Já tem data o lançamento oficial do novo livro do coeditor do nosso blog, o escritor e jornalista Daniel Rodrigues, “Chapa Quente” (ed. Caravana Editorial). Será durante a celebrada Feira do Livro de Porto Alegre, que abriu no dia de ontem para sua gloriosa 70ª edição, no dia
16 de novembro, e contará com duas programações. Primeiro, às 15h, na sala O
Retrato do Espaço Força e Luz, ocorre
um bate-papo do autor com a escritora convidada e amiga Simone Saueressig. Logo em seguida, às 16h, é a vez de Daniel autografar a
obra na Praça de Autógrafos da Feira do Livro, na Praça da Alfândega.
Primeiro individual de contos de Daniel, “Chapa Quente” é composto por uma
reunião de cinco histórias e foi selecionado em concurso realizado pela editora Caravana Editorial em
2023, resultando resultado da experiência de mais de 10 anos de Daniel Rodrigues
como contista, o qual já participou de diversas antologias coletivas. Além
destas obras, também é autor de “Anarquia na Passarela – A influência do movimento punk nas coleções de moda”, livro pelo qual venceu o Prêmio Açorianos
de Literatura 2013, na categoria Ensaio e Humanidades. Pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, também assina
artigo no livro “50 Olhares daCrítica Sobre o Cinema Gaúcho”, editado pela ACCIRS em 2022.
*********
Lançamento livro“Chapa Quente”
Onde:70ª Feira do Livro de Porto Alegre - Centro Cultural CEEE Espaço Força & Luiz (R. dos Andradas, 1223, sala O Retrato)
Quando:16 de novembro
15h: Bate-papo do autor com a escritora Simone Saueressig
16h: Sessão de autógrafos (Praça dos Autógrafos, Praça da Alfândega)
Assisti de casa a cerimônia de premiação do 52º Festival deCinema de Gramado, o qual pude, ao menos por alguns dias, participar
presencialmente de novo ao lado de Leocádia, assim como havíamos feito pela
primeira vez em 2022. E desta, além do prazer de estar no maior e mais longevo
festival de cinema do Brasil e de encontrar amigos e colegas, teve um sabor especial: foi o meu primeiro à frente
da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs), entidade a
qual assumi a presidência há cerca de 2 meses. Isso fez com que, presentemente,
pudesse integrar, também ineditamente, o júri do Prêmio Accirs aos
curtas-metragens gaúchos, o chamado “Gauchão”, na Mostra Assembleia Legislativa
ocorrida no primeiro final de semana do evento.
Juntamente com meus colegas de associação, Adriana
Androvandi, André Bozzetti, Carol Zatt, Cristiano Aquino, Mônica Kanitz e Paulo
Casa Nova, deliberamos este prêmio da crítica ao agora, uma semana depois,
multipremiado “Pastrana”, de Melissa Brogni e Gabriel Motta, tendo em vista que
o filme levou também Kikitos na Mostra de Curtas-Metragens Nacionais, incluindo
o principal, o de Melhor Filme. O quase solitário destaque que demos a “Pastrana”
na mostra gaúcha (recebeu apenas mais o singelo troféu de Melhor Produção
Executiva), quando subi ao palco para entregar-lhes o certificado e nosso livro, foi, de certa forma, chancelado na mostra nacional, que, além do
grande prêmio, conferiu ainda o reconhecimento por Fotografia e Montagem a esta homenagem para Allysson Pastrana, skatista de downhill, que faleceu em 2018 durante uma competição.
vídeo da cerimônia de entrega da Mostra de Curtas Gaúchos - Prêmio Accirs
Mas existe ainda mais um fator de especialidade a esta nova participação
minha em Gramado. Havia composto o júri da crítica na 49º edição, em 2021, alto da pandemia da
Covid-19, o que obrigou a que todo o festival fosse virtual, inclusive a
contribuição do grupo do qual estive. Desta feita, no entanto, outra felicidade
me aproximou diretamente dos filmes, que foi integrar a comissão de seleção dos
curtas-metragens nacionais, empreitada que encarei entre junho e julho ao lado
de três competentes mulheres: a atriz e diretora Fernanda Rocha, do Rio de
Janeiro; a professora da UFMS Daniele Siqueira, do Mato Grosso, e a cineasta, professora
e minha colega de Accirs Daniela Strack.
Cartaz do excelente "Pastrana", conquistas nas mostras gaúcha e nacional
Da difícil seleção dos mais de 300 filmes que assistimos e
discutimos, dentre os quais muita coisa de alta qualidade, restaram os 12
títulos concorrentes, seleção esta que, aliás, foi mais de uma vez elogiada no
palco durante a cerimônia de premiação, o que me deixa bastante orgulhoso. E mais
ainda por ver o gaúcho “Pastrana”, um de nossos escolhidos para esta seleção, sair
vencedor como há 9 anos não ocorria – principalmente em um ano em que o Rio Grande do Sul foi tão afetado
pelas enchentes ocorridas em maio. Somando-se à escolha do público pelo ótimo e
tocante “Ana Cecília”, a outra produção gaúcha da mostra de curtas nacionais pareando
com filmes do Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul do país, pode-se considerar uma
vitória do cinema gaúcho e do Rio Grande do Sul.
Ainda sobre os pagos daqui, do Prêmio Sedac/Iecine de Longas-Metragens
Gaúchos – que celebrou a produção indígena “A Transformação de Canuto”, de
Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, com o prêmio de Melhor Filme –, não
assisti a nenhum deles por não estar mais em Gramado quando de suas exibições,
o que desejo fazer em breve assim que estes começarem a rodar nas salas de
Porto Alegre. Já em relação aos documentários, que foram exibidos apenas no
Canal Brasil e não no Palácio dos Festivais, dois deles perdi, mas vi o
vencedor, “Clarice Niskier: Teatro dos pés à Cabeça”, de Renata Paschoal, embora
um doc de estrutura convencional, pareceu-me merecedor num primeiro momento.
Por fim, os longas brasileiros. Foi-me possível conferir
apenas dois concorrentes quando em Gramado: “O Clube das Mulheres de Negócios”,
de Ana Muylaert, que levou somente Prêmio Especial do Júri pelo conjunto do
elenco, mas que, a meu ver, se credenciava a, quem sabe, Trilha Sonora ou Atriz
(Cristina Pereira); e “Estômago 2: O Poderoso Chef”, de Marcos Jorge, uma
coprodução Brasil-Itália totalmente equivocada capaz de deturpar e diminuir o
excelente filme original, de 2007, um cult do cinema nacional. Roteiro confuso,
inconsistente e banal, que compromete todo o filme, desde seu ritmo narrativo
até as atuações, a ponto de apagar aquele que deveria ser o personagem
principal, o chef de cozinha agora presidiário Raimundo Nonato, vivido pelo
ator João Miguel.
Cena de "Oeste Outra Vez", grande vencedor do ano
Para grande surpresa minha e de muita gente da crítica, “Estômago
2” foi o maior premiado da edição, com 5 Kikitos, dentre os quais – pasmem! – o
de Melhor Roteiro. Sinceramente, equivocada a escolha, visto que injustificável
para uma história que não se concatena. Até sondei a possibilidade de se estar
privilegiando um filme com potencial de bilheteria (deve estrear nos cinemas em
29 de agosto), mas a hipótese se esvaiu rapidamente, tendo em vista que um júri
deve valorizar, em respeito ao espectador e ao cinema, um mínimo de qualidade –
o que o roteiro de “Estômago 2” deixa muito a desejar. Ainda mais estranho foi,
mesmo com uma atuação que não lhe favorece, visto que a história ofusca o
próprio protagonista, é Miguel ter dividido o prêmio de Melhor Ator junto com Nicola
Siri! O filme ainda, para completar, abocanhou Trilha Sonora, que nada mais é
do que a emulação da, esta sim, ótima trilha do primeiro filme. Tudo muito
estranho.
Os outros longas não tive, assim como os gaúchos dessa
metragem, a oportunidade de assistir, mas ao que parece, pela reação geral, a
redenção dos erros de avaliação foram os prêmios da crítica, para “Cidade;
Campo”, de Juliana Rojas, e a escolha do grande filme do ano de Gramado: o goiano "Oeste
Outra Vez", de Erico Rassi, que realmente se destaca diante dos outros nas
poucas cenas que vi. O faroeste à brasileira, que traz uma narrativa centrada
em um universo masculino rural, conquistou também os prêmios para Melhor
Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante, para Rodger Rogério.
Enfim, uma premiação com altos e baixos (como são na
maioria), mas que, independentemente disso, não tira de mim a alegria de ter
participado de forma tão mais consistente do Festival de Gramado.
A clássica foto final com os premiados
Confira, então, os premiados da edição de 2024:
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor filme:‘Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi
Melhor direção: Eliane Caffé, por “Filhos do Mangue”
Melhor ator: João Miguel e Nicola Siri, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor atriz: Fernanda Vianna, por “Cidade; Campo”
Melhor roteiro: Bernardo Rennó, Lusa Silvestre e Marcos Jorge, por “Estômago 2: O
Poderoso Chef”
Melhor fotografia: André Carvalheira, por “Oeste Outra Vez”
Melhor montagem: Karen Akerman, por “Barba Ensopada de Sangue”
Melhor ator coadjuvante: Rodger Rogério, por “Oeste Outra Vez”
Melhor atriz coadjuvante:Genilda Maria, por “Filhos do Mangue”
Melhor direção de arte: Fabíola Bonofiglio e Massimo Santomarco, por “Estômago 2: O Poderoso
Chef”
Melhor trilha musical: Giovanni Venosta, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor desenho de som: Beto Ferraz, por “Pasárgada”
Prêmio especial do júri: “O Clube das Mulheres de Negócios”, de Anna Muylaert
Júri popular: “Estômago 2: O Poderoso Chef”, de Marcos Jorge
Júri da Crítica:“Cidade; Campo”, de Juliana Rojas
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor filme: “Pastrana”, de Melissa Brogni e Gabriel Motta
Melhor direção: Lucas Abrahão, por “Maputo”
Melhor roteiro: Adriel Nizer, por “A Casa Amarela”
Melhor ator: Wilson Rabelo, por “Ponto e Vírgula”
Melhor atriz: Edvana Carvalho, por “Fenda”
Melhor trilha musical: Liniker, por “Ponto e Vírgula”
Melhor fotografia: Livia Pasqual, por “Pastrana”
Melhor montagem: Bruno Carboni, por “Pastrana”
Melhor direção de arte: Coh Amaral , por “Maputo”
Melhor desenho de som: Felippe Mussel, por “A Menina e o Pote”
Prêmio especial do júri: “Ponto e Vírgula”, de Thiago Kistenmacher
Júri popular: “Ana Cecília”, de Julia Regis
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Maputo”, de Lucas Abrahão
Menção honrosa
“Ressaca”, de Pedro Estrada
“Via Sacra”, de João Campos
“Navio”, de Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real
"Maputo”, de Lucas Abrahão
Júri da crítica:“Fenda”, de Lis Paim
LONGAS-METRAGENS DOCUMENTAIS
"Clarice Niskier: Teatro dos pés à Cabeça”, de Renata Paschoal
LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
Melhor filme: "A Transformação de Canuto", de Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho
Melhor Direção: Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho, por "A Transformação de
Canuto"
Melhor Ator: Fabrício Benitez, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Atriz: Cibele Tedesco, por "Até que a Música Pare"
Melhor Roteiro: Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Fotografia: Camila Freitas, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Direção de Arte: Adriana do Nascimento Borba, por "Até que a Música Pare"
Melhor Montagem: Jonatas Rubert e Thais Fernandes, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Desenho de Som: Kiko Ferraz, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Trilha Musical: André Paz, por "Memórias de um Esclerosado"
Júri Popular: "Infinimundo", de Bruno Martins e Diego Müller
CURTAS-METRAGENS GAÚCHOS - PRÊMIO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE CINEMA
Melhor filme; "Chibo", de Gabriela Poester e Henrique Lahude
Melhor direção: Rodrigo Herzog, por "Está Tudo Bem"
Melhor atriz: Jéssica Teixeira, por "Noz Pecã"
Melhor ator: Victor Di Marco, por "Zagêro"
Melhor roteiro: Victória Kaminski e Rubens Fabrício Anzolin, por "Posso Contar nos Dedos"
Melhor fotografia: Eloísa Soares, por "Cassino"
Melhor direção de arte: Denis Souza, Victoria Kaminski e Nadine Lannes Maciel, por "Posso Contar
nos Dedos"
Melhor trilha sonora: Edneia Brasão e Pedro Erler, por "Não Tem Mar Nessa Cidade"
Melhor montagem: Marcio Picoli e Victor Di Marco, por "Zagêro"
Melhor desenho de som: Fábio Baltar, por "Flor"
Melhor produção executiva: Graziella Ferst e Marlise Aúde, por "Pastrana"
FILMES UNIVERSITÁRIOS - PRÊMIO EDINA FUJII – CIA RIO
“A Falta que Me Traz”, de Laura Zimmer Helfer e Luís Alexandre, da
Universidade de Santa Cruz do Sul
texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues, Leocádia Costa e Edison Vara/Festival de Gramado
Como ocorre tradicionalmente, a Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs), da qual faço parte, elegeu os Melhores do Ano, destacados entre produções lançadas em mostras e festivais, no circuito comercial e também em plataformas de streaming. A votação é referente ao ano de 2023, quando a Associação atingiu um grande marco ao celebrar seu 15º aniversário consolidada como uma instituição cada vez mais atuante e importante no ambiente cinematográfico do Rio Grande do Sul e do país.
Dividida em dois turnos, a eleição traz os melhores longas-metragens estrangeiro, brasileiro e gaúcho, além do melhor curta gaúcho do ano. A maioria destes filmes, aliás, fomos reportando aqui no blog ao longo do ano na seção Claquete. Fora desta seleção, a premiação da Accirs entrega, desde sua primeira edição, o Prêmio Luís César Cozzatti, que reconhece filmes, projetos, instituições ou pessoas de destaque no cenário audiovisual gaúcho.
Confira os vencedores do Prêmio Accirs 2023:
Melhor curta-metragem gaúcho:
"Centenário de Minha Bisa", deCristyelen Ambrozio
Tocante documentário poético da realizadora indígena Cristyelen Ambrozio, confirmando a escolha da nossa associação que, em agosto, no Festival de Cinema de Gramado, concedemos-lhe o prêmio de Melhor Curta Gaúcho pelo Júri da Crítica. O filme tece diversas camadas simbólicas, desde a visão feminina, a dos povos originários, a necropolítica, a herança cultural. Uma joia de Cristyelen, de quem se espera que rendam novos frutos.
Melhor longa-metragem gaúcho:
"Casa Vazia", deGiovani Borba
O excelente filme de Giovani Borba, do qual tive a felicidade de participar de um debate em setembro, na Cinemateca Paulo Amorim, ao lado deste jovem realizador e da minha colega de Accirs e coordenadora da cinemateca Mônica Kanitz, era também meu preferido entre os longas gaúchos. Afinal, este thiller gaudério, misto de western e drama fantástico, pode ser visto com um marco do novo cinema no Rio Grande do Sul com obras como "Castanha" e "Mulher do Pai".
Melhor longa-metragem nacional:
"Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho
Outro documentário entre nossos premiados, e outro documentário de um olhar muito pessoal. Mas aqui, no caso, do grande nome do cinema nacional dos últimos anos, o pernambucano Kléber Mendonça Filho. Para quem acompanha sua obra tão marcante, ver o caminho afetivo percorrido por ele para a composição de seus curtas e, principalmente, os longas urbanos "O Som ao Redor" e "Aquarius", é emocionante e revelador. Foi o filme (mal) indicado a representar o Brasil no Oscar mas, mais uma vez, não ficou entre os selecionados. Não tem mesmo o perfil, pois trata-se de uma obra muito poética para o gosto da Academia.
Melhor longa-metragem estrangeiro:
"Assassinos da Lua das Flores", de Martin Scorsese
Ah, o velho Scorsese, hein? Já discorri mais amplamente sobre este novo filme do mestre do cinema norte-americano e mundial, mas não custa repetir, que "Assassinos..." é um dos grandes filmes de sua extensa filmografia. A visão revisionista da história "yankee" é não só mais um capítulo em seu importante papel para a reconfiguração dos mitos imperialistas como pertinente para o momento de valorização dos povos originários. Mestre.
Poster do curta "Glênio", de Luiz Alberto Cassol e exibido em Gramado
Prêmio Luís César Cozzatti (destaque gaúcho):
Glênio Póvoas
Glênio Nicola Póvoas é pesquisador, professor, diretor e roteirista, Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e Doutor em Comunicação Social pela PUC-RS. Com uma longeva carreira profissional dedicada ao cinema, em especial ao gaúcho, foi um dos principais responsáveis pelo lançamento do Portal do Cinema Gaúcho e assina a coordenação geral do projeto – um grandioso banco de dados sobre nosso cinema, apresentado em 2023. Tive o prazer de ser seu aluno na cadeira de Cinema na faculdade de Jornalismo.
A mostra de curtas-metragens gaúchos tem sido há um tempo uma atração à parte no badalado Festival de Cinema de Gramado. Vencida em sua maior parte a terrível fase da pandemia – prejudicial para produções com mais recursos, quanto mais foi para aquelas de baixo orçamento e menos experiência – os curtas produzidos no Rio Grande do Sul tornaram a tomar corpo e ganhar a devida estatura que merecem. Embora alguma desigualdade em termos de resultados finais, quando não aceitáveis deslizes técnicos, o nível dos 23 filmes concorrentes ao Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema – Mostra Gaúcha de Curtas 2023 foi bastante satisfatório e, mais que isso, promissor.
Como vêm se adensando a cada ano, as temáticas antes “marginais”, como LGBTQIAP+, povos originários, capacitismo, xenofobia, entre outros, manifestam-se com potência junto aos realizadores. Caso de “Rasgão”, de Victor Di Marco e Márcio Picoli, que levou Menção Honrosa, em sua narrativa que trata da acessibilidade; ou “O Tempo”, vencedor de Melhor Trilha Sonora (Gabriel Araújo, Nina Fola e Malyck Badu) e Roteiro (Ellen Correa, também diretora), expositor de forma sutil de questões raciais e existenciais. Porém, o que mais chama atenção é o apontamento das lentes para uma visão poética do cinema, o que se observa tanto no rigor formal quanto na liberdade estética.
A intencionalidade de um cinema de poesia, dentro daquilo que Pasolini e Bressane servem de base, sustenta os curtas mais cativantes da mostra. Um deles é “Messi”, um pequeno documentário dirigido por Henrique Lahude e Camila Acosta, que traz o jovem Edu, menino pertencente a uma família moradora da cidade fronteiriça de El Soberbio, limite entre Brasil e Argentina, assistindo a um jogo das Quartas de final da Copa do Mundo 2022 em que o time do craque portenho jogava. A forma como esta tarde é contada, com suas sutilezas e percepções sensíveis, quase anulando a presença da câmera, fazem de “Messi” daqueles filmes aparentemente simples em realização, mas profundos em significados. Não à toa, recebeu o prêmio de Montagem, a cargo de André Berzagui.
"Sabão Líquido" toca em questões atuais da sociedade gaúcha e brasileira
Outro bom exemplo de poesia cinematográfica é o conciso e forte “Sabão Líquido”, merecedor de uma das principais premiações, a de Melhor Direção para a dupla Fernanda Reis e Gabriel Faccini. Na história, um rapaz imigrante é transportado ilegalmente para o interior do Rio Grande do Sul para trabalhar na falsificação de sabão líquido. Incisivo, o filme toca em questões sociais e políticas muito presentes no Brasil (e no Rio Grande, por supuesto), como o trabalho escravo, a informalidade, a xenofobia e, principalmente, o sentimento de impunidade que o pensamento fascista concede aos exploradores. Tudo numa construção narrativa sabiamente pontual e uma rica fotografia.
Ainda, impossível não citar nesta linha de entendimento poético o belo “Fiar o Vento”, Melhor Fotografia para a também diretora Mari Moraga com suas expressivas imagens e enquadramentos da Lagoa dos Patos e da ancestral arte de fiação com lã de ovelha; e o impactante “Centenário da Minha Bisa”, de Cristyelen Ambrozio. Feminino, profundo, reflexivo. Cinema de arte. O filme trata do caminho ficcional trilhado pela própria Cristyelen – mulher indígena e egressa da primeira turma do curso superior em Tecnologia em Produção Multimídia de uma instituição pública, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) –, que redescobre sua bisavó a partir de álbuns de família. Memória e realidade se entrelaçam e se tensionam, num jogo intenso entre os elementos textuais, vídeo-artísticos e sensoriais. Com muita assertividade, a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) concedeu-lhe o prêmio de Melhor Curta Gaúcho pelo Júri da Crítica.
trailer do impactante“Centenário da Minha Bisa”, de Cristyelen Ambrozio
De todos, no entanto, aquele que arrebatou público e crítica foi, de fato, o principal vencedor da mostra competitiva: “Concha de Água Doce”, de Lau Azevedo e João Pires. Certa unanimidade se deve, antes de mais nada, à qualidade do curta, seja em narrativa, seja na excelente montagem ou mesmo nas interpretações dos poucos personagens, uma delas o do ator Aren Gallo, que lhe rendeu o troféu de Melhor Ator. Sensível à questão da transsexualidade, o filme traz este tema como ponto central para desencadear uma travessia sem escalas no tempo físico ou emocional, o tempo que está dentro ou fora, o que se guarda no olhar ou na profundeza do mar.
O grande vencedor "“Concha de Água Doce": poesia para tratar de questões de gênero
A se ver pelo apuro técnico, criatividade e, principalmente, pela assertiva escolha por abordagens que aproveitem as possibilidades estéticas que o cinema suscita, há de se ficar bastante satisfeito com o que o audiovisual gaúcho seguirá promovendo depois de passar por provas de fogo nos últimos anos. Como outro concorrente da mostra de curtas traz, “As Ondas”, e tal como se bradou pelos corredores do Palácio dos Festivais durante os dias de evento, é de se comemorar os novos ventos da cultura brasileira com a entrada do atual governo. A atmosfera já se mostra muito mais respirável e alentadora depois de tanto enxofre empestando o ar. Viva o cinema – e viva a poesia – para promover essa necessária higienização.
Desde a primeira reunião, numa final de tarde outonal de 2008, estava lá eu, juntamente com um punhado de outros amantes de cinema num apartamento à Av. Cristóvão Colombo, em Porto Alegre, residência de uma das fundadoras. Eu, que havia recém iniciado um projeto de um blog de cinema, O Estado das Coisas (hoje desativado), ainda nem havia me tornado colaborador do Clyblog, onde de fato expandi meu exercício de crítica, e já me fazia presente ali, meio assustado ao lado de gente que admirava e admiro. Jornalistas a quem eu lia, assistia, ouvia. Profissionais da Academia já referenciais para a cinefilia gaúcha. Críticos de cinema com experiência em veículos, festivais, júris, curadorias. Mesmo intimidado com o desafio, fui dos que deram o aval para o começo de uma entidade congregadora de críticos de cinema em nossos pagos que promovesse este fazer crítico por meio de diversas vias: a realização de seminários sobre crítica, a formação de grupos de estudo sobre a linguagem audiovisual, a programação de sessões de cinema com debates, a geração de conteúdos em diversas plataformas, a composição de júris da crítica, entre outros. Estava criada, a 29 daquele mês, a Associação de Críticos do Cinema do Rio Grande do Sul, aAccirs.
Relembrar os movimentos primordiais da associação teve um gosto ainda mais agradável no encontro que promovemos no último dia 5, marcado exatamente para celebrar o aniversário da Accirs. Com a presença de convidados, familiares e amigos, nós nos reencontramos para a ocasião festiva orgulhosos da bagagem pessoal e coletiva que agregamos nestes 15 anos, mas também contentes pela novidade, seja pelos membros não tão antigos como eu (ou Ivonete Pinto, Fatimarlei Lunardelli, Marcos Santuário, Roger Lerina, Adriana Androvandi, minha “madrinha” na Accirs, e outros), seja pela recepção aos novos integrantes, os sete entrantes. A mim, enxergar ao longe aquele Daniel bem mais inseguro mas já capaz de unir-se àqueles pares, é bastante gratificante. Além do crescimento que os anos naturalmente trazem, é-me fácil perceber o quanto a Accirs, na qual hoje sou Secretário, me proporcionou (proporciona) em termos de desenvolvimento enquanto crítico e ente social pensante para tudo aquilo que o cinema propicia.
Os 15 anos de atividades da Accirs contaram também com uma exibição especial: a pré-estreia do longa-metragem brasileiro “O pastor e o guerrilheiro”, novo filme do diretor José Eduardo Belmonte, exibido no 50º Festival de Cinema de Gramado. Na mesma ocasião, foram entregues por nosso presidente, Danilo Fantinel, e nossa vice-presidente, Mônica Kanitz, os certificados para os vencedores do Prêmio Accirs para os Melhores do Ano em 2022. Por “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto, foi entregue ao roteirista do filme, o cineasta e professor Vicente Moreno. Já por “Sinal de Alerta: Lory F.”, o diretor Fredericco Restori, juntamente com a irmã da biografada, a atriz Débora Finochiaro, recebeu o certificado de melhor curta gaúcho. Outro curta, “Madrugada”, dividiu o prêmio de com “Sinal...”, alcançando-se a seus realizadores Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza a homenagem. Ainda, Ivonete e Marcus Mello receberam o Prêmio Luiz César Cozzatti, concedido a destaques da cena audiovisual do RS, pela revista Teorema, publicação impressa dedicada à crítica cinematográfica que completou 20 anos de existência.
Foi, por todos estes dois motivos, mas principalmente, pelo encontro de uma história já percorrida com o sopro da renovação, que o brinde pela Accirs foi especialmente bonito. Sorrisos, papos, reencontros, carinho, apresentações, abraços. Uma noite de sair com o peito preenchido – de afeto e de cinema.
Confira algumas fotos tiradas por diversos de nós membros.
*********
Coquetel rolando, papos sobre cinema e tudo mais
Momento de entregar os certificados aos melhores de 2022
Danilo e Mônica falando para a plateia na Sala Paulo Amorim
Ivonete e Marcos, agraciados com o destaque do ano pela Teorema
Os jovens diretores do curta "Madrugada"
Restori falando por seu "Sinal de Alerta Lory F."
A galera toda para a foto oficial: membros e convidados numa noite especial para o cinema gaúcho
Foi uma tarde cheia de encontros – e autógrafos, claro – pro lançamento
do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”. Agora, na Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 68ª edição, onde não poderíamos deixar de estar. Cerca de 20 de nós
membros da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), e foi possível conversar entre nós e os amigos, parentes e
convidados que nos prestigiaram. Editado pela ACCIRS, a coletânea traz 50 artigos sobre filmes gaúchos
lançados entre as décadas de 1950 e 2020 no Rio Grande do Sul. Mas com um diferencial
editorial-conceitual interessante: não se trata de um apanhado dos “melhores
filmes’, mas, sim, aqueles títulos que fazem sentido para cada autor dentro do
universo do cinema gaúcho. Ou seja, propõe uma abordagem muito pessoal sobre
cada obra, o que, indiretamente, cria ligações diferentes e próprias entre um
artigo e outro.
Caso, por exemplo, dos textos de Alice Dubina Trusz e
Jaqueline Chala – com quem pude trocar algumas proveitosas ideias durante a
sessão – os quais, juntamente com o de Ivonete Pinto, formam uma trinca complementar que
avaliou os três principais títulos do novo cinema gaúcho: “Deu pra ti, Anos 70”
(Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, 1981), “Inverno” (Carlos Gerbase e Giba,
1983) e “Verdes Anos” (Gerbase e Giba, 1984), respectivamente.
Enfim, uma tarde linda em Porto Alegre, de temperatura
agradável, final de semana e começo de mês (ou seja, pessoal com mais grana no bolso) motivou a
que a feira estivesse lotada, inclusive com algumas sessões de autógrafos com filmas bem extensas. Muito legal ver a Feira do Livro, mesmo com todas suas
ressalvas (preços não tão mais atrativos, ausência de uma praça de alimentação
e de área internacional, entre outras coisas), mobilizando a população a circular na praça aberta em
razão das letras. Depois do pesadelo do pior da pandemia, que reclusou a Feira
ao universo online, poder voltar a circular e ver pessoas, cores, cheiros,
artes, sons e tudo que os sentimentos possam captar é muito bom.
Confira aí, então, alguns cliques da sessão de autógrafos e
do clima da feira em si conosco aproveitando esse dia encantado em nossa
cidade:
*************
Fileira para os autógrafos coletivos da ACCIRS
Autografando o exemplar do amigo Rodrigo, que foi com sua querida mãe prestigiar a gente
Aqui com o colega de ACCIRS e trabalho Conrado Oliveira, também autor do livro
Depois de passar a fila, chegou minha vez de autografar!
Com a querida colega e coautora Jaque Chala, voz do cinema da minha adolescência da rádio FM Cultura
Deu também pra adquirir o "Cruber", livro de contos das andanças de Uber do querido colega de ACCIRS Cristiano "Criba" Mentz
Nós em plena praça, onde tudo começou há 11 anos...
Clima da praça com pessoal circulando sob a bênção dos jacarandás
Os corredores cheios da área infantil
Palhaço fazendo bolhas de sabão gigantes no meio da praça
E deu tempo de encontrar a hermana Carol, que foi ao nosso encontro
Céu azulzinho na linda tarde de sábado na Feira do Livro
E lá vamos nós para mais uma etapa do lançamento do “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”! E desta vez onde não poderíamos deixar de estar: na estimada Feira do Livro de Porto Alegre! Depois do lançamento oficial, lá em março, no Araújo Vianna, em Porto Alegre, e do Festival de Cinema de Gramado, em agosto, agora é a vez de celebrarmos este projeto naquele que é o evento cultural-literário mais antigo (e provavelmente, o mais querido) da cidade.
O livro, editado pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), da qual orgulhosamente faço parte como membro fundador e, hoje, secretário, traz uma coletânea de 50 brilhantes artigos sobre 50 filmes gaúchos lançados entre as décadas de 1950 e 2020 no Rio Grande do Sul. Olha: é só texto bom!
Estaremos lá nós membros da ACCIRS em mais de 20, e a previsão do tempo, tão instável nesta época do ano, promete ser boazinha conosco.
Então, quem tiver por POA, aparece lá, que a pena e a tinta já estão aguardando os autógrafos. Depois a gente volta aqui com registros desta tarde, que promete ser ensolarada de sol e de gente bonita.
**********
lançamento do livro “50 Olhares da Crítica sobre o Cinema Gaúcho”
daAssociação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS)
onde:68ª Feira do Livro de Porto Alegre (Praça da Alfândega, s/ nº, Centro Histórico - Porto Alegre).
quando: dia 05/11 (sábado) - 15h
organizadores:Daniel Feix, Fatimarlei Lunardelli, Ivonete Pinto, Mônica Kanitz e Rafael Valles
Valor do livro:R$ 50,00*
*Os exemplares poderão ser adquiridos na Feira do Livro ou pelo site da ACCIRS e locais parceiros: accirs.com.br