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quarta-feira, 20 de março de 2024

Música da Cabeça - Programa #362

 

Vocês já sabem, mas não custa repetir: o MDC é a melhor vacina. Com a carteirinha em dia, o programa terá doses consideráveis de boa música com Ministry, Carolina Maria de Jesus, Zé Rodrix, The Troggs, Beth Carvalho e mais. Tem até Cabeça dos Outros, e tudo de graça como injeção na testa. Sem fraude no cartão vacinal, vamos ao ar às 21h na imunizada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e certificado autêntico: Daniel Rodrigues



www.radioeletreica.com

segunda-feira, 29 de maio de 2023

CLYLIVE Especial de 15 anos do ClyBlog - Kraftwerk - C6 Fest - Vivo Rio - Rio de Janeiro/ RJ (18/05/2023)

 



Somos apenas humanos
por Cly Reis



Há 15 anos atrás tinha o privilégio de assistir a um show do Kraftwerk. Desde então, tive, para mim, a convicção de que havia presenciado o melhor show de minha vida. Até por conta disso, não  tinha a intenção de vê-los ao vivo novamente. Pra que? Já  havia me satisfeito e, provavelmente, não  seriam melhores do que foram naquela vez.

Só que o tempo passou e, dentro desses 15 anos que me separam daquele show, tive uma filha. Ela tem 11 anos hoje e, ao longo de sua formação musical, sem que eu forçasse, sem que eu influenciasse decisivamente, acabou por adorar Kraftwerk. E eis que, eu que já me dava por satisfeito por tê-los visto uma vez, descubro que os caras vêm pro Brasil de novo! Eu tinha que levar minha filha para ver. Não sei se, a essas alturas, eles vêm de novo, se vão continuar fazendo turnês, se Ralph Hütter não vai pendurar as chuteiras, ou mesmo se sua "bateria" ainda vai durar por muito mais tempo, uma vez que, brincando brincando, já são 76 anos nas costas ("toc, toc", batendo na madeira). Era agora ou, possivelmente, nunca mais.

Então fiz o "esforço" de ir ao show no C6 Fest. Sinceramente, fora o fato da oportunidade de minha filha ter essa experiência, não guardava maiores expectativas. Imaginei que, velhinhos, com a vida ganha, com um repertório incontestável, depois de várias passagens por aqui, os homens-máquina fossem entrar no palco só pra cumprir tabela: aquele showzinho burocrático, tipo entro lá, ligo a programação eletrônica, cumpro uma horinha de show, ganho minha grana vou embora...

Que nada!

Os caras tavam pilhados!

Um show dinâmico, com espontaneidades, "improvisos", uma pedrada emendando na outra e, mesmo dentro daquele tradicional comedimento dos alemães, uma certa animação e uma movimentação incomum, especialmente do líder e fundador Ralph Hütter.

"Numbers" que abriu o show, combinada com "Computer World" já foi algo espetacular, musical e visualmente, com as impressionantes projeções sincronizadas no telão. "Spacelab" a seguiu trazendo a todos a surpresa da homenagem ao Rio de Janeiro, no telão,  com a nave do Kraftwerk sobrevoando a cidade e pousando em frente ao Vivo Rio, levando o público à loucura. E teve uma "The Model" empolgante, "Autobahn" reinventada, muito mais livre e quase espontânea, "The Man-Machine emocionante, "Trans-Europe Express" arrasadora, um medley das partes de "Tour De France" e um gran-finale com uma "Music Non Stop" descontraída e cheia de pequenas variações. Senti falta, é verdade, de "Radioactivity" que podia muito bem ter entrado no lugar de "Planet of Visions", mas nada que desvalorize tudo o que acontecera lá. 

Para quem achava que já havia visto o suficiente da banda, que era dispensável assistir a outro show, que eles estariam apenas cumprindo uma formalidade, acabei saindo com a sensação de ter presenciado outro dos grandes espetáculos da minha vida. Uma banda muito a fim, quase um "show de rock" por sua dinâmica, Ralph Hütter cheio de tesão, quase elétrico naquela sua movimentação contida. Balançou a cabeça, mexeu os ombros, bateu o pezinho e, no final, naquele momento em que os integrantes vão deixando o palco, um a um, desceu de seu posto, fez uma reverência, até sorriu e bateu no peito, agradecido, me parecendo, ali, até um pouco emocionado... Será? Será que o robô está se tornando humano? A convivência com nossa espécie teria feito com que, mesmo, uma máquina como ele adquirisse a capacidade de sentir emoções? Em época de discussões sobre Inteligência Artificial, a questão bem que procede, não. Mas como diria o policial Murphy, a propósito, um homem-robô, na frase final de "Robocop 2", "Somos apenas humanos". 

trecho de "Computer Love"

trecho de "The Robots"




★★★


A revolução das máquinas
por Daniel Rodrigues

Se me perguntassem quais shows que eu ainda gostaria de ver de artistas que estejam em atividade (ou minimamente estejam vivos), listaria alguns difíceis e outros quase impossíveis. Das possibilidades, Ministry, John Cale e Pixies são um caso. Já dos improváveis, Th’ Faith Healers, Can e My Bloody Valentine encabeçam a lista. Claro: tem aqueles grandes shows que nunca fui mas que ainda são passíveis de um dia, seja no Brasil ou numa ocasião fora do país, serem presenciados por mim, como Madonna, Björk, David Byrne, Neil Young, Stevie Wonder e os Rolling Stones, que pode ser que venham à minha terra novamente como Roger Waters, que retornará a Porto Alegre por conta das memoráveis apresentações que fez na cidade para sua despedida dos palcos em novembro.

Mas de todos estes posso dizer com tranquilidade que o que mais queria ver era a Kraftwerk, desejo que foi realizado no último dia 18, no Vivo Rio. Desejo, não: sonho. Após duas vindas dos alemães ao Brasil, uma no Free Jazz Festival de 1998, quando eu nem sequer trabalhava para custear um ingresso tão caro a São Paulo, e outra, em 2009, quando estiveram no Rio de Janeiro, em plena Praça da Apoteose. Esta sim eu lamentei por não ter ido. Mesmo com os reiterados convites do meu irmão, que foi ao show, para que eu tentasse dar um jeito de ir ao Rio, onde pelo menos pouso garantido teria, as condições financeiras da época fecharam totalmente a porta. Minha lamentação foi alimentada durante estes 15 anos que se transcorreram desde aquela última apresentação da Kraftwerk em terras tupiniquins, ainda mais quando da morte de um dos cabeças do grupo neste meio tempo, Florian Schneider, em 2020. Embora já fora da banda há algum tempo, sua morte despertou o alerta de que o outro principal integrante, Ralf Hütter, já com quase 80 anos, pudesse, pelo óbvio, também ter sua “máquina desligada”.

Com a menor atividade da Kraftwerk, pensava que, para eles retornarem ao Brasil, quiçá, somente lá em 2024 ou 25, já que, ao menos, os shows estão retornando com tudo neste pós-pandemia. Considerando que os velhinhos já puseram seus sistemas em modo slow, até seria um tempo considerável um ou dois anos para que se mexessem. Mas eis que, para minha surpresa, eles são anunciados para estrelarem o C6 Fest, no Rio e em São Paulo. E agora, primeiro semestre do ano, em maio! E mais: meu irmão iria ao show com minha mãe, que aprendeu a adorá-los conosco, e minha sobrinha, Luna, fã da banda e que presenciaria seu primeiro grande show ao vivo. Num esforço coletivo, peguei uma mesa ao lado da deles e embarquei para o Rio. Todo o empenho, expectativa e lamentação foram totalmente recompensados.

Os desenhos estilo new look
em movimento em "Autobahn"
Num formato pocket ("calculator", claro), adequado ao line-up de um festival, o quarteto liderado por Ralf entregou uma apresentação empolgante e empolgada em aproximadamente 1 hora e 20 de palco. A disposição foi a de sempre: os quatro enfileirados com roupas iluminadas em led e com suas mesas mágicas com programadores, sintetizadores, computadores e outras engenhocas saídas do estúdio Kling Klang direto de um laboratório de Düsseldorf, e, ao fundo, projeções magníficas que dialogam com os sons através de imagens, luzes, grafismos e vídeoartes. Porém, o grupo estava muito a fim e deu a plateia brasileira um espetáculo cheio de vontade e musicalidade, que se percebia no manejo altamente espontâneo dos “leitmotiv” de cada música. 

Já no repertório, somente clássicos, que se emendaram uns aos outros sem pausa para respirar e, sim, para se admirar e absorver. Foi uma sequência para tirar lágrimas de qualquer fã, a começar pelo duo “Numbers/Computer World”, na abertura e com o qual eles poderiam ficar ali no palco por 1 hora inteira só brincando com os elementos de cada música, os números e os algoritmos digitais provocando sons, que jamais cairia na monotonia. Pra acabar com o coração dos kraftwekianos, mandam na sequência uma surpreendente execução de “Spacelab”, que além de ser um barato ouvi-la ao vivo e tocada de forma tão espontânea dentro dos limites do que o aparato eletrônico permite, foi uma atração à parte sua projeção, que mostrou a viagem da nave espacial (comandada por eles, obviamente) do espaço até chegar na Rio de Janeiro e pousar em frente ao próprio Vivo Rio, para delírio da galera.

“Autobahn”, com a ideia genial de animação dos carros desenhados manualmente da capa original de 1974, e a sequência “Tour de France/ Tour de France – Etape 1 e 2", com as imagens "vintage" da tradicional volta da França para a qual eles compuseram a trilha-tema em 1983, também foi de tirar o fôlego. Igualmente, o perfect pop “The Model”; a autorreferenciativa “The Robots”, com sua arte geométrica ao estilo da escola soviética; a altamente dançante “Planet of Visions”, motivando uma arte orgânico-digital-futurista; e a apoteótica “Trans-Europe Express/Metal on Metal”, cuja viagem do trem em 3D pelos trilhos europeus acompanha um desfile de execução dos quatro, mostrando que estavam se divertindo com a energia que emanava do público.

trecho de "Tour de France"

De todas as grandes performances, talvez a mais marcante tenha sido justamente a que fechou o show: a minissinfonia “Electric Cafe”: “Boing Boom Tschak/ Techno Pop/ Musik Non Stop”. As projeções, com a estrutura dos robôs e desenhos feitos em computador, mesclado arquitetura, design, música e arte, foi um digno final. Na despedida, um a um executava improvisos (sim, improvisos!) e saí do palco, até a vez do líder Ralf, ovacionado. Não à toa: Ralf Hütter é um “computer hero”, um esteta, um gênio da modernidade.

O maior show que já vi. Um dos maiores espetáculos da Terra. Uma das mais importantes bandas da música de todos os tempos, e não apenas da música pop, isso digo com certeza. Tanto quanto obras de Bach, Mozart, Wagner, Cage, Beatles, Dylan, ColtraneJoão, a Kraftwerk é importante para a evolução da humanidade como espécie, pois que excede o patamar simplesmente artístico. Toda a parafernália tecnológica, como nossos smartphones ou aparelhos digitais que nos rodeiam, não teriam a comunicabilidade sonora que têm hoje não fosse os "homens-máquina" terem inventado esta linguagem. Somente robôs como eles teriam esta sensibilidade: a de saber como seus pares se comunicam conosco, humanos. E se a tecnologia é reflexo de nossa capacidade de criação, talvez ser robô seja o verdadeiro sentido de ser humano.

PS: De quebra, ainda levamos um showzaço da Underworld para fechar a noite, que não deixou nada a desejar para os mestres da eletrônica.

Hino autorreferente: "The Man-Machine"

Brincando com os teclados em "The Model"


Trecho da emplogante "Planet of Visions"


Um trem eletrônico passou pelo Rio: "TEE" + "Metal on Metal"


quinta-feira, 16 de junho de 2022

Chrome - "Inworlds" (1981)

 

"Tomando dicas de Suicide, Can, Pink Floyd, Jimi Hendrix, The Residents e qualquer um que já fez fitas caseiras em seu quarto, os densos e caóticos épicos de ficção científica da dupla são pesadelos vívidos de vinil  – uma mistura espessa de ruídos mecânicos, filtrados, vozes distorcidas e letras fantásticas e bizarras – que dão vida a um mundo assustador ao mesmo tempo absorvente e repelente." 
Revista nova-iorquina Trouser Press, especializada em rock alternativo, sobre a Chrome

O industrial é, se não o mais criativo subgênero do rock n roll, o que carrega as referências mais instigantes em sua concepção. Sociohistoricamente falando, gera-se nos anos 70 na tensão capitalista da decadência da industrialização e a iminência ao mundo digital. A revolução industrial do século XIX não só havia desgastado e viciado o sistema fordista como, igualmente, não deixava no seu lugar um futuro promissor para o homem num mundo pós-Guerra/Guerra Fria. Talvez, para as máquinas, mas não para o homem. Esse contexto sombrio contamina toda a estética decadentista do industrial rock, que, dessa forma, bebe indistintamente em diversas vertentes, que vão do punk à eletrônica, do heavy metal ao futurismo, do gótico ao fantástico, do pós-punk ao minimalismo. Características que, juntas, não raro levam o gênero a aproximar-se das vanguardas musicais, seja da eletroacústica ou do atonalismo.

Claro que tamanha confluência de estéticas só poderia advir das profundezas do underground. Se bandas como Nine Inch Nails e Ministry tornaram-se as mais conhecidas do rock industrial, certamente todas elas devem a uma dupla ainda mais alternativa do que eles: a Chrome. Surgida na San Francisco em plena efervescência do movimento punk, a dupla Damon Edge (voz, teclados, bateria, sintetizador, tapes e arte) e Helios Creed (guitarra, baixo, programação e backing) entendeu antes de todo mundo que caminho iria dar toda aquela cena explosiva encabeçada por Ramones e Sex Pistols. Antes mesmo da Pere Ubu e da Throbbing Gristle, reconhecidos precursores do estilo, a Chrome, embora quase nunca lembrada por isso, já praticava a inversão dialética que os eletropunks da Suicide intuíam instintivamente: desafiar a máquina diante da condição humana - e não o contrário, como a era digital instituiu.

Da extensa discografia da Chrome, que tem discos tão desafiadores quanto experimentais e ruidosos como “Alien Soundtracks (1977), “Half Machine Lip Moves” (1979), "Anorther World" (1985) e "Feel It Like A Scientist" (2014), destaca-se, porém, aquele em que souberam valer-se do mínimo: o EP “Inworlds”, de 1981. São apenas duas faixas em que resumem a face criativa da dupla e onde eles conseguem expressar sua musicalidade de forma eficiente e marcante. “Danger Zone”, uma delas, guarda todos os predicados do melhor rock industrial: riff entre o punk e o metal, ritmo "pogueado", efeitos eletrônicos ruidosos e clima denso. A produção caprichada empresta ao contexto sonoro sujeira na medida certa, diferente dos primeiros álbuns, bastante mais carregados neste sentido. E a letra adensa ainda mais essa atmosfera da “tensão pré-milênio” como nos versos do refrão: “Totalmente sozinho/ Na zona de perigo”.

Já “In a Dream”, tema irmão de “Danger Zone”, traz uma melodia até parecida, porém numa cadência um pouco mais lenta, mas sem perder o clima vanguardista de cyberpunk. A Chrome consegue fazer lembrar num tempo Can, Killing Joke, Polyrock e The Residents. Aliás, a produção arrojada lhe dá ainda mais personalidade, com efeitos de mesa e de voz, sintetizadores sujando o arranjo e os instrumentos-base soando vivos, pulsantes. Para ouvidos mais apurados, dá para perceber de onde Herbert Vianna tirou o tipo de sonoridade que aplicou na produção dos discos da Plebe Rude poucos anos dali. 

De grande personalidade, a Chrome segue ativa até os dias de hoje, tendo lançando recentemente, o 26º álbum, “Scaropy”, de 2021, sem, contudo, jamais ter obtido sucesso comercial. Mas se as páginas da história do rock os obscureceram, os fãs ovacionam. Não é difícil encontrar nas redes sociais afirmações de que a Chrome é “a banda mais subestimada da história da música moderna” ou de que é ”a melhor banda de todos os tempos”. A melhor é difícil de afirmar, a mais subestimada, idem, mas que Damon Edge e Helios Creed conseguiram juntar as peças e forjar o gênero do rock mais múltiplo de todos, o industrial, isso é inegável. A história nem sempre é justa com seus pioneiros.

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FAIXAS:
1. "Danger Zone" - 05:32
2. ""In a Dream" - 05:11
Ambas as composições de autoria de Damon Edge e Helios Creed 

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Daniel Rodrigues

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #253

 

Apologia ao nazismo? Não aqui! Aqui é respeito e, claro, música boa, como as de Bob Dylan, Paulinho da Viola, Mutantes, Ministry, Sade e outros ilustres. Ilustre também é o nosso homenageado John Williams, que nos motiva a mais um quadro Cabeção. Quer flow de verdade? Escuta o MDC hoje, 21h, na humanista Rádio Elétrica. Produção, apresentação e direito de tentar não ser idiota: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Música da Cabeça - Programa #237

 

Tá cada vez mais rara a carne na casa do brasileiro, né? Se isso a gente não consegue resolver, pelo menos garantimos muita música boa no seu lar. O programa de hoje vem só com filé mignon: Dimitri Shostakovitch, Arnaud Rodrigues, Ministry, mundo livre s/a, Herbie Hancock e mais. No nosso quadro móvel, um "Sete-List" em homenagem ao Dia Do Poeta. Devidamente inspecionado, o MDC de hoje vai à mesa às 21h, na apetitosa Rádio Elétrica. Produção, apresentação e melhores cortes: Daniel Rodrigues. E não te esquece de continuar votando na gente para o Prêmio Press: Música da Cabeça (Programa de Rádio) e em Daniel Rodrigues (Apresentador de Rádio): www.revistapress.com.br/premiopress/


Rádio Elétrica:
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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Música da Cabeça - Programa #187

 

ASSIM COMO NÃO EXISTE ESTUPRO CULPOSO, NÃO EXISTE MDC SEM MÚSICA BOA. NA CORRENTE DE DENÚNCIA CONTRA A VIOLÊNCIA À MULHER, VIEMOS CARREGADOS DE FORÇA COM MINISTRY, DOM UM ROMÃO, ED MOTTA, THE SMITHS E MAIS. TAMBÉM, UM "CABEÇÃO" EM HOMENAGEM AO INCLASSIFICÁVEL CABEÇÃO FRANK ZAPPA E UM "PALAVRA, LÊ" PARA NELSON MOTTA. MÚSICA DA CABEÇA #187 HOJE, 21H, NA JUSTA RÁDIO ELÉTRICA. PRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO: DANIEL RODRIGUES. #justiçapormarianaferrer


RÁDIO ELÉTRICA:
HTTP://WWW.RADIOELETRICA.COM/


terça-feira, 6 de outubro de 2015

Coluna dEle #39



Ó, aí, filharada, tô na área. Se derrubá é pênalti (mas é claro que o juiz vai marcar pro Corinthians).
A propósito, que vergonheira isso que acontece aí no campeonato de vocês. Esses árbitros marcam umas coisas que até Eu duvido. Mas deixa isso pra lá.
Eu sei que estive sumido mas é que aqui em cima tem um  monte de coisa pra fazer. Cês pensam que é moleza governar essa coisa toda? Ainda mais com a trabalheira que vocês Me dão.
Às vezes Eu penso mesmo em mandar tudo pro Inferno e largar tudo mas respiro fundo, rezo um Pai Nosso e... bola pra frente.
Mas que é difícil, é.

****

Tão dizendo por aí que Eu disse que o mundo vai acabar amanhã. Ainda que eu tenha essa vontade, essas ideias assim de vez em quando, particularmente, dessa vez não sei de nada. Não me consultaram e se for acabar não é obra minha. Sendo assim, pra quem já tava dando graças a Mim por acabar com esse mundo ordinário, não vai ser dessa vez.

****

Mas e aí?
Eu tenho acompanhado um pouco as coisas que andam acontecendo aí por baixo.
A coisa tá feia aí no Brasil, hein!
Não tem pra onde correr.
Ninguém é santo nesse rolo todo.
Olha, nesse negócio de propina, contas no exterior, doações irregulares, compra de votos e tudo mais, vou deixar nas mãos de vocês pra meter no xilindró quem tiver que entrar em cana, mas, ó, posso adiantar pra vocês que, independente do julgamento dos homens, quando morrerem, nenhum deles vai subir pra cá.

*****

E tem uns aí que quiseram bancar de anjinho e no fim das contas, com o perdão do trocadilho, tem contas em Paraísos Fiscais maiores que as Minhas.
Se eu tenho conta em Paraíso Fiscal? Se é fiscal, não sei, mas que Eu tenho conta aqui no Paraíso, é óbvio, né?
Que que vocês queriam? Eu também sou filho de... Bom, não sou filho, Eu sou Ele mas... Ah, vocês entenderam.

*****

Mas pra provar que nem todo mundo é desonesto nesse mundo que Eu criei, vocês viram que um golfinho devolveu um celular que caiu na água?
Pois é. É a prova que a humanidade não está de todo perdida.
Humanidade? (Ops!)

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Ainda sobre dinheiro, dia desses senti um catuco por baixo, senti Meu trono mexendo, levantando, Me perguntei o que seria e era a cotação do dólar que tinha chegado aqui em cima.

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Mas mudando de assunto, e o tal de Rock in Rio, hein?
Não foi igual ao primeiro, que foi divino, mas até que Eu curti.
Fui na noite do Elton John e do Rod Stewart que são mais do Meu tempo. Já o Jay Christ, meu filhão, foi na noite do metal. Também, com aquela cabeleira não podia ser diferente, né?
Bengueou tanto que ficou com torcicolo no dia seguinte.
Disse que o Metallica tava foda no palco principal mas curtiu mesmo foi o Ministry tocando "Jesus Built My Hotrod".

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E o que foi aquele Queen, cara? Ou melhor, o que foi aquele cara do Queen?
O cara é, tipo assim, uma mistura de George Michael, com Luan Santana, com Edson Cordeiro, com Ana Maria Braga e Lady Gaga, mas não posso negar que potencial vocal o rapaz tem. Até porque fui  Eu que dei isso pra ele.
Eu até que curti, só não entendi porque que depois de umas duas ou três músicas, o Freddie, que tava assistindo aqui comigo, levantou balançando a cabeça negativamente e foi dormir.

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Outro que pediu pra morrer foi o Renatão quando soube que a Legião vai voltar com outro vocalista.
Mas aí ele percebeu que já tava morto.

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Ainda falando em música, tava zapeando aqui na minha Sky e vi que o Michel Teló é um dos comentaristas, jurados, analistas ou sei lá o que do tal The Voice.
Michel Teló???
É isso mesmo, produção?
Devem estar de brincadeira Comigo.
Parem o mundo que Eu quero descer.
Ah, sou Eu mesmo que paro.
Bom,... não vou parar só por causa disso.
Segue o baile.

****

Como se já não me bastasse tudo isso, dia desses tô navegando na skynet e dou de cara com o Stênio Garcia pelado.
Caraio! (literalmente)
Vocês não tem mais de quem vazar fotos pelado?
Da Gisele Bündchen, da Sharapova, por exemplo...
Olha, assim, ó, aquilo foi carga pesada.

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Qualquer dia vou dar de cara com alguma foto Minha como vim ao mundo.
Bom, isso é impossível porque Eu vim antes do mundo, mas...
Ah, não interessa. Vocês entenderam.

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Mas, pra terminar,  (que o trabalho me chama e não posso ficar o dia inteiro na frente do computador) e esse negócio de conceito de família e família tradicional e coisa e tal e blablablá? Que frescura! Que bobagem.
Olhem o Meu caso, por exemplo: Meu filho tem dois pais e uma mãe e a gente sempre conviveu na mais perfeita harmonia e na Minha Santa Paz. E não se pode chamar isso, exatamente, de famíla tradicional, não?
Pois então.

****
Então, Meus filhos, desencanem de bobagem, refresquem a cuca, tirem esse ódio dos coraçõezinhos de vocês, vivam as próprias vidas, não encham o saco dos outros e que Eu os abençoe.
Inté!
Fui.

****

Preces, agradecimentos, conselhos, xingamentos, assessoria familiar, musical e financeira, pelo
god@voxdei.gov



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Joy Division - "Closer" (1980)

Diálogo Entre Mim e Eu Mesmo Sobre Como Re-Descobri o Joy Division


“Cansados por dentro, agora nossos corações perdidos para sempre/
Não podemos nos recompor do medo ou da ânsia da perseguição/
Estes rituais nos mostraram a porta para nossas caminhadas sem rumo/
Aberta e fechada, e então batida na nossa cara/
Onde estiveram? Onde estiveram?...”
Ian Curtis,
da letra de “Decades”

- Dã, tu que sempre gostou de Joy Division, desde que os descobriu num programa do saudoso Clube do Ouvinte, da Ipanema FM, no início dos anos 90, já percebeu que eles são superinfluentes num monte de coisa?

- Que eles inspiraram o próprio New Order, embora o som seja majoritariamente diferente (um, deprê; o outro, “pra cima”), disso todo mundo sabe. E que tiveram também um papel importante na formação do pós-punk, ao lado do Public Image Ltd.Gang of Four e Pop Group, e do gothic punk, junto com The CureEcho and the BunnymenSiouxsie and the Banshees e outros. Mas tem mais alguma coisa que eu não saiba?

- Tem, tem mais coisa aí, sim. Andei percebendo isso reouvindo-os como sempre fiz desde que os conheci junto contigo, mas, sei lá porque, agora que me dei conta de uma série de outras percepções que nunca tinha atinado. A gente sabe que eles são muito mais do que um grupo do hit clássico “Love Will Tear Us Apart” ou aquela banda pré-história do New Order do vocalista que se matou. Mas afora isso tudo e o que tu citaste, noto hoje mais claramente que o Joy abriu as portas para uma série de influências que seriam sentidas dos anos 80 adiante na música pop em geral.

- Tipo o quê?

- Vejamos o “Closer”, de 1980. Embora minha admiração pelo "Unknown Pleasures" (e a idolatria que o mesmo tem mundo afora), é no segundo e último disco que o Joy Division cristaliza essa confluência de referências. Comecemos pelo exemplo da faixa inicial, “Atrocity Exhibitions”. Numa expressão: rock industrial.

- Quê? Tu... quer dizer, eu... enfim: estás louco? Rock industrial é pesado, sujo, ruidoso, cheio de efeitos eletrônicos. Rock industrial é Ministry, Pigface, Foetus, Alien Sex Fiend, essas coisas!

- E tu já prestou atenção em como é “Atrocity Exhibitions” de fato? Por acaso ela não é, justamente, pesada, suja, ruidosa e cheia de efeitos? Mais do que isso, veja a estrutura dela. Comparando com Ministry, banda exemplo máximo de rock industrial: a linha de bateria é intricada, quase específica dentro da harmonia. Em “Atrocity...”, a combinação caixa-tom tom-bumbo parece separada do chipô que, por sua vez, é separada dos toques no tarol, como se fossem três ilhas de percussão distintas. Fora que, além de não usar pratos, por uma questão de conceito harmônico, a percussão é toda sequencial, podendo tranquilamente se passar por uma programação de ritmo eletrônica combinada com bateria. Não é totalmente as melodias do Martin Atkins pro Ministry, Pigface ou PIL?

- É, neste sentido, tens razão.

- E o riff: muito rock industrial. Linha de baixo pesada em constante levada e guitarra distorcidíssima e corrosiva dando corpo, criando um clima caótico de era pós-industrial. A sacada do Joy, que ainda não tinha todo o aparato eletrônico que o mundo pop iria democratizar poucos anos à frente, foi criar um efeito de sequenciador na própria guitarra. A distorção, de uma clareza sonora incomum para as gravações da época (que não conseguiam dá-la por limitações de estúdio, fora num Hansa ou Abbey Road), parece, propositadamente, sair de uma motosserra ou de uma britadeira. Sobrepõe-se ao restante na medida certa, mas sem abafar os outros sons.

- É verdade!... Muito rock industrial isso, né? Lembra a estrutura melódica do Ministry em, por exemplo, “Breathe” e “Faith Collapsing”, até pelo ritmo meio tribal, pra citar apenas duas. Neste sentido, põe “no chinelo” o Pere Übu, que, embora eu goste, é o que chamam de início desse estilo. Que nada!

- E fora o vocal sempre espetacular do Ian Curtis, naquele timbre grave que transmite seriedade e melancolia, além de ser uma voz que não se consegue precisar a idade. Pode ter 24, como ele tinha, ou 70 anos. É bonita e perturbadora ao mesmo tempo.

- Bá, sempre achei o máximo o vocal do Ian.

- Pois então avancemos em nossa análise. “Isolation” não tem nem o que dizer: é MUITO New Order. E, mais do que isso, o pop dançável que tomaria as pistas anos 80 e adiante. The Cure, que é The Cure, só foi descobrir essa fórmula (riff no baixo, teclados cumprindo a função melódica da guitarra e bateria um misto de acústico e eletrônico) três anos depois, com “The Walk”. O Depeche Mode ainda engatinhava em direção à sua sonoridade própria quando o Joy lançou “Closer”.

- Ah, aí eu concordo contigo. Essa é a música que “inventou” o New Order.

- É, aí tu te enganas, mr. Daniel. Não exatamente.

- Ué? Por quê?

- Mais do que “Isolation”, “Heart and Soul”. Esta, sim, menos lembrada, carrega todos os predicados da linha que o New Order escolheria para seguir depois da morte do Ian. É só prestar atenção: primeiro, bateria/programação que reelabora a ritmação da disco, o que viria a dar depois em toda a cena tecno-house de Erasure, Tecnotronic, OMD da vida. É o mesmíssimo estilo de bateria que o PIL criou, principalmente no "Metal Box", de 1980 (“Swan Lake”, “Bad Baby”) e “This Is What You Want... This Is What You Get”, de 1984 (“This Is Not a Love Song”, “Bad Life”). Depois, o baixo marcado, constante, dub, a la Jah Wobble, remetendo a uma sonoridade eletrônica. David Bowie e Brian Eno já haviam feito isso em “Breaking Glass”, do "Low", de três anos antes – afinal, Bowie é quase sempre pioneiro no que se refere a pop-rock. Mas o Joy reelaborou e deu a forma definitiva daquilo que o próprio New Order assumiria. Basta ver os teclados e sintetizadores, que têm papel essencial na melodia e no arranjo. Mas o principal desta música: a voz do Ian. Mais leve e melodiosa que em qualquer outra que ele cantou em toda sua curta trajetória. É exatamente o estilo vocal que o Bernard Summer se sentiu à vontade em usar quando tomou os microfones – claro, tirando as gravações do defasado “Movement” – que é, parafraseando, um “movement ago”! hahahaha Endenteu, “movement”, “ago”! hahahaha

- Entendi, entendi. Meio sem graça, mas tudo bem.

- Com tu é sem graça, Dã... Tá, só complementando a ideia: o “Movement” é um luto do New Order em que eles ainda não conseguiam se desprender do Joy e da figura do Ian, grande poeta e líder. Por isso, New Order mesmo vale a partir do “Power, Corruption and Lies”, de 1982. Não só o Barney Summer pegou esse estilo de cantar do Ian em “Heart and Soul”, mas de toda a geração da acid house. Os caras do Erasure e Pet Shop Boys cantam exatamente assim até hoje!

- Concordo. Mas “Passover” e “24 Hours”, darks e densas, onde ficam?

- Tem que se entender que o Joy Division tinha o seu estilo já formado desde o “Unknown...”, e a banda, por mais que tenha incutido elementos e texturas eletrônicas, nunca deixou de compor suas canções nos instrumentos-base: baixo-guitarra-bateria . E se tu fores ver, eles próprios no New Order, festeiro e alegre muitas vezes, nunca abandonaram a composição à “moda antiga”, o que talvez seja o grande diferencial por eles estarem anos-luz à frente de outros grupos/artistas do eletro-punk dos anos 80, como o próprio Pet Shop Boys, o Ultravox ou o Durutti Culumn. No New Order, o Joy sempre esteve presente, às vezes até suprimindo ou relegando a segundo plano os teclados da Gilliam Gilbert, como em “Leave me Alone”, “Dream Attack” ou “Love Less”.

- Tá, mas voltando ao “Closer”, então, que mais tu me diz?

- Quanto a essas duas que citei, “Passover” é como uma continuação de “Isolation” com aquela “colagem” entre as faixas: o final de uma tem aquele som que parece estar sendo sugado, enquanto que o início da seguinte traz o mesmo som, só que invertido, dando a impressão de trazê-lo de volta, mas em outra abordagem. É isso que “Passover” é: uma “Isolation” obscura. No lugar do ritmo em tom elevado, tom menor de tristeza. Ambas as letras retratam as dificuldades psicológicas de Ian para com sua criação materna. Enquanto a letra de “Isolation” diz: “Mother I tried please believe me/ I'm doing the best that I can/ I'm ashamed of the things I've been put through/ I'm ashamed of the person I am” (“Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim/ Estou fazendo o melhor que posso/ Me envergonha as coisas que tenho feito/ Me envergonha a pessoa que sou”), “Passover” responde: “Is this the role that you wanted to live/ I was foolish to ask for so much/ Without the protection and infancy's guard/ It all falls apart at the first touch” (“É este o papel que você quis viver?/ Eu fui um tolo por pedir tanto/ Sem a proteção e guarda da infância/ Tudo se despedaça ao primeiro toque”). Até a batida, num compasso mais lento em “Passover”, é igual. Pode perceber. Quanto a “24 Hours”, acho das melhores da banda, com aquela intensidade que explode no refrão num ritmo punk junto da inabalavelmente tristonha voz de Ian, que não se altera da parte mais lenta para esta, mais agitada. E a linha de baixo do Peter Hook?! O que é aquilo? Inteligente, executa arpejos crescentes e decrescentes, que imprime um ar sério e contemplativo pra música. A bateria é outro ponto especial. Como no pós-punk e no industrial, não é óbvia. Aliás, o Stephen Morris dá um show à parte em todo o disco, cumprindo com precisão nas baquetas e na programação rítmica sempre que acionado, e olha que tem cifras difíceis de tocar no “Closer”!

- É verdade. “Colony” é um espetáculo a bateria.

- Pois ia falar justamente desta. Classifico-a como um “blues hermético”. É outra muito rock industrial, estilo que, por sua vez, como fica claro em “Heart and Soul”, é filho do pós-punk. Enquanto no “Unknown...” a veia punk desses ex-Warshaw ainda estava latente (basta ver “Interzone” e “Disorder”, punk-rocks secos), no “Closer” Ian & Cia aperfeiçoam isso. A bateria é sequencial e quebrada, como uma "Tomorrow Never Knows" em tempos fin de siècle, a guitarra solta urros como de “um vento cruel que uiva em nossa demência” e o baixo encaixa-se na batida, formando um ritmo marcial-militar, dando a ideia de prisão de uma opressora colônia para doentes mentais (ou seria a sociedade moderna que ele estava falando?). Nesse mesmo compasso rítmico, “A Means To an End” é outra brilhante do disco.

- E, novamente, uma letra e performance incríveis do Ian Curtis. É fantástico quando ele sai do seu tom contidamente tenso pra esbravejar, desiludido: “I put my trust in you” (“Eu depositei minhas esperanças em você”). Demais.

- Pois é. Agora, pensando pela lógica que expus desde o início, tanto “The Eternal” quanto “Decades” são bem a ponte entre o dark do Joy e o avanço técnico e melódico trazido pelo New Order e sua geração tempo depois. O compasso de “The Eternal” vem de uma bateria eletrônica, que lhe dá um clima de funeral, semelhante a de um coração deprimido que pulsa com sofreguidão. Os sintetizadores, também, mais parecem camadas de neblina cobrindo um cemitério. Elementos “artificiais” para um efeito orgânico. E é muito legal ainda a voz quase desfalecida de Ian, que a canta com profundo sentimento. Aí vem o final do disco com “Decades”!

- Esta é das melhores. “Decades” parece-me ser uma paixão especial por parte dos fãs de Joy Division.

- Concordo. Seguindo a linha de raciocínio, como “The Eternal”, em “Decades” a banda avança na ideia de sofisticar sua sonoridade. Ao invés da secura sem maiores efeitos de mesa de uma “New Down Fades” (também excelente, deixe-se registrado), que também fecha um dos lados de "Unknown..." e tem clima igualmente sombrio e construção melódica que cresce para um final épico e carregado, o riff de “Decades” já sai do próprio teclado. Nela, se adensa a atmosfera litúrgica sentida na faixa anterior, principalmente pelo som de órgão de Igreja. A letra, belíssima, não pode ser mais poética e decadentista.

- Total desesperança desse cara, né? Tava na cara que o suicídio dele se anunciava, e foi acontecer justamente dois meses antes do disco ser lançado, o que o tornou ironicamente póstumo. Mas tu me responde uma coisa: o que um ser em sã consciência faria assistindo “Stroszek”, do Werner Herzog, e ouvindo o "The Idiot" do Iggy Pop, ao mesmo tempo? Ambas as obras excelentes, mas, juntas, é piração total, um coquetel molotov pra um suicida!

- É verdade. Além de toda essa lenda em torno da morte do Ian, aumenta ainda mais a carga mitológica do “Closer” o fato de ter sido gravado sob uma abóbada de estuque especialmente construída esse fim de modo a captar a ressonância de uma capela. Era o Ian já preparando seu jazigo.

- Não sabia disso. Mas é fato que a peculiaridade de não ter indicação dos lados, seja no selo, seja no encarte, gera, conceitualmente, uma relação ao mesmo tempo aleatória e concisa entre as faixas, pois todas “dizem a mesma coisa”.

- Ah, mas mais do que isso, a arte da capa (assinada por Peter Saville), com aquela foto pictórica ritualística, mostra a foto de uma lápide tirada no Cemitério Staglieno, em Gênova, foi concebida antes da morte de Ian Curtis. Sabia disso? Uma infeliz coincidência?

- Sabe-se lá, né? De repente, o cara já tava intuindo, queria deixar seu “testamento musical”, como dizem que Coltrane fez em “A Love Supreme” ou Kurt Cobain teria dado a entender ao tocar a debochada e tristemente autosugestiva “Where Did You Sleep Last Night?” (“Onde Você Dormiu a Noite Passada”), com todas aquelas velas fúnebres no palco, como último número do "MTV Unplugged in New York", canto-do-cisne do Nirvana. Enfim: mitos que se criam em torno de um disco clássico como “Closer”.

- Pois é... pós-punk, gothic-punk, rock industrial, acid house, tecno, dub... puxa, são muitas referências que partiram deles!

- É, Dã: clássicos são reveladores a cada audição até mesmo para fãs de Joy Division como nós, que nunca deixaram seus discos esquecidos na prateleira. É o caso do “Closer”, que escutamos e reescutamos seguidamente. Mas grandes artistas têm disso, né: nos surpreendem mesmo depois de acharmos que os conhecemos bem. Eu pelo menos me surpreendi, e tu, Daniel?

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FAIXAS:
1. "Atrocity Exhibition" - 6:06
2. "Isolation" - 2:53
3. "Passover" - 4:46
4. "Colony" - 3:55
5. "A Means to an End" - 4:07
6. "Heart and Soul" - 5:51
7. "Twenty Four Hours" - 4:26
8. "The Eternal" - 6:07
9. "Decades" - 6:10


vídeo de "Decades" - Joy Divsion


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OUÇA:




quinta-feira, 25 de julho de 2013

As 20 Melhores Músicas de Rock dos Anos 90

Terá sido "Smells Like Teen Spirit"
a melhor música dos anos 90?
Reouvindo uma das músicas que mais gosto do Nirvana, ocorreu-me: que outras canções de rock da década de 90 competiriam com ela? Já havia me batido essa curiosidade ao escutar outras obras da mesma época, mas desta vez a proposição veio com maior clareza de resolução. A música referida é “Serve the Servants”, que Cobain e cia. gravaram no último disco de estúdio da banda antes da morte do compositor e vocalista, o memorável “In Utero”, de 1993. Aí, interessou-me ainda mais quando percebi que o mesmo grupo, referência do período, encabeçaria a seleção. Pus-me, então, à gostosa prática de inventar uma lista: quais os 20 maiores sons de rock ‘n’ roll dos anos 90? Como critério, estabeleci que valem só composições escritas na década mesmo e sem produções contemporâneas de roqueiros veteranos, como Iggy Pop (“To Belong” podia tranquilamente vigorar aqui), The Cure (“Fascination Street”, que desbancaria várias) ou Jesus and Mary Chain (“Reverance”, como diz a própria letra, matadora). Quanto menos competir com versões definitivas para músicas mais antigas, como a de Johnny Cash para “Personal Jesus”, do Depeche Mode, ou a brilhante “The Man Who Sold the World” de David Bowie pelo Nirvana, em seu "MTV Unplugged in New York" .
Esta lista vem se juntar com outras que o clyblog  já propôs aqui (inclusive, a uma não de músicas, mas de álbuns dos anos 90) e que, como qualquer listagem que lida com gostos e preferências, é apenas uma janela (aberta!) para que outras elencagens sejam propostas. Querem saber, então, o meu ‘top twenty’ do rock noventista? Aí vai – e com muita guitarrada e em volume alto, como sempre será um bom e velho rock ‘n’ roll:

1 – “Smells Like Teen Spirit” – Nirvana (1991)


2 – “Lithium” – Nirvana (1991)
3 – “Unsung” – Helmet (1992)
4 – “Only Shallow” – My Bloody Valentine (1991)
5 – “Paranoid Android” – Radiohead (1992)
6 – “Gratitude” – Beastie Boys (1992)



7 – “All Over the World” – Pixies (1990)
8 – “Enter Sandman” – Metallica (1991)
9 – “Eu Quero Ver o Oco” – Raimundos (1996)
10 – “Wish” – Nine Inch Nails (1991)
11 – “Kinky Afro” – Happy Mondays (1990)
12 – "There Goes the Neighborhood" – Body Count (1992)
13 – “N.W.O.” – Ministry (1992)
14 - "Suck My Kiss" – Red Hot Chilli Peppers (1991)
15 - “Serve the Servants” – Nirvana (1996)
16 – "Jeremy" – Perl Jam (1991)
17 - “Army of Me” – Björk (1995)
18 - “Govinda” – Kula Shaker (1995)
19 - “Da Lama ao Caos” – Chico Scince e Nação Zumbi (1994)
20 - "Dirge" – Death in Vegas (1999)




domingo, 30 de dezembro de 2012

Planet Hemp - "Usuário" (1995)




“Acenda um e ouça o que eu tenho a lhe dizer/
Esse é o Planet Hemp e
 não tenho o que esconder/

Fumo maconha sim, mas calma meu camarada/

Eles um dia vão ver que a lei estava errada.” 

versos de abertura de “Dig dig dig”



Chega a ser ridículo pensar hoje que, em 1995, mesmo ano em que o Brasil hipócrita achava engraçadinho os filhinhos-de-papai dos Mamonas Assassinas fazerem apologia ao bacanal e à felação para crianças (pra ficar em apenas dois exemplos incabíveis), os pretos da periferia carioca do Planet Hemp eram taxados de perigosos. Isso porque seu discurso não tinha a intenção de apenas vender falando qualquer baboseira apelativa, mas, sim, de ir à raiz do problema, sem meio-termo. Com palavras-de-ordem como “Legalize Já”, “Fazendo a sua cabeça” e “Aprenda a dizer não”, os caras fizeram um álbum revolucionário que quebrou barreiras sonoras e comportamentais no Brasil democrático e globalizado dos anos 90: “Usuário”. A bandeira não era só a da liberação da maconha, mas também da desigualdade social, da discriminação racial, da midiatização e da corrupção policial e política numa fala altamente engajada e denunciadora. Tudo com muita agressividade, articulação e pegada.
O Planet Hemp foi algo totalmente novo no mercado fonográfico mundial. A começar, tinha nada menos que três rappers como protagonistas. Um deles era o hoje popular Marcelo D2, então um verdadeiro prosador urbano, um poeta do subúrbio cuja lírica alia o grito de revolta do rap à malemolência consciente dos partideiros do samba. Igualmente, BNegão, dono de uma voz possante e ideias não menos, inteligentíssimo e mordaz. Para completar, Black Alien, outro feroz rapper-repentista. A banda se autodefinia como um Raprocknrollpsicodeliahardcoreragga, o que, na verdade, apenas mostra sua diversidade musical. Uniam com desenvoltura rap ao hardcore, funk, reggae, ragga, surf, punk entre outros, mas, como se não bastasse, ainda incluíam ritmos brasileiros. É inegável que se parecem com e não existiriam não fossem Rage Against the MachineBeastie BoysBody Count e Cypress Hill, mas essa levada de raiz é um grande diferencial do Planet não só no som, mas na maneira de cantar, no fraseado e nas letras.
Prova dessa gama de influências é a faixa inicial do disco: “Não Compre, Plante”, um funk-rock-soul que podia muito bem integrar algum dos volumes do Tim Maia Racional não fossem os scratches modernos do DJ Zé Gonzales, perfeitos e cirúrgicos como em todo o disco. Na sequência, “Porcos Fardados”, rap com batida sampleada de James Brown, um tiro de escopeta em forma de palavras contra a polícia. Além de citar um dos ídolos de D2 e da banda, Bezerra da Silva ("Você com o revólver na mão é um bicho feroz/ Sem ele anda rebolando e até muda de voz"), manda o recado no refrão: “porcos fardados: seus dias estão contados”.
Depois, a pesada e pegajosa “Legalize Já”, polêmico megasucesso que foi um dos responsáveis por fazer “Usuário” vender 150 mil de cópias. “Deisdasseis”, das melhores, é uma vinheta sustentada só nas vozes e no beat box mas que, pasmem!, não tem ritmo de rap, mas de baião. Sim! Parece um desafio nordestino, mas com sotaque de gurizada carioca (e, claro, com apologia à marijuana). Genial. Esta já emenda com “Phunky Buddha”, um rap-hardcore com scratches fenomenais e a ótima guitarra de Rafael Crespo, além de Bacalhau, na bateria, e Formigão, no baixo, segurando a base super bem – como, aliás, fazem em todo o disco.
“Maryjane”, outra ótima, alterna um hardcore rápido a um funk carregado. A diversidade sonora do grupo surpreende novamente em “Futuro do País”, que começa com um sample de pagode e o canto malandro de D2. A letra, crítica, põe o dedo na ferida, dizendo: “Mas eu queria somente lembrar/ que milhões de crianças sem lar/ São frutos do mal que floriu/ Num país que jamais repartiu (Pátria amada, Brasil)”. Isso, claro, não podia “terminar em samba”. Pois que uma guitarra distorcidíssima surge ao fundo até que, ao final da última estrofe, entra, como se estivesse socando, uma massa sonora de guitarras, baixo, bateria e samples, transformando-a num rock que parece as melhores e mais pesadas coisas do Ministry.
Outro hit, a clássica “Mantenha o Respeito”, traz um refrão poderoso, daqueles que incendeiam qualquer show. “Mutha Fuckin' Racists”, em inglês e bem ao estilo Body Count , alternando hip hop, heavy metal e hardcore, antecede a, para mim, melhor do disco e da banda. “Dig Dig Dig (Hempa)” é, sem dúvida, um dos clássicos do rock nacional. Primeiro que só rock não é a melhor definição. Ela começa com uma batida marcada de baião, até que, no primeiro refrão, muda radicalmente para um reggae. O ritmo nordestino retorna na segunda sessão de versos, mas, no refrão seguinte, surgem as guitarras possantes e pesadíssimas para formar um funk-rock de tirar o fôlego. Outra ideia genial é que a letra do refrão varia. No segundo, por exemplo, D2 cita nada mais, nada menos que versos de “Zumbi”, o clássico samba-rock do LP "Tábua de Esmeraldas"  de Jorge Ben, fazendo referência não só ao som do mestre, mas à negritude e à importância histórico-social do líder negro para o discurso contemporâneo do Planet.
Mudando totalmente a textura sonora apurada, o craque produtor Mario Caldato Jr. (corresponsável por toda a engenharia de estúdio dos Beastie Boys  pôs a banda ao vivo no estúdio para tocar a instrumental “Skunk”, com show de guitarras de Crespo e que ficou, propositalmente, com cara de faixa demo. “A Culpa É de Quem?” cai no rap novamente, e aí quem se destaca, além dos rappers, é Zé Gonzales, que varia o tipo de batida e os elementos sonoros. Para terminar, o hardcore acelerado “Bala Perdida”. Perfeita.
Afora as polêmicas, prisões e censuras que gerou, é evidente que “Usuário” trouxe à tona discussões então superficializadas ou até evitadas, denunciando a infinidade de coisas erradas que o sistema político do Brasil faz questão de manter para poder explorar. Dentro disso, mordazes e desafiadores, os rapazes do Planet Hemp foram muito além da imagem de adolescentes maconheiros querendo fumar sua cannabis sem parecer criminosos, pois colocaram na mesa uma série de questionamentos fundamentais para quem quer um mínimo de igualdade social em terras brasileiras. Lá pelas tantas, eles dizem: “Não vou ficar calado porque está tudo errado/ Políticos cruzam os braços e o país está uma merda/ Trabalho pra caralho e fumo minha erva/ E aí eu te pergunto/ A culpa é de quem?
E aí eu lhes pergunto: a culpa é de quem?

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FAIXAS:
1. "Não Compre, Plante!" 4:12
2. "Porcos Fardados" 3:06
3. "Legalize Já" 3:01 

4. "Deisdazseis" 0:46 
5. "Phunky Buddha" 2:50 
6. "Maryjane" 2:10 
7. "Planet Hemp" 0:26 
8. "Fazendo a Cabeça" 3:20 
9. "Futuro do País" 3:39 
10. "Mantenha o Respeito" 3:17 
11. "P... Disfarçada" 2:26 
12. "Speed Funk" 1:24 
13. "Mutha Fuckin' Racists" 3:45 
14. "Dig Dig Dig (Hempa)" 1:53 
15. "Skunk" 3:35 
16. "A Culpa É de Quem?" 3:48 
17. "Bala Perdida" 2:33 
18. "Sem título" (faixa oculta no final do álbum) 1:26

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vídeo de "Dig Dig Dig" - Planet Hemp


Ouça:

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Helmet - "Meantime" (1992)

A CALIBRADA MÁQUINA DE PRODUZIR BARULHO


“Riffs de fusão zeppelinesca com uma precisão pós-hardcore veemente, intensificados por acordes densos e linhas fora de compasso baseadas na formação de jazz formal de (Page) Hamilton.”
Definição do estilo da banda no site oficial do Helmet



Uma das coisas que sempre apreciei no jazz é não somente aqueles solos magníficos, mas, tanto mais, a criatividade na invenção das bases e a execução do chorus, momento em que todos os instrumentistas tocam juntos o “riff” com uma perfeição tamanha que parece sair de uma máquina sonora. Acham que me enganei de estar falando de jazz ao invés do rock pesado do Helmet? Não, não estou equivocado. Talhados no jazz, os músicos do Helmet são o melhor exemplo do quanto o estilo mais americano de todos influenciou até o rock alternativo. Um dos melhores resultados desta alquimia está em “Meantime”, segundo disco de carreira do grupo e auge da maturidade musical do líder, cantor, guitarrista e compositor Page Hamilton.
“Meantime” é um dos grandes discos de rock pesado dos anos 90 – ali, ali com “Chaos AD” do Sepultura e o “disco preto” do Metallica – e do qual guardo a lembrança de ter sido um dos primeiros CD’s comprados por mim e meu irmão logo que este tipo de mídia começou a ser comercializada no Brasil. Além disso, foi o disco que me fez conhecer a banda, depois de vê-los na MTV e surpreender-me com aquele som furioso e, ao mesmo tempo, original e precioso como uma calibrada máquina de produzir barulho. Tal um chorus de jazz. Trata-se de um trabalho que sintetizou os estilos de rock pesado, dando uma roupagem híbrida e toda pessoal às características de massa sonora em volume alto.
Assim, heavy metal, hardcore, punk rock, surf music, grind core, pós-punk; tudo é filtrado pelo som do Helmet. Neles, ouve-se de Led Zeppelin a Exploited, de Trashman a Ratos de Porão, de Ministry a Television. Antes, já tinha escutado o Prong, banda nesta linha, mas na qual faltava alguma coisa que eu não identificava ao certo. Essa “coisa” era exatamente aquilo que o Helmet fez em “Meantime”. Variações rítmicas, transições pouco óbvias entre as várias partes, dissonâncias, afinações e sonoridades bem definidas. Tudo num som seco e direto, que não dá descanso aos ouvidos do início a fim. O feito obteve êxito: “Meantime” foi indicado ao Grammy, levou disco de ouro e botou pilha para que muita banda alternativa se formasse.
“In the Meantime” abre os trabalhos dizendo a que veio. Na introdução, todos os instrumentos entram juntos estourando a caixa, num extenso rolo e em escala ascendente, até dar lugar à bateria funkeada do ótimo John Stanier e a base roncada e “torta”, que quebra a linha de tempo 2 e 2 com um tempo a mais. Além disso, a voz de Hamilton, outro fator peculiar no Helmet, não é, mesmo quando esbravejada, um arroto de trash metal, em que não se entende nada do que se está cantando, nem doce e entoada como um pop suave. Assim como o som da banda, o estilo vocal dele acha um meio termo sutilmente interessante.
“Give It” contrasta o vocal melodioso com o tema bem heavy. O compasso arrastado sofre um pequeno “atraso” da bateria, que sincopa a música entre os urros de guitarra. Também “quebrada”, num esquisito tempo 6x6, “Turned Out” é composta de várias partes que se encaixam em perfeita harmonia. “Ironhead”, outra incrível, tem uma levada acelerada, principalmente durante o solo, onde vira um hardcore pogueado.
Em “Better”, das minhas preferidas, o vocal mais raivoso de Hamilton no álbum dá a falsa impressão de estar fora de sincronia com o instrumental, este, um simples e engenhoso jogo de quatro acordes que se repetem no segundo tempo, mas inversamente. Porém, o ponto alto é justamente o maior sucesso comercial do Helmet: a matadora “Unsung”. Lembrando “California Über Alles” do Dead Kennedy's na introdução, é composta num maluco 1-2-3/ 1-2-3/ 1-2-3 / 1-2-3-4-5-6-7-8-9. Consegue ser pegada e melodiosa ao mesmo tempo. Na base, os ataques de baixo-guitarra entre um breve silêncio e outro, finalizados por um soco da bateria, parecem choques elétricos estridentes que se ligam e desligam de um barulhento aparelho com defeito. “Role Motel”, com uma levada funk da bateria, simétrica como um relógio, fecha o disco sob um mar de distorções, no mesmo espírito que começou.
Como disse noutro post deste blog, quando estive no show da banda , o som do Helmet é simplesmente um rock bem feito: enfurecido, de guitarras distorcidas, bateria pulsante e baixo rosnando, porém sempre inteligente e bem composto, até complexo às vezes, mas sem cair no virtuosismo apelativo. Dá a impressão de que veio por ordem na casa do hard rock, tão combalido entre poucas coisas boas e um monte de porcaria. Parecido, em termos, com coisas de jazz moderno: um Mahavishnu Orchestra, John McLaughlin, VSOP ou uma Carla Bley. Entretanto, acima de tudo, “Meantime”, prestes a completar 20 anos de lançamento, é e continua sendo exemplo de rock ‘n’ roll bem feito. Puto. Potente. Empolgante.

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FAIXAS:
1. "In the Meantime" – 3:08
2. "Ironhead" – 3:22
3. "Give It" – 4:17
4. "Unsung" – 3:57
5. "Turned Out" – 4:14
6. "He Feels Bad" – 4:03
7. "Better" – 3:10
8. "You Borrowed" – 3:45
9. "FBLA II" – 3:22
10. "Role Model" – 3:35
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vídeo "Unsung", Helmet:

Helmet - Unsung por jesus_lizard

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Ouça:
Helmet Meantime