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quinta-feira, 23 de abril de 2020

"Atlantique", de Mati Diop (2019)



CARAMBA!
por Vagner Rodrigues



E tão bom quando você chega para ver um filme com expectativa lá em cima, e mesmo assim ele consegue surpreender muito... e positivamente. "Atlantique" é mais uma daqueles que posso dizer que é um poema visual e um daqueles poemas reflexivos, profundos, lindos que ficam na sua cabeça por dias. Filme bom para e sair um pouco do cinema americano e europeu, virar nos olhos para outros continentes como a África. Mas já aviso: o filme vai te impactar como uma forte onda. Esteja preparado.
Em um subúrbio popular de Dakar, trabalhadores no canteiro de obras de uma torre futurista, sem receber por meses, decidem deixar o país pelo oceano para um futuro melhor. Entre eles está Suleiman, o amante de Ada, prometido a outra.
O longa não tem uma estrutura convencional, ele transita entre o real e o fantástico livremente, sem dar muita explicações, e acaba contando muito com abertura do espectador em entender ou simplesmente aceitar essa linguagem. Alguns fatos o filme não explica e cabe a você preencher com suas ideias, o que não vejo como algo negativo (até gosto muito), mas em se tratando de um filme Netflix, uma plataforma popular, que as pessoas procuram algo rápido para entretenimento, esse tipo de obra pode não ser muito bem aceita e essa linguagem mais poética não ser bem recebida pelo grande público.
Como apontei anteriormente, gosto dessa linguagem, gosto que o filme instigue o espectador. Além desta narrativa intrigante, cheia de fantasia e mistério, “Atlantique” também pode ser visto como uma ferramenta para nos apresentar uma cultura diferente e aí não me refiro somente à cultura como cinema africano, mas como cultura social, do povo, do dia a dia. A diretora, tem o grande mérito de conseguir dar um ar documental em algumas cenas, nas tomadas na rua, onde se vê bem a pobreza em alguns lugares, o transito, a simplicidade, a “bagunça”.
Um filme simples, porém cheio de mistérios e fantasias, “Atlantique” não é uma obra fechada, não é uma obra que dialoga com o grande público. Tem seu ritmo lento, mas sua poesia narrativa e fábulas têm o poder de nos prender na frente da tela. As questões sociais abordadas, a forma com que o filme trabalha o amor e a falta dele, o dinheiro e a falta de dinheiro, são grandes méritos do longa de Mati Diop e a constatação de que sem ambos é difícil viver. E é difícil até mesmo morrer.

Confuso, porém belo e sublime.