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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Françoise Hardy - "Tant De Belles Choses” (2004)

 

"Henri Salvador, que tinha uma gravadora, viu minha apresentação na televisão e telefonou com a intenção de assinar um contrato comigo. A reunião nunca aconteceu, porque eu já estava sob contrato, mas eu sinto tontura toda vez que penso no meu desenvolvimento profissional e o curso que isso tomaria se um artista tão excepcional quanto Henri tivesse me colocado sob sua asa."
Françoise Hardy, em sua autobiografia "The Despair of Monkeys and Other Trifles: A Memoir by Françoise Hardy", de 2018

Ela havia completado 80 anos recentemente, o que foi motivo de celebração para os fãs desta artista cult que somente um país como a França podo gerar. Ela é Françoise Hardy, cantora, compositora, atriz e modelo, que além de linda e talentosa, reúne características daquilo que há de melhor na cultura de sua cidade-natal, Paris: o bom gosto, a delicadeza e a elegância. Mas um câncer a levou em junho deste ano, pouco mais de um mês antes da abertura das Olimpíadas iniciarem na própria Cidade-Luz. Quem sabe ela também não estaria na cerimônia de abertura às margens do Sena tocando?

Surgida como uma das principais figuras do movimento yé-yé nos anos 1960, ela conquistou a Europa com sua voz suave e estilo distinto. Instrumentista desde a adolescência, ela fez faculdade de Ciências Políticas e de Letras na Sorbonne, mas não conclui nenhum dos cursos, pois já havia descoberto sua vocação. Depois de passar em uma seleção de novos talentos da gravadora Vogue, em 1961, passa a cantar na TV francesa e logo foi catapultada ao sucesso com a canção "Tous les Garçons et les Filles", que vendeu milhões de cópias. Hardy não conquistou só o público francês, mas também ganhou notoriedade internacional, gravando versões de suas músicas em italiano, alemão e inglês.

Bela, foi também musa na moda e no cinema. Com o fotógrafo Jean-Marie Périer, com quem se relacionou até 1967, Françoise entrou no mundo da moda atuando como modelo e tornou-se um ícone fashion. Em colaboração com designers renomados como Yves Saint-Laurent e Paco Rabanne, ela influenciou a moda dos anos 1960 com seu estilo característico de minissaias e botas brancas. No cinema, foi dirigida por Jean-Luc Godard, Roger Vadim, Clive Donner e John Frankenheimer, quando contracenou com Peter Sellers e Peter O'Toole no clássico "Grand Prix", de 1966. Françoise era desejada por homens e mulheres, de David Bowie a Mick Jagger, de Brian Jones a John Lennon.

Na música, no entanto, foi onde mais se desenvolveu. Evoluiu do rock inocente e passou a gravar coisas como o folk “Suzanne”, de Leonard Cohen, e, em passagem pelo Brasil, voltou para a França na mala com uma versão francófona de “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, intitulada “La Mésange”. As fronteiras sonoras de Françoise começavam a se expandir. Entre 1962 e 1973, ela lançou um álbum por ano, consolidando seu status como uma das principais artistas da época. Alguns de seus maiores sucessos incluem "Le Temps de l'Amour" e "Mon Amie la Rose". Ela trabalhou com compositores renomados como Serge Gainsbourg, que escreveu para ela o hit "Comment te Dire Adieu", e Michel Berger, que compôs duas canções para o álbum "Message Personnel" (1973). Com tudo sua voz ligeiramente rouca e afinada e muito bom gosto sonoro, tornou-se uma excelente melodista e letrista admirada por ícones como Henri Salvador, que até quis contratá-la no início da carreira.

Embora a extensa discografia, que adentrou os anos 70, 80 e 90, foi na maturidade que Françoise chegou a seu auge em termos de musicalidade. Ela já havia surpreendido crítica e público com o triunfante retorno aos estúdios depois de 4 anos de pausa com “Clair-Obscur”, de 2000, quando, além de suas excelentes interpretações, composições e versões, canta com gente como Iggy Pop, Olivier Ngog e o ex-marido e eterno parceiro musical Jacques Dutronc. Porém, precisariam mais quatro anos para que viesse, aí sim, com o irretocável “Tant De Belles Choses”, 24º de sua longa trajetória e que completa 20 de lançamento em 2024.

Françoise: ícone também
da moda e do cinema nos
anos 60 e 70
À época com 60 anos, parece que a idade dava a Françoise aquilo que poeticamente Caetano Veloso sentenciou sobre a velhice: “Já tem coragem de saber que é imortal”. A faixa-título e de abertura e encerramento, evidencia esse amadurecimento diante do mundo, diante das coisas, que se tornam graciosamente belas a seu olhar. Na sequência, a sempre presente influência da música brasileira na sonoridade dos franceses está na francesíssima bossa-nova “À L'ombre De La Lune”. Clima parecido tem “Jardinier Bénévole”, mais cadenciada e enigmática, contudo, principalmente pelas programações de ritmo, pelos teclados reverberantes e pelo contracanto de Alain Lubrano.

Balada triste e romântica, “Moments” é uma das duas cantadas em um inglês do álbum juntamente com o pop quase tribal “So Many Things” – ambas não coincidentemente muito parecidas com o som da Everything But the Girl, uma vez que a inglesa Tracey Torn certamente tem em Françoise uma grande inspiração no modo de cantar e compor. Já “Souir de Gala” é um dos belos exemplos da canção pop hardyana, com versos muito melodiosos e visivelmente composta ao violão, embora o piano faça a marcação enquanto a guitarra solta frases pontuais. A voz dela, aliás, sempre suave, bem colocada, sensual. Sem percussão, apenas sob teclados e efeitos, “Sur Quel Volcan?” é outra que merece muita atenção. Interrogativa e não menos reflexiva, a letra diz: “Eu peço emprestado passagens, becos/ Eu pego mensagens, segredos/ Neste espaço de filigrana/ Eu veria um pedaço da sua alma?/ Em qual vulcão/ Vamos dançar/ Você e eu/ A que custo?/ Quem vai queimar lá/ Você ou eu?”.

O jazz com traços franceses, que mestres como Henri Salvador e Francis Lai legaram à música ocidental, vem na gostosa “Grand Hôtel”. A linha jazzística permanece em “La Folie Ordinaire”, que antecipa a potente – e fantasticamente melódica – “Un Air de Guitare”, em que Françoise canta com urgência os versos, os quais fraciona em três instantes bem marcados. O violão, constante e premente, ganha a parceria da dona da música, a “guitare”, tocada pelo filho Thomas Dutronc. Que baita música! Já na tensa “Tard Dans La Nuit…” – que lembra os temas densos de Nico –, Françoise fala das dores e angústias que a noite esconde. “Ela não é quem deve ser culpada/ Tantos sonhos se dissipam/ É melhor se esconder nas sombras/ As ruas não são seguras/ Atrás das portas blindadas/ Cães latem impiedosamente/ Ninguém pôde dizer/ De onde vieram os golpes/ Tarde da noite”.

Finalizando, mais uma preciosidade: “Côté Jardin, Côté Cour”. Lindo refrão: melodioso, elegante, suave e intenso ao mesmo tempo. A faixa se liga diretamente com a segunda versão de “Tant De Belles Choses”, que ressurge para terminar o disco de maneira imponente. E embora Françoise tenha lançado ainda outros quatro bons trabalhos até o fim da vida, este parece melhor representar a si e ao país ao qual trazia o radical no nome. Com 20 anos de antecedência à própria despedida, ela versa, concordando com aquilo que Caetano disse, a seguinte frase: “O amor é mais forte que a morte”. Nada além da mais pura verdade quando se fala de uma artista imortal como Françoise Hardy.

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FAIXAS:
1. "Tant De Belles Choses" (Pascale Daniel/ Alain Lubrano) - 4:02
2. "À L'ombre De La Lune" (Benjamin Biolay) - 3:38
3. "Jardinier Bénévole" (Lubrano) - 4:02
4. "Moments" (Perry Blake/ Marco Sabiu) - 3:31
5. "Soir De Gala" (Thierry Stremler) - 2:46
6. "Sur Quel Volcan?" (Daniel) - 3:08
7. "So Many Things" (Blake/ Sabiu) - 3:29
8. "Grand Hôtel" (Stremler) - 3:13
9. "La Folie Ordinaire" (Ben Christophers) - 2:32
10. "Un Air De Guitare" (Françoise Hardy)  - 3:58
11. "Tard Dans La Nuit…" (Daniel/ Lubrano) - 3:27
12a. "Côté Jardin, Côté Cour" (Lubrano) - 4:10
12b "Tant De Belles Choses (Version)" (Daniel/ Lubrano) - 3:58

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Daniel Rodrigues

segunda-feira, 21 de março de 2022

Suzanne Vega - “99.9 F°” (1992)

 

“'Foi muito emocionante trabalhar com ele, porque a música era sua paixão e ele sabia muito sobre isso.”
Suzanne Vega sobre Mitchell Froom, em entrevista de 2017

"Você me parece/
Como um homem/
A ponto de queimar/
99,9 graus Fahrenheit"
Da letra da faixa-título

Dizem que as paixões são febris. Intensas, podem durar pouco como o fulgurante instante de um gozo, mas nem por isso - na verdade, inclusive por isso – deixam de ficar marcadas para sempre na pele de quem sente. E quando se juntam paixão carnal e espiritual, então! Aí o ser humano atinge o raro momento de completude. Suzanne Vega pode dizer que viveu um momento assim há exatos 30 anos. Cantora e compositora de mão cheia e poetisa afiada, esta nova-iorquina filha de um escritor e de uma professora traz na voz doce e afinada a pronúncia cristalina de um inglês o qual se vale com sensibilidade e inteligência literária, buscando referências tanto nas feministas quanto na geração beat. De ouvido raro, adiciona ainda à sua musicalidade a música brasileira, latina, celta e do Oriente. Foi com essa personalidade única que Suzanne surgiu com seu folk pop para o showbizz no elogiado disco de estreia, em 1985. 

No entanto, já no segundo trabalho, “Solitude Standing”, de dois anos depois, aconteceu-lhe o que todo artista pop almeja: fama. O hit “Luka”, 3º lugar na Billboard Hot 100 e indicado a Grammy em três categorias, estourou e tornou-a mundialmente conhecida. Porém, perigosamente estigmatizada. Suzanne Vega havia virado sinônimo de “Luka”. O que poderia ser bom para muito artista descompromissado com sua obra, para alguém como ela, que sabia ter muito ainda a dizer, definitivamente não era. Parafraseando a letra da própria música, Suzanne precisava sair daquele mesmo segundo andar em que Luka morava e mudar-se para outro lugar longe dali. 

Depois de “Solitude...”, veio ainda o belo “Days of Open Hand”, de 1990, nova parceria com o produtor e arranjador Anton Sanko, com quem havia obtido o seu até hoje maior êxito comercial. Mas Suzanne sentia que precisava de algo mais, algo que a movesse, que a desacomodasse. Que fizesse pulsar seu coração de forma diferente. Uma paixão. Foi então que o destino lhe pôs na frente o músico e produtor Mitchell Froom, que havia trabalhado com Elvis Costello e Los Lobos. Suzanne e Froom identificaram-se, apaixonaram-se e passam a viver sob o mesmo teto, tanto do estúdio quanto de casa. Num intervalo de 6 anos, casaram-se, tiveram uma filha, Ruby, e produziram dois discos, os melhores da carreira de Suzanne: “Nine Objects of Desire”, de 1996, e o primeiro em colaboração: o não coincidentemente intitulado “99.9 F°”: a temperatura do corpo, correspondente a 37,72°C, a partir da qual pode-se considerar que alguém está com febre.

O disco, de fato, respira essa ruptura artística e pessoal de Suzanne, que urgia mostrar isso. O recado é dado já no primeiro verso de “Rock in this Pocket”, a impressionante faixa de abertura em que ela diz elegantemente, como lhe é característico, mas de maneira abertamente confessional: "Desculpe/ Se eu puder/ Volte sua atenção/ A meu caminho/ Um momento/ Eu não vou implorar/ Não é muito/ É o que eu preciso". E que refrão! (“And what's so small to you/ Is so large to me/ If it's the last thing I do/ I'll make you see” - “E o que é tão pequeno para você/ É tão grande para mim/ Se é a última coisa que eu faço/ Eu vou fazer você ver”). A ideia do álbum está já toda ali, em brasa: sonoridade moderna, discurso intimista, texturas, poesia e a evolução conceitual de uma artista parindo a si própria para uma nova vida.

Em “99.9F°”, mantém-se a seresteira da tradição voz e violão e a criadora de "chicletes de ouvido" melodiosos, mas adiciona a isso a visão de uma mulher madura, sensualizada e de veias pulsantes. É esta a ideia da brilhante “Blood Makes Noise”, em que uma programação eletrônica engendra um ritmo que supõe o som de um fluxo sanguíneo, como se fosse possível captar - e transformar em música - a sensação de um corpo afogueado de tesão, de urgência. A sonoridade dá forma a esta nova proposta na injeção pertinente de sons sintetizados, vestindo a música naturalmente criativa dela com uma roupagem moderna. Longe da singeleza melancólica de “Luka”, dá pra ouvir até os respiros de Suzanne enquanto canta este rap estilizado e potente: “Mas o sangue faz barulho/ É um zumbido no meu ouvido/ O sangue faz barulho/ E eu não posso ouvi-lo/ No espessamento do medo”.

O excelente clipe de "Blood Makes Noise"
dirigido pelo alemão Nico Beyer

A faixa-título, por sua vez, leva ainda mais às entranhas a dicotomia carne/espírito. Se “Blood...” emula através de sons mecânicos a ideia de um organismo vivo, “99.9° F” reconduz a artista a origens selvagens, instintivas. Numa espécie de tribal pop, Suzanne dança nua em plena floresta para atrair o seu amor: “Algo legal/ Contra a pele/ É o que você/ Pode estar precisando”. Prenúncio de sexo quente.

Já na lírica “In Liverpool”, outra joia do disco, vê-se a cantora e compositora de temas melodiosos como “Night Vision”, de “Solitude...”, e “Thin Man”, do posterior “Nine...”, certeira em sua delicadeza. Tão lírica que foi a música escolhida por Suzanne para dividir os vocais com o tenor italiano Luciano Pavarotti em “Pavarotti & Friends”, daquele mesmo 1992. Aliás, lirismo este o qual a norte-americana nunca abandonou. Com “Blood Sings”, que vem na sequência, ela reitera a temática "blood on the tracks" do disco – já a essas alturas o mais ousado de sua carreira. Porém, fez resgatando a singer woman dos primórdios. Somente voz e violão de aço tocado com dedos chorosos e uma melodia primorosa, a la Bob Dylan e Leonard Cohen, dois de seus ídolos, igual os que ela inundou seu primeiro disco, em 1985. “Quando o sangue vê sangue/ De si próprio/ Ele canta para se ver novamente/ Ele canta para ouvir a voz que é conhecida/ Ele canta para reconhecer o rosto”. Triste e profundamente bela. 

A ótima banda, que conta com o próprio Froom aos teclados e arranjos, mais Bruce Thomas, ao baixo, Jerry Marotta, bateria e percussão, e David Hidalgo, Tchad Blake e Richard Pleasance, nas guitarras – além de Suzanne no violão base –, dá uma reviravolta no climão deixado pela faixa anterior e engata a simpática “Fat Man And Dancing Girl”. Algo como um eletro-jazz em que se ouve com destaque o baixo, aqui tocado por Jerry Scheff, sob a arquitetura sonora estilosa dada por Froom na mesa de estúdio. Mesma coisa ele faz em “(If You Were) In My Movie”, de ares arábicos como Suzanne já havia feito em “Room of the Street”, de “Days...”, mas agora mais texturizado, encorpado. Por feitos como este, ele recebeu indicação ao Grammy de produtor do ano em 1993 por este disco.

Sequência de fotos da arte do encarte:
Suzanne descobre-se feminina e plena

Já em “As a Child”, Froom põe sua musa a brincar num carrossel de parque de diversões, literalmente, como uma criança, enquanto que “Bad Wisdom”, logo em seguida, quebra de novo o estado de euforia. Introspectiva, tem a cara dos tradicionais temas do folclore norte-americano, especialidade de Suzanne, a se ver pela cara country que ela sabe muito bem imprimir como já o fizera em “Predictions”, de “Days...”, e “Cracking”, do álbum de estreia. E como Suzanne está cantando bem! Impossível não lembrar uma de suas principais referências no canto, a bossa-novista brasileira Astrud Gilberto

Num disco tão peculiar como este, até o “perfect pop” não é, assim, tão “perfeito”. Diferentemente do que fez em exemplos clássicos disso, como “Book of Dreams” e a própria “Luka”, em “When Heroes Go Down” ela não respeita o tempo de duração comum a uma música de trabalho (entre 3min30 e 4min), e condensa a ideia em menos de 2 min! Mas o faz aproveitando cada segundo, visto que é daquelas de sair dançando imediatamente. Com cara de que se está se encaminhando para o final, “As Girls Go”, com um excelente solo de guitarra de Richard Thompson ao final, tem, regendo toda a banda, o violão. O velho violão desde sempre tocado com muita habilidade por Suzanne, outra de suas marcas. 

Pinho, aliás, que encerra triunfalmente um álbum surpreendente até nisso. Se começou e se manteve repleto de efeitos e experimentações, agora baixa a rotação e aposta na simplicidade do acústico. “Songs of Sand”, deprê, mas absolutamente poética em letra e melodia, faz Suzanne remeter ao violão perfeito e a colocação exata das frases vocais de Nick Drake. As cordas, arranjadas por Froom, adensam ainda mais essa atmosfera. É o violão também que volta puro novamente na valseada “Private Goes Public” (faixa adicional da edição europeia), em que se ouvem apenas as cordas para finalizar o repertório: as do seu vocal e as do instrumento.

Mesmo com esse encerramento, “99.9F°” é, nos seus contornos e contrastes, um instante de êxtase. Naquele começo de anos 90, Suzanne sabia que nunca mais faria o sucesso que fez com “Luka”, e pelo visto nem desejava isso. Queria, a partir de então, satisfazer-se, estar plena como mulher e artista, e em Mitchell Froom ela encontrou abrigo para tal aspiração existencial. Mas como o fogo dos arrebatados, a chama foi arrefecendo. Como uma fogueira acesa, ainda teve força para iluminar o sensual “Nine...”, registro daquele momento da relação em que ainda desconfiavam se o ardor poderia transformar-se em amor eterno. Não aconteceu: Suzanne e Froom separaram-se e nunca mais voltaram a trabalhar juntos. A temperatura, antes febril, foi baixando cada vez mais no ponteiro do termômetro até voltar a um grau de normalidade corporal. A paixão, tal uma enfermidade deleitosa, enfim, passou. Suzanne, hoje casada há 16 anos com outro homem, talvez veja um disco como 99.9F°”, gravado há três décadas, como algo valioso mas pertencente a um passado muito distante. Da MPB que ela tanto adora, talvez se enxergue naqueles sábios versos de Chico Buarque“vestígios de estranha civilização”.  Já Froom, por sua vez, quem sabe ainda pense consigo mesmo ouvindo a mesma música: “Futuros amantes, quiçá/ Se amarão sem saber/ Com o amor que eu um dia/ Deixei pra você”.

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FAIXAS:
1. “Rock In This Pocket (Song Of David)” - 3:31
2. “Blood Makes Noise” - 2:28
3. “In Liverpool” - 4:41
4. “99.9F°” - 3:15
5. “Blood Sings” - 3:18
6. “Fat Man And Dancing Girl” - 2:18 (Mitchell Froom/ Suzanne Vega)
7. “(If You Were) In My Movie” - 3:06
8. “As A Child” - 2:56
8. “Bad Wisdom” - 3:22
9. “When Heroes Go Down” - 1:54
10. “As Girls Go” - 3:26 (Nils Petter Molvær/ Vega)
11. “Private Goes Public” - 1:57
Todas as composições de autoria de Suzanne Vega, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Parede sonora

Dias antes do dia 17, sem saber estar premeditando, rodei no meu programa "Then He Kissed Me", com a The Crystals, autoria de Phil Spector. A música havia estado na minha cabeça durante a semana anterior, e ao reescutar o programa mais uma vez me embasbacava: que coisa magnífica! Em composição, arranjo, timbre, sonoridade. E outra clássica, "Be my Baby", dele com as Ronettes, que Scorsese usou mais de uma vez em seus filmes, como na cena de abertura de "Caminhos Perigosos"?! Música pop na mais precisa - e bem acabada - acepção. O monofásico "wall of sound", que Beach Boys, Beatles, Love, The Zombies, Bruce Springsteen e produtores como Brian Eno Tony Visconti, e Stephen Street souberam se valer tão bem, é revolucionário ainda hoje, era digital, por sua concepção integral de uma obra musical mesmo mais de 60 anos depois de ser inventado. No estúdio mas, principalmente, na mente genial e louca de Phil Spector.

Spector produzindo Lennon
nos anos 70
Se para Spector a genialidade andava junto com a loucura, uma alimentando-se da outra, não raro a segunda vencia a queda de braço. Andar armado no estúdio, a ponto de manter em cárcere privado dentro do estúdio os rapazes dos Ramones ou apontar um revólver para a cabeça de outro produzido, Leonard Cohen (e ao mesmo tempo lhe fazer declarações de amor), era prenúncio de que algo pior uma hora podia acontecer. Como de fato, aconteceu. O assassinato a tiros de sua esposa Lana Clarkson, em 2003, colocou o excêntrico e talentoso, mas também perigoso e intratável Spector, atrás das grades para sempre. De artista a criminoso. Condenação a 19 anos de prisão, que dificilmente seriam completos por alguém já aos 62 anos quando da sentença, como de fato aconteceu no último dia 17 de janeiro, com Phil já a seus 81 de vida.

A obra de Phil Spector é daquelas coisas inesgastáveis assim como as polêmicas em torno de sua conduta não raro paranoica e violenta. desde suas autorias junto aos conjuntos que ajudou a montar e empresariar - e a explorá-los também, no pior sentido do termo - até as produções de discos dos Beatles, de Lennon, dos Ramones, de Harrison. Já o resenhei aqui para o blog com seu essencial "Phil Spector Christmas Album", e certamente falar dele e de sua obra merece muito mais. Inesgastável.

Como disse meu amigo e jornalista Paulo Moreira, com Phil Spector morre uma era do rock 'n' roll. Como algo que se rompe. Como uma grande parede sonora, que rui para sempre na música pop.


PHIL SPECTOR
(1939-2021)


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Cena de abertura de "Caminhos Perigosos"
de Martin Scorsese, com "Be my Baby",  
da The Ronettes, autoria de Phil Spector

Daniel Rodrigues

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Música da Cabeça - Programa #158


Pra homenagear Moraes Moreira, vamos fazer o Brasil subir a ladeira no Música da Cabeça de hoje!. Além de falar do eterno Novo Baiano, também teremos Marku Ribas, Cássia Eller, Henri Mancini, U2, Leonard Cohen, Chico Buarque e mais.Também, o oitentão Herbie Hancock no nosso quadro móvel "Sete-List". Lá vem o MDC subindo a ladeira da Rádio Elétrica! É às 21h com produção e apresentação de Daniel Rodrigues (E não escutem os neogenocidas: #ficaemcasa)


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Música da Cabeça - Programa #116


As variadas cores do São João e do LGBT+ estão representadas no ecletismo do programa desta semana. Olha só quantos tons diferentes: Baco Exu do Blues, David Bowie, Carmen Miranda, Tom Waits, Led Zeppelin, Moacir Santos, Leonard Cohen e mais. E o mais legal: cores diferentes mas totalmente harmônicas! Vem pra Festa Junina do Música da Cabeça, que tenho certeza que vão fazer questão de ficar presos na nossa cadeia. A fogueira tem hora pra acender: às 21h, no Arraial da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e quadrilha: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os 10 melhores filmes de Robert Altman


O cinéfilo e meu querido colega José Fernando Cardoso veio novamente me provocar com sua lista de 5 filmes preferidos do gigantesco diretor americano Robert Altman, um titã da cinematografia mundial e, concordando com o Zé, o único a rivalizar com o Scorsese em termos de qualidade e quantidade nos últimos 50 anos. Vou incrementar a lista dele e colocar 10 filmes do Altman (de quem recentemente lembrou-se da data de morte, 20 de novembro, em 2006), que fizeram a minha cabeça na adolescência naquelas sessões do cinema Bristol, em Porto Alegre, onde iniciei minha educação cinematográfica, “in the nineteen-seventies”, como diria o Neil Young

Por favor, os filmes não estão em ordem de preferência, senão teria de botar os 10 filmes no primeiro lugar, de tanto que eu gosto deles.


1 - NASHVILLE (1976)

No ano do bicentenário americano, Altman destrói o sentimento patriótico do universo da country music, jogando na tela uns 20 personagens, todos colidindo uns com os outros e fazendo um painel do que era a América naquele período pós-Nixon e Watergate. Impossível destacar alguém do elenco, mas Keith Carradine fez muito sucesso com sua música "I'm Easy".

Keith Carradine cantando "I'm Easy"


2 - CERIMÔNIA DE CASAMENTO (“A Wedding”, 1978)

O que fez com a música country em "Nashville", Altman faz aqui com uma das instituições mais cultuadas no mundo ocidental: o casamento. A demolição acontece a cada fotograma, especialmente com a irmã da noiva, interpretada pela Mia Farrow, marcando território com o noivo numa rapidinha atrás da cortina. O entra-e-sai de figuras patéticas só ajuda a demolir a aura de felicidade de um casamento.


3 - ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS (“McCabe and Mrs. Miller”, 1971) 

Um faroeste existencial no meio da neve com fotografia belíssima de Vilmos Zsigmond e música de Leonard Cohen. Julie Christie esplendorosa e Warren Beatty brigando com Altman o tempo inteiro mais aquela turma do Altman que sempre estava de coadjuvante: René Aberjounois, Michael Murphy, Bert Remsey e Shelley Duvall.


4 - VOAR É COM OS PÁSSAROS (“Brewster McCloud”, 1970)

A história de um guri recluso que sonha em voar e constrói um par de asas artificiais com a ajuda de sua madrinha. Bud Cort, saindo do sucesso de "Ensina-me a Viver" encarnando o "menino maluquinho” e a deliciosa Sally Kellerman fazendo o papel da dinda. Um detalhe interessante: enquanto as aventuras de Brewster McCloud são mostradas, há uma aula de ornitologia ministrada pelo professor René Auberjonois, que vai se transformando em pássaro à medida em que o filme avança. No final, o veterano ator William Windom apresenta o elenco num picadeiro. Maluquice total, porém muita divertida!



5 - M.A.S.H. (1970) 

No auge da Guerra do Vietnam, Robert Altman usa a sátira sexual para demolir o exército e suas idiossincrasias durante o conflito na Coreia. A dupla Elliot Gould e Donald Sutherland fez tanto sucesso que acabou fazendo uma série de outros filmes. A cena mais emblemática é a da gostosa porém maluca Lábios Quentes (Sally Kellerman) tomando banho e a catrefa toda abrindo a cortina e dando nota para seus "atributos", por assim dizer. O primeiro grande momento da carreira do diretor. Virou série de sucesso.




6 - BUFALLO BILL E OS ÍNDIOS (“Buffalo Bill and the Indians” ou “Sitting Bull's History Lesson” 1976)

Depois de “Nashville”, Altman continuou na sua busca de escrachar os símbolos americanos. Com o herói Búfalo Bill, não foi diferente. Seus cabelos longos são uma peruca, suas atitudes são inventadas e as batalhas com índios e bandidos são ensaiadas para que ele ganhe. Paul Newman mandando brasa no papel-título. Na época, não foi bem recebido, mas merece uma revisão.


7 - O PERIGOSO ADEUS (“The Long Goodbye”, 1973)

Baseado em Raymond Chandler, mas Altman desloca a ação dos anos 40 para a década de 70, no porre pós-Watergate, Woodstock e do movimento hippie. O detetive Phillip Marlowe tem de localizar seu amigo Terry Lennox acusado de matar a esposa. A trama de Chandler está intacta, mas o diretor imprime um clima de fim de festa à investigação, que é difícil não torcer pelo private investigator. Durante a busca, os personagens mais incríveis se sucedem. Elliot Gould arrasando como o Marlowe existencial.


A turma do jaazz reunida interpretando os mestres
8 – KANSAS CITY (1996)

Pode dizer que estou puxando a brasa pro meu assado, porque é isso mesmo. O filme nem é tão bom assim, mas com toda aquela turma do jazz dos anos 80 e 90 (David Murray, Joshua Redman, James Carter, Craig Handy e Geri Allen) tocando e interpretando os mestres da década de 30, a gente nem presta muita atenção à história, um filme de gangsters em Kansas City. Jennifer Jason Leigh e Miranda Richardson são as femmes fatales e Michael Murphy e Harry Belafonte são os principais atores masculinos. Médio, porém bom. Dá pra entender?


9 – O JOGADOR (“The Player”, 1992)

Hollywood estava querendo fazer um mea culpa por ter vilipendiado o independente Altman a vida inteira e adotou “O Jogador” como veículo desta “valorização”. O filme ganhou 3 indicações ao Oscar mas não ganhou nenhuma (aí ia ser demais, não é Academia?). Tim Robbins faz o executivo de Hollywood que mata um aspirante a roteirista que acredita estar mandando ameaças de morte. “O Jogador” é um who’s who de quem era alguma coisa na cidade dos sonhos naquele momento. São 65 aparições de gente como o diretor Sidney Pollack, os atores Dean Stockwell e Whoopi Goldberg e o cantor country Lyle Lovett. O plano-sequência de 7 minutos e 47 segundos já te ganha no começo do filme. E tem até a Joyce Moreno na trilha!

Plano-sequência inicial de "O Jogador"


10 – SHORT CUTS - CENAS DA VIDA ("Short Cuts", 1993)

Os contos do minimalista Raymond Carver são a base para as histórias contadas neste filme, que tem dois artistas da música em papéis principais: a cantora de jazz Annie Ross e o cantor e compositor Tom Waits. As angústias da classe média americana misturadas com a possibilidade da sorte e/ou do azar mudar sua vida. Mais um filme de Robert Altman onde a força do grupo de atores é mais importante do que as performances individuais.


por Paulo Moreira

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Madeleine Peyroux - Teatro Bourbon Country - Porto Alegre/RS (09/11/2017)



Pra começar, um aviso: se você é fã da cantora Madeleine Peyroux, não siga em frente. Você vai ficar muito irritado e vai me xingar, me destratar e até vai ter vontade de me dar uns tapas. Por quê? Porque nunca gostei de sua voz (aquele timbre "billieholidayesco" só funciona com a própria) e acho que o resultado final de sua música é mediano. Não tem brilho.

Com seus músicos no palco
Posto isso, depois de ignorar os shows anteriores dela, resolvi dar uma chance de ser surpreendido. Afinal, a formação é jazzística - violão e ukulele mais guitarra e baixo acústico – para o show no Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre. E o guitarrista era o grande Jon Herrington, que toca com o Steely Dan há muito tempo.

O show começou morno, demorando pra deslanchar. Diga-se a favor de Peyroux, que ela foi muito simpática ao se comunicar com a plateia em português. Musicalmente, os altos momentos foram "A Good Man is Hard to Find", dedicada às mulheres; "Everything I Do Gonna be Funky", do mestre de New Orleans, Allen Toussaint; e até mesmo "um cantchinho e um violaaaao", "Corcovado". Em compensação, o pior veio logo depois: uma versão horrorosa de "Água de Beber", também de Tom Jobim, interpretada ao ukulele, como se o maestro tivesse vivido em Maui, ao invés do Rio.

Para salvar o show, Peyroux e seus rapazes puxaram da cartola "Dance me to the End of Love", de Leonard Cohen, no encerramento. Ainda não foi desta vez que Madeleine Peyroux me convenceu. Não sei se terá outra chance.

texto: Paulo Moreira
fotos: Cris Moreira/Divulgação

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2016



Os líderes já vêem os alemães do Kraftwerk pelo retrovisor.
Vamos combinar que 2016 foi cruel com alguns grandes ídolos da música, não? David BowiePrinceCauby PeixotoPierre Boulez; Alan Vega do Suicide; Paul Katner do Jefferson Airplane; Pete Burns do Dead Or Alive; Glenn Frey dos Eagles; Maurice White  do Earth, Wind and Fire; a espinha dorsal do Emerson, Lake and Palmer, Keith e Greg; Leonard Cohen e, por último, no apagar das luzes do ano, George Michael. Foi pesado, hein! Mas não adianta: esses caras se foram mas suas obras ficam e serão sempre lembrados e, entre outras coisas é para isso que uma seção como esta, a ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, serve. Para eternizar grandes obras do meio musical e manter imortalizados os artistas que nos proporcionaram o privilégio de tê-las entre nós. Prova disso, na nossa coluna, é que o recém-falecido David Bowie ocupa a liderança de discos destacados, ali, abraçadinho com as duas maiores bandas de rock do mundo, Beatles e Stones. Que trinca, hein! Sim, é verdade, a ponta de cima não teve nenhuma alteração em relação ao mesmo período do ano passado, mas a meiúca, o miolo ali teve movimentação com gente nova entrando como a talentosa Janelle Monáe com seu "ArchAndroid", o Blur saindo em vantagem na eterna briga contra o Oasis botando "Parklife" na lista e já com algum atraso, finalmente pintando um Marvin Gaye entre os nossos fundamentais. Alguns subiram de posição, como é o caso do Kraftwerk que com seu "Tour de France Soundtracks" aproximou-se ameaçadoramente dos líderes já colocando na roda seu quarto A.F.; assim como os Smiths que, fazendo a última postagem do ano na seção, tiveram seu terceiro relacionado e já ocupam lugar destacado entre os internacionais.
Por esses lados, Jorge Ben continua na ponta no ranking nacional e a parte de cima continua sem alteração com Titãs, Legião, Engenheiros, Caetano, Gil e Tim Maia seguindo de perto. Os fatos mais  consideráveis foram o de Lobão, com seu "O Rock Errou", por sinal o primeiro A.F. de 2016, ter subido para dois indicados, empatado com nomes como Chico Buarque, Novos Baianos, Tom Jobim, Chico Science, entre outros que já tem um bicampeonato; e o da Tia Rita finalmente ter colocado seus pés no nosso "Hall da Fama" com seu ótimo "Babilônia".
Na disputa por décadas os anos 70 continuam mandando fácil, em compensação por ano, o de 1986, é o que tem mais discos integrantes do nosso grupo de honra. Por nacionalidade, os Estados Unidos lideram com ampla vantagem, e os brasileiros que haviam roubado a segunda posição dos ingleses na temporada passada, ampliaram ainda mais a vantagem em relação ao pessoal da Rainha, mas isso sem contar com Irlanda e Escócia, o que faria, aí sim, com que o Reino Unido estivesse à nossa frente no placar geral. A novidade ficou por conta do primeiro A.F. francês com a dupla Air emplacando seu excelente "Moon Safari" entre os Fundamentais do Clyblog.
E esse empate triplo na ponteira internacional? Ninguém vai pular à frente? E no Brasil, Jorge Ben vai continuar reinando absoluto por tanto tempo? E aí Chico Buarque, não vai reagir? E essa briga Brasil vs Inglaterra pela vice-liderança? Será que o English Team vai se reaproximar? Será que vai passar? Bala na agulha tem pra isso com toda aquela elite do rock, não? Em compensação a criatividade, a musicalidade, o ritmo brasileiro tem meios de se defender. Enfim, 2017 promete. Ainda mais pelo fato de que provavelmente, pelo ritmo que a coisa vai, chegaremos ao número 400 e certamente pensaremos em algo especial com alguma convidado que venha a engrandecer este número e momento especial.
Enquanto isso, voltemos a 2016 e confiramos como foram as coisas. É!!! Porque 2017 já está aí e muitos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS inda estão por vir. Sendo assim, vamos aos números:


PLACAR POR ARTISTA (GERAL)

  • The Beatles: 5 álbuns
  • David Bowie 5 álbuns
  • The Rolling Stones 5 álbuns
  • Kraftwerk 4 álbuns
  • Stevie Wonder, Cure, Smiths, Led Zeppelin, Miles Davis, John Coltrane, Pink Floyd, Van Morrison e Bob Dylan: 3 álbuns cada


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben 4 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Caetano Veloso, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e Tim Maia; 3 álbuns cada
*contando o álbum Gil & Jorge

PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 13
  • anos 60: 67
  • anos 70: 98
  • anos 80: 92
  • anos 90: 67
  • anos 2000: 9
  • anos 2010: 7


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1

PLACAR POR ANO

  • 1986: 18 álbuns
  • 1976: 15 álbuns
  • 1985: 14 a´lbuns
  • 1991: 13 álbuns
  • 1967, 1972 e 1979: 12 álbuns cada
  • 1968, 1971 e 1992: 11 álbuns cada
  • 1969, 1970, 1973, 1989 e 1992: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 133 obras de artistas*
  • Brasil: 94 obras
  • Inglaterra: 86 obras
  • Alemanha: 7 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá e Escócia: 4 cada
  • México, Austrália e Islândia: 2 cada
  • Jamaica, Gales, Itália, Hungria, Suíça e França: 1 cada

*artista oriundo daquele país

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

R.I.P. Leonard Cohen

Cheguei tarde ao Leonard Cohen. Em 1979, meu amigo e colega da FAMECOS, Claudio Almeida, me emprestou o disco "Recent Songs". Como eu descobria Joni Mitchell na época, não dei muita importância a Lenny. Só fui voltar a prestar a atenção em 1987/88, quando dois discos me levaram ao canadense: "Famous Blue Raincoat", da cantora Jennifer Warnes (ela mesma, a parceira de Joe Cocker em "Up Where We Belong" da trilha de "Na Officer and a Gentleman" e de Bill Medley no mega-sucesso "I Had The Tme of My Life" do filme "Dirty Dancing"). Jennifer foi backing vocal de Cohen e ele a encorajou a gravar um disco só de composições suas. O trabalho é um dos melhores discos que tenho na minha discoteca. 
Já "I'm Your Man", de Cohen, me assustou um pouco pelo uso excessivo de teclados e baterias eletrônicas, bem ao gosto da música pop oitentista. De qualquer maneira, três faixas me chamaram a atenção: "Ain't No Cure for Love", "I Can't Forget" e "Tower of Song", cuja ironia e auto-depreciação são muito engraçadas: "Eu nasci assim, não tive escolha / Nasci com o presente de uma voz de ouro". 
Depois, foi a vez de Oliver Stone transformar em sucesso pop com "The Future", música do seu enlouquecido filme "Natural Born Killers". Mas foi um disco ao vivo que me ganhou e me fez virar fã absoluto: "Cohen Live" com uma versão de "There is a War", outro portento de ironia: "Eu vivo aqui com uma mulher e uma criança, a situação me faz ficar um pouco nervoso / Eu a levanto pelos braços, ela diz, ' Imagino que você chama isso de amor, eu chamo de serviço de quarto'. 
Daí em diante, todos os lançamentos de Cohen passaram a frequentar minha discoteca e o meu CD player. Agora, aguardo a chegada de "You Want it Darker", seu derradeiro trabalho. BowiePrince e agora Cohen. 2016 está levando nossos ídolos, mas a música fica. RIP Leonard Cohen.




por Paulo Moreira

sábado, 29 de agosto de 2015

Quadrinhos no cinema #6 - “ Watchmen - O Filme”, de Zack Snyder, (2009)


Adaptação que divide opiniões
por Vagner Rodrigues


Sem rodeios, já vou avisando que gostei do filme de Zack Snyder. O cara sabe fazer adaptações de quadrinhos, está longe de ser um grande diretor, mas é competente, assim como seus filmes. No ano 1985, numa realidade alternativa, no auge da guerra fria, todos os olhares estavam voltados para a possível guerra nuclear entre EUA X URSS. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o vigilante Rorschach (Jackie Earle Haley), investiga a morte de outro vigilante, Edward Blake, O Comediante (Jeffrey Dean Morgan), e desconfia que alguém está tentando matar os vigilantes. Rorschach então avisa seus ex-colegas mascarados, conhecidos como WATCHMEN , sobre suas suspeitas. Conforme a investigação se a profunda, mais tenso vai ficando o clima entre o grupo de supers.
Um filme de ação muito bem feito, porém, muito distante da profundidade da HQ, esse distanciamento também ocorre na construção dos personagens, que são bem mais profundos do que aparece no longa. O filme chegou aos cinemas com uma expectativa enorme, devido ao grande número de fãs que a HQ tem, porém essas expectativas não foram alcançadas, para a maioria dos fãs. Entendo que Zack Snyder não teria tempo para aprofundar mais a trama do filme, pois estamos falando de Hollywood. Então em alguns momentos vira apenas um filme de ação com a assinatura de Snyder, onde os personagens que em sua maioria são apenas humanos comuns fantasiados de super-heróis, aqui são apresentados com poderes fantásticos, tirando em alguns momentos, aquele clima mais pé no chão da história original.
Dr. Manhattan, eu esperava mais de você.
A falta de desenvolvimento dos personagens contribuiu muito para as atuações do filme em geral. Coruja II (Patrick Wilson), nas cenas de ação convence, mas de resto... Espectral II (Malin Åkerman) está incrivelmente sexy, e só isso, Doctor Manhattan (Billy Crudup), foi a grande decepção do filme, da grandeza que o personagem tem na HQ, no filme, só ficou seu pinto gigante, Ozymandias (Matthew Goode),também é outro personagem que perdeu muito nesta passagem de HQ para cinema. O grande personagem do filme é Rorschach, ainda mais se você assistir a versão do diretor, que consegue dar um pouco a mais de tempo de tela para o personagem, mas o suficiente para o entendermos melhor. Rorschach tem cenas fantásticas, como sua tentativa de fugir da polícia, e sua chegada à prisão mostrando para os outros detentos quem manda. Ótima atuação de Jackie Earle Haley. Outro destaque vai para Jeffrey Dean Morgan como O Comediante que, apesar do pouco tempo em cena, tem uma grande atuação.
Rorschach, difícil de escrever, de falar, entender,
mas muito fácil de se encantar com esse jeitinho meigo dele.
Mas temos sempre que lembrar que é uma adaptação da HQ,  e que não tem porque ser (talvez se fosse uma série de TV) exatamente igual à revista, senão apenas ler o quadrinho bastaria.  "Watchmen - O Filme", é uma  outra versão da história. Dentro deste cenário, como adaptação é competente. Por mais que o filme apele para as fantásticas cenas de luta, e não desenvolva bem os personagens, a trama consegue nos passar o ar realista da estória, onde conseguimos sentir realmente como seria um mundo com mascarados justiceiros colocando bandidos na cadeia. Esse tom realista faz do filme algo muito diferente dos filmes de super-heróis que tínhamos até o momento, o que foi extremamente positivo, uma vez que trouxe uma visão mais complexa sobre o assunto.
Um aspecto que colaborou muito na narrativa do filme foi ótima trilha sonora que tem Bob Dylan, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Billie Holiday, Nina Simone até a competente (no meu ponto de vista) My Chemical Romance. Quase todas as músicas dialogam muito bem com cena, foram escolhas perfeitas, exceto uma, que ficou muito forçado (ganha um sorvete quem acertar qual foi)*.
"Watchmen - O Filme", realmente dividiu opiniões, e divide até hoje. Como filme de super-heróis, ele é muito bom, diria um pouco acima da média pela forma como aborda o tema (vamos lembrar mais uma vez, é uma adaptação). Mas deixo a dica para que você assista a versão estendida, (eu sei tem 3 horas é um pouco demais), mas vai valer a pena, tem um pouco mais (bem pouquinho) da noção que os humanos comuns do dia a dia tem dos Supers.
Os efeitos visuais são ótimos.

*(Promoção do sorvete: quem respondeu que a cena é a que o Coruja II e a Espectral II fazem sexo e o filme fica boa parte em uma tensão sexual dos dois, e quando começa a cena mais quente, começa a tocar "Hallelujah" do Leonard Cohen" e a nave do Coruja começa a disparar chamas e sair fumaça, acetou. Eu particularmente achei bem forçado. Os acertadores devem reivindicar seu sorvete junto aos editores-chefes do blog.)