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quarta-feira, 22 de março de 2023

Debate "O trabalho dos profissionais da crítica nos festivais e mostras de cinema" - I Encontro dos Festivais Ibero-Americanos - Cinemateca Capitólio - Porto Alegre/RS (26/3)

 

No próximo domingo, através da ACCIRS, eu participo como mediador de um debate sobre a crítica e festivais de cinema dentro do I Encontro dos Festivais Ibero-Americanos, que ocorre na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, entre os dias 23 e 27 de março. No painel "O trabalho dos profissionais da crítica nos festivais e mostras de cinema", que acontece no dia 26/03, às 15h, será debatido sobre o espaço da crítica nos eventos de cinema e qual seu papel no fomento da cinefilia. 

Participam da mesa Ivonete Pinto, colega de ACCIRS e editora da revista Teorema, o argentino David Obarrio, programador da Buenos Aires Festival (Bafici), e o mineiro Victor Guimarães, curador do Festival Internacional de Cine de Valdivia (FICValdivia).

A iniciativa é da Coordenação de Cinema e Audiovisual e Fundacine e tem como eixo central a criação de um espaço de intercâmbio entre alguns dos principais eventos da Ibero-América, com mesas e painéis temáticos, além de uma Mostra de obras cinematográficas que tiveram relevância no cenário destes eventos. 

Alta expectativa. Após o evento, claro, a gente faz registros e conta aqui como foi. Mais informações sobre o evento, que contém uma série de outras atividades, basta conferir aqui: www.fundacine.org.br  


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 2 de março de 2023

Festival Paulo Moreira - Café Fon Fon, Espaço 373, Gravador Pub e Sala Jazz Geraldo Flach (Porto Alegre/RS)

 

Diminutivo, aumentativo

Falar de Paulo Moreira requer o exercício de se contemplar coisas grandes e pequenas. Ao menos, aparentemente pequenas. Desde que nos conhecemos e naturalmente nos amigamos, ouso chamá-lo de Paulinho, assim, no diminutivo. Taí a aparente coisa pequena, mas diminutivo este que, travestido de carinho, só faz representar o gigante espaço que esta querida figura ocupa em minha vida. Jornalista admirável, amigo generoso.

Desde antes de conhecê-lo pessoalmente, ainda adolescente, fui, assim como muito porto-alegrense que conheço, ouvinte assíduo do Cultura Jazz, apresentado por ele anos 90 e 2000 adentro. Nem sei quantas vezes me peguei embasbacado por tamanhos conhecimento e paixão de Paulinho a tudo que nos apresentava. E sempre com muita generosidade. Jovem admirador do gênero, foi no Cultura Jazz que meu gosto se expandiu. Não fosse, o coração abarcador do professor Paulinho, jamais haveria mais este fã de jazz que aqui vos fala.

Mas não só isso. O jazz e a música, por maior que seja, é uma fração de tudo isso que ele representa. Os trânsitos entre nós pelo cinema, literatura e futebol vieram em decorrência. Lembro da alegria dele ao encontrar a minha esposa Leocádia, a meu irmão Cly Reis e a mim no Vivo Rio para o show de Wayne Shorter e Herbie Hancock, em 2016, a qual ele, em razão de outros conterrâneos também presentes, de "caravana jazzística gaúcha". Ou quando, ano passado, na última vez que o vi pessoalmente, mesmo sem ter participado da edição como autor, foi (generosamente) prestigiar a mim e aos outros colegas de ACCIRS no lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”. O comentário elogioso dele para minha mãe, que também prestigiava, referindo-se a mim e a meu irmão denota essa nobreza pauliniana.

Paulinho entre eu irmão e eu: generosidade e amizade

E tudo isso invariavelmente sob este olhar atencioso, principalmente o dele, que afetuosamente me apelidou, em virtude das “esquisitices” ouvidas por mim e compartilhadas nas redes sociais, de “cabeção”. Assumi relativamente o título, que virou inclusive nome de um quadro do meu programa Música da Cabeça, na Rádio Elétrica, justamente com esta ideia (e obviamente, dedicado a ele). Por outro lado, a alcunha, dita neste escancarado aumentativo, é grande demais para eu comportar. Afinal, como sempre lhe retruquei, o “cabeção” é ele. Ora: quem me apresentou a rebuscamentos como Toshiko Akiyoshi, a Anthony Braxton, a Carla Bley, a John Zorn ou a Sun Ra é, este sim, o verdadeiro “cabeção”!

Comigo no lançamento do
livro da ACCIRS
Chegou a hora, então, de retribuir ao menos um pouco todas estas camadas de generosidade de Paulinho para comigo e para com a combalida cultura de Porto Alegre. De quinta a domingo (2, 3, 4 e 5 de março), a cidade será agitada pelo I Festival Paulo Moreira, evento coletivo totalmente dedicado a ele, que está precisando de recursos para tratamento de saúde. A primeira edição vai reunir mais de 15 grupos de música instrumental do Rio Grande do Sul, com apresentações no Café Fon Fon, Espaço 373, Gravador Pub e Sala Jazz Geraldo Flach. Toda a renda será revertida ao tratamento de saúde do jornalista. Criado por um grupo de amigos, o projeto foi prontamente abraçado por espaços culturais e artistas da cena gaúcha e contará também com o apoio do cartunista Fraga, que doará obras para venda; dos fotógrafos Daisson Flach, Douglas Fischer e NiltonSantolin, da Atmosfera Produtora; de Texo Cabral e da Reverber Produtora, que farão as captações de áudio e vídeo das apresentações no Gravador, e do Person Piano.

Tentaremos Leocádia e eu estarmos presentes, mas tanto nós quanto qualquer um pode fazer doações de qualquer valor mesmo que não compareça aos shows. Independentemente, é muito bom ter a oportunidade de ajudar este amigo e de poder falar dele desta forma, em vida. Tudo o que em aniversários a gente fica meio intimidado de dizer para não soar demasiado cerimonioso, esta oportunidade abre espaço para extravasar. Afinal, o gigante Paulinho merece tudo, das grandes às pequenas coisas. E aumenta o som aí!

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I Festival Paulo Moreira
Os ingressos por noite custam o preço único de R$ 35,00. Confira os links para comprar no link da bio.
Quem não for aos shows e quiser doar qualquer valor, o PIX é 01510705040 (CPF/ Roberta Brezezinski Moreira).

PROGRAMAÇÃO

2 de março | Quinta-feira | ESGOTADO!
Café Fon Fon (Rua Vieira de Castro, 22 – Bairro Farroupilha)
21h – Thiago Colombo
21h30 – Paulo Dorfman
22h – Júlio "Chumbinho" Herrlein
22h30 – El Trio
23h30 – Quarteto Fon Fon

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3 de março | Sexta-feira | ESGOTADO!
Espaço 373 (Rua Comendador Coruja, 373 – Bairro Floresta)
19h40 – Nico Bueno Café Trio com participação de Bernardo Zubaran
20h30 – Marmota com participação de Nicola Spolidoro e Ronaldo Pereira
22h10 – James Liberato
22h20 – Pedro Tagliani Quarteto

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4 de março | Sábado
Gravador PUB (Rua Conde de Porto Alegre, 22 – Bairro São Geraldo)
Abertura da casa: 14h
Grupos musicais:
15h00 - Paulinho Fagundes, Miguel Tejera e Rafa Marques
15h45 - Instrumental Picumã + Pirisca Grecco
16h45 - Corujazz
17h30 - Rodrigo Nassif Trio
18h15 - Quartchêto
19h00 - Marcelo Corsetti Trio
19h45 - Funkalister
20h30 - Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense
21h00 - Hard Blues Trio
21h45 Antonio Flores

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5 de março | Domingo | ESGOTADO!
Sala Jazz Geraldo Flach
18h00 – João Maldonado Trio, com a participação especial de Ayres Potthoff
19h00 – Nicola Spolidoro, Caio Maurente e Luke Faro
20h00 – Luciano Leães, Cristian Sperandir, Paulinho Cardoso, Fernando do Ó e Ronie Martinez


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa

sábado, 21 de janeiro de 2023

"Sinal de Alerta: Lory F.", de Frederico Restori (2021)

 

"Sabe aqueles vendavais, ciclones que acontecem e que devastam uma cidade inteira? Lory era assim: por onde passava, ela devastava".
Charles Finocchiaro, falando sobre a irmã


Para onde vai a lembrança da arte quando o pouco que se guarda dela se encontra fragmentado, seja nas mídias empoeiradas ou nas mentes embaçadas? Quem recordaria de Lory F. Band a não ser roqueiros viúvos da Rádio Ipanema com boa memória musical, os familiares da artista ou as pessoas do meio cultural (e ainda somente aquelas "das antigas")? A resposta está em "Sinal de Alerta: Lory F.", filme de Frederico Restori.

Vencedor do Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas no 50° Festival de Gramado e um dos dois melhores curtas-metragens gaúchos de 2022 pela escolha da Accirs, "Sinal de Alerta: Lory F." também foi exibido no festival In-Edit Brasil 2022 e um dos selecionados para a mostra de filmes gaúchos do V CineSesc.

Documentário que retrata a meteórica passagem da cantora e compositora Lory Finochiaro, o filme de Restori resgata com lucidez e ternura esta figura pouco lembrada no cenário cultural do Rio Grande do Sul, evidenciando um legado que espelha (e critica) a identidade do ser contemporâneo. Para a cena rock gaúcha, ainda mais importante a figura da artista. Basta dizer que da sua primeira banda, A Nata, saíram De Falla, Taranatiriça e a própria Lory F. Band, três grupos lendários para o rock feito no Rio Grande do Sul nos anos 80.

“Sinal de Alerta: Lory F.” traz depoimentos colhidos por Restori junto a familiares, amigos e músicos que tocaram com a roqueira. No curta, destaque para uma arrojada montagem, responsável por dosar informações em ritmo certeiro distribuídas entre uma quantidade surpreendente de cortes, filtros e efeitos visuais sobre a imagem. O único porém é que fica a impressão de que cabia em um longa-metragem, pois deixa a sensação do desejo de mais conteúdo. Tendo em vista, contudo, que a história se encerra bem dentro dos pouco mais de 18 minutos de fita, este porém é muito menos crítica e mais um elogio.


assista o filme "Sinal de Alerta: Lory F."


Daniel Rodrigues


quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Debate 17ª Mostra Unisinos de Cinema - Cinemateca Capitólio - Porto Alegre/RS (19/12/2022)

 

Nada como terminar o ano de diversas atividades de crítica cinematográficas junto àqueles que estão iniciando a caminhada no meio do cinema: os alunos. 2022 foi novamente de bastante envolvimento meu para com o cinema e a crítica, o que pude exercitar em diferentes frentes. Depois de largar com o lançamento do livro da Accirs, “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, em março; de integrar a comissão curatorial da Mostra gaúcha do CineSesc, de março a maio; de presenciar pela primeira vez o Festival de Cinema de Gramado na histórica edição de n° 50, em agosto; de mediar um bate-papo sobre Sirmar Antunes numa live para o Museu do Festival de Cinema de Gramado, em novembro; e de estrear com artigo na igualmente histórica edição de 20 anos da revista Teorema, no último mês do ano; participei como convidado pelo professor da Unisinos, o cineasta Milton do Prado, a debater criticamente a 17ª Mostra Unisinos de Cinema, que apresenta os trabalhos de alunos feitos durante o ano.

Esta aproximação, aliás, já vinha sendo alentada desde o ano passado, quando Milton havia me convidado para uma sessão comentada sobre o clássico filme gaúcho “Um É Pouco, Dois É Bom” (1970), primeiro longa-metragem dirigido por um cineasta negro no Rio Grande do Sul, Odilon Lopez. Na ocasião, um conflito de agendas me impossibilitou de participar, mas desta vez não titubeei. Numa Cinemateca Capitólio lotada e com mediação da professora Jessica do Vale Luz, assistimos a cinco curtas, todos produzidos por alunos de Milton e do também professor e cineasta Vicente Moreno, coordenadores do curso de Realização Audiovisual da universidade.

Impossível não notar algumas inconsistências nos filmes, compreensíveis a trabalhos acadêmicos, pois geralmente os primeiros exercícios no audiovisual de seus realizadores. Os filmes, no entanto, guardam todos qualidades em narrativa e nos aspectos técnicos, como edição de som, fotografia e edição. Os roteiros, alguns menos trabalhados do que outros, foram os grandes responsáveis por balizar o maior ou menos sucesso das obras. O simpático “Confluência”, que narra os encontros e desencontros de uma juventude porto-alegrense, é um exemplo disso. O frescor das histórias de amor juvenis, tão presentes no cinema da Nouvelle Vague ou mesmo no moderno cinema gaúcho dos anos 80, funciona até o momento em que, por escolha da diretora, Valentina Ritter Hickmann, recentemente premiada em Gramado com o emocionante "Somente para Registro", doc subjetivo e pessoal, não consegue repetir a mesma coesão nesta nova realização. Muito por delegar (palavras da própria autora) a fruição da história aos atores e menos ao roteiro, base de toda obra audiovisual. Enfim, erros e acertos inerentes ao caminho. 

Interessante filme, mas que também requer maior trato de roteirização, é “Sufoco”. Dirigido pelo jovem negro Maicon F. Silva, aborda aspectos sociais importantes como preconceito, bullying, ancestralidade e identidade. Porém, as amarrações narrativas parecem um tanto soltas, fazendo com que elementos interessantes – como o colar capaz de encorajar o aflito protagonista – ressinta-se de maior coerência.

“Sem Cabeça”, de Beatriz Potenza, é daqueles casos em que tudo funciona de forma bastante eficiente. Contando a história de um casal de jovens em que a moça experimenta pela primeira vez maconha na casa do namorado, a diretora extrai de uma história pequena nuances bastante profundas. Olhares, diálogos bem alocados, tempo de ações e uma eficiente fotografia revelam uma questão social nem tão abordada como deveria, que é a relação heteroafetiva abusiva.

Também feliz a realização de "Fim de Festa", inclusive por tratar de outro tema tabu, mas igualmente essencial de ser exposto assim como racismo e a violência doméstica, que é a questão LGBTQIA+. Afora alguma inconsistência cênica, o curta de Luísa Zarth Carvalho traça, num engenhoso diálogo entre duas jovens que vai se de desenrolando pouco a pouco, perfis bem estruturados das personagens, a quem se descobre ter havido num passado algo velado entre ambas.

Dessa leva, no entanto, “Enquanto Irmãos”, de Leonardo Kotz, se destaca pela inteireza da realização. Filme que funciona do início ao fim, traz a história de dois pequenos amigos que se encontram na casa de um deles no dia em que o irmão do outro está nascendo. As delicadas falas, as sutilezas da relação de irmandade entre os amigos, bem como as preocupações existenciais das crianças, são conduzidas com absoluta assertividade. Tecnicamente também. Para quem formou sua cinefilia assistindo filmes protagonizados por crianças como “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”, “Minha Vida de Cachorro” e “Pelle, O Conquistador”, este curta foi uma grata surpresa.

Enfim, filmes que, mesmo desiguais, mostram que a difícil arte de se fazer cinema é objeto de paixão das novas gerações. Uma ótima maneira de terminar um 2022 repleto de cinema, mas desta vez, num encontro com a raiz. Como diz o policial Malone vivido por Sean Connery a Elliot Ness (Kevin Costner) em “Os Intocáveis”: “se você não quer pegar uma maçã podre, não vá ao cesto: tire-a da árvore”.

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Panorâmica do palco com os realizadores e a professora Jessica


Começando o bate-papo

Falando aos alunos e público

Jessica fazendo minha apresentação


Dando as minhas primeiras considerações na noite de debates



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa e Vicente Moreno

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Lançamento revista "Teorema" nº 32, Livraria Taverna - Porto Alegre/RS (16/12/2022)

 

"O 'terror' na já marcante obra de Peele é mais do que o sobressalto da poltrona ou o arregalar de pupilas: são séculos de um terror verdadeiro de desumanização e apagamento o qual foi (e é) submetido o povo negro. E que ganham ainda maior potência na tela diante do choque provocado ao evidenciar que este mesmo terror está presente em uma sociedade moderna incapaz de superar comportamentos e mentalidades inaceitáveis."
Trecho do meu artigo "Sim, Nós Olhamos", sobre o filme "Não! Não Olhe!", de Jordan Peele

Era visível a atmosfera de emoção de quem esteve no evento de lançamento da revista Teorema no último dia 16, na Livraria Taverna, na Casa de Cultura Mario Quintana. Leocádia e eu estávamos lá, pois sabíamos da importância daquele momento. Emoção, porque essa icônica publicação, há alguns anos engavetada por conta da pandemia, por si só tem o poder de reunir em torno de si o sumo da crítica do cinema gaúcho. Emoção porque se chegou, com este número 32, a gloriosos 20 anos de resistência cultural mantida permanentemente em algo nível durante todo este tempo. Emoção também porque, com toda está relevância editorial, cinéfila e cultural, a Teorema chega, sob protestos sentidos ao qual faço coro, a sua última edição física. 

O clima, assim, foi um misto de alegria e de despedida. Se é irreversível a decisão dos editores Enéas de Souza, Fabiano de Souza, Flávio Guirland, Ivonete Pinto, Marcus Mello e Milton do Prado, não se sabe – Enéas, um gentleman intelectual desses que não se fazem mais no século XXI, confidenciou-me em breve e saboroso diálogo a conclusão pelo visto consensual da turma de que viabilizar um projeto como este a partir de agora somente sendo através de incentivo. Mas se a atmosfera foi de emoção, tanto de alegria quanto de certa melancolia, pairava no ar também um sentimento de gratidão. Gratidão por tudo que a Teorema e seus artífices sempre deram à comunidade cinematográfica regional, gratidão pelos encontros, pelas ideias, pelos sorrisos e abraços sinceros depois do pesadelo do isolamento. 

E aí que me incluo não apenas coletiva, mas pessoalmente: pela gratidão. Já relatei que escrever para a Teorema era um sonho alentado desde a adolescência, quando, já cinéfilo, via essa impactante revista nascer e passar a ser objeto de pesquisa nos meios do cinema de Porto Alegre. Algo como estar na Cahiers Du Cinéma da minha terra natal, sabe? Pois o convite, feito generosamente a mim por Ivonete, professora de Cinema e colega de ACCIRS, foi aceito de pronto, ainda mais com o desafio de falar sobre o admirável cineasta negro norte-americano Jordan Peele e seu último longa, a ficção-cientifica “Não! Não Olhe!”. Instigante e fundamental discussão, tendo em vista que, mais uma vez, Peele, dos admiráveis “Corra!” e “Nós”, não foge à temática negra, algo que, de minha parte enquanto crítico negro no meu Estado, sinto-me responsável a assumir.

Embora não tenha necessariamente gostado do filme, discuti-lo se faz mais importante. E esse e o papel da crítica. Marcos Mello, com quem também conversamos Leocádia e eu, nos comentou que havia gostado de aspectos levantados por mim no meu artigo os quais, segundo ele, o fizeram entender melhor o filme. Ainda disse que, corroborando com a essência do fazer crítico, que ele gosta de ver filmes que não entende, pois são justamente essas obras que podem suscitar, no agora ou mais adiante, verdadeiras reflexões.

Completam essa edição já histórica da Teorema artigos de Alexandre Santos, Carla de Oliveira, Fatimarlei Lunardelli, Liliana Sulzbach, Marcelo Miranda, Maurício Vassali e Roberto Cotta, além de textos de alguns dos próprios editores, como o basal "Cinema é uma forma que pensa e faz pensar", sobre o legado de Jean-Luc Godard, escrito por Enéas, talvez o maior conhecedor do cineasta francês em toda a crítica cinematográfica brasileira. Há ainda uma superentrevista com a diretora Maria Augusta Ramos, expoente de um cinema documental rigoroso e autora de obras como “Justiça” e “Juízo”, figurantes na lista dos “Documentário Brasileiro – 100 Filmes Essenciais” da Abracine.

Embora vivamos na era digital, é de entendimento geral que, para este tipo de publicação como a Teorema, espécie de arquivo da crítica de cinema no Rio Grande do Sul das últimas duas décadas, o objeto material faz muita diferença. É compreensível a dificuldade por parte daqueles que fazem a revista, assim como para de manter de pé qualquer projeto cultural no Brasil e nos pagos gaúchos, ainda mais em se tratando de um nicho tão especializado. Tomara que com tantos apelos essa definição dos editores seja, literalmente, revista.

Confiram aí alguns lances do lançamento da Teorema 32:

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Curtindo minha estreia na Teorema

Selfie com love Leocádia na livraria Taverna

Só os editores: Fabiano, Flávio, Ivonete, Marcos e Enéas

Bastidores da foto com o pessoal da revista

Os editores da Teorema com alguns dois dos autores convidados,
Maurício Vassali (ao fundo, à dir.) e eu, ao centro


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa

domingo, 27 de novembro de 2022

Live Museu do Festival de Cinema de Gramado - Homenagem a Sirmar Antunes (24/11/2022)


Tive a honra de mediar, dias atrás, a convite do meu amigo e colega de profissão e de ACCIRS Matheus Pannebecker, uma live promovida pelo Museu do Festival de Cinema de Gramado em homenagem ao ator Sirmar Antunes. Na ocasião, durante a Semana da Consciência Negra, pude intermediar uma conversa muito proveitosa com a cineasta Mariani Ferreira e a educadora e integrante do Coletivo Sanfoka - Valorização da Diversidade Cultural Lis Reis. 

Com quase 50 anos de carreira no cinema e no teatro, Sirmar, falecido em agosto deste ano, dias antes da realização do 50º Festival de Cinema de Gramado, do qual ele tanto é uma referência quanto, igualmente, participaria como jurado, foi um dos mais queridos e competentes homens do audiovisual gaúcho. 

Na live, pelo Instagram do Museu, Mariani e Lis trouxeram seus olhares afetivos e conscientes tanto sobre Sirmar quanto a condição da pessoa negra nos seus meios e na sociedade como um todo. A própria existência e exemplo de Sirmar, aliás, deu este lastro para que o tema se aprofundasse. Chamou-me atenção, além das próprias falas das convidadas, a capacidade de enxergar a questão da negritude pela ótica da coletividade e da ancestralidade. 

Particularmente, tenho grande apreço pela figura de Sirmar tanto como ator preto quanto por sua importância referencial no cinema gaúcho que aprendi a gostar desde os anos 80. É ele quem interpreta o Sargento de “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, de 1986 (Jorge Furtado e José Pedro Goulart), filme especial em minha trajetória como cinéfilo e crítico de cinema, tanto por ter me apresentado a ele quanto por ser um dos filmes mais pungentes sobre o racismo que já assisti. Esta obra, inclusive, me motivou a escrever, em 2020, uma resenha crítica após o episódio de racismo na live da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS) sobre o filme “Inverno”, e que envolveu, aliás (mas não coincidentemente, por mais triste que seja) a própria Mariani. Várias conexões.

Enfim, confiram o vídeo, que vale a pena.

SOBRE MARIANI FERREIRA
É roteirista, diretora e produtora. Começou sua carreira como trabalhadora doméstica, estudou jornalismo, foi crítica de cinema e redatora e diretora de publicidade. Atualmente trabalha como roteirista na TV Globo. Seu filme de estreia, o curta-metragem de ficção “Léo", foi exibido em diversos festivais pelo mundo. Mariani também é produtora executiva e roteirista do documentário “O Caso do Homem Errado”. Também é roteirista da sitcom “Necrópolis”, exibida pela Netflix, e diretora do curta-metragem "Rota", que ganhou Menção Honrosa do Júri do 49º Festival de Gramado e o Prêmio Canal Brasil de Curtas no Cabíria Festival de 2021. Em 2022, estreia duas séries das quais é criadora e roteirista, a animação "Os Pequenos Crononautas" e o drama histórico "Filhos da Liberdade".

SOBRE LIS REIS
Educadora da rede de Gramado, trabalha com consciência vocal desde 2009. Participa como cantora em espetáculos da região desde 2004. Atuando como  oficineira em pontos de cultura e de grupos teatrais nas cidades de Canela e Gramado. Integrante do coletivo Sankofa.

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Assista: https://www.instagram.com/p/ClXH8zPh_XB/ 


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, da ACCIRS, na Feira do Livro de Porto Alegre - 05/11/2022


 

Foto coletiva da turma de críticos da ACCIRS
Foi uma tarde cheia de encontros – e autógrafos, claro – pro lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”. Agora, na Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 68ª edição, onde não poderíamos deixar de estar. Cerca de 20 de nós membros da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), e foi possível conversar entre nós e os amigos, parentes e convidados que nos prestigiaram. Editado pela ACCIRS, a coletânea traz 50 artigos sobre filmes gaúchos lançados entre as décadas de 1950 e 2020 no Rio Grande do Sul. Mas com um diferencial editorial-conceitual interessante: não se trata de um apanhado dos “melhores filmes’, mas, sim, aqueles títulos que fazem sentido para cada autor dentro do universo do cinema gaúcho. Ou seja, propõe uma abordagem muito pessoal sobre cada obra, o que, indiretamente, cria ligações diferentes e próprias entre um artigo e outro.

Caso, por exemplo, dos textos de Alice Dubina Trusz e Jaqueline Chala – com quem pude trocar algumas proveitosas ideias durante a sessão – os quais, juntamente com o de Ivonete Pinto, formam uma trinca complementar que avaliou os três principais títulos do novo cinema gaúcho: “Deu pra ti, Anos 70” (Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, 1981), “Inverno” (Carlos Gerbase e Giba, 1983) e “Verdes Anos” (Gerbase e Giba, 1984), respectivamente.

Enfim, uma tarde linda em Porto Alegre, de temperatura agradável, final de semana e começo de mês (ou seja, pessoal com mais grana no bolso) motivou a que a feira estivesse lotada, inclusive com algumas sessões de autógrafos com filmas bem extensas. Muito legal ver a Feira do Livro, mesmo com todas suas ressalvas (preços não tão mais atrativos, ausência de uma praça de alimentação e de área internacional, entre outras coisas), mobilizando a população a circular na praça aberta em razão das letras. Depois do pesadelo do pior da pandemia, que reclusou a Feira ao universo online, poder voltar a circular e ver pessoas, cores, cheiros, artes, sons e tudo que os sentimentos possam captar é muito bom.

Confira aí, então, alguns cliques da sessão de autógrafos e do clima da feira em si conosco aproveitando esse dia encantado em nossa cidade:

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Fileira para os autógrafos coletivos da ACCIRS


Autografando o exemplar do amigo Rodrigo,
que foi com sua querida mãe prestigiar a gente


Aqui com o colega de ACCIRS e trabalho Conrado Oliveira, também autor do livro


Depois de passar a fila, chegou minha vez de autografar!


Com a querida colega e coautora Jaque Chala,
voz do cinema da minha adolescência da rádio FM Cultura


Deu também pra adquirir o "Cruber", livro de contos das andanças de Uber
do querido colega de ACCIRS Cristiano "Criba" Mentz


Nós em plena praça, onde tudo começou há 11 anos...


Clima da praça com pessoal circulando sob a bênção dos jacarandás



Os corredores cheios da área infantil


Palhaço fazendo bolhas de sabão gigantes no meio da praça


E deu tempo de encontrar a hermana Carol, que foi ao nosso encontro


Céu azulzinho na linda tarde de sábado na Feira do Livro


Filas e filas pras sessões de autógrafos



Daniel Rodrigues

sábado, 5 de novembro de 2022

Drops lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, da ACCIRS, na Feira do Livro de Porto Alegre - 05/11/2022





E lá vamos nós para mais uma etapa do lançamento do “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”! E desta vez onde não poderíamos deixar de estar: na estimada Feira do Livro de Porto Alegre! Depois do lançamento oficial, lá em março, no Araújo Vianna, em Porto Alegre, e do Festival de Cinema de Gramado, em agosto, agora é a vez de celebrarmos este projeto naquele que é o evento cultural-literário mais antigo (e provavelmente, o mais querido) da cidade.

O livro, editado pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), da qual orgulhosamente faço parte como membro fundador e, hoje, secretário, traz uma coletânea de 50 brilhantes artigos sobre 50 filmes gaúchos lançados entre as décadas de 1950 e 2020 no Rio Grande do Sul. Olha: é só texto bom!

Estaremos lá nós membros da ACCIRS em mais de 20, e a previsão do tempo, tão instável nesta época do ano, promete ser boazinha conosco.

Então, quem tiver por POA, aparece lá, que a pena e a tinta já estão aguardando os autógrafos. Depois a gente volta aqui com registros desta tarde, que promete ser ensolarada de sol e de gente bonita.

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lançamento do livro “50 Olhares da Crítica sobre o Cinema Gaúcho”
da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS)  
onde: 68ª Feira do Livro de Porto Alegre (Praça da Alfândega, s/ nº, Centro Histórico - Porto Alegre).
quando: dia 05/11 (sábado) - 15h
organizadores: Daniel Feix, Fatimarlei Lunardelli, Ivonete Pinto, Mônica Kanitz e Rafael Valles
Valor do livro: R$ 50,00*

*Os exemplares poderão ser adquiridos na Feira do Livro ou pelo site da ACCIRS e locais parceiros: accirs.com.br


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

50º Festival de Cinema de Gramado - Bastidores e Premiados

 

Muito se fala sobre cinema e arte cinematográfica em razão do Festival de Cinema de Granado. Por óbvio. Porém, após ter participado como jurado na edição de 2021, realizada ainda de forma online em virtude da pandemia da Covid-19, motivei-me a, finalmente, fazer algo que nunca tinha conseguido: estar presencialmente no festival. Motivos pra isso, não faltavam: este ano, realizou-se a histórica 50ª edição do festival mais longevo ininterruptamente do Brasil e por ter me tornado este ano secretário da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), apoiadora institucional do festival e responsável por algumas das curadorias, juris e premiações. Outra motivação não menos substancial era o lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, ao qual participo como um dos autores e que era importante marcarmos esse momento dentro do principal festival de cinema do nosso Estado. Afora isso, queria saber como era a emoção de viver o Festival de Gramado, ainda mais assim, no auge do inverno, em que tanta gente visita a cidade, que é a mais procurada pelos turistas no Brasil esta época.

Nós da ACCIRS, no espaço
Elizabeth Rosenfeld, lançando
o livro em Gramado

Com o socorro do amigo José Carlos Sousa, o querido Zeca, que nos ofereceu transporte de ida e um ótimo pouso, fomos Leocádia e eu. Cheios de incertezas de como seriam as movimentações por lá, partimos, na cara e na coragem, para conferir o primeiro final de semana do festival. Mesmo não sendo possível assistir à maioria dos filmes, principalmente os longas-metragens brasileiros e internacionais que rodariam diariamente até a semana seguinte, os pouco mais de dois dias a que nos programamos nos oportunizaria ver pelo menos duas das estreias de longas brasileiros, curtas-metragens nacionais e os curtas-metragens gaúchos, que passam na seção vespertina no segundo e terceiros dias. Igualmente, podemos pegar também a tão badalada abertura do festival, o que, convenhamos, embora menos apoteótico, é quase tão emocionante quanto estar no encerramento.



A emoção de pisar pela primeira vez no 
tapete vermelho do
Festival de Gramado

Se coube a nós apenas o começo do festival, no entanto, nosso batismo foi com a devida graça dos deuses do cinema. Na sala de imprensa, logo após termos tirado nossas credenciais para podermos pisar o tão famoso “tapete vermelho” que dá acesso ao Palácio dos Festivais – ou seja, logo que conseguimos confirmar que poderíamos, sim, participar efetivamente do festival, o que haviam nos dito que talvez não fosse possível por ainda não termos credenciais até então – conversávamos com o colega de ACCIRS Paulo Casanova e somos surpreendidos pela atriz Marcélia Cartaxo, que veio em nossa direção como se nos conhecesse. “Será que ela se enganou?”, pensamos. Mas acho que não. Ao que disseram, é muito o modo de ela ser, assim, despachada e extrovertida, e prefiro acreditar que aquela foi uma bênção de Macabea ou de Pacarrete que recebemos por estarmos estreando no festival. Após o choque de ter sido procurado por Marcélia (que, aliás, ganhou mais uma vez o Kikito de Melhor Atriz, como já o havia feito por "Pacarrete", em 2018) para ganhar um abraço, atentado por Leocádia, fui atrás dela novamente para fazermos um registro daquele momento – afinal, todo mundo deve ter uma foto de seu batizado. Ao lhe abordar, agradeci por sua existência em nossos corações como personagens tão memoráveis. Ela retribuiu, generosamente, agradecendo também.

Leocádia e eu recebendo a bênção do festival de Gramado da divina Marcélia

O talentoso Palmeira recebendo
uma das principais honrarias do
cinema brasileiro, o Oscarito
Após o batismo inicial, assistimos filmes, conhecemos outros artistas, vimos Marcos Palmeira receber o Troféu Oscarito – e passar por nós, a questão de metro, e olhar-nos no olho em agradecimento às palmas. Os filmes que mais conseguimos ver foram os curtas gaúchos, com coisas bem boas, como o tenso e tecnicamente perfeito “O Abraço”, prenunciando um dos próximos realizadores de longas no Rio Grande do Sul como recentemente alçaram nomes como Davi Pretto e Felipe Matzembacher; o curto mas tocante “A Diferença entre Mongóis e Mongoloides”, de Jonatas Rubert, documentário pessoal de animação sobre a relação do diretor com seu irmão e seu tio, ambos portadores de TEA (transtorno do espectro autista); e o grande premiado do Prêmio Assembleia Legislativa — Mostra Gaúcha de Curtas: “Sinal de Alerta: Lory F”, de Fredericco Restori, que conta a meteórica vida da artista que lhe dá título, uma lenda do rock gaúcho. Mais uma das magias que Gramado nos proporcionou: na fila para entrar para a seção do primeiro dia de curtas gaúchos, conversávamos com dois jovens atrás de nós que logo revelaram serem os responsáveis pelo filme. Leocádia, sagaz, providenciou de que eu tirasse uma foto com eles, uma vez que tanto ela quanto eu temos relação com personagens do filme: o filho de Lory, meu ex-colega e amigo Ricardo, e o ex-marido dela, Ricky Bols, artista visual já falecido com quem Leocádia trabalhou e também nutria amizade. E não é que justo eles ganhariam, no dia seguinte, o principal prêmio entre os curtas gaúchos?

Ao lado de Natália Pimentel e Restori, de "Lory F..." - antes de ganharem o prêmio!

Sem se estender muito, cabe comentar que os dois longas brasileiros, que passam na programação noturna, agradaram. O triste e revoltante “A Mãe”, de Cristiano Burlan, que traz Marcélia como uma mãe em busca do filho desaparecido na periferia de São Paulo; e o cômico “O Clube dos Anjos”, de Angelo Defanti, adaptação e Luis Fernando Verissimo. A difícil tarefa de adaptar o autor do Analista de Bagé foi bem executada pelo diretor, embora o filme perca um pouco do ritmo do meio para o fim, mas consiga terminar bem. O grande trunfo de “O Clube...” é, porém, seu elenco. Nada mais nada menos que Otávio Muller, Matheus Nachtergaele, Paulo Miklos, Marco Ricca, Augusto Madeira, César Melo, Ângelo Antônio, Samuel de Assis, António Capelo e André Abujamra

Este último, aliás, merece um aparte, pois tornou-se um novo amigo. Ao ver Abujamra no tapete vermelho (aliás, corrijo: Leocádia que o avistou e me avisou) abordei-o e, fã, quis entrevistá-lo para meu programa, Música da Cabeça. Fizemos ali mesmo, em meio à algazarra do público, mas deu tudo certo e a entrevista foi curta mas ótima. Justifiquei a Abujamra que se eu já tinha entrevistado Maurício Pereira e Pena Schmidt, os outros dois responsáveis pela lendária Os Mulheres Negras, não poderia perder a oportunidade de fazer o mesmo com ele.

Abu e eu: sintonia e entrevista em pleno tapete vermelho

Tudo isso para confirmar o que disse no início: muito se fala em cinema no Festival de Gramado, mas estar lá, poder conviver ao menos um pouco com artistas, realizadores, colegas críticos, jornalistas, organizadores do evento e toda aquela turba de pessoas que lotam a cidade nesta época, caminhar pelas ruas, observar as reações, frequentar o comércio em alto movimento; prova que o festival é muito mais do que as sessões de cinema. É, sim, essa atmosfera, essa egrégora misto de encanto, excitação, surpresa, expectativa – e até certa afetação, confesse-se. O que tiro é que a experiência foi linda, a ponto de nos programamos para, em próximas edições, talvez voltarmos não só para a abertura, mas esticar um pouco mais e até cobrir todos os sete dias de evento. 

O Kikitão e eu em pleno tapete vermelho

O consagrado "Noites...",
o grande vencedor 

A solenidade de premiação ocorreu no dia 20 e pude assistir pela televisão. O grande vencedor foi o amazonense “Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho, que não pudemos ver mas fiquei curiosíssimo desde que soube da existência. Outra produção que também se destacou dos longas foi “Marte Um”, de Gabriel Martins (MG), que se mostrou muito querido do público por, assim como o lindo “O Novelo”, que concorreu no ano passado na mesma categoria, traz a vida de uma família de negros, mas sem recorrer aos chavões de submundo, pobreza, violência, etc. Também não vi, mas o bom é que este estreia em circuito nacional esta semana. Louco pra ver.

Por ora, segue aqui a lista de premiados com os Kikitos desta histórica edição de meio século de Festival de Gramado. Quem sabe, ano que vem não esteja lá mandando just in time essa lista?

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LONGA-METRAGEM BRASILEIRO

Melhor Filme – “Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho
Melhor Direção – Cristiano Burlan, por “A Mãe”
Melhor Ator – Gabriel Knoxx, de “Noites Alienígenas”
Melhor Atriz – Marcélia Cartaxo, de “A Mãe”
Melhor Roteiro – Gabriel Martins, de “Marte Um”
Melhor Fotografia -Rui Poças, de “Tinnitus”
Melhor Montagem – Eduardo Serrano, de “Tinnitus”
Melhor Trilha Musical – Daniel Simitan, de “Marte Um”
Melhor Direção de Arte – Carol Ozzi, de “Tinnitus”
Melhor Atriz Coadjuvante – Joana Gatis, de “Noites Alienígenas”
Melhor Ator Coadjuvante – Chico Diaz, de “Noites Alienígenas”
Melhor Desenho de Som – Ricardo Zollmer, de “A Mãe”
Júri da Crítica – “Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho
Júri Popular – “Marte Um”, de Gabriel Martins
Prêmio Especial do Júri – “Marte Um”, de Gabriel Martins, que nos trouxe o afeto para a tela.
Menção Honrosa a Adanilo, por “Noites Alienígenas”, pela excelência da construção da linha do personagem e interpretação.

CURTA-METRAGEM BRASILEIRO

Melhor Filme – “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli
Melhor Direção – Leonardo Martinelli, por “Fantasma Neon”
Melhor Ator – Dennis Pinheiro, de “Fantasma Neon”
Melhor Atriz – Jéssica Ellen, de “Último Domingo”
Melhor Roteiro – Fernando Domingos, de “O Pato”
Melhor Fotografia – Fernando Macedo, de “Último Domingo”
Melhor Montagem – Danilo Arenas e Luiz Maudonnet, de “O Elemento Tinta”
Melhor Trilha Musical – “Nhanderekoa Ka´aguy Porã” Coral Araí Ovy e Conjunto Musical La Digna Rabia, por “Um Tempo pra Mim”
Melhor Direção de Arte – Joana Claude, de “Último Domingo”
Melhor Desenho de Som – Alexandre Rogoski, de “O Fim da Imagem”
Júri da Crítica – “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli
Júri Popular – “O Elemento Tinta”, de Luiz Maudonnet e Iuri Salles.
Menção Honrosa – “Imã de Geladeira”, de Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo, por catapultar a urgente discussão sobre o racismo estrutural através do horror cósmico
Prêmio Especial do Júri – “Serrão”, de Marcelo Lin. Pelo frescor da narrativa a partir de um olhar ressignificado, emergente e com o coração no lugar certo
Prêmio Canal Brasil de Curtas – “Fantasma Neon” Leonardo Martinelli

LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO 

Melhor Filme – “9”, de Martín Barrenechea e Nicolás Branca
Melhor Direção – Néstor Mazzini, de “Cuando Oscurece”
Melhor Ator – Enzo Vogrincinc, de “9”
Melhor Atriz – Anajosé Aldrete, de “El Camino de Sol”
Melhor Roteiro – Agustin Toscano, Moisés Sepúlveda e Nicolás Postiglione, de “Inmersión”
Melhor Fotografia -Sergio Asmstrong, de “Inmersión”
Júri da Crítica – “9”, de Martín Barrenechea e Nicolás Branca
Júri Popular – “La Pampa”, de Dorian Fernández Moris
Prêmio Especial do Júri a Direção de Arte de Jeff Calmet, de “La Pampa”

LONGA-METRAGEM GAÚCHO

Melhor Filme – “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto
Melhor Direção – Bruno Gularte Barreto, por “5 Casas”
Melhor Ator – Hugo Noguera, de “Casa Vazia”
Melhor Atriz – Anaís Grala Wegner, de “Despedida”
Melhor Roteiro – Giovani Borba, de “Casa Vazia”
Melhor Fotografia – Ivo Lopes Araújo, de “Casa Vazia”
Melhor Direção de Arte – Gabriela Burk, de “Despedida”
Melhor Montagem – Vicente Moreno, de “5 Casas”
Melhor Desenho de Som – Marcos Lopes e Tiago Bello, de “Casa Vazia”
Melhor Trilha Musical – Renan Franzen, de “Casa Vazia”
Júri Popular – “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto
Menção Honrosa – Clemente Vizcaíno, por “Despedida”, pela presença destacada no filme e por sua importância na história do cinema gaúcho
Menção Honrosa – “Campo Grande é o Céu”, de Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux, pelo resgate da tradição de cantorias e da importância das comunidades quilombolas daquela região do Rio Grande do Sul

CURTA-METRAGEM GAÚCHO - PRÊMIO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA — MOSTRA GAÚCHA DE CURTAS

Melhor filme: "Sinal de Alerta Lory F"
Melhor direção: Jonatas Rubert - "Diferença entre Mongóis e Mongoloides"
Melhor ator: Victor Di Marco - "Possa Poder"
Melhor atriz: Valéria Barcellos - "Possa Poder"
Melhor roteiro: Jonatas Rubert, - "Diferença entre Mongóis e Mongoloides"
Melhor fotografia: Flora Fecske - "O Abraço"
Melhor montagem: Frederico Restori - "Sinal de Alerta Lory F"
Melhor direção de arte: Gabriela Burck - "Diferença entre Mongóis e Mongoloides"
Melhor trilha sonora: Gutcha Ramil, Andressa Ferreira e Ian Gonçalves Kuaray - "Mby Á Nhendu - O Som do Espírito Guarani"
Melhor desenho de som: Andrez Machado - "Fagulha"
Melhor produção executiva: Henrique Lahude - "Drapo A" 
Menção honrosa: "Drapo A" 
Prêmio da crítica (ACCIRS): "Apenas para Registro"

LONGA-METRAGEM DOCUMENTAL

Melhor Filme – “Um Par Pra Chamar de Meu”, de Kelly Cristina Spinelli.                 
Menção Honrosa – “Elton Medeiros – O Sol Nascerá”, de Pedro Murad, pela valorização do compositor, parceiro dos grandes nomes da música popular brasileira, e também pelo rigor formal e criativo na recriação visual da vida e das grandes composições de Elton Medeiros, que faleceu em 2019. Parabéns ao diretor Pedro Murad e equipe.



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues, Leocádia Costa e ACCIRS