Meus discos são inegavelmente parte importantíssima da minha vida. Só que alguns deles, em especial, tem papel importante na minha trajetória, por marcarem fases, episódios, vínculos, etc.
O “Revoluções por Minuto” do RPM é um destes discos que carrega uma marca importante em relação à minha vida: foi o disco que me mostrou que eu gostava de rock.
Não foi o primeiro disco que eu ouvi, não foi o primeiro que comprei, não é o melhor álbum nacional e todos os tempos, muito menos o melhor-melhor mesmo de todos, só que ele apareceu em um momento de descobertas. Muita gente começou com Beatles, outros com os Pistols. Descobertas relevantes, por certo. Eu comecei com RPM.
O trouxe hoje para ouvir no carro e ainda hoje percebo o porquê de ter-me despertado para algo que nunca mais me abandonaria, e que eu também não abandonaria mais. O rock.
Mesmo com seu apelo pop quase que pré-fabricado, serviu para despertar a sensibilidade para os elementos básicos do rock, guitarra-baixo-bateria, ainda que a grande estrela instrumental da banda fosse um tecladista, Luiz Schiavon, e que os outros instrumentistas fossem bastante limitados. Mas o fato é que ali se via um vigor de banda e nela os elementos que sempre estiveram presentes no gênero através dos tempos, como a rebeldia, o protesto, a ironia, a sensualidade e até mesmo esse apelo popular mesmo (por que não?) que sempre esteve presente desde que os ídolos são ídolos.
Tudo foi meticulosamente estudado para dar certo. Paulo Ricardo, o frontman da banda, fizera na época uma espécie de estágio em Londres para compor a receita que tinha que dar certo, e fez isso em cima de fórmulas já utilizadas nas últimas décadas e a partir do cenário local do momento que era extremamente criativo e dinâmico. Figuravam naquele momento Smiths, U2, Talking Heads, Cure, rolava o finzinho da new-eave, o fim do punk, o gótico estava na moda e no fundo no fundo o RPM tinha um pouco de tudo isso.
A primeira parte do álbum, que correspondia ao que seria o lado A do LP é a parte mais pop do disco. É onde encontram-se todos os grandes hits . Um riff de guitarra marcante e pungente seguido de um teclado cuidadosamente pegajoso abrem o disco e aí está “Rádio Pirata” com um aviso de que a invasão é inevitável. “Olhar 43”, talvez o maior hit tem um tecladão meio monocórdio, soando meio automatizado, bem grave e forte no início, encaminhando para uma letra totalmente sensual e envolvente que acaba num “tesão” que na época as rádios hesitavam em deixar que aparecesse. Segue “A Cruz e a Espada” baladinha com um clarinete e que falava sobre inocência, primeira vez, e essas coisas bem identificáveis para a meninada da época. “Estação no Inferno” um pouco mais soturna que só veio a ser sucesso mesmo no ábum ao vivo que seguiu este, tinha um clima meio soturno, meio que uma influência daquele cenário londrino estudado por Paulo Ricardo. O lado A fechava com “Loiras Geladas”, outro baita sucesso também muito sensual com o teclado em destaque numa espécie de The Doors/new-wave.
Curiosamente o que correspondia ao lado B, a segunda metade do disco, que não tocou no rádio era mais criativa e complexa como por exemplo a interessante “Liberdade/Guerra Fria” meio darkzinha com toques orientais, e a excelente e dramática ode ao país “Juvenília”. “Pr’esse Vício”, talvez a mais agressiva do disco, soa bem atual com suas referências a terrorismo e confrontos religiosos, e fechando o disco, completamente sintonizada com os dias de hoje, quase 15 anos depois, vem “Revoluções por Minuto” falando de caos econômico, globalização, drogas, consumo, num mundo girando a 78 RPM.
Depois disso o álbum “Rádio Prata Ao Vivo” vendeu como água, a banda fez megashows como nenhuma outra banda nacional havia feito, deu um tempo, voltou e ainda produziu um ótimo disco, “Os Quatro Coiotes”, mas que não teve boa aceitação do grande público. Aí a banda mudou de integrantes, voltou pra alguns caça-níqueis e era isso. O que pode resumir bem a situação atual é o fato de que o criativo e bom tecladista Luiz Schiavon toca atualmente na banda do Domingão do Faustão. Precisa dizer mais?
Depois do RPM descobri que uma banda que eu achava legal mas não sabia o nome era o tal de The Smiths, que uns carinhas de preto todos descabelados eram do The Cure e assim por diante, conheci outras e gostei mais de outras. Mesmo no cenário nacional, logo veio o “Cabeça Dinossauro” e abafou o “Revoluções...”, mas não deixo de ser extremamente grato ao álbum “Revoluções por Minuto” que foi o disco que me fez gostar de rock.
*******************
FAIXAS:
01- Radio Pirata
02- Olhar 43
03- A Cruz e a Espada
04- Estação No Inferno
05- A Furia do Sexo Fragil Contra o Dragão da Maldade
06- Louras Geladas
07- Liberdade, Guerra Fria
08- Sob a Luz do Sol
09- Juvenilia
10- Presse Vicio
11- Revoluções Por Minuto