Não é inabilidade da Kate Middleton, não, gente! Ela só tava querendo chamar atenção pro MDC desta quarta, entenderam? Vê só como a estratégia deu certo: estão em destaque Elton Medeiros, Helmet, The Claypool Lennon Delirium, Marisa Monte, The Smiths e Ira!, todos devidamente destacados. Ainda, os 50 anos de discos clássicos da música internacional feitos por mulheres, que estão no seu mês. Acertando o jogo dos 7 erros, o programa vai ao ar hoje às 21h, na sabichona Rádio Elétrica. Produção, apresentação e aulinha de Photoshop: Daniel Rodrigues
Cês acham que o espanto da Ivete é porque a Baby anunciou o apocalipse? Que nada! É porque ela ficou sabendo que tem MDC, sim, em plena quarta-feira de cinzas! Depois de tanto pular Carnaval, a folia segue com a boa música de Velvet Underground, Davi Moraes, Helmet, Gal Costa, Ary Barroso e mais. No Sete-List, claro, o fim dos festejos do Momo. Até quem já conhece as sandices da Baby vai se impressionar com a qualidade do programa às 21h, na apocalíptica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e macetada: Daniel Rodrigues.
A galera no M2000 Summer Festival, festival que rodou diversos lugares do Brasil,
com diferentes atrações, naquele ano de 1994. (foto: site da DC Set)
O M2000 Sumer Concert, pra mim, mais que um festival, foi uma aventura! O litoral gaúcho já costumava ter, todo verão, o badalado Planeta Atlêntida, evento que, de um modo geral, sempre baseou seu line-up em atrações, na sua maioria, nacionais de grande apelo popular, mas naquele verão de 1994, uma marca de tênis promovia por, ali mesmo, por aquelas bandas, um festival que se não chegava a ser "alternativo", contava com nomes não tão "batidos" na mídia e de um peso até um pouco maior do que o tradicional evento gaúcho. Se por um lado tinha a "Madonna brasileira", Débora Blando que bombava nas rádios naquele momento com "Innocence" e uma versão de "Decadence Avec Elegance", de Lobão, a acid-house do Anythin Box e a dançante Robin S, por outro tinha nomes como o argentino Fito Páez que embora bastante conhecido está longe de ser um astro pop, o metal progressivo do Dr. Sin que, embora respeitado e reconhecido não era o tipo de coisa que fazia acabeça do grande público, e um tal de Helmet, uns carinhas norte-americanos que eu conhecera havia pouco tempo mas que me encantara com um metal pouco usual de estruturas complexas e um estilo bem despojado e atípico para bandas do seu estilo. Não lembro o que atraiu meus amigos Giuliano e Renê, ou se toparam ir só pelo programa, mas a mim, o que chamava atenção e me fazia querer ir a Capão da Canoa dar uma conferida naqueles shows, sem dúvida, era o Helmet de quem eu, inclusive, já tinha o primeiro álbum, o intenso e arrrebatador "Meantime".
Ok, iríamos os três mas tínhamos alguns problemas: em primeiro lugar tínhamos pouco dinheiro. Tá bom... demos um jeito. Junta um trocado daqui outro dali, segura mais uma semana aquela conta pra pagar, tira daquilo que tava reservado, ede uma ajuda pra mãe e no fim das contas dava pra ir. Tá mas... ir e ficar onde? Não conhecímaos ninguém em Capão da Canoa que pudesse nos dar abrigo e tampouco tínhamos recursos pra alugar uma casa, ficar numa pousada ou algo assim. A solução? Um camping! Ótima solução. Bom, nem tanto... Não tínhamos uma barraca. quer dizer, até tínhamos mas... era só pra duas pessoas. Ok, dois de nós dormiríamos no abrigo de lona e outro ao ar livre num saco de dormir. "Dá pra ser?". Então tá! "Vamos assim mesmo". E fomos.
O festival começava às seis da tarde, então, no dia, pegamos um ônibus na rodoviária de Porto Alegre, ali pelo início da tarde. Tranquilo! Capão fica a mais ou menos uma hora, uma hora e meia da capital, chegaríamos cedo e dava pra procurar um camping e ir numa boa pro show. No busão já fomos "calibrando" com um vinho que o René havia levado. As pessoas só nos olhavam de canto reprovando, por certo, aqueles garotos que passavam aquela garrafa de um lado para o outro pois, além de tudo, não tínhamos conseguido nossos três assentos juntos.
Chegando a Capão da Canoa fomos então providenciar o camping. Se o litoral gaúcho já é repleto de argentinos, com um bom festival e com Fito Páez escalado entre as atrações o que mais tinha na cidade era hermanos e, no camping onde ficamos, não era diferente: só se falava castelhano. Nos entendemos bem, trocamos umas ideias sobre futebol, música e os nossos vizinhos de barraca até nos apresentaram alguns bons sons de metal argentino. Mas era hora de ir para o festival. Tratamos de encher o cantil (e não foi de água) e fomos caminhando até o palco pela beira da praia.
Chegamos!
No início não estava muito cheio pois ainda tocava a banda gaúcha, bem meia-boca, Cidadão Quem, mas, logicamente, conforme ia acabando o horário de praia, ia anoitecendo e as atrações iam melhorando, o lugar ia ficando mais cheio. Acho que nem demos bola pro tal do Cidadão Quem; pelo que lembro só demos uma olhada mais ou menos, meio por cima, no Dr. Sin; ficamos azarando uma garotas durante o show do Anything Box que até ficaram impressionadíssimas com o fato de eu ter ido ao show da Madonna mas, logicamente, incomepotentes como éramos, não tiramos proveito da sensação que causáramos; azucrinamos a vida da Débora Blando plantados na frente do palco, bêbados, chamando a loira de "gostosa", durante praticamente todo o show dela; praticamente apenas ouvimos o bom show da Robin S. de um bar ali perto onde jogamos sinuca e tomamos mais algumas cervejas. Nossa passagem pelo bar merece registro pois lá furei o pano da mesa de bilhar com a minha falta de habilidade para o jogo e o Giuliano levou um tombo, para trás, tentando se encostar numa mureta que não estava onde ele imaginava. Deposi dessa pausa, voltamos para perto do palco para ver o Fito Páez mas, sinceramente teria sido melhor ter assistido ao show da Robin S. que, à distância impressionava pelo vozerio, do que ter voltado para ver o fraquíssimo show do cantor argentino. Depois disso, por fim, de minha parte fui curtir o que me interessava. Não lembro de todos os detalhes do show mas posso garantir que o Helmet não decepcionou. Entraram no palco bem ao estilo deles, de bermudas camisetas, cabelos curtinhos, tão comuns que poderiam ser confundidos com alguns veranistas quaisquer e, olhando para aqueles caras talvez nem desse para imaginar que fossem capazes e produzir todo aquele terremoto sonoro. Foi aquela pegada agressiva e intensa o tempo todo sem deixar a bola cair. Lembro especialmente de ter me surpreendido positivamente pelo fato de terem tocado "Just Another Victim", música que fazia parte da trilha sonora do filme "Judgement Night", e que, originalmente, combinava o metal deles com o rap do House of Pain e, exatamente me surpreendeu a tocarem pelo fato de, ali, não contarem com a parceria dos rappers. Ficou um pouco mais curta, é bem verdade, sem toda a segunda parte, mas ficou uma pedrada.
Helmet - "Just Another Victim" - ao vivo no sonoria Festival - Itália (1994)
Não há registro da apresentação deles em Capão da Canoa, naquela noite
mas segue aqui um vídeo da banda tocando "Just Another Victim" ao vivo, naquele mesmo ano,
num festival com mais ou menos a mesma vibe do M2000 Summer Concerts.
E claro, não teria como não lembrar de "Unsung", o "hit" da banda que fez até as menininhas de praia caírem no metal. De minha parte, eu só queria saber de "poguear" e "benguear", tanto que numa dessas balançadas de pescoço, dei uma cabeçada tão forte em outro headbanger que estava ali por perto que me deixou tontofiquei verdadeiramente tonto a ponto de tudo à minha volta começar a girar. A pancada foi tão forte que até hoje tenho uma certa sensibilidade na área do choque e, desde então acho que fiquei com um certo problema de assimilação e fixação. Mas a pancada valeu a pena. Grande show, embora a maioria do público ali, típicos praieiros esperando por um monte rockzinhos bem palatáveis, não tivesse curtido tanto assim.
Shows terminados, grande festival, agora tudo o que queríamos era voltar para o camping e dormir. A caminhada era longa mas chegamos. O plano era que dormíssemos o René e eu na barraca e o Giuliano, fora, no saco de dormir que ele havia comprado, mas não contávamos com um elemento surpresa: a chuva. Aí não teve jeito. Tivemos que dormir, aqueles três marmanjos, numa minúscula barraca de camping para dois. A tarefa não foi das mais fáceis mas entre cutucões, roncos, pés, apertos, tudo deu certo. Superada a noite desconfortável, agora, pela manhã seguinte, era só juntar as coisas e tratar de voltar pra casa. Mas o que parecia simples não foi tão natural assim. Havíamos torrado praticamente toda a grana em bebidas na noite anterior e pouco havia sobrado em dinheiro vivo, e o problema é que, na época (e lá se vão 26 anos!), embora tivéssemos cartão de banco para saque, não era tão comum ter caixas eletrônicos a cada esquina como acontece hoje, ainda mais em uma localidade litorânea. Aí que não conseguíamos sacar dinheiro para comprar as passagens de volta e tampouco a rodoviária, naquela época, diferentemente de hoje, aceitava pagamentos com cartão. O que fazer? O Giuliano lembrou que tinha uns poucos dólares na carteira mas, com a cotação alta, como nos dias de hoje, aquilo ali renderia uns bons Cruzeiros Reais e, na ausência de uma casa de câmbio aberta em pleno domingo, a solução foi trocar com uns taxistas. Deu certo. Conseguimos dinheiro o suficiente para comprarmos as passagens. Foi ali, ali. Sobrou só uma meia dúzia de trocados e, como não tínhamos almoçado ainda, tudo o que deu para comprar com o que sobrou foi... uma melancia. Foi nosso almoço.
Mas tudo deu certo! Tudo meio improvisado, bem farofada mas deu. Programa de índio? Visto assim com tantos percalços e imprevistos, pode até ter sido, mas são aventuras como essa que fortalecem amizades e garantem boas histórias para se contar depois. E e essa é uma delas. Uma daquelas que sempre vão render risadas e vão ficar para sempre nas nossas memórias.
O rock leva ao satanismo? Então, é o próprio diabo que nós queremos no Música da Cabeça. Vamos ter muito rock para desfazer tudo que é família certinha e hipócrita: Neil Young, Helmet, New Order e Beatles só pra começar. Ainda tem a MPB de Chico Buarque, Milton Nascimento e Gilberto Gil, a soul de Bill Whiters e Stevie Wonder e até o sertanejo de Leandro & Leonardo. Raulzito estava certo: o diabo é o pai do rock, e no MDC ele é sempre bem-vindo. Igual a hoje, às 21h, na satânica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e guampinhas pontudas: Daniel Rodrigues.
Chega de verdades inventadas! Se é pra falar de invenção,
que sejam as das músicas que nos acompanham na semana. Hoje, várias delas vão
compor um programa superlegal que ninguém ousará dizer o contrário. Afinal, o
que dizer de Helmet, Egberto Gismonti, Mutantes, Racionais MC’s ou Steely Dan?
Não tem revisionismo historio (ou ignorância mesmo) que desdiga isso. Ainda, um
“Palavra, Lê” que revisita Cacaso, um “Música de Fato” sobre o vexame
diplomático brasileiro e um “Sete-List” que versa sobre literatura e ditadura. Recado
dado, agora é só sintonizar na Rádio Elétrica, às 21h, e não perder o Música da
Cabeça. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (e, sim: foi golpe em 64, e
sim 2: nazismo não é de esquerda.)
Uma das coisas mais impressionantes que já presenciei em um show de
música foi numa apresentação de Naná Vasconcelos. Algo tão impressionante que
me leva a relativizar, inclusive, os termos que acabo de usar: “apresentação” e
“show de música”. Não me refiro necessariamente à emoção de assistir a um
artista que se gosta, o que, por si, já causa impressão. Naná foi um deles,
assim como foi Paul McCartney, Gilberto Gil, Morrissey, Maria Bethânia, Helmet, Di Melo, The Cure, Monarco, Primal Scream, Milton Nascimento, e por aí vai. Só
vê-los num palco, gigantes que se tornam – alguns, de baixa estatura como Caetano Veloso ou Vitor Ramil, mas enormes entidades quando cantam –, é um
momento especial.
Refiro-me a outra coisa. Esse show de Naná foi em 2010, no Salão de
Atos da UFRGS, em Porto Alegre. A começar, não havia mais ninguém no palco:
apenas o gênio pernambucano (mais um deles) cujos tambores e percussões foram responsáveis
por virar de ponta-cabeça a música do século XX com sua arte originalmente
universal, forjada no âmago mais recôndito da África negra mas sensivelmente
generoso aos sons de todo o mundo. Tudo que se fala hoje em termos de inclusão,
diversidade, cosmopolitismo e até sustentabilidade estavam presentes desde
sempre na música de Naná. As reminiscências da humanidade estão preservadas em
seus sons, a manifestação inata e orgânica do corpo em movimento também, assim
como entenderam Meredith Monk, os tap dances norte-americanos, Dorival Caymmi, Violeta Parra, os bluesmans do Mississipi.
Pois, por toda essa complexidade – extremamente natural de ser sorvida
e apreciada com a maior das facilidades –, questiono que aquilo tenha sido uma
“apresentação” e necessariamente de “música”. Ele, sozinho no palco, rodeado de
alguns instrumentos percussivos (não muitos), não simplesmente apresentou, mas
experenciou algo a nós, plateia. E não somente um show, o que seria simplório,
mas, por cerca de 1 hora, vivemos um momento de humanidade. Conversou e contou
histórias com a simplicidade contrastante de um tímido acostumado a comandar
públicos há décadas. Mas, principalmente, tocou. Tangeu, atritou, bateu,
produziu sons. Ele e instrumentos eram a mesma coisa. Do mesmo barro.
Independia a nós, que ouvíamos sua arte e certamente, antes de mais nada, a ele próprio, se os sons emanavam do seu aparelho
vocal, do berimbau, da pancada com as mãos em sua própria pele ossuda e
ressonante ou da sua respiração. Ecos, reverberações, estampidos, fala,
raspados, vibrações: tudo de igual origem.
Provavelmente só vira tal integração natureza/homem quando assistira
Monk ano passado, quando esta recolhera o repertório de 50 anos de pesquisas e
aprofundamento de sua “música impermanente”. Com Naná, entretanto, a
comunicação foi maior. Costumaz colaborador de tantos e tantos artistas e
bandas pelo mundo, em realidade não precisava de mais ninguém num palco. Quando
o vi, havia Naná e centenas de outros. Todos dentro dele. Naquele dia, quem teve
a sorte de estar na plateia – e isso certamente ocorria a muitos e em qualquer
lugar que fosse, dada a generosidade de sua arte – teve a chance de
experimentar essa sensação tão natural a nós, humanos, e, curiosamente, tão inacesssada.
Foi quando, para terminar o “encontro” (nego-me a classificar somente
como “show”), Naná convidou a nós da plateia a produzir o som do Rio Amazonas
quando chove... Sim, o som da água, da chuva caindo no rio e na mata! Como um
maestro – ou um mago –, regeu-nos. Sob seu comando emitimos sons guturais e
batíamos palmas acompanhando um ritmo que ele conduzia em gestos. O resultado foi
algo simplesmente transcendente. Estávamos ali, sim, imitando o som da chuva na
selva. Tornamo-nos água naqueles instantes, rumamos direto para àquilo que nos
forma, que nos rege, aquilo que nos compõem em maioria em termos físicos e
espirituais. Vibramos todas nossas moléculas e as harmonizamos no ritmo das
ondas, sob a orientação dos ventos, sob a influência dos astros. Voltamos ao
útero. Sentimos a pureza.
Não sei do restante das pessoas, mas eu nunca mais fui o mesmo a partir
daquele momento. Mesmo que pouco, aquela experiência me mudou para sempre de
alguma maneira, a ponto de, hoje, quando Naná Vasconcelos deixa esse planeta do
qual tanto compreendeu e simbolizou com beleza, lembrar-me justamente desse
episódio. Ele dizia que nunca iria gravar aquilo, pois era uma experiência para
ser vivida. Eu vivi. E virei água como ele.
Reouvindo uma das músicas que mais gosto do Nirvana,
ocorreu-me: que outras canções de rock da década de 90 competiriam com ela? Já
havia me batido essa curiosidade ao escutar outras obras da mesma época, mas
desta vez a proposição veio com maior clareza de resolução. A música referida é
“Serve the Servants”, que Cobain e cia. gravaram no último disco de estúdio da
banda antes da morte do compositor e vocalista, o memorável “In Utero”, de 1993.
Aí, interessou-me ainda mais quando percebi que o mesmo grupo, referência do
período, encabeçaria a seleção. Pus-me, então, à gostosa prática de inventar
uma lista: quais os 20 maiores sons de rock ‘n’ roll dos anos 90? Como
critério, estabeleci que valem só composições escritas na década mesmo e sem
produções contemporâneas de roqueiros veteranos, como Iggy Pop (“To
Belong” podia tranquilamente vigorar aqui), The Cure (“Fascination
Street”, que desbancaria várias) ou Jesus
and Mary Chain (“Reverance”, como diz a própria letra, matadora). Quanto menos
competir com versões definitivas para músicas mais antigas, como a de Johnny
Cash para “Personal Jesus”, do Depeche
Mode, ou a brilhante “The Man Who Sold the World” de David Bowie pelo
Nirvana, em seu "MTV
Unplugged in New York" .
Esta lista vem se juntar com outras que o clyblog já propôs aqui (inclusive, a uma não de
músicas, mas de álbuns
dos anos 90) e que, como qualquer listagem que lida com gostos e
preferências, é apenas uma janela (aberta!) para que outras elencagens sejam propostas.
Querem saber, então, o meu ‘top twenty’
do rock noventista? Aí vai – e com muita guitarrada e em volume alto, como sempre
será um bom e velho rock ‘n’ roll:
1 – “Smells
Like Teen Spirit” – Nirvana (1991)
2 –
“Lithium” – Nirvana (1991)
3 –
“Unsung” – Helmet (1992)
4 – “Only
Shallow” – My Bloody Valentine (1991)
5 – “Paranoid
Android” – Radiohead (1992)
6 –
“Gratitude” – Beastie Boys (1992)
7 – “All Over the World” – Pixies (1990) 8 – “Enter Sandman” – Metallica (1991) 9 – “Eu Quero Ver o Oco” – Raimundos (1996) 10 – “Wish” – Nine Inch Nails (1991) 11 – “Kinky Afro” – Happy Mondays (1990) 12 – "There Goes the Neighborhood" – Body Count (1992) 13 – “N.W.O.” – Ministry (1992) 14 - "Suck My Kiss" – Red Hot Chilli Peppers (1991) 15 - “Serve the Servants” – Nirvana (1996) 16 – "Jeremy" – Perl Jam (1991) 17 - “Army of Me” – Björk (1995) 18 - “Govinda” – Kula Shaker (1995) 19 - “Da Lama ao Caos” – Chico Scince e Nação Zumbi (1994) 20 - "Dirge" – Death in Vegas (1999)
“Riffs de fusão zeppelinesca com uma precisão pós-hardcore veemente, intensificados por acordes densos e linhas fora de compasso baseadas na formação de jazz formal de (Page) Hamilton.”
Definição do estilo da banda no site oficial do Helmet
Uma das coisas que sempre apreciei no jazz é não somente aqueles solos magníficos, mas, tanto mais, a criatividade na invenção das bases e a execução do chorus, momento em que todos os instrumentistas tocam juntos o “riff” com uma perfeição tamanha que parece sair de uma máquina sonora. Acham que me enganei de estar falando de jazz ao invés do rock pesado do Helmet? Não, não estou equivocado. Talhados no jazz, os músicos do Helmet são o melhor exemplo do quanto o estilo mais americano de todos influenciou até o rock alternativo. Um dos melhores resultados desta alquimia está em “Meantime”, segundo disco de carreira do grupo e auge da maturidade musical do líder, cantor, guitarrista e compositor Page Hamilton.
“Meantime” é um dos grandes discos de rock pesado dos anos 90 – ali, ali com “Chaos AD” do Sepultura e o “disco preto” do Metallica – e do qual guardo a lembrança de ter sido um dos primeiros CD’s comprados por mim e meu irmão logo que este tipo de mídia começou a ser comercializada no Brasil. Além disso, foi o disco que me fez conhecer a banda, depois de vê-los na MTV e surpreender-me com aquele som furioso e, ao mesmo tempo, original e precioso como uma calibrada máquina de produzir barulho. Tal um chorus de jazz. Trata-se de um trabalho que sintetizou os estilos de rock pesado, dando uma roupagem híbrida e toda pessoal às características de massa sonora em volume alto.
Assim, heavy metal, hardcore, punk rock, surf music, grind core, pós-punk; tudo é filtrado pelo som do Helmet. Neles, ouve-se de Led Zeppelin a Exploited, de Trashman a Ratos de Porão, de Ministry a Television. Antes, já tinha escutado o Prong, banda nesta linha, mas na qual faltava alguma coisa que eu não identificava ao certo. Essa “coisa” era exatamente aquilo que o Helmet fez em “Meantime”. Variações rítmicas, transições pouco óbvias entre as várias partes, dissonâncias, afinações e sonoridades bem definidas. Tudo num som seco e direto, que não dá descanso aos ouvidos do início a fim. O feito obteve êxito: “Meantime” foi indicado ao Grammy, levou disco de ouro e botou pilha para que muita banda alternativa se formasse.
“In the Meantime” abre os trabalhos dizendo a que veio. Na introdução, todos os instrumentos entram juntos estourando a caixa, num extenso rolo e em escala ascendente, até dar lugar à bateria funkeada do ótimo John Stanier e a base roncada e “torta”, que quebra a linha de tempo 2 e 2 com um tempo a mais. Além disso, a voz de Hamilton, outro fator peculiar no Helmet, não é, mesmo quando esbravejada, um arroto de trash metal, em que não se entende nada do que se está cantando, nem doce e entoada como um pop suave. Assim como o som da banda, o estilo vocal dele acha um meio termo sutilmente interessante.
“Give It” contrasta o vocal melodioso com o tema bem heavy. O compasso arrastado sofre um pequeno “atraso” da bateria, que sincopa a música entre os urros de guitarra. Também “quebrada”, num esquisito tempo 6x6, “Turned Out” é composta de várias partes que se encaixam em perfeita harmonia. “Ironhead”, outra incrível, tem uma levada acelerada, principalmente durante o solo, onde vira um hardcore pogueado.
Em “Better”, das minhas preferidas, o vocal mais raivoso de Hamilton no álbum dá a falsa impressão de estar fora de sincronia com o instrumental, este, um simples e engenhoso jogo de quatro acordes que se repetem no segundo tempo, mas inversamente. Porém, o ponto alto é justamente o maior sucesso comercial do Helmet: a matadora “Unsung”. Lembrando “California Über Alles” do Dead Kennedy's na introdução, é composta num maluco 1-2-3/ 1-2-3/ 1-2-3 / 1-2-3-4-5-6-7-8-9. Consegue ser pegada e melodiosa ao mesmo tempo. Na base, os ataques de baixo-guitarra entre um breve silêncio e outro, finalizados por um soco da bateria, parecem choques elétricos estridentes que se ligam e desligam de um barulhento aparelho com defeito. “Role Motel”, com uma levada funk da bateria, simétrica como um relógio, fecha o disco sob um mar de distorções, no mesmo espírito que começou.
Como disse noutro post deste blog, quando estive no show da banda , o som do Helmet é simplesmente um rock bem feito: enfurecido, de guitarras distorcidas, bateria pulsante e baixo rosnando, porém sempre inteligente e bem composto, até complexo às vezes, mas sem cair no virtuosismo apelativo. Dá a impressão de que veio por ordem na casa do hard rock, tão combalido entre poucas coisas boas e um monte de porcaria. Parecido, em termos, com coisas de jazz moderno: um Mahavishnu Orchestra, John McLaughlin, VSOP ou uma Carla Bley. Entretanto, acima de tudo, “Meantime”, prestes a completar 20 anos de lançamento, é e continua sendo exemplo de rock ‘n’ roll bem feito. Puto. Potente. Empolgante.
Em 1994, por algum abobadice da qual não me recordo, não fui a Capão da Canoa, cidade próxima a Porto Alegre, para o festival de música M2000 Summer Concert, que, apresentava como atrações um monte de babas como Deborah Blando, Robin S. e otras coisas do gênero, mas que curiosamente trazia também o alternativo Helmet, a melhor banda de rock pesado surgida nos anos 90 e a qual eu já adorava àquela época. Perdi e nunca me perdoei por isso. Até que, passados 17 anos daquele descuido, o Helmet volta ao sul, agora exatamente em Porto Alegre, para uma única apresentação no pub Beco. Não podia deixar escapar dessa vez. Juntamente com o povo que lotava o local, pude conferir o grande show que o grupo apresentou, tocando clássicos do seu repertório.
O Helmet parecia estar curtindo o show. A galera agradece!
O show abriu com uma das clássicas: “Wilma’s Rainbow”, cantada com emoção por todos no marcante refrão: “Wathershed we comes/ You’re flush with fever/ The richest junk dealer". Já nesta, a banda, liderada pelo excelente compositor e guitarrista Page Hamilton, mostra a perfeição na execução das complexas linhas melódicas, característica própria da banda. Isso, claro, aliado a muita pegada, flertando direto com o hardcore e o heavy metal, não sendo, apesar de tudo, nenhum dos dois. Aliás, esta é uma marca do Helmet: é simplesmente um belíssimo rock, enfurecido, de guitarras distorcidas, bateria pulsante e baixo que rosna, mas sempre inteligente e bem composto, mas sem apelar para o virtuosismo masturbatório. Isso se pôde perceber nas excelentes “Vacccination”, com sua criativa variação de 3 e 6 tempos, “Milquetoast”, muito festejada pelo público, e “Give It”, com seu tempo “atrasado” de bateria que sincopa a música entre um urro de guitarra e outro.
Galera ainda meio comportada. Bem à esq., na parte inferior, um pedaço da minha cabeleira, antes de me juntar à roda do pogo.
Como cheguei já com a casa cheia, posicionei-me, antes do show, pelo meio da pista; mas a intenção era, quando começasse, cair na roda punk. Rolaram as primeiras músicas, e os que estavam logo à minha frente só assistiam parados. Fazer o quê? Direito deles, né? Mas quando a banda tocou a furiosa “Turned Out”, com seu vocal raivoso e sua estrutura toda “quebrada”, não pude resistir: saí abrindo passagem a socos e pontapés para misturar-me à saudavelmente ensandecida galera que pogueava. A glória! E ali fiquei até o fim. Vieram na sequência a emputecida “Ironhead”, “Role Motel” (das minhas preferidas) e “Better”, todas do célebre álbum “Meantime”, de 1992.
Os simpáticos integrantes mostraram o tempo todo estarem se divertindo, agradecendo, inclusive, várias vezes a presença do público. Mas o ponto alto foi, de fato, “Unsung”, maior hit da banda, quando a plateia toda cantou junto. No bis, três músicas, fechando com nada mais, nada menos que “Just Another Victim”, da trilha sonora do filme “Judgment Night” que, na original, é tocada junto com os rappers do House of Pain. Mas como só tinha Helmet no palco, a segunda metade da música, quando entraria a parte do rap, teve uma ótima solução: emendaram-na com “In the Meantime”, a joia que abre o disco mais conhecido da banda.
Já na rua, com os ouvidos zunindo e a canela doída por causa de um chute, ao invés de pegar um táxi, preferi sair caminhando, curtindo aquela sensação gloriosa pelo show que acabara de acontecer. A cada música que me lembrava, bengueava sozinho pela noite porto-alegrense. Voltei para casa com o sentimento de que, agora, estou perdoado por mim mesmo.
Fiz recentemente duas aquisições relacionadas com o fascinante mundo dos desenhos animados, que de certa forma coloriram nossas infâncias e mesmo hoje ainda fazem mundo marmanjo parar na frente da TV e dar risada das "maldades" do Pica-Pau, do sadismo do Pernalonga ou do silêncio charmoso da Pantera-Cor-de-Rosa:
"ANIMAQ - O ALMANAQUE DOS DESENHOS ANIMADOS", de Paulo Gustavo Pereira
Um deles é "ANIMAQ - O Almanaque dos Desenhos Animados", uma publicação que acaba sendo um adorável exercício de nostalgia para os fãs de desenhos animados. Lembrar de desenhos esquecidos, de personagens queridos, seus gritos de guerra, seus bordões, seus uniformes. O livro faz uma linha de tempo, desde os anos 30 até hoje, com as datas de produção e exibição, com breves descrições do desenho citando origens, apetrechos, frases, temas musicais e em alguns casos episódios marcantes.
Bastante completo e bem pesquisado, vai desde Betty-Boop, passando pelos clássicos da Hanna-Barbera (Zé Colméia, Flintstones, Scooby-Doo), os da Warner Bros. (Pernalonga, Papa-Láguas, Patolino); os heróis da Marvel (Homem-Aranha, Homem-de-Ferro) e os da DC (Batman, Super-Amigos), citando mangás como Speed-Racer e Cavaleiros do Zodíaco, até chegar aos mais atuais como South Park, Dexter ou os Backyardigans.
Ponto negativo são as excessivas repetições de informação, tipo, se um desenho teve mais de uma versão em décadas diferentes, automaticamente alguma informação acaba sendo mencionada novamente no texto da outra temporada, bem como quando faz menção a desenhos relacionados (algo como, falar de Wally Gator na parte dedicada a ele e repetir a informação quando fala da Hiena Hardy porque fazia parte do Show do Wally Gator também) ou voltar a falar de todos eles nos textos especiais sobre as produtoras (HB, Warner Bros., Disney) o que acaba só acumulando linhas, páginas e deixando por vezes uma leitura ou pesquisa que deveria ser prazerosa, cansativa, repetitiva e meio chata. Mas este defeitinho não é suficiente pra derrubar o bom trabalho do autor, Paulo Gustavo Pereira, e no fim das contas o livro é uma viagem bem legal no túnel do tempo.
Nas páginas finais ainda tem uns extras com alguns textos das locuções de abertura de desenhos como o inesquecível da Corrida Maluca, "aqui estão agora os volantes mais birutas do mundo"; e letras das canções tema, como, por exemplo, a do divertido George da Floresta, "George, George, George of the Jungle/ Strong as he can be/ watch out for that tree!", aí ele dava aquele grito longo imitando Tarzã e dava com a cara na árvore.Lembram?
Pois é, o "ANIMAQ" nos traz este refresco de memória.
Um barato!
"SATURDAY MORNING - CARTOONS GREATEST HITS (1995)
E a propósito de canções de desenhos, a outra compra foi o CD "Saturday Morning", que tem trilhas de desenhos animados gravadas por diversas bandas de rock. Foi lançado em 1995 mas só agora o tenho de verdade. Tive em cassete há um tempo atrás, deixei de ter fitas, tentei baixar na internet e não encontrei, e agora como topei com ele por um precinho camarada, trouxe pra casa.
Nem tudo é MUITO BOM. Coisas como a trilha dos Banana Splits cantada por Liz Phair é bem mais-ou-menos, a dos Bugaloos com Colective Soul é outra bem fraquinha, e o Frente! tocando um tema dos Flintstones ("Open Up Your Heart and Let the Sun Shine In") é muito chato. Mas coisas como "Underdog", tema do Vira-Lata - O Super Cão, com os Butthole Surfers, "Gigantor" com o Helmet, o pequeno medley de "Johnny Quest e Pegue o Pombo" do Reverend Horton Heat, e principalmente a punkíssima versão de "Spiderman" dos Ramones, valem o CD.
Pra animar definitivamente as manhãs de sábado ou qualquer hora de qualquer outro dia da semana.
FAIXAS:
1. Tra la la Song (One Banana, Two Banana) [The Banana Splits] - Liz Phair with Material Issue
2. Go, Speed Racer, Go! [From Speed Racer] - Sponge
3. Sugar, Sugar [From the Archie Show] - Mary Lou Lord with Semisonic
4. Scooby-Doo, Where Are You? - Matthew Sweet
5. Josie and the Pussycats - Juliana Hatfield and Tania Donnely
6. The Bugaloos - Collective Soul
7. Underdog - Butthole Surfers
8. Gigantor - Helmet
9. Spiderman - Ramones
10. Johnny Quest/Stop That Pigeon - [from Dastardly and Muttley in their Flying Machines] The Reverend Horton Heat
11. Open Up Your Heart And Let The Sun Shine In - [from The Flintstones] Frente!
12. Eep Opp Ork Ah-Ah (Means I Love You) - [from The Jetsons] Violent Femmes
13. Fat Albert Theme - [from Fat Albert and The cosby Kids] Dig
14. I'm Popeye The Sailor Man - face to face
15. Friends/Sigmund And The Seamonsters - Tripping Daisy
16. Goolie Get-Together - [from The Groovie Goolies] Toadies
17. Hong Kong Phooey - Sublime
18. H.R. Pufnstuf - The Murmurs
19. Happy, Happy, Joy, Joy - [from Ren and Stimpy] Wax