E começaram as Olimpíadas!!!
Sabe quando começam a passar aquelas delegações na cerimônia de abertura e a gente estranha cada país que nem fazia ideia que existisse, ou, em alguma competição qualquer a gente pensa, "nem sabia que se praticava esse esporte num lugar desses..."? Pois é. Em cinema às vezes acontece algo parecido. Acostumados com o cinema norte-americano e mais uns três ou quatro núcleos cinematográficos tradicionais como França, Itália, Alemanha talvez... uma Suécia vá lá, um Japão por causa do Kurosawa e dos filmes de terror refilmados em Hollywood, Espanha pelo Almodóvar, mexicanos e sul-coreanos que estamos acostumando agora, argentinos cada vez mais consolidados e tal, mas, de um modo geral, até pelo bombardeio midiático, pelo apelo comercial ainda é estranho ver produções de lugares como África, América Central ou Leste Europeu.
Eis que, hoje, depois da entrada das delegações na Olimpíada do ClyBlog, o Claquete destacará filmes de alguns desses lugares que nem sempre têm potencial para ganhar uma medalha de ouro, mas que, podem crer, não fazem feio diante das potências cinematográficas, sendo inclusive, muitas vezes inspiração para muitos remakes na terra do Tio Sam.
Seguem abaixo 20 filmes daqueles lugares que a gente só lembra no dia da abertura das Olimpíadas. Alguns são bem desconhecidos, outros nem tanto, outros já gozam de um status de cult, alguns até premiados são, mas o que todos tem em comum é que são daqueles lugares que muita gente perguntaria, "mas se faz filme nesse lugar?". Se faz, sim. E coisa boa.
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5. "Cafarnaum", de Nadine Labaki (Líbano /2018): Filme pesado sobre a dura realidade de crianças no Líbano, seja nas relações familiares, no trabalho infantil, na exploração sexual, seja no que for... Aos doze anos, Zain, sobrecarregado com obrigações do lar de pais ausentes, se revolta definitivamente quando sua irmã de onze é forçada a se casar com um homem mais velho. Ele então foge de casa e passa a viver nas ruas junto aos refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por conta própria. Entre tantas qualidade do longa está a opção por usar a câmera na mão, muitas vezes à altura dos olhos do menino, reforçando a sensação de realidade e aumentando o impacto de tudo aquilo que estamos vendo. Destaque para atuação do menino Zaim, que transmite uma verdade, uma intensidade incrível em cada uma de suas cenas.
6. "Espíritos - A Morte Está a Seu Lado", de Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom (Tailândia /2004): Nem todo mundo sabe mas a Tailândia é uma grande produtora de filmes de terror e um dos mais célebres representantes desse segmento no cinema tailandês é "Espíritos - A Morte Está A Seu Lado", filme que já ocupa seu lugar entre os clássicos do horror.
As figuras nas fotos já são de arrepiar, mas a cena final do filme é de ter pesadelos.
Um dos filmes mais repulsivos e perturbadores que já assisti.
Pra completar, o final é um verdadeiro nó na mente.
8. "Rafiki", de Wanuri Kahiu (Quênia /2018): Aquela conhecida luta contra o conservadorismo muito bem retratada, desta vez mostrando a realidade num país africano. Duas amigas, Kena e Ziki, acabam se apaixonando e, além de lutar contra as diferenças das famílias, rivais na política local, têm que encarar o preconceito da sociedade. Num ambiente altamente homofóbico e violento, elas precisam fazer a escolha entre viver suas vidas como querem ou encarar as ameaças que aquela situação acaba lhes gerando.
Mexeu em algo que incomodou...
Não é pra isso que serve a arte?
9. "JeruZalém", de Doron Paz e Yoav Paz (Israel /2015): Terror foud-footage, em primeira pessoa mas não gravado com uma câmera na mão e sim com um Google Glass.
A última meia hora é frenética e o final é bem interessante, de certa forma dialogando com tudo isso que está acontecendo hoje, na Faixa de Gaza. Se ninguém se entende, se continuarem brigando a vida inteira por convicções, religião, território, ou seja lá o que for, Israel, a Palestina, tudo vai se transformar num inferno.
11. "Antes da Chuva", Milcho Manchevski (Macedônia /1994): Um lamento pela guerra e pelos conflitos da antiga Iugoslávia, "Antes da Chuva" traz três narrativas sobre os desencontros que as diferenças entre os homens podem causar. Na primeira, um monge se apaixona por uma jovem refugiada albanesa acusada de assassinato e abandona as obrigações monásticas para fugir com ela pelos vales da Macedônia; na segunda, uma fotógrafa, editora de imagem, em Londres, vive o dilema de continuar com o marido ou ceder à paixão pelo amante, um fotógrafo de guerra macedônio que reaparecera em sua vida; e na última, que incorpora as duas anteriores, o mesmo fotógrafo, o amante da história anterior, volta à sua terra natal a fim de permanecer por lá, mesmo com todas as dificuldades, diferenças e desavenças que vive o país.
12. "Cão Come Cão", de Carlos Moreno (Colômbia /2008): A realidade dura da pobreza, da violência e do domínio do tráfico em algumas regiões da Colômbia é tema recorrente no cinema do país, e um dos filmes que retratam situações envolvendo o submundo do crime é o bom "Cão Come Cão", um thriller policial astuto, envolvente repleto de regionalismos e características típicas da cultura da América do Sul, como música, dança e misticismo.
Filme policial bem tramado, repleto de contornos e envolvimentos. Uma espécie de Tarantino sul-americano.
13. "Macabre", de Kimo Stamboel, Timo Tjahjanto (Indonésia /2009): Aquela mania de ser gentil, solidário... Um grupo de amigos, a caminho do aeroporto, socorre uma mulher na beira da estrada e, ainda com muito tempo antes do voo, resolve levá-la para casa. Chegando lá, em agradecimento, a garota socorrida convida os bons samaritanos a entrarem, comerem alguma coisa, e diante de tanta gentileza e insistência da mãe da jovem, resolvem aceitar. Péssima ideia!
A família, liderada pela belíssima matriarca Dara, lembra a do "Massacre da Serra Elétrica" só que sem aquela sutileza da sugestão do clássico de 1974. Aqui não tem sutileza. É hardcore, mesmo.
14. "A Onda", de Roar Uthaug (Noruega /2015): Os noruegueses, de uns tempos pra cá, enveredaram para fazer filmes catástrofe e, olha, não se saíram mal. "Terremoto", "O Túnel", "Presos no Gelo", todos atendem bem as exigências do gênero.
Uma avalanche provoca um descolamento de um fiorde causando uma onda gigantesca que atingirá em cheio o povoado de Geirander. Como de costume, alguém avisou e não quiseram ouvir: o geólogo Kristian, mesmo diante da oportunidade de sair da cidadezinha e trabalhar na capital num bom emprego, alertado por anomalias nas leituras dos índices, resolve ficar e salvar quem conseguir, inclusive sua família. Quem devia tomar providências de alerta, evacuação e tudo mais, não deu a devida atenção, aí, o que resta? É correria e cada um tentando salvar suas vidas.
Como a gente já sabe, uma tragédia sempre começa quando um cientista avisa e as autoridades demoram para agir...
Um agente de polícia trabalha infiltrado na máfia, e um "afilhado" de um mafioso, formado na academia policial, trabalha na polícia, a serviço do criminoso. Percebendo que informações vazam, tanto para a lei quanto para os criminosos, a polícia e a máfia, iniciam suas caças particulares ao respectivo informante, gerando situações de perseguição, suspense e constante expectativa.
"Conflitos Internos" não é o único caso de thrillers policiais interessantes produzidos por lá e, para os mais desavisados, pode-se até afirmar que Hong Kong é especialista nesse tipo de produção.
19. "O Cheiro da Papaia Verde", de Tran Anh Hung (Vietnã /1993): Mui, uma mulher bem colocada socialmente, relembra os dias de dificuldade até chegar ali. Lembra que trabalhara para uma família rica no Vietnã, de como era bem tratada pela patroa que a tomava quase por filha, lembra de quando fora designada para uma família chinesa, de como as coisas pioram financeiramente e ela teve que ser encaminhada para um novo patrão, um pianista, por quem se apaixonaria e tornaria-se, depois, seu marido. Mas de todas as lembranças, o que faz seu fio da memória para os acontecimentos de uma vida é o cheiro do mamão papaia verde.
Pra quem acha que Vietnã é só filme de guerra, Rambo, ameaça comunista americana, etc., "O Cheiro da Papaia Verde" é a resposta definitiva que não. O Vietnã é capaz de produzir um filme verdadeiramente saboroso.