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quarta-feira, 12 de julho de 2023

Música da Cabeça - Programa #326

 

Evoé, MDC! Na roda viva da vida, a arte perde ZÉ CELSO, mas ganha a afirmação de sua eternidade. Celebrando este sempre, o programa traz ele e muitas outras peças, que vão de MY BLOODY VALENTINE a TIM MAIA, de CAN a GERALDO AZEVEDO, de ZÉ MIGUEL WISNIK a ANDRÉ ABUJAMRA. Desafiando a plateia, subimos ao palco hoje às 21h na inquieta RÁDIO ELÉTRICA. Produção, apresentação e "merda!": DANIEL RODRIGUES.



quinta-feira, 11 de abril de 2019

cotidianas #626 - Eu Vi



Existem mil estórias de carro e racismo e essa é uma delas.
Eu vi,
Socorro!
Eu vi.
Era um sábado à noite (era um sábado à noite),
Rua Augusta, um Passat (Rua Augusta, um Passat),
No Passat dos negões (no Passat dos negões),
Eu vi! eu vi!
O som rolar de dentro do Passat.

E a polícia vem descendo (e a polícia vem descendo)
Camburão mandou o Passat, ele parar.
Mão no pescoço, todo mundo fora do Passat.
Revistando os negros, parece que eles tavam limpos.
E eu vi!
Eles tavam limpos eu vi!
Um motoqueiro...
Parou bem do meu lado
E ele disse assim:
"é duro ser preto!
É duro ser preto!
É duro ser preto!
É duro ser preto!"
É duro ser preto!
Disse o motoqueiro branco
pra mim.
É duro ser preto!
Disse o motoqueiro branco pra mim.

Era um sábado à noite (era um sábado à noite),
Rua Augusta, um Passat (Rua Augusta, um Passat),
No Passat dos negões (no Passat dos negões),
Eu vi! eu vi!
Juro que eu vi!
Eu nunca me esqueci!
Era um sábado à noite...

***************
"Eu Vi"
Os Mulheres Negras
(letra e música de Maurício Pereira e André Abujamra)

sexta-feira, 12 de maio de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 2)

 

O novíssimo "Marte Um" já figurando
na lista dos melhores da história
A lista dos 110 filmes dos 110 anos de cinema brasileiro continua. Nesta segunda parte, na ordem decrescente iniciada da última posição, são mais 20 títulos, e a diversidade e criatividade típicas do cinema nacional se fazem cada vez mais presentes. Obras marcantes da retomada, como “Bicho de Sete Cabeças” e “O Invasor” convivem com clássicos combativos do cinema novo (“O Desafio”), documentários de décadas distintas (“Partido Alto”, dos anos 70, e “Jorge Mautner, O Filho do Holocausto” e “O Fim e o Princípio”, anos 2010) e longas recentíssimos. Entre estes, “Marte Um”, o mais novo de toda a lista, que precisou de menos de um ano de lançamento para carimbar seu lugar ao lado de consagradas chanchadas ou de produções inovadoras, tal o experimental "A Margem" e “A Velha a Fiar”, primeiro “videoclipe” do Brasil em que o tarimbado Humberto Mauro ilustra a canção popular de mesmo nome do Trio Irakitã.

A ausência, pelo menos neste novo recorte, são os filmes dos anos 80, que geralmente pipocam entre os escolhidos, mas que certamente virão mais adiante. Interessante perceber que cineastas mundialmente consagrados como Babenco, Karim e Coutinho se emparelham com novos realizadores como os jovens Gabriel Martins e Gustavo Pizzi. Tradição e renovação. Fiquemos, então, com mais uma parte da listagem que a gente traz como uma das celebrações pelos 15 anos do Clyblog.

************


90.
“A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, Walter Avancini (1978)

Possivelmente, em algum momento o brasileiro viu uma cena em que Paulo Gracindo bebe um martelinho num boteco pensando que fosse cachaça e, indignado com a enganação, grita: “Água!”. A palavra ecoa enquanto a imagem congela e uma música brasileiríssima divina começa a tocar anunciando os créditos iniciais. Tanto quanto uma cena como a da nudez na praia de Norma Bengell em “Os Cafajestes” ou da operação do Bope no baile funk em “Tropa de Elite”, este começo do “teledrama” baseado no conto de Jorge Amado tem ainda a primazia de ser uma obra feita para a televisão, o que a coloca em tese em inferioridade diante do comum 35mm do cinema. Mas a questão instrumental não interfere neste média absolutamente brilhante dirigido por Avancini. Atuações e diálogos memoráveis, arte primorosa, ritmo perfeito, figurino geniais de Carybé, trilha magnífica de Dori Caymmi. Não à toa deu um dos Emmy conquistados pela TV Globo.


89. “O Invasor”, de Beto Brant (2001) 
88. “O Desafio”, Paulo César Saraceni (1965) 
87. “Jorge Mautner, O Filho do Holocausto”, Pedro Bial e Heitor d'Alincourt (2013)
86. “Dzi Croquetes”, Tatiana Issa, Raphael Alvarez (2005)
85. “Dois Filhos de Francisco”, Breno Silveira (2005)


84, “Partido Alto”, Leon Hirszman (1976-82)
83. “Eu, Tu, Eles”, de Andrucha Waddington (2000)
82. “O Xangô de Baker Street”, de Miguel Faria Jr. (2001) 
81. “O Homem do Sputnik”, Carlos Manga (1959)

80.
“Bicho de Sete Cabeças”, Laís Bodanzky (2000)

Da leva do início dos 2000, que sinalizam o começo do fim da retomada. Símbolo desta fase, “Bicho...” é um dos filmes que denotaram que o cinema brasileiro saíra da pior fase e entrava numa outra nova e inédita. Além de lançar a cineasta e o hoje astro internacional Rodrigo Santoro, conta com uma estética e edição arrojadas, com sua câmera nervosa e atuações marcantes, tanto a do jovem protagonista quanto dos tarimbados Othon Bastos e Cássia Kiss. Vários prêmios: Qualidade Brasil, Grande Prêmio Cinema Brasil, Troféu APCA de "Melhor Filme", além de ser o filme mais premiado dos festivais de Brasília e do Recife. Ainda, está nos 100 da Abracine. Trilha de André Abujamra e com músicas de Arnaldo Antunes.


79. “Marte Um”, Gabriel Martins (2022)
78. “Madame Satã”, de Karim Ainouz (2002) 
77. “Babilônia 2000”, Eduardo Coutinho (2001)
76. “Benzinho”, Gustavo Pizzi (2018)
75. “A Margem”, Ozualdo Candeias (1967)


74. “Estômago”, de Marcos Jorge (2007) 
73. “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, Hector Babenco (1976) 
72. “O Fim e o Princípio”, Eduardo Coutinho (2006)
71. “A Velha a Fiar”, Humberto Mauro (1964)


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

"Boleiros - Era uma vez o futebol...", de Ugo Giorgetti (1998)



Futebol sempre rende boas histórias, tanto quem torce, assiste, como de quem joga profissionalmente ou mesmo no campinho de terra da esquina. "Boleiros - Era uma vez o futebol...", filme de Ugo Giorgetti se vale desses papos de futebol para trazer um filme gostosíssimo para os apaixonados pelo esporte. Seis amigos que já tiveram envolvimento profissional com futebol, como jogadores, árbitros ou técnicos, se reúnem num barzinho para uma cervejinha de final de tarde, depois do expediente dos seus trabalhos, agora, convencionais. Ali, cercados pelos retratos de seus tempos de estrelado no futebol, espalhados pelas paredes, relembram episódios, passagens, momentos, histórias do tempo da bola, algumas vividas por eles, outras folclóricas, outras históricas, outras lendárias, tudo com muita paixão e nostalgia pelos tempos em que, de alguma forma, faziam parte daquele universo.

Na mesa, relembram, primeiro, a história do árbitro comprado, vivido magistralmente por Otávio Augusto, que além de marcar um pênalti inexistente, fez o jogador bater até acertar, e como  não acertou nenhuma, ele mesmo, o juiz, encarregou-se de trocar o batedor. Depois alguém puxa a do ex-craque Paulinho Majestade, idolatrado por um repórter que quer fazer uma matéria sobre ele e descobre que o ex-craque encontra-se numa péssima situação, muito mal de vida, mas ao encontrá-lo para a entrevista, surpreende-se com a excelência que ainda desfila e com a reverência que ainda lhe prestam aqueles que o conheceram em seus bons tempos. Outro na mesa, ex-jogador do São Paulo e que dirige uma escolinha para crianças, conta a história do garoto que apareceu por lá, olhando o jogo, grudado na cerca, um moleque pobre, sujo, maltratado, mas que, chamado a jogar, mostrara-se muito melhor do que os garotinhos classe alta da escolinha. Muito talento mas que, por conta, provavelmente, das complicações na "quebrada" onde morava, não apareceu mais por lá.
Alguém lembra do Azul, jovem promessa, candidato a craque, enrolado com a mulherada e disputado por entrevistas nos programas esportivos, que, depois de um episódio de racismo que sofrera numa batida policial, possivelmente, acelerara as negociações para jogar na Itália.
Um fala em lesões, médicos, rezas, simpatias, outro lembra do caso do Caco, jogador do Corinthians que nunca se curava de uma lesão no joelho, até o dia em que o cunhado do craque o levou  para um curandeiro lá na "área" deles, o Pai Vavá, interpretado hilariamente por André Abujamra.
Na última, o mais novo da mesa, um recém aposentado do futebol, conta aos demais o dia em que teve que dormir no terraço do hotel da concentração para deixar o quarto livre para a estrela, e o mãos bonitão do time, Fabinho Guerra, receber uma bonitona que conhecera no saguão,  para desespero do técnico, brilhantemente interpretado por Lima Duarte, que exigia que todos os jogadores dormissem cedo.
A maioria das histórias é engraçada, algumas, são um pouco mais tristes, como a do garoto da escolinha, outras comoventes como a do Paulinho Majestade, outras trazem uma reflexão como a do craque abordado pela polícia por ser negro num carrão, mas em todo o papo, todas as lembranças está  presente o vazio que fica na vida daqueles homens depois que a carreira acaba. É exatamente o que é  expressado e torna-se marcante na fala de Naldinho, numa atuação esplendorosa de Flávio Migliaccio, no final do filme. A sensação de ser aplaudido por multidões, ser reconhecido na rua, parado pata fotos, autógrafos, e, de repente, não se sentir ninguém,  sentir-se um nada, não  saber sequer quem realmente é.
Em uma época que os programas de bate-papo com boleiros estão na moda, "Boleiros" é uma gostosa resenha com boas risadas e algumas coisas interessantes para se pensar.

A mesa de ex-craques rendendo muitas risadas e muitas histórias.




Cly Reis

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Exposição "Castelo Rá-Tim-Bum” - Praia de Belas Shopping - Porto Alegre/RS


A exposição já passou, mas o sentimento ficou. Aliás, mantém-se presente há 25 anos desde que “Castelo Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura, uma das séries infanto-juvenis mais famosas da televisão brasileira, foi ao ar. Leocádia e eu estivemos na exposição em homenagem à esta querida série televisiva, que esteve por aproximadamente de dois meses no Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre, mas que só no finalzinho deu pra vermos com a atenção que merecia. No meu caso, até a tinha percorrido no dia da estreia, em junho, mas a trabalho, o que atrapalha uma apreciação mais pormenorizada. Por isso, mesmo a alguns dias de fechar, foi super válido temos visitado.

A exposição – que está partindo para outras cidades brasileiras, aliás – reproduz o ambiente e os espaços da premiada série, que esteve no ar entre 1994 e 1997. Criada pelo dramaturgo Flavio de Souza e pelo diretor Cao Hamburguer, “Castelo Rá-Tim-Bum” marcou uma geração inteira com cenografias bem trabalhadas, música de qualidade e roteiros inteligente e educativos, que ensinavam desde práticas de higiene até detalhes sobre acontecimentos históricos. Tudo com humor, sagacidade, ludicidade e, principalmente, aquilo que gosto de destacar quando se trata de obras voltadas para o público infantil: sem fazer pouco da inteligência dos pequenos..

Croqui do figurino de Nino com as anotações do próprio autor
Organizada pela Acervo 21 em parceria com o Praia de Belas e a TV Cultura, a atração contou com uma estrutura enxuta da mesma, que já recebeu aproximadamente 1,5 milhão de visitas em São Paulo e Distrito Federal. Mas nem por isso ficou devendo, visto que, com o que foi montado, todo o universo da série pode ser captado muito bem. Com recursos interativos, figurinos e peças do acervo original da TV Cultura, a mostra reconstrói os ambientes do Castelo, onde Nino (Cássio Scapin), Morgana (Rosi Campos), Dr. Victor (Sérgio Mamberti) e outros personagens viviam.

Já na entrada, o simpático Nino dá as boas-vindas através de uma projeção muito bem realizada, gravada pelo próprio ator Cássio Scapin, que interpretava o personagem. O passeio segue por outros ambientes do castelo, como o saguão com a árvore da cobra Celeste, a Biblioteca do Gato Pintado e o esgoto dos monstrinhos Mau e Godofredo.

Os figurinos originais, assinados por Carlos Alberto Gardin, também fazem parte da exposição, assim como alguns bonecos e objetos utilizados na gravação da série. Destaque para os croquis, alguns com as indicações escritas a mão por Gardin, e figurinos ricos como o de Morgana e do índio Caipora, quase um punk pós-moderno.

A cobra Celeste foi substituída por um boneco mecânico, mas conversa com as crianças na voz original do personagem, além da banheira do Ratinho, que ganhou uma sala especial. Em todos os ambientes há também televisões exibindo trechos do programa, com destaque para o vídeo da gostosa (e didática) “Lavar as Mãos”, composta por Arnaldo Antunes especialmente para a série. Por falar em música, esse era outro trunfo do programa, uma vez que sua trilha reunia, além de Arnaldo, um pessoal muito talentoso e afim com o conceito lúdico do "Castelo", como André Abujamra, Maurício Pereira, Hélio Ziskind, Ed Motta, Fernando Salem, Paulinho Moska e outros.

O clássico "Lavar as Mãos", de Arnaldo Antunes


Mesmo sendo de uma época em que já era adolescente, e, por isso, não diretamente ligado à programação infantil, lembro sempre com carinho do “Castelo Rá-Tim-Bum” na tevê, que conquistava pessoas de qualquer idade com a qualidade que tinha. Ver a exposição, dessa forma, foi bastante prazeroso de algo que sempre valorizei. Confira algumas fotos e vídeos que fizemos durante nossa vista à exposição:

Leo, Nino e eu
A Biblioteca do Gato, espaço mais impressionantemente real da exposição

O boneco original do Gato
Leocádia confere o rico espaço da personagem Morgana

O suntuoso figurino usado pela atriz Rosi Campos, assinado por Carlos Alberto Gardin

Detalhes da cenografia
O típico chapéu de bruxa de Morgana

O livro falante de Morgana, também original da série
A árvore da cobra Celeste, que conversa com a visitante que foi fazer uma foto
Outro lindo ambiente da mostra
Detalhe super artístico da cenografia da série
O traje original de Nino usado pelo ator Cássio Scapin
Maquete original do circo usado na Sala de Música da série
A roupa do intelectual Pedro, vivido por Luciano Amaral na série

Mais beolos croquis de Gardin

O índio Caipora: figura de um punk pós-moderno

Rico em detalhes o desenho para formar o personagem do Caipora

Godofredo e Mau: mais divertidos, impossível
Crianças se divertindo na banheira do Ratinho
O Ratinho original feito em massinha
A letra da famosa música "Ratinho Tomando Banho" de Hélio Ziskind

Aí este que vos escreve também aproveito pra tomar uma ducha
com o Ratinho, afinal, "Banho é Bom" como diz a música

E ninguém melhor que ele pra terminar


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"Até que a Sbórnia nos Separe", de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. (2014)




Você com certeza já ouviu falar de “Kraunus e Plestkaya”, não? Então "Hique Gomez e Nico Nicolayewski”, não? E “Tangos & Tragédias”? Sim ,eu sabia. Agora corra e assista "Até que a Sbórnia nos Separa", essa fantástica animação dos diretores Otto Guerra e Ennio Torresan Jr, que conseguiram magicamente transportar toda a essência desta fabulosa peça para dentro do universo cinematográfico.

A história nos é contada através de um narrador, Dimitrius, que rapidamente se revela filho de Kraunus (Hique Gomes), um músico que se apresenta nas noites sbórnianas junto com Pletskaya (Nico Nicolayewski), seu grande amigo, formando um dueto um tanto quanto "estranho", porém muito talentoso.

Vemos como viviam os habitantes da pequena Sbórnia, um pais que tinha um enorme muro que o mantinha isolado do mundo, até certo dia, durante uma partida de machadobol (o esporte mais popular da Sbórnia) a bola acaba saindo do estádio e derruba o enorme muro, aí realmente começa o filme. A modernidade se aproximando da Sbórnia com seus automóveis, o violento choque cultural que atinge o país, a interferência do continente é enorme, tudo muda, nem mesmo o bizuwin (uma erva local que os habitantes do país utilizam para fazer uma bebida parecida com o nosso chimarrão), consegue escapar, pois um empresário que foi passar uma noite neste novo país acabou se apaixonando pela bebida e resolve exportá-la para o resto do mundo.

Kraunus e Pletskaya, os melhores, mais divertidos e
mais esquisitos músicos da Sbórnia.
Se Kraunus está perdido, busca soluções nas raízes da cultura sbórniana, tentando se manter fiel aos costumes do país, já Pletskaya, não está nem aí para o futuro da ilha, ele está perdidamente apaixonado pela bela Cocliquot (Fernanda Takai), filha do rico empresário que pretende exportar o Bizuwin, porém Cocliquot já está prometida e deve se casar com outro homem. Os momentos de Pletskaya e Cocliquot juntos, principalmente quando ele vira professor de piano dela, são cenas hilárias.

A trama principal do filme é essa, Kraunus Sang lutando contra a industrialização da Sbórnia, como descendente de um dos idealizadores do muro e seguidor do anarquismo hiperbólico, acha que manter sua família longe da modernidade irá lhes manter a salvo. Ele é um personagem intrigante, com seu jeito mal humorado. Se em palavras ele não demonstra o sentimento que tem por sua família (até porque ele praticamente não fala), em suas atitudes ele tenta mostrar esse amor, mas sua entrega a luta em resistência ao novo, acaba o afastando de sua família, que quer aproveitar as novidades, não querem ficar presos as tradições como Kraunus.

Pletskaya e Cocliquot, um casal apaixonado
e apaixonante
Plestkaya é um cara divertidíssimo, não liga para as tradições sbórnianas, pois ele é um romântico a moda antiga, e no momento em que ele encontra o amor, se dedica completamente a essa paixão, não consegue pensar em outra coisa que não seja sua amada, por isso acaba nem ligado para o destino de seu país. Seu romance com Cocliquot é cheio de dificuldades, como são normalmente os romances do cinema, e isso é lindo, você acaba torcendo pelos dois.

Por mais que os dois personagens principais não evoluam ao longo da trama, começam de um jeito e terminam do mesmo jeito, isso não chega a ser um grande problema para o filme, claro atrapalha um pouco o ritmo da obra, ela fica lenta repetitiva em alguns momentos, pode incomodar um pouco os pequenos, porque apesar da classificação ser 10 anos, é um ritmo bem mais lento do que as animações focadas para o publico desta idade que temos hoje, mas não prejudica o resultado final. Nas cenas finais volta a ação, filme ganha um gás extra e termina lindamente.

A rápida transformação que ocorre na ilha após a queda do muro
(isso me lembra algum outro muro que caiu em 1989)
O filme retrata a Sbórnia, país fictício, mas com problemas bem reais, como a influência do capitalismo, o consumismo, problemas ambientais, questões familiares, essas pitadas de realismo, acrescentado a cultura fascinante da Sbórnia, uma animação de encher os olhos, uma trilha sonora maravilhosa de André Abujamra, com algumas musicas clássicas da peça, também temos a grande Arlete Salles como mãe de Cocliquot, ela está super bem, resumo da obra, um trabalho lindo, feito com muita dificuldade, com diversos contra tempos, como infelizmente acontece no Brasil, mas a obra é fantástica, a animação brasileira sobe um degrau. Um filme que te faz pensar, com criticas sociais, um humor muito inteligente, somado a isso temos mais uma chance de ver Nico Nicolaiewsky, pois este foi um dos seus últimos trabalhos, sentiremos muito sua falta.

Se você já assistiu a peça, assista também o filme, se não viu, assista o filme do mesmo jeito, acompanhe de perto como a Sbórnia se reaproximou do continente e logo depois o Istmo foi destruído e ela passou a navegar pelos mares do mundo! Mares do mundo! Mares do mundo! Mares do mundo!

Baaaaaaaah!!!


segunda-feira, 1 de março de 2021

20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 2000

 

Enfim, a bonança. Depois de gramar por décadas entre crises e bons momentos, com as políticas pró-cultura do Governo FHC bem continuadas pelo de Lula, o cinema brasileiro finalmente vive, nos anos 2000, sua década de maior valorização e intensidade produtiva. E com isso, principalmente, a liberdade criativa limitada ora politicamente, como no período da ditadura, ou pela míngua, quando pagou os pecados na Era Collor, explode em riqueza. Não necessariamente de dinheiro – afinal, está se falando de um país recém-saído da pecha de Terceiro Mundo e recém combatendo um mal chamado “fome”. Mas, com certeza, riqueza de criatividade e diversidade. 

Como todo momento histórico, porém, existe um marco. Símbolo da nova fase do cinema brasileiro, os anos 2000 viram um fenômeno chamado “Cidade de Deus” promover uma guinada na produção nacional a ponto de estabelecer um novo padrão estético e ser capaz de reintegrá-la ao circuito internacional, seja na ficção ou no documentário. O Brasil chegava ao Oscar - e não de Filme Estrangeiro, mas na categoria principal. Junto a isso, novos realizadores, polos e produtoras pediam passagem junto a velhos cineastas, que se adaptavam à nova fase. Enfim, depois de agonizar, o cinema brasileiro, como a fênix, revive e prova que é um dos mais criativos e belos do mundo.

Dada a quantidade amazônica de boas realizações, provenientes desde o Sul até o Norte, certamente esta é a década mais difícil de se selecionar apenas 20 títulos. Ou seja: fica muita coisa boa de fora. Talvez não tão importantes quanto os revolucionários filmes dos anos 60, como “Terra em Transe” e “O Bandido da Luz Vermelha”, ou das produções maduras dos 70 e 80, tais como “Bye Bye, Brasil” ou “Nunca Fomos tão Felizes” – ou até das resistentes e brilhantes noventintasCentral do Brasil” ou “Dois Córregos” –, as duas dúzias de obras geradas na abundante primeira década do século XXI são a representação de um país em que as políticas públicas e o incentivo à cultura deram certo, definindo um novo modus operandi na produção audiovisual brasileira. Pode-se, enfim, passar a dizer expressão com segurança: “cinema da retomada”.




01 - “O Invasor”, de Beto Brant (2001) - Para começar de vez a década, nada melhor que um filme marcante. O terceiro longa de Brant avança na sua estética orgânica e tramas que dialogam com a literatura (roteiro do próprio autor Marçal Aquino) para contar a história de três amigos sócios em uma empresa, que entram em crise entre si. Para resolver uma “questão”, contratam o matador Anísio (Paulo Miklos, impecável), mas acabam por comprar uma maior ainda. Não deu outra: abocanhou vários prêmios, entre estes Melhor Filme Latinoamericano em Sundance, Melhor Filme no Festival de Recife e vários em Brasília, entre eles direção, trilha sonora, prêmio da crítica e ator revelação para Miklos. 



02 - “O Xangô de Baker Street”, de Miguel Faria Jr. (01) - Sabe o caminho para as coproduções reaberto por Carla Camuratti e os Barreto na década anterior? Resultou, entre outras obras, no divertido e brilhante “O Xangô...”, baseado no best-seller de Jô Soares. A invencionice de contextualizar um thriller de Sherlock Holmes em plena Rio de Janeiro do final do século XIX dá muito certo na adaptação de Faria Jr., que equilibra muito bem atores estrangeiros (Joaquim de Almeida, Anthony O'Donnell, Maria de Medeiros) com craques brasileiros (Marco Nanini, Cláudio Marzo, Cláudia Abreu e o próprio Jô, que faz uma ponta). Produção de um nível como raras vezes se viu no cinema brasileiro até então. Vencedor de alguns prêmios no Brasil e no exterior, com destaque para a direção de arte de Marcos Flaksman e figurino da dupla Marilia Carneiro e Karla Monteiro. 



03 - “Lavoura Arcaica”, de Luiz Fernando Carvalho (01) - LF Carvalho, principal responsável por levar o cinema de arte para a TV brasileira ainda nos anos 90, quando produziu séries e especiais para a Globo em que rompia com os preguiçosos padrões do audiovisual tupiniquim, pôs pela primeira vez sua estética arrojada e fortemente sensorial nas telonas com “Lavoura”. E o fez já desafiando-se ao adaptar o barroco e difícil texto de Raduan Nassar, feito que realizou com brilhantismo. Exemplo em aulas de cinema, principalmente pela fotografia (Walter Carvalho) e montagem (do próprio diretor). Interpretações igualmente marcantes, como a do protagonista Selton Mello, de Simone Spoladore e do craque Raúl Cortez. Mais de 50 prêmios internacionais e nacionais e elogios rasgados da Cahiers du Cinéma. Usar-lhe o termo “obra-prima” não é exagero.



04 - “Bufo & Spallanzani”, de Flávio Tambellini (01) - Filme policial com há muito não se via no cinema brasileiro. Aqui, ainda com a ajudinha do próprio autor da história, Rubem Fonseca, com a mão hábil de Patricia Melo. Várias qualidades a destacar, como as atuações de José Mayer, Tony Ramos e Maitê Proença. Mas o toque noir moderno muito bem conduzido por Tambellini – estreante na direção de longa, mas já um importante produtor, responsável por filmes-chave do cinema nacional como “Ele, O Boto” e “Terra Estrangeira” – e captado na fotografia de Bruno Silveira também se sobressai. Ainda, revelou o ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos como um exímio compositor de trilha sonora, dando a medida certa para a atmosfera de submundo urbano da trama. Prêmios em Gramado e no Festival de Cinema Brasileiro de Miami.




05 - “Madame Satã”, de Karim Ainouz (02) - Como década importante que foi, alguns filmes dos anos 00 concentraram mais de um aspecto emblemático para essa caminhada do cinema brasileiro. O primeiro longa de Ainouz é um caso. Além de trazer à cena o talentoso cineasta cearense, revelou um jovem ator baiano que conquistaria o Brasil todo no cinema, TV e teatro: Lázaro Ramos. Mas não só isso: resgata a eterna Macabea Marcélia Cartaxo, revela também Flávio Bauraqui e ainda abre caminho para as cinebiografias de personagens negros importantes, mas por muito tempo esquecidos pelo Brasil racista, como o precursor do transformismo e da exuberância do Carnaval carioca João Francisco dos Santos. Festivais de Chicago, Havana, Buenos Aires e claro, Brasil, renderam-lhe diversos prêmios  entre Filme, Diretor, Ator, Atriz, Arte, Maquiagem e outros.


06 - “Carandiru”, de Hector Babenco (02) - Há o emblemático “Pixote”, o premiado “O Beijo da Mulher-Aranha” e o apaixonante “Ironweed”, mas não é nenhum absurdo afirmar que a obra-prima de Babenco é este longa, magnificamente adaptado do Best-seller do médico Dráuzio Varella. Trama coral, como raramente se vê no cinema brasileiro, amarra diversas histórias com talento e sensibilidade de alguém realmente imbuído de um discurso humanista e antissistema como o do cineasta. Revelou Wagner Moura, Ailton Graça e Caio Blat, reafirmou Lázaro e Rodrigo Santoro, reverenciou Milton Gonçalves. Fotografia de Walter Carvalho mais uma vez esplêndida e trilha de André Abujamra, idem. Mas o que impressiona – e impacta – é o tratamento dado ao texto e a edição cirúrgica de Mauro Alice. Indicado em Cannes e Mar del Plata, venceu Havana, Grande Prêmio Cinema Brasil, Cartagena e outros.




07 - “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund (02) - Talvez apenas “Ganga Bruta”, “Rio 40 Graus”, “Terra em Transe” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” se equiparem em importância a “Cidade...” para o cinema nacional. Determinador de um “antes” e um “depois” na produção audiovisual não apenas brasileira, mas daquela produzida fora dos grandes estúdios sem ser relegada à margem. Pode-se afirmar que influenciou de Hollywood a Bollywood, ajudando a provocar uma mudança irreversível nos conceitos da indústria cinematográfica mundial. Ou se acha que "Quem quer Ser um Milionário?" existiria para o resto do mundo sem antes ter existido "Cidade..."? O cineasta, bem como alguns atores e técnicos, ganharam escala internacional a partir de então. Tudo isso, contudo, não foi com bravata, mas por conta de um filme extraordinário. Autoral e pop, “Cidade...” é revolucionário em estética, narrativa, abordagem e técnicas. Entre seus feitos, concorreu ao Oscar não como Filme Estrangeiro, mas nas cabeças: como Filme e Diretor (outra porta que abriu). Ao estilo Zé Pequeno, agora pode-se dizer: "Hollywood um caralho! Meu nome agora é cinema brasileiro, porra!".



08 - “Amarelo Manga”, de Cláudio Assis (02) - Quando Lírio Ferreira e Paulo Caldas rodaram “Baile Perfumado”, em 1996, já era o prenúncio de uma geração pernambucana que elevaria o nível de todo o cinema brasileiro poucos anos depois. O principal nome desta turma é Cláudio Assis. Dono de uma estética altamente própria e apurada, ele expõe como somente um recifense poético e realista poderia as belezas e as feiuras da sua cidade – nem que para isso tenha que extrair beleza da feiura. Texto e atuações impactantes, que dialogam com o teatro moderno e a escola realista. Injusto destacar alguma atuação, mas podem-se falar pelo menos de Jonas Bloch, Matheus Nachtergaele e Leona Cavalli. Presente nos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Abraccine, ainda levou Brasília, CineCeará, Toulouse e o Fórum de Cinema Novo do Festival de Berlim. Mas os pernambucanos estavam apenas começando...



09 - “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (02) - A retomada do cinema brasileiro trouxe consigo velhos militantes, como Babenco e Cacá Diegues, mas fez um bem especial ao maior documentarista do mundo: Eduardo Coutinho. O autor do melhor documentário brasileiro de todos os tempos, “Cabra Marcado para Morrer”, engrena uma série de realizações essenciais para o gênero, que se redescobre pujante e capaz num Brasil plural após uma década de redemocratização. Coutinho inicia sua trajetória no então novo século com esta obra-prima, pautada como sempre por seu olhar investigativo e sensível, que dá espaço para o “filmado” sem impor-lhe uma pré-concepção. Afinal, para que, já que o próprio ato de filmar exprime esse posicionamento? Melhor doc em Gramado, Havana, Margarida de Prata, APCA e Mostra de SP.


10 - “O Homem que Copiava”, de Jorge Furtado (03) - Já era de se esperar que o exímio roteirista e diretor gaúcho, que ajudou a dar novos padrões ao cinema de curtas e à televisão brasileira nos anos 90, chegasse inteiro quando rodasse seu primeiro longa. Não deu outra. Sucesso de bilheteria e crítica, com uma trama cativante, “O Homem...” resumo muito do que Furtado já evidenciava no cinema do Rio Grande do Sul (roteiro ágil e fora do óbvio, referências à cinema e literatura, universo pop, trato na direção de atores, cuidado na trilha) e adiciona a isso uma “brasilidade” que espantou – claro! – os próprios gaúchos, com o baiano e negro Lázaro Ramos protagonizando uma história na embranquecida Porto Alegre. Grande Prêmio Cinema Brasil, Havana, Montevidéu, APCA e outros. 



11 - “Estamira”, de Marcos Prado (04) - Dentre as dezenas de documentários realizados na década 00, um merece especial destaque por sua força expressiva incomum: "Estamira". Certamente o que colabora para esta pungência do filme do até então apenas produtor Marcos Prado, sócio de José Padilha à época, é a abordagem sem filtro e nem concessões da personagem central, uma mulher catadora de lixo com sério desequilíbrio mental, capaz de extravasar o mais colérico impulso e a mais profunda sabedoria filosófica. A própria presença da câmera, aliás, é bastantemente honesta, visto que por vezes perturba Estamira. Obra bela e inquietante. Melhor doc do FestRio, Mostra de SP, Karlovy Vary e Marselha, além de prêmios em Belém, Miami e Nuremberg.


12 - “Tropa de Elite”, de José Padilha (07) - Já considerado um clássico, “Tropa” divide opiniões: é idolatrado e também taxado de fascista. O fato é que este é daqueles filmes que, se estiver passando na tela da TV, é melhor resistir aos 10 segundos de atenção, por que se não inevitavelmente se irá assisti-lo até o fim esteja no ponto em que estiver. O filme de Padilha une o cinema com assinatura e um apelo pop, o que rendeu ao longa mais de 14 milhões de espectadores e um dos personagens mais emblemáticos do nosso cinema, capitão Nascimento - encarnado por um brilhante Wagner -, comparável a Zé Pequeno de “Cidade”, Zé do Burro de “O Pagador de Promessas” e Getúlio de “Sargento Getúlio”. Consolidando o melhor momento do cinema nacional, a exemplo de “Central do Brasil” 10 anos antes, “Tropa” fatura Berlim.



13 - "Santiago",
de João Moreira Salles (07) - O atuante empresário e banqueiro João Moreira Salles, desde muito envolvido com cinema como o irmão Waltinho, já havia realizado aquele que poderia ser considerada a sua obra essencial, "Notícias de uma Guerra Particular", de 1999. Porém, foi quando ele voltou sua câmera para si próprio que acertou em cheio. Diz-se um olhar interior, porém, quebrando-se a "quarta parede" de forma incomum e subjetiva, uma vez que o personagem principal não é ele mesmo, mas o homem que dá título ao filme: o culto e enigmático mordomo espanhol da abastada família Salles, que cuidara dele e de seus irmãs na idílica infância. Misto de memória, confissão, resgate sentimental, registro antropológico e, claro, cinema em essência. A locução sóbria mas presente do irmão Fernando, a estética p&b, as referências ao cinema íntimo de Mizoguchi e as lembranças de um passado irrecuperável dão noção da força metalinguística que o filme carrega. 
Vários prêmios e presença nos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Abracine.



14 - “Estômago”, de Marcos Jorge (07) - Aquela expressão "conquistar pelo estômago" talvez não se adapte muito bem a este peculiar filme que junta suspense, drama, comédia e certa dose de escatologia. A abordagem dada por Marcos Jorge ao criativo roteiro justifica o título ao pautar as relações e as atitudes pelo instintivo, pelo animalesco. Assim, comida, sexo, sangue e poder se confundem, reelaborando a ideia de quem conquista quem. Por falar em conquista, aliás, o cineasta estreou emplacando o filme brasileiro mais premiado no Brasil e no exterior em 2008-2009, vencedor de 39 prêmios, sendo 16 internacionais.


15 - “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratón (07) - Um dos diversos ganhos do cinema brasileiro dos 00 foi a possibilidade de lançar um olhar renovado e compromissado sobre a história recente do País. Enquanto na esfera política se avançava com a criação da Comissão da Verdade, o cinema acompanhava este movimento politizador e brindava o público com obras dotadas de urgência, dentre estes muitos documentários, mas algumas ficções. O melhor resultado desta confluência é “Batismo”, fundamental filme sobre os frades dominicanos que se engajaram na guerrilha contra a ditadura militar nos anos 60 no Brasil, entre eles, Frei Betto, autor do livro que inspira o longa. Dialogando com os corajosos mas necessariamente limitados "Brasil: Um Relato da Tortura" e "Pra Frente, Brasil", exibe tal e qual as sessões de tortura promovidas nos anos de chumbo. Mas isso seria limitar a obra: com excelentes atuações, é tenso, tocante e dramático sem perder o ritmo nunca. Melhor Diretor e Foto pro craque Lauro Escorel em Brasília.



16 - “A Casa de Alice”, de Chico Teixeira (07) - Assistir um filme como “A Casa” num país cuja produção cinematográfica por muitos anos se valeu de um olhar machista sobre a condição da mulher como foram as pornochanchadas é perceber que, enfim, evoluiu-se. A abordagem sensível aos detalhes e as atuações realistas (mais uma vez, Fátima Toledo e seu método) dão ao filme de Chico ares de cult, mais um dos exemplos estudados nas cadeiras de faculdades de cinema. Filhos, marido, lar, trabalho, mãe... tudo se reconfigura quando os “móveis” da casa começam a se desacomodar: o desejo sexual, a maturidade, a autorrealização. Por que não? A historicamente inferiorizada mulher de classe média, no Brasil anos 00 emancipa-se. Carla Ribas excepcional no papel principal, premiada no FestRio, Mostra de SP, Miami e Guadalajara.



17 - “Ainda Orangotangos”, de Gustavo Spolidoro (2007) - O cinema gaúcho da primeira década do novo século não se resumiu à entrada da turma da Casa de Cinema ao círculo de longas nacional. Surgiam novos talentos imbuídos de ideias ainda menos tradicionais e renovadoras, como Gustavo Spolidoro. Em seu primeiro e marcante longa ele capta a intensidade e a veracidade de uma Porto Alegre ainda "longe demais das capitais", mas que, como toda metrópole, não para - literalmente. O filme, um exercício ousado de plano-sequência, tem até em seus “erros” técnicos qualidades que o alçam a cult, influenciando outros realizadores como Beto Brant e cenas independentes de cinema noutros estados brasileiros. Melhor Filme em Milão e em Lima, que deu Melhor Ator (Roberto Oliveira), e Prêmio Destaque do Júri em Tiradentes. Sabe os oscarizados "Birdman" e "1917". feitos em plano-sequência? Pois é: devem a "Ainda Orangotangos" mesmo que não saibam.




18 - “Meu Nome não É Johnny”, de Mauro Lima (08) - Outra joia do cinema nacional, filme que melhor aproveita o versátil Selton, total condutor da narrativa ao interpretar o junkie “curtidor”, mas profundamente depressivo João Estrella. A história real de sexo, drogas e rock n roll (e tráfico também) remonta um período de curtição lisérgica da juventude classe média carioca dos anos 80, ora aventura, ora comédia, como a própria história mostra, envereda para o drama. Tudo na medida certa. Filme de sequências impagáveis, como a briga na cadeia com os africanos e a entrega de cocaína na repartição pública. Além de Miami, ABC, ACIE e outros, levou pra casa uma mala cheia no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.



19 - “O Mistério do Samba”, de Carolina Jabor e Lula Buarque (08) - O gênero documentário algumas vezes veste-se de pompas antropológicas. Como a âncora Marisa Monte diz no disco que produziu da Velha Guarda da Portela 9 anos antes deste filme, registrar a obra desses nobres artistas do subúrbio é perpetuar uma parte da cultura popular quase em extinção. Parecia premeditar que, nos anos seguintes ao filme, morreriam sete integrantes do grupo, todos de adiantada idade e vida dura, semelhantemente com o que ocorrera com os membros da banda de outro doc parecido em natureza e grandeza: "Buena Vista Social Club" (Win Wenders, 99). Na hora certa, a dupla de diretores conseguiu por suas câmeras a serviço de uma história cheia de poesia e que conta-se por si. Memoráveis cenas dos pagodes na quadra da escola, algumas das mais emocionantes do cinema brasileiro. Seleção oficial de Cannes e Grande Prêmio Vivo em 2009.



20 - “Linha de Passe”,
de Walter Salles Jr. (08) - 
Waltinho é, definitivamente, dos principais nomes do cinema brasileiro moderno. Responsável por manter o então raro alto nível da produção cinematográfica do Brasil nos anos 90, emplacando o cult “Terra Estrangeira” e o primeiro Urso de Ouro em Berlim do País com “Central do Brasil”, nos anos 2000 ele já havia chegado ao máximo que um cineasta pode alcançar: sucesso em Hollywood. Porém, a vontade de contar histórias de nobres pessoas comuns o faz voltar à terra natal para realizar essa linda trama coral, tocante e reveladora, abordando algo por incrível que pareça não tão recorrente nos enredos justo do cinema brasileiro: o futebol. Não levou Palma de Ouro, mas foi aplaudido por nove minutos durante o Festival de Cannes, além de ganhar o de melhor atriz pela atuação de Sandra Corveloni. Parte dos méritos vai pra Fátima Toledo, que aplica seu método ao elenco com alta assertividade.




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Como são muitos os marcantes filmes dos anos 2000, vão aí então, outros 20 títulos que merecem igual importância: 

"Babilônia 2000”, de Eduardo Coutinho (01); “Durval Discos”, de Anna Muylaert (02); “Querido Estranho”, de Ricardo Pinto e Silva (02); "Lisbela e o Prisioneiro”, de Guel Arraes (03); “De Passagem”, de Ricardo Elias (03); “O Homem do Ano”, de José Henrique Fonseca (03); “Narradores de Javé”, de Eliane Caffé (04); “Meu Tio Matou um Cara”, de Jorge Furtado (05); “2 Filhos de Francisco”, de Breno Teixeira (05); “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes (05);  “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado (05); “O Fim e o Princípio”, de Coutinho  (05); “Árido Movie”, de Lírio Ferreira (06); “Depois Daquele Baile”, de Roberto Bontempo (06); “Baixio das Bestas”, de Cláudio Assis (06); “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende (06); “Jogo de Cena”, de Coutinho (07); “Ó Paí, Ó”, de Monique Gardenberg (07);  “Proibido Proibir”, de Jorge Durán (07);  “Antes que o Mundo Acabe”, de Ana Luiza Azevedo (09).

Daniel Rodrigues