de Mahershala Ali, o tardio prêmio de Spike Lee, o Oscar de coadjuvante para a emocionada Regina King que, como ela mesma disse, se estende a mulheres guerreiras e inspiradoras como sua mãe, não foram triunfos apenas da comunidade negra e, sim, mais uma vitória da sociedade. É um pequeno passo, sei, mas de pouquinho em pouquinho talvez um dia cheguemos lá. Lá? A um mundo melhor, quem sabe.
 Fique, abaixo, com todos os vencedores da noite do cinema de Hollywood:

  • Melhor atriz coadjuvante: Regina King ("Se a Rua Beale falasse")
  • Melhor documentário: "Free Solo"
  • Melhor maquiagem e pentados: "Vice"
  • Melhor figurino: "Pantera Negra"
  • Melhor direção de arte: "Pantera Negra"
  • Melhor fotografia: "Roma"
  • Melhor edição de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor mixagem de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor filme estrangeiro: "Roma"
  • Melhor edição: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali
  • Melhor animação: "Homem-Aranha no Aranhaverso"
  • Melhor curta-metragem de animação: "Bao"
  • Melhor documentário curta-metragem: "Absorvendo o tabu"
  • Melhores efeitos visuais: "O primeiro homem"
  • Melhor curta-metragem: "Skin"
  • Melhor roteiro original: "Green Book - O guia"
  • Melhor roteiro adaptado: "Infiltrado na Klan"
  • Melhor trilha sonora original: "Pantera Negra"
  • Melhor canção original: "Shallow", "Nasce uma estrela"
  • Melhor ator: Rami Malek, "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor atriz: Olivia Colman, "A favorita"
  • Melhor diretor: Alfonso Cuarón, "Roma"
  • Melhor filme: "Green Book - O guia"

C.R.