terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Música da Cabeça - Teaser Programa #91
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Tono - "Aquário" (2013)
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2015
David Bowie nos deixou
ainda na liderança dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS
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O ano abriu com a publicação de número 300 dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS que teve a especialíssima participação do escritor Afobório falando sobre o grande "Metrô Linha 743", resenha que marcou assim a estreia, mais que merecida, de Raul Seixas no nosso time de fundamentais.
Outros que já estavam maIs que na hora de entrarem pra nossa lista e que finalmente botaram seu primeiro lá foram a musa punk, Patti Smith; o poeta do rock brasileiro, Cazuza; a banda cult Fellini; o grande Otis Redding, os new wave punk do Blondie; os na´rquicos e barulhentos Ratos de Porão; o mestre do blues Howlin' Wolf; e em especial o Mr. Dynamite, James Brown, com seu clássico no Apollo Thetre. Alguns, por sua vez, se afirmaram entre os grandes tendo enfim seu segundo disco indicado pra mostrar que não foi acaso, como é o caso de Cocteu Twins, Chico Science com sua Nação Zumbi, Lobão e Björk.
Com o ingresso, em 2015, do ótimo Ouça o que eu digo: não ouça ninguém", os Engenheiros do Hawaii finalmente completam sua trilogia da engrenagem; Bob Dylan que foi o primeiro a ter dois álbuns seguidos nos Álbuns Fundamentais, lá em 2010, depois de um longo jejum finalmente botou seu terceiro na lista, o clássico "Blonde On Blonde"; já John Coltrane que passou um bom tempo apenas com seu "My Favourite Things" indicado aqui, de repente, num salto, apenas em 2015, teve mais dois elevados à categoria de Fundamental, muito por conta do cinquentenário destes dois álbuns, bem como de outro cinquentão da Blue Note que também mereceu sua inclusão em nossa seleção, o clássico 'Maiden Voyage" de Herbie Hancock, alem do fantástico The Shape of Jazz to Come" como homenagem merecida a Ornette Coleman, falecido este ano.
Por falar em falecido recentemente, não tem como deixar de falar em David Bowie que deixa este mundo na liderança dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS mostrando que toda a idolatria e reconhecimento do qual gozava não era a toa. Mas ele não está sozinho na ponta! Alavancado pela inclusão de seu ótimo "Aftermath", os Rolling Sones alcançam os líderes e empatam com Bowie e com seus "rivais", os Beatles, prometendo grandes duelos para as próximas edições dos A.F.
Como curiosidades, se no ano passado tivemos mais trabalhos de séculos passados, no último ano os A.F. tiveram um certo crescimento o número de álbuns produzidos no século XXI. Muito por conta de uma nova galera talentosa que vem surgindo por aí como Lucas Arruda e Tono que tiveram seus álbuns, "Sambadi" e "Aquário", respectivamente, reconhecidos e incluídos no hall dos grandes álbuns. Os garotos também colaboraram para um fato interessante: o altíssimo número de discos nacionais neste ano. Foram 15 no total, empatando com o número dos norte-americanos neste ano e deixando bem para trás os ingleses com apenas 3 em 2015. O pulo brasileiro refletiu-se na tabela geral e pela primeira vez desde o início da seção o Brasil está à frente da Inglaterra em número de discos.
A propósito, falando de Brasil, se formos falar em termos nacionais, a principal mudança foi a elevação de Caetano Veloso, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia à vice-liderança, dividindo-a ainda com Gil, Legião e Titãs. Na ponta, segue firme o Babulina, Jorge Ben, com 4 álbuns fundamentais.
E aí? O que será que nos reserva 2016? Como será a batalha Beatles vs Stones? Alguém alcançará ou passara Jorge Ben na corrida nacional? E os ingleses reagirão contra os brazucas e mostrarão que são a terra do rock? Aguarde as próximas postagens e acompanhe o ClyBlog em 2016. Por enquanto ficamos com os números de 2015 e uma visão geral de como andam as coisas nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
PLACAR POR ARTISTA (GERAL)
- The Beatles: 5 álbuns
- David Bowie 5 álbuns
- The Rolling Stones 5 álbuns
- Stevie Wonder, Cure, Led Zeppelin, Miles Davis, John Coltrane, Pink Floyd, Van Morrison, Kraftwerk e Bob Dylan: 3 álbuns cada
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Jorge Ben (4)*
- Titãs, Gilberto Gil*, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia; 3 álbuns cada
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 2
- anos 40: -
- anos 50: 13
- anos 60: 63
- anos 70: 90
- anos 80: 82
- anos 90: 62
- anos 2000: 8
- anos 2010: 7
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 15 álbuns
- 1985 e 1991: 13 álbuns cada
- 1972 e 1967: 12 álbuns cada
- 1968, 1976 e 1979: 11 álbuns cada
- 1969, 1970, 1971, 1973, 1989 e 1992: 10 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 125 obras de artistas*
- Brasil: 85 obras
- Inglaterra: 80 obras
- Alemanha: 6 obras
- Irlanda: 5 obras
- Canadá e Escócia: 4 cada
- México e Austrália: 2 cada
- Suiça, Jamaica, Islândia, Gales, Itália e Hungria: 1 cada
quarta-feira, 21 de junho de 2017
Banda Black Rio - "Maria Fumaça" (1977)
Lucas Arruda
Ed Motta
O jazz no Brasil teve de caminhar alguns quilômetros em círculos para que obtivesse uma identificação real com o país do carnaval. Em termos de indústria fonográfica, até os anos 70 as apostas sempre estiveram sobre o samba e derivados ou outros gêneros comerciais, como o bolero, a canção romântica, a bossa-nova carioca, os festivais, a MPB e até o rock. Mesmo presente na sonoridade das orquestras das gafieiras ou na bossa nova, o jazz se misturava aos sons brasileiros mais pela natural influência exercida pelos Estados Unidos na cultura latina do que pelo exemplo de complexidade harmônica de um Charlie Parker ou Charles Mingus. Expressões bastante significativas nessa linha houve nos anos 50 e 60, inegável, mas jazz brasileiro mesmo, com “b” maiúsculo, esse ainda não havia nascido.
Por essas ironias que somente a Sociologia e a Antropologia podem explicar, precisou que o gênero mais norte-americano da música desse uma imensa volta para se solidificar num país tão africanizado quanto os Estados Unidos como o Brasil. Essa solidificação se deve a um simples motivo: assim como na criação do jazz, cunhado por mentes e corações de descendentes de escravos, a absorção do estilo no Brasil se deu também pelos negros. No caso, mais de meio século depois, pela via da soul music. O chamado movimento “Black Rio”, que estourava nas periferias cariocas no início da década de 70, era fruto de uma nova classe social de negros que surgia oriundos das “refavelas”, como bem definiu Gilberto Gil. Reunia milhões de jovens em torno da música de James Brown, Earth, Wind & Fire, Aretha Franklin e Sly & Family Stone. DJ’s, dançarinos, produtores, equipes de som, promoters e, claro, músicos, que começavam a despontar da Baixada e da Zona Norte, mostrando que não eram apenas Tim Maia e Cassiano que existiam. Tinha, sim, outros muitos talentos. Dentro deste turbilhão de descobertas e conquistas, um grupo de músicos originários de outras bandas captou a essência daquilo e se autodenominou como a própria cena exigia: Black Rio.
Formada da junção de alguns integrantes dos conjuntos Impacto 8, Grupo Senzala e Don Salvador & Grupo Abolição, a Black Rio compunha-se com o genial saxofonista Oberdan Magalhães, idealizador e principal cabeça da banda; o magnífico e experiente pianista Cristóvão Bastos; os sopros afiados de José Carlos Barroso (trompete) e Lúcio da Silva (trombone); o não menos incrível baixista Jamil Joanes; Cláudio Stevenson, referência da guitarra soul no Brasil; e, igualmente impecável, o baterista e percussionista Luiz Carlos. Com uma insuspeita e natural mescla de samba, baião, funk, gafieira, rock, R&B, fusion, soul e até cool, a Black Rio inaugurava de vez o verdadeiro jazz brasileiro. Um jazz dançante, gingado, sincopado, cheio de groove e de rebuscamentos harmônicos.
Banda das mais requisitadas dos bailes funk daquela época, eram todos instrumentistas de mão cheia. Se nas apresentações eles tinham a luxuosa participação vocal de dois estreantes até então pouco conhecidos chamados Carlos Dafé e Sandra de Sá, tamanhos talento e habilidade não podia se perder depois que a festa acabasse e as equipes de som guardassem os equipamentos. Precisava ser registrado. Foi isso que a gravadora WEA providenciou ao chamar o tarimbado produtor Mazola – por sua vez, muito bem assessorado por Liminha e Dom Filó, este último, um dos organizadores do movimento Black no Brasil. Eles ajudaram a dar corpo a “Maria Fumaça”, primeiro dos três discos da Black Rio, a obra-prima do jazz instrumental brasileiro e da MPB, uma joia que completa 40 anos de lançamento em 2017.
Como se pode supor, não se está falando de qualquer trem, mas sim um expresso supersônico lotado de musicalidade e animação, que transborda talento do primeiro ao último acorde. Sonoridade Motown com toques de Steely Dan e samba de teleco-teco dos anos 50/60. Tudo isso pode ser imediatamente comprovado ao se escutar a arrasadora faixa-título, certamente uma das melhores aberturas de disco de toda a discografia brasileira. O que inicia com um show de habilidade de toda a banda, num ritmo de sambalanço, logo ganha cara de um baião jazzístico, quando o triângulo dialoga os sopros, cujas frases são magistralmente escritas e executadas. A guitarra de Cláudio faz o riff com ecos que sobrevoam a melodia; Jamil dá aula de condução e improviso no baixo; Cristóvão manda ver no Fender Rhodes; Luis Carlos faz chover na bateria. Quando o samba toma conta, praticamente todos assumem percussões: cuíca, pandeiro e tamborim.
Sem perder o embalo, uma versão originalíssima de “Na Baixa Do Sapateiro”, comandada pelo sax de Oberdan, que atualiza para a soul o teor suingado da melodia, e outra igualmente impecável: “Mr. Funky Samba”. Jamil, autor do tema, está especialmente inspirado, fazendo escalamentos sobre a base funkeada e sambada como bem define o título. Mas não só ele: Luiz Carlos adiciona ritmos da disco ao jazz hard bop, e Cristóvão mais uma vez impressiona por sua versatilidade na base de Fender Rhodes e no solo de piano elétrico. Uma música que jamais data, tamanha sua força e modernidade.
O líder Oberdan assina outras duas composições, a sincopada “Caminho Da Roça” e a carioquíssima “Leblon Via Vaz Lôbo”, em que Cláudio e o próprio improvisam solos da mais alta qualidade. Outros integrantes, no entanto, não ficam para trás nas criações, caso de Cláudio e Cristóvão, que coassinam uma das melhores do disco: “Metalúrgica”. Como o título indica, são os sopros que estão afiados no chorus. O que não quer dizer que os colegas também não brilhem, caso de Luiz Carlos, criando diversas variações rítmicas, Cláudio, distorcendo as cordas, e a levada sempre inventiva de Jamil.
A versatilidade e o conceito moderno da Black Rio revisitam outros mestres da MPB, como Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (“Baião”), onde o ritmo nordestino ganha tons disco e funk; Edu Lobo (“Casa Forte”), de quem realçam-lhe a força e a expressividade das linhas melódicas; e Braguinha, quando o lendário choro “Urubu Malandro”, de 1913, vira um suingado e vibrante samba de gafieira. Nota-se um cuidado, mesmo com a sonoridade eletrificada, de não perder a essência da canção, o que se vê na manutenção de Cristóvão nos teclados e da adaptação das frases de flauta para uma variação sax/trompete/trombone.
Outra pérola de Jamil desfecha essa impecável obra num tom de soul e jazz cool, que antevê o que se chamaria anos adiante no Brasil de “charme”. Embora a canção seja de autoria do baixista, é o trompete de Barrosinho que arrasa desenhando toda melodia do início ao fim.
Talvez seja certo exagero, uma vez que já se podia referenciar como jazz “brazuca” o som de Hermeto Pascoal, Moacir Santos, Airto Moreira, João Donato, Eumir Deodato, Flora Purim, Dom Um Romão, entre outros – embora, a maioria tenha-o feito e consolidado seus trabalhos fora do Brasil. Com a Black Rio foi diferente. Com todos pés cravados em terra brasilis, foi o misto de contexto histórico, necessidade social, proveito artístico e oportunidade de mercado que a fizeram tornar-se a referência que é ainda hoje. Uma referência do jazz com cheiro, cor e sabor latinos. Mas para além das meras classificações, a Black Rio é o legítimo retrato de uma era em que o Brasil negro e mestiço passou a mostrar a riqueza "do black jovem, do Black Rio, da nova dança no salão".
por Daniel Rodrigues
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
Música da Cabeça - Programa #92
Vocês já imaginaram se só as meninas gostasse de Pink Floyd e somente os meninos de blues? Os símbolos estariam totalmente mal compreendidos, né? Pois no Música da Cabeça a gente luta contra todos os rótulos e preconceitos, e por isso vamos ter todas as cores sonoras no programa de hoje. Tem as tonalidades jazz soul de Lucas Arruda e Sandra Sá, do rock proto e pós-punk da The Shadows of Knight e da Bauhaus e da docilidade melódica de Chico Buarque e Legião Urbana. Isso, pra ficar em apenas alguns, porque também tem avant-garde no quadro “Cabeção”, world music no “Música de Fato” e uma letra bem pop no “Palavra, Lê”. Ou seja: uma paleta inteira de motivos pra ouvir o programa hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (“Alma não tem cor, porque eu sou Jorge Mautner”).
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
Música da Cabeça - Programa #247
Hoje tem o último MDC do ano, sim, e vai ter muita coisa legal pra fechar 2021 de boas. Stevie Wonder, Love, Engenheiros do Hawai, Elis Regina e Lucas Arruda estão na nossa lista de desejos realizados. Ainda, no "Cabeção", a obra do compositor argentino Maurício Kagel. Não precisa ficar bolado igual o Chico: é só sintonizar na Rádio Elétrica às 21h e aproveitar o programa de hoje - até porque em 2022 a gente tá aí de novo. Produção, apresentação e show da virada particular: Daniel Rodrigues
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 2 de janeiro de 2019
Música da Cabeça - Programa #91
Conosco não tem ressaca de Réveillon, não! No Música da Cabeça a gente já começa o ano embalado, e por isso teremos neste primeiro programa de 2019 entrevista com o talentoso músico Lucas Arruda no quadro “Uma Palavra”. Umas das revelações do jazz-soul brasileiro dos últimos tempos conversou com a gente e, claro, pediu música. Aliás, é o que não nos falta nunca, pois vamos ter ainda Caetano Veloso, Bob Dylan, John Cale, Lucinha Lins e mais. Precisa dizer mais alguma coisa pra que não percam o MDC de hoje? Não, né? Então, é só se ligar e ouvir às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e Sonrisal: Daniel Rodrigues.
quarta-feira, 4 de maio de 2022
Música da Cabeça - Programa #265
Semana passada souberam quem ganhou o BBB, mas aqui isso não interessa nem um pouquinho, mas sim, quem ganhou a nossa promoção dos 5 anos do MDC! No programa de hoje vamos revelar quem foram os sortudos que irão levar uma camiseta personalizada feita pela loja Regentag com a estampa de sua escolha! Mas tem aquilo de sempre também: músicas, com Guilherme Arantes, Young Marble Giants, Lucas Arruda, Ataulfo Alves e mais. Sem eliminação e nem paredão, o MDC 265 é às 21h, na sortuda Rádio Elétrica. Produção, apresentação e roleta da sorte: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
domingo, 18 de abril de 2021
14º Cine Esquema Novo - Debates com realizadores da Mostra Competiviva Brasil
Exercer o papel de crítico de cinema, definitivamente, nem sempre é apenas escrever ou comentar a respeito de filmes. Aliás, ficar somente nisso é até limitado em termos de crítica. Por isso, com satisfação mediei três debates para os quais fui convidado como membro da Associação de Críticos do Rio Grande do Sul (ACCIRS) no 24° Cine Esquema Novo - Arte Audiovisual Brasileira, uma realização da ACENDI - Associação Cine Esquema Novo de Desenvolvimento de Imagem com recursos da Lei 14.017/2020.
Fora as atividades das quais participei, o festival teve uma impressionante quantidade de outras programações, como filmes, seminário, oficinas, ações e outros vários debates sobre os 31 filmes em disputa. Ao final, foram escolhidos pelo júri – composto por Fernanda Brenner, Flavia Guerra, Graciela Guarani e Linn da Quebrada – pare receber o Grande Prêmio 14º Cine Esquema Novo “Os Últimos Românticos do Mundo”, de Henrique Arruda (PE), e “Célio’s Circle”, de Diego Lisboa (BA/SP). Além destes, levaram reconhecimentos de destaque ”Perifericu”, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira (SP, Prêmio Perspectiva); “Ser Feliz no Vão”, de Lucas H. Rossi dos Santos (RJ, Prêmio Requadro); “Entre Nós e o Mundo”, de Fabio Rodrigo (SP, Prêmio Contra-Plano); “Caminhos Encobertos”, de Beatriz Macruz e Maria Clara Guiral (SP, Prêmio Quebra de Eixo); e “Atordoado, Eu Permaneço Atento”, de Henrique Amud & Lucas H. Rossi dos Santos (RJ/SP, Prêmio Ficção).
No meu caso, suscitado a dialogar sobre diversos temas, não raro delicados e polêmicos, mas sempre urgentes e necessários de serem abordados como racismo, política, violência, gênero e comportamento social. Foram, ao todo, nove títulos sobre os quais me debrucei, três em cada encontro, cujos temas e aspectos depreendidos eram ligados e debatidos à luz do fazer cinematográfico e de seus contextos sociopolíticos e culturais.
Telas preenchidas com debatedores convidados nos três encontros em que participei no CEN 2021 |
O desafio foi interessante para alguém que até então havia participado como jurado e debatedor mas ainda não como mediador. No primeiro, dia 10/4, temas como preconceito de raça e gênero, violência urbana e identidade circundaram os filmes “As Vezes Que Não Estou Lá”, de Dandara de Morais (PE), “Fazemos da Memória Nossas Roupas”, de Maria Bogado (RJ), e o já citado “Entre nós e o Mundo”, com a presença de seu diretor.
No segundo, dois dias depois, os questionamentos penderam para as verdades obscurecidas pela sociedade e pela história e as dimensões oníricas da vida (e da arte). Porém, não menos instigantes. Isso, através do aprofundamento dos filmes “Vento Seco” (GO), “Deserto Estrangeiro” (RS) e “A Chuva Acalanta a Dor” (CE/Portugal), que contou com a participação de seus realizadores: Daniel Nolasco, Davi Pretto e Leonardo Mouramateus, na ordem por obra.
Por fim, no dia 14, estive na interlocução daquele que talvez tenha sido ainda mais pulsante dos debates. Reunindo Lia Letícia, pelo filme “Per Capita” (PE), Victor Abreu, por seu “Milton Freire, um grito além da história” (RJ), e a dupla Rubens Rewald e Jean-Claude Bernadet – este último, lendário crítico/roteirista/cineasta/professor, uma referência para o pensamento do cinema brasileiro –, que competiam no CEN com o fervente “#eagoeraoque?” (SP). A situação política do Brasil foi propositadamente provocada não apenas em razão deste título, mas também no desassossegador curta de Lia e no forte filme de Victor, que aborda a violência aplicada aos doentes mentais.
Para entender melhor essas poucas e superficiais observações, recomendo altamente que se assistam os vídeos dos debates, que o CEN disponibiliza em suas redes. Aliás, estes e os vários outros debates e vídeos das diversas atividades, que trazem um conteúdo rico para quem preocupa-se em questionar assuntos prementes da nossa sociedade. Como disse o ilustre convidado Bernadet não nesta, mas numa outra ocasião, o fazer da crítica de cinema não pode se resumir a apenas avaliar filmes, mas, sim, exercer um papel ativo na interação com a produção e a criação da obra fílmica. Ao menos, tentei.
Confira os vídeos com os debates:
As Vezes Que Não Estou Lá - Dandara de Morais, direção e roteiro
Entre nós e o Mundo - Fabio Rodrigo, direção e roteiro
Fazemos da memória nossas roupas - Maria Bogado, direção e produção
#eagoraoque - Jean-Claude Bernardet e Rubens Rewald, direção
Per Capita - Lia Leticia, diretora e roteiro
Milton Freire, um grito além da história - Victor Abreu, direção e roteiro
Daniel Rodrigues
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
14 anos, 14 convidados
E o clyblog chega a seus 14 anos de idade.
Parabéns para nós!
E parabéns para nós, principalmente, por, durante todo esse período de existência, termos tido a honra de contar com colaborações valiosas de convidados das mais diversas áreas. Escritores, jornalistas, músicos, fotógrafos, artistas, deram suas contribuições a partir de suas experiências, preferências pessoais e respectivos repertórios culturais, abrilhantando momentos especiais do nosso blog em datas importantes, números redondos de publicações ou em nossos aniversários anteriores.
Para comemorar os 14 aninhos e essas colaborações maravilhosas, relembramos aqui, exatamente, 14 momentos, 14 participações especiais, 14 grandes convidados que nos proporcionaram publicações de altíssima qualidade e conteúdo valiosíssimo para o Clyblog.
Então aí vão 14 participações de convidados durante os 14 anos, até aqui, de ClyBlog:
Em 2013, o escritor, teólogo, filósofo, ensaísta, crítico de arte, poeta e cronista gaúcho, Armindo Trevisan, nos deu de presente de Natal uma belíssima crônica que sugeria uma merecida reverência silenciosa a um momento tão importante como é o caso do nascimento de Cristo, no nosso Cotidianas Especial de Natal.
"(...)Que maravilhoso seria se, na comemoração do Natal, as nações cristãs, concordassem em instituir um minuto de silêncio em homenagem a tão grande Mistério!
Seria preciso que não se ouvisse som algum em nosso mundo!
Seria preciso que a paz, silenciosa como as estrelas (ao contrário de nossos ícones que, para serem ovacionados, inflamam as multidões) entrasse nos corações na ponta dos pés, e aí fizesse adormecer as almas ao som da Noite Feliz, traduzida para o português por um frei franciscano de Petrópolis, o qual preferiu o adjetivo feliz ao adjetivo original alemão stille: Noite Silenciosa! (...)"
Leia o texto na íntegra: