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terça-feira, 29 de março de 2011

Melhores Álbuns dos Anos 90

O site da revista Rolling Stone publicou os melhores álbuns dos anos 90 segundo seus leitores. Boa lista. Alguns bateriam com a minha. Discordo de ter dois Smashing Pumpkins, por exemplo, de incluir o, para mim, ruim "Achtung Baby", o tal Jeff Bucley que não existe, mas no todo é bem pertinente. De incontestável mesmo só a quase unanimidade "Nevermind" do Nirvana que normalemente vai aparecer em primeiro em qualquer lista que se faça daquela década.
Confiram aí a lista dos leitores da Rolling Stone:


1. Nirvana - "Nevermind"

2. Radiohead - "OK Computer"

3. Pearl Jam - "Ten"












4. U2 - "Achtung Baby"
5. Oasis - "(What's the Story) Morning Glory
6. The Smashing Pumpkins - "Siamese Dream"
7. Metallica - "Metallica" ou "Black Album"
8. Jeff Bucley - "Grace"
9. The Smashing Pumpkins - "Mellon Collie and The Infinite Sadness"
10. Guns'n Roses -"Use Tour Illusion I e II"

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #299

 

A Rússia invadiu a Ucrânia, a rainha Elizabeth morreu, a Anitta foi indicada ao Grammy, o Brasil perdeu a Copa, o Lula derrotou o Bozo... Ufa, quanta coisa nesse 2022! Ainda bem que junto disso sempre teve o MDC pra fazer a trilha, inclusive deste último programa do ano, o de nº 299. Na playlist, Smashing Pumpkins, Arthur Verocai, Milton Nascimento, The Cure, Dom Salvador e mais. Ainda um Cabeção trazendo o Ethio-jazz do etíope Mulatu Astatke. Tudo isso vai ao ar às 21h, na retrospectiva Rádio Elétrica. Produção, apresentação e Feliz Ano Novo: Daniel Rodrigues. 


(www.radioeletrica.com)

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Música da Cabeça - Programa #59


Quem são esses homens e mulheres que cantam sempre esse lamento? Revelados recentemente documentos secretos do Governo Militar no Brasil, o Música da Cabeça vem para entoar o mesmo coro das centenas de vítimas do Regime. O programa de hoje também contará com as vozes ativas de Smashing Pumpkins, Elis Regina, Suzanne Vega e Caetano Veloso, para ficar em algumas delas. Ainda, “Palavra, Lê” e mais uma edição do quadro “Cabeção”. Então, para não cantar sempre o mesmo arranjo, sintoniza na Rádio Elétrica às 21h e escuta o Música da Cabeça! A produção e a apresentação são de Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Música da Cabeça - Programa #338

 

Abaixo o Marco Temporal! Exaltando o que se deve, demarcamos o nosso tempo com que há de melhor neste MDC, a se ver por Stevie Wonder, Caetano Veloso, Duran Duran, Smashing Pumpkins, Paulo Zdan e um Cabeça dos Outros.Sem PL 203, o programa está marcado para as 21h na atemporal Rádio Elétrica. Produção, apresentação e dignidade aos povos originários: Daniel Rodrigues


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Música da Cabeça - Programa #121


Se nossa terra ainda "tem palmeiras onde cantam sabiás, jamelões e outros mais”, muito devemos ao senhor das harmonias, arranjos e composições: Arthur Verocai. Em um rápido bate-papo que tivemos com o maestro carioca no nosso quadro “Uma Palavra”, fala-se sobre a arte de compor, a magia da música e, claro, de Música da Cabeça. Afinal, Verocai também escolheu música para tocar. Além disso, The Cult, Airto Moreira, The Smashing Pumpkins, Suzanne Vega, Miles Davis e outras coisas vão aparecer nesse programa especial de nº 121. Gruda o ouvido na Rádio Elétrica e não perde o MDC de hoje, viu? É às 21h. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Música da Cabeça - Programa #167


Tem gente dizendo que o calendário Maia prevê o fim do mundo pra essa semana. Vamos ouvir, então, o Música da Cabeça antes que tudo vá pelos ares. E se for, pelo menos teremos muita coisa boa no programa, como The Chemical Brothers, Rita Lee, The Smashing Pumpkins, Edu Lobo, Rage Against The Machine e mais. Ainda, "Música de Fato", "Palavra, Lê" de Ivan Lins e um "Cabeça dos Outros" com Charles Mingus. Te apressa em ouvir o MDC hoje na Rádio Elétrica, às 21h, antes que o mundo acabe. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Pondo a língua pra essa história de fim dos tempos.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Música da Cabeça - Programa #162


Faz horas que vem se dizendo que o rock morreu, e talvez esse dia tenha chegado quando o mundo perde na mesma semana Little Richard e Florian Schneider da Kraftwerk. Um dos criadores e um dos reinventores do rock ‘n’ roll serão devidamente lembrados no MDC de hoje, que também terá muita variedade e qualidade em suas homenagens: Smashing Pumpkins, Os Replicantes, Norah Jones, The B52’s, João Bosco e mais. Ainda, um “Palavra Lê” dedicado a um dos aniversariantes da semana, Nei Lopes. Tudo às 21h, na roqueira Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. E lhes digo mais: “A-wop-bop-a-loo-wop-a-wop-bam-BOOM TSCHAK!”





segunda-feira, 23 de julho de 2018

Morcheeba - "Big Calm" (1998)



"Seria impossível para nós não 
soar como Morcheeba." 
Ross Godfrey

Os anos 90 foram, em termos de música pop, muito bem resolvidos, obrigado. Além dos remanescentes das gerações anteriores ainda a pleno vapor, como Peter Gabriel, Sting, The Cure, U2, Madonna, R.E.M. entre outros, houve uma série de bandas e artistas oriundos da última década do século XX que souberam aproveitar o melhor dos que os antecederam e valerem-se, igualmente, das novas possibilidades técnicas e sonoras de então. Se antes não era uma realidade comum o incremento dos elementos do hip hop ou da música eletrônica, por exemplo, ao pop-rock noventista isso estava na veia. Tinha Smashing Pumpkins, que sabia oscilar do heavy metal à mais delicada balada; a Portishead, original mistura de gothic punk, rap e dream pop com pitadas jazz; a The Cranberries, verdadeiros seguidores de Smiths e Cocteau Twins; a Jamiroquai, dignos da linhagem jazz-soul; a Massive Attack, onde o trip hop encontrava a medida certa da psicodelia indie rock e o clubber; ou a Air, a engenhosa dupla francesa que vai do clima das trilhas dos anos 50 a eletro-pop num passo.

Mas uma dessas bandas parecia unir todas as qualidades de suas contemporâneas. Tinha os samples e scratches do rap; a batida druggy do dub; a voz feminina adocicada; uma guitarra criativa e hábil; a atmosfera soturna; as texturas eletrônicas; os hits cantaroláveis. A dois anos de fechar a década de 90, os ingleses do Morcheeba catalisavam tudo isso em “Big Calm”. Completando 20 anos de lançamento, o segundo álbum da banda liderada pela cativante cantora Skye Edwards e os talentosos irmãos Paul, DJ, e Ross Godfrey, guitarrista e vários outros instrumentos, é certamente um dos mais bem acabados que a música pop já produziu.

Acordes de baixo e guitarra wah-wah anunciam a entrada da voz macia de Skye, que diz os versos: “Flocking to the sea/ Crowds of people wait for me” (“Flocando para o mar/ Multidões de pessoas esperam por mim”). É “The Sea”, um dos hits do disco. Uma batida funkeada arrastada, peculiar do estilo downtempo, entra para ajudar o arranjo a se avolumar aos poucos. Ao final, já se somaram à cozinha scratches e uma orquestra de cordas, além de solos de guitarra de Ross. Pode-se compará-la em clima e estrutura a “All I Need”, da Air, e “It’s A Fire”, da Portishead. A marcante faixa de abertura é seguida da brilhante "Shoulder Holster", esta, um funk bem mais empolgado e onde aparecem pela primeira vez as influências indianas, seja nos samples de vozes, seja no som de cítaras e percussões típicas da terra de Ravi Shankar.

Outra faceta da Morcheeba está em "Part of the Process", que é o folk-rock. O violão de cordas de metal de Ross segura o riff, enquanto sua slide guitar solta frases em todo o decorrer do tema. Igualmente, o violino bem country de Pierre Le Rue. Tudo, claro, não sem diversos efeitos eletrônicos. O refrão, daqueles que pegam no ouvido, vem numa batida funky, enquanto Skye canta: “It's all part of the process/ We all love looking down/ All we want is some success/ But the chance is never around”. Num estado parecido, mas injetando a sonoridade indiana, a boa instrumental "Diggin' a Watery Grave" funciona quase como uma vinheta em que Ross destrincha sua habilidade com a cítara e uma guitarra pedal steel muito country, aproximando oriente e ocidente.

Retomando a atmosfera viajandona do downtempo de “The Sea”, outro hit de “Big Calm”: "Blindfold".  Mais que isso: exemplo de perfect pop. Acerto do início ao fim: estrutura melódica, composição, execução, arranjo, produção.  A negrinha Skye dá um show de vocal com sua voz afinadíssimo e cujo timbre suave, quase frágil, mas com uma pitada de rouquidão que a aproxima das cantoras da soul. Ao final, mais uma vez as cordas adensam a emotividade da canção. E outro refrão de cantarolar junto com ela:  “I'm so glad to have you/ And it's getting worse/ I'm so mad to love you/ And you evil curse.” 

Os sucessos (e os clássicos) de “Big Calm” não param: na sequência, vem "Let Me See", misto de trip hop e canção pop. Arrebatadora. Aqui, o grande responsável pela melodia é Paul Godfrey, visto que a música se constrói a partir dos beats e scratches criados ele. Já Skye, de tão bem que está, exala sensualidade. Dá pra viajar no seu canto lânguido e penetrante. Detalhe para a flauta doce que executa os solos do veterano Jimmy Hastings.

A outra “instrumental” do disco, “Bullet Proof”, mostra o quanto a Morcheeba é competente com a melodia e a instrumentalização. Trip hop típico, com samples psicodélicos e descontínuos que formam a base, tem como diferencial – além dos scratches do DJ convidado First Rate, que montam uma espécie de linha vocal com as vozes sampleadas – a brilhante guitarra de Ross. Ele mostra ser de uma linhagem de guitarristas britânicos do pós-punk, como Robin Guthrie e Johnny Marr: criativos e habilidosos, mas que usam o instrumento a serviço da ideia musical (efeitos, ambiências, texturas, etc.), sem necessariamente recorrer a rebuscamentos de solos extensos e desnecessários.

Já as baladas "Over and Over" e a rascante "Fear and Love” parecem ter saído de alguma sessão de gravação do Abbey Road em que George Martin arregimenta uma orquestra sobre a concepção musical de Lennon e McCartney. Românticas, têm, antes de mais nada, melodias caprichadíssimas. "Fear and Love”, em especial, conta com um violão que sustenta a base enquanto as cordas e metais formam o corpo sonoro ao fundo, fazendo lembrar bastante o arranjo também de um clássico do pop anos 80: “Please, Please, Please, Let Me Get What I Want”, dos Smiths. Precisa de mais referências que estas?

Mais uma joia, o reggae “Friction”, assim como Jamiroquai também cumprira com sua “Drifting Alone”, faz uma deferência aos mestres jamaicanos do gênero – ainda mais pela novamente linda voz de Skye, uma oferenda ao deus Jah. O disco finaliza com a lisérgica da faixa-título, em que concentram em 6 minutos o que há de melhor da banda. Sobre uma base em compasso 2/2, os irmãos Godfrey deitam e rolam. Paul, com a programação rítmica funk cadenciada, e, principalmente, Ross, que comanda os sintetizadores e a guitarra wah-wah, com a qual dá um verdadeiro show. O rapper Jason Furlow, coautor da música, engendra seus versos rappeiros enquanto o DJ Swamp lança scratches ao psicodélico tecido sonoro. Arrematando, Skye ainda faz suaves melismas, e o disco acaba num clima apoteótico.

Mesmo sendo um extra da versão em CD, "The Music That We Hear", outro hit, vale muito ser referida. Espécie de ula-ula estilizado, traz as síncopes do ritmo havaiano para dar forma a outro perfect-pop em que, mais uma vez, a melodia de voz – e a própria voz! – de Skye encantam. Com esta, termina um dos discos mais impecáveis da música pop, certamente um dos 10 melhores da sua década. Capaz de sintetizar aquilo que de bom ocorria à sua volta, a Morcheeba concebia assim, o seu estilo. Psicodélico, chapado (afinal, o pessoal gostava da erva:“morcheeba” significa “maconha” e “big calm” faz referência ao efeito tranquilizante da droga) e, acima de tudo, musicalmente rico. O que dizem os versos de “The Music...” parecem até, de certa forma, traduzi-los: “A música que fazemos curará todos os nossos erros e nos guiará”.

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FAIXAS:
1. "The Sea" – 5:47
2. "Shoulder Holster" – 4:04
3. "Part of the Process" – 4:24
4. "Blindfold" – 4:37
5. "Let Me See" – 4:20
6. "Bullet Proof" – 4:11
7. "Over and Over" – 2:20
8. "Friction" – 4:13
9. "Diggin' a Watery Grave" – 1:34
10. "Fear and Love" – 5:04
11. "Big Calm" – 6:00 (Godfrey/Godfrey/Edwards/Jason Furlow)
12. "The Music That We Hear" – 3:49 (bonus track)
Todas as composições de Paul Godfrey, Ross Godfrey e Skye Edwards, exceto indicada

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OUÇA O DISCO:
Morcheeba - "Big Calm"


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Música da Cabeça - Programa #225

 

Sabe a dancinha da Rayssa Leal? Era o MDC que ela estava escutando! No embalo do skate e também do surf olímpicos, o programa de hoje vem fazendo altas manobras - sonoras, claro. The Smashing Pumpkins, Buena Vista Social Club, Luedji Luna, Madonna, Lobão e outros vêm radicalizando. A gente manda ver também nos quadros fixos e num "Sete-List" que, claro, também tem a ver com o Japão. Faz igual ao Ítalo: abre os braços e agradece pela existência do programa, cuja bateria começa às 21h na pista ou nas ondas da Rádio Elétrica, como ´preferir. Produção, apresentação e medalha no peito: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quinta-feira, 7 de julho de 2022

John Cale - "HoboSapiens" (2003)

 

“Eu tento encontrar coisas que me deixam desconfortável.”
John Cale

David Bowie carrega com justiça a alcunha de camaleão do rock por tudo que fez e representa. Porém, ninguém vai tão a fundo no trânsito entre o pop e o underground do que John Cale. Versátil e caleidoscópico, o ex-Velvet Underground, que chegou aos 80 anos em março, traz desde antes da formação da banda que ajudou a mudar a história da música no séc. XX as mais díspares referências musicais e artísticas, hibridizando-as seja com a naturalidade de erudito ou com a rebeldia de um roqueiro. Para além de Frank Zappa, maestro como ele mas ainda mais radical em suas fusões, Cale soube unir as duas pontas da funcionalidade humana: o orgânico e o instrumento – e ainda ser pop. O mesmo Cale que produziu discos clássicos de Patti Smith e The Stooges, que tocou viola para La Monte Young e John Cage, que embarcou na performance pop-art de Andy Wahrol e que deu as linhas para a geração punk é o mesmo que tem música em filme de “Shrek”, que faz trilhas sonoras de música renascentista e compôs baladas cantaroláveis para a voz de Nico.

Tamanha multiplicidade é tão difícil de se absorver que o próprio Cale só as conseguiu reunir todas a gosto depois de 50 anos de carreira. Após trabalhos das mais diferentes linhas – "Vintage Violence" (1969), pop barroco; "The Academy in Peril" (1972), modern classical; "Slow-Dazzle" (1975), proto-punk; “Church of Anthrax” (com Terry Riley, 1971), minimalismo; “Songs for Drella” (1989, com Lou Reed), art rock; “N'oublie Pas que Tu Vas Mourir” (1995), sonata –, "HoboSapiens", seu 13º da carreira solo, pode ser considerado o da síntese. O conceito está no próprio título: a ideia de ciência, de criação ("robô"), atrelada à uma consciência originária, aquilo que determina o saber da espécie ("sapiens"). Mas a sonoridade de “HoboSapiens” vai ainda além, visto que se vale de todas estas e outras referências anteriores e ainda as amalgama com o synth-pop e o experimental da modernidade.

A brilhante "Zen" abre com a qualidade sintética que é comum às primeiras faixas dos discos de Cale, que articula com habilidade a difícil química entre atonalismo e música pop para impactar de saída assim como fez com "Fear Is A Man's Best Friend" ("Fear"), "Child's Christmas In Wales" ("Paris 1919"), "My Maria" ("Helen of Troy") ou "Lay My Love" ("Wrong Way Up", com Brian Eno). O conceito "HoboSapiens", assim, é acertado no alvo: de cara, ouvem-se ruídos que parecem saídos da natureza. Porém, em seguida percebe-se que este som é manipulado por instrumentos eletrônicos, ou seja, não-natural. Este, por sua vez, transforma-se numa base, que mantém o clima denso e suspenso para entrar uma batida programada de acordes mínimos, suficientes para formar um ritmo funkeado.

Pop-rock de alto nível vem na sequência com "Reading My Mind" e “Things”, esta última, aliás, que Cale espelhará na segunda parte do disco com a sua versão B, “Things X”, mostrando que é incontrolável sua tendência velvetiano de “sujar’ a melodia. União de opostos. "Look Horizon", no entanto, volta a “problematizar”, injetando um clima soturno com uma percussão abafada e o tanger de seu instrumento-base, a viola, que acompanha a elegante voz do galês. Mas a criatividade transgressora de Cale não fica somente nisso. Lá pelas tantas, a música dá uma virada para um funk contagiante com lances egípcios, que dialogam com a letra: “Atravessando o Nilo/ A Terra do Faraó está desenterrando seu passado/ Os amuletos quebrados da história/ Espalhados em nosso caminho”. Assim como “Zen”, das matadoras do álbum.

O caleidoscópico Cale, que chegou aos
80 anos em março
"Magritte" novamente traz uma batida mínima, que apenas ajuda a formar a base para um cello, teclados em contraponto e um baixo escalonando, numa pegada parecida com temas já muito bem usados por Cale anteriormente, como “Faces and Names” (“Songs for Drella”) e “Cordoba” (“Wrong Way Up”). Resgatando outra figura histórica como é costumeiro (“Graham Greene”, "John Milton" e “Brahms” já lhe foram tema, por exemplo), em "Archimedes" Cale brinca com o gênero synth pop, que oferece um arranjo especial para a melodiosa canção. Mais orgânica, “Caravan” é um ótimo rock cadenciado, que antecede outra grande do álbum: "Bicycle". Com participação de Eno nos loops, os quais praticamente forjam o riff, que se forma sobre uma batida funk e um baixo pegando firme no grave. A letra? Para quê?! Apenas saborosos melismas, que acompanham o ritmo “Too-too roo-roo...” nas vozes de Cale e Daria Eno, filha do parceiro.

Cale não para, provando para os que desconfiavam à época do lançamento que o velho músico vinha com tudo após 7 anos sem um trabalho autoral. Com muita cara de Depeche Mode e da Smashing Pumpkins de “Adore”, "Twilight Zone" é um exemplo maduro do synth pop. "Letter from Abroad", a subsequente, contudo, é outra das destruidoras. Uma sonoridade típica árabe dá os primeiros acordes como que sampleados, visto que repetidos em trechos simétricos. Isso, para entrar um ritmo funkeado. Percussões, rosnados de guitarra, acordes soltos de piano, vozes que rasgam e se cruzam, coro em contracanto. Letrista de mão cheia, em “Letter...” Cale experimenta sua veia literata: “É uma pequena cidade esquálida com uma beleza tênue/ As molhadas frias manhãs são tão atraente/ Pessoas acordar de repente no meio da noite/ Muito desapontado”.

Para acabar, uma daquelas músicas que já saem grandiosas do forno: "Over Her Head". Com a amplitude sonora de outras de sua autoria, “Forever Changed”, de “Songs for Drella”, ou "Half Past France" ("Paris 1919"), prossegue com um piano bastante clássico e efeitos de guitarras até quase o final para, então, entrar a banda com tudo e terminar lá em cima sob os acordes os dissonantes da inseparável viola dos tempos de The Theatre of Eternal Music e Velvet Underground. Junção radical e inequívoca do rock com a vanguarda.

Tão versáteis como Cale? Poucos. Bowie, Byrne... Ryuichi Sakamoto talvez seja um caso, porém quase nunca como cantor front man. Quincy Jones é outro, senhor de todos os estilos da música negra norte-americana mas que, no entanto, também passa muito mais pela figura do compositor e produtor e, ademais, bem longe do indie. Os brasileiros Gilberto Gil e Caetano Veloso, idem: trânsito pelos mais diferentes gêneros, só que distantes da cena rock propriamente dita. Isso faz com que Cale seja, por todos estes motivos, único. Ele chega aos 80 anos de vida e quase 60 de carreira com uma obra tão vasta como a sua importância e seu cabedal. Como todo bom roqueiro, mantém acesa a chama do inconformismo. Por outro lado, acumula conhecimentos que circulam somente pela nobreza. Mas o que o diferencia é, justamente, a veia rocker: ao invés de harmonizar as inúmeras referências que absorve, ele as digladia, choca-as, embate-as, como que para provocar o estranhamento entre o orgânico e o instrumento, a consciência e a tecnologia, o inato e a ciência, o saber e a criação. Sua música, assim, encontra uma zona de perturbação que a torna improvável e seus métodos para evidenciar essa tese são os mais originais e transgressores. Por isso tudo, ele – e somente ele – pode ser chamado de um clacissista selvagem. Ou vice-versa.

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FAIXAS:
1. "Zen" - 6:03
2. "Reading My Mind" - 4:11
3. "Things"- 3:36
4. "Look Horizon" - 5:40
5. "Magritte" - 4:58
6. "Archimedes" - 4:40
7. "Caravan" - 6:43
8. "Bicycle" - 5:05
9. "Twilight Zone" - 3:49
10. "Letter from Abroad" - 5:10
11. "Things X" - 4:50
12. "Over Her Head" - 5:22
Faixa bônus da versão em CD:
13. "Set Me Free" - 4:32
Todas as composições de autoria de John Cale

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Daniel Rodrigues

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

PJ Harvey - "To Bring You my Love" (1995)

 

“Aquela garota dos olhos azuis/ Ela disse ‘nunca mais’/ Aquela garota dos olhos azuis/ Virou uma puta de olhos azuis/ Por debaixo d'água”.
da letra de “Down by the Water” 

Pode-se dizer que os anos 90 foram os anos das "minas do rock", principalmente o alternativo. Sinal de alguma evolução comportamental na indústria cultural, o século que viu o gênero nascer obscurecendo Sister Rosetta Tharpe para evidenciar apenas roqueiros homens guardou para a sua última década um bom bocado de talentosas cantoras e compositoras senhoras de seus narizes. Afora as band girls The Breeders, Baby's in Toyland e L7 ou as líderes de bandas Dolores O'Riordan (The Cranberries), Shirley Manson (Garbage) e Courtney Love (Hole), pelo menos três dessas vozes transformaram a cena rock injetando-lhe um novo sopro de fúria e beleza, mas claro, carregado de feminilidade: Liz Phair, Björk e Fiona Apple. Ninguém, no entanto, foi tão a fundo neste empoderamento feito de riffs e vociferações como a britânica Polly Jean Harvey.

Nascida na mesma Dorset da King Crimson, região sudoeste da Inglaterra, PJ Harvey surgiu como um furacão em 1992 com o corrosivo “Dry”. Como os ícones que carregam em si todos os atributos de sua arte e seu tempo, PJ provava de pronto ser dessas figuras, fosse na forma quanto no conteúdo: postura feminista, ótima cantora, compositora ímpar, domínio de vários instrumentos e dona de uma imagem sensual e dasafiadora ao mesmo tempo. A cara da nova mulher do rock.

“Rido of Me”, de 1993, avança nesta proposta, mas o desaguar vem completo, como um orgasmo desinibido, em “To Bring You my Love”, de dois anos depois. Questões feministas são trazidas com graça e força, seja nas letras como nas sonoridades. A capa, assim como no clipe da música de trabalho, "Down by the Water", sintetiza este conceito: uma sereia moderna, trajando um decotado vestido de uma lascivo vermelho-sangue sob águas revoltas e bastante simbólicas. Uterina e genital. O som, sobre um riff grave e intenso, o canto carregado e por vezes sensualmente cochichado, as frases pontuais das cordas, a letra confessional: tudo respira sexo e dor. “Oh ajude-me, Jesus/ Venha por entre essa tempestade/ Eu tive de perdê-la/ Para machucá-la/ Eu a ouvi gritar/ Eu a ouvi gemer/ Minha linda filha/ Eu a levei pra casa”, diz referindo-se à menina inocente que deixou de ser.

Construído narrativamente, “To Bring...” explora com perfeição os detalhes de sons e os andamentos, como no repertório sabiamente encadeado. Cada faixa é um universo, mas PJ faz, no todo, que não destoem uma da outra. O tema-título começa o álbum numa lentidão quase fúnebre. A música é forjada sobre um riff de guitarra contínuo, marcado, repetido, marcial, incompleto, num blues dissonante e circunspecto. A voz rasga os alto-falantes em exasperação, assim como a pronúncia dramática, que abre os fonemas e altera pronúncias. "To bring you my 'lova'" (“Para trazer-te meu amor”), suplica. Coisa genial – e quem ouvir aqui Lady Gaga cantando não está errado.

Sobe o ritmo: rockasso tribal, “Meet Ze Monsta” exagera propositalmente na distorção da guitarra, mas mais para sujar o arranjo do que fazer barulho. PJ, selvagem, surge da mata do inconsciente feminino e puxa do instinto primário a voz para dizer que não tem essa de "sexo frágil": “Veja-o vir/ em minha cabeça/ Não estou correndo/ Não estou com medo [...] Eu não estou tremendo/ Eu não vou me esconder/ Sim, estou pronta [...] Que monstro/ Que noite/ Que amante/ Que briga”.

De um modo ou de outro, tudo fala sobre a mulher, emancipada e questionadora de sua existência. “Working for the Man”, retraz a temática sobre uma arquitetura sonora de garage band estilizada: som abafado e em volume reduzido, predominância dos graves e protagonismo da bateria e do baixo – este último, aliás, quase estourando o woofer das caixas de som. A voz de PJ, em overdub, é invariavelmente sussurrada, o que contrabalanceia o clima selvagem imediatamente anterior.

Pausa na crueza, mas não na dramaticidade. Balada sangrenta, “C’mon Billy” convida o homem a voltar para casa para viver com ela e o filho. “Venha Billy/ Vem para mim/ Você sabe que eu estou te esperando/ Eu te amo infinitamente”. Poxa, Billy, vai amarelar com essa baita mulher?! Canto fenomenal, carregado, cheio de sentimento, o qual é intensificado pela linda linha de cordas arranjada por Pete Thomas. Perfect pop como poucos sabem fazer, dos mais perfeitas (sic) dos anos 90. “Teclo” , por sua vez, volta à aparente simplicidade na reelaboração do núcleo blueser num tema misto de Nico e Captain Beefheart. Mas simplicidade, que nada: síntese e atonalismo. PJ, então, não faz concessões e manda de novo um rock intenso: “Long Snake Moon”, a seu melhor estilo, com sua pegada pós-punk. Sem, contudo, perder o drama e a ira. Já  "I Think I'm a Mother", tribal como “Meet...”, convoca a tribo para um alucinado pogo no meio da aldeia.

Tudo em “To Bring...” é detalhadamente pensado, o que faz com que os arranjos nunca sejam simples mesmo no mais aparentemente seminal rock 'n' roll. Uma das principais qualidades do álbum, aliás, tem a ver com isso: a produção, assinada pela própria PJ junto com o parceiro Joe Parish e Flood, este último, um dos grandes produtores da música pop. A expertise de Flood com o manejo das texturas sonoras, o qual ele empregara com maestria junto a bandas como Depeche Mode, Nine Inch Nails, Nitzer Ebb e Smashing Pumpkins, são somadas à concepção harmônico-melódica criativa de PJ, resultando nesta sonoridade peculiar. Impossível dissociar a melodia de seu invólucro, tamanha a unidade de ideias. 

Surpreendente mais uma vez, Miss PJ traz outra de suas obras-primas para encaminhar o final: puxada num violão de nylon de toque amplo e dedilhado, numa toada flamenca, "Send His Love to Me", andaluza, é não menos dramática do que todo o restante. Outro show dela aos vocais, outra vez a orquestração intensa, outra vez a produção irretocável. Poderia acabar aqui tranquilamente, mas como é comum ao roteiro de grandes álbuns, ainda há um gran finale. “The Dancer”, arrastada, melancólica, sofrida. E o que são aqueles gritinhos ao final, meu Deus?! Gemidos de prazer repetidos, seis deles, que parecem que vão levá-la ao êxtase, mas que, quando quase chegam ao clímax, resolvem-se em forma de canto. Dona Polly Jean, assim você mata seus ouvintes! Um êxtase tanto quanto.

O que faz uma mulher mignon, magra e de rosto assimétrico se transformar num mulherão radiante e cheio de sex appeal? PJ Harvey é a mais bem acabada resposta. Símbolo da mulher moderna, ele é a união da “pre-millenium tension” com a consciência da emancipação feminina que passaria a vigorar com maior afirmação a partir de então no showbiz e na sociedade ocidental. Em “To Bring...” ela mostra que é possível ser dama e puta, santa e profana, fada e bruxa, carnal e existencial, sensível e intensa, feminina e masculina. Desvencilhada das amarras que por séculos prenderam as mulheres no mundo da arte, PJ, parafraseando uma de suas próprias letras, foi abandonada pelo paraíso, amaldiçoou Deus e dormiu com o diabo para cunhar uma obra rock tão autoral e verdadeira. Respeita a mina.

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A versão de luxo traz B Sides tão bons que renderiam um outro disco.

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FAIXAS:
1. "To Bring You My Love" - 5:32
2. "Meet Ze Monsta" - 3:29
3. "Working for the Man" - 4:45
4. "C'mon Billy" - 2:47
5. "Teclo" - 4:57
6. "Long Snake Moan" - 5:17
7. "Down by the Water" - 3:14
8. "I Think I'm a Mother" - 4:00
9. "Send His Love to Me" - 4:20
10. “The Dancer" - 4:06


Faixas B-Sides da versão limitada em CD:
1. "Reeling" (demo version) - 3:00
2. "Daddy" - 3:16
3. "Lying In The Sun" - 4:30
4. "Somebody's Down, Somebody's Name" - 3:40
5. "Darling Be There" - 3:46
6. "Maniac" - 4:01
7. "One Time Too Many" - 2:52
8. "Harder” - 2:05
9. "Goodnight" - 4:17
Todas as músicas de autoria de PJ Harvey

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Daniel Rodrigues