A palavra “Vortex” já significou muitas coisas na minha vida. Meu primeiro encontro com ela foi em meados dos anos 70, numa máquina de fliperama, aquelas antigas, de bolinha, imortalizadas no musical “Tommy”. Os desenhos da máquina eram futuristas, misturando sexo e violência em doses perfeitas para a adolescência. Na minha interpretação, esses desenhos representavam um planeta distante, cheio de monstros e mulheres maravilhosas. Eu jogava e, mesmo perdendo as cinco bolas rapidamente, curtia o visual.
Lá pelo final de 1983, Os Replicantes estavam fazendo suas primeiras músicas, e eu, as primeiras letras. Creio que “Nicotina” (grande letra do Cláudio Heinz) foi a primeira canção a ficar pronta. E, logo depois, numa ordem difícil de recuperar, vieram “Ele quer ser punk”, “Porque não”, “O princípio do nada” e “O futuro é Vortex”. Com certeza aquelas imagens da velha máquina de fliper ajudaram na evocação de um planeta hostil em que “pra comer tem que matar”. Quando lançamos nosso compacto-duplo, uma das quatro músicas era “O futuro é Vortex”, e, na hora de escolher o nome do nosso selo, foi fácil: selo Vortex.
Alguns anos depois, na hora de decidir como o nosso primeiro LP se chamaria, alguém sugeriu (provavelmente eu mesmo, mas não tenho certeza) que o disco se chamasse “O Futuro é Vortex”. Foi uma boa escolha. Ele estava cheio de canções de ficção científica, e esse título era uma boa síntese. A palavra voltaria na nossa primeira fita VHS, “Os Replicantes em Vortex”. Enfim, aquele planeta parecia ser um bom local para Os Replicantes quando eles fugiam da Terra.
Em 1987, quando a banda resolveu abrir um lugar para ensaiar, vender fitas cassete e beber cerveja (mas eu bebia conhaque...) o nome ficou Vortex. Não creio que foi falta de imaginação, e sim a vontade de usar uma marca que já estava plenamente identificada com a estética da banda. O bar (ou o que quer que fosse) durou apenas um ano, mas que ano... Dezenas de lançamentos, dezenas de shows transmitidos por circuito fechado, dezenas de noites memoráveis com os amigos, regadas a punk rock e loucura. O bar Vortex faz parte das memórias afetivas de muita gente.
Finalmente, Vortex também foi o nome de fantasia da produtora de vídeo que tenho em sociedade com a Luciana Tomasi, que nasceu como “Invideo”, lá em 1982. No final dos anos 90, achamos que “Invideo” era muito careta e mudamos para... “Vortex”. A denominação veio até 2011, quando saímos da Casa de Cinema e resolvemos mudar para “Prana Filmes”. Hoje, portanto, Vortex é uma máquina de fliper que não existe mais, um bar que não existe mais, um nome de fantasia que não existe mais, um selo musical que não lança nada há uns 20 anos (mas quem sabe, no futuro...), um LP fora de catálogo e uma fita VHS que ninguém consegue ver mais. Mas “O futuro é Vortex”, a música, ainda está muito viva. No show dos Replicantes, dia 9 de dezembro, será executada, com pompa e circunstância, celebrando os 30 anos da banda. Quem viver, verá. Mas, cuidado!, o futuro é Vortex.
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FAIXAS - "O Futuro é Vortex":
"Boy do Subterrâneo" (Carlos Gerbase, Heron Heinz) – 2:22
"Surfista Calhorda" (Carlos, Heron) – 3:30
"Hippie-Punk-Rajneesh" (Carlos, Heron) – 2:43
"One Player" (Carlos, Cláudio Heinz) – 2:43
"A Verdadeira Corrida Espacial" (Carlos, Cláudio) – 2:24
Doutor em Comunicação Social, Carlos Gerbase é cineasta e ex-líder da banda Os Replicantes, a qual fez parte entre 1983 e 2002. Em cinema, integrou por 24 anos a Casa de Cinema de Porto Alegre.
Escreveu e dirigiu longas como “Tolerância” (2000), “Sal de Prata” (2005), “Verdes Anos” (1984), “3 Efes” (2007), "Menos que Nada" (2012) e o documentário "A Batalha dos Aflitos" (2005), além de curtas, como "Sexo e Beethoven" (1997), "Passageiros" (1987) e "Deus ex-machina" (1995).
Realizou ainda diversos programas de teledramaturgia para TV. Leciona, desde 1981, nos cursos de Cinema e Televisão da PUCRS, onde coordena a pós-graduação em Cinema. Como escritor é autor do romance Professores (Record, 2006), Cinema: Direção de atores (Artes & Ofícios, 2003), Contos cinematográficos (Artes & Ofícios, 2000), entre outros.
Nós no Opinião, lá em 1997, esperando pelo início do show.
Flávia à esquerda, Iris, à direita, Christian, no fundão
e este seu blogueiro, ao centro.
Já vi muitos shows, já vi alguns artistas mais de uma vez mas, sem dúvida alguma, a banda que eu mais vi ao vivo foi Os Replicantes. Já assisti de graça, pagando, em lugar fechado, ao ar livre, em lugar metido a besta, em ambiente bem punk, no litoral, na cidade... Foram tantas que até perdi a conta. Mas uma das que mais me marcou foi no Bar Opinião, em 1997. Um show vibrante que carregava toda uma energia especial em que o público que podia perceber uma banda motivada, afinzona, superpilhada em dar o melhor de si. A coisa toda já começou com o então vocalista, Carlos Gerbase, entrando no palco, pulando como um louco, vestindo uma fantasia de cachorro, com uma cabeçorra enorme que ele tirou para cantar, é claro, mantendo, contudo, o macacãozinho da indumentária com uma barriguinha branca de pet fofinho. A partir daquele momento a coisa não parou e Os Replicantes botaram o lugar abaixo e incendiaram a galera com seu punk-rock agressivo e ao mesmo tempo divertido e carismático.
Quem assistiu o filme "Uma Cilada Para Roger Rabbit" deve lembrar quando o juiz, tentando desentocar o coelho de seu esconderijo dá algumas batidinhas seguidas nas paredes, provocando o animal-desenho a aparecer, pois ele, exibido como é, não resiste a completar as batidas e se mostrar. "O que é que isso tem a ver?". É que, quando se trata de punk rock, eu sou meio como o Roger Rabbit quando ouve as batidinhas: não resito àquelas guitarras me chamando, àquele pessoal suado se debatendo, aquela "violência", e tenho que ir pra roda punk. Não tive como resistir e, mesmo acompanhado dos amigos Christian Ordoque, Iris Broges e Flávia Howes, pessoal que eu havia conhecido no ano anterior, numa excursão para o Hollywood Rock, várias vezes ao longo do show, os deixava momentaneamente para ir lá pra frente, pra roda, poguear como um louco. Voltava exausto e todo suado mas nada que uma cerveja gelada não resolvesse. Ia de novo.
O repertório dos Replicantes é contagiante: "Boy do Subterrâneo", "Nicotina", "Hippie-Punk-Rajneesh", "Astronauta", o hit "Surfista Calhorda". Uma pedrada atrás da outra sempre levando a galera à loucura. Mas, particularmente, se fixaram na minha memória os momentos do show em que tocaram "Pra Ver Se Eu Conseguia", que eu não conhecia e passei a adorar a partir dali; o "samba-punk" "Samba Cacetada", cujo refrão "Sacode, sacode, sacode...", era praticamente uma ordem para o pessoal intensificar ainda mais o pogo; e a ótima "Eu Quero é Mucra", em que o público levantava as mãos imitando a forma de uma vagina, repetindo o refrão em coro.
Como cereja do bolo, rolou um revival do ex-vocalista Wander Wildner cantando o seu hit solo "Jesus Cristo Vai Voltar", e encerrando o show com seus ex-companheiros de bandacom "Festa Punk, em uma anárquica performance com uma porrada de gente em cima do palco. Nada mais justo que fosse assim e que esta fosse a música escolhida para finalizar, pois, na verdade, ela simbolizava exatamente tudo o acontecera naquela noite: uma grande festa punk.
Afudê!
Os Replicantes - Bar Opinião - 1999
* Aqui trechos de um show dOs Replicantes, também no Opinião mas este em 1999.
Não é o mesmo show mas é a mesma vibe e dá pra ter uma ideia de como foi o que eu me refiro no post.
Meu amigo Cly Reis me pediu para escrever sobre um disco que eu considere muito bom, importante e marcante, uma obra-prima. Pensando bem ele não disse nada disso, apenas pediu que eu escrevesse alguma coisa sobre algum disco. Eu é que fiquei tentando, escolher um puta disco, um disco super-cabeça, algo que mostrasse como é vasto o meu conhecimento musical e como eu tenho bom gosto. Como um músico vaidoso que insiste em enfiar demonstrações de habilidade técnica em canções que ficariam bem melhores com algo mais simples eu tentei usar o disco como pretexto para escrever sobre mim mesmo e pelo jeito foi o que eu acabei fazendo. Passei meses rejeitando os candidatos. Nenhum disco era bom o suficiente. Sempre tinha algum defeito. Um era mal produzido, outro tinha letras bobas, outro tinha solos demais, outro tinha solos de menos, e assim vai. Em nome de impressionar o Cly e os leitores do ClyBlog eu percorri em vão catálogos e prateleiras. Como Diógenes com uma lamparina na mão em busca de um homem honesto. Honesto! Aí estava minha resposta. Diógenes não procurava o homem mais inteligente, o mais bonito ou bem sucedido, ele queria encontrar um homem honesto. A resposta atingiu minha cabeça como uma jaca madura, o disco mais honesto que eu mais gosto é, sem a menor dúvida, o primeiro disco d'Os Replicantes, "O Futuro é Vortex". É um disco punk de verdade, nu e cru. O fato dos músicos não usarem coturnos, moicanos, pregos ou tachinhas o faz ainda mais autêntico. Naquele tempo não faltavam almofadinhas fantasiados de punk. Numa década de cocôs lustrados e lapidados, de obras sem o menor conteúdo mas de acabamento e produção impecáveis Os Replicantes eram uma grata surpresa. "O Futuro é Vortex" não tem frescuras, não faz prisioneiros e ao mesmo tempo não tem ofensas gratuitas. Não é uma tentativa de chocar ou insultar ninguém, é o trabalho de uma banda botando para fora as angústias, a revolta e as frustrações de muitos jovens que viviam na Porto Alegre dos anos oitenta. A Guerra Fria e a sombra da possibilidade de um holocausto nuclear ainda pairava sobre hippies, punks, surfistas, boys do subterrâneo, rajneeshs, motéis de esquina, censores e mulheres enrustidas. O mundo era dos yuppies, do overnight, da cocaína e só nos cabia assistir e torcer pelo plano cruzado que tinha que dar certo e obviamente não deu. "Enfio a ficha no buraco e dou um chute só para incomodar" resume bem a minha adolescência ou até talvez toda a minha existência. Totalmente submisso ao sistema e gastando a mesada em uma máquina de aventuras ilusórias O chute não é mais que uma simbólica e inútil revolta. Se o disco tivesse sido tocado, gravado e produzido de uma forma mais cuidadosa perderia todo seu sentido. Punk tem que ser podre, com cheiro de sarjeta e cola de sapateiro.
porRodrigo Lemos
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FAIXAS:
"Boy do Subterrâneo" (Carlos Gerbase, Heron Heinz) – 2:22
"Surfista Calhorda" (Carlos, Heron) – 3:30
"Hippie-Punk-Rajneesh" (Carlos, Heron) – 2:43
"One Player" (Carlos, Cláudio Heinz) – 2:43
"A Verdadeira Corrida Espacial" (Carlos, Cláudio) – 2:24
Não venho falando que o bairro Bom Fim e sua história andam recorrentes pra mim? Pois pouco tempo depois de ter assistido a "Filme Sobre um Bom Fim" e visitado a Lancheria do Parque nas vésperas da despedida do garçom Ildo, ambos assuntos que me motivaram a escrever aqui para o blog, outro acontecimento envolvendo o bairro me impele a falar a respeito do Bonfa de novo. É o documentário “Rock Grande do Sul: 30 Anos”, para o qual tivemos a honra de sermos convidados para a pré-estreia por um de seus diretores, meu amigo e jornalista Lucio Brancato, o que aconteceu no simpático Panama Estudio Pub, na Cidade Baixa, numa (mais uma!) noite chuvoso de setembro na capital.
Dentre os que assistiram, estavam o codiretor e também jornalista Fabrício Almeida, os colegas de Grupo RBS Alexandre Lucchese e Porã Bernardes, que ajudaram na pesquisa e entrevistas, e um dos protagonistas do filme, o DJ e produtor musical Claudinho Pereira, responsável pelos contatos que fizeram com que Rock Grande do Sul acontecesse 30 anos atrás. O disco impulsionou as bandas gaúchas dos anos 80, as quais já mobilizavam multidões por aqui, mas ainda não tinham projeção nacional. A trajetória começa em setembro de 1985 com um show no Gigantinho, o “Rock Unificado”, que reuniu pela primeira vez somente bandas locais e um público de mais de 10 mil pessoas. Disso, culmina com a escolha de cinco desses conjuntos para participarem de uma coletânea, engendrada por Claudinho junto a Tadeu Valério, executivo da RCA Victor, que veio a seu convite como olheiro assistir ao espetáculo. Convencido por Claudinho, se valesse a pena, Valério os lançaria um disco. Valeu. Assim, gravariam pela primeira vez em um LP nacional TNT, Garotos da Rua, Engenheiros do Hawaii, Os Replicantes e DeFalla (este último, que não participou do tal show no Gigantinho, mas era visivelmente um destaque na cena pela sonoridade, visual e postura).
Antes da avant-première
Vendo o filme, impossível não compará-lo a “Filme sobre Um Bom Fim”, tendo em vista a quase simultaneidade em que foram lançados. A temática, que faz ambos passarem necessariamente pelo bairro e pela cena cultural da época, os une numa leva de realizações que se completa com outro documentário desde ano, “Sobre Amanhã”, de Diego de Godoy e Rodrigo Pesavento, a respeito da banda DeFalla, lançado também faz pouco, em agosto, no Festival de Gramado. Vários entrevistados são, obviamente, os mesmos, visto que nomes como Biba Meira, Carlos Gerbase, Carlos Eduardo Miranda, Claudinho e Edu K, por exemplo, são essenciais para a história dessa efervescência cultural vivida por Porto Alegre num passado recente.
Conversei sobre isso com Lucio, que me revelou ter sido, de fato, apenas um feliz acaso. As semelhanças existem, tanto que tiveram que evitar de usar imagens e vídeos repetidos em uma obra e outra. Mas a ideia de “Rock...” surgira entre seus idealizadores há pouco tempo, quando Porã se dera conta do aniversário do disco, sendo que o projeto de “Filme...”, consideravelmente maior, já vinha sendo tenteado há uma década. E é aí que as coisas começam a se diferenciar. Por tratar de um tema menos complexo, o lançamento do disco e suas consequências (“Filme...” remonta parte da história e vivências do Bom Fim e arredores em mais de duas décadas), “Rock...” exige um menor número de entrevistados (menos de 20 ao todo) e recortes temporal e narrativo idem.
Começando a projeção.
Talvez por esses fatores, “Rock...” tenha ficado tão agradável e lúdico. Não que “Filme...” também não o seja; mas a complexidade que seu tema central levanta, bem como os vários desvelamentos que não se pode deixar de fazer (política, cultura, boemia, história, antropologia, comunicação, literatura, cinema, arquitetura histórica, urbanismo, etc.), lhe dão necessariamente um caráter mais denso – desafio este que o diretor Boca Migotto cumpre muito bem, diga-se. No caso de “Rock...”, essa exigência é menor, pois os caminhos para dissecar o assunto tornam-se naturalmente menos intrincados, ajudando, inclusive a detectar com mais facilidade os pontos a serem destacados no decorrer da narrativa. Dá até para fazer “firulas”. É o que acontece, por exemplo, na hora em que King Jim, d’Os Garotos da Rua, levemente “desmemoriado”, recorda que até havia plateia no Gigantinho na fatídica noite de 11 de setembro de 1985, depoimento imediatamente reconsiderado por Charles Master, do TNT, a quem era óbvio que havia um grande público. Momento engraçado e bem construído pela montagem.
O tempo recorde em que foi produzido – desde a concepção do roteiro, entrevistas, decupagem e montagem levou-se apenas sete semanas (algo como menos de dois meses), conforme Lucio, impressionado com o próprio feito, me relatou – não prejudicou o resultado final. Muito pela experiência dos realizadores, talhados nas várias mídias do jornalismo (tevê, jornal, rádio, etc.), “Rock...” ganhou agilidade e fluência, contando desde o surgimento das bandas e o furor da cena gaúcha dos anos 80, passando pelo “Rock Unificado”, os bastidores da assinatura do contrato com a RCA e o sentimento dos protagonistas quanto àquela conquista. Além disso, remonta o que aconteceu dois anos depois da coletânea como resultado: a gravação do disco de cada uma das cinco bandas que integraram a “Rock Grande do Sul”, dentre estes os clássicos “Papaparty”, da DeFalla, "O Futuro É Vortex" (1987), d’Os Replicantes, e o LP homônimo da TNT.
Bem interessante esse momento do filme, em que contam sobre a aventura de ir para o Rio de Janeiro para gravarem os discos, o que rende histórias engraçadas e com sabor nostálgico. Charles fala da reação “jeca” dos rapazes da TNT ao se depararem com o rico aparato do estúdio e, logo em seguida, voltarem ao hotel onde estavam hospedados e esconderem os seus instrumentos de vergonha que ficaram. Ou das sacanagens que Os Garotos da Rua, suburbanos também no jeito de ser, faziam no quarto do hotel dos membros do Engenheiros do Hawaii, que, universitários intelectualizados, respondiam às brincadeiras testando-lhes o conhecimento, tal como relataram Jim e Humberto Gessinger. Eu, que sou especialmente fã de Replicantes, adorei saber das condições que a banda de Gerbase impôs à gravadora. Punks cientes – e orgulhosos – de sua inaptidão técnica como músicos, embora extremamente criativos e donos de uma música inteligente e pungente, tinham critérios desde a escolha do repertório até o método de gravação, em que a banda tocava junta (sem overdub) e escolhiam, ao final, o take “menos pior”, como relatara engenheiro de som que os apadrinhara, o Barriga.
Master, Gessinger e Gerbase,
três das figuras centrais do filme.
Detalhes cuidadosos estabelecem o ritmo da montagem, da fotografia e locações, mantendo tempos regulares e bem conduzidos das falas – um exemplo simples mas que denota essa delicadeza é o lettering que credita cada entrevistado, o qual aparece apenas depois da primeira ideia dita por estes. Ao final, fica um sabor de “quero mais”, e não pela sensação de ter sido pouco, pois, mesmo sendo um curta, o filme supera esse fator uma vez que conta muito bem a história. Fica, sim, o sentimento de “que pena, passou tão rápido!”
O filme desfecha com uma rodada de percepções de vários dos entrevistados sobre o que a coletânea “Rock Grande do Sul” representava para eles hoje. Com o a capa do vinil na mão, num exercício psicológico tátil, cada um dá seu depoimento que vai do orgulho ao carinho. Olhando-os nessa sequência, hoje todos mais velhos de quando realizaram a obra, fica a sensação de que parece ter passado pouco tempo de lá para cá, o que é imediatamente contrariado pelo fator cronológico, o qual relembra serem caprichosas três décadas. Não é pouco, de fato. A sensibilidade dos diretores e o carinho com que trataram do tema é provada no desfecho: percebendo essa atmosfera nostálgica que permeia a psique coletiva, o que se escuta no final não é "Segurança", "Entra Nessa" ou “Surfista Calhorda”, faixas do disco que automaticamente são ligadas a este – e com as quais seria óbvio demais encerrar. Ouve-se, sim, apenas o chiado da agulha no sulco do vinil, metáfora de uma obra que não inicia, pois seus ecos, na verdade, ainda não terminaram.
Afora isso, foi saboroso assistir a esse tributo a um dos discos que foi um dos principais responsáveis por fazer a mim e a meu irmão a gostarmos de rock e pelo qual guardo um sentimento especial até hoje. Pelo visto, não só eu.
A banda tocando "Crucificados pelo Sistema" na íntegra.
foto: Leocádia Costa
O show do Ratos de Porão na
Segunda Maluca, no bar Opinião, já é um programa anual confirmado em Porto
Alegre. A galera alternativa, que curte de verdade a pioneira banda do punk
nacional, não deixa de comparecer, tanto que se veem os mesmos malucos por lá
ano após ano – eu, inclusive, que os vi numa mesma ocasião, em 2013.
Porém, agora teve um porque ainda mais especial: os 30 anos do seminal
“Crucificados pelo Sistema”, histórico álbum lançado por eles em 1984 e que, passando
por cima de toda a precariedade típica dos punks da época, abriu portas para
toda uma geração do punk nacional (e gringo!) ao mesclar a “fudência” do hardcore com outras vertentes do rock
pesado, como heavy metal, grind-core, trashcore
e afins, o crossover. A comemoração pelo
primeiro álbum individual de uma
banda de hardcore da América Latinaincluiu um documentário (lançado ano passado) e shows como este
com sua execução na íntegra, além do reencontro da formação antiga da banda: o
irreverente João Gordo no vocal, Jabá, no baixo, e Mingau na guitarra, uma vez
que o guitarrista oficial desde 1985, Jão, que tocou bateria nas gravações de
“Crucificados...”, reassumiu as baquetas para essa ocasião excepcional.
João Gordo,
sempre empático com a galera.
foto: Leocádia Costa
Para completar, o show de abertura foi em alto nível com Os Replicantes, minha banda favorita de punk-hardocre
brasileiro. Mesmo sem seu principal cabeça, Carlos Gerbase, nem o performático
Wander Wildner – ambos participantes esporádicos hoje –, o grupo mandou muito
bem com a rascante Julia Barth à frente. Set-list
de primeira, intercalando clássicos replicantes (“África do Sul”, “Chernobil”,
“Nicotina”) com outras do repertório novo – na mesma linha baixo-rock-bateria
pegado e riffs inteligentes com
letras idem. Mas, principalmente, a boa surpresa foi ver a própria Julia
comandando o palco, numa performance
de tirar o chapéu. Até me desfez a má impressão que fiquei dela do show de 30 anos d'Os Replicantes, há dois anos, quando, provavelmente intimidada com os
integrantes mais velhos (Gerbase, Wander, Luciana Tomasi), mostrou-se numa
postura defensiva e um tanto pedante.
Eu vidrado no show da RDP.
foto: Leocádia Costa
Mas e o Ratos de Porão? A qualidade de sempre. Desta vez, porém,
somente para tocar os “tiros curtos” de “Crucificados...”, disco que tem pouco
mais de 18 minutos no original. No caso, com bis e outras coisas, foi pouco
mais de meia-hora. Conforme anunciou Gordo, orgulhoso e brincalhão: “’Cês tão
ligado que hoje não tem essa coisa metal, não, né?. Com essa formação é só a
coisa pura, a coisa ingênua, do coração”, referindo-se à sonoridade ainda crua
e bastante inspirada no punk e hardcore
do final dos anos 70 e início dos 80, como Dead Kennedy's, D.R.I. e Exploited. “Morrer”,
com sua memorável abertura – a bateria cavalgando rápida, guitarra e baixo na
combinação 2/2 e Gordo abrindo com aquele berrado: “Um dois, três, quaaaaa...” –, incendeia de cara a plateia, que cai
no pogo e não para até o fim da apresentação. “Caos”, a mais curta de todas (ridículos
15 segundos) e “Guerra Desumana” antecedem outra boa de poguear:
“Agressão/Repressão”, cantada em coro no refrão. Igualmente, “Que vergonha!”,
que emenda com outra clássica, “Poluição Atômica”, presente também na coletânea "Sub", primeiro registro da RDP e de vários outros grupos do punk brasileiro.
O melhor performer
do rock nacional em ação.
foto: Leocádia Costa
Também das mais queridas da galera é “FMI”, cujo refrão simplesmente
genial todos entoaram: “O FM-ê não está
nem aê!”. “Só penso em matar”, com seu riff
poderoso, é outra das grandes do disco e do show. “Não me Importo”, mais um hino
do punk nacional (“Não me importo com o
mal/ Que assola a humanidade/ E a poluição que sufoca minha cidade/ Não me
importo com o papa/ Fazendo caridade/ E a corrupção me tira a liberdade”),
é daqueles de sair dando botinada pra tudo que é lado. A melhor – e talvez mais
conhecida do disco fora do meio alternativo –, a faixa-título, é daqueles riffs geniais, prenúncio do avanço
composicional que a banda teria mais tarde, a partir de 1987, com “Cada dia
Mais Sujo e Agressivo”, principalmente. Os próprios integrantes, totalmente à
vontade e curtindo o momento, gostaram tanto de tocá-la (e o público de ouvir e
dançar) que a repetiram logo em seguida – o que não somou 3 minutos, visto que
a música tem menos de 1 e meio. Fechando com “Corrupção”, o bis trouxe
“Periferia”, faixa do próprio disco que tinham se esquecido de tocar, e outras
três clássicas: “Velhus Decréptus” (do “Descanse em Paz”, de 1986), “Vida Ruim”
(“Não dá mais pra aguentar/ Essa vida
ruim/ Essa vida de pião/ Você anda sem nenhum tostão...”), e “Realidades da
Guerra” (essas duas últimas do “Sub”).
Festa punk completa, com direito a entrada, prato principal e cereja do
bolo. Leocádia Costa, que registrou em fotos e vídeo o show, e nunca tinha
visto os Ratos ao vivo, saiu positivamente impressionada. Afinal, uma coisa é
certa – e pouco falada –: o RDP é das grandes bandas do rock mundial e João
Gordo é o melhor performer do rock
brasileiro. Ponto. Que venham os Ratos de Porão novamente
em 2016, que estarei lá na certa. Quem sabe, comemorando o aniversário do
“Descanse em Paz”?
Ando escrevendo bastante sobre Porto Alegre e sobre o Bom Fim
especialmente nos últimos tempos. Talvez não seja acaso, pois a considerar os
sentimentos que venho nutrindo pela cidade, mais para mal do que para bem, ter
assistido ao documentário “Filme sobre
um Bom Fim” deve significar alguma coisa. Tanto para bem quanto para mal.
Para bem, porque é um barato conhecer mais da história, identificar-se e ouvir
os depoimentos de quem presenciou e viveu os períodos heroicos do famoso “Bonfa”.
Para mal é que, infelizmente, minhas queixas e decepções se confirmam nas de
outras pessoas – e não qualquer uma, mas as que ajudaram a escrever a biografia
cultural recente da cidade.
Mas comecemos pela parte boa. Dirigido por Boca Migotto, com fotografia
competente de Bruno Polidoro, “Filme...” resgata de forma bastante eficiente a
história do Bom Fim, bairro boêmio (muito mais no passado do que hoje) que, no
final dos anos 60 até o início dos anos 90 – ou seja, percorreu basicamente
toda a época do Regime Militar no Brasil – foi ponto de confluência das mais
ricas manifestações artísticas de Porto Alegre. Numa narrativa tradicional,
cronológica e construída com base em depoimentos de figuras-chave entremeados
de imagens de arquivo e locações coerentes, o filme cumpre muito bem o objetivo
ao qual se presta: evidenciar a importância do bairro enquanto arcabouço de
toda uma cena que, por diversos motivos (nem sempre lógicos), se criou em torno
deste.
Bares lotados na movimentada Osvaldo Aranha dos anos 80.
Começa de forma bem poética e veneradora ao fazer um paralelo entre o documentário
e o longa “Deu pra ti, Anos 70” (de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, de
1981) repetindo um plano-sequência em que uma câmera (digital, no atual; Super
8, no antigo), como um ponto-de-vista de um passageiro da janela de um ônibus que
sai do viaduto da Conceição, saindo do Centro da cidade, em direção à
consagrada Osvaldo Aranha, avenida principal do Bom Fim, percorrendo-a de ponta
a ponta. É a partir dessa cena que Migotto constrói toda a genealogia cultural
e sociopolítica que se manifestou ali, desde a época da “Esquina Maldita”, nos
anos 60, até o seu declínio, nos anos 90, quando a pressão imobiliária e a ação
política esvaziaram física e emocionalmente a movimentação em prol da “família
e dos bons costumes”. Aspectos como a delimitação geográfica do bairro, suas
origens e fisionomia arquitetônica dão suporte para, partindo de depoimentos
bastante ricos e bem estruturados, contar como o cinema, o teatro, a música, o
rádio, a boemia e, principalmente, a ação de vários personagens ajudou a criar
uma cena de absoluta democracia e diversidade que chegou ao ápice nos anos 80,
quando a Osvaldo fechava para receber até 5 mil pessoas aos finais de semana.
Todas bebendo, curtindo, andando, trocando (coisas lícitas ou não) e tendo como
ponto principal os bares, tanto os de antigamente (Copa 70, Lola, Escaler,
João) quanto os de ainda hoje (Ocidente, Lancheria do Parque, Mariu’s).
Dessa trajetória, muito legal ver como se deu o surgimento da galera do
cinema (Carlos Gerbase, Giba, Jorge Furtado, Werner Schünemann, Marcos Breda),
embrião da Casa de Cinema de Porto Alegre e do atual cinema gaúcho. As cenas
dos primeiros filmes, “Deu pra ti...”, “Inverno” e meu amado “Verdes Anos”, bem
como o ambiente em que foram filmados, são resgatados de maneira bonita,
mostrando a paixão com a qual se dedicavam a rodá-los, bem como as referências
estéticas novas que trouxeram. Igualmente, passa pelas sessões de cinema nos
saudosos Baltimore e Bristol; pelas funções do teatro: montagem de “Deu pra ti,
Anos 70” (diferente do filme mas quase simultânea a este) e a formação dos
grupos Terreira da Tribo, Vende-se Sonhos e GTI; da rádio: a já saudosa Mary
Mezzari e Mauro Borba falando da Ipanema FM; e da tevê, em que programas revolucionários
como Quizumba e Pra Começo de Conversa, da TVE dirigida por Cândido Norberto,
deram espaço para os roqueiros malucos, bem como para os primeiros trabalhos
jornalísticos e audiovisuais de gente renovadora como Furtado e Eduardo Bueno (Peninha).
Edu K, figura essencial na movimentação cultural da cidade.
Mas é especialmente legal ver que tudo se construiu a partir da
juventude, motivo pelo qual todos os momentos são muito ligados ao rock, seja o
pop de Nei Lisboa, o rockabilly d’Os Cascavelletes,
o hardcore d’Os Replicantes ou o
pós-punk do De Falla. Nisso, interessante notar a devida reverência à figura de
Edu K como pioneiro e agitador cultural e a liderança de Gerbase não só no
cinema, mas na cena rock. Engraçado e saboroso ouvi-lo dizer que, à época da
formação da banda, notara o desconforto do colega de cinema Giba Assis Brasil,
que não apreciava a barulheira e inaptidão técnica dos Replicantes, inclusive a
de Gerbase com as baquetas. Ele explica: “O
negócio é que eu não queria tocar bateria: eu queria era bater naquilo”.
E a parte ruim? Nada que se refira à qualidade do filme, mas justamente
quanto à conclusão que o próprio levanta: a de que Porto Alegre estagnou
culturalmente. Isso fica claro no final, seja em forma de provocação, como
fizera Peninha desafiando que o provassem que o momento áureo do Bom Fim
significara de fato um “movimento cultural”, seja em depoimentos mais
moderados, nos quais se ouve e/ou se subentende expressões como “estagnação”,
“desdém” e “descontinuidade”. O próprio filme é um exemplo: mesmo sendo um
sucesso garantido de público (a sala estava lotada, o que se repete desde sua
estreia), levou sofridos 10 anos para ser aprovado na lei de incentivo do
município, e isso por causa de muita insistência.
Peninha, ferino e hilário.
Tristes constatações que, mais tristemente ainda, coferem com as
minhas. E não somente as dos últimos tempos, mas a da real validade de produtos
artísticos porto-alegrenses endeusados aqui mas que, num contexto geral (e no
comparativo com as coisas boas daqui mesmo), são bastante fracas. Carlos
Eduardo Miranda ainda tentar argumentar que bandas como De Falla e Graforréia
Xilarmônica influenciaram o rock brasileiro dos anos 90, porém (e aí se entende
o fundamento da provocação lançada por Peninha), está longe de poder ser
considerado um movimento cultural de sotaque gaúcho. Cabe ao próprio Gordo
Miranda finalizar num depoimento romântico de que, um dia, quiçá, se repita um
momento tão efervescente e interessante na cidade.
Sabemos que não se repetirá.
A Casa de Cinema ganhou relevância nacional e mudou para melhor o
cinema e a televisão brasileira a partir dos anos 90; porém, não formou escola.
Do rock gaúcho, por motivos diferentes, grandes bandas surgiram, mas nenhuma
engatou uma carreira contínua e de real expressão nacional – fora os Engenheiros do Hawaii, que rumaram para longe demais da capital – ou, muito
menos, internacional. Do teatro, a monopolização dos mesmos nomes para, pateticamente,
não apresentarem nada de novo desde aquela época. Só posso concluir que tudo
isso é junção de fatores psicossociais, como falta de antevisão e renovação, pouco-caso
para com o seu semelhante, um sentimento de superioridade intelectual
injustificável e a crise econômica que se arrasta há anos no Estado. Mas tudo,
na verdade, não seria importante se não faltasse de fato um quesito: qualidade.
Ter, tem; mas só em algumas frentes e que não são suficientes para formar algo
que se possa intitular propriamente como porto-alegrense.
No entanto, até as constatações negativas de “Filme...” são méritos do
filme, que não temeu em mostrá-las ou escondê-las num endeusamento pró causa
abordada, como acontece em alguns filmes do gênero (o às vezes parcial “Lóki”,
a respeito do mutante Arnaldo Baptista, ou "O Sal da Terra", que parece não abordar o que realmente deve). O formato clássico de documentário, aliás, é o
mais recomendável quando o próprio tema fala por si como neste caso. Inventar
narrativas “poéticas” ou “modernas” nem sempre é um bom caminho, pois se pode
cair no erro de diluir o principal, que é a história que se está querendo
contar. Menos é mais em documentário. Afora isso, as reveladoras falas de gente
como Juremir Machado da Silva, Polaca, Fiapo Barth, Cikuta, Biba Meira, Luciana
Tomasi e os já citados Nei, Gerbase, Werner, Peninha, Mary, entre outros, são
de grande identificação a quem sempre esteve ligado à cena alternativa de Porto
Alegre de uma forma ou de outra como eu.
Impossível não mencionar que, ainda por cima, assisti à sessão
acompanhado de Leocádia, que nasceu no Bom Fim e morou lá alguns anos da
infância, e na presença da radialista Kátia Suman, com quem já tive momentos
marcantes na minha trajetória como jornalista e ser cultural da cidade, desde quando
a ouvia na Ipanema até momentos presenciais, como no Clube do Ouvinte que
apresentei na rádio, em 1994, ou o Sarau Elétrico, que participei como autor em
2012, em pleno Ocidente. Simbólico, no mínimo.
O tempo passa... É, parece que foi ontem que começamos um blog meio sem saber o que queríamos, como fazer, o que colocaríamos nele e, hoje o nosso ClyBlog chega a seu décimo primeiro ano. Uma trajetória muito positiva que nos fez crescer junto com o blog. Crescer em conteúdo, conhecimento, ousadia, ambição, em criatividade, em qualidade. A plataforma que meramente nos propiciava a exposição de nossas produções criativas, escritas, visuais, gráficas ou quaisquer outras que pudessem se manifestar, nos possibilitou o reconhecimento destas manifestações artísticas em publicações literárias e gráficas, valorizando, sobremaneira, o conteúdo publicado no blog. Se antes utilizávamos nosso espaço para, humildemente, expormos nossas impressões pessoais sobre música, cinema e outros assuntos de nosso interesse, hoje, parceiros, amigos e convidados altamente qualificados se juntam a nós, alguns de forma constante e outros eventualmente, em ocasiões especias, dando suas colaborações nas mais diversas seções do nosso veículo, sempre demonstrando imensa satisfação em fazer parte do nosso projeto. Além disso, as vivências e experiências de eventos, espetáculos, viagens, passeios, foram ampliadas trazendo mais variedade, informação e imagens em canais específicos para cada segmento. Ou seja, de 2008 para cá, o ClyBlog está cada vez melhor e mais interessante.
E tudo isso só se deve ao fato de que nós, as cabeças do ClyBlog, Daniel Rodrigues e eu, Cly Reis, continuamos pilhados, sempre estimulados, sempre a fim de fazer algo legal, algo diferente, acrescer qualidade, novidades, conteúdo instigante, coisas que sejam legais para o leitor, visitante ou seguidor porque seriam legais para nós. É isso que fez com que o ClyBlog chegasse até aqui,aos 11 anos, e fará com que siga em frente, se depender de nós, ainda por muito tempo.
Nesses 11 anos tivemos um monte de coisas bacanas no ClyBlog: fomos a shows e contamos como foi, viajamos por diversos lugares e relatamos as experiências, fomos selecionados para publicações, , participamos de outros espaços em outras plataformas, tivemos convidados importantes escrevendo no ClyBlog... Enfim, foram muitos bons momentos. Não dá pra colocar todos aqui, afinal são 11 anos, mas dá pra destacar alguns. Assim, lembramos aqui um momento para cada ano desde o início do ClyBlog.
2008 Madonna no Maracanã - No ano da criação do ClyBlog, um dos momentos marcantes foi a volta da Rainha do Pop a terras brasileiras. A expectativa era grande mas o show não foi lá essas coisas. Mesmo assim, relatamos tudo, num dos primeiros ClyLive, a seção de shows do ClyBlog.
Madonna, show de constrangimentos Vi no filme "Na Cama com Madonna" o trechos da turnê Blonde Ambition e fiquei fascinado. Quis ver aquilo! No entanto a turnê seguinte, que acabou passando pelo Brasil, foi a Girlie Show, que apesar de não ser tão boa quanto a anterior, de não ter os figurinos do Gaultier nem a performance libidinosa de "Like a Virgin" foi um belo espetáculo e me proporcionou boas surpresas. Anos depois resolvi ir ver novamente a Madonna ao vivo pelo mero fato de ser a Madonna. Sabia já que o álbum "Hard Candy" era um horror porém guardava a expectativa de que o show, o espetáculo, o tudo, valesse a pena. Olha, foi um circo do lamentável (...) Leia mais...
2009 Viagem ao Velho Continente: Em 2009, tive a oportunidade de ir à Europa e visitar algumas das cidades mais famosas do mundo e alguns dos destinos turísticos mais procurados. Estive em Paris, Londres, Roma, Florença e Veneza e, é claro, tudo foi para no ClyBlog, na nossa seção Arquivo de Viagem.
ARQUIVO DE VIAGEM: Europa Aeroporto, mala, poltrona desconfortável, sono ruim, hotel, informações e é em inglês, em italiano e é em francês, e dá-lhe fotografia, fotografia, fotografia, e de novo hotel, e outro dia mais fotografia, e tome outro aeroporto, ou estação de trem, ou táxi, e outro hotel, e mais foto, foto, foto... É, isso é viajar! Mas é bom! E principalmente para a Europa que era uma antiga aspiração. O roteiro? Londres, Paris, Roma, Florença e Veneza. A primeira parada, a terra da Rainha, que mais do que todas as outras eu tinha uma enorme vontade de conhecer por causa principalmente de toda a atmosfera rock do lugar, por causa das bandas que admiro ou mesmo por toda a influência musical e comportamental que exerce sobre grande parte do mundo, não me decepcionou (...) Leia mais... LONDRES: Passeio por Londres, Fabric, The Telegraph Pub PARIS: Paris ROMA: Roma FLORENÇA: Florença VENEZA:Veneza, Jazz em Veneza - Bàccaro Jazz
2010 Internacional Bicampeão da Libertadores - Neste ano, tive a felicidade de presenciar o segundo título de Libertadores da América do meu time do coração, o Sport Club Internacional, in loco, no Beira-Rio. E, como não podia deixar de ser, documentei a noite mágica do Bi da América para o ClyBlog.
Era uma vez na América (ou melhor, DUAS vezes)
Eu tinha assistido à semifinal contra o Olímpia em 89. Eu estava lá no Gigante. Não, não podia acontecer de novo. Quando os mexicanos do Chivas fizeram o primeiro gol do jogo aquele filme de terror me veio à cabeça. E eu lá de novo. Seria EU o culpado? Teria, EU, me desbarrancado do Rio de Janeiro a Porto Alegre, sem ingresso na mão, desembarcando 4 horas antes do jogo, conseguido incrivelmente a tal entrada, tudo isso para EU dar azar pro eu time? (Torcedor pensa cada coisa, não?) Mas por certo não fui só eu. Outros devem ter pensado que aquilo estava acontecendo porque não usaram a mesma cueca, não conseguiram sentar no mesmo lugar no estádio, porque não seguiram determinados rituais, ou sabe-se lá mais o que; mas de todos estes não sei quantos ali haviam presenciado a maior "tragédia" do Beira-Rio. E eu estava lá (...) Leia mais... Inter x Chivas Museu do Inter 2011 "Screamadelica", do Primal Scream, ao vivo na íntegra - Enquanto na Cidade do Rock, rolava o Rock in Rio, com todas suas estrelas e nomes badalados, no Circo Voador, na Lapa, bem menos incensado, um dos discos mais importantes dos anos 90 e da história do rock era tocado na íntegra por uma das bandas mais influentes do pop rock britânico. O Primal Scream, liderado pelo dissidente do Jesus and Mary Chain, Bob Gillespie, celebrava o vigésimo aniversário de lançamento do álbum "Screamadelica" com um show sensacional que foi ainda mais especial uma vez que assisti na companhia de meu irmão, Daniel Rodrigues, que andava pelas bandas do Rio de Janeiro naquele momento. A cúpula do ClyBlog, curtindo junto um show tão especial como esse, só podia ser um dos grandes momentos de 2011.
Primal Scream - "Screamadelica 20th Anniversary Tour" - Circo Voador - Rio de Janeiro (23/09/2011)
Nesta última sexta-feira aconteceu a primeira noite de apresentações do Rock in Rio... Bom, e dai? Azar de quem foi à tal Cidade do Rock e não estava na Lapa, como eu, delirando com o show da turnê de aniversário de 20 anos do álbum "Screamadelica" do Primal Scream. Que Rock in Rio que nada! O verdadeiro rock no Rio de Janeiro estava acontecendo lá no Circo Voador. E se toda a cidade estava mobilizada para assistir às rihanas e cláudiasleittes da vida, ali na Lapa, um pequeno grupo de fieis assistia a um show histórico, que diga-se de passagem, foi, com louvor, proporcionado por eles mesmos, que num esforço incomum fizeram trazer ao Rio uma atração que estava praticamente descartada para cá (...) Leia mais...
2012 O punk e a moda - 2012 marca o lançamento do livro "Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", do irmão e parceiro de blog Daniel Rodrigues, como um dos fatos mais importantes daquele ano no ClyBlog. Um estudo profundo e criterioso sobre a música e a moda caminhando juntas, sem cair na chatice ou na mesmice com uma linguagem fácil e dinâmica. Eu posso até ser suspeito para elogiar por ser irmão, mas acho que o júri do Prêmio Açorianos, que consagrou o livro como melhor ensaio de literatura e humanidades tem isenção o suficiente.
"Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", de Daniel Rodrigues (Ed. Dublinense, 2012)
(...) O livro é uma caixa de som! Sai música dele. Mas não só isso: dá vontade de usar aquela calça rasgada no joelho, de usar aquele bracelete de couro, uma camisa com dizeres desaforados... Ele é extremamente bem fundamentado, estudado, repleto de referências, citações, com alto grau e profundidade de pesquisa mas passa longe de ser pedante e cansativo. Ele flui. Flui muitíssimo bem. Consegue conjugar um gosto pessoal musical, inequívoco e indesmentível, com muita informação, embasamento teórico e análise detalhada e numa proporção perfeita e exata de modo a tornar a leitura absolutamente agradável e sempre interessante (...) Leia mais... Anarquia em Porto Alegre - Noite de autógrafos de Daniel Rodrigues - Pinacoteca Café
2013 Álbuns Fundamentais Especial de 5 anos do ClyBlog - O quinto ano do ClyBlog foi marcado por uma série de comemorações e publicações especiais. Uma delas foi a participação especialíssima do ex-Replicante, Carlos Gerbase, na seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, falando sobre o cultuado disco de estreia da banda "O Futuro é Vortex". Tinha alguém mais autorizado a falar sobre o assunto?
Os Replicantes - "O Futuro é Vortex" (1986)
A palavra “Vortex” já significou muitas coisas na minha vida. Meu primeiro encontro com ela foi em meados dos anos 70, numa máquina de fliperama, aquelas antigas, de bolinha, imortalizadas no musical “Tommy”. Os desenhos da máquina eram futuristas, misturando sexo e violência em doses perfeitas para a adolescência. Na minha interpretação, esses desenhos representavam um planeta distante, cheio de monstros e mulheres maravilhosas. Eu jogava e, mesmo perdendo as cinco bolas rapidamente, curtia o visual (...) Leia mais...
2014
Copa do Mundo Rock - Era ano de Copa e o ClyBlog resolveu fazer a sua Copa do Mundo também. Só que a nossa foi uma Copa do Mundo Rock. Isso mesmo! Música contra música para descobrirmos qual a melhor obra de determinado artista. Em 2014 três bandas tiveram suas competições, The Cure, uma das favoritas dos donos do blog, Legião Urbana, também uma das nossas queridinhas, e, nada mais nada menos que os maiores de todos, os Beatles. "Comentaristas", jurados convidados decidiam os confrontos que eram sorteados e avançavam de fase, afunilando até a grande final. Foram copas com definições diferentes: resultado incontestável, favorito ganhando, decisão apertada... Enfim, um grande barato essa experiência músico-futebolística na qual quem ganhou, mesmo, foi quem acompanhou.
Copa do Mundo Rock
Qual a melhor maneira de escolher a melhor música de uma banda?
No clyblog a gente escolhe no mata-mata.
Vai começar a Copa do Mundo Rock (...)
Tributo a Bukowski - Uma das coisas legais de 2015 foi outro acontecimento literário. Fui selecionado, com um conto, para integrar a coletânea "Big Buka", homenagem a Charles Bukoswki, escritor pelo qual tenho grande admiração, o que tornou ainda mais especial minha inclusão na publicação.
“Big Buka: para Charles Bukowski”, organização: Afobório (Vários Autores) - ed. Os Dez Melhores (2015)
A proposta nasceu ousada: homenagear o norte-americano Charles Bukowski , escritor de forte influência a vários outros, de grande apelo com o público e dono de um estilo muito peculiar, que vai da crueza de mau gosto e a putaria à mais doce beleza sentimental. Um homem que, por detrás da obscenidade e da contundência, era extremamente profundo, poético e comprometido com suas verdades. Assim, a coletânea "Big Buka: para Charles Bukowski" (ed. Os Dez Melhores, 2015), da qual soube do projeto ano passado, encarou o desafio de reunir dez textos que remetessem ao universo de Bukowski tanto em temática quanto em estilo. Para que tal funcionasse, contudo, os contos deveriam ser muito bem selecionados, uma vez que o risco de não corresponder à altura do mestre tornava-se um erro fácil de cometer (...)
2016
Juntos no mesmo livro - Eu já havia sido selecionado para algumas coletâneas de contos, Daniel já tinha seu próprio livro solo, mas em 2016, pela primeira vez integraríamos uma mesma publicação. Por meio de uma seletiva da editora Multifoco, contos nossos vieram a ser escolhidos para a antologia "Conte Uma Canção, vol. 2", que tinha como proposta a ligação do conto com determinada música. Posteriormente, naquele mesmo ano, promovemos um pequeno sarau, na sede da editora, no Rio de Janeiro, onde lemos nossos contos para convidados.
“Conte uma Canção – vol. 2”, organização Frodo Oliveira e Marla Figueiredo (Vários autores) – Ed. Multifoco (2016)
O Clyblog tem o orgulho de anunciar que mais uma vez nós, os editores-chefes deste espaço, Daniel Rodrigues e eu, Cly Reis, temos contos selecionados para publicações coletivas (...) Leia mais...
Já está nos pontos de venda a antologia “Conte uma Canção – vol. 2”, pela editora Multifoco, da qual meu irmão e editor deste blog, Cly Reis, e eu, subedidor, fazemos parte com um conto cada um. O livro teve lançamento no último dia 30, durante a 24ª Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi (...) Leia mais...
A ocasião era oportuna: meses após o lançamento da antologia "Conte Uma Canção - vol.2", da editora Multifoco, na qual participamos meu irmão Cly Reis e eu cada um com um conto, estaríamos juntos no Rio de Janeiro, sede da editora. Então, por que não fazermos um encontro que abordasse isso? Foi o que aconteceu no dia 16 de dezembro. A partir de uma ideia de Leocádia Costa, que nos deu o privilégio de fazer as honras, realizamos um sarau de leitura de ambos os contos no bistrô da própria Multifoco, na Lapa (...) Leia mais...
2017
Museu Nacional -O destaque de 2017 fica por conta da nostalgia, da lástima, da saudade, da falta que faz... Naquele ano eu visitava mais uma vez o Museu Nacional, recentemente devorado pelas chamas do descaso em um trágico incêndio, e o fazia, na ocasião, para o ClyBlog trazia, na ocasião o registro de seu acervo, sua beleza e importância.
Museu Nacional / UFRJ - Rio de Janeiro / RJ
(...) Desta vez visitamos o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, prédio histórico que serviu à Família Imperial brasileira no séc. XIX, que esteve meio abandonado, meio largado mas que agora, embora não na plenitude de suas condições, apresenta boas condições de visitação e um acervo muito significativo e em bom estado. O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, é voltado à pesquisa científica, histórica e antropológica possuindo um acervo valiosíssimo em todos os seus segmentos. Possui, por exemplo, significativos fósseis de procedências diversas; registros materiais humanos de datas remotas; artefatos e relíquias de civilizações de diversos sítios; múmias de altíssimo valor histórico em ótimo estado de conservação; grande variedade de amostras animais e geológicos; e itens impressionantes como é o caso do meteorito encontrado na Bahia em 1784 exposto orgulhosamente logo na entrada do circuito (...) Leia mais...
2018
ClyBlog 10 anos - O décimo ano do ClyBlog foi comemorado com entusiasmo e durante os 12 meses do ano tivemos atrações em todos nosso segmentos, com diversos e qualificadíssimos convidados especiais em todas as áreas, como, entre outros, o diretor de teatro Cleiton Echeveste falando sobre Andrei Tarkovski, o fotógrafo Wladimyr Ungaretti apresentando-nos suas imagens que estimulam a imaginação, o ex-DeFalla Castor Daudt relatando um fato curioso com um ex-integrante do Joy Division e o músico Lucio Brancatto, inovando e destacando cinco discos de uma vez só num Super-Álbuns Fundamentais. Isso é que é aniversário. Assim vale a pena ficar mais velho.
Especiais de 10 anos no ClyBlog
Não é toda hora que se comemora dez anos, não é? E tratando-se de uma marca tão especial,conforme já adiantamos, 2018 terá uma série de atrações e participações especiais em várias seções do nosso blog. Convidados contarão histórias e desfilarão poesia nas nossas COTIDIANAS; falarão sobre seus discos preferidos e marcantes nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS; sobre grandes obras da literatura no LIDO; clássicos da sétima arte no CLAQUETE; mostrarão sua visão do mundo pelas lentes de suas câmeras na seção CLICK; e suas criações no CLYART; enfim, todos os nossos espaços estarão abertos às valiosas contribuições de nossos talentosos amigos. Então, fiquem ligados porque a partir de fevereiro, a qualquer momento poderá pintar uma das publicações especiais de 10 anos do ClyBlog. Posso garantir que vem coisa muito legal por aí.
"Meia-Noite: Contos da Escuridão" -E 2019 ainda está na metade e já temos coisa boa: assim como em 2016, a pareceria se repete e Daniel e eu integraremos juntos novamente uma antologia de contos. Fomos recentemente selecionados para a coletânea "Meia-Noite: Contos da Escuridão", do selo Fantastic da editora Autografia, e teremos uma história arrepiante de cada um na publicação que será lançada daqui a alguns dias, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Além do aniversário, mais um motivo para comemorar.
Abaixo, matéria publicada no site Literatura RS sobre nossa participação na publicação.
Irmãos integram coletânea de contos de editora carioca
Dois autores gaúchos, os irmãos Daniel Rodrigues e Clayton Reis, foram selecionados para integrar a coletânea de contos de terror Meia-Noite: Contos da Escuridão, publicada pelo selo Fantastic da editora carioca Autografia. Organizada pelo editor Frodo Oliveira, a obra contou com processo seletivo no qual concorreram autores de todo o Brasil. Dentre os contos selecionados, estão Clichês, de Reis, e O Monstro do Armário, de Rodrigues. O livro será lançado em sessão de autógrafos no dia 4 de setembro, às 13h30min, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no estande da editora (Pavilhão Verde, R32). Na ocasião, ambos os autores estarão presentes. (...) Leia mais...