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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Oscar 2022 - Os Indicados


"Ataque dos Cães" e "Duna" vislumbrando o Oscar no horizonte.

Depois de muita especulação acerca de quem já ganhara Globo de Ouro, BAFTA e outros prêmios indicativos, saiu a tão esperada lista do Oscar que, a bem da verdade, confirmou a maioria das expectativas. "Ataque dos Cães", de Jane Campion, como era esperado, por suas inúmeras qualidades, leva um monte de indicações, "Duna" se impõe nos prêmios técnicos, embora também figure em outras categorias, a encantadora animação da Disney, "Encanto" disputa o prêmio em sua categoria, tem tema de James Bond disputando para trilha original, e "Belfast" e "Amor Sublime Amor" pintam como aqueles que podem roubar a cena. 

No mais, uma certa surpresa pela não indicação de Lady Gaga a melhor atriz, da mesma forma que surpreende um pouco a indicação de Kirsten Stewart, ignorada em outras premiações. Havia uma expectativa sobre como a Academia lidaria com o badalado e discutido "Não Olhe Para Cima" e, felizmente ele não foi ignorado, sendo nomeado para quatro prêmios, inclusive o de melhor filme e também para aquele que é seu maior mérito, o roteiro. Destaque também para a animação dinamarquesa "Flee" que disputa em três categorias, sendo elas, curiosamente, animação, filme estrangeiro e documentário, coisas aparentemente um tanto distantes uma da outra.

Como hoje em dia, com o streaming e as coisas chegando muito mais rápido às nossas casa, está mais fácil de ver os concorrentes, o negócio agora é preparar a pipoca, zapear os canais de filmes e aplicativos e começar a maratona de filmes. 

O Oscar é logo ali. A cerimônia está marcada para o dia 27 de março.


Confira, abaixo, todos os indicados em todas as categorias:


  • Melhor filme

"Belfast"

"Não olhe para cima"

"Duna"

"Licorice pizza"

"Ataque dos cães"

"No ritmo do coração"

"Drive my car"

"King Richard: criando campeãs"

"O beco do pesadelo"

"Amor, sublime amor"


  • Melhor direção

Kenneth Branagh - "Belfast"

Ryusuke Hamaguchi - "Drive my car"

Jane Campion - "Ataque dos cães"

Steven Spielberg - "Amor, sublime amor"

Paul Thomas Anderson - "Licorice Pizza"


  • Melhor atriz

Jessica Chastain - "Os olhos de Tammy Faye"

Olivia Colman - "A filha perdida"

Penélope Cruz - "Mães paralelas"

Nicole Kidman - "Apresentando os Ricardos"

Kirsten Stewart - "Spencer"


  • Melhor ator

Javier Bardem - "Apresentando os Ricardos"

Benedict Cumberbatch - "Ataque dos cães"

Andrew Garfield - "Tick, tick... Boom!"

Will Smith - "King Richard: criando campeãs"

Denzel Washington - "A tragédia de Macbeth"


  • Melhor atriz coadjuvante

Jessie Buckley - "A filha perdida"

Ariana DeBose - "Amor, sublime amor"

Judi Dench - "Belfast"

Kirsten Dunst - "Ataque dos cães"

Aunjanue Ellis - "King Richard: criando campeãs"


  • Melhor ator coadjuvante

Ciarán Hinds - "Belfast"

Troy Kotsur - "No ritmo do coração"

Jesse Plemons - "Ataque dos cães"

J.K. Simmons - "Apresentando os Ricardos"

Kodi Smit-McPhee - "Ataque dos cães"


  • Melhor filme internacional

"Drive my car" - Japão

"Flee" - Dinamarca

"A Mão de Deus" - Itália

"A Felicidade das Pequenas Coisas" - Butão

"A Pior Pessoa do Mundo" - Noruega


  • Melhor roteiro adaptado

"No ritmo do coração"

"Drive my car"

"Duna"

"A filha perdida"

"Ataque dos cães"


  • Melhor roteiro original

"Belfast"

"Não olhe para cima"

"King Richard: criando campeãs"

"Licorice pizza"

"A pior pessoa do mundo"


  • Melhor figurino

"Cruella"

"Cyrano"

"Duna"

"O beco do pesadelo"

"Amor, sublime amor"


  • Melhor trilha sonora

"Não olhe para cima"

"Duna"

"Encanto"

"Mães paralelas"

"Ataque dos cães"


  • Melhor animação

"Encanto"

"Flee"

"Luca"

""A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas"

"Raya e o último dragão"


  • Melhor curta de animação

"Affairs of the art"

"Bestia"

"Boxballet"

"A Sabiá Sabiazinha"

"The windshield wiper"


  • Melhor curta-metragem em live action

"Ala kachuu - Take and run"

"The long goodbye"

"The dress"

"On my mind"

"Please hold"


  • Melhor documentário

"Acension"

"Attica"

"Flee"

""Summer of Soul (...ou Quando A Revolução Não Pôde Ser Televisionada)"

"Writing with fire"


  • Melhor documentário de curta-metragem

"Audible"

"The queen of basketball"

"Lead me home"

"Três canções para Benazir"

"When we were bullies"


  • Melhor som

"Belfast"

"Duna"

"Sem tempo para morrer"

"Ataque dos cães"

"Amor, sublime amor"


  • Melhor Canção original

"Be Alive" - "King Richard: criando campeãs"

"Dos Oruguitas" - "Encanto"

"Down To Joy" - "Belfast"

"No time to die" - "Sem tempo para morrer"

"Somehow you do" -"Four good days"


  • Melhor Maquiagem e cabelo

"Um Príncipe em Nova York 2"

"Cruella"

"Duna"

"Os olhos de Tammy Faye"

"Casa Gucci"


  • Melhores Efeitos visuais

"Duna"

"Free guy"

"Sem tempo para morrer"

"Shang-Chi e a lenda dos dez anéis"

"Homem-Aranha: Sem volta para casa"


  • Melhor fotografia

"Duna"

"Ataque dos cães"

"Beco do pesadelo"

"A tragédia de Macbeth"

"Amor, sublime amor"


  • Melhor edição

"Não olhe para cima"

"Duna

"King Richard: criando campeãs"

"Ataque dos cães"

"Tick, tick... boom!"


  • Melhor design de produção

"Duna"

"Ataque dos cães"

"O beco do pesadelo"

"A tragédia de Macbeth"

"Amor, sublime amor"


C.R.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

“Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn (1967)



Quando assistir a um grande filme dos anos 60 e 70, agradeça a Warren Beatty
por Francisco Bino




Poster original de 
"Bonnie e Clyde"
Depois do período turbulento e da quebra de alguns dos grandes estúdios nos anos 50, o cinema yanquee enfrentava uma péssima fase. Ninguém queria saber mais de Rock Hudson, épicos e filmes bíblicos. As salas de cinema esvaziaram e as brilhantes produções europeias e japonesas eram cada vez mais tratadas como salvação do cinema mundial. Os baby boom, a geração dos anos 60, queriam coisas novas e voltaram rapidamente seus olhos para o outro lado do Atlântico. Esse foi o primeiro sinal vermelho. Os grandes chefões tinham perdido muito dinheiro com produções catastróficas e estavam dispostos a baixar um pouco a guarda para ter seus públicos de volta e recuperar suas cifras. Mas ainda não tinham entendido bem o recado de que agora as coisas não seriam do jeito deles.
Faye e Beatty antevendo a revolução sexual
e social da sociedade moderna
Uma geração renegada da TV, teatro e cinema independente estava se preparando para assumir o controle nas produções. Diretores, produtores e atores iam dar início a um movimento chamado "New Hollywood" a mais autoral e criativa da história do cinema daquele país. Mas, obviamente, ainda enfrentariam uma dura resistência. O filme “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn, de 1967, seria o marco inicial de toda essa geração. Tudo graças a Warren Beatty, que brigou com os estúdios para ter seu projeto financiado e sob seu controle, longe do pitaco dos chefões. “Bonnie & Clyde” acabou sendo um sucesso em público, prêmios e crítica. A toda poderosa Pauline Kael fez enormes elogios ao filme de Beatty, Robert Towne e Arthur Penn e, de quebra, chamou a Warner de conservadora demais, pois eles subestimaram a produção. Esse foi o segundo sinal vermelho. Mais tarde os executivos entenderiam o recado.
Mesmo assim, o filme gerou enormes polêmicas e não foi tão bem aceito por parte da comunidade de Hollywood, que ainda não estava preparada para este tipo de produção. Pois “Bonnie & Clyde” era freudiano, revolucionário e trazia consigo a mensagem da liberação sexual de uma era que estava chegando. E ao mesmo tempo debochava dos filmes de gângsteres dos antigos estúdios – suas tomadas de tiroteios em Keystone Kops ao estilo das comédias mudas eram uma provocação dizendo: "nos podemos fazer melhor seus ultrapassados". A violência do filme era uma outra metáfora: o Vietnã inflamava com o "cheiro de Napalm pela manhã" e corpos de US Marines crivados de bala na TV. E Beatty, pela primeira vez na história, mostrava os efeitos dos tiros em um corpo e o sangue jorrando nas telas de cinema. Vários diretores beberam dessa fonte estética violenta. Sam Peckinpah seria um deles e a usaria em seu grande filme, "Meu Ódio Será Sua Herança". O crítico Peter Biskind disse: "Se os filmes de James Bond legitimavam a violência dos governos, e os de Sergio Leone legitimavam a violência dos vingadores solitários, ‘Bonnie & Clyde’ legitimava a violência contra o sistema, a mesma que ardia nos corações e mentes de centenas de milhares de oponentes frustrados da Guerra do Vietnã."
Gene Hackman, Blanche Parson,
Beatty, Faye e Michael Pollard
Depois de “Bonnie & Clyde” a porta estava mais aberta, “Sem Destino” seria concebido por hippies doidões; renegados e nerds se juntariam a eles para exteriorizar em criação aquilo que tinham na alma e eram reprimidos pelo sistema conservador dos estúdios que, agora de guarda baixa, tinha sua porta arrombada. A New Hollywood estremeceria os anos 60 e 70 ao som de rock, drogas, sexo, brigas e na produção dos melhores filmes da história do cinema norte-americano. Muitos deles de forma "we made", cinema puro, visceral e sem efeitos especiais. O fenômeno teria um fim, é claro, no início dos anos 80, com “Touro Indomável”, que encerraria tudo. Ciclo que pouco antes já era decretado como morto por causa de “O Portal do Paraíso”, considerado o filme que matou o gênero Western e ainda quebrou a United Artists, a grande companhia independente e financiadora dos projetos da New Hollywood.
Nos anos 80, os estúdios assumiriam o controle outra vez, com normas e uma série de regras para as produções e orçamentos. Os diretores seriam meros instrumentos nas mãos de chefões e estúdios, que somente visavam quantias bilionárias e despejavam superproduções cheias de efeitos especiais e roteiros "step by step" vazios. Aquilo que ainda é visto no "cinema" nos dias de hoje. A geração New Hollywood morreu e os estúdios por hora venceram a batalha. Sepultada, não sei, mas nada foi em vão, já que eles deixaram uma marca criativa jamais superada por outras gerações que as sucederam. Por isso tudo, quando você assistir a um grande filme destas duas décadas, 60 e 70, agradeça a um sujeito chamado Warren Beatty e a um time de párias, errantes e loucos que construíram com inteligência e autoria o melhor momento do cinema mundial.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Propellerheads - "Decksdrumsandrockandroll" (1998)

 



“Uma união sinérgica que resulta em
paisagens sonoras eletrônicas 
ricamente cinematográficas, 
impregnadas de hip-hop e um funk encorpado
- com um sadio senso de humor. ”
Larry Flick, 
revista Billboard


Eles têm um gosto todo especial por trilhas de filmes, e a capa explosiva, uma clara alusão a filmes de ação, já dá uma boa pista disso. Mas a coisa toda só comeca aí: a versão para "On her majesty's secret service", uma releitura dançante e alucinante de um dos temas clássicos de James Bond, com quase dez minutos e repleta de improvisos e samples empolgantes, só comprova ainda mais esse gosto e essa atmosfera cinematográfica que está espalhada ao longo do álbum em outras faixas e em vários outros momentos. Mas ainda que o titulo do disco indique um conteúdo altamente roqueiro, outra das predileções dos Propellerheads é o jazz e, a unindo ao cinema como as duas influências que figuram praticamente o tempo todo no álbum, a participação luxuosa de Miss Shirley Bassey, uma das intérpretes mais marcantes de temas de 007, em "History Repeating", um electronic-jazz retrô embalado e inspiradíssimo, serve como catalisador da ideia e da estética sonora da dupla Alex Gifford, o homem do maquinário e dos samples, e Will White, o responsável pelas batidas no criativo, estimulante e dançante "Decksdrumsandrockandroll".

Mas nem o jazz nem o cinema se limitam a essas duas faixas: "Take California", que faz as honras de abertura do álbum vai na mesma linha com uma batida extremamente dançante, tempos musicais muito jazzísticos e uma levada bem característica de filmes de espionagem. Não à toa, "Spybreak", semelhante na pegada, serviu de trilha para o filme "Matrix" na antológica cena da entrada de Neo e Trinity no saguão do prédio para resgatar Morpheus. Bem como "Cominagetcha!", de percussão um pouco mais carregada para o afro, que também poderia servir perfeitamente para um filme de ação blaxpliotation dos anos 70, isso tudo sem falar nos diversos fragmentos de diálogos de filmes espalhados ao longo do álbum.

Embora muito significativa no contexto todo do trabalho, não é apenas a bagagem cinematográfica o que sustenta o álbum. Como eu já mencionei, o jazz é outra das influências bem presentes no disco e ela pode ser notada de diversas formas ao longo do disco, em várias faixas, seja na fluência, seja nas linhas de base, seja nos improvisos, ou na subversão dos tempos, ao melhor estilo de um Herbie Hancock ou do quarteto de Dave Brubeck. Mas, tudo isso, é claro, muito bem sustentado pelas picapes, mesas e samples da dupla, que garantem, em meio a uma enxurrada de tendências e possibilidades musicais, muito ritmo e uma experiência dançante rica e excitante. Mas já falamos dos decks, da bateria mas onde, afinal, fica o rock'n roll sugerido no título do álbum? Embora apareça de forma mais explícita na frenética "Bang On!", o rock'n roll está em toda parte! A própria proposta em si é extremamente rock. A pegada, a mistura de influências, a concepção de álbum, é tudo muito próprio do rock e, certamente, o duo britânico tinha isso em mente ao planejar seu ótimo "Decksdrumsandrockandroll".

O disco teve edições diferentes da original britânica em outros lugares, sendo que a versão japonesa tem até mesmo um disco extra que traz, assim como a norte-americana, participações muito legais do DeLa Soul com a soul suave e sensual "360º (Oh Yeah)", e dos Jungle Brothers, em "You Want It Back", um hip-hop crescente que vai de uma batida quase ambient a um trip-hop acelerado e frenético. Curiosamente, o álbum foi o único da dupla que, num primeiro momento por questões de saúde de White e depois por motivos de agenda e de desencontros profissionais entre os dois intergrantes, encerrou suas atividades não muito tempo depois. Mas ambos continuam na ativa com trabalhos de produção, especialmente Gifford que, como não podia deixar de ser, não raro, aparece em colaborações para trilhas para TV e cinema.

Uma pena que juntos tenham ficado só nisso mas, certamente, "Decksdrumsandrocandroll" com sua qualidade, criatividade e diversidade, representa um dos melhores trabalhos do gênero em sua época e, por isso mesmo, um importante legado para tudo o que o sucedeu. Um único trabalho mas acima de tudo, um trabalho único. 

*******************

FAIXAS:

  • edição original (GB)

1."Take California" 7:23
2."Echo and Bounce" 5:29
3."Velvet Pants" 5:49
4."Better?" 2:05
5."Oh Yeah?" 5:28
6."History Repeating" (com Shirley Bassey) 4:05
7."Winning Style" 6:00
8."Bang On!" 5:57
9."A Number of Microphones" 0:48
10."On Her Majesty's Secret Service" 9:23
11."Bigger?" 2:22
12."Cominagetcha" 7:07
13."Spybreak!" 7:00

  • disco bonus da edição japonesa
1."You Want It Back" (featuring Jungle Brothers) 6:01
2."360° (Oh Yeah)" (featuring De La Soul) 4:29
3."Go Faster" 6:12
4."Ron's Theory" 6:38
5."Dive!" 7:04

  • edição norte-maericana
1."Take California" 7:21
2."Velvet Pants" 5:46
3."Better?" 2:03
4."360° (Oh Yeah?)" (com La Soul) 4:27
5."History Repeating" (com Shirley Bassey) 4:02
6."Winning Style" 5:58
7."Bang On!" 5:44
8."A Number of Microphones" 0:45
9."On Her Majesty's Secret Service"John Barry 9:20
10."Bigger?" 2:20
11."Cominagetcha" 7:02
12."Spybreak!" 6:58
13."You Want It Back" (com Jungle Brothers) 5:59

********************
Ouça:
Propellerheads - "Decksdrumsandrockandroll" (1998):
https://www.youtube.com/watch?v=XKKw-8jKYMI&list=PLZ6N_J_H1xqekfsCJdHAqzJj8d-DR_Q7Z



por Cly Reis


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Oscar 2016 - Os Vencedores




E "Mad Max: Estrada da Fúria" foi o grande vencedor da noite! Bom, isso quantitativamente, porque qualitativamente o vencedor da noite pode ser considerado "O Regresso", com prêmios em algumas das principais categorias. Mas isso se, mesmo ganhando prêmios tão significativos, "Spotlight: Segredos Revelados" não tivesse levado o principal prêmio da noite. Foi isso, uma noite de premiações bastante divididas. Enquanto o road-movie apocalítico "Mad Max" arrebatava praticamente todos os prêmios técnicos, o incensado filme do mexicano Iñárritu conquistava aqueles que dão o grande indicativo de qualidade de um grande filme, exceto o de melhor filme que foi parar nas mãos do investigativo "Spotlight".
Numa cerimônia marcada pela polêmica das indicações para atores negros em Hollywood, tivemos um Chris Rock bastante desenvolto na condução dos trabalhos apesar de uma desconfortável insistência na questão racial, uma bela performance de Lady Gaga apresentando a canção do filme "The Hunting Ground", uma interpretação pífia de Dave Grohl tocando "Blackbird" dos Beatles durante a homenagem aos falecidos; o tricampeonato de Emmanuel Lubezki na fotografia e o bi de Iñárritu como diretor, fato que só acontecera duas vezes anteriormente na história da premiação.
As surpresas ficaram por conta de "Ex Machina" cujo principal mérito na minha opinião é o roteiro  de trama labiríntica e inteligente, ter levado o prêmio de efeitos visuais em detrimento a "Star Wars ep.VII: O Despertar da Força" ou até mesmo a "Mad Max" que vinha faturando todos os técnicos até então; a canção original ter ficado com a chatíssima trilha de "007 contra Spectre", a pior da história de James Bond; e, não exatamente surpresa, mas uma ponta de desapontamento que tenho certeza muitos compartilham  comigo, com o fato do carismático Silvester Stallone não ter levado sua estatueta por sua atuação em "Creed" nesta que provavelmente terá sido sua última chance.
No mais, "Amy", confirmou o favoritismo nos documentários; o mestre Ennio Morricone, com a trilha para "Os Oito Odiados", finalmente ganhou seu Oscar por um filme (havia ganho pelo conjunto da obra); e Leo, de grande crescimento artístico nos últimos anos, é verdade, mas favorecido esse ano por todo um contexto de ausência de medalhões como Nicholson, Redford, De Niro, de concorrentes em papeis de deficientes que sempre sensibilizam a academia, ou que revivessem personalidades históricas, finalmente levou sua tão desejada estatueta dourada pra casa. Nunca vi uma campanha tão grande para que um ator levasse esse prêmio mas, enfim... Que seja. Aleluia!
Ah, e antes que eu esqueça, não foi dessa vez que o Brasil trouxe o seu Oscar.

Confira abaixo a lista completa dos ganhadores:

Di Caprio e Iñárritu, os dois grandes
vencedores da noite.

Melhor filme
"Spotlight: Segredos revelados"


Melhor ator
Leonardo DiCaprio ("O regresso")

Melhor atriz
Brie Larson ("O quarto de Jack")

Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")

Melhor canção original
"Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")

Melhor trilha sonora
"Os 8 odiados", de Ennio Morricone

Melhor filme estrangeiro
"O filho de Saul" (Hungria)

Melhor curta de live action
"Stutterer"

Melhor documentário
"Amy"

Melhor documentário de curta-metragem
"A Girl in the River: The Price of forgiveness"

Melhor ator coadjuvante
Mark Rylance ("Ponte dos espiões")

Melhor animação
"Divertida mente"

Melhor curta de animação
"Bear Story"

Melhores efeitos visuais
"Ex Machina"

Melhor mixagem de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor edição de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor montagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor fotografia
"O regresso"

Melhor cabelo e maquiagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor design de produção
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor figurino
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor atriz coadjuvante
Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")

Melhor roteiro adaptado
"A grande aposta"

Melhor roteiro original
"Spotlight - Segredos revelados"





Cly Reis

quarta-feira, 2 de março de 2016

cotidianas #422 - Química



No início não vimos ligações entre crimes de uma série que vinha ocorrendo. Até pela diferença de tempo entre um e outro e pelos locais onde ocorriam, em alguns casos bastante afastados um dos outros. O que chamava atenção e criava uma coincidência entre eles era a natureza bizarra de suas ocorrências, como um inflado com ar até explodir ou outro pendurado na marquise de uma loja "iluminado", por assim dizer, por causa do gás neon que fora injetado em seu sistema sanguíneo. Coisas do tipo para pior. Não vou aqui descrever todos porque além de cansativo, desgastante, inútil, alguns deles poderiam causar grande desconforto e até náuseas no leitor. O que posso dizer é que depois de 47 crimes em lugares diferentes, com espaço de tempo irregular e métodos diferentes, concluímos que inegavelmente trata-se de um assassino em série e dos mais perigosos e imprevisíveis com que já lidamos.
Sim, perdemos 47 vítimas antes de chegar a esta conclusão pois não víamos evidências claras acerca das mortes e relação lógica entre uma e outra. Veja, por exemplo, a primeira ocorrência: um homem chamado (olhe só!) Lavoziê Oliveira da Silva, homem de meia idade, aqui da cidade mesmo, pequeno empresário, casado, dois filhos, trabalhador, gente de paz, sem inimigos nem ligações suspeitas é encontrado em um depósito abandonado com o corpo solidificado como se fosse uma estátua e com algumas partes do corpo quebradas (eu disse quebradas e não mutiladas). Foi esquisito mas em princípio pensamos até mesmo em algum acidente com algum produto industrial e a investigação não foi adiante. A segunda situação ocorreu no interior do estado com um homem chamado Hélio Borges, trabalhador braçal de obra. O cara não foi trabalhar por três dias e seus colegas e empregadores deram por falta. Nos avisaram, deu-se alguma pequena investigação e nada do cara, até que eis que uma semana depois ele é encontrado preso aos fios de uma rede elétrica depois de ter flutuado como se fosse uma espécie de dirigível. Seus órgãos internos haviam sido removidos e em seu interior adaptada uma espécie de lona que fora inflada com um gás. Aquilo, tirando a sofisticação do método, parecia uma vingança sádica o que não tardamos a atribuir às dividas que o rapaz tinha com agiotas. E seguiram-se os crimes: José Berílio de Almeida, Luzia Rodrigues, Telmo Diamante, Luna Bernardes, todos com execuções estranhas ou extravagantes que ultrapassavam nossas expectativas ou compreensão. Um de nossos estagiários, ainda universitário, chamou a atenção para uma pequena coincidência que até então havia nos passado despercebida: Alguns nomes eram de elementos químicos. E eram mesmo. Carlos Ferro, Arsênio Cunha, Mário Prata, Luís Vanádio de Oliveira... Outros não eram exatamente iguais mas guardavam apenas alguma pequena variação como Germano Cavalcantti, Lídio Fonseca, Selena Marquez. Mas e Carlos Shceele, Daniel  Andrade? Especulamos então que alguns pudessem estar relacionados a pesquisadores ou descobridores do elemento. Seria isso? Algo tão complexo?
Embora, se nossa hipótese estivesse correta, fôssemos perder  mais uma vítima, precisaríamos de mais um crime para confirmar nossa teoria e, não sei se felizmente ou infelizmente o crime seguinte veio a confirmar nossas piores desconfianças: Maria Argento, caixa de um mini-mercado havia sido encontrada nua sobre a cama do próprio apartamento totalmente pintada de prata ao melhor estilo James Bond. Prata ou Argento, do latim argentum, símbolo Ag, número atômico 47. Hidrogênio (Lavoziê = Lavoisier), 1; Hélio (Hélio Borges), 2; Lítio (Lídio Fonseca), 3; Berílio (José Berílio de Almeida), 4; Boro (Davy Silva por causa do químico Humprhy Davy), 5; Carbono (Telmo Diamante), 6; e assim por diante... Agora tínhamos total certeza de que estávamos diante de um dos mais difíceis serial-killers que já havíamos encontrado.
Mas por que os elementos químicos? Porque seguir a ordem dos números atômicos? Qual a sua motivação? Seu drama? Era um professor de química frustrado? Havia sido reprovado no vestibular? Trabalhava em um laboratório e havia sido demitido? Sofrera algum acidente em algum experimento? Nossas equipes estão em plena atividade, todos empenhados no caso, investigando tudo, estudando todas as hipóteses, todas as pessoas com nomes que possam de alguma forma interessar ao nosso criminoso. é tudo o que podemos fazer  no momento. Mas enquanto não descobrirmos as respostas para, ao menos, algumas das perguntas que estão no ar, este astuto, metódico e cruel assassino continuará à solta. E o pior é que ainda há 71 elementos na tabela periódica. Isso se o assassino não resolver começar a fazer ligações e compostos. Aí sim, estaremos perdidos.



Cly Reis

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Fúria de Titãs" de Louis Leterrier (2009)






E fui eu, sábado, ver o remake de “Fúria de Titãs”.
Amigos...
Desnecessário.
Nada a acrescentar.
Nem o 3D ajuda. Aliás quase não se justifica. Poucas cenas são válidas o suficiente para que o recurso tivesse sido utilizado num filme como este. Sem contar que o tal 3D acaba meio que se perdendo na movimentação e velocidade intensíssimas das cenas de luta e perseguições, na proximidade da câmera nestas mesmas situações e na escuridão da fotografia. Pra piorar ainda mais, com todo o dinheiro, efeitos especiais, tantas dimensões e tudo mais, a ambientação do Olimpo com os deuses em pé sobre umas nuvenzinhas e a caracterização de Zeus com uma roupitcha brilhante-desfocada são ridiculas. Com toda a limitação de técnica e de recursos da época, os efeitos do clássico são bem mais legais do que os do novo, até mesmo pela importância e inovação no contexto daquele momento.
Agora vamos à história em si: outro desperdício!
O roteiro consegue destruir elementos extremamente interessantes do clássico de 1981 que eram a pureza de Perseu e a predileção dos deuses por ele. O novo Perseu, ao mesmo tempo que é alheio aos interesses dos nobres e deuses no seu conflito, é um jovem orgulhoso e movido pela vingança pela morte dos seus pais adotivos e não pelo amor pela bela Andrômeda como no antigo, o que o tornava naquele caso realmente envolvido com os objetivos da jornada na qual irá se lançar. Em nome de uma dinâmica e adrenalina para o filme, o herói acaba se mostrando bem menos racional e inteligente que seu predecessor oferecendo-nos apenas uma sucessão de correrias, lutas, vôos e saltos. Prova disso é a diferença da cena da Medusa na versão original, na qual Perseu pensa, aguarda o momento certo e finalmente age; sendo que nesse novo desde que entram no covil da Górgona, é só “loucura total”, culminando numa desenfreada perseguição entre as ruínas do mundo subterrâneo que vai, aí sim desfechar-se da mesma maneira que no outro filme mas de um modo muito mais ‘heróico”, com um salto acrobático e tudo mais. E a atual Medusa também não ajuda. Ainda guardando resquícios de sua extinta beleza não é nem sombra da apavorante criatura da primeira versão que, lembro, me impressionou muito na época.
A ajuda dos deuses, desprezada pelo diretor Louis Leterrier (de “O Incrível Hulk”) e conseqüentemente negada pelo seu Peseu, seria elemento importante na tramae, creio, enriquecedor para os novos objetivos de um remake. O herói teria bem mais "brinquedinhos", apetrechos, equipamentos, sendo quase que um James Bond de Argos com um recurso para cada situação difícil. A espada, o cavalo alado Pégasus, o elmo e o escudo que inclusive o salva no confronto com a Medusa, que apareciam como oferendas das entidades do Olimpo ao filho de Zeus; neste novo, Perseu  por "beicinho" e orgulho insiste em não utilizar até que lá pelo final, acaba no aperto, tendo que usar a espada e montar no cavalo, mas muito contrariado. O escudo, antes presente dos deuses, é substituído agora, por um feito da carcaça dos escorpiões gigantes que eles mataram e o elmo da invisibilidade, é esquecido.
Trama mal amarrada, mal explorada, diálogos infantis, motivações pueris e atuações caricatas...
Olha,... bem fraco.
Mas desta vez eu mereci. Eu sabia que não ia ser grande coisa e tentei.
Bem feito.
Quem não assistiu, procure o antigo em DVD. Vale a pena.




Cly Reis

sábado, 31 de dezembro de 2022

"O Trem do Terror", de Roger Spottiswoode (1980)



Uma festa de Ano Novo num trem!

Que boa ideia!

Nem tanto...

Não quando dentro desse trem há um maníaco assassino que vai eliminando convidados.

Por quê?

Bem, não se abe ao certo mas tudo indica que os crimes estejam sendo cometidos por vingança.

Três anos antes um estudante do curso de medicina, o virgem da turma, Kenny Hampston, fora submetido a um trote de muito mau gosto, quando, na expectativa de finalmente transar com uma garota, fora colocado pelos veteranos, na cama com um cadáver. Agora, enquanto Kenny encontra-se num hospital psiquiátrico, traumatizado pela experiência, os outros comemoram o fim do curso e a formatura e para isso, organizam uma festa à fantasia num trem, na virada do ano. Só que alguém aproveita-se do anonimato garantido pelos disfarces e vai eliminando passageiros usando a máscara das vítimas à medida que as mata. Grouxo Marx, Lagarto, Pássaro, Bruxa... Nosso serial-killer, ao contrário de um Jason, Michael Myers, de um Ghostface, não tem uma máscara só, assumindo a "identidade" do último que matou e, desta forma, circulando livremente entre os convidados, como mais um formando, sem levantar suspeitas. Seria o perturbado Kenny Hampston? Mas ele não estava no hospital psiquiátrico? (pelo que se sabe, ele teria matado uma pessoa no manicômio...) E qual seria aparência dele agora? Seria ele o mágico que dava espetáculo no vagão do fundo e que ninguém lembrava de ter contratado? Ou outro formando qualquer? Quase impossível saber entre tantas máscaras e fantasias.

Embora, na maioria das vezes, as mortes não sejam mostradas explicitamente, algumas são bastante chocantes, o terror é intenso e o clima de ameaça é constante e imprevisível. Além disso, a limitação de um veículo em movimento, seus corredores estreitos e o inevitável final dos vagões, garantem um clima claustrofóbico e angustiante.

Já consagrada no gênero, por conta de sua estreia de dois anos antes, "Halloween",  a então jovem Jamie Lee Curtis é a estrela da produção que também conta, curiosamente, com o ilusionista David Copperfield, como não poderia deixar de ser, no papel do mágico, que tem até um certo protagonismo na trama, chegando a ser apontado como um dos possíveis suspeitos pelos crimes na locomotiva.

Dirigido por Roger Spottiswoode, que viria a fazer o bom "O Amanhã Nunca Morre", de James Bond, anos depois, "Trem do Terror" é um clássico dos primórdios do slasher com um serial-killer interessante que ao contrário do que acostumamos a ver, não tem um rosto só. Não é uma máscara branca sem expressão, não é uma máscara de hóquei, nem de bebê, nem feita de pele humana. Pode ser qualquer coisa, qualquer um... E isso o torna mais perigoso e ameaçador. Garantia que ninguém dentro daquele trem tenha uma passagem de ano tranquila.

Grouxo, Lagarto, Velha? O assassino pode ser qualquer um e estar em qualquer lugar
naquele trem do terror.


Assista:

 "O Trem do Terror" (1980) completo legendado



Cly Reis

terça-feira, 21 de maio de 2019

"Fúria de Titãs" de Desmond Davis (1981) vs. "Fúria de Titãs" de Louis Leterrier (2009)





É aquele caso que uma produtora grande vê num filme antigo, cheio de potencial de ação, a oportunidade de pôr uma boa grana e utilizando novos recursos técnicos, inexistentes na época daquela produção, “renová-lo” para os novos padrões de exigência do público e ganhar uma grana maior ainda.
 E é o tipo do caso em que nada dá certo.
Nem consegue superar o antigo com todas suas limitações, nem fatura tanto assim pelo simples fato que a tentativa resulta numa gloriosa porcaria.
A refilmagem de “Fúria de Titãs” revela-se completamente frustrante e mesmo com toda a limitação de técnica e de recursos da época, os efeitos do clássico de 1981 são bem mais legais, até mesmo pela inovação que representavam na cena cinematográfica em sua época.
Efeitos especiais, 3D e o escambau não garantem acréscimo algum à versão de 2009. A direção de arte é risível, a ambientação, os figurinos, tudo... Deuses em pé em cima de umas nuvenzinhas no Olimpo é algo assim de pedir pra morrer; e o look de Zeus com uma roupitcha brilhante-desfocada não é nada menos que ridículo. No original, por mais simplórios que os cenários, figurinos e efeitos fossem, por incrível que pareça, refletiam de uma forma mais verossímil o imaginário do que seria a morada dos deuses supremos do Olimpo.
No tocante à história, à trama, ao desenvolvimento, à trama, além de muito mal amarrado, mal conduzido, o novo peca em se desfazer de elementos extremamente interessantes do clássico de 1981. A pureza de Perseu e a predileção dos deuses por ele são esquecidas em detrimento a uma ira desmedida. O novo Perseu é orgulhoso, é egoísta e impulsivo, ao contrário do antigo, cuja grande motivação era o amor da bela Andrômeda, é movido pela vingança pela morte dos seus pais adotivos. A busca pela amada, no original, o humanizava e o tornava, genuinamente heroico, uma vez que cumpria sua missão independente dos interesses dos deuses.
Numa sucessão de correrias, lutas, saltos e voos, o remake nessa tentativa de adequação da linguagem pra os novos padrões de ação, acaba constituindo um protagonista pouco inteligente e pouco racional, o que fica evidente, por exemplo, na cena da Medusa, uma das mais clássicas da versão original, na qual o antigo Perseu, aguarda o momento certo e finalmente age; sendo que nesse novo, desde que entram no covil da Górgona, é só “loucura total”, culminando numa desenfreada perseguição entre as ruínas do mundo subterrâneo que vai, aí sim desfechar-se da mesma maneira que no outro filme mas de um modo muito mais ‘estrepitoso e exagerada, com um salto acrobático e tudo mais. Isso tudo sem falar que a nova Medusa também não ajuda... Esta, da refilmagem, que ainda conserva resquícios de sua quase extinta beleza, não é nem sombra da apavorante criatura da primeira versão que, lembro bem, me deixou arrepiado na época em que vi o filme pela primeira vez.

Perseu contra Medusa - "Fúria de Titãs" (1981)


Perseu contra Medusa - "Fúria de Titãs" (2009)


A nova versão é tão mal pensada que opta por desprezar as oferendas dos deuses a Perseu, o que, penso, seriam elementos valorizadores na trama e altamente enriquecedores para os novos objetivos de um remake de ação e efeitos visuais. Os apetrechos colocados pelas entidades do Olimpo à disposição do filho de Zeus, fariam dele uma espécie de James Bond de Argos com um brinquedinho para cada situação difícil: a espada, a nova pistola que o Q lhe entregaria; o cavalo alado Pégasus aquele carrão esporte irado; o elmo um capacete multi-função; a coruja, um daqueles relógios altamente tecnológicos que faz de tudo; e o escudo, que por sinal o salva no confronto com a Medusa, uma blindagem com visor interno. Que tal? Pra um filme de ação não podia ser uma pedida melhor, não? Mas, não! Nosso Perseu. por birra, por orgulho, por criancice, insiste em não utilizar na maior parte do tempo a não ser quanto, lá pelo final, a coisa aperta e ele acaba tendo que usar a espada e montar no cavalo. Mas mesmo assim, muito a contragosto.
Um remake burro que desperdiça exatamente o que o original tinha de mais meritório e que certamente colaboraria para o seu sucesso. Some-se a isso a fotografia escura e imprecisa, as motivações tolas dos personagens, os diálogos infantis e previsíveis e as atuações caricatas, temos um produto completamente desprezível.
Tipo do time que tem mais dinheiro, mas contrata errado, amontoa jogadores em algumas posição mas fica faltando em outras e vai jogar contra um time certinho, com suas limitações, com um trabalho bem feito, com uma proposta de jogo, e aí, meu chapa, toma um chocolate, um “arrodião”, uma “saranda”.

O Olimpo do filme de 1981 é bem mais modesto, mais sóbrio,
mas parece traduzir melhor a ideia de morada dos deuses
do que o de 2009 que parece mais a Sala de Justiça dos Super-Amigos.

“Fúria de Titãs”  de 2009 até tem chances mas desperdiça e, com a zaga praticamente petrificada, como se tivesse visto a Medusa, só assiste ao "Fúria de Titãs" de 1981 meter 3x0, mole, mole, ainda no primeiro tempo, com direito a olé. Sendo colocada na roda, Medusa perde a cabeça e, com dez em campo , o filme de 2009 leva o quarto, na segunda etapa, pra sacramentar.
Vitória da Fúria. Não a Fúria Espanhola, Campeã do Mundo de 2010, mas a "Fúria de Titãs", o verdeiro clássico, de 1981.






por Cly Reis

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Janelle Monáe - "The ArchAndroid" (2010)

Um amigo me apresentou e achei bem bacana.
Janelle Monae, cantora americana, em seu primeiro álbum, "The ArchAndroid" faz um pop bem diversificado atacando por várias praias, tendências e estilos sem fazer feio em nenhum. O legal é que é bem variado, eclético, mas não soa pretensioso ou pedante . O disco abre, por exemplo, com uma composição clássica que lembra uma trilha de filme meio épico, meio ficção-científica chamada "Suite II - Overture" confirmando o visual da capa que remete a" Metropolis"; mas o álbum depois vai passar por uma disco-music, "Locked Inside"; por  um jazz acelerado meio rackabilly ("Come Alive"), pela psicodélica "Mushrooms & Roses; ou pela etérea "57821". Às vezes chaga aparecer uma coletânea de vários artistas tal a diversidade, mas o interessante é que de alguma forma a obra não perde a unidade.
Destaque pra mim, além das já mencionadas, para "Cold War", um pouco mais roqueira, para a balada cool "Say You'll Go", bem à Marvin Gaye ou Michael Jackson (negro), e para a que fecha o disco, "BaBopByeYa", algo que seria como uma 'trilha-mutante' para um James Bond.
Para um primeiro álbum é um cartão de visitas e tanto.

Confiram aí o clipe da minha preferida do disco, "Cold War".





C.R.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Nei Lisboa - Show "Duplo H" - Teatro Renascença - Porto Alegre/RS (12/06/2018)




Sou daqueles diletantes que comemoram datas de aniversários dos discos que gosto. Tenho feito isso direito no Clyblog por meio, principalmente, de resenhas da seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, que me dão oportunidade de falar a respeito de obras que admiro e ainda homenageá-las por estarem completando alguma idade fechada. Agora, nas comemorações de 10 anos do blog, tivemos o prazer de ter um desses discos aniversariantes resenhado pelo músico, escritor e jornalista Arthur de Faria: o “Hein?!”, do Nei Lisboa, que completa 30 anos de lançamento em 2018. Pois que, justo no Dia dos Namorados, tive – junto com Leocádia Costa, obviamente –, a felicidade de conferir pela primeira vez um show desse talentoso artista gaúcho especial não somente às três décadas do referido “Hein?!” como, igualmente, aos 20 de outro ótimo trabalho de sua discografia: o ao vivo “Hi-Fi”.

O show, muito bem intitulado “Duplo H”, referência às letras iniciais em comum do título de cada disco, fez lotar o Teatro Renascença em duas sessões naquele dia, sendo a anterior a que assistimos extra, devido à grande procura. Tocando os dois discos inteiros e na sequência, um simpático e sempre sagaz Nei Lisboa hipnotizou o público com o repertório ao mesmo conhecido, mas capaz de emocionar ao ser reouvido – ainda mais considerando a egrégora particular da ocasião.

Com Nei e Paulinho Supekóvia no violão/guitarra e Luis Mauro Filho ao piano/teclados, a apresentação deu a largada, conscientemente, pelas 14 faixas de “Hi-Fi”, cujo formato acústico original mostrou-se ideal para “começar os trabalhos” e por caber mais a este tipo de formação do conjunto. Os standarts, hits e AOR da música pop internacional, muito bem pescados por Nei para o set-list de “Hi-Fi”, são imbatíveis, visto que muito afins com o estilo e gosto pessoal dele. Tocando e, principalmente, cantando muito bem, Nei e a banda executaram as versões já tão queridas quanto suas originais, oscilando entre o folk, o blues, o country rock e as baladas no estilo da “Mellow Mafia” dos californianos anos 60/70. Casos de “Everbody's Talking”, do norte-americano Fred Neil; a linda “Summer Breeze”, da dupla setentista Seals & Croft; a beatle “Norwegian Wood”; “Fifity Ways to Leave you Lover”, do craque Paul Simon; e a sensibilíssima releitura de “Still... You Turn Me On”, da Emerson, Lake & Palmer.

Nei, ao centro, com sua enxuta e competente banda
Isso sem falar na emocionante “Cool Water”, de Bob Nolan e imortalizada na voz de Joni Mitchell, no reggae estilizado para “I Shot the Sherif”, de Bob Marley, no bluesão “Walking Away Blues”, de Ry Cooder, e em “Ruby Tuesday”, dos Rolling Stones, que, segundo Nei, embora não tenha entrado no show acústico em 1998, foi gravada em estúdio obedecendo a mesma ideia de arranjo, pois, “se tinha Beatles, não poderia faltar uma dos Stones”.

Completado “Hi-Fi”, agora era partir para as desafiadoras 11 faixas de “Hein?!”. Desafio duplo: primeiro, porque a formação do grupo não contava com bateria, fator essencial para a sonoridade do disco de 1988. “Como Nei vai resolver o arranjo?”, perguntava-me enquanto curtia o primeiro “H” da noite. O segundo desafio era mais íntimo ao próprio autor, uma vez que o disco foi composto sob a aura de uma tragédia na vida de Nei: a perda da então namorada, Leila Espellet, com quem se acidentou de carro na estrada, matando-a. “Como está o coração dele hoje, passadas três décadas, depois daquele acontecimento fatal? O que guarda no peito ainda: culpa, remorso, saudade, serenidade?”, passava-me à mente.

Parte da resposta veio na conversa com a plateia antes de começarem os números. De forma muito aberta e bonita, Nei pediu uma salva de palmas à memória da ex-companheira e executou na íntegra aquela que é apenas uma vinheta de abertura no álbum, “Zen”, escrita para o filho de Leila, à época com apenas 6 anos de vida. A música, a qual não conhecia por completo, apenas os poucos versos que foram parar na edição final de “Hein?!”, são um tocante recado de conforto de um padrasto talvez tão perdido e triste quanto àquele então pequeno órfão. “A vó da gente é mãe/ Da mãe da filha/ A filha da tia/ O pai do filho/ O espírito são/ Gente do bem, do mal/ Gente gorda, gente fina/ Quando vai pro céu/ O céu se ilumina”, diz a letra. Noutra parte (que também não consta no disco), Nei mostra o quanto aquelas palavras são tanto para ele quanto para o garoto: “Não tem desculpa, não tem culpa/ A culpa é sempre minha/ A culpa é da vizinha/ É uma chatice infernal.”

Um show carregado de canções fortes e emocionais já começou assim! O coração seguiu batendo forte com “No Fundo” e a brilhante faixa-título, uma das melhores do cancioneiro do gaúcho de Caxias do Sul. Nela foi possível conferir o acerto na escolha do arranjo, visto que se trata de uma música-chave do disco e que, se não funcionasse sem a bateria (possante nas baquetas de Renato Mujeiko no disco de 1988), correria sério risco de perder intensidade e, por consequência, identidade. Não foi o que aconteceu. Harmonizando com o arranjo dado à primeira parte do show, o formato violão/guitarra/teclado se encaixou muito bem também na segunda metade da apresentação. A mesma sensação ficou em outras duas igualmente adoradas por mim e pela plateia: a sentida “Nem Por Força” (“Nem por força do diabo/ Eu volto a vegetar/ Nessas malditas esquinas/ Na pressa de te encontrar”) e “A Fábula (Dos 3 Poréns”), debochada mas igualmente ferida pela perda que a motivou ser escrita: “Quebrei uns vinte, trinta espelhos/ De perguntar/ Se tinha alguém mais bela que ela/ Noutro lugar/ Comi todas maçãs da feira/ Pra adormecer/ E em vez do príncipe encantado/ Veio um baixinho assim”.

“Faxineira”, um blues elétrico, ganhou uma sonoridade de piano-bar muito adequada, além de uma leve modernização na letra que, segundo Nei, são para a “faxineira empoderada” dos tempos atuais. Outras que sofreram adaptação para o arranjo foram a country-rock “Fim do Dia”, menos acelerada, e o sucesso “Telhados de Paris”, que, embora parecesse a mais fácil de se adaptar – haja vista que é originalmente só no violão e voz –, ganhou o acertado acompanhamento do piano de Mauro Filho e teve a linha vocal levemente modificada. Nada que comprometesse um dos hinos da Porto Alegre moderna.

Mas os questionamentos que levantei intimamente no início do show sobre o envolvimento emocional de Nei Lisboa com o marcante motivo de “Hein?!”, mesmo que não tenham sido respondidos totalmente, deram-me a entender que permanecem de alguma maneira ainda latente nele, homem amadurecido e vivido em relação àquela época da composição do disco, anos 80. O que talvez tenha me passado a impressão de que as baladas não eram de uma época, assim, tão remota foi a supressão dos últimos versos de uma das preferidas da galera: “Baladas”. Emotiva, a canção fala sobre a referida perda de Leila e a briga interna para manter-se íntegro e desvencilhado do passado. Porém, os versos de “Baladas” escritos depois do acidente, como relatou Arthur de Faria, desta vez não foram cantados: "Só, muito além do jardim/ Viajo atrás de sombras/ Não sei a quem chamar/ Mas sei que ela diria ao acordar/ ‘Tudo bem/ Você me arrasou, meu bem/ E qualquer dia desses eu como as tuas bolas/ Mas agora esqueça o drama na sacola/ Não puxe o cobertor/ Não tape o sol que resta nessa dor’/ Foi bom: não durou”.

Se Nei optou por não cantá-los por não enxergar-lhes mais sentido ou por qualquer outro motivo, os da talvez ainda mais carregada “Teletransporte nº 4” foram ditos na íntegra. Faixa que finaliza o disco num clima de balada triste, foi tocada exatamente como é originalmente: violão, guitarra, piano e muita dor. E que versos fortes! “Porém o céu parece estúdio/ Nem o silêncio não diz nada/ Mesmo essas frases vão pro lixo/ São como lenços de papel/ Ainda por cima aquelas pernas/ Algumas coisas serão eternas/ Que bela ideia acreditar/ Que o mundo te aprendeu.” Para arrebatar os corações apaixonados em pleno 12 de junho.

Depois de 25 sessões em que a carga emocional só foi aumentando, partindo das músicas de “Hi-Fi” para as de “Hein?!”, Nei Lisboa encerra com uma que não entrou no repertório do primeiro por acaso: “Live and Let Die”, de Paul McCartney, numa competentíssima versão que dispensou até a orquestra que embala as aventuras de James Bond. Show perfeito do início ao fim deste que é um dos ícones da cultura de Porto Alegre. Se já tinha assistido ao vivo Tangos & Tragédias, Replicantes, De Falla, Renato Borghetti e Orquestra da Ospa na Praça da Matriz, faltava-me um show de Nei Lisboa para completar a lista dos patrimônios culturais da minha cidade. Uma estreia de luxo.

SET-LIST:

"Hi-Fi":
1 Everbody's talking   
(Fred Neil)
2 Bennie & The Jets  
(Bernie Taupin, Elton John)
3 Summer breeze  
(Dash Crofts, Jim Seals)
4 Norwegian wood  
(John Lennon, Paul McCartney)
5 Sometimes it snows in April  
(Lisa Coleman, Rogers Nelson, Prince, Wendy Melvoin)
6 Fifty ways to leave your lover   
(Paul Simon)
7 I'm having a gay time  
(Alberta Hunter)
8 That's why God made the movies  
(Paul Simon)
9 Walking away blues  
(Ry Cooder, Sonny Terry)
10 Still... you turn me on  
(Lake)
11 Cool water  
(Nolan)
12 Ventura highway  
(Deney Bunnel)
13 I shot the sheriff   
(Bob Marley)
14 Ruby Tuesday  
(Mick Jagger, Keith Richards)


"Hein?!"
15 Zen [Vinheta] 
16 No fundo 
17 Hein!? 
18 Nem por força 
(Ricardo Cordeiro, Nei Lisboa)
19 A fábula [Dos três poréns] 
20 Faxineira 
21 Baladas 
22 Rima rica / Frase feita 
23 Fim do dia 
24 Telhados de Paris 
25 Teletransporte n 4 
(Glauco Sagebin, Nei Lisboa)
Todas composições de Nei Lisboa, exceto indicadas

Bis:
26. Live and Let Die
(Paul McCartney) 



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa