Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Rock. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rock. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de outubro de 2023

Ride - "Nowhere" (1990)

 




"...encontramos uma foto 
[a onda da capa do álbum]. 
Na minha cabeça, 
sabíamos o clima que estávamos buscando
 – que era essa coisa de escapismo, 
meio do nada
 – e tínhamos essa imagem 
para basear essa ideia."
Andy Bell, guitarrista


A expressão cult, às vezes meio vulgarizada, atribuída a qualquer obra ou artista de valor duvidoso, ou a elementos excessivamente populares para se destacarem como algo diferenciado, tem em uma de suas origens a definição de algo que tem, sim, determinado valor reconhecível, embora, evidentemente, não seja o melhor de sua categoria. Costumo classificar para mim alguns itens como cult, de forma muito pessoal e independente da avaliação geral ou da unanimidade dos entendidos. É o meu cult! Por ser subestimado, por ser underground, por ser maldito, pela raridade, enfim, pelo meu critério de reverência.
É o caso do álbum "Nowhere", do Ride. Embora para muitos ele seja o clássico absoluto da banda inglesa, um dos ícones da cena britânica do início dos anos 90, para mim "Nowhere" é o álbum cult. Tenho por sua obra maior, mais completa, seu sucessor, o excelente "Going Blank Again", de 1992, um trabalho, na minha opinião, mais maduro, mais bem lapidado, mais aperfeiçoado tecnicamente, no entanto, além de entender toda a idolatria dos fãs pelo disco de estreia, tenho por ele um enorme respeito e carinho. Em parte é isso: "Nowhere" ainda é meio tosco, meio cru, muito raiz, mas está  ali uma banda vigorosa, pura, cheia de coração. "Seagull" que abre o disco é  exatamente isso: é energia pura, numa linha de baixo alucinante com uma tempestade de guitarras e uma linha vocal celestial.

" 'Seagull' pode ser visto como a música tema do álbum, na medida em que tem a imagem do oceano, e é uma espécie de declaração de intenções com uma letra forte – parece a primeira faixa de um álbum. Além disso, faz referência a "Revolver", dos Beatles, que abre com "Taxman"Gaivota tem a mesma linha de baixo, então parecia que havia algumas coisas apontando para ela como a abertura."
Andy Bell

Mas o ímpeto não se resume à abertura e pode ser encontrada também em "Kaleidoscope" e "Decay",
Há também aquelas que são doces, adoráveis, e no entanto, não menos cruas, como "In a Different Place" e sua encantadora melodia, "Polar Bear", com sua guitarra suja e sua batida estrondosa, e "Drums Burn Boom", que equilibra leveza e beleza com peso e barulho. A versão original do álbum,  em LP, se encerrava com a delicada "Vapour Trail", embora a versão em CD ainda trouxesse mais três faixas, "Taste", com toda sua energia psicodélica, a boa "Here and Now", e a música que batiza o álbum, "Nowhere", soturna e misteriosa, como um mergulho num pântano.

"Esta tornou-se uma das nossas favoritas, mas naquele momento era apenas mais uma melodia. "Vapour Trail" parecia apenas uma música simples de quatro acordes. Não foi preciso muito esforço para gravar – foi uma sorte incrível que tenha ficado tão boa quanto ficou. Agora eu ouço as músicas e concordo que "Vapour Trail" saiu um dos melhores."
Andy Bell


Mas o ponto alto, que une precisamente essa pureza sonora, com leveza e intensidade, é a espetacular "Paralyzed". Sua sonoridade oca, suas guitarras hipnóticas, o vocal arrastado, seguem lentamente, numa batida seca, marcada, fazendo com que o ouvinte seja absorvido num inevitável transe mágico. A parada, a pausa no meio da música, retornando com a batida marcada e sons de vozes de uma multidão ao fundo é, simplesmente de arrepiar!

"Durante os tumultos eleitorais, estávamos gravando em Oxford Street, em Londres. Abrimos a janela do estúdio quando estávamos fazendo a linha de piano, e havia uma multidão se rebelando do lado de fora. Parecia tão bom, e nos lembrou de uma música dos Smiths, então decidimos usar aquilo em "Paralyzed". Você tem que estar aberto a esses acidentes afortunados, a esse processo orgânico, porque ele agrega. Tornou-se outra coisa no estúdio porque a segunda metade da música virou esse trecho atmosférico de bateria, baixo e piano que não teria feito parte de nenhuma demo caseira - e nós sequer teríamos ensaiado."
Andy Bell

Imagino que para a maioria dos fãs  e críticos seja exatamente o contrário: "Nowhere" seja o melhor disco do Ride e "Going Blank Again" mereça, se tanto, algum respeito. Mas até essa possível divergência reforça a condição de "Nowhere" dentro da minha concepção: é o preferido de muitos mas para mim, embora não seja o número um, é, indubitavelmente, um grande disco. Enfim, para bem ou para o mal, é um disco cult.

*********************

FAIXAS:
1 Seagull (6:10)
2 Kaleidoscope (3:02)
3 In A Different Place (5:29)
4 Polar Bear (4:46)
5 Dreams Burn Down (6:06)
6 Decay (3:36)
7 Paralysed (5:34)
8 Vapour Trail (4:18)
9 Taste (3:17)
10 Here And Now (4:27)
11 Nowhere (5:23)

***************
Ouça:
Ride - "Nowhere"




por Cly Reis

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Música da Cabeça - PROGRAMA ESPECIAL Nº 340

 

Amigos punks: escutem esse desabafo daquele que é uma lenda do rock gaúcho: Frank Jorge. Ele é o entrevistado do MDC especial n° 340! Além dele no quadro Uma Palavra, ainda tem música, notícia, letra, aquilo tudo. A essa altura da noite, 21h, o que importa mesmo é ouvir o programa na xilarmônica Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues - enquanto sigo detonando um hardcore.


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Música da Cabeça - Programa #339

 


Quem dera a dança dessas luzes ao céu fossem pela música da paz... Levantando a bandeira da tolerância, não poderíamos estar melhor acompanhados de John e Sean Lennon, Norma Bengell, Azymuth, Francisco Bosco e Alfa Mist, por exemplo. Quadros, letra, notícia, lista: tudo respira humanismo no MDC de hoje, que sobe aos ares às 21h na pacífica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e saraivada de música, e não de bombas: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Rodriguez - "Cold Fact" (1970)

 

por Roberto Sulzbach Cortes


“Na África do Sul, seu pai é mais conhecido que o Elvis”
Stephen Seagerman, sul-africano, para Eva Rodríguez 

Qualquer ouvinte assíduo de música (ou heavy user, em inglês) sabe que o sucesso crítico e o sucesso comercial até podem andar juntos, mas não é regra. Muitas obras conhecem o sucesso comercial, ou numa era da internet e streaming, recebem o reconhecimento e popularidade devidos muito tempo depois de serem lançadas. Também existem casos de artistas europeus fazerem mais sucessos nos Estados Unidos, ou o contrário, como o caso dos Pixies, que até hoje fazem mais sucesso na Europa (principalmente no Reino Unido) do que no seu próprio país natal, os EUA. O caso de Sixto Rodríguez é uma mistura de tudo isso. 

Rodríguez nasceu em Detroit, Estados Unidos, em julho de 1942, e iniciou sua carreira tocando de bar em bar. Em 1968, os produtores Mike Theodore e Dennis Coffey (que trabalhou com Temptations e George Clinton) o descobrem tocando em um bar próximo ao cais da cidade. Era notória a habilidade que Sixto tinha de retratar suas vivências na cidade, um poeta citadino, trovador da cidade dos motores, que, segundo Coffey, àquela época escrevia tão bem quanto Bob Dylan

A dupla de produtores aposta no artista e começam a produção para lançá-lo ao estrelato. Contudo, não foi o que ocorreu, pois apesar de possuir “todos os ingredientes necessários do sucesso”, o disco foi um fracasso de vendas, rendendo apenas uma turnê pela Inglaterra e Austrália, mas sem muito alarde. Retornando ao assunto inicial do texto, o revés comercial (àquela época) não significa que não é um excelente disco e que não valha sua análise. 

Apesar do fracasso doméstico, e algum sucesso na Oceania, foi em um país sob regime ditatorial de segregação racial, a África do Sul, que o artista se tornou um ícone misterioso, e suas músicas, se tornaram hinos contra o apartheid, ao final da década de 80, início de 90. Sem conhecimento de ambos os lados, pois o artista não sabia de sua fama, e o público não sabia quem era e se estava vivo àquela altura. No início dos anos 80, Rodríguez desistiu da vida de artista e trabalhou como pedreiro, até se formar em filosofia, que lecionou em escolas locais.

Em 1997, a filha mais velha de Sixto, Eva, vagava por uma primitiva internet, quando encontrou um site sul-africano dedicado ao pai. No primeiro contato com o moderador site, ela ouviu de Stephen Seagermen, dono de uma loja de discos em Johanesburgo, que, supostamente, seu pai vendeu mais álbuns que Elvis Presley na África do Sul.  

Rodríguez nos deixou em 8 de agosto de 2023, e felizmente, pôde desfrutar de muito sucesso além do sul-africano. Em 2012, cantou “Crucify Your Mind” no David Letterman, cedeu entrevista para o programa “60 minutes” e fez uma apresentação no programa de música ao vivo “Later... with Jools Holland”. Tudo, graças ao documentário “Searching For Sugar Man”, idealizado por Stephen Seagerman, lançado em 2012, que conta a mística que o artista possuía na África do Sul, em meados dos anos 90. 

Mesmo tendo uma discografia reduzida, com apenas dois álbuns de estúdio - "Coming from Reality", de 1971, e este, "Cold Fact", o seu debut, de um ano antes -, Sixto nos deixa um grande legado. “Sugar Man” aborda as dificuldades de um homem viciado em viver sem seus estimulantes, colocando uma voz de sofrimento e melancolia, sem glamourizar a dependência química. “Crucify Your Mind” trata sobre uma relação, em que uma mulher traí o marido, e a letra nunca deixar explícita o ocorrido. “Forget It” é um epitáfio sobre um término de relacionamento que, em poucas estrofes, sabe colocar o que é o fim de um casal, e a sensação que sentimos quando seguimos o rumo sozinhos. Meu último destaque é “Like Janis”, que cita a musa rock n’roll no seu título, mas não é sobre ela: é sobre uma relação em decadência, em que ambos já não se aguentam. 

Rodríguez é um dos casos que comprova que a ausência de sucesso comercial não impede que a obra se torne popular tardiamente, e muito menos, que não seja relevante. Muitas vezes, o público precisa de tempo e um “empurrãozinho” (como o documentário interessante) para promover a arte de uma maneira única. 

*************
FAIXAS:
1. "Sugar Man" - 4:40
2. "Only Good For Conversation" - 2:25
3. "Crucify Your Mind" - 2:30
4. "Establishment Blues" - 2:05
5. "Hate Street Dialogue (Dennis Coffey, Gary Harvey, Mike Theodore) - 2:30
6. "Forget It" - 1:50
7. "Inner City Blues" - 2:20
8. "I Wonder" - 2:30
9. "Like Janis" - 3:05
10. "Gommorah (A Nursery Rhyme) (Coffey, Harvey, Theodore) - 2:20
11. "Rich Folks Hoax" - 3:05
12. "Jane S. Piddy" - 2:38
Todas as músicas de autoria de Rodriguez, exceto indicadas
*Algumas autorias levam a assinatura de Jesus Rodriguez ou Sixth Prince, ambos referentes ao próprio Rodriguez

*************
OUÇA O DISCO:



quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Música da Cabeça - Programa #338

 

Abaixo o Marco Temporal! Exaltando o que se deve, demarcamos o nosso tempo com que há de melhor neste MDC, a se ver por Stevie Wonder, Caetano Veloso, Duran Duran, Smashing Pumpkins, Paulo Zdan e um Cabeça dos Outros.Sem PL 203, o programa está marcado para as 21h na atemporal Rádio Elétrica. Produção, apresentação e dignidade aos povos originários: Daniel Rodrigues


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #336

 

Se você é dos que jamais confundiria o "Pequeno Príncipe" de Saint-Exupéry com "O Príncipe" de Maquiavel, sinta-se em casa. O MDC não só não comete crimes como este, como ainda ajuda a expandir as mentes. Pra nos ajudar nessa missão pedagógica, estão conosco Banda Black Rio, Patife Band, Caetano Veloso, The Glove e mais. No Sete-List, outra aula, mas essa de musicalidade, com o oitentão Marcos Valle. Com responsabilidade naquilo que está dizendo, o programa abre a boca às 21h na maquiavélica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e alto-falantes até no B612: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #335

 

O grito de "el pueblo unido, jamás será vencido" ainda ecoa pelas entranhas do Chile e da América Latina. Nos 50 anos da sangrenta ditadura chilena, trazemos essa lembrança para ecoar, sim, cantos de liberdade e de música. Nada melhor que Victor Jara, Planet Hemp, Quilapayún, V.S.O.P., Rita Lee e Mateus Aleluia para entoar essas duas palavras essenciais. Liberto e musical, o MDC de hoje se manifesta às 21h na memorial Rádio Elétrica. Produção, apresentação e "ditadura nunca mais!": Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Aum - "Belorizonte" (1983)

 

"Dedicado a Belo Horizonte"
Dedicatória da contracapa do disco

Rio de Janeiro e Salvador, por motivos históricos e culturais tão distintos quanto semelhantes, são conhecidas como as capitais brasileiras que guardam maiores mistérios. Mas quando o assunto é música, nada bate Belo Horizonte. A musicalidade sobrenatural de Milton Nascimento, o fenômeno Clube da Esquina, o carioquismo mineiro de João Bosco, a sonoridade crua e universal da Uakti, o som inimaginável da Som Imaginário. Afora isso, a profusão há tantos anos de talentos do mais alto nível técnico e criativo a se ver (além de Milton, carioca, mas mineiro de formação e coração) por Wagner Tiso, irmãos Borges, Cacaso, Beto Guedes, Marco Antônio Guimarães, Fernando Brant, Toninho Horta, Samuel Rosa, Flávio Venturini, Tavinho Moura...

Mas quer maior mistério mineiro do que a banda Aum? Além do próprio nome, termo de origem hindu que lhes representa o som sagrado do Universo, pouco se sabe sobre eles há 40 anos. O que se sabe, sim, é que o grupo formado em Beagá por Zé Paulo, no baixo; Leo, bateria; Guati, saxofone; Marcio e Taquinho, guitarras; e Betinho, teclados, embora a diminuta nomenclatura, é dono de uma sonoridade enorme, visto que complexa, densa e sintética, que se tornou um mito na cena instrumental brasileira. Mais enigmático ainda: toda esta qualidade foi registrada em apenas um único disco. E se o nome da banda traz uma ideia mística, o título do álbum é uma referência direta àquilo que melhor lhes pertence: "Belorizonte". E escrito assim, no dialeto "mineirês", tal como os nativos falam coloquialmente ao suprimir letras e/ou juntar palavras.

A coerência com o "jeitin" da cidade não está somente impressa na capa. Vai além e mais profundamente neste conceito. O som da Aum é, como se disse, complexo, denso e sintético, pois faz um híbrido impressionante (e misterioso) de rock progressivo, jazz moderno e a herança da "escola" Clube da Esquina. "Belorizonte" destila elegância e beleza em suas seis requintadas faixas, remetendo a MPB, à música clássica e a cena de Canterbury, mas imprimindo uma marca única, uma assinatura. De forma independente, a Aum gravou “Belorizonte” no renomado estúdio Bemol, por onde passaram grandes mineiros como Milton, Toninho, Nivaldo Ornellas, Tavinho e Uakti e um dos primeiros estúdios na América Latina a possuir um aparato de áudio profissional para gravações em alto nível.  

Esta confluência de elementos é como um retrato sonoro de onde pertencem: da topografia dos campos e serras, da vegetação do Cerrado, da coloração avermelhada da terra, da energia emanante dos minérios. Das feições mamelucas dos nativos, da influência ibérica e indígena, da religiosidade católica e africana. Aum é a cara de Belo Horizonte. Por isso mesmo, chamar o disco de outra coisa que não o nome da própria cidade seria impensável.

Suaves acordes de guitarra abrem "Tema pra Malu", o número inicial. Jazz fusion melódico e inspirado, embora não seja a faixa-título, não é errado dizer que se trata da mais emblemática do álbum. Variações de ritmo entre um compasso cadenciado e um samba marcado são coloridos pelo lindo sax de Guati, que pinta um solo elegante. A guitarra solo, igualmente, com leve distorção, não deixa por menos, dando um ar rock como o do Clube da Esquina. Aliás, percebe-se a própria introspecção de canções de Milton, como “Nada Será como Antes” e “Cadê”. 

Já "Serra do Curral", um dos maiores e belos símbolos da capital mineira, é narrada com muita delicadeza em uma fusão de jazz moderno, folk e MPB. Sem percussão, é levada apenas nos criativos acordes de guitarra, linhas de baixo em alto nível e um solo de violão clássico de muito bom gosto. Impossível não remeter a Pat Metheny e Jaco Pastorius, jazzistas bastante afeitos com os sons da latinoamerica. Novamente, ecos do Milton e do Clube da Esquina, como as latinas “Paixão e Fé”, de “Clube da Esquina 2” (1978), e “Menino”, de “Geraes” (1975).

Numa pegada mais progressiva, a própria “Belorizonte”, a mais longa de todo o disco, com quase 10 min, traz um ritmo mais acelerado puxado pelas guitarras de Frango e Taquinho, seja no riff quanto no improviso. Betinho também dá as suas investidas nos teclados, mas quem tem vez consistentemente são Zé Paulo, no baixo, e Leo, na bateria. Ambos executam solos como em nenhum outro momento do álbum – e, consequentemente, da carreira. Ouve-se, tranquilamente, “Maria Maria”, de Milton, “Feira Moderna”, de Guedes, e “Canção Postal”, de Lô Borges.  Outro rock pulsante, “Nas Nuvens”, chega a lembrar "Belo Horror", de "Beto Guedes/Danilo Caymmi/Novelli/Toninho Horta", e principalmente “Trem de Doido”, do repertório de “Clube da Esquina”, principalmente pela guitarra solo de Guedes com efeito. Destaque também para os teclados de Betinho, traz uma banda em tons alegres e em perfeita sintonia, algo dos lances mais instrumentais d’A Cor do Som, espécie de Aum carioca e de sucesso.

O chorus de "4:15", conduzido pelo sax, pode-se dizer das coisas mais airosas da música brasileira dos anos 80. Bossa nova eletrificada e com influência do jazz de Chick Corea, Herbie Hancock e Weather Report, funciona como uma fotografia poética da Belo Horizonte urbana às 16 horas 15 minutos da tarde com seu trânsito, suas vias e suas gentes emoldurados pela arquitetura, pela luz e pela paisagem da cidade. “Tice” encerra com um ar de blues psicodélico. Primeiro, ouve-se algo inédito até então: uma voz humana. Chamada especialmente para este desfecho, a cantora Roberta Navarro emite melismas melancólicos. Em seguida, a sonoridade de piano protagoniza um toque onírico para, por fim, a guitarra de Taquinho emitir seu grito-choro de despedida.

“Belorizonte” se tornou um dos discos nacionais mais procurados entre os colecionadores, visto que restam algumas raras cópias do vinil original, disponíveis em sebos a altos preços. Sua aura de ineditismo e de assombro paira até os dias de hoje. Brasileiros e estrangeiros ainda descobrem a Aum e, além de se encantarem, perguntam-se: “por que apenas este registro?”. Afora raros reencontros para shows especiais, permanece inexplicável que nunca tenha voltado à ativa – até porque todos os integrantes ainda estão vivos. Seja por milagre ou não, ou mais importante é que, mesmo que não se explique, o som da Aum, único e irrepetível, independe de qualquer enigma ou lógica. Basta por para se escutar, que o sobrevoo sobre os campos e cerrados de BH está garantido.

********

FAIXAS:
01. "Tema pra Malu" (Taquinho) - 5:12
02. "Serra do Curral" Marcio) - 2:55
03. "Belo Horizonte" (Aum) - 9:36
04. "Nas Nuvens" (Betinho) - 3:58
05. "4:15" (Marcio) - 4:15
06. "Tice" (Betinho) - 7:20

********
OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #334

Mais de 2000 dias sem resposta, mas Marielle permanecem aqui conosco. Presente. Ela estará no MDC 334, assim como Dead Kennedys, João Gilberto, Björk, Jorge Mautner, Isaac Hayes e outros. Quem também entoa o mesmo grito é John Zorn, a quem trazemos no Cabeção desta edição. Com o punho em riste e uma pergunta que não quer calar, o programa de hoje se manifesta às 21h na persistente Rádio Elétrica, que quer saber: quem mandou matar Marielle e Anderson Gomes? Produção, apresentação e #justiçaparamarielle: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Música da Cabeça - Programa #333

 

Vocês acreditam em números cabalísticos? Acho melhor começar a acreditar, pois um MDC de 333 num dia 30 de um ano '3' vai te fazer olhar diferente para o céu. Afinal, só uma combinação misteriosa dessas para ter o poder de juntar Chico Buarque, Airto Moreira, R.E.M., Emicida, Geraldo Pereira e outros astros numa quadratura só. E quer mais mágica que Edu Lobo e Dori Caymmi 80 voltas ao redor da Terra na mesma semana? Olha: tô achando melhor se convencer, afinal 21h, hora do programa, são 2 + 1, que dá 3 de novo! Isso tudo na esotérica Rádio Elétrica com produção, apresentação e numerologia de Daniel Rodrigues


  (www.radioeletrica.com)



sábado, 26 de agosto de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 15 anos do ClyBlog - "Simple Pleasures", Bobby McFerrin (1988)



 

“Bobby McFerrin é um gênio. É muito legal você transformar uma coisa que não existe em coisas que existem. Essa é a função do artista para mim, e o Bobby McFerrin é um dos grandes artistas que existem”. 
André Abujamra


O Daniel Rodrigues me pediu pra eu escrever sobre um dos discos que eu gostaria de falar e um deles é o “Simple Pleasures”, do Bobby McFerrin. A primeira música, "Don't Worry, Be Happy", quando eu escutei, eu fiquei tão apaixonado, porque foi uma música que tocou muito nas rádios em 1988, e é muito legal. O arranjo, a harmonia, a melodia. É uma música muito fofa e muito bonita. Uma harmonia simples, maravilhosa. E dizem que essa foi uma das mais tocadas naquele ano e que, por isso, bateu um recorde mundial para uma música que não tem instrumentos. E é hiper pop! "Don't Worry, Be Happy”, para mim, me remete a muita alegria, felicidade, e dizem que as músicas que te fazem lembrar de coisas boas, fazem você lembrar de uma época boa da sua vida. O que não acontece com música triste - ou até uma música triste pode te lembrar coisa boa, né? 

A seguinte desse disco é “All I Want”. Eu cheguei a ir a dois shows do Bobby McFerrin,e fiquei impressionado, porque só tinha ele e um microfone no palco. É algo inacreditável! E ele tem um grave e uma extensão, uma tessitura de voz maravilhosa. E uma coisa que me impressiona muito nessa música é o contrabaixo que ele faz. Além de ser uma extensão muito grave, tem um timbre muito louco. Parece que tem uma distorção no baixo. Essa música é genial: “All I Want”.

Esta outra também tem essa coisa do grave, que é “Drive my Car”. McFerrin tem uma coisa dos harmônicos, que ele faz com a voz, no agudo, pois ele está cantando em falsete. Quando o homem não consegue cantar muito agudo, ele faz uma coisa chamada “falsete”. Só que o falsete do Bobby McFerrin é tão maravilhoso, que tem uns harmônicos inacreditáveis! Eu soube que o McFerrin sabe tocar clarinete, que é um instrumento que tem muito harmônico e uma extensão muito grande. Então, eu comparo a extensão vocal do Bobby McFerrin com a de uma clarineta. Essa, “Drive my Car”, é realmente uma bênção! E a batera, tudo que você escuta é tudo ele que faz com a voz e o corpo. Para a bateria, ele bate no peito para fazer o bumbo. É uma coisa muito maravilhosa. 

Bem, a próxima música é “Simple Pleasures”, que dá nome ao disco. Nesse disco inteiro, como ele gravou todas as vozes num overdub dele mesmo, ele faz uma coisa interessantíssima, que é a harmonia que ele faz para as coisas. É uma coisa muito louca, porque é muito natural. Mas com certeza, tem um estudo por trás de cada nota que esse cara canta. Outra coisa também é a interpretação dele. McFerrin é praticamente um ator quando canta, porque o timbre, a variação de colocação, o sotaque, enfim. Essa música é quase uma ópera.

A próxima música, "Good Lovin'", que me faz lembrar muito de quando eu fui para Nova York uma vez numa igreja evangélica e vi uma banda de gospel. Aquilo é uma coisa que faz ferver o coração de se ouvir! Essa música é mais ou menos isso: "Good Lovin'" é uma coisa de banda evangélica. E é muito louco, porque a única coisa que a gente precisa num lugar desses é um: "good lovin'", como a letra diz. Eu fico muito emocionado quando escuto sempre. Estou escutando e me sentindo feliz. Afinal, é muito legal você transformar uma coisa que não existe em coisas que existem. Essa é a função do artista para mim, e o Bobby McFerrin é um dos grandes artistas, um dos grandes compositores, um dos grandes músicos que existem. E dizem que ele agora é maestro também.

A seguinte faixa é “Come to Me”, que tem uma harmonização de quatro vozes! É muito inacreditável o que ele faz. Existe uma coisa em música que é fazê-la em bloco. Joe Pass fazia isso na guitarra, por exemplo. Como ele tocava muito sozinho, ele tocava toda a melodia e harmonia da música ao mesmo tempo. Essa música aqui é mais ou menos isso: McFerrin pega quatro vozes e canta inteiro e ainda faz harmonização junto. “Come to Me” é uma música que, para quem gosta de estudar harmonia, é realmente um é arroz, feijão, bife e batata frita.

"Susie-Q". Ele tem nessa música aquela coisa que eu falo de timbre. Tem um baixo sempre impressionante, mas tem uma questão de harmonização no timbre, que é inacreditável! Realmente é “chover no molhado” falar desse disco, porque é um disco que eu escuto há muito, desde 88. E ele ainda dobra uma voz em "Susie-Q", fazendo a voz do homem e da mulher numa oitava acima com falsete. É inacreditável, pois nessa época não tinham tantos recursos no estúdio para afinar voz - afinal, ele nem precisava afinar. É um presente ouvir esse disco.

“Drive”, a próxima música, ele faz um grave numa linha de baixo incrível. Chega a ser um walking bass, mas numa música pop. Também, ele faz uma harmonização com as vozes agudas em “Drive”. Praticamente se escuta ele dizer palavras no baixo, mas não têm palavras. Se você tira a cabeça, e fica imaginando que nesse disco não tem nenhum instrumento além da voz dele, e se você o ouve inteiro, você se fala: “não é possível!”. Ele transforma a voz dele em vários instrumentos. E ele canta “Drive” como a anterior, "Susie-Q": ele faz a voz aguda é a voz grave dobrado. E tem uma coisa de articulação também, pois não é muito fácil você dobrar a voz, ainda mais em oitava, assim, desse jeito. Essa música é foda!

Depois tem "Them Changes", que é maravilhoso também. Essa música tem novamente a questão da extensão. Tem alguns instrumentos, por exemplo, como eu já falei da clarineta, que vai de um grave até um agudo muito agudo. Tem uma brincadeira que a gente fala, que a clarineta é um instrumento alienígena, porque quando você toca oitava, não é a oitava que você está tocando: é a décima quinta, justamente para ter uma extensão maior. E o McFerrin tem uma extensão absurda! Nesta música ele tem o grave fazendo o baixo e depois ele dobra esse baixo com uma oitava acima. É outra inacreditável , que dá pra dizer que é uma música “instrumental”!

E a última de “Simple...” é "Sunshine of Your Love", que é um Jimi Hendrix, né? Ele imita uma guitarra na voz, mas é lindo, porque ele não imita para parecer o instrumento. Parece, sim, que o instrumento é que está imitando a voz dele, de tão lindo que é.


por A N D R É  A B U J A M R A


★★★★★★

clipe de "Don't Worry be Happy", dirigido por Drew Takahashi e estrelado por McFerrin, Robin Williams e Bill Irwin


★★★★★★

FAIXAS:
1. "Don't Worry, Be Happy" - 4:54
2.. "All I Want" - 2:56
3. "Drive My Car" (Lennon, McCartney) - 2:44
4. "Simple Pleasures" - 2:08
5. "Good Lovin'" (Rudy Clark, Artie Resnick) - 2:58
6. "Come to Me" - 3:38
7. "Susie-Q" (Eleanor Broadwater, Dale Hawkins, Stan Lewis) - 2:50
8. "Drive" - 3:58
9. "Them Changes" (Buddy Miles) - 3:55
10. "Sunshine of Your Love" (Pete Brown, Jack Bruce, Eric Clapton) - 3:43
Todas as composições de autoria de Bobby McFerrin, exceto indicadas


★★★★★★

OUÇA O DISCO:


★★★★★★


André Abujamra é um músico, ator, produtor musical, arranjador e diretor paulistano. Em 1986, junto com o músico e compositor Maurício Pereira, fundou a banda “Os Mulheres Negras”, a terceira menor big band do mundo. Tambem comandou os grupos Karnak, Vexame, Gork e Okê Arô, além da vasta carreira solo. Assinou a trilha sonora de mais de 75 trabalhos parra filmes em longa metragem para cinema, entre eles, "Carlota Joaquina", "Bicho de Sete Cabeças" e "Carandiru". Recebeu prêmios como Candango, Kikito, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e Moliére, além de indicação ao Grammy Latino.


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Música da Cabeça - Programa #332


É certo dizer que na palavra "mãe" cabe o mundo inteiro. O nosso programa, com toda nossa indignação e reverência, por exemplo, cabe. E onde cabem também feras da música eletrônica, duo de Gilberto Gil com parceiros musicais, um Cabeção do cabeção Ed Motta, letra de Paula Toller e mais e mais e mais. Com apenas três letras, a gente vem pra dizer muita coisa hoje às 21h na quilombola Rádio Elétrica. Produção, apresentação, axé e "justiça!": Daniel Rodrigues. #maebernadete #bastadechacina 

www.radioeletrica.com


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 15 anos do ClyBlog - Accept - "Restless and Wild" (1982)



 
Acima, a capa da versão brasileira
e abaixo a de Europa e EUA
"Não sei se somos modelos, mas certamente ajudamos a iniciar todo esse gênero [Trash Metal] de certa forma, e isso me deixa muito, muito orgulhoso. É uma grande honra ter todas essas bandas nos nomeando como sua influência. E eu já ouvi tantas vezes 'Cara, quando ouvimos ‘Restless and Wild’ isso nos fez começar a tocar música.' E para muitas bandas, esse foi o ponto de partida, então isso é incrível. O que mais você pode querer da vida ou da sua carreira musical?"
Wolf Hoffmann


A primeira vez que tive contato com o Accept foi lá pelo início de 1984, escutando o Central Rock, na saudosa Ipanema FM, 94.9, apresentado pelo Ricardo Barão. O programa acho que era transmitido de segundas às sextas ou apenas uma vez por semana, não recordo com exatidão, mas ia ao ar das 22h às 24h. 

A música da banda alemã tocada foi "Fast as a Shark", a primeira faixa do disco "Restless and Wild", de 1982. E o seu começo era estranho, pois começava com um som chiado e uma voz feminina cantando “Heidi, Heido, Heida”, e na sequência, escutávamos uma agulha arranhando o disco e entrava o vocal gritado de Udo Dirkshneider, seguido de uma bateria insana e solos de guitarra. O efeito trazia a música tradicional alemã ("Ein Heller und ein Batzen", escrita em 1830 por Albert von Schlippenbach) e de acordo com o guitarrista e líder Wolf Hoffmmann, era para enganar os ouvintes, pois ao colocar o disco, eles iriam escutar uma música que não tinha nenhuma conexão com o álbum e teriam certeza de que haviam comprado o LP errado. Uma pegadinha que deu certo. 

A música em questão, "Fast as a Shark" ("Rápido como um Tubarão") é considerada a pedra fundamental do Thrash Metal, do Speed Metal e do Power Metal. E não sou eu que estou afirmando. A opinião foi dada por integrantes de várias bandas do gênero, como Metallica, Exodus, Anthrax. O vocalista do Exodus, Steve Zetro Souza, afirmou que ao escutar "Fast as a Shark" teve uma espécie de epifania. "É isso, é isso", soltou ele, que confessa cantar baseado nos vocais de Udo Dirkschneider e Bon Scott, do AC/DC

No dia seguinte ao escutar o Central Rock, fui atrás do LP para comprá-lo. Adquirido, é um dos meus preferidos desde sempre. E passados quase quarenta anos, sigo escutando o trabalho da banda alemã, surgida na cidade de Solingen, na então Alemanha Ocidental nos anos 1970. 

"Restless and Wild" é um daqueles álbuns perfeitos, ou seja, todas as suas músicas são excelentes, assim como "Powerslave", do Iron Maiden, e "The Wall", do Pink Floyd. Ele é o quarto da discografia do Accept, sucessor do  debut homônimo de 1979, “I’m A Rebel”, de 1980, e “Breaker”, de 1981. 

A obra foi para as lojas europeias no dia 2 de Outubro de 1982, com dez faixas. Nos Estados Unidos seria lançada no ano seguinte, e chegando ao Brasil no começo de 1984, sendo o primeiro da banda a sair por aqui. Nesta época o estilo Heavy Metal começava a criar força incomum no nosso país, chegando ao auge em 1985, com o advento do primeiro Rock In Rio.  

Já falei da música ícone "Fast As A Shark", que abre o lado A, seguida de "Restless And Wild", que dá nome ao disco e como o nome diz, é de uma selvageria musical, até hoje presente nos shows, "Ahead Of The Pack", "Shake Your Heads" e "Neon Nights". 

No lado B, estão "Get Ready", que tem uma pegada a la Judas Priest, "Demon’s Night", "Flash Rockin’ Man", "Don’t Go Stealing My Soul Away", um dos títulos de música mais legais, e a épica "Princess Of The Dawn", com um solo monstruoso de Wolf Hoffmann, e uma das minhas preferidas de todos os tempos, escutada pelo menos uma vez por semana desde aquela época. 

A capa original do "Restless And Wild" apresenta uma foto de duas guitarras, modelo Flying V, cruzadas e pegando fogo. Aqui no Brasil, no entanto, a capa do álbum mostra a banda se apresentando ao vivo, com luzes vermelhas e vários amplificadores, e em destaque Udo Dirkschneider estrangulando o baixista Peter Baltes - sendo a mesma da versão japonesa. 

“Restless And Wild” abriu caminho ainda para uma sequência clássica de grandes lançamentos. O disco seria sucedido pelos mega-clássicos “Balls To The Wall”, de 1983,  “Metal Heart”, de 1985, e "Russian Roulette", de 1986. Então, o Accept entraria em crise, com a saída de seu fundador Udo Dirkschneider, que seguiria carreira solo. A banda alemã entraria em colapso nos anos 1990, entrando em um hiato de quase 15 anos. A volta aconteceria em 2010, com novo vocalista, Mark Tornillo, estando na ativa até hoje. 

Quatro fatos sobre o Accept em minha vida:  

Na época do II Grau (hoje Ensino Médio), cursado no Colégio Estadual Paula Soares, eu emprestei o disco "Restless and Wild", sim, naquela época a gurizada emprestava ou trocava discos sem medo de não tê-los de volta, para um colega punk. O cara levou o disco para casa, curioso em escutar aquele som novo e diferente. No dia seguinte, ele me devolveu o disco, e contou: "quando cheguei em casa, fui para o quarto e coloquei o disco para tocar. E na primeira faixa, achei que ele estava arranhado. E na sequência, entrou aquele cara gritando...na hora a minha mãe abriu a porta do meu quarto e soltou: 'quem foi o débil mental que te emprestou este disco?'"

Caímos na gargalhada. Afinal, o cara era afeito a escutar bandas punk como Exploited, Sex Pistols, Dead Kennedys e Misfits. Mas a mãe dele achou absurdamente doente o som do Accept. 

Em 2013, assisti finalmente o Accept ao vivo em show no Bar Opinião, em Porto Alegre. E durante a execução de "Balls to the Wall", o guitarrista Wolf Hoffmann se curvou em direção a plateia, olhou pra mim, e disse: "For you, man", colocando uma palheta na minha mão. 

Anos depois, sem conseguir achar uma camiseta do "Restless and Wild" (eu coleciono camisas de bandas), visitei a loja Zeppelin, do Alexandre Nascimento, especialista em ítens sobre Heavy Metal, e comentei com ele. Na hora, o Tiziu pegou o telefone e ligou pra um camarada catarinense, que fez sob medida a camiseta com a capa do disco. E paguei apenas o custo de fabricação, e nada mais: R$ 50,00. 

Por fim, em 2023, pude presenciar o show do vocalista mais ícônico do Accept, quando Udo Dirkschneider se apresentou no Bar Opinião. No setlist, apenas músicas clássicas da banda que ele fundou lá na década de 1970. 

Agora, chega... bora escutar pela milionésima vez "Restless and Wild" e acordar a vizinhança.


por C H I C O   I  Z I D R O


★★★★★★

FAIXAS:
1. "Fast as a Shark" - 3:49
2. "Restless and Wild" - 4:12
3. "Ahead of the Pack" - 3:24
4. "Shake Your Heads" - 4:17
5. "Neon Nights" - 6:01
6. "Get Ready" - 3:41
7. "Demon's Night" - 4:27
8. "Flash Rockin' Man" - 4:28
9. "Don't Go Stealing My Soul Away" - 3:15
10. "Princess of the Dawn" - 6:15
Todas as composições de autoria de Wolf Hoffmann, Stefan Kaufmann, Udo Dirkschneider, Peter Baltes


★★★★★★

OUÇA:



★★★★★★



Chico Izidro é jornalista, crítico de cinema e escritor e youtuber. Nascido em Porto Alegre, estudou no Colégio Paula Soares/Pio XII e é formado em jornalismo pela Unisinos. Teve passagens pela Assessoria de Imprensa do Juizado de Menores, Band AM, Ipanema FM, Placar, Folha de S. Paulo, Rádio Guaíba, A Notícia-SC e Correio do Povo. No YouTube mantém os canais Cinema de Peso, ao lado dos críticos de cinema Criba Aquino e Lauro Arregui, e Guaibadas, onde conta causos de sua vida. É autor de dois romances, “Era Vidro e Se Quebrou” e “Olhos Verdes”.



quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Música da Cabeça - Programa #331

 

Apagão? Não de ideias e nem de música. Acendendo a chama em meio à escuridão, o MDC de hoje traz muita coisa variada capaz de iluminar as cabeças, como Cocteau Twins, Marina, Legião Urbana, Cássia Eller e mais. Tem ainda um Cabeça dos Outros com música lá das bandas de Minas Gerais. Com a energia tinindo, o programa vai ao ar hoje às 21h na carregada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e fontes renováveis: Daniel Rodrigues.


www,radioeletrica.com


quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Música da Cabeça - PROGRAMA ESPECIAL Nº 330

 

306, 314, 322, 329... não importa: na nossa matemática, qualquer soma destas leva ao número 330. Na edição especial do MDC, a gente faz uma retrospectiva das últimas 30 edições do programa e relembra músicas que estiveram na cabeça, quadros, letra, notícia e tudo o que cabe nesta fórmula. Calcula aqui com a gente: 2 + 1 = 21¬h x {Rádio Elétrica} = MDC330. Produção, apresentação e números musicais: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com


quinta-feira, 3 de agosto de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 15 anos do ClyBlog - Rita Lee - "Entradas e Bandeiras" (1976)

 




"Quantas vezes eles vão me perguntar
se não faço nada 
a não ser cantar (...)
agora não é tempo
da gente se esconder
tenho mais é que botar a boca no mundo".
trecho de "Botar a Boca no Mundo"





Meu amigo Cly me convidou para falar sobre meu álbum fundamental. Desafio.
Um só?
Após revisitar algumas influências, poderia falar de Beatles, Stones, Pink Floyd, optei por algo brasileiro, da minha Terra. Sendo assim, impossível não falar de Rita Lee, nossa rainha do Rock BR, Nossa Senhora dos overdrives tupiniquins.
Continua sendo um desfio, pois Rita coleciona álbuns considerados pérolas da nossa MPB.
Escolhi seu terceiro disco em parceria com a banda Tutifrutti, "Entradas e Bandeiras", de 1976, que considero um divisor de águas por conta de sua sonoridade antiga e pesada. Quando li sua autobiografia, vi que questionou o resultado final deste disco e do anterior, Fruto Proibido, de 1975. Mas pra mim e muitos brasileiros, como meu pai, que me apresentou o LP (o qual roubou de uma prima, aos 14 anos) ele mostra que a sonoridade do rock n’ roll funciona perfeitamente com a embocadura do português bem brasileiro, executado com maestria nas composições da Rita, como sempre.
Apesar de hits como "Superstafa" e "Coisas da Vida", o sucesso o disco anterior ofuscou um pouco sua projeção e muitas pessoas não lembram tanto de "Entradas e Bandeiras".
Apaixonante desde o primeiro acorde, o disco inicia com "Corista de Rock", composição em parceria com o guitarrista Luis Carlini, que já dá a cara, identidade do disco, deixando bem claro ao que veio. A voz de uma jovem Rita, os fabulosos timbres de guitarra, de sonoridade britânica, de amplificadores Marshalls (bem populares na época) e o baixo de timbre mais estalado, Rickenbacker, remetem a uma atmosfera vintage e crua, que dá vontade de aumentar o volume.
A curiosidade fica por conta da quarta faixa, "Bruxa Amarela", única que não foi
composta pela Tuttifrutti ou Rita, assinada por Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho.
Para este disco, a banda trazia a surpresa de Sérgio Della Monica na bateria, somando-se ao já conhecido grupo formado por Luis Carlini na guitarra, Lee Marcucci no baixo, Paulo Maurício nos teclados e sintetizadores e os irmãos Rubens e Gilberto Nardo nos backing vocals.
Esta obra-prima é um dos meus discos favoritos da vida, ótima opção para sacudir os cabelos!




por T H A L E S   A M O N

★★★★★★

FAIXAS:
1.Corista De Rock 
2.Lady Babel 
3.Coisas Da Vida 
4.Bruxa Amarela 
5.Departamento De Criação 
6.Superstafa 
7.Com A Boca No Mundo 
8.Posso Contar Comigo 
9.Troca Toca 

★★★★★★
Ouça:




★★★★★★


Thales Amon
toca violão e guitarra desde os 8 anos, estudou piano na Escola de Música Villa-Lobos, é bacharel em guitarra pelo Conservatório Brasileiro de Música (CBM-CEU), músico e arranjador do Bloco Superbacana, produtor executivo do Bloco do Barbas, professor de guitarra no Projeto Hora Extra da escola Oga Mitá. Tem como suas principais influências o rock, pop, jazz e mpb dos anos 60 e 70.