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domingo, 4 de janeiro de 2015

Marina Lima - "Marina Lima" (1991)


"Será que você será
a dama que me completa?
Será que você será o homem,
não estou bem certa."
trecho de "Não Estou Bem Certa"




Marina acrescentava o sobrenome Lima ao nome artístico e pela primeira vez o emprestava, agora completo, para batizar um álbum. Não era à toa. Em “Marina Lima”, de 1991, a cantora era mais ela do que nunca. Ao mesmo tempo que atingia seu melhor momento artístico, com um pop mais coeso, mais completo, bem produzido, Marina passava por um momento de questionamentos, de autodescoberta, de auto-revelação e por fim de auto-afirmação. Assim, nada melhor do que afirmar para si mesma e para todo mundo “Esta aqui é Marina Lima e este álbum sou eu.”
Marina, assim como Renato Russo o fizera em determinado momento, reconhecia que gostava de meninos e meninos, e resolvia então externar isso através da sua arte. Não que já não tivesse dado pistas em outros momentos mas em "Marina Lima", era a primeira vez que o fazia tão direta e abertamente. Trechos como "procurar Ricardos em Solanges nunca me fez mal" ou“tudo o que eu pensei ser pra sempre eu já não sei se é mais/ penso na menina e fico atenta aos braços do rapaz”, de “Não Estou Bem Certa”, são muito emblemáticos quanto ao conflito interior que se configura, bem como vários outros versos espalhados pelo álbum, em grande parte dedicado a esta (re)descoberta, ora como reafirmação, ora como dúvida.
Não por acaso, “Ela e Eu”, de Caetano Veloso conhecida até então na interpretação notável de Maria Bethânia, é escolhida para abrir o disco, uma vez que já sugere a mudança e o novo momento da cantora. Cantada à capela com uma interpretação belíssima de Marina Lima, “Ela e Eu” além de dar o recado inicial, funciona quase como uma vinheta de abertura do álbum, praticamente entrelaçando-se com a ensolarada “Grávida”, canção pop leve, gostosa, sobre extrapolar, manifestar-se, pôr tudo para fora da maneira que se achar melhor. Com letra de Arnaldo Antunes, “Grávida” pode-se dizer, de certa forma, é uma espécie de “Saia de Mim” dos Titãs, só que sem toda aquela agressividade.
O adorável pop “Criança”, também sobre descobertas, com sua batida eletrônica e ritmo funkeado muito convidativo tem a marca da qualidade da produção de Liminha num dos melhores momentos do álbum; “Acontecimentos”, outra das boas do disco, um pouco mais lenta, é uma canção de amor característica da carreira de Marina e da parceria com o irmão poeta e letrista Antônio Cícero; e a ótima “Pode Ser o Que For”, de ritmo acelerado, vibrante, pulsante é otimista, corajosa e pra frente.
As baladas ficam por conta da delicada “O Meu Sim” e da triste “Não Sei Dançar”, onde Marina acompanhada apenas pelo teclado, canta alguns dos versos mais arrasados da música brasileira, como “às vezes eu quero chorar mas o dia nasce e eu esqueço” e “e tudo o que eu posso te dar é solidão com vista pro mar”.
“Serei Feliz” é aquele típico final digno: um a boa canção, nada mais que isso, mas que por sua vez não compromete em nada. O ponto negativo fica por conta da péssima “E Acho Que Não Sou Só Eu”, música com cara de improvisação de estúdio num momento de infeliz inspiração momentânea registrado. Com uma programação pobre, uma levada tosca de guitarra e uma letra, parece, inventada na hora, a música soa como uma infeliz colcha de retalhos de elementos de outras faixas do disco. Também não é suficiente para desvalorizar o belo álbum de Marina Lima, mas certamente era desnecessária.
O interessante de “Marina Lima”, o álbum, é que se marcava efetivamente a melhor fase artística da cantora, aquele momento acabaria por não ter uma longa duração. Mesmo tendo lançado em seguida com algum sucesso o bom "O Chamado" e depois o interessante porém irregular “[Abrigo]”, sua voz, problemas físicos e emocionais fariam com que a carreira ficasse um tanto comprometida assim como seus trabalhos seguintes dali para a frente. Até por isso, “Marina Lima”, além de um dos melhores álbuns dos anos 90 no Brasil, passa a ser um registro importante como, possivelmente, o último trabalho em que Marina apresentou-se na sua plenitude.
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FAIXAS:
1. "Ela e Eu" 
2. "Grávida"
3. "Criança"

4. "Não Estou Bem Certa"
5. "O Meu Sim"
6. "Acontecimentos"
7. "E Acho que Não Sou só Eu"
8. "Pode Ser o Que For"
9. "Não Sei Dançar"
10. "Serei Feliz"

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Ouça:


Cly Reis

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

cotidianas #103 - "Virgem"



As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam


O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora
Por


Outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas


O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Não sabem de você
Nem vão querer saber
E o farol da Ilha
Procura agora


Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas


As coisas não precisam de você

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"Virgem"
(Marina Lima/ Antonio Cícero)

Ouça:
Marina Lima - "Virgem"

quarta-feira, 28 de maio de 2014

The Jesus and Mary Chain - Vivo Open Air - Marina da Glória / Rio de Janeiro (27/05/2014)



Entrada do Vivo open Air,
proposta de sessão de cinema
ao ar livre seguida de show musical
Irmãos, eu vi Jesus!
Sim, sim, uma das minhas bandas favoritas, o The Jesus and Mary Chain, cujo álbum de estreia, "Psycho Candy" é meu disco de cabeceira frequentemente citado como um dos melhores dos naos 80, estava ali na minha frente, como um milagre. Como um milagre, sim, porque assim como o filho do Homem, ressuscitou, depois de uma longa inatividade para uma turnê, que por felicidade passou por essas terras.
Sim, Jesus está entre nós!
Shwarzie encarnando o impiedoso robô
do futuro na telona na Marina da glória
Depois de uma sessão de cinema ao ar livre com a exibição do filme o Exterminador do Futuro, ao qual eu já tinha assistido zilhões de vezes, mas que queria ver como seria numa tela grande, ao ar livre e dentro da proposta do evento, o Vivo open Air, que na verdade não é nada mais do que um grande drive-in daqueles antigos, só que sem carro, era hora de encontrar os irmãos Reid, e sua corrente de Jesus e Maria, uma das bandas mais significativas e cultuadas das últimas décadas no rock mundial.
E, irmãos, eu encontrei Jesus!
"Snakedriver" pra abrir. Delírio!!! "Head On" na sequência. Pra enlouquecer!!! "Far Gone and Out", "Between Planets", "Blues for a Gun"... Uau!!! Foda, foda, foda! Mesmo com meus joelhos detonados (minha condropatia patelar) tive que ir lá pro burburinho. Pulando e me batendo com a galera. Ah, foda-se!
Jesus cura!
Os irmãos Reid no palco. Ao centro Jim e à direita,
William exibindo uns (muitos) quilinhos a mais
Mesmo bem menos barulhentos, com um 'barulho' mais limpo, o repertório dos caras é matador e cada música executada era uma espécia de êxtase para os fãs. E vieram "Cracking Up", "Happy When it Rains", "Teenage lust", "Sidewalking". Yeah, yeah, yeah!!!
Sim, eu ouvi Jesus!
Bem mais simpático do que de costume com o público, acenando vez que outra, agradecendo os aplausos e bicando uma cervejinha o tempo todo, Jim Reid fez uma apresentação, se não perfeita, correta, enrolando-se com o fio e fazendo aquele tradicional vai-e-vem como pedestal do microfone, fazendo com que vários tivessem que ser substituídos. O surpreendentemente obeso, William Reid, ao contrário das negativas expectativas com base nos erros do show de São Paulo, foi bastante competente  e seguro na guitarra no comando daqueles solos simples, sem frescura mas extremamente cativantes. Se em São Paulo eles não haviam ensaiado, parece que o show de lá serviu de ensaio para o do Rio, que tecnicamente, de um modo geral foi bom e assim, sem maiores percalços, a primeira parte do show terminou com a doce/ácida "Just Like Honey" com uma convidada que foi chamada para fazer o backing vocal feminino mas cuja voz praticamente não foi apareceu. Jim anunciou então que aquela fora a última música e a banda saiu apressada do palco deixando a dúvida "Jesus breve voltará?". Sabendo do temperamento da dupla não era de se estranhar que a ameaça de nos deixar se confirmasse. Mas felizmente não.
Jesus voltou!
Depois de uma breve pausa voltaram, aí sim, caprichando na ruideira, nas microfonias e nas distorções para uma dobradinha "Psycho Candy", com "The Hardest Walk" e "Taste of Cindy", fechando em seguida com o clássico "Reverence" numa performance empolgante. Mas agora sim era o fim. Um show relativamente curto, mas conhecendo como conhecemos os rapazes já foi grande coisa que tenham dado o show e que não o tivessem abandonado no meio como faziam em outros tempos.
Saí contemplado por ter visto aquilo. Por ter finalmente visto uma das bandas que mais gosto e admiro e por ter ouvido ao vivo algumas das músicas que ainda hoje me marcam muito.
Eu fui abençoado.
Amém!

trechinho de "Teenage Lust" gravado de celular
(perdoem a qualidade do áudio)


sábado, 12 de outubro de 2013

"A Arca de Noé" - 1 e 2 - Vinícius de Moraes, Toquinho e Convidados (1980/1981)




“A poesia é capaz de coisas que você nem imagina.
Eu sou a porta que o poeta imaginou”
“A Porta”, de Vinicius de Moraes


Numa das conversas que tivemos sobre as nossas infâncias, confessei ao Clayton e ao Daniel, com muita emoção que “A Arca de Noé” é a trilha sonora que eu mais gostava e lembrava a minha primeira infância. Nada em termos fonográficos, nenhum outro disco podia se comparar a “Arca de Noé” e olha que o páreo tinha as obras “Os Saltimbancos”, “Sítio do Pica-pau Amarelo”, "Plunct-Plact-Zum!", “Pirlimpimpim” e o “Grande Circo Místico” só para começar a listinha básica de musicais das crianças que cresceram entre 1973 a 1983.

Na época da Arca, eu, uma guria entre 7 e 8 anos de idade, me divertia com a minha irmã repetindo muitas vezes as canções que minha mãe ajudava a gente a lembrar, porque não tínhamos os LPs. “A Arca de Noé” ficou na minha memória musical depois que assisti ao programa de televisão de mesmo nome exibido no início da década de 80, na Rede Globo. Os registros sonoros se fixaram tão fortemente nas minhas retinas, ouvidos e coração, que por muitos anos, lembrava dos detalhes visuais de cada apresentação. Lembrava dos gestos e dos figurinos/cenografias dos convidados que fazem parte do elenco musical dos volumes 1 e 2.

Eu e minha irmã na época em
que conhecemos "A Arca de Noé"
Muitos anos se passaram e já adulta me deparei com os dois volumes da Arca em CD e relembrei, faixa a faixa, cada poema. As músicas estavam tão vivas em mim que cheguei a apresentar “Corujinha”, da “Arca de Noé 1”, numa audição em 2008 promovida por todos os estudantes da Profª de música Maria Beatriz Noll. Aliás, foi ela também quem me mostrou a versão italiana de “A Casa”, no LP “L´Arca – Canzoni per bambini” a partir da produção de Sergio Endrigo  que reuniu vários intérpretes italianos em versões das canções do volume 1 feitas por Vinícius de Moraes.

Cada vez que escuto a “Arca de Nóe” de Vinicius de Moraes, acompanho em poesia as vozes e a respiração de Milton Nascimento, Moraes Moreira, Alceu Valença, MPB 4, Elis Regina, Frenéticas, Fabio Jr., Boca Livre, Ney Matogrosso, Marina e Walter Franco só para citar os intérpretes do volume 1. O mais interessante é que parte deles já fazia parte do repertório diário que eu colocava na vitrola, após chegar da escola diariamente para fazer meus shows dublados com o som no volume máximo.

A “Arca de Noé” é o último trabalho poético-musical de Vinicius de Moraes lançado nos anos de 1980 e 1981 – este último, póstumo. Em entrevista ao jornalista Tárik de Souza, o produtor Fernando Faro reafirma que Vinicius trabalhou até pouco antes de morrer. “Na madrugada em que se foi, vertia do italiano para o português os poemas da Arca. E cobrava de mim: ‘Faro, me dá logo esse treco!’. Ele respirava esse disco, atento a todos os detalhes”, conta o produtor dos shows e dos álbuns da dupla Toquinho-Vinicius.

No volume 2, alguns intérpretes se repetem, mas as participações de Fagner, Jane Duboc, Elba Ramalho, Grande Otelo, Clara Nunes, Céu da Boca e Paulinho da Viola são muito especiais, diversificando os temas e os gêneros musicais.

A poesia de Vinicius é tão imensamente bela e se ampliou tanto na voz desses intérpretes que  está na memória de crianças, jovens e adultos por sua qualidade, irreverência e pureza. A poesia d’“A Arca de Noé” é capaz de coisas que você nem imagina, como, por exemplo, reencontrar a sua criança toda a vez que a escuta. Experimente.

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FAIXAS - "Arca de Nóe 1":
1 - A Arca de Noé-Abertura - Chico Buarque e Milton Nascimento
2 - O Pato - MBP 4
3 - A Corujinha - Elis Regina
4 - A Foca - Alceu Valença
5 - As Abelhas - Moraes Moreira
6 - A Pulga - Bebel
7 - Aula de Piano - Frenéticas
8 - A Porta - Fábio Jr.
9 - A Casa - Boca Livre
10 - São Francisco - Ney Matogrosso
11 - O Gato - Marina
12 - O Relógio - Walter Franco
13 - Menininha - Toquinho
14 - Final - Instrumental

FAIXAS - “Arca de Noé 2”:
1 - Abertura - A Arca de Noé - Dionísio Azevedo
2 - O Leão - Fagner
3 - O Pinguim - Toquinho
4 - O Pintinho - Frenéticas
5 - A Cachorrinha - Tom Jobim
6 - O Girassol - Jane Duboc
7 - O Ar (O vento) - Boca Livre e Vinicius de Moraes
8 - O Peru - Elba Ramalho
9 - O Porquinho - Grande Otelo
10 - A Galinha d'angola - Ney Matogrosso
11 - A Formiga - Clara Nunes
12 - Os Bichinhos e o Homem - Céu da Boca
13 - O Filho Que Eu Quero Ter - Paulinho da Viola

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Björk - Tim Festival 2007 - Marina da Glória- Rio de Janeiro/ RJ (26/10/2007)



Tem aqueles shows de artistas que nem são tudo isso mas que, com uma apresentação entusiástica, uma performance dominante, um repertório bem trabalhado, ou por um dia especial do espectador, ficam marcados para o resto da vida e sempre serão lembrados de forma especial. Por outro lado, tem aqueles de artistas maravilhosos, nomes de primeira, cheios de talento e recursos, mas que passam, assim, de maneira quase desimportante na nossa vida. Assisti ao show da islandesa Björk, talentosíssima, carismática, de vocal singular e incomum, uma das cantoras que mais admiro dentre todas que já  ouvi mas, não sei se foi o show ou se fui eu mas, esse capítulo da minha trajetória de espectador de espetáculos musicais, ficou praticamente apagado.
Fui com meu amigo José Júnior, eventual colaborador aqui do blog, e com alguns amigos dele. Não sei se o grande atraso para o início da apresentação; o lugar pouco apropriado, um galpão montado com péssima acústica; o set-list bastante curto; um certo conflito de interesses, como o de ficar mais aqui, mais acolá, mais perto do palco, mais longe, esperar fulano, esperar sicrano; uma certa divisão de grupos; e uma preocupação em não se afastar e não desatender nenhuma das partes, tenha gerado essa minha desatenção com o evento. Lembro muito pouca coisa, na verdade. Me recordo de tudo muito colorido, de umas bandeirinhas no palco, de Björk com a cara pintada, mas o que me amarrei, mesmo, foi na mesa de som dos músicos da cantora, exibida o tempo inteiro nos telões, uma espécie de tabuleiro eletrônico em que o operador mexia com controles que se assemelhavam a pedras coloridas sobre uma superfície e assim produzia os sons e batidas. Muito louco! Agora, os sons, as músicas que provinham dessa maravilha tecnológica, a performance da cantora nessas engenhocas eletrônicas, o repertório... mal recordo. Ficou marcado em mim, no entanto, o final do show com "Declare Independence" e os balões caindo do teto do local. Basicamente isso.
Não sei se o show foi fraco ou se o problema era eu mas, de fato, foi um dos shows grandes, de um grande artista que admiro, que menos me marcou. Uma pena. Acho que teria que ver a pequena islandesa de novo para tirar a prova.
Eu daria uma nova chance.
Ela tem crédito.

À esquerda, Björk com seu músico mexendo na mesa sonora que me referi
e, à direita, o equipamento em si, que, depois vim a saber, chama-se reac-table.





Cly Reis 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Música da Cabeça - Programa #331

 

Apagão? Não de ideias e nem de música. Acendendo a chama em meio à escuridão, o MDC de hoje traz muita coisa variada capaz de iluminar as cabeças, como Cocteau Twins, Marina, Legião Urbana, Cássia Eller e mais. Tem ainda um Cabeça dos Outros com música lá das bandas de Minas Gerais. Com a energia tinindo, o programa vai ao ar hoje às 21h na carregada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e fontes renováveis: Daniel Rodrigues.


www,radioeletrica.com


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Música da Cabeça - Programa #76


Como aqui ninguém é burro e nem covarde, a gente adere com todas as forças às mulheres contra “ele” e ainda sai rolando um monte de música boa pra afugentar esse inferno pra outro lugar. Espantando todo e qualquer retrocesso moral, o Música da Cabeça desta semana traz, além de seus quadros, Marina, Roxy Music, Arnaldo Antunes, Stevie Wonder, Mundo Livre S/A e muito mais. Também, um novo “Cabeça dos Outros” de fora do Brasil. Se elas se empoderam de seus papeis políticos, a gente aplaude e ainda dá uma ajudinha aqui com informação e trilha sonora. Quer entrar nessa corrente? O programa é hoje, às 21h, pela Rádio Elétrica, com produção e apresentação de Daniel Rodrigues, ok? Ah, e antes que me esqueça: #EleNão



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Selecionados para a publicação coletiva "Big Buka"



Como estava de férias, já se passaram alguns dias, eu já comentei no nosso espaço lá no Facebook, mas acho legal que seja registrado aqui no blog mais uma conquista pessoal e do clyblog, por extensão: a novidade é que um conto deste humilde blogueiro foi selecionado para a coletânea "Big Buka - Para Charles Bukowski" a ser lançado pela nossa parceira a Os Dez Melhores. Fico realmente extremamente feliz de integrar esse seleto grupo de dez autores que tiveram o prazer e a responsabilidade de escrever sobre este grande autor, muitas vezes subestimado pela sua simplicidade  de escrita e objetividade, e terem seus contos escolhidos para fazer parte deste livro. Pode parecer óbvio, mas torcia muito pelo meu conto por ver nele uma série de qualidades e referências que, na minha opinião, imodesta e suspeita, o faziam forte candidato a ser selecionado. ainda bem que os julgadores da editora entenderam da mesma forma.
Particularmente, é meu terceiro trabalho envido para seleção e o terceiro escolhido. Ôpa!!! 100% de aproveitamento! Não deve ser mero acaso e talvez eu tenha alguma qualidade para o negócio. Mas como disse, é legal para o blog, porque além do fato dos contos serem um item forte no nosso conteúdo geral, sempre presentes na seção COTIDIANAS, somando as minhas com as publicações do meu irmão e parceiro de blog, Daniel Rodrigues  já temos 4 publicações em livros coletivos, além do premiado "Anarquia na Passarela", este individual do próprio Daniel.
Quando comecei o blog ficava muitas vezes me perguntando pra que escrever aquelas 'historinhas', para quem estava escrevendo, se alguém lia, se valia a pena... Bom, acho que independente das respostas às perguntas anteriores, não pode haver estímulo maior para continuarmos escrevendo e escrevendo e escrevendo do que o reconhecimento do nosso talento, e sermos, eu e o Daniel, escolhidos entre tantos outros autores de qualidade enche-nos de satisfação.
Mas enfim, mesmo que futuramente não consigamos publicar ou entrar em coletâneas, seleções ou antologias, mesmo que nem sempre consigamos reconhecimento, mesmo que, no fim das contas, ninguém nos leia, como diria o próprio Bukowski, "Não há perdas em escrever".


Abaixo a lista dos autores selecionados para o coletivo "Big Buka":

Cly Reis

Fabio Mourão

Heliton Queiroz

Jeremias Soares

Marina de Campos

Max Moreno

Rafael Simeão

Willian Couto

Wuldson Marcelo

Afobório (organizador)

Parabéns aos colegas também escolhidos.

Cly Reis


domingo, 3 de dezembro de 2023

Festival Zumbi dos Palmares - Parque Marinha do Brasil - Porto Alegre/RS (26/11/2023)

 

Uma despretensiosa saída de casa para um solzinho no fim de tarde levou Leocádia e a mim a uma agradável programação, que ocorria no Parque Marinha do Brasil, praticamente ao final de nossa rua. O dia bonito garantiu que muita gente aproveitasse o parque e a Orla, sempre lotada de pessoas fazendo esporte, caminhando, correndo, passeando e... assistindo apresentações! Foi o nosso caso, que, após uma visita à pista de skate, que sempre gostamos de ver a galera fazendo manobras e aproveitando o espaço público, deparamo-nos com um pequeno festival, o Zumbi dos Palmares, que ocorria do outro lado da av. Edivaldo Pereira Paiva, a antiga Av. Beira-Rio, ao lado da Orla. Celebrando a cultura afro, o festival ornou o ambiente com flores e ganhou de presente um lindo pôr-do-sol do Guaíba no final de tarde.

Ali pudemos parar para dar uma descansada da caminhada e assistir a agradável Tereza, A Banda, uma turma cheia de suingue e brasilidade inspirada, claro, em Jorge Ben e seu clássico samba-rock “Cadê, Tereza”. Com um repertório que ia de Djavan a Rita Lee, passando, obviamente, pelo Babulina, tivemos uma agradável surpresa, principalmente pela qualidade vocal de sua cantora, Vitória Viegas, de voz potente e muito musical. Toda a banda, aliás, de bons músicos, talvez ainda um pouco crus em relação a suas próprias musicalidades, que creio que devem seguir percebendo que têm cada um como crescer ainda mais na liberdade de tocar. Mas isso passa longe de ser uma crítica, afinal, o que vimos, gostamos. Tomara nos deparemos de novo com a Tereza, A Banda por aí.

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O agradável ambiente de fim de tarde no Marina


Um pouquinho de Tereza, a Banda no palco


Este casal que vos fala curtindo o festival



texto;
Daniel Rodrigues
fotos e vídeo: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Música da Cabeça - Programa #221

 

Apagão, prevaricação, investigação, acusação, discriminação... É tanta repetição, que vamos fazer o mesmo, só que com mais uma edição do MDC! A 221ª delas trará Isaac Hayes, Marina Lima, Neneh Cherry, George Michael, Tribalistas e mais e mais e mais. Ainda, no quadro especial, 'Cabeção', os 110 anos de nascimento do genial compositor Bernard Hermann, senhor em repetições sonoras. Repetindo o que se deve, o programa vai ao ar hoje, às 21h, na irrepetível Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (Daniel Rodrigues, Daniel Rodrigues, Daniel Rodrigues...)



terça-feira, 28 de julho de 2015

"Big Buka: Para Charles Bukowski", organização: Afobório (Vários Autores) - ed. Os Dez Melhores (2015)


Blogueiro sem tempo é fogo!
Por incrível que pareça, o fato já é de alguns dias atrás mas somente agora estou tendo tempo para manifestar minha satisfação pela materialização do projeto "Big Buka: Para Charles Bukowski" do qual orgulhosamente faço parte com um conto. Sim, nasceu o rebento! Saiu do formo e já recebi meus exemplares belíssima publicação da Editora Os Dez Melhores que reúne dez contos, um de cada autor, todos escolhidos por seleção, tentando, humildemente, homenagear este singular e notável escritor, perspicaz observador da natureza humana e do cotidiano.
Este é só um comentário preliminar, só um gostinho, porque na verdade a editora está preparando de forma adequada a devida divulgação e distribuição do livro e em breve passaremos mais detalhes aqui no blog, mas posso adiantar que a edição está caprichadíssima, de ótima qualidade e, embora não tenha lido meus colegas de publicação, pelo que conheço dos trabalhos de alguns deles que já vi em seus blogs e redes sociais, posso assegurar que só tem fera homenageando o Velho Safado.
Particularmente, já teria ficado contentíssimo em ser selecionado para qualquer outra publicação onde pudesse apresentar meu trabalho como aspirante a escritor, mas fico especialmente feliz em integrar esta coletânea, exatamente em ode a este autor, pelo fato de ter ele sido meu maior incentivador ao ato de escrever com suas sentenças apaixonadas, críticas, definitivas e encorajadoras. Devo minha ousadia à aventura de escrever a Bukowski e espero minimamente ter retribuído o que esse cara fez por mim. No mínimo, tenho certeza que ele se orgulharia do culhão de ter tentado.
Obrigado à editora pela oportunidade, parabéns pela dedicação, seriedade e pelo resultado, e parabéns também aos demais autores pela participação, talento e inspiração.


Cly Reis

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"Big Buka: Para Charles Bukowski"
Ed. Os Dez Melhores (2015)
156 páginas
organização: Afobório
autores:
Clayton Reis
Afobório
Fabio Mourão
Heliton Queiroz
Jeremias Soares
Marina de Campos
Max Moreno
Rafael Simeão
William Couto
Wuldson Marcelo



quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #295

 

Teve gente que viu no gol de Richarlison fórmula matemática, o "X" do Hexa e até o "L" do Lula. No MDC a gente enxerga uma oportunidade de abordar aquilo que a gente gosta, seja música ou futebol. No programa de hoje vamos ter golaços de Grant Green, Morcheeba, Marina, Imperatriz Leopoldinense e mais. Tem ainda um Sete-List com tabelinhas do saudoso Tremendão Erasmo Carlos. Sem impedimento, o programa hoje vai ao ar na futebolística Rádio Elétrica. Produção, apresentação e bola no pé: Daniel Rodrigues 


radioeletrica.com

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Oscar 2019 - Os Indicados



E saiu a lista dos indicados ao Oscar 2019! "A Favorita", filme de época  do diretor Yorgos Lanthimos, e "Roma", do já oscarizado de Alfonso Cuarón, que concorre não somente a melhor filme como a melhor película estrangeira, são os líderes em indicações, mas "Nasce Uma Estrela" com a estrelíssima Lady Gaga, vem logo em seguida com oito e com boas chances. "Pantera Negra", de certa forma, surpreende com sete nominações, tornando-se o filme de super-heróis com maior reconhecimento neste sentido pela Academia, e o badalado “Bohemian Rhapsody”, biografia de Freddie Mercury, garantiu cinco indicações, incluindo, é claro, a de melhor ator com a ótima atuação de Rami Malek que, por sinal não terá vida fácil, especialmente contra Christian Bale, por seu papel em "Vice", e Willem Defoe, por "No Portal da Eternidade". Me surpreende um pouco a escassês de indicações para "O Retorno de Mary Poppins", que achei que fosse passar o rodo nos itens técnicos e, não tão surpreendente assim, uma vez que as qualidades de "Infiltrado na Klan" vem sendo exaltadas constantemente, mas louvável é a ascensão de Spike Lee ao time dos grandes com sua primeira indicação a melhor diretor.
Depois dessa breve passada, vamos ao que interessa. Conheça os indicados ao Oscar em 2019:


  • Melhor Filme
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Roma
Nasce Uma Estrela
Vice

  • Melhor Atriz
Yalitza Aparicio (Roma)
Glenn Close (A Esposa)
Olivia Colman (A Favorita)
Lady Gaga (Nasce Uma Estrela)
Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?)

  • Melhor Ator
Christian Bale (Vice)
Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)
Willem Dafoe (No Portal da Eternidade)
Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Viggo Mortensen (Green Book: O Guia)

  • Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (Vice)
Marina De Tavira (Roma)
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Emma Stone (A Favorita)
Rachel Weisz (A Favorita)

  • Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (Green Book)
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Sam Elliott (Nasce uma Estrela)
Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
Sam Rockwell (Vice)

  • Melhor Direção
Spike Lee
Pawel Pawlikowski
Yorgos Lanthimos
Alfonso Cuarón
Adam McKay

  • Melhor Roteiro Original
The Favourite
First Reformed
Green Book: O Guia
Roma
Vice

  • Melhor Roteiro Adaptado
The Ballad of Buster Scruggs
BlacKkKlansman
Can You Ever Forgive Me?
If Beale Street Could Talk
A Star is Born

  • Melhor Figurino
The Ballad of Buster Scruggs
Pantera Negra
A Favorita
O Retorno de Mary Poppins
Duas Rainhas

  • Melhor Cabelo
Border
Mary Queen of Scots
Vice

  • Melhor Direção de Arte/Design de Produção
Black Panther
The Favourite
First Man
Mary Poppins Returns
Roma

  • Melhor Trilha Sonora
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Se a Rua Beale Falasse
Ilha de Cachorros
O Retorno de Mary Poppins

  • Melhor Canção Original
All the Stars – Black Panther
I’ll Fight – RBG
The Place Where Lost Things Go – Mary Poppins Returns
Shallow – A Star is Born
When A Cowboy Trades His Spurs For Wings – Ballad of Buster Scruggs

  • Melhor Fotografia
Cold War
The Favourite
Never Look Away
Roma
A Star is Born

  • Melhor Edição
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Vice

  • Melhor Edição de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Um Lugar Silencioso
Roma

  • Melhor Mixagem de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Roma
Nasce Uma Estrela

  • Melhores Efeitos Visuais
Avengers: Infinity War
Christopher Robin
First Man
Ready Player One
Solo: A Star Wars Story

  • Melhor Documentário
Free Solo
Hale County This Morning, This Evening
Minding the Gap
Of Fathers and Sons
RBG

  • Melhor Animação
Os Incríveis 2
Ilha de Cachorros
Mirai
Wifi Ralph
Homem-Aranha no Aranhaverso

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sábado, 25 de outubro de 2008

MGMT - Tim Festival - Marina da Glória - Rio de Janeiro (24/10/0)




Marca do Festival na parte externa, recebendo o público


Conformei eu imaginava o tal do The Nationals não vale nada. Muito fraco.
O vocalista parece dispender um esforço hercúleo pra cantar e o pior é que não sai nada. Só fiquei torcendo para que acabesse de uma vez para eu ver o MGMT que eu esperva que confirmasse ao vivo a ótima impressão que me passaram no álbum.
Os caras corresponderam. Show competente e vibrante. E o que é legal: um show com alma. Poderia-se pensar que o show fosse frio por conta dos recursos eletrônicos que a dupla utiliza em estúdio, mas o caso é que eles vieram acompanhados de uma banda, aliás bem qualificada, que acabou por dar uma vibração muito legal pro show.
Achei que eles tinham gasto seu melhor cartucho quando tocaram o hit "Time to Pretend" lá pelo meio do show e que dali pra frente poderiam não sustentar muito bem. Que nada! Continuaram contagiados e contagiantes e encerraram maravilhosamente com "Kids".
MGMT no palco.
O MGMT tem um som muito peculiar no sentido de que traz muitas referências consigo sem, contudo, imitar efetivamente alguma coisa, estilo ou época. O som parece ir de Dylan a Bee Gees, de Rolling Stones a Stone Roses, de Cure a Pink Floyd e essa diversidade é um ingrediente interessantíssimo ao vivo.
A lamentar apenas a qualidade do som e duração do show. Curto demais. Mas também, neste caso, acho que eles não poderiam levar muito mais adiante, uma vez que só tem dois álbuns na carreira. Mas faltaram coisas, por exemplo, do último disco, "Oracular Spectacular" e mesmo que tocassem coisas mais desconhecidas do público do álbum de estréia , a galera tava curtindo e iria dar uma boa resposta.
Valeu o risco de ter ido ver uma novidade. Normalmente não arrisco assim.





Cly Reis

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Stevie Wonder - “Songs In The Key Of Life” (1976)





“Songs In The Key Of Life’é apenas
um aglomerado de pensamentos
no meu subconsciente que meu Criador
decidiu me dar como força,
amor + amor – ódio = energia do amor capaz de fazer 
o possível para
trazer 
à minha consciência 
uma ideia.
Uma ideia para mim
é um pensamento formado
 no subconsciente,
o desconhecido e, 
por vezes,
aquilo que se procura no impossível.” 
Stevie Wonder
texto do encarte original



Chegou a hora de falar de um monumento da música do Século XX e que vai ficar pra sempre na vida de todo mundo: “Songs In The Key Of Life”, de Stevie Wonder. Conheci este disco nas ondas da Continental Superquente 1120, em 1976. A rádio começou a tocar o primeiro de muitos hits do disco, "Isn't She Lovely". E aí me apaixonei. Comprei o disco em 1979 e começou uma longa história de amor e devoção com este disco com D maiúsculo.

Ele começa com um gospel wonderiano de arrepiar chamado "Love's in Need of Love Today". Nela, todos os instrumentos são tocados por ele - especialmente os sintetizadores -, a não ser uma percussão incidental. Os vocais também são todos de Stevie, que se esmera em criar um efeito de coral de igreja batista norte-americana. Um começo de impacto. O Stevie religioso se manifesta com "Have a Talk With God", na qual novamente está no comando de todos os instrumentos. Nela, SW diz: "Quando você achar que a vida está muito difícil/ apenas tenha uma conversa com Deus". Religiosidade sem pregação. "Village Ghetto Land" mostra o lado de preocupação social. Os sintetizadores - uma obsessão wonderiana na época - tão o tom sombrio de um gueto cheio de violência, lixo e descaso das autoridades.

Na sequência, uma das surpresas do disco: uma faixa instrumental chamada "Contusion". Uma espécie de homenagem de Stevie ao guitarrista Jeff Beck, que participou de vários discos dele durante a década de70 e recém havia lançado o também monumental "Blow by Blow". "Contusion" não ficaria mal como bonus track do disco de Beck. Comandada pela guitarra de Michael Sembello (que faria sucesso no começo dos anos 80 com "Maniac", lembram?) a música ganha os vocais de SW e outros vocalistas e se transforma em um fusion soul. Só ele mesmo poderia fazer algo do gênero. Pra fechar o Lado 1, um tributo ao mestre Duke Ellington e ao jazz: "Sir Duke" tem um naipe de sopros que faz lembrar a big bands de Duke e Count Basie, entre outros. O arranjo esperto de SW faz a gente bater o pé numa batida irresistível. Uma delícia!

No formato vinil, o lado 2 começa com Stevie recordando seus tempos de criança em Detroit, já cego em "I Wish". Nela, SW manda ver na bateria, base de todo o arranjo. Tirando o baixo de Ben Watts e os sopros, Stevie comanda o show dizendo "Eu gostaria que aqueles dias pudessem voltar uma dia / Eu gostaria que aqueles dias nunca tivessem desaparecido". Uma evocação da infância difícil, mas de muita luta. Foi lá que ele começou a tocar os primeiros instrumentos. Depois deste momento balançado de memória, vem a minha música preferida por motivos sentimentais: "Knocks Me Off My Feet". Uma balada tendo o piano como base, mas a letra é que dá o tema: "Não quero te incomodar/mas tem alguma sobre o teu amor/ que me faz fraco e me deixa fora de mim", numa tradução nada literal. Linda canção e que me emociona sempre que a ouço. E vendo ouvindo há mais de 30 anos. Isso é o que se pode chamar de uma música que fica contigo. Lembranças sentimentais à parte, vem "Pastime Paradise", cujo riff de sintetizadores imitando cordas virou a base de "Gangsta Paradise" de Coolio na década de 90. Novamente, as preocupações sociais de Stevie Wonder afloram: segregação, exploração, mutilação são os problemas que ele aponta. A solução deve ser integração, consolação, salvação para a paz no mundo. Tudo temperado com coro de Hara Krishnas e de uma igreja de Los Angeles.

É neste disco que Stevie dá vazão à suas indagações sobre o mundo. Contextualizando: os Estados Unidos tinham passado por uma tempestade social com o caso Watergate, a crise do petróleo e o crescimento da violência urbana, especialmente nos guetos. Estes fatos iriam desembocar nos anos 80 com o surgimento do rap e do hip hop, levando adiante a mensagem de Wonder. "Summer Soft" inicia como mais uma balada de SW, mas se transforma na segunda parte, quando o destaque fica com o órgão pilotado pelo grande Ronnie Foster (cuja importância para a música brasileira acontece em 1982, quando produz "Luz", o grande disco de Djavan). "Ordinary Pain" também tem uma ligação com a MPB. Em 84, no seu disco "Fullgás", Marina Lima fez uma versão da primeira parte desta música ("Pé na Tábua") . Mas SW foi engenhoso. Faz uma música de amores perdidos e a divide em duas, apresentando a versão masculina, suave, e a feminina, uma funkeira cantada por Shirley Brewer.

O Lado 3 começa com Aisha, a filha recém nascida de Wonder chorando. Esse choro se transforma na batida irresistível de "Isn't She Lovely", uma das canções mais conhecidas dele. O solo de harmônica desta canção é das melhores performances instrumentais que eu já ouvi. Um mega hit merecido e cantado até hoje nos shows, onde Stevie apresenta Aisha já adulta - e maravilhosa! "Joy Inside My Tears" traz SW outra vez no comando de todos os instrumentos, excetuando os teclados de Greg Phillinganes. Esta é daquelas canções que vão te pegando aos poucos. São necessárias várias audições pra entrar no clima. Mas depois te garanto, tu vais sair na rua cantando o refrão "You, you, you / have made life history / You brought some joy inside my tears".

"Black Man" é a epítome da preocupação de Wonder em integrar todas as raças. Ele traz para o final da música um professor que pergunta aos alunos questões sobre aventureiros, descobridores, políticos que tiveram grande feitos e as crianças respondem a raça de cada um deles. Brancos, negros, índios, todos mencionados e mostrando que somos iguais. Uma bela mensagem de integração numa base funk. Fechando o disco, o lado 4 abre com uma preciosidade: "Ngiculela", onde Wonder canta uma história de amor em uma língua africana, em espanhol e em inglês, sobre uma base instrumental feita somente por ele. Mágico, assim como a próxima faixa. "If It's Magic" é outra surpresa. O arranjo traz Dorothy Ashby na harpa e Wonder no vocal e na harmônica somente no final. Suavidade e beleza num momento de reflexão.

Na sequência, Stevie traz ninguém menos que Herbie Hancock pra pilotar o piano elétrico Fender Rhodes em "As", outra música de amor onde ele declara sua paixão dizendo que "Eu sempre te amarei/ Até que os arco-íris queimem o céu/ Até que os oceanos cubram todas as montanhas/ Até que a Mãe Natureza diga que seu trabalho está pronto". Nada vai impedir Stevie de sentir este amor por uma mulher, pelas crianças e pela humanidade. E se você conseguir ficar parado nesta canção, é porque está morto!!! Fechando o disco original, vem um petardo dançante chamado "Another Star" com as participações de George Benson na guitarra e Bobbi Humphrey na flauta. Stevie compreende o ideário pop e faz a gente cantar o tempo inteiro com um coro de backing vocais entoando apenas "lálálá". Impressionante o comando que ele tem das formas musicais que formam o que se convencionou chamar de "música pop". E o tempo todo em "Songs in The Key of Life” somos surpreendidos pelas sacadas geniais que ele arma, transformando e transmutando as formas do soul, do jazz, do funk, do gospel. Uma hora com um grupo convencional de guitarra, teclados, baixo,bateria e percussão. E em outra fazendo dos sintetizadores uma orquestra de cordas ou um órgão de igreja para passar sua inquietação sobre os destinos do mundo. Tudo isso em 1976!

No disco original ainda vinha um compacto duplo (vocês sabem o que é isso? Um disquinho de vinil com duas músicas de cada lado). A primeira é "Saturn", na qual tirando duas guitarras e um teclado, ele toca todos os instrumentos e faz todas as vozes. "Ebony Eyes" tem sabor de bubblegum pop com a novidade daquele momento, o talk box, que Peter Frampton tinha popularizado em seu disco "Frampton Comes Alive". Destaque também pro solo de sax de Jim Horn. "All Day Sucker" é um funkão que traz três guitarras (!!) fazendo a base para Stevie e os backing vocais de Carolyn Denis. E o compacto termina com ma faixa que se poderia chamar de balada jazzy chamada "Easy Goin' Evening (My Mama 's Call)”. O Fender Rhodes e a harmônica tocam a melodia, enquanto Nathan Watts faz a base para este final sereno de um totem da música de todos os tempos. Se você não conhece, aqui vai um presentinho do tio Paulo Moreira: logo abaixo um link para o disco completo. Desculpem o tamanho do texto, mas um disco desses merece!

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FAIXAS:
1. "Love's in Need of Love Today” - 7:06
2. "Have a Talk with God" (Wonder, Calvin Hardaway) - 2:42
3. "Village Ghetto Land" (Wonder, Gary Byrd) - 3:25
4. "Contusion" - 3:46
5. "Sir Duke" - 3:54
6. "I Wish" - 4:12
7. "Knocks Me Off My Feet" - 3:36
8. "Pastime Paradise" - 3:28
9. "Summer Soft" - 4:14
10. "Ordinary Pain" - 6:23
11. "Saturn" (Michael Sembello, Wonder) – 4:54
12. "Ebony Eyes” – 4:11
13. "Isn't She Lovely?" - 6:34
14. "Joy Inside My Tears" - 6:30
15. "Black Man" (Wonder, Byrd ) - 8:30
16. "Ngiculela” “(Es Una Historia)” “(I Am Singing)" - 3:49
17. "If It's Magic" - 3:12
18. "As" - 7:08
19. "Another Star" - 8:28
20. "All Day Sucker" – 5:06
21. "Easy Goin' Evening (My Mama's Call)" – 3:55

todas de Stevie Wonder, exceto indicadas

(ordem da versão em CD)

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OUÇA: