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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

"Verissimo", de Angelo Defanti (2023)


por Leocádia Costa

“Tudo em Verissimo – a emoção, o lirismo, o drama e até a erudição de quem leu, viveu, ouviu e assistiu do bom e do melhor – é contido e temperado pela autoironia e por um humor generoso e irresistível”. 
Zuenir Ventura – "Conversa sobre o tempo"

“A vida privada do brasileiro, contudo, é o seu forte – ou as comédias da vida privada, para dizer melhor. Os rituais do namoro e do casamento, o sexo, as infidelidades, o choque de gerações, tudo isso é um prato cheio para o escritor. Quanto ao humor de Verissimo, ele é de um tipo muito especial. Por mais incisivas que sejam, suas piadas nunca destilam raiva. Ele não procura o fígado do leitor nem professa um humor amargo, desiludido com a humanidade. Verissimo afirma que, à medida que envelhece, talvez esteja caminhando para um ceticismo terminal, daqueles que não dão desconto. Mas ainda não chegou lá.”
Revista Veja, em reportagem de capa sobre Luis Fernando Verissimo

“Superlativo já no nome, Verissimo possui dois instrumentos de audição, dois de visão, um, bifurcado, de olfato, um gustativo (exemplarmente cultivado) mas, homem cheio de dedos, é bom mesmo no tato. Humorismo nunca ninguém lhe ensinou. Ele se riu por si mesmo.” 
Millôr Fernandes - "Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos"


Assistir ao filme do multiartista Luis Fernando Verissimo é vivenciar a passagem do tempo e a chegada da maturidade de um homem perto de completar os seus 80 anos de vida. 

O filme começa de uma forma muito bonita, revelando o dia a dia, a rotina desse escritor, a sua escuta permanente de todos os sons ao redor, a sua relação íntima com a família (com a esposa Lúcia, com os filhos Pedro, Mariana e Fernanda, com os netos Lucinda e Davi), a sua predileção apaixonada pelo time do coração, Internacional. Aliás, essa é uma das paixões, além da literatura, que temos em comum, pois também me tornei igualmente torcedora, de forma irreversível, após sucessivas experiências traumáticas: vestir uma camiseta pinicante do Grêmio quando criança, uma apreensiva ida ao estádio clássico da Medianeira e passar 90 minutos na iminência de receber um saco de urina na cabeça, e por fim, namorar um gremista... disso tudo  se salva somente a entrada do almoço do restaurante Mosqueteiro, que era “mara” e onde fui com meus pais algumas vezes ainda na primeira infância. 

Voltando ao filme: o documentário mostra uma série de relações que foram se estabelecendo no decorrer do tempo entre a sua produção literária, a sua produção jornalística e a sua forma de estar no mundo. É um filme que encanta a gente! Deixa-nos ver de forma tão íntima a rotina dele e nos permite encontrar um escritor com o corpo idoso, mas com uma mente superligada em tudo que está acontecendo. Verissimo tem uma incrível curiosidade, um senso de humor permanente, né? E de uma forma muito imediata, embarcarmos naquilo que a gente poderia dizer que é o imaginário dele, sabe? 

Momento de intimidade com os netos
No filme me chamou atenção a relação dele com a neta Lucinda, a mais velha entre os netos e muito parecida com ele. Os dois se entendem no olhar, se entendem nas pausas e se entendem nessa “maluquice do bem” que é vivenciar mundos paralelos diversos, enquanto inventam personagens, estórias e situações, só para se divertir, só por ser prazeroso, só por haver essa troca entre os dois. Avô e neta, escrevendo os dias – é tocante. 

O filme me fez lembrar também da primeira vez que eu entrei na casa dos Verissimo. Porque essa casa tem uma identidade muito forte: é uma casa que estrutura parte da história de uma família, desde a existência dos pais do cronista, o renomado Érico Verissimo e a Dona Mafalda. Interessante perceber que pai e filho souberam costurar o tempo em suas existências. Foi ali que o valioso núcleo familiar vivenciou e construiu suas vidas em Porto Alegre. Ver Luis Fernando ali, nesse ambiente tão fértil, e ao mesmo tempo, tão sólido, onde tudo continua existindo é, sim, parte dessa história. 

Lembrei-me da primeira e única vez que eu entrei, lá em 1997, quando eu fui entrevistá-lo para o meu Trabalho de Conclusão de Curso da PUCRS, em Comunicação Social – Publicidade intitulado: “Comédias da Vida Privada – uma produção ficcional na televisão brasileira”. Quem conseguiu o contato foi a minha queridona Gagá (Maria da Graça Dhuá Celente), que era amiga da família, coordenava o Departamento de Publicidade da FAMECOS/PUCRS, onde eu, estudante quase me formando, era sua monitora e na mesma instituição que eu havia sido sua aluna. Ela, com toda a gentileza, colocou-me em contato com a agente literária e com a esposa do Verissimo. Eles se conheciam acredito que dos tempos da publicidade em que Verissimo foi redator no Rio de Janeiro, mesma cidade em que conheceu sua esposa, Lúcia. Uma ponte muito amorosa se ergueu naquele momento, reverberando posteriormente na minha entrada em outros mundos literários. Gagá me ingressou na Publicidade e, de certa forma, me fixou na Literatura.

Em 09 de junho de 1997, foi apresentado o TCC para uma banca potente, com a cineasta Flávia Seligman, a Gagá e o professor Bob Ramos, além da minha orientadora, Ana Carolina Escosteguy. Falar nessa produção do “Comédias da Vida Privada”, que era muito contemporânea, ainda fresca e presente na televisão e que me deixava totalmente arrebatada, foi algo ousado, mas somente hoje, depois de 27 anos, é que percebo isso. Naquela ocasião, tinha o dever de concluir, em meio a tantos compromissos, uma faculdade. Percebi, muito jovem, esse trâmite entre a Literatura e o Audiovisual, e as entrevistas que se sucederam com Jorge Furtado e Carlos Gerbase me deram essa certeza de que estava com uma percepção fina da realidade.

Como leitora do Verissimo, eu vi verter das páginas que ele tinha escrito, diálogos para televisão com atores e atrizes de uma geração supertalentosa e muito bem dirigidos. Ao entrar naquela casa fui bem recebida pela Dona Lúcia e por ele, que chegou silenciosamente e timidamente sentou-se numa cadeira thonart em frente à minha. Ficamos os dois em cadeiras por alguns minutos ali. Um pouco tímida, fui fazendo perguntas para ele e ele me respondendo, algumas de forma mais breve e outras com o maior profundidade, com a maior atenção.

 O som da rua e o som do relógio estavam presentes naquele meu encontro com Verissimo, como se um estivesse conectado ao mundo externo e o outro marcasse o tempo interno. E no filme esse quase personagem constante se mostra pelo som, o que me trouxe a mesma sensação de quando entrei na casa.

O reservado Verissimo em seus momentos de retiro

Eu estava na frente de uma pessoa que eu admirava muito e simpática a mim, mas totalmente reservada. Ele escutava muito, e isso para mim, que sou super tagarela, foi me dando um senso maior de responsabilidade do que dizer sem ser óbvia ou burra. Mas o fato é que a entrevista foi muito boa, me rendeu algumas informações direto do autor daquela produção toda, que eu rapidamente adicionei no meu trabalho. Um tempo depois enviei uma cópia do TCC para ele ter/ler e fiquei muito surpresa quando soube que ele havia adicionado ao site que ele mantinha com indicações de obras, entre outros itens e indicações de trabalhos sobre a sua produção. Então, acabei concluindo que ele leu e gostou! 

No filme aparece uma cena poética desse respeito que ele tem com as pessoas que se dirigem a ele, como leitoras ou como referência, na espera de uma leitura daquilo que escrevem. O retorno que ele proporciona para quem abre esse diálogo sincero com ele é muito bonito! Um misto de gentileza com escuta, algo cada vez mais raro na sociedade em que se vive. Enquanto eu assistia ao filme tudo isso emergiu, revelando, inclusive, algumas pessoas importantes da minha biografia, além do próprio Verissimo e da Gagá. Relembrei que havia conhecido a Lúcia Riff (agente literária dele e de boa parte dos escritores brasileiros) não num trabalho da Casa de Cultura Mario Quintana, através do Sergio Napp e, sim, nesse momento aí, do TCC, sendo que a Lúcia até hoje é uma pessoa importantíssima em minha vida. Ela foi quem sempre me apoiou e me deu aval para que eu pudesse desenvolver vários trabalhos com a obra do Mario Quintana e foi muito bonito rever a nossa história a partir deste filme. Além dela, outras personagens importantes aqui da nossa cidade aparecem e se relacionam com a momentos da vida de Verissimo e da minha: o inventivo Cláudio Levitan, o poeta Mario Pirata e a pesquisadora Maria da Glória Bordini, pessoas que fazem parte da história de Porto Alegre. 

Foi muito emocionante para mim assistir Verissimo completar 80 anos através deste filme, pela TV após ter sido impedida de ver no cinema, em maio deste ano, em função das enchentes que atingiram não somente a programação da estreia mas a sala de cinema onde aconteceria a exibição. Verissimo sempre esteve muito presente na minha casa, era lido por meus pais, muito antes de eu ser sua leitora. Nestes mais de 40 anos que eu convivo com seus pensamentos e senso de humor muito lúcidos e geniais, volto a dizer que os artistas não deveriam se afastar dos seus ofícios. Sendo eternos mesmo quando se tornam um dia invisíveis à nossa percepção, a obra, o olhar e o recorte do tempo permanecerão imortais para quem os leu profundamente. O tempo é uma realidade com a qual precisamos saber lidar. Afinal, somos nós quem passamos por ele e, Verissimo faz isso de maneira suave, constante e inspiradora. 

Obrigada, Verissimo, por tanto! E agradeço também por esse encontro às sensíveis e generosas mulheres Gagá e as “Lúcias” Verissimo e Riff.

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tralier oficial de "Verissimo"


"Verissimo"
Direção: Angelo Defanti
Gênero: Documentário
Duração: 90 min.
Ano: 2023
País: Brasil
Onde encontrar: NET/Claro - Now


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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Aula “Cinema Negro”, por Daniel Rodrigues - Curso “História e Linguagem do Cinema Internacional” (11/07/2024)

 

Mais uma experiência de cinema que vivencio com muita alegria: ministrar uma aula. Pra quem alimenta o desejo da docência há algum tempo, esta ocasião, ocorrida neste mês de julho, foi realmente especial. Convidado por meu amigo e colega de profissão, de crítica de cinema e de Accirs, Danilo Fantinel, dividi um pouco de meus conhecimentos e entendimentos sobre “Cinema Negro” dentro da programação do curso “História e Linguagem do Cinema Internacional”, ministrado por ele desde abril de forma híbrida.

Além do meu módulo, o curso, em andamento, compreendeu outros 26 no total, trazendo temas como: “Do primeiro cinema à linguagem clássica” ou “Som no cinema, era de ouro de Hollywood e gêneros cinematográficos”. Também tiveram, assim como eu, outros convidados, como meus também colegas de Accirs Fatimarlei Lunardelli (“Cinema Novo”), Rafael Valles (“Cinema Argentino”) e Ivonete Pinto (“Cinema Marginal e Cinema da Boca”) - fora outras que ainda estão ocorrendo.

O anárquico "Touki Bouki", do Senegal

Em minha exposição online, na qual participou um pessoal super interessado e amante do cinema como eu, pude falar um pouco sobre o cinema produzido por realizadores negros e/ou obras com relevante temática de questões da negritude tanto da África quanto dos Estados Unidos e do Brasil. Contextualizando o processo histórico do povo preto nestes três continentes – africano, norte-americano e sul-americano –, busquei levantar o percurso histórico, sociológico, político e cultural que levou a chegar nesta produção audiovisual tão resistente quanto rica, destacando características formais e estéticas e principais realizadores, que formam aquilo que se pode chamar de “cinema negro” – com suas diferenças, peculiaridades e interinfluências.

Lee e Burnett: grandes nomes do
cinema negro dos EUA
Dentre os títulos, filmes africanos precursores do cinema daquele continente, como o rascante "A Negra De...", do "pai do cinema africano", o senegalês Ousmane Sembène, o pop mais não menos crítico "Touki Bouki", Djibril Diop (1973), também do Senegal, e "Sambizanga", da cineasta angolana Sarah Maldoror (1972), corajoso filme político em um país pré-independência e em guerra. 

Dos norte-americanos, não poderia se deixar de falar da galera da L.A. Rebellion, que revolucionou o cinema dos Estados Unidos nos anos 70, tendo como nome central o diretor Charles Burnett e, claro, um dos maiores cineastas vivos: Spike Lee, autor de obras fundamentais para a discussão da questão negra em seu país como "Faça a Coisa Certa" (1989) e "Malcom X" (1992). Já do Brasil, Zózimo Bulbul, Odilon Lopez, Joel Zito Araújo e Adélia Sampaio, pioneira entre as mulheres negras, estiveram no papo, assim como alguns dos não-negros idelogicamente comprometidos com a temática negra, como Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues.

O excepcional "Alma no Olho", de Zózimo Bulbul (1974)

Ao que pude ter de retorno imediato tanto de Danilo – que acompanhou toda a aula, ajudando a mim na condução e na orientação da turma – quanto de uma parte considerável dos alunos – dentre eles, meu amigão Rodrigo Dutra, o homem por trás do Rodriflix e colaborador extraordinário deste blog –, o conteúdo e a didática agradaram. Quem sabe não venham mais aulas por aí?


Daniel Rodrigues


domingo, 31 de março de 2024

cotidianas #826 - 'SPQR: O Super-Soldado Romano'

 




- Mandou me chamar, Senhor?

O governador se ajeitou no trono e encarou o homem à sua frente com um olhar sentencioso.

- Chegou a meus ouvidos que teria sido ideia tua aplicar a tal poção bizantina em um dos condenados.

O centurião, um tanto embaraçado, hesitou um instante mas confirmou:

- Sim, meu senhor..., a sugestão foi minha.

Novamente acomodando-se no trono, desconfortável, incomodado, o governador da Judéia, claramente impaciente, lançou ao centurião:

- E não te passou pela cabeça, em nenhum momento que DANDO AQUELES PODERES A UM INDIVÍDUO QUE JÁ ERA ADORADO, IDOLATRADO, ELE PODERIA  FICAR AINDA MAIOR COM TUDO ISSO? - aumentando gradativamente a voz até terminar a frase praticamente num berro.

- Eu... eu considerei que deveríamos testar antes de dar aos nossos soldados e... pensei que fosse melhor dar a um condenado pacífico do que àqueles outros, bandidos, assassinos... se tivesse algum outro efeito, se ficasse violento, seria mais fácil de controlar e...

- ... E então ele resiste a mais castigo e torturas do que qualquer outro homem resistiria, revive dias depois e ainda assim pareceu uma boa ideia? - completou interpondo-se na frase do subordinado. 

O legionário não soube o que responder.

- Bem, - tentando acalmar-se - ao menos agora temos a certeza que a tal poção para o super-soldado romano funciona. Nossos homens ficam mais resistentes, suportam qualquer dor e, principalmente, não podem ser mortos. 

- Sim, meu senhor... Embora não tenhamos certeza de quanto tempo podem viver depois de retornarem da morte, creio que a experiência foi positiva. - argumentou o centurião, um pouco aliviado.

- Tragam aqui o alquimista bizantino, ou seja lá como chamam aquilo que ele faz. - ordenou o governador Pilatos a um dos soldados que guardava a porta.

O governador da judéia bebeu um gole de vinho e, enquanto aguardava o retorno do soldado trazendo o místico, voltou a dirigir-se ao centurião:

- Quero, então que dê a solução para todos os soldados. Mandem esse hierofante ou seja o que for preparar a fórmula. Dêem-lhe o que for preciso para produzir para todos nossos homens.

- Sim, meu senhor. - assentiu o militar.

- Quanto ao judeu, - prosseguiu com as ordens - localizem-no, dêem um fim nele e certifiquem-se de que todos que o viram vivo não possam confirmar o fato.

Neste momento, quase correndo entrou pela porta o soldado, com uma aparência pálida e olhos arregalados.

- O que foi? - quis saber o governador - Onde está o homem?

- Sumiu, meu senhor.

- Como assim sumiu? Alguém deixou que ele fugisse? Abriram sua cela, foi isso?

- Não, meu senhor... Sumiu! Evaporou...

- Como 'evaporou'? - duvidou o nobre - Isso é alguma espécie de brincadeira? Vou mandar te crucificar e ao responsável por essa troça!

- Eu juro, meu senhor, eu juro. Se desfez como fumaça, passou entre as grades, voou pela janela, se espalhou pelo ar...

- Centurião Flávio Augusto, leva este homem. Crucifiquem-no e a todos envolvidos nessa galhofa!

- Sim, meu senhor. Ave, Tibérius! - E saiu segurando o soldado pelo braço sem resistência alguma.

Novamente sozinho no salão, em seu trono, Pôncio Pilatos recostou-se reflexivo. O estrago já estava feito: eles endeusariam o tal nazareno, o seguiriam incondicionalmente. Sabia que os tempos, a partir daquele momento seriam diferentes para Roma e seu Imperador. O mundo acabara de recomeçar.




Cly Reis

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

"Barbie", de Greta Gerwig (2023)

 


INDICADO A
MELHOR FILME
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE (AMERICA FERRERA)
MELHOR ATOR COADJUVANTE (RYAN GOSLING)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
MELHOR FIGURINO
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL ("I'M JUST KEN")
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL ("WHAT WAS I'M MADE FOR?")
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO



"Barbie" não é nada mais que um filme bonitinho. Um manifesto pintado de cor-de-rosa
Tá, ó, vamos falar sério: "Barbie" não é nada mais que um filme bonitinho. "Ah, mas tem mensagem...". Ora, é um filme bonitinho com mensagem. Valorizo muito o cinema de ficção como arte e quando a arte é sacrificada em nome do discurso, entendo que ela fica comprometida. é como um poeta que abandona as figuras em nome da literalidade, um pintor que passa a simplesmente imprimir sem intervir numa imagem, um letrista que abdica da rima, do verso, da melodia para meramente discorrer, falar a letra de uma música. Entendo que é muito o que acontece com "Barbie", filme da diretora Greta Gerwig, com oito indicações ao Oscar 2024, que em nome de um discurso, altamente válido, pertinente, justo, urgente, é verdade, fazem de sua obra de arte um manifesto pela causa feminista. Tem todo o cenário, o figurino, as caracterizações, as músicas, as tiradas, ok... Isso tudo só faz de "Barbie" um manifesto pintado de cor-de-rosa. Discurso, causa, reivindicação, explícitos, que relegam a arte a um segundo plano, abdicando da poesia, de modo a se fazer entender, em cinema, cabem em documentários. Assuntos assim, postos de forma tão insistente, incisiva e cansativa, por mais justos que sejam precisam de um tratamento mais sutil, mais inteligente. 
"Barbie" é um filme superestimado e supervalorizado pela própria expectativa fabricada em torno dele. Quando começou o ti-ti-ti a respeito do lançamento do filme tratou-se logo de esclarecer que não seria um filme bobinho, que não era o filme da "boneca", que "apesar de ser da Barbie", tratava-se de um filme com reflexões importantes. Ora, valor do tema não enriquece o valor da obra. Se é por isso os filmes da Marvel, da DC, de super-heróis deveriam sistematicamente concorrer a melhor filme uma vez que, por trás de todo aquele monte de saltos e explosões existem mensagens sobre a paz, racismo, etc. E, sinceramente, filmes de super-heróis valem tão pouco cinematograficamente quanto um filme de boneca.
Como se não bastasse toda a comoção por um filme comercial bancado pela indústria de brinquedos, eu vejo uma choradeira pela não indicação da atriz principal, Margot Robbie para o Oscar na sua categoria. Ora, só quem não viu uma Meryl Streep em "Kramer vs. Kramer", uma Jodie Foster em "Acusados", ou uma Ana Magnani em "O Amor" que nem ganhou, pode exigir um Oscar para uma atuação não mais que... competente. Margot Robbie faz um papel de boneca, gente! Expressões forçadas, olhos arregalados, largos sorrisos, de vez em quando um choro, uma carinha tristinha, lá no final, no mundo real, algo um pouco mais consistente, mais humano, mas é só isso. 
Entendo que nós homens precisamos ver e ouvir tudo isso, o puxão de orelhas é válido, todos somos Ken, as coisas têm que mudar, mas é dose pra elefante que um filme tão pueril como esse sirva como símbolo de tudo isso. O marketing e o convencimento foi tamanho que o público feminino, para o qual o filme foi mais especificamente direcionado, até 'perdoou' a Barbie por ser um objeto de opressão e condicionamento estético feminino por muito tempo. E não é o contraponto apresentado no filme, de que Barbie propõe que "você pode ser tudo o que quiser" que vai isentá-la de moldar padrões de beleza e intimidar mulheres que não tinham o mesmo perfil físico da boneca. Essa coisa de Barbie cheinha, Barbie negra, Barbie oriental, só foi produzida em grande escala de uns anos pra cá. Não me venha com essa!
Vão dizer, "Ah, mas você não gostou porque é homem". Já vi filmes com temas feministas sensíveis, peritnentes, bem mais válidos, interessantes e inteligentes que esse. "Bela Vingança", "Thelma  & Louise", "Frida", "Huesera", "O Babadook", são só alguns exemplos.
"Ah, mas você não entendeu...". Entendi. Podem ter certeza que entendo e entendo a motivação. E exatamente por ter entendido é que entendo que não gosto do que vi, da obra em si, e fico pensando que "Barbie" até teria sido um bom filme de entretenimento se não tivesse se levado tão a sério. 

Margot Robbie é uma grande atriz mas, sinceramente, 
em "Barbie" ela só faz "cara de boneca".




por Cly Reis


quinta-feira, 13 de julho de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Charly Garcia - “Clics Modernos” (1983)



 

por Roberto Sulzbach 

- I want to make a record ("Eu quero fazer um disco").

- Your dad is rich or what? ("Seu pai é rico ou o quê?"


Nova Iorque, 1983, entrada do lendário Eletric Ladyland Studio, fundado por Jimi Hendrix. Batem à porta, dois argentinos com uma maleta e acontece este diálogo descrito acima.

Enquanto isso, o homem de bigode bicolor abre a maleta e pega um dos maços de notas de 100 dólares: "Do you want it, or not?" ("Você quer, ou não quer?"). Então, a porta se abre. 

Trinta anos atrás, os argentinos eram Charly García e Pedro Aznar. Os dois já eram lendas do rock de seu país. O primeiro, possuía o status de gênio musical por ser cantor, tecladista e protagonista em 3 grandes bandas do cenário portenho: o duo-folk Sui Generis, e as bandas de rock progressivo La Máquina de Hacer Pájaros e Serú Giran. O segundo, foi baixista de Charly na Serú Giran, e já era membro junto ao Pet Metheny Group. Lógico que, em Nova Iorque, ninguém sabia disso. 

Começaram os preparativos para as gravações do que seria, segundo muitos, a Magnum-opus do Rock Argentino, e quiçá, do idioma espanhol. A ideia inicial era se chamar “Nuevos Trapos”, mas depois de Charly se deparar com uma pixação escrita “Modern Clix” pelas ruas de Nova Iorque, não havia como não se chamar “Clics Modernos”. Foi-lhe entregue uma lista, contendo o nome de todos os produtores que trabalhavam regularmente no estúdio, onde encontraram o nome perfeito. Constava como: "Joe Blaney – The Clash"

Joe Blaney havia acabado de trabalhar no projeto mais ambicioso e criticamente aclamado do conjunto punk londrino, o "London Calling", e buscava um novo desafio. Nas palavras dele, quando chegou ao estúdio, não possuía a dimensão de com quem estava, e aos poucos foi percebendo o talento e a estatura dos músicos que estava prestes a produzir. Charly estava tão na vanguarda, que praticamente toda a parte de percussão foi feita em uma TR808, da Roland. Criada por Ryuichi Sakamoto, García apelidou o equipamento de “La Ryuchi”

O disco abre com "Nos Siguen Pegando Abajo", já demonstrando a forte influência do new wave. Musicalmente, é uma composição fenomenal, mesclando sintetizadores, a bateria da Ryuichi, somada de uma base em 4 tempos, enquanto a guitarra, toca o riff em 7 tempos, sendo assim, 2 compassos simultâneos. Apesar de ser um tema para tocar em festas, a música cita "los hombres de gris" ("homens de cinza", como referência à polícia), e o próprio título, que pode se traduzir como “seguem nos reprimindo”, referência à ditadura ainda vivida na Argentina.

"No soy um extraño" é uma balada dançante, impulsionada por batidas e palmas digitais, e carregada pelo baixo simples e certeiro de Aznar. A música aborda a história de dois homens buscando ver um tango antigo, tipo em que a dança era realizada apenas por rapazes, não envolvendo uma mulher, como hoje é popularmente conhecido. O tom expressado, tanto pela melodia, tanto pela letra, nos transmite o medo da homossexualidade ser descoberta publicamente.

Aznar e Charly: amigos e parceiros de Buenos Aires
a Nova Iorque para produzir uma obra-prima
"Dos Cero Uno" é a canção mais minimalista do disco, e que tem como base, além das batidas eletrônicas, a Tabla, instrumento popular na Índia e similar a um bongô. Nos traz quase um relato autobiográfico de Charly, falando sobre sua maturidade e mudança, o colocando como um personagem. "Nuevos Trapos" é uma balada new wave, uma canção moderna de amor, colocando piano e sintetizadores, que se sobrepõe harmoniosamente. 

A letra de "Bancate ese Defecto" trata de lidar com defeitos que todos têm, erros que todos cometem e a dificuldade da autoaceitação, mas que errar faz parte da experiência de ser humano (incluindo um trecho em que chama o ouvinte de narigudo). Quando chegamos à metade da música, Charly engata uma quinta, e em ritmo alucinado, dispara mais “verdades” aos nossos ouvidos. Finaliza com os sintetizadores imprimindo um tom de mistério, ao lado da linha de baixo de Aznar, finalizando, de forma magistral, o lado A. 

O lado B arranca com um sample (direto da Ryiuchi) de um grito de James Brown em “Hot Pants Pt.1”, para iniciar "No me Dejan Salir", sendo esse apenas um dos samples do cantor de soul utilizados na música (temos a adição de trechos de "Please, Please, Please" e "Super Bad" no decorrer da canção). Certamente, a música “más bailable del disco”, com pontes bem estruturadas e refrão grudento, além de ser a única música que contém uma bateria verdadeira, além do TR808. Vale a pena também conferir o icônico clipe da música, gravado um ano depois, e que conta com a participação do então tecladista, e futuro artista globalmente conhecido, Fito Paez, segurando um mocassim para a câmera. 

Um acorde grave dá início ao tema mais profundo da obra. Uma acorde que arrepiou, arrepia, e arrepiará gerações de argentinos, e (por que não?) latino-americanos em geral. "Los Dinosaurios" é uma eulogia aos desaparecidos da sanguinária ditadura que matou, perseguiu e reprimiu milhões de pessoas no país vizinho, e que também é válido para o nosso caso. Charly fez questão de dizer que vizinhos, artistas, jornalistas e nem mesmo seu amor está seguro, e podem desaparecer. “Clics” foi lançado um mês antes do retorno à democracia na Argentina, e imediatamente, se tornou um hino sobre os acontecimentos dos anos anteriores, convertendo-se em uma espécie de memória viva, em forma de hit, em forma de arte. O piano é tocado com sutileza, expressando o pesar do passado, ao mesmo tempo que vislumbra um futuro esperançoso. 

"Plateado Sobre Plateado (Huellas En El Mar)" continua o tom de protesto, tratando sobre o exílio, tanto autoimposto quanto compulsório, nos transportando para aquela realidade. O contrabaixo sedimenta a melodia, apenas em duas notas, enquanto o teclado coloca, em sincronia, acordes em dissonância, para explodir em um refrão harmônico repleto de riff de guitarras rompantes. Finalizando o álbum, "Ojos de Videotape" nos introduz uma novidade: um piano acústico! Sintetizadores, uma ampla capacidade vocal de Charly e uma preocupação com o vício das pessoas no escapismo digital. Em um mundo sem smartphones, tablets, internet, parece até bobo que a televisão fosse um grande problema na concentração e na própria concepção de mundo da sociedade. 

García disse que: "K7´s são para as praias, CD´s para os shoppings, e os discos são discos". Esse álbum tem uma “artesania” de disco, não somente músicas gravadas e compiladas. E definitivamente, se trata de um disco, uma obra-prima, que o estúdio construído por Jimi Hendrix, teve a honra de conceber, e não o contrário.

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FAIXAS:
1. "Nos siguen pegando abajo (pecado mortal)" - 3:30
2. "No soy un extraño" - 3:18
3. "Dos cero uno (transas)" - 2:09
4. "Nuevos trapos" - 4:08
5. "Bancate ese defecto" - 4:56
6. "No me dejan salir" - 4:21
7. "Los dinosaurios" - 3:28
8. "Plateado sobre plateado (huellas en el mar)" - 5:02
9. "Ojos de video tape" - 3:37
Todas as músicas de autoria de Charly García

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OUÇA O DISCO:






Roberto Sulzbach Cortes é porto-alegrense, gosta de viajar (principalmente a Buenos Aires) e possui alma de baby boomer. Futuro jornalista, cresceu escutando de tudo. De Nirvana a Chico e de Notorious B.I.G a Miles Davis.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Superbacana

 



Caetano Veloso é o "Superbacana"
fan art, estilo HQ, inspirada nos  quadrinhos do Super-Homem
e na canção "Superbacana", de Caetano Veloso, de 1968



"Superbacana"
Cly Reis



segunda-feira, 10 de abril de 2023

Philip Glass – "Koyaanisqatsi - Life Out of Balance - Original Soundtrack Album from the Motion Picture" (1983)

 

Versões da capa da trilha do filme
lançadas entre 1983 e 2009
Ko.yaa.nis.qatsi (da língua Hopi), n. 1. Vida louca. 
2. Vida turbulenta. 
3. A vida se desintegrando. 
4. Vida desequilibrada. 
5. Um estado de vida que exige outra forma de viver.

"'Koyaanisqatsi' permite que você experimente a aceleração e a densidade da sociedade moderna de uma nova maneira. Ele convida você a considerar a benevolência da tecnologia e a noção de progresso no mundo em que vivemos. Um mundo fora de equilíbrio".
Philip Glass


Um dos principais pensadores sobre a relação homem/meio ambiente dos tempos atuais, o cineasta alemão Werner Herzog disse, certa vez, que o engano da humanidade reside na falta de controle desta sobre seu próprio desenvolvimento. A ciência, a tecnologia, os avanços são soltados aos borbotões, numa corrida frenética desenvolvimentista que, a rigor, ninguém sabe onde vai dar. Suspeita-se, contudo, pois a natureza vem há tempos dando seus sinais. Se a Rio 92, há pouco mais de 30 anos ensinou o mundo a adotar a linguagem antes apenas restrita meramente à "ecológica", inserindo no seu vocabulário termos como “sustentabilidade”, “ESG”, “responsabilidade socioambiental” e afins, a agenda sustentável, por outro lado, não avançou tanto assim na prática. Os resultados da COP-27, em 2022, o mais importante e o maior evento já realizado sobre o tema das mudanças climáticas, foram parcos e inconsistentes. A crescente crise de energia, as concentrações recordes de gases de efeito estufa e o aumento de eventos climáticos extremos pelo globo colocam uma interrogação sobre a sociedade: ainda há tempo de reverter este quadro?

O alarme é ainda maior quando se constata que tais indagações urgentes não são de hoje. Há 40 anos uma obra referencial já trazia, com o devido peso e teor denunciativo, a questão do desequilíbrio causado pelo homem à natureza: “Koyaanisqatsi – Uma Vida Fora de Equilíbrio”. O filme do cineasta norte-americano Godfrey Reggio e produzido por Francis Ford Coppola, tornou-se rapidamente um cult movie desde seu lançamento, em 1982, prenunciando a realização de outros dois longas em formato semelhante, "Powaqqatsi - A Vida em Transformação", de 1988, e "Naqoyqatsi", de 2002, todos dirigidos por Reggio. Todos documentários experimentais forjados com imagens espetaculares sobre as consequências da mão humana sobre o Planeta e cuja trilha sonora é assinada pelo genial compositor Philip Glass. Embora a trilogia mereça total audiência, é o primeiro da série aquele que mudou parâmetros tanto do cinema quanto da música moderna. E não se está falando somente da música de vanguarda ou “erudita”, mas, sim, da música pop. Isso porque a trilha sonora de “Koyaanisqatsi”, lançada em disco um ano depois do filme, passou a servir de referência a publicidade, cinema e demais produtos sonoros e audiovisuais com que se deparam milhões de pessoas todos os dias ao acessarem seus celulares ou ligarem um aparelho de TV.

Entretanto, é a pungência da proposta de “Koyaanisqatsi”, inédita até então em formato e proposta, que a faz uma obra referencial. Meio sinfonia, meio ópera, meio vídeoarte, “Koyaanisqatsi” tem uma narrativa até simples comparado à complexidade de sua trilha sonora e de sua montagem. Os povos originários, com sua sabedoria inata e imaterial, prenunciam que o homem caminha para o próprio cadafalso. A natureza, pujante, apresenta-se em sua majestade quase intocada. Porém, integra inevitavelmente esta mesma natureza uma espécie animal que soube valer-se de artifícios biológicos e etológicos para perpetuar sua sobrevivência e passar a supostamente comandar o rumo da biosfera: um tal de homo sapiens. Este ser é capaz de, por meio de sua interferência negativa sobre a natureza e com a justificativa de progresso da própria espécie, desequilibrar todo o sistema vital. Após uma enganosa escalada desenvolvimentista, a realidade de destruição e desrespeito com a Mãe-Terra cobra o preço e os as profecias ancestrais se concretizam tragicamente.

Uma das versões de poster
do filme de Reggio
Com a ajuda do Polyrock Kurt Munkacsi na produção, Glass desembaraça esta narrativa em brilhantes 13 peças/faixas onde, absolutamente integrado com o corpo imagético do filme, não desaproveita com sua ensemble nem os ruídos de multidão e o momento de créditos finais para musicar. Tudo muito orgânico. A faixa título, um sinistro canto nativo em tom baixo, acompanhado de um órgão igualmente denso, pronuncia apenas o próprio título: “Koyaanisqatsi”. Aqui já começa a genialidade atemporal de Glass, compositor talhado na vanguarda minimalista dos Estados Unidos da geração anos 60, mas que sempre soube conciliar esta visão contemporânea à tradição musical secular. Nesta abertura, ao mesmo tempo em que se escutam aborígenes encavernados, é possível identificar traços do canto gregoriano, criado à época do cristianismo primitivo, a meados do século VII. Já “Organic” acompanha os impactantes planos aéreos de cânions e rios através de sons leves e anunciativos. “Clouds”, porém, adiciona a esta solenidade sons refletidos e longilíneos acordes de clarinete, dando maior tensão e grandiosidade à música. É a natureza em sua imponência. 

Imponência ameaçada, contudo. “Resource”, colada à anterior, quebra de vez a linha sonora e adiciona sons eletrônicos em repetições mecânicas e contínuas. O bicho-homem chegou. A paisagem das montanhas é desfigurada por explosões e máquinas pesadas, que trazem consigo o pretenso progresso. Para isso, Glass engendra sons nervosos e automáticos. O teclado vira sirenes gritantes sustentadas por intensas sessões de cordas. Não é mais a natureza que emite sons: é a consequência da mão humana, com suas máquinas implacáveis e sem alma. A pequena orquestra, fervorosa, corre para dar conta da velocidade da tecnologia simbolizada pelos teclados. Fábricas soltam seus vapores poluidores. Extensos campos são invadidos por estruturas de ferro e metal. Rios são desviados deu seu curso. Uma bomba explode em fogo sob o olhar indefeso de uma árvore...

Todas as maravilhas que o homem cria agora estão à disposição para consumo. Carros, aviões, estradas, arranha-céus. A fantástica “Vessels” aprofunda o conceito denunciativo de “Resource” ao manter a base minimalista, mas adicionando-lhes poderosas vozes. E não mais as vozes dos povos originários do início da obra, mas corais bem mais clássicos, com tons agudos e variações de escala expressando autodevoção e fascínio. É o ser humano, crendo-se Deus e apaixonado pela própria inteligência. E não há mais freio a tamanha adulação: quer-se cada vez mais e mais apressadamente. Dentro da mesma faixa, Glass promove outra quebra brusca de ritmo e passa a empregar uma conjugação do órgão, flautas e as mesmas vozes deslumbradas em células sonoras repetidas em cinco tempos para representar o frenesi do trânsito de automóveis, símbolo da indústria capitalista. Só que o compasso se torna ainda mais frenético, começando a sair do apreensível, justo quando imagens de equipamentos bélicos são mostradas. Nenhuma coincidência.

“Pruitt Igoe” ensaia um adagio que tenta reduzir tanta impulsividade. Porém, já é impossível. A própria música, à medida que avança, vai ganhando corpo e novas formas de tensão, principalmente quando se veem as assombrosas imagens de prédios de arrabalde inteiros sendo implodidos para dar lugar ao mentiroso circo do capital. A confusão da percepção de tempo é trazida com alta sensibilidade em “SloMo People”, onde pessoas ora parecem formigas numa multidão movida em altíssima velocidade, ora estão num igualmente artificial slow-motion, como o título bem sugere. De propósito, elas nunca são enquadradas tal como a realidade é. Sutilmente, Glass impõe um compasso de dois tempos, os quais simbolizam o passo de um caminhar. Passos lentos, aliás, supondo que algo está claramente descompassado. 

O compositor mantém a estrutura dual para iniciar aquele que é o mais chocante tema de “Koyaanisquatsi”: “The Grid”. Agora, perde-se de vez o controle do destino. Usando sua assinatura sônica, os sistemas de ostinatos rítmicos (motivos ou frases musicais sempre repetidos). tal como em "Rubric", das "Glassworks", de um ano antes, Glass põe agora, inversamente ao que fez antes, as flautas e piccolos sobre uma base de sintetizador grave e num ritmo convulsivo. Enquanto isso, na tela, são expostos vídeos super acelerados de carros, fábricas, supermercados, filas, telas. Movimentos tão velozes que formam traços de luzes incompreensíveis ao olho do espectador. São minutos de imagens carregadas, labirínticas, mostrando a loucura da vida cotidiana de uma metrópole. A música, por sua vez, soa vertiginosa e espiral. As vozes reaparecem com as mesmas frases e variações delas para intensificar e ratificar a lógica narrativa. Sufocante, mas genial.

cena do filme com a trilha de "The Grid": a corrida maluca da vida moderna

A breve “Microchip” (em que inteligentemente Reggio traça um comparativo de imagens de satélite das cidades com as de estruturas destas minúsculas peças de silício, as quais compõem a “alma” dos artefatos digitais) funciona como um movimento larghetto, que reequilibra o andamento. Afinal, impossível andar mais rápido do que aquilo. Este breve “knee”, no entanto, é a deixa para que Glass volte àquilo que motivou toda a obra desde o começo: a tal profecia. Criador e criatura, é o homem que tem o bônus e o ônus dos próprios atos. Assim, a música se torna um andante, porém a construção melódica começa a parecer errática. As repetições, antes simétricas, independentemente se num compasso moderado ou ligeiro, agora se tornam quebradas, inconclusas. Como uma máquina que apresentou defeito e passa a funcionar mal. Forma-se uma sucessão de sons em que as repetições denotam a prisão a que o homem se colocou: não é mais possível sair daquele círculo, que vai e volta, sem se resolver. As vozes, então, passam a conviver e a se confundirem: o coral se aproxima agora do cantochão gregoriano e o canto ancestral retraz, convicto, aquilo que já avisava: “Koyaanisquatsi”.

A cena final, um extenso plano sequência de um acidente com um ônibus espacial, profetiza, através de sua crítica ao desenvolvimento a qualquer custo, o famoso acidente com a Challenger em 1986, quando, 73 segundos após o seu lançamento, a espaçonave explodiu em pleno ar, matando todos os sete astronautas tripulantes. Para este derradeiro ato, Glass emudece todos os outros instrumentos e opta por manter apenas o órgão, que agora não tem mais caráter tecnológico, mas sim litúrgico, como uma missa fúnebre. O morto? Claro, o próprio homem. 

Assim como Herzog, o paleontólogo e biólogo evolucionário britânico Henry Gee, editor sênior da revista científica Nature, tem uma visão nada alentadora do que pode acontecer com o planeta. Aliás, no caso de Gee, ainda mais pessimista. Segundo ele, se a humanidade seguir a tendência atual, a espécie humana corre sérios riscos de entrar em extinção ou, pelo menos, ser reduzida a um número bem restrito de indivíduos. A se ver pelo atraso em se tomar medidas efetivas, o prognóstico não pode ser diferente. Isso fica escancarado quando se vê que, quatro décadas atrás, Reggio e Glass já se uniam para lançar este manifesto fílmico-sonoro em que a simbiose entre imagem e música simboliza justamente a necessidade de integração homem-natureza. Um não pode viver sem o outro. Se hoje a ideia de motivos sônicos desta trilha são largamente imitados para inumeráveis produtos audiovisuais, de comerciais de televisão a jogos de videogame, de posts em redes sociais a outras trilhas para cinema, a mensagem ecológica que a obra traz bem que poderia ser copiada também. Visionário, o filme previa com assombrosa clareza uma série de questões hoje em pauta na sociedade moderna. E embora em seu decorrer sejam cantados outros versos (principalmente, no último movimento), “Koyaanisqatsi” se resume basicamente a este termo exótico, mas que traduz o mais óbvio e essencial alerta: se não houver uma radical mudança de comportamento planetária, este “mundo em desequilíbrio” está com dias contados. E o homem também.

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FAIXAS:
1. “Koyaanisqatsi” - 3:27
2. “Organic” - 4:57
3. “Clouds” - 4:38
4. “Resource” - 6:36
5. “Vessels” - 8:13
6. “Pruitt Igoe” - 7:51
7. “Pruitt Igoe Coda” - 1:17
8. “Slo Mo People” - 3:20
9. “The Grid – Introduction” - 3:24
10. “The Grid” - 18:06
11. “Microchip” - 1:47
12. “Prophecies” - 10:34
13. “Translations & Credits” 2:11
Todas as composições de autoria de Philip Glass

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - Finalistas



128 começaram.
Apenas 2 chegaram.
Entre toda a obra vasta e rica de Gilberto Gil, "Palco" e "Realce" foram as que conseguiram superar todos os obstáculos e adversárias de respeito para chegar a essa decisão.

"Palco", do disco "Luar (A gente precisa ver o Luar)", de 1981, teve o seguinte caminho para chegar até aqui:

  • "Ensaio Geral", na primeira fase
  • "Procissão", na segunda fase
  • "São João Xangô Menino", na terceira fase
  • "Sítio do Pica-Pau amarelo", nas oitavas-de-final
  • "Aquele Abraço", nas quartas-de-final, e
  • "Haiti", na semifinal


"Realce", que dá nome a um disco, de 1979, encarou os seguintes adversários:

  • "O Sonho Acabou", na primeira fase
  • "Extra", na segunda fase
  • "Ilê Ayê", na terceira fase
  • "Andar Com Fé", nas oitavas-de-final
  • "Esotérico", nas quartas-de-final, e
  • "Super-Homem (A Canção)", na semifinal


Só pedreira, hein!
Depois de terem derrubado tantos gigantes pelo caminho, nada mais justo de estarem nessa finalíssima, não?
Enquanto nossa comissão de especialistas em gilbertogilogia descascam esse pepino de ter que decidir qual das duas tem alguma vantagem sobre a outra, vocês ficam com um gostinho de cada uma delas e formam seu juízo, até a hora de conhecermos o campeão.


PALCO





REALCE







terça-feira, 1 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para a final




Quatro grandes músicas!
Apenas duas delas chegarão final e somente uma delas será consagrada a Melhor Música de Gilberto Gil.

A contundente Haiti, música do disco de parceria com Caetano Veloso, comemorativo dos 25 anos da Tropicália, teve pela frente a emblemática Palco, uma das canções mais marcantes e adoradas da carreira de Gil. Na outra ponta, a poderosa canção Super-Homem, letra sensível e inspirada, encara a radiante, festiva, positiva, Realce.
E agora, gente? 
Nossos seis comentaristas-jurados-técnicos-especialistas-gilbertogilólogos, encararam a dificílima tarefa de escolher as 2 classificadas para a final, as que, agora, apresentamos para vocês. 
Será que são as mesmos que você classificaria?

Dá uma olhada:


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HAITI 

PALCO



resultado de Leocádia Costa

Jogo bem difícil, meus amigos! "Haiti" entra em jogo com muita força, porque tem em si, letra e música, muito importantes e faz parte das canções de Gil que tocam no fundo da alma da gente. Ancestralidade pulsando. Porém, "Palco" é uma canção que se pudesse ser vestida, com certeza, seria Gil totalmente dos pés à cabeça. Vibrante, crítica, cheia de poesia, espiritualidade faz parte do meu repertório desde 1981. Não consigo pensar "Palco" na voz de outra pessoa e palco é o lugar onde Gil arrasa! Placar final, de goleada, 4X1 para Palco.
HAITI 1 x 4 PALCO

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resultado de Cly Reis

Mal começa o jogo e Haiti já sai tomando um gol pelo fato de, para meus critérios, não ser uma música da obra exclusiva de Gil. Baita música, coisa e tal mas é GIL E CAETANO. Quando tiver a Copa Gil e Caetano, ela pode ganhar, mas na Copa Gilberto Gil, ela está fora. 1x0 para Palco que, além disso tem muitos méritos e é uma das melhores músicas da discografia do baiano imortal. 
HAITI 0 x 1 PALCO

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resultado de Kaká Reis

Bem, minha batalha certamente é das mais decisivas. Haiti sempre favorita ao título enfrenta o sucesso absoluto Palco.
Nos 15 primeiros minutos ja estamos em 1x1, os versos e a crítica social de Haiti aumentam a vantagem, e logo em seguida, Palco marca mais um por ser quase um hino às mazelas de todos os tempos “o inferno, fora daqui!!!!”.
Nos minutos finais, prorrogação, Haiti marca seu desempate, por carregar consigo tanta genialidade, batuques do nosso povo e por ser uma das músicas mais importantes historicamente para a minha pessoa.
É, Palco… vc é e foi fundamental nessa discografia, mas hoje, quem vai pra final é
HAITI 3 x 2 PALCO


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SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 
REALCE



resultado de Joana Lessa

Uma semifinal com cheiro de final: Super Homem e Realce entram em campo como grandes campeões. 
Mas a tradição se impõe e o espírito que cristaliza o estilo de jogo do Gil, faz Realce ganhar por 1x0.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE 

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resultado de Rodrigo Dutra
 
Foi muito difícil. A lindeza da melodia e a inspiração fílmica resultando na fragilidade e no lado feminino do homem, na harmonia entre casais. Mas não foi o suficiente pra derrotar a própria ode à beleza que é o disco/funk Realce. Dessa vez o Super Homem não vai mudar o curso da História. Está eliminado.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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resultado de Daniel Rodrigues

Daqueles clássicos de times do mesmo disco. E numa semifinal! Me segura! De um lado, “Super-Homem- A Canção”, de uniforme azul e vermelho e escudo com o “S” em fundo amarelo. Um babado! Do outro, “Realce” com sua camiseta multitons nas cores do arco-íris combinando a mesma estampa na camiseta, no short e nas meias (e mais umas purpurinas pelos por cima, porque quem vai pro jogo tem que ir montada, né, bicha?). Pode-se dizer que é o clássico que saiu do armário para o campo. Nessa igualdade de canções tão sensíveis quanto fortes, “Super-Homem” pede ajuda da porção mulher, resguardada até certa altura da partida pelo técnico, o que foi um erro estratégico tremendo diante da adversária. Atrevida, sem dever nada e sem medo de cara feia, “Realce” entra dançando na área estilo Dancin’ Days e marca aquele que foi o gol da vitória. Vitória de quem, de forma empodeirada, mudou o curso da história sem precisar de superpoderes. “Realce” lacrou!
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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FINALISTAS
REALCE
PALCO



Nossos julgadores irão analisar o confronto, cada um dos times, seus méritos, virtudes, possibilidades, pontos fracos e fortes e decidirão quem leva o caneco. 
Fique ligado que, no sábado, dia 05 de novembro, sai o campeão.




segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para as semifinais


 Momentos decisivos, senhoras e senhores!

Apenas quatro passam nessa fase e a hora da decisão se aproxima.

Surpresas? A essas alturas não se pode dizer que algum resultado tenha sido surpreendente nessas quartas-de-final, com tantas boas concorrentes. Só musicão! No entanto, não dá pra ignorar que uma potencial (forte) favorita ao título ficou pelo caminho: "Palco" deu um abraço de despedida em "Aquele Abraço" e mandou o samba exaltação ao Rio de Janeiro fazer as malas e tomar o caminho do Galeão. 

Uau! Por essa muita gente não esperava, hein!

Será que teve alguma outra "zebra"? 

Vamos ver então como foram os enfrentamentos das quartas e quais as quatro que avançam para as semifinais da Copa do Mundo Gilberto Gil:



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resultado de Daniel Rodrigues

PANIS ET CIRCENCES 1 x 2 SUPER-HOMEM (A CANÇÃO)
Duas equipes que cadenciam o jogo. "Panis" tenta surpreender com algumas quebras de ritmo, buscando os atalhos, fazendo ataques num tempo diferente do comum. Na manha, porém nunca óbvia. Já "Super-Homem" é pura harmonia em campo. O respeito mútuo e o equilíbrio das camisetas faz a partida ir igual pro intervalo. "Panis", no entanto, é afiada, e quando parece que perdeu a rotação, ressurge e acelera alucinadamente o ritmo, tirando o zero do placar. Só que, inconstante, assim como põe toda a velocidade, também para de repente. E parar de repente tendo "Super-Homem" do outro lado é pedir pra se ocupar em morrer. Na sua melodiosidade, ela vai lá e empata e, novamente, se valendo daquele trunfo do: "por causa da mulheeer!", que faz arrepiar a torcida, põe a segunda na rede no finalzinho, mudando como um deus o curso da história da partida. Final: 2 x 1 para Super-Homem (A Canção) sobre Panis et Circences.

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resultado de Leocádia Costa

HAITI 4 x 0 CÁLICE

Jogo ganho de saída, confiança em alto estilo! Goleada! "Haiti" 4 x 0 "Cálice". Cresci escutando "Cálice" e sempre foi emocionante, tanto na voz de Gil quanto na voz de outros intérpretes como Chico e Milton. Porém, quando escutei pela primeira vez "Haiti" que abre o disco "Tropicália 2" (aliás, CD que de tanto escutá-lo furei, como se diz!) fiquei paralisada e totalmente imersa na história cadenciada e cheia de vozes que essa canção traz. Um hino de resistência que se mistura com a história dos negros reverberando até hoje, com imensa atualidade.


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resultado de Rodrigo Dutra

PALCO 3 x 0 AQUELE ABRAÇO
O Palco de Gil é a razão de seu encanto, de sua música, de ser em si o cantor, o intérprete. É onde a gente acha seu fogo eterno, sua chama musical, seu sacerdócio, sua missão, cheio das raízes africanas e mandando um fora daqui aos seus algozes da ditadura. Aquele abraço pro “Aquele abraço”!


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resultado de Cly Reis

ESOTÉRICO 0 x 2 REALCE
Adoro Esotérico, é uma das canções mais gostosas de Gil, mas mesmo todas as suas qualidades não foram o suficiente para segurar o alto astral contagiante de Realce. E a torcida comemora com uma chuva de serpentinas. 2 x 0, Realce.


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CLASSIFICADAS PARA AS SEMIFINAIS
Super-Homem (A Canção)
Haiti
Palco
Realce



Aqui não tem sorteio dirigido para coisa não ficar previsível.
Teremos novo sorteio para a definição das semifinais
e, é claro, você saberá quais são, aqui no ClyBlog.
Aguarde, aguarde...

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - resultados das oitavas-de-final



C
hegamos à reta final.
Oito jogos, dezesseis times (ou canções).
Só restarão oito...
Não adianta chorar que a sua favorita saiu, que foi eliminada, porque, daqui pra frente, muita coisa boa vai ficar pelo caminho, mesmo.
Por exemplo, nessa fase coisas mágicas como "Andar com fé", "Expresso 2222", "Sítio..." e "Refazenda" dançaram e foram mais cedo pra casa.
Puxa, hein!
Se essas saíram, o que restou?
Ora, restaram nada mais nada menos do que 'Palco', 'Realce', 'Aquele Abraço'...
Podem ficar tranquilos. Teremos ótimos representantes da obra do Imortal Gilberto Gil na final.



Confere, aí embaixo, os enfrentamentos das oitavas e os classificados para as quartas-de-final:



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resultado de Rodrigo Dutra

ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA 0x1 AQUELE ABRAÇO 
Com dó no coração, nos despedimos de “Zumbi” mandando “Aquele Abraço” ao herói guerreiro. O reggae oitentista não consegue superar o sambinha clássico do exílio forçado de Gil. Agora até o final só começo "com dó no coração".


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resultado de Leocádia Costa

ANDAR COM FÉ 3 x 3 REALCE (5x6 nos pênaltis)
Com direito a prorrogação e decisão nos pênaltis. Baita jogo, que colocou duas grandes canções do Gil em campo. Sabe aquele jogo que você torce até o minuto final pelas duas seleções? É isso, segura coração! Mas dessa vez, “Realce” jogou purpurina em “Andar com fé” e ganhou esse jogo nos pênaltis, com placar final de 5x6.


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resultado de Kaká Reis

BACK IN BAHIA 1 x HAITI 2
Oitavas de Final e cada vez mais apertado, não dá nem pra imaginar como vai ser essa final!
Back in Bahia versus Haiti e o puro suco de Gilberto Gil.
Haiti abre o placar da memória afetiva e com sua letra altamente politizada e de impacto. Back in Bahia logo empata, afinal, talvez um dos clássicos mais classicos da discografia. O jogo segue empatado até o final quando, inesperadamente, Haiti marca um gol de escanteio aos 47:05 vencendo a partida por 2x1.


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resultado de Joana Lessa

EXPRESSO 2222 2 x PANIS ET CIRCENCES 3
Panis et circense inaugura um estilo de jogo bonito, diferente. Expresso vem muito bem, mas é surpreendido e o resultado final da partida é Expresso 2 x Panis 3.


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resultados de Daniel Rodrigues

CÁLICE 4 x 2 O SOM DA PESSOA
Os comentaristas que viram as escalações antes do confronto eram unânimes que “Cálice”, um clássico absoluto de Gil, iria passar com facilidade. Mas no futebol, ou na música, as coisas se resolvem mesmo quando começa a rodar a bola – ou o toca-discos. “O Som da Pessoa”, com time reforçado com um competente Bené Fontelles no meio-campo, começou fazendo frente para “Cálice”. Com seu jogo pragmático – a primeira pessoa na defesa, a segunda no meio e a terceira no ataque –, foi lá e fez no começo da partida um gol meio feio, no bate-e-rebate. Mas como qualquer bola na rede soa bem, o que importa é que saiu ganhando. E logo em seguida ampliou! Final do primeiro tempo: 2 x 0 para “O Som da Pessoa”! Será que vamos ter uma zebra nas oitavas da Copa Gil?! Sem se apavorar, no entanto, “Cálice” fez valer o peso de sua camiseta e de time aguerrido, rebelde, que não se abateu nem com a desclassificação no tapetão no Phono 73. Contanto não só com aquele atacante goleador contratado junto ao Politheama, o Chico, mas também com a impetuosidade do próprio Gil, “Cálice” empata. Daí, mais pro fim da partida, manda uma saraivada pra cima da adversária, com bola vindo de tudo que é lado naquela parte que a música vira pra um rock meio fora do tempo quando põe em campo Magro, Rui, Miltinho e Aquiles da MPB-4. Então, vira: 3 x. 2. O gol de misericórdia vem com lances de crueldade: o técnico tira da manga outro “às” do banco, um cara vindo de um clube de Belo Horizonte, o Clube da Esquina, chamado Milton. É muito recurso que tem esse time, hein? É ele quem mete o 4º e fecha a conta: 4 x 2 para “Cálice” numa virada emocionante. E em respeito ao adversário, que fez um confronto de alto nível, a torcida nem disse “Cale-se!” desta vez pra adversária.

PALCO 2 x 0 SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Como todos os confrontos dessa fase, é só time de respeito se enfrentando. Mas mesmo com toda a tradição de “Sítio do Pica Pau Amarelo”, time popular, que até as crianças gostam de ver jogar, tem horas que não dá pra segurar. A adversária é daquelas que sabem de sua grandiosidade e já sobe neste palco que é o gramado com a alma cheirando a talco, com a alma clara e um futebol alegre, inspirado no futebol africano (só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor). “Palco” naturalmente impõe seu estilo leve e gingado e faz um gol e cada tempo. “Sítio” ainda tentou das suas artimanhas mágicas, às vezes escondendo a bola e tentando levar ela invisível pra dentro da goleira, mas o juiz anulou o gol e fechou assim: 2 x 0 para “Palco”, que está classificada. Nessa, a torcida de “Palco” não perdoou e lançou o seu já tradicional grito para a o time adversário: “Fora daqui!”.


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resultados de Cly Reis

FILHOS DE GANDHI 0 x 2 ESOTÉRICO 
Adoro Filhos de Gandhi! É uma das minhas favoritas da música brasileira. No entanto, pra mim, é música de parceria. 'Esotérico' é marcante na discografia do Gil, 'Filhos...' é marcante na colaboração com Jorge Benjor, posteriormente com Caetano ou em outros registros ao vivo. Vitória garantida para 'Esotérico'. 

SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 2 x 1 REFAZENDA 
Aí sim a coisa ficou séria! Duas das melhores canções de Gil. 'Super-Homem' sai na frente pelo conjunto letra-melodia-inspiração, mas 'Refazenda' não se ressente por isso e compensa com seu arranjo exuberante e reflexão sobre o tempo, empatando logo em seguida. A consistência de 'Refazenda' parece pressionar 'Super-Homem', o gol parece estar amadurecendo, parece que é só questão de tempo, até que, numa jogada em velocidade, o atacante do time de Crypton dá um drible de raio-X no defensor do escrete rural, definindo a partida! Mais uma das grandes fica pelo caminho, mas aqui não tinha jeito. Alguém teria que cair.


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CLASSIFICADOS PARA AS QUARTAS-DE-FINAL
Aquele Abraço
Realce
Palco
Haiti
Esotérico
Super-Homem (A Canção)
Cálice
Panis et Circences