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domingo, 27 de julho de 2014

New Order - "Substance" (1987)


"Perguntei a Bono quais eram
suas principais influências,
e ele me disse que
uma de suas maiores influências
havia sido exatamente o New Order.
O New Order,
uma das grandes influências do U2"
Peter Hook




Uma compilação de singles e remixes que virou clássico.
Bom, talvez por não se resumir a apenas uma mera coletânea como muitas retrospectivas comuns entre bandas que chegam a determinado ponto e repassam a carreira.
"Substance" de 1987 é um marco.
Um dos discos mais importantes para a linguagem pop dos anos 80 e o maior responsável pela explosão da música eletrônica no início da década que se seguiria. Muito por conta de "Blue Monday", hit lançado em 1983 apenas em single e que repetia o sucesso, desta vez de modo muito mais massivo com o lançamento de "Substance". Uma incrível peça musical basicamente eletrônica, extremamente dançante, de ritmo alucinante, tom grave e uma programação de bateria marcante e enlouquecedora. Não havia quem não conhecesse "Blue Monday" e não tivesse dançado com ela.
Mas "Substance" tinha outros trunfos que o tornavam especial em relação a outras coletâneas: pra começar, abria com "Ceremony", canção da banda-embrião do New Order, o Joy Division, que era apresentada em versão de estúdio pela primeira vez, canção que traduzia bem a transição do estilo soturno do grupo na época de Ian Curtis para a tendência dançante que se seguiria a partir da criação da nova banda.
O disco traz ainda, além de versões estendidas, diferentes das dos singles e de seus álbuns correspondentes, duas versões inéditas regravadas de antigos singles, "Confusion" e "Temptation", e uma inédita, naquele momento, a ótima "True Faith", um pop sofisticado, impecável, que imagino que seja tudo que os Pet Shop Boys sempre desejaram ter feito.
Tem "Subculture" em versão mais longa e diferente da do álbum original, com seus teclados monumentais da abertura soando ainda mais imponentes e grandiosos; "Shellshock", perfeita, com suas influências hip-hop, break e black music de rua dos anos 80; o mega-hit "Bizarre Love Triangle", um pop dançante de estrutura muito bem elaborada, mas que na mixagem da versão para a coletânea teve cometido o pecado da ausência do som do baixo, deixando a música muito mais dançante, é verdade, porém muito mais pobre musicalmente.
A épica "Perfect Kiss" que aparece no álbum "Low-Life" em versão editada, aqui, neste "Substance" mostra-se inteira até seu ápice num final extasiante que culmina num solo de contrabaixo, de Peter Hook, daqueles como só ele consegue fazer, como se fosse uma guitarra.
Aliás, se há um ponto negativo no álbum, é o fato de a partir dele ter-se associado necessariamente o New Order à música eletrônica, aquela mecânica, sem se dar o devido valor ao trabalho coletivo e instrumental do grupo, como se eles só apertassem os botões e a música começasse a tocar e sem considerar o grande número de músicas onde, na verdade, os teclados são parte menor no contexto. Grande equívoco! Trata-se de uma banda com alto poder criativo e capacidade instrumental individual bastante apreciável, sobretudo de Stephen Morris, um dos bateristas que melhor consegue conjugar os elementos eletrônicos com a execução acústica da bateria, e do baixista Peter Hook, de toque diferenciado, de afinações singulares e de uma maneira tão ímpar de tocar que faz com que seu instrumento seja o coração da banda.
Há muitas coletâneas importantes, muitas marcantes, mas poucas conseguem a eternização que "Substance" alcançou. Talvez por que esta tenha algo mais. Talvez porque tenha algo, assim, substancial... Substância.
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FAIXAS: 
1. "Ceremony" 4:23
2. "Everything's Gone Green" 5:30
3. "Temptation" 6:59
4. "Blue Monday" 7:29
5. "Confusion" 4:42
6. "Thieves Like Us" 6:36
7. "Perfect Kiss" 8:02
8. "Subculture" 4:48
9. "Shellshock" 6:28
10. "State of the Nation" 6:32
11. "Bizarre Love Triangle" 6:44
12. "True Faith"

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Ouça:


Cly Reis



terça-feira, 25 de março de 2014

Copa do Mundo The Cure - classificados fase preliminar

E a pré-fase acabou!
Algumas grandes já ficaram pelo caminho como Shake Dog Shake, Kyoto Song, The Kiss, Faith, mas a grande surpresa da primeira fase foi a desclassificação de The Holy Hour para Do the Hansa.
Se já nessa fase preliminar tivemos clássicos como Play for Today x Shake Dog Shake, Faith x A Night Like This, One Hundred Years x The Kiss, imagina agora quando vão entrar os hits e singles!
Confiram aí todos os classificados. Em seguida, nos próximos dias, vem aí os confrontos da próxima fase.
Aguenta coração!!!
Em vermelho, os classificados:


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pearl Jam - Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro (22/11/2015)



Já com as luzes acesas durante "Rockin' inthe Free World"
Não sei mas, tenho a impressão que só eu não fiquei empolgado com o show do Pearl Jam.
Show normal, normalzinho.
Tinha grande expectativa por conta da apresentação que havia presenciado deles em Porto Alegre em 2005 e por todos os comentários que vinham sendo feitos em relação aos outros pontos da turnê mas no fim das contas foi um show morno.
"Oceans" como escolha para a abertura já me pareceu uma opção pouco feliz, a não ser que fosse seguida por um dos mega-hits ou por uma paulada, o que não foi o caso. "Present Tense" do álbum "No Code" a seguiu e assim, já a partir daí, a primeira parte se arrastou num ritmo não lento, mas sem pegada. É verdade que a moderação era quebrada de vez em quando por algo mais agressivo como "Even Flow", a boa "Mind Your Manners", uma das melhores do novo álbum "Lighting Bolt" e a excelente "Do The Evolution", talvez a mais empolgante do primeiro segmento, mas não era o suficiente para engrenar de vez.
Considerei o planejamento do repertório um tanto equivocado no seu conceito, no seu ritmo, na sua sequência, mas não dá pra negar também que parte da sensação pouco satisfatória do início do show pode ser um atribuída ao som do estádio que prejudicava muito a qualidade de cada música e por vezes fazia com que estas soassem como uma massa sonora única.
Eddie Vedder vestindo a sunga vermelha com a qual
foi 'presenteado' por um fã da plateia.
Terminada a primeira parte, no primeiro bis, depois de algumas acústicas, Eddie Vedder camou o público ainda mais para junto da si com uma interpretação de "Imagine" de John Lennon, em homenagem a um fã morto num dos atentados de Paris com o público proporcionando um belo espetáculo visual com seu celulares acesos. Mas a balada de Lennon já trouxe no rastro a intensa "Jeremy" e a boa "Why Go" para quebrar a sequência morosa e fechando o segundo trecho com uma inusitada mas interessante participação de um fã aniversariante que pedira para cantar e que surpreendentemente mandou muito bem puxando a introdução de "Porch".
Com um Eddie Vedder simpático, falante e bem-humorado, o último bis compensou a desnecessária cover da infame banda que estava no Bataclan em Paris e da chata "Last Kiss" de Wayne Cochram (mas que, devo fazer justiça, todos cantaram juntos acompanhando com palmas) com as ótimas versões para os clássicos "Comfortably Num" do Pink Floyd e da já tradicional "Rockin' in the Free World" de Neil Young, talvez o melhor momento do show com as luzes do estádio já acesas, encaminhando o final e a galera se acabando no rock'n roll. Esta última parte também apresentou os clássicos "Black" e "Alive" que não poderiam faltar, até porque, no fim das contas, a maioria esmagadora das pessoas que estava no estádio estavam interessadas em ouvir as músicas do álbum "Ten" e na reta final foram recompensadas com o que esperavam. Aliás, ambas duas tiveram execuções e performances à altura de suas grandezas com a devida entusiasmada reação do público que as cantou em côro de forma emocionante.
Para ser justo, com o final se aproximando, com as covers, com os clássicos da banda e o clima descontraído, chegando ao ponto do vocalista vestir por cima da bermuda uma sunga jogada pelos fãs, dá pra dizer que a tepidez que dominava o espetáculo na maior parte do seu tempo deu lugar a um show, no fim das contas, interessante. Antológico? Incrível? Maravilhoso? Não, não. Um bom show. Bom. Só isso.


SET LIST - "Pearl Jam - Maracanã
Oceans 
Present Tense
Corduroy
Hail Hail
Mind Your Manners
Do the Evolution
Amongst the Waves
Save You
Even Flow
Who You Are
Setting Forth, da carreira solo de Eddie Vedder)
Not for You
Sirens
Given to Fly
I Want You So Hard (Boy’s Bad News), do Eagles of Death Metal
Comatose
Lukin
Rearviewmirror


Bis 1:
Yellow Moon (acústica)
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town (acústica)
Just Breathe (acústica)
Imagine, de John Lennon (acústica)
Jeremy
Why Go
The Fixer
Porch

Bis 2:
Last Kiss, de Wayne Cochran
Comfortably Numb, do Pink Floyd
Spin the Black Circle
Black
Better Man
Alive
Rockin’ in the Free World, de Neil Young
Yellow Ledbetter

Só pelo registro, com imagem distante mas com som bastante razoável, segue o vídeo da execução de 
"Alive" - Maracanã (22/11/2015)




por Cly Reis

sábado, 10 de março de 2012

Morrissey _ Fundição Progresso - Rio de Janeiro (09/03/2012)



Há uma estrela que nunca se apaga

Eu já havia visto Morrissey ao vivo na turnê anterior que fizera no Brasil, em Porto Alegre. Naquela ocasião foi um grande show.
Até por isso estava meio relaxado quanto ao que iria ver. Tipo: se não fosse lá tão legal, tão bom, pelo tempo ter passado pra ele (e pra todo mundo), pela idade, por algum eventual problema coma voz, porblema técnico, de som, desestímulo pessoal ou da banda, etc., eu já estaria no lucro por tê-lo visto uma vez em ótima performance; mas se tivesse a sorte de ver outra grande apresentação, ah, aí então eu estaria realizado.
Mas felizmente eu, e todos os fãs, admiradores e curiosos que estavam na Lapa, nesta última noite de sábado, fomos contemplados!
Senhores, Morrissey foi impecável!
Amigos, ele está em plena forma. Provavelmente, até, melhor de palco do que fora no passado. É verdade que não tem aquela vitalidade de outros tempos para ficar saracoteando de um lado para o outro do palco, chicoteando o fio do microfone, rebolando com flores no bolso traseiro, mas, assim como um grande jogador de futebol que quando vê que a idade está chegando passa a não correr mais o campo todo, Morrissey agora joga nos atalhos do campo. Faz o certo, faz simples mas com extrema competência.
Bem resguardado por uma banda de jovens vigorosos (sarados e descamisados, a propósito), praticamente a mesma banda de seu último álbum "Years of Refusal", Morrissey dominou completamente o palco e a plateia com interpretações admiráveis e potencial vocal ainda intacto.
Após uma pequena série de vídeos cinquentistas e sessentistas, com rapazes topetudos e moças de cabelos volumosos, a cortina que servia de tela de projeção subiu e por trás dela apareceu Morrissey e sua banda tascando pra começar a ótima "The First of the Gang to Die" que já incendiou a galera. Seguiu com algumas menos interessantes para meu gosto como "You Have Killed Me" e "When Last I Spoke to Carol" que apesar de não ser das minhas favoritas, tenho que admitir que ficou demais no show, com aquele climaço espanhol, seu violão flamenco poderoso, e contando até mesmo com o trumpete da original, tocado ao vivo.
A coisa ia com seu repertório de carreira solo até que sou surpreendido com "Still Ill" dos  Smiths . Putaquepariu! Me faltou o ar! Grande execução da banda, grande performance de  Morrissey , grande participação da galara. A emoção começava a aumentar.
"Everyday is Like Sunday", uma das mais aguardadas também teve participação bacana do público; "Speedway" foi uma das grandes do show, bem barulhenta e distorcida com aquelas guitarras que parecem motosserras mas com a paradinha, que existe na versão original, meio longa demais no show. "I Will See You in Far-Off Places", uma das minhas preferidas manteve sua intensidade e força; "Ouija Board, Ouija Board", outra que eu adoro foi legal, mas abreviada sem a última parte da letra; "You're the One for Me, Fatty" tratou de agitar o público; e a linda "Let Me Kiss You", foi simplesmente emocionante, com mias uma daquelas interpretações fantásticas e envolventes do cantor.
Ao contrário do show anterior dele que eu havia assistido, onde tocara algumas poucas de sua ex-banda, desta vez  Morrissey  caprichou no repertório  smithiano  e mandou várias. Atirou uma "Meat is Murder" comovente,  não sem antes dar uma alfinetada no príncipe Harry que, por acaso, também se encontrava no Rio naquele dia, surpreendeu com "Please, Please, Please, Let Me Get What I Want" brilhantemente executada pela banda; e quase pôs abaixo o local com "There's a Light That Never Goes Out". Particularmente, ME 'sacaneou', cantando "I Know It's Over" que às vezes eu já evito ouvir no CD pra não chorar e aí o cara vem lá de Manchester e me canta essa ali, na minha frente. Bom, tenho que dizer que fiquei vendo o palco embaçado durante toda a música. Mas o pior nem foi isso, lá pelas tantas começa aquela base  de guitarra com efeito, meio trêmula, repetida... Não... Não pode ser. 'How Soon Is Now?"!!! Era ela mesmo. Nossa! Mal tinha me recuperado e já estava em lágrimas de novo. Que frescura, né? Eu sei, eu sei. Mas foi impossível resistir.
Com esta acabaram a primeira parte, voltando apenas para "One Day Goodbye Will Be Farewell", que frustrou um pouco da expectativa de um gran finale com algo como "Suedehead", "Irish Blood, English Heart" ou "That's  How People Grow Up", mas pensando bem, valeu pelo recado. Talvez aquele adeuzinho não tenha sido ainda a despedida mesmo. Tomara. Volte sempre que quiser.


Cly Reis

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Elvis Presley - "Elvis" (1956)

"Elvis atingiu um novo
patamar de degeneração espiritual"
Reverendo Gray
da Igreja Batista da Trindade,
em 1956



É impossível, inadmissível, inaceitável falar em algo fundamental na história do rock, na história da música, na história do mundo até mesmo, sem falar em Elvis Presley. Acho até que já me demorava demais para incluí-lo aqui. Se seu primeiro disco "Elvis Presley" de 1956 fora o responsável por lançá-lo, por impulsioná-lo, torná-lo conhecido, foi verdadeiramente no segundo que ele obteve um resultado mais maduro, pessoal e mais qualificado. Ao passo que o primeiro trabalho era ainda cru, excessivamente influenciado pelos ritmos sulistas brancos por conter as músicas da época de sua primeira gravadora, a Sun Records, no segundo disco simplesmente chamado "Elvis" de 1956, o Rei do Rock colocaria sua marca particular de forma mais incisiva criando releituras todas especiais de sucessos da música negra. Ainda que aquilo representasse musicalmente um marco, uma revolução e sucesso comercial entre os jovens, essa coisa toda de ficar cantando música de negros não caía bem entre a sociedade conservadora branca, mas curiosamente não descia bem na goela do negros também, que não gostavam muito da ideia daquele branquelo se aproveitar do que eles faziam bem e há muito mais tempo sem ter o reconhecimento que aquele garoto vinha tendo então.
O fato é que provavelmente por ser acima da média, dono de uma voz fantástica, de interpretações singulares e um talento fora do comum, o garoto do Tenessee passou por cima de tudo como um trem e o disco foi um enorme sucesso elevando então definitivamente o cantor ao status até então inédito de superstar. Elvis, por exemplo, confere a  "Rip Me Up", "Long Tall Sally" e "Ready Teddy" já imortalizadas por Little Richard, de quem já gravara "Tutti-Frutti" no primeiro álbum, interpretações tão ímpares que estas chegam a ser provavelmente melhores que as do próprio Richard. Tem ainda outras 'negras' como "Paralyzed" em parceria com Otis Blackwell e a excelente "So Glad You're Mine" do blueseiro Arthr Crudupp. Canta "Love Me" de uma maneira absolutamente sensual e envolvente, assim  como a doce e melancólica "First in Line"; retorna às raízes com "Old Shep" canção que cantara anteriormente em 1945 num concurso em sua cidade natal; detona outro bluesão em "Anyplace is Paradise"; e no final põe um pouco de molho com a balançada "How Do You Think I Fell".
Uma reedição posterior traria mais algumas canções no álbum, entre elas, outro clássico, "Don't Be Cruel", e a histórica "Hound Dog", canção interpretada na famosa apresentação do cantor no programa de Milton Berle, que mudaria os rumos da TV, uma vez que sua dança, requebrando as cadeiras, foi considerada tão escandalosa a ponto de haver recomendação das emissoras de só filmarem Elvis da cintura para cima.
São coisas como esta, um disco como este que provam o quão importante é um artista como este para seu tempo. Isso é mudar a música, isso é mudar comportamento e isso é mudar a história!

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ELVIS PRESLEY
Elvis Aaron Presley (East Tupelo, 8 de janeiro de 1935 — Memphis, 16 de agosto de 1977) foi um famoso músico e ator, nascido nos Estados Unidos da América, sendo mundialmente denominado como Rei do Rock. É também conhecido pela alcunha Elvis The Pelvis, apelido pelo qual ficou conhecido na década de 1950 por sua maneira extravagante e ousada de dançar. Uma de suas maiores virtudes era a sua voz, devido ao seu alcance vocal, que atingia, segundo especialistas, notas musicais de difícil alcance para um cantor popular. A crítica especializada reconhece seu expressivo ganho, em extensão, com a maturidade; além de virtuoso senso rítmico, força interpretativa e um timbre de voz que o destacava entre os cantores populares, sendo avaliado como um dos maiores e por outros como o melhor cantor popular do século 20. Acompanhado pelo guitarrista Scotty Moore e pelo baixista Bill Black, Presley foi um dos criadores do rockabilly, uma fusão de música country e rhythm and blues.
Elvis tornou-se um dos maiores ícones da cultura popular mundial do século XX. Entre seus sucessos musicais podemos destacar "Hound Dog", "Don't Be Cruel", "Love me Tender", "All Shook up", "Teddy Bear", "Jailhouse Rock", "It's Now Or Never", "Can´t Help Falling In Love", "Surrender", "Crying In The Chapel", "Mystery Train", "In The Ghetto", "Suspicious Minds", "Don't Cry Daddy", "The Wonder Of You", "An American Trilogy", "Burning Love", "My Boy" e "Moody Blue". Na Europa, canções como "Wooden Heart", "You Don't Have To Say You Love Me", "My Boy" e "Moody Blue" fizeram sucesso. Particulamente no Brasil, foram bem-sucedidas as canções "Kiss Me Quick", "Bossa Nova Baby", "Bridge Over Troubled Water".
Após sua morte, novos sucessos advieram, como "Way Down" (logo após seu falecimento), "Always On My Mind", "Guitar Man", "A Little Less Conversation" e "Rubberneckin". Trinta anos depois de morrer, Presley ainda é o artista solo detentor do maior número de "hits" nas paradas mundiais e também é o maior recordista mundial em vendas de discos em todos os tempos com mais de 1 bilhão e meio de discos vendidos em todo o mundo.
(fonte: Wikipédia)


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FAIXAS:
  1. "Rip It Up" - 1:50
  2. "Love Me" - 2:41
  3. "When My Blue Moon Turns to Gold Again" - 2:18
  4. "Long Tall Sally" - 1:51
  5. "First In Line" - 3:21
  6. "Paralyzed" - 2:24
  7. "So Glad, You're Mine" - 2:18
  8. "Old Shep" - 4:10
  9. "Ready Teddy" - 1:55
  10. "Anyplace is Paradise" - 2:26
  11. "How's The World Treating You" - 2:23
  12. "How Do You Think I Feel" - 2:10
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Ouça:

domingo, 27 de novembro de 2016

Peter Hook & The Light - "Substance"



Já vi Peter Hook e sua banda na turnê que fizeram interpretando o álbum "Unknown Pleasures" do Joy Division e embora tenha gostado muito do show em si, permaneceu em mim muito fortemente a sensação de estar assistindo a um mero show caça-níqueis de um cara que em litígio com sua banda e nunca tendo emplacado grande sucesso com seus projetos paralelos ou independentes, apelava para o tiro certeiro de apoiar-se na aura mítica e cultuada de sua banda original. Pois neste meio tempo entre aquele show e o que se avizinha, no próximo dia 1º de dezembro no qual ele e a The Light, sua banda interpretarão os dois "Substance", o do Joy Division e o do New Order, esta impressão de mercenarismo musical foi amenizando-se em meu espírito, especialmente depois de ter lido a biografia "Joy Division: Unknown Pleasures - A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos" escrita por ele, na qual revelou-se, pelo menos pra mim, uma pessoa extremamente verdadeira, autêntica e de um envolvimento emocional tal com sua ex-banda, o Joy Division,  que lhe conferia, sim, legitimidade o bastante para ter o direito de tocar publicamente aquelas músicas.
E eis que agora o verei novamente, desta vez no Teatro Rival, aqui no centro do Rio, que está sendo chamado de Dia New Order no Brasil, uma vez que o restante da banda estará tocando em São Paulo na mesma data. Se da outra vez Hook e seus pupilos apresentaram um show bastante cru sonoramente, sem teclados ou efeitos, desta vez, pela proposta, creio que seja inevitável que tenham um aparato técnico maior até pelo fato de que muitas das músicas do "Substance" do New Order têm ênfase no eletrônico e até mesmo coisas do Joy Division da fase final, antes da morte de Ian Curtis já começavam a flertar com estes elementos.
Sinceramente não sei se na hipótese de ter New Order e Peter Hook no mesmo dia  e no mesmo lugar por qual eu optaria. Pesaria a favor do N.W. o fato de já ter visto Peter Hook na turnê anterior, mas a favor do baixista, o interesse pelo repertório de seu atual espetáculo. Decisão difícil... Bom, mas não precisei decidir: O New Order estará lá em Sampa e quem estará aqui, para minha igual satisfação é Peter Hook e se ele é um oportunista, mercenário, se sua turnê é um caça-níqueis, pelo menso, depois de conhecê-lo um pouco melhor nas páginas de seu livro, penso que ao menos é um caça-níqueis honesto.


fique com um drops do que vai rolar na quinta-feira
Peter Hook and The Light executando "Perfect Kiss" do New Order
no Wiltern, Los Angeles/CA em setembro deste ano.


C.R.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Discos para (e de) quarentena


A Queen, isolada numa
fazenda para gravar sua
obra-prima
Nesse período de isolamento em casa pela Covid-19, de todo lado surgem listas com indicações do que se ler, assistir e, bastantemente, ouvir. De playlists a discos, muitos recorrem à música pra aliviar a barra da clausura forçada. Eu mesmo colaborei com uma seleção recentemente para o site AmaJazz sobre os discos de jazz que 50 pessoas escolheram para escutar na quarentena – o meu, aliás, foi "The Real McCoy", de McCoy Tyner, a pouco resenhado por mim para a seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui do blog.

Mas o que ainda não ouvi falarem são os discos não necessariamente próprios para este momento, mas os FEITOS em isolamento. Seja no estúdio improvisado na própria casa, num apartamento fechado, numa mansão isolada da civilização e até num hospício ou cadeia. Tem de tudo. Não é novidade que artistas em geral busquem essa condição de recolhimento para se concentrar, principalmente quando intentam um projeto novo. Porém, geralmente isso ocorre de maneira controlada e adaptada a um fluxo rotineiro. Aqui, não. Falamos de exemplos da discografia do rock, da MPB, da black music e do jazz concebidos ou gravados em condições extremas de afastamento de qualquer outra coisa que pudesse interferir além da própria criação musical. Tamanho foco não raro acarretou em trabalhos brilhantes, sendo alguns bastante recorrentes em listas de melhores em vários níveis.

Woodland, a casa que viu nascer
"Trout...", da Captain Beefheart
Mesmo que o motivo para se isolar destes discos não seja o de um perigo à saúde como hoje, cada um deles é, a seu modo e motivo, também fruto de um momento necessário de reflexão. Se seguirmos o termo pelo que diz o dicionário, "reflexão", do latim tardio, quer dizer "ato ou efeito de refletir algo que se projeta". Música, assim como toda arte, não é exatamente isso?

Aqui, então, uma listagem que serve como dicas para audição nestes dias com 15 discos cujo processo de isolamento lhes foi essencial para serem concebidos, mesmo que a própria sanidade mental de seus autores tenha sido, em certos casos, comprometida para que isso ocorresse (se é que já não estava). Se a nossa saúde física está em perigo atualmente, a discografia musical, diante dessa (aparente) contradição entre “liberdade” e “prisão”, é capaz de sanas nossas mentes.


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1. “Os Afro-Sambas” – Baden Powell e Vinícius de Moraes (1966)
Local: Casa de Vinícius de Moraes, Parque Guinle, Laranjeiras, Rio de Janeiro, Brasil

Já resenhado aqui no blog, é o exemplo clássico na música brasileira de confinamento que deu certo. Mas não um isolamento para ficar limpo ou longe da família e das tentações. Os instrumentos de home office foram o poderoso violão de Baden, o papel e a caneta de Vinícius e um engradado de whisky 12 anos. “Eu fiquei tão entusiasmado que passamos uns três meses completamente enfurnados”, disse Vinícius sobre a temporada em que abrigou Baden em seu apartamento no Parque Guinle, no Rio de Janeiro, para comporem as mais de 50 canções que resultariam n”Os Afro-Sambas”. Depois da concepção, foi só lapidar em estúdio com as intensas percussões, os arranjos e regência do maestro César Guerra-Peixe e as participações vocais do Quarteto em Cy e de Dulce Nunes. Como Cly Reis bem colocou na resenha de 2013, “Os Afro-Sambas” é “uma perfeita mescla de técnica, poesia, brasilidade, africanidade, sincretismo, tradições, folclore e genialidade em um trabalho que leva ao limite a multiplicidade e as possibilidades dentro da linguagem do samba e das vertentes da música brasileira desde suas mais remotas origens”.

OUÇA O DISCO


2. “Music from Big Pink” – The Band (1968)
Local: "Big Pink", West Saugerties, Ulster, Nova York, EUA

Ia tudo bem com os canadenses Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel em 1966. Eles formavam o grupo de apoio de Bob Dylan no clássico “Bringing It All Back Home” e revolucionavam o folk rock ao eletrificá-lo de forma inequívoca. Mas o perigo está sempre à espreita. Não demorou muito para que as reações contrárias viessem e as vibrações ruins dos conservadores da música norte-americana afetassem tanto Dylan, que o fizeram se acidentar de moto. Fim da linha? Não, pelo contrário: fase superprodutiva. Com músicas até sair pela orelha, os rapazes da The Band alugam uma casa de cor rosa em West Saugerties, uma pacata vila no Condado de Ulster, em Nova York, e concebem seu primeiro e histórico álbum, metalinguisticamente chamado de “música da grande casa rosa”. Resultado: “Music...”, cuja capa reproduz um óleo da autoria de Dylan, é classificado como 34º melhor disco pela Rolling Stone's entre os 500 maiores de todos os tempos. Não precisa dizer mais nada.


OUÇA O DISCO


3. “Trout Mask Replica” – Captain Beefheart & His Magic Band (1969)
Local: Woodland Hills, Ensenada Drive, Modesto, Califórnia, EUA

O blueser vanguardista Don Van Vliet já havia dado ao mundo do rock dois discos memoráveis com sua Captain Beefheart: Safe as Milk (1967) e Strictly Personal (1968). Mas um filho musical de Frank Zappa como ele jamais se contenta com o que já fizera. Movido por um desejo artístico superior, Vliet fez, então, “Trout...”. Reproduzo o parágrafo que abre a resenha que escrevi em 2013 sobre este disco aqui para o blog, pois vai na essência do que essa obra representa: “Um músico se trancafia em um casarão antigo, só ele e um piano. Ali, compõe 28 peças. Não, não estamos falando de algum pianista de jazz em abstinência de heroína nem de um concertista clássico precisando de isolamento e concentração para criar sua obra-prima. Estamos falando de um disco de rock, tocado com baixo, guitarra, bateria e, solando, clarinetes e saxofones. Tudo sem um acorde sequer de piano. (...) Talvez o trabalho que melhor tenha fundido rock, jazz, blues, folk e erudito, sustenta o status de uma verdadeira ‘obra de arte’, um dos 10 registros mais importantes da música contemporânea ao lado obras de Shostakovitch, Charles Mingus, Velvet Underground e Ligeti.”

OUÇA O DISCO


4. “Gilberto Gil” - Gilberto Gil (1969)
Local: Quartel da Vila Militar, Deodoro, Rio de Janeiro, e domicílio-prisão, Rua Rio Grande do Sul, Pituba, Salvador, Brasil

Antes de “Changin’ Time”, do norte-americano Ike White (que falaremos logo adiante), outro grande disco cunhado em regime de cárcere era produzido, infeliz ou felizmente, no Brasil. Foi em 1969, nos anos de ditadura militar. O que se tem a celebrar desse capítulo triste da história brasileira é que nem a repressão foi suficiente para impedir que a genialidade de Gilberto Gil produzisse um álbum grandioso tanto em qualidade quanto em simbologia e resistência. O supra-sumo do tropicalismo. E ainda num ínterim tenso e degradante. Em prisão domiciliar em Salvador após meses encarcerado no Rio de Janeiro e quatro meses antes de embarcar para o exílio em Londres, Gil lançou mão apenas de seu violão e de sua voz para gravar as bases de todas as músicas que comporiam seu novo álbum. Nove preciosidades que, quando foram parar nas mãos de Rogério Duprat para que este as produzisse e as vestisse com os outros instrumentos e orquestrações, seu autor já estava em pouso forçado no Velho Mundo. O antropólogo Hermano Vianna observa, abismado, que "Gilberto Gil" “é quase um milagre que tenha sido produzido e lançado”. Milagre maior é saber que desse disco há obras como “Aquele Abraço”, “Futurível”, “Cérebro Eletrônico” e “Volks Volkswagen Blues”.

OUÇA O DISCO


5. “Barrett” – Syd Barrett (1970)
Local: Fulbourn Hospital, vila de Fbridbourn, Cambridgeshire, Inglaterra

Syd Barrett é daqueles gênios que nunca bateram muito bem. A capa, desenho dele, denota esse ínterim entre a loucura e a mais graciosa sanidade. Ao mesmo tempo em que produzia coisas incríveis, como a marcante participação (e fundação!) na Pink Floyd, era capaz de cair num estado vegetativo indissolúvel. A esquizofrenia era ainda mais comprometida pelo uso de drogas pesadas. Tanto que, logo depois de “The Piper at the Gates ofDown”, de 1967, o de estreia da banda, Roger Waters e David Gilmour assumiram-lhe a frente. Mas não sem desatentarem do parceiro, que gravaria logo em seguida o também lendário “The Madcap Laughs”. Gilmour, aliás, amigo e admirador, fez o que poucos fariam para manter viva aquela chama: montou um estúdio em pleno manicômio, em que Barrett fora internado, em 1969, para que o “Crazy Diamond” registrasse sua obra mais bem acabada antes que sua mente se deteriorasse e o impedisse disso para sempre. Foi, aliás, exatamente o que aconteceu com Barrett, morto em 2006 totalmente recluso e sem ter nunca mais entrado num estúdio com regularidade. Antes, graças!, deu tempo de salvar “Barrett”, dos discos cinquentões de 2020.

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6. “Led Zeppelin IV” – Led Zeppelin (1971)
Local: Headley Grance, East Hampshire, Inglaterra

Era comum a galera do rock dos anos 60 e 70 dar umas escapadas sabáticas para ver se conseguiam fugir um pouco burburinho de fãs e executivos e produzir algo que lhe satisfizesse. Acabou sendo o que aconteceu com a Led Zeppelin para a produção daquele que foi seu mais celebrado disco: o “IV” (ou "Four Symbols", ou "ZoSo" ou "o disco do velho”). Em dezembro de 1970, a banda se reuniu no recém-inaugurado Sarm West Studios, em Londres, para a pré-produção de seu até então novo álbum. Só que não. Outra banda, a Jethro Tull, havia chegado primeiro. O quarteto Page/Plant/Bonham/Jones decidiu, então, por sugestão dos integrantes de outra grande banda inglesa, a Fleetwood Mac, finalizar a produção no pequeno estúdio da Headley Grance, uma mansão de pedra de três andares em East Hampshire, no meio do nada, com fama de mal assombrada mas com uma acústica incrível. Prova do acerto na escolha do lugar para a gravação é o som da bateria de Bonham em "When the Leevee Breaks", gravada, com microfones-ambiente na base da escadaria da casa. O resultado é um som trovejante e uma das introduções de bateria mais marcantes de todos os tempos. Fora isso, o local viu nascerem alguns dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, como "Black Dog", "Rock and Roll", "Stairway to Heaven" e "Four Sticks".

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7. “Exile on Main St.” – The Rolling Stones (1972)
Local: Mansão Nellcôte, Villefrance-sur-Mer, Costa Azul, França

Sabe tudo que se fala do caos que foi o set de filmagens de “Apocalypse Now”, do Coppola, com drogas, sexo, atrasos, grana desperdiçada, crises e, claro, o isolamento de toda a equipe  do filme numa floresta quente e úmida? Algo semelhante foram as gravações de Exile...”, dos Rolling Stones. Troca-se apenas a úmida floresta asiática pela da famosa Nellcôte, mansão localizada na mediterrânea Villefrance-sur-Mer, Sul da França, que presenciou, entre 10 de julho a 14 de outubro de 1971, um festival de sexo, drogas e muito, mas muito rock ‘n’ roll. Quase ninguém saía nem entrava, a não ser traficantes e groupies para animar as noites viradas. Os atrasos, como no filme, foram decorrência, o que, aliás, também fez gastar tempo e dinheiro. No que se refere à crise, foi uma financeira que fez a banda fugir da Inglaterra para aquele lugar longe de tudo – principalmente do fisco. Cenário perfeito para sair tudo errado, certo? Se o filme de Coppola venceu a Palma de Ouro e virou o maior filme de guerra de todos os tempos, “Exile...”, a seu tempo, se transformou no melhor disco dos Stones – o que é quase dizer que se trata do melhor disco de rock de todos os tempos.



8. “Rock Bottom” – Robert Wyatt (1974)
Local: Little Bedwyn, vila de Wiltshire, Inglaterra

O segundo disco solo do inglês Robert Wyatt, então baterista da Soft Machine, é outra experiência radical de isolamento forçado. Porém, esta se deu por um motivo limite: um grave acidente. Na noite de 1º de junho de 1973, em uma festa regada a Southern Comfort COM tequila (receita ensinada pelo parceiro de bebedeira Keith Moon), Wyatt, depois de incontáveis doses, não percebeu que saía a pé por uma janela, despencando sem escalas direito do quarto andar rumo ao chão. Ele acordou só no outro dia numa cama de hospital sem movimentar as pernas nunca mais a partir de então. Quando ele finalmente conseguiu se sentar em uma cadeira de rodas, um dos primeiros objetos que encontrou no hospital foi um velho piano na sala de visitas, onde começou a trabalhar no material de “Rock Bottom”, algo como “fundo do poço”. Após um período difícil de adaptação à sua nova condição, ele começou a gravar faixas no início de 1974 em uma fazenda em Little Bedwyn, numa pacata vila de Wiltshire, sudoeste da Inglaterra, alavancando a unidade de gravação móvel da Virgin Records, estacionada no campo do lado de fora da casa. Para o crítico musical e historiador italiano Piero Scaruffi, “Rock...”, cuja soturna arte da capa também é de autoria de Wyatt, é uma das 15 obras mais importantes da música moderna na segunda metade do século XX.



9. “A Night at the Opera” – Queen (1975)
Local: Rockfield Studios, Rockfield Farm, Monmouthshire, País de Gales

A história desse disco é tão legal, que virou uma das melhores sequências do premiado filme “Bohemian Rhapsody” - faixa, aliás, que exprime com grandeza a importância e qualidade ímpar do disco da Queen. Depois do sucesso dos primeiros álbuns com o grupo e recém contratados por uma grande gravadora, a banda sabia que tinha que trazer algo melhor e novo no álbum seguinte. Pois Freddie Mercury, em alta efervescência criativa, convence o restante do grupo a se instalar temporariamente na Rockfield Farm, uma pequena vila no sudeste do País de Gales, longe do burburinho dos fãs e, principalmente, de qualquer influência que o desviasse do objetivo de fazer, sem modéstia, uma obra-prima. Se a gravadora achou ousado demais e houve críticas à mistura de música clássica com rock, não importa. O fato é que “A Night...” logo estourou, entrou para a lista dos mais vendidos e saiu bem àquilo que Freddie intentava: uma obra-prima.



10. “Changin' Times” – Ike White (1976)
Local: Tehachapi State Prison, Tehachapi, Califórnia, EUA

Se o assunto é disco produzido e gravado num ambiente fechado, “Changin’ Times”, de Ike White, vai ao extremo. Músico prodígio, hábil com vários instrumentos e de uma capacidade compositiva sem igual, ele poderia ter sido um dos grandes astros da black music norte-americanos, no nível de James Brown, Isaac Hayes ou Curtis Mayfield. Só que o destino cruel quis que aquele homem negro tão talentoso quanto pobre fosse sentenciado por um homicídio e passasse a maior parte da vida na cadeia. Mas foi dentro de uma, a penitenciária de Tehachapi, uma pequena cidade no interior da Califórnia, que White, em 1976, ajudado por Stevie Wonder e pelo produtor Jerry Goldstein, revelasse ao mundo aquele é um dos melhores discos da música soul de todos os tempos, o acertadamente intitulado “Tempos de Mudança”. Esses dados são adivinhados pelos agradecimentos na capa do álbum ao superintendente Jerry Emoto, do Departamento de Correções da Califórnia, e ao restante da equipe da prisão "sem cuja ajuda esse projeto não poderia ter sido realizado". E não há mais informações sobre Ike White. Nada. Ano passado, o documentário “The Changin' Times of Ike White”, de Daniel Vernon, revelou alguma coisa mais do pouco que se sabe sobre a lenda Ike White. Porém, ouvindo um disco tão maravilhoso quanto este talvez se conclua que seja isso mesmo tudo que se precise saber.



11. “Bedroom Album” – Jah Wabble (1983)
Local: Dellow House, Dellow Street, Wapping, East London, Inglaterra

Dellow House, sito ao logradouro de mesmo nome, área urbana da Grande Londres, código postal E1. Este é o endereço em que o lendário baixista britânico Jah Wabble gravaria um de seus discos mais influentes para a galera do pós-punk, entre eles, Renato Russo, que ovacionava este álbum. Porém, nem mesmo todas essas indicações geográficas são suficientes para apontar precisamente onde o disco fora concebido, produzido e gravado: o próprio quarto de Wabble. Aliás – assim como o já citado disco da The Band – o título, "Bedrom Album", mais claro, impossível. Depois de ter ajudado John Lydon e sua trupe da Public Image Ltd. a definir o som dos anos 80 e 90, Wabble, não dado por satisfeito e dono de uma carreira solo que passa desde a música eletrônica ao free funk, fusion, experimental e new-wave, faz seu o melhor trabalho até hoje. As linhas de baixo graves e mercadas ganham toda a relevância nos arranjos, que tem como aliada a guitarra do parceiro Animal (Dave Maltby). Os outros instrumentos, todos a cargo do dono do quarto. Semelhanças com a sonoridade da P.I.L., há, como na brilhante “City”, nas arábicas “Sense Of History”, “Concentration Camp” e “Invaders of the Heart”. Uma aula de como fazer um disco brilhante sem sair da cama.

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12. “Blood Sugar Sex Magik” – Red Hot Chili Peppers (1991)
Local: The Mansion, Laurel Canyon, Los Angeles, Califórnia, EUA

A The Mansion, antiga construção na montanhosa Laurel Canyon, em Los Angeles, era lendária e assombrada. Nas décadas de 1960 e 1970, muitos artistas famosos como Mick Jagger, David Bowie, Jimi Hendrix e The Beatles estiveram nela. Conta-se que, nos anos 20, seus donos a abandonaram depois que um homem morreu caindo de sua varanda. Há quem afirme que, quando esteve em seus corredores, as portas se abriam sozinhas. Era o cenário perfeito para que os malucões da Red Hot gravassem "BSSM", seu quinto e mais festejado álbum. Os 30 dias em que Anthony Kiedis, Flea, John Frusciante e Chad Smith se mudaram para a mansão pertencente ao produtor Rick Rubin foram essenciais para que criassem clássicos e hits do rock como "Give It Away", "Under The Bridge", "Suck My Kiss" e "Breaking the Girl". Funk, punk, heavy metal, indie, jazz fusion, pop. Tudo junto e misturado no disco que, junto de “Nevermind”, do Nirvana, fez o rock alternativo sair das cavernas e ir para as paradas.



13. “Wish” – The Cure (1992)
Local: The Manor Studio, Shipton Manor, Oxfordshire, Inglaterra

A The Cure também teve a sua vez de reclusão. Foi para a gravação de “Wish”, de 1991. O trabalho anterior, o celebrado “Disintegration”, foi um sucesso de crítica e público, mas bastante tempestuoso durante as gravações. Último disco com o então integrante formador Lawrence Tollhust, muito desse clima se deve à relação já bastante estremecida dele para com Robert Smith e outros integrantes da banda. Já sem ele, decidem, então, se enfurnar numa mansão em estilo Tudor em Oxfordshire, interior da Inglaterra, a chamada Shipton Manor. Um lugar espaçoso, cheio de espelhos enormes, tapetes persas, lareiras e um enorme mural no átrio. A ideia eram justamente, fugir um pouco de toda a polêmica e as complicações em torno do processo que o Tolhurst movia contra Robert Smith e o grupo. A safra foi frutífera, tanto que rendeu um álbum duplo, o último grande da banda, e com o hit “Friday I’m in Love”, que colocou “Wish” nas primeiras posições em várias paradas naquele ano.



14. “Ê Batumaré” – Herbert Vianna (1992)
Local: Antiga residência dos Vianna, Estrada do Morgado, Vargem Grande, Rio de Janeiro, Brasil

Talvez um desavisado que conheça Herbert Vianna hoje, paraplégico por causa de um acidente sofrido em 2001, pense que “Ê Batumaré”, assim como o disco de Wyatt, seja caseiro por motivos de "força maior". Mas, não. À época, quase 20 anos antes daquele ocorrido trágico, o líder e principal compositor da Paralamas do Sucesso, dotado de todas as funções motoras, estava dando uma guinada sem volta na carreira pela influência da música brasileira em sua música (em especial, do Nordeste). Já se percebiam sinais em discos da banda, como “Bora Bora” (1988) e “Os Grãos” (1991), e se sentiria ainda mais no sucessor “Severino”. Gravado, tocado e cantado inteiramente pelo ele em uma garagem sem tratamento acústico e num equipamento semiprofissional (como está escrito no próprio encarte), ouve-se de Zé Ramalho a Win Wenders, de baião a eletroacústica, de rock a repente, além de instrumentos de diversas sonoridades e timbres e, claro, as ricas melodias que sempre foi capaz de criar. O álbum é o centro desta mudança de paradigma que Herbert trouxe à sua música, à de sua banda e ao rock nacional como um todo. Se à época a imprensa brasileira – sempre pronta para criticar os artistas de casa – recebeu o disco com frieza, considerado-o “experimental” (mentira: eles não entenderam!), nunca mais o rock brasileiro foi o mesmo depois de “Ê Batumaré”.



15. “The Downward Spiral” – Nine Inch Nails (1994)
Local: 10050 Cielo Drive, Benedict Canyon, Los Angeles, Califórnia, EUA

Nos anos 90, o avanço da tecnologia dos equipamentos sonoros dava condições para se montar estúdios portáteis onde quer que fosse. Foi então que o multi-instrumentista norte-americano Trent Reznor pensou: “por que não instalar um em plena 10050 Cielo Drive, a mansão nos arredores de Beverly Hills, Los Angeles, em que, na madrugada do dia 9 de agosto 1969, a família Manson assassinou cinco pessoas, entre elas, com requintes de crueldade, a atriz e modelo Sharon Tate, grávida do cineasta Roman Polanski?” O que para alguns daria arrepios, para o líder da Nine Inch Nails foi motivação. Ali ele compôs o conceitual “The Downward Spiral”, disco de maior sucesso da banda. Reznor, que se mudara para a casa, absorveu-lhe o clima macabro para criar uma ópera-rock cheia de ruídos, distorções e barulho em que o personagem principal passa por solidão, loucura, descrença religiosa e repulsa social. Até o estúdio improvisado ganhou nome em alusão àquele trágico acontecimento: Le Pig, uma referência a uma das mensagens deixadas escritas nas paredes da casa com o sangue dos mortos. Se por sadismo ou mau gosto à parte, o fato é que o disco virou um marco dos anos 90, considerado um dos melhores álbuns da década pouco após seu lançamento por revistas como Spin e Rolling Stone.


Daniel Rodrigues
Colaboração: Cly Reis

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Secos e Molhados - "Secos e Molhados" (1973)


"Foi meu jardim da infância,
um jardim da infância bem
barra pesada (risos).
Enfrentamos o Brasil,
o governo, a polícia,
era transgressão pura."
Ney Matogrosso



Eles foram, assim, uma espécie de mistura de New York Dolls, com Kiss, com David Bowie pelo caráter teatral, pela maquiagem, pela androginia, pela sensualidade, mas no que diz respeito à música, extremamente originais e vanguardistas na proposta, compondo uma sonoridade de influências múltiplas sem abrir mão, no entanto, da brasilidade e das raízes da cultura nacional.
Os Secos e Molhados estreavam em disco em 1973 com um trabalho recheado de ritmos variados, exotismo, lendas, folclore, poesia, psicodelia e rock'n roll. Um grupo de maquiagens exageradas, figurinos extravagantes, performances impressionantes que trazia à frente o expressivo vocalista Ney Matogrosso, um tipo exótico, provocante, cheio de requebrados, trejeitos tresloucados, de atuação singular e interpretações vocais marcantes e impecáveis. Ney chamava mais a atenção por todos os atributos enumerados, mas sua retaguarda, com os músicos Gérson Conrad, Marcelo Frias (que não permaneceu na banda) e João Ricardo, o principal letrista e compositor da banda, eram a garantia de uma sustentação perfeita além de composições precisas, inspiradas e geniais.
O clássico "Sangue Latino", cuja base marcante veio a ser utilizada, tempos depois pelos Titãs na introdução da música "Eu Não Aguento", abre o disco e, como supõe o nome, é cheia de latinidade, numa toada lenta e insinuante, com uma interpretação notável e irreparável de Ney Matogrosso. A segue outro clássico: "O Vira", ilustrado por magias, lendas e personagens fantásticos, e que mesmo com toda a evidente influência do ritmo português que lhe dá o nome, é um rock guitarrado, pesado e cheio de vitalidade.
"O Patrão nosso de Cada Dia" que vem na sequência é uma balada com ares barrocos mais uma vez com o talento de Ney extrapolando os limites; seguem a ótima "Amor", um soul-rock que muita banda por aí sonha em conseguir fazer; o blues psicodélico "Primavera nos Dentes", de belíssima introdução de piano; o rock'n roll bem percussionado de "Assim Assado"; o free jazz acelerado de "Mulher Barriguda"; e "El Rey" de Gérson Conrad (em parceria com João Ricardo, é claro) , uma curta vinheta de belíssimo trabalho de violões.
"Rosa de Hiroshima" uma balada lamentosa, cuja beleza contrasta com o pessimismo da poesia de Vinícius de Morais é outro clássico em mais uma interpretação absurda de Ney nos vocais.
Depois vem a boa, porém comum, "Prece Cósmica"; "Rondó do Capitão", adaptação do poema de Manuel Bandeira; "As Andorinhas", que assim como "O Vira" também remete à música portuguesa; e o fecha o disco de maneira magnífica com "Fala", em mais um show particular de Ney Matogrosso.
Um marco da música nacional! Um disco corajoso. Afrontador na ideia, no conceito, na atitude, na sutileza da poesia. Ícone do rock brasileiro. Do rock,sim! Por mais que em muitos momentos possa não parecer um disco de rock efetivamente, tal a singeleza das letras, a leveza dos vocais, os arranjos de viola ou de cordas, "Secos e Molhados" inova na linguagem alavancando o rock nacional a outro patamar criativo. disco essencial extremamente influente para qualquer banda do cenário pop rock que tenha aparecido depois dele.
antes de finalizar, não poderia deixar de falar da capa, igualmente uma das mais marcantes, criativas e emblemáticas da discografia nacional e que curiosamente, surgiu quase que por acaso, meio de improviso, na hora, no estúdio fotográfico. A ideia de utilizar os produtos de secos e molhados (nome dado a comércio de produtos alimentícios) já existia, no entanto, o lampejo de colocar as cabeças em bandejas, dando uma conotação um tanto antropofágica à imagem, veio na hora, ficando assim os integrantes sentados em tijolos sob a mesa, apenas com as cabeças colocadas em furos feitos nela, com as bandejas encaixadas aos seus pescoços.
Até a capa é espetacular!

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FAIXAS:
1. "Sangue Latino" (João Ricardo/Paulinho Mendonça) 2:07
2. "O Vira" (J. Ricardo/Luhli) 2:12
3. "O Patrão Nosso de Cada Dia" (J. Ricardo) 3:19
4. "Amor" (J. Ricardo/João Apolinário) 2:14
5. "Primavera nos Dentes" (J. Ricardo/J. Apolinário) 4:50
6. "Assim Assado" (J. Ricardo) 2:58
7. "Mulher Barriguda" (J. Ricardo/Solano Trindade) 2:35
8. "El Rey" (Gerson Conrad/J. Ricardo) 0:58
9. "Rosa de Hiroshima" (G. Conrad/Vinicius de Moraes) 2:00
10. "Prece Cósmica" (J. Ricardo/Cassiano Ricardo) 1:57
11. "Rondó do Capitão" (J. Ricardo/Manuel Bandeira) 1:01
12. "As Andorinhas" (João Ricardo/C. Ricardo) 0:58
13. "Fala" (J. Ricardo/Luli)


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Ouça:
Secos e Molhados 1973