sábado, 20 de setembro de 2025
Dia do Baterista: os melhores na opinião dos bateristas (e não-bateristas também)
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Os 100 Melhores Filmes de Terror da IndieWiere (e aquelas 12 títulos que faltaram)
Cada vez mais fica claro que listas são feitas para serem complementadas. As famosas (e polêmicas) seleções de melhores do cinema não desmentem: por mais criteriosas que sejam em suas elaborações, sempre deixam aquela sensação de que algo faltou. Ainda mais quando o tema envolve os melhores “de todos os tempos ", que, por motivos óbvios - o de abarcar tudo que o universo daquela temática ou recorte deve oferecer -, corre muito mais risco de erro.
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| "O Iluminado", um clássico do terror incontestável. Mas há outros |
Porém, a IndieWire encarou a empreitada. E o fez muito bem, por sinal. Tem de tudo: zumbi, monstro, slasher, vampiro, espírito, lobisomem. Sangue, morte e medo para todos os gostos. Podem se achar listados os principais filmes de terror que se conhece. Clássicos incontestes como "O Iluminado", "O Bebê de Rosemary", "Tubarão" e "O Massacre da Serra Elétrica" estão lá. Igualmente, a consideração a obras nem tão badaladas, mas inegavelmente merecedoras, tal "A Beira da Loucura", de John Carpenter (69°), "Irmãs Diabólicas", de Brian De Palma (87°) e "Violência Gratuita", de Michael Haneke (15°). Até mesmo a primeira colocação a "Possessão" (de Andrezej Żulawski) surpreende, mas é bem interessante em se tratando de uma lista claramente revisionista. Também é apreciável o prestígio aos orientais com várias produções do Japão e Coreia do Sul da década de 50 até a de 2000. Como diz a própria publicação, “prestamos atenção às seleções que abriram caminho em inovações para o gênero e para o cinema como um todo”.
No entanto, há controvérsias, claro. A começar pela má colocação de alguns títulos que fazem jus a uma melhor pontuação, seja por sua importância para o gênero ou para a própria história do cinema, como "A Hora do Pesadelo", pondo o icônico Freddie Krugger apenas no 98° lugar; o referencial "Psicose", obra-prima de Alfred Hitchcock e possivelmente top of the tops numa relação mais tradicional, aqui contentando-se somente com o 39° posto; ou o já citado "O Bebê...", 42°, recorrentemente tido como um dos principais filmes da história do cinema em todos os gêneros. E "Nosferatu" de Murnau, na 40ª? Ou "O Exorcista" só 51ª? Sinistro...
Mas são as ausências que mais gritam tal qual a mocinha clichê fugindo do serial killer no meio da noite. Ver uma seleção de 10 dezenas de obras de terror e enxergar algumas sendo esquecidas (ou preteridas) motiva àquilo que referimos no início do texto: o ímpeto de querer complementá-la. Por isso, trazemos aqui 12 títulos não listados pela IndieWire, mas que consideramos essenciais de constarem. Tirar alguns? Ampliar? Adicionar aquele "plus"? Tanto faz. Importante é contribuir com mais filmes certamente cabíveis numa lista como esta: legal, mas incompleta. Os amantes do terror hão de concordar.
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"O MAL QUE NOS HABITA", de Damián Rugna - ARG (2023) - Um desses recentes, mas que já mexeu com as estruturas do universo do horror é o aterrorizante argentino "O Mal Que nos Habita". Tem possessão, tem gore, tem violência extrema, tem canibalismo, tem sobrenatural, tem perseguição e, de quebra, ainda, na entrelinha, crítica social. A gente fica apavorado com o que vê, cenas gráficas e sangrentas daquelas de fechar os olhos, como a famosa sequência do cachorro matando a menininha; espantado com o que aconteceu mas não viu, como o garoto que comeu a avó; e amedrontado pelo que não vê, a maldição que persegue os moradores de uma cidadezinha interiorana na argentina e que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Um dos grandes filmes do gênero nos último anos.
"TERRIFIER", de Damien Leone - USA (2016) - "Terrifier" surgiu meio que como um cult. Era uma espécie de clássico do underground daqueles que só tinha visto quem conseguia por algum meio menos convencional. Mas o fato é que, mesmo difícil, restrito a alguns fanáticos sanguinários e incansáveis ratos de internet, o filme era muito comentado pelas barbaridades, atrocidades e brutalidades de um palhaço mímico que comete uma verdadeira carnificina numa noite de Halloween. E de fato, a fama não era a toa. "Terrifier" é dos filmes mais brutais que já assisti. As coisas que faz o palhaço Art são duvidáveis até para o mais acostumado fã de slashers. Tipo, "Ele não vai fazer isso... não vai fazer... Fez!!!". O visual da fantasia preto e branco com uma mini-cartola, aquele sorriso sujo assustadoramente amplo, a determinação em seus objetivos assassinos, o sadismo doentio, e o talento para as execuções de suas vítimas fazem de Art um dos novos grandes matadores do cinema e mais um personagem clássico do horror.
"INVASÃO ZUMBI", de Yeon Sang-ho - KOR (2016) - Os zumbis foram mudando ao longo da história do cinema desde que George Romero os 'inventou". Já foram apalermados, organizados, individualistas, inconscientes, cruéis, devoradores, possuídos, experimentais... Em "Invasão Zumbi" um dos grandes baratos é que ao invés de zumbis lentos, descoordenados, capengando com os braço estendidos para a frente e babando, temos zumbis rápidos. Velozes, determinados, imparáveis e vorazes! A partir do momento que o primeiro infectado entra no trem de Seul para Busan o frenesi não tem mais fim. Aí ele morde um que morde outro que morde outro, e os corredores apertados do trem são o cenário perfeito para um dos filmes de zumbi mais alucinantes que já se viu.
"ATIVIDADE PARANORMAL", de Oren Peli - USA (2007) - Sei que o found-footage já tá enchendo no saco de tanta coisa que se fez no formato desde o sucesso do fenômeno "A Bruxa de Blair", mas não dá pra ignorar e deixar de fora o igualmente criativo "Atividade Paranormal". Basicamente uma câmera num tripé posicionada no quarto de um jovem casal que suspeita sua casa, suas vidas, estejam sendo atormentadas por alguma força sobrenatural, um espírito, um demônio ou algo assim. Para tentar tranquilizar a esposa Katie e esclarecer as dúvidas, o marido, Micah, aficionado por eletrônicos, vídeos, filmagens, coloca câmeras gravando o tempo inteiro em vários pontos da casa, inclusive no dormitório do casal. É, e para desespero dos dois, as imagens revisadas nos dias seguintes às gravações, depois de suas noites de sono, confirmam seus piores temores: tem alguma coisa lá. Simples? Sim, mas eficiente. O passar dos dias, o aumento gradual da atividade, dos fenômenos mantém o interesse do espectador. Sem graça? Uma câmera fixa na mesma posição... Que nada! Aquele silêncio, aquela imagem parada na amplitude do quarto faz a gente ficar com o olho atento a cada detalhe, a cada cantinho. Será que a porta vai mexer? Será que sai alguma coisa debaixo da cama? E o lençol? E o chinelo? E o pé dela? E o pé dele?... Pior é, depois de ver o filme, ir dormir e ter que apagar a luz do quarto.
"CREEPSHOW", de George A. Romero - USA (1982) - Se um filme dirigido por George A. Romero com argumento e roteiro de Stephen King, inspirado nos clássicos quadrinhos de terror dos anos 50 não é uma das melhores coisas do mundo do terror, eu não sei mais o que é bom ou não. Com todo aquele colorido e visual de HQ na tela, com arte desenhada, fontes Comic Sans, layout de tela como uma página de papel, os mestres do terror nos apresentam cinco contos recheados de medo, morte, sangue e humor, com mortos-vivos, criaturas assassinas, coisas de outros planetas, infestações incontroláveis, em tramas envolventes que desfilam ódio, traição, vingança, ambição e repugnância. King, Romero, quadrinhos, sangue, decapitações, zumbis, insetos nojentos, monstros... O que pode ser melhor que isso?
"POLTERGEIST, O FENÔMENO", de Tobe Hooper – USA (1982) - Assim como "O Exorcista", "Tubarão" e "Pânico", o filme de Tobe Hooper - àquela altura, início dos anos 80, bem melhor aparado pela indústria do cinema do que quando realizou na raça o independente "O Massacre da Serra Elétrica" em 1974 - é daqueles que títulos que, independentemente da colocação conforme o critério adotado para a seleção, não pode faltar a uma lista de 100 best horror of all times de jeito nenhum. Produzido por Steven Spielberg e com trilha do craque Jerry Goldsmith, além do enorme sucesso que fez à época de lançamento, tornando-se um marco dos filmes de terror assim como os citados acima, "Poltergeist" "cumpre" algo que nem sempre filmes do gênero, por mais bem feitos que sejam, conseguem alcançar: ele assusta. Depois de assisti-lo, nunca mais se olha para uma árvore ao lado da janela da mesma maneira.
“O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO”, de José Mojica Marins - BRA (1968) - O máximo que a lista da IndieWire vai fora da América do Norte, da Ásia ou da Europa é um filme do Oriente Médio (“Garota Sombria Caminha pela Noite”, do Irã) e outro da América do Sul, o chileno “Santa Sangre”. Talvez por essa pouca atenção além do circuito tradicional tenham deixado de voltar seu olhar para o Brasil e o seu grande ícone do cinema de horror: José Mojica Marins, o homem por trás do personagem cujo mundo é tão estranho quanto magnífico. Os gringos que não se façam de loucos, pois o conhecem muito bem como Coffin Joe, quando o brasileiro foi descoberto nos festivais internacionais de cinema como Avoriaz, nos anos 90, e passou a ser cultuado. Poderia ser o seminal “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” ou o lisérgico “O Despertar da Besta”, mas “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” é sua obra mais bem acabada e sintética do estilo híbrido de seu cinema, que vai do trash e o vampirismo ao gótico e o body horror.
“O MENSAGEIRO DO DIABO”, de Charles Laughton – USA (1955) - Se tem um filme absolutamente injustiçado nessa listagem publicada esse filme é "O Mensageiro do Diabo". Clássico da segunda fase do cinema noir, o único longa dirigido pelo experiente ator inglês Charles Laughton impressiona pela perfeição em todos os aspectos fílmicos: fotografia, roteiro, edição, trilha, atuações. E que atuações! Robert Mitchum, que encarnaria o perigoso Max Cady na primeira versão de "Cape Fear" 12 anos depois, leva muito para aquele papel o clima do personagem deste filme, o assassino de viúvas ricas Harry Powell. Mas não só Mitchum: a perseguida Willa, vivida por Shelley Winters e, principalmente, as crianças (Lilian Gish e Billy Chapin) dão um show de interpretação, lembrando o desempenho acima da média de outra dupla de pequenos atores noutro título clássico do terror: "Os Inocentes" (41° da lista).
“AS DIABÓLICAS”, de Henri-Georges Clouzot – FRA (1955) - Um dos critérios adotados pela IndieWire para compor a lista é de que os filmes não fossem somente fantásticos, mas também dessem medo. Seguindo esta lógica, "As Diabólicas" não estar presente é definitivamente um equívoco. Uma das mais marcantes obras da cinematografia francesa dos anos 50 pré-Nouvelle Vague, "As Diabólicas" assusta pra caramba! Michel Delassalle dirige com mão de ferro um pensionato para meninos, assistida por sua doce esposa Christina. Ele tem por amante Nicole Horner, professora da instituição. Cansadas do despotismo de Michel, as duas mulheres unem para assassiná-lo. Alguns dias depois do crime, no entanto, o cadáver desaparece e situações estranhas começam a se suceder. Esteticamente impressionante, algo expressionista, é contado de forma magistral pelo diretor Henri-Georges Clouzot, mestre de narrativas tensas a se ver pelo sufocante Palma de Ouro "O Salário do Medo", de 1953. O ambiente sombrio do pensionato, a figura arrepiante de Simone Signoret como a fria Nicole e, principalmente, as reviravoltas do roteiro, fazem deste filme uma obra-prima do gênero do terror. Ah: e é uma das inspirações de Hitchcock para produzir "Psicose". Não precisa dizer mais nada, né?
"A CASA QUE PINGAVA SANGUE", de Peter Duffell - ING/IRL (1971) - Típico filme de terror inglês "das antigas": histórias criativas, instigantes e bem contadas. Reunião de quatro histórias que são contadas ao Inspetor Holloway, que investiga o misterioso desaparecimento do ator de filmes de terror Paul Henderson após mudar-se para uma antiga casa. Assassinos que saem dos livros para a realidade, um museu de cera que desperta desejos proibidos, uma menina alijada de uma boneca e uma capa capaz de dar poderes a um homem fazem dessa reunião de pequenos filmes - mas interligados entre si - daqueles clássicos que dava gosto de assistir na tevê com a dublagem da TKS. E ainda conta no elenco com o veterano Peter Cushing, que viveria Sherlock Holmes no cinema em 1984, e ele: Christopher Lee, lenda do terror.
“HALLOWEEN III – A NOITE DAS BRXAS”, de Tommy Lee Wallace – USA (1982) - Tá ok: já tem o clássico “Halloween” do Carpenter, o filme que melhor captou o lado sombrio dessa comemoração muito peculiar da cultura norte-americana, abrindo a porta para uma interminável sequência que perdura até hoje, mais de 40 anos após seu lançamento. Mas é impossível não referir nessa relação de melhores de terror uma dessas sequências, a de nº 3. Curiosamente (e isso é uma das qualidades do filme de Tommy Lee Wallace), não tem nada a ver com a história do assassino Michael Myers entabulada nos até então outros dois anteriores. Mas a principal qualidade de “Halloween III” é o de ser absolutamente arrepiante como poucos filmes o são. Antecipando a viagem paranoico-televisiva de “Videodrome” de Cronenberg e resgatando ideias de obras como “Invasores de Corpos”, dos filmes de zumbis, inova a abordagem dos filmes de bruxa ao adicionar, inclusive, a crítica ao sistema capitalista, capaz de penetrar no cérebro dos consumidores e lobotomizá-los para vender seus produtos. Isso tudo sem deixar de ser sanguinolento. Em uma época em que se começava a discutir os efeitos nefastos da propaganda subliminar, é de arrepiar só de ouvir aquele jingle maldito mas aparentemente inocente.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
Samuel Rosa & Simjazz Orquestra - Vivo Música - Parque Harmonia - Porto Alegre/RS (03/12/2023)
Há 30 anos, a revista Bizz, a mais importante publicação sobre música no Brasil dos anos 80 e 90, “lacrava” sobre os quatro principais nomes daquilo que chamavam de “a nova cara da música pop brasileira”. Dois eram equívoco evidentes: Cherry, a vocalista da inexpressiva e rapidamente esquecida banda Okotô, e Edu K, que, erroneamente, já era influência para a música pop há mais tempo de que todos ali por meio de sua referencial De Falla. Quanto aos outros dois “novatos”, pode-se dizer que foram mais assertivos, embora com algum porém. Um deles era Carlinhos Brown, que, assim como Edu K, não se tratava de nenhum iniciante, visto que àquela altura já gravara nos Estados Unidos com Sérgio Mendes, liderava trio elétrico na Bahia e influía diretamente na música de Caetano Veloso. Mas como o Tribalista não havia ainda se lançado em carreira solo (seu debut, “Alfagamabetizado”, sairia apenas três anos depois), até passava a classificação como “promessa” devido a isso.
O único acerto efetivo dos editores da Bizz da naquela reportagem foi, de fato, Samuel Rosa. O líder da Skank, então em seu primeiro disco dos 15 que lançou em 30 anos de estrada, não apenas atingiria o estrelato, como se consolidaria como um dos mais importantes autores da música brasileira.
A prova daquela profecia pode ser conferida no saboroso show gratuito que o artista mineiro fez em Porto Alegre para o Vivo Música. Acompanhado de sua ótima banda e em alguns números da competente Simjazz Orquestra, Samuel, em começo de vida solo com o consensual fim da Skank, desfilou um cancioneiro tomado de hits, como “Garota Nacional”, “Jackie Tequila”, “Ainda Gosto Dela” e “Sutilmente”. Mas não só isso. Afinal, “chicletes de ouvido” são relativamente fáceis de se fazer a um músico com mínimas habilidades, visto que obedecem a uma construção melódica padrão, que formata um produto musical eficiente, mas nem sempre dotado de emoção. Samuel Rosa, desde aqueles idos de 1993, quando destacado pela Bizz, soube evoluir em sua musicalidade para unir estes dos espectros: o gosto popular e a sofisticação, o pop e o melodioso. De reggaes relativamente pobres, Samuel, principal compositor, evoluiu a olhos vistos para referências a Beatles, à turma de Minas Gerais e sons mais modernos, que o transformara num dos cinco principais compositores da música brasileira destas últimas três décadas.
Com uma sinergia incrível com o público, ao qual agradeceu pela fidelidade de não arredar pé mesmo com a chuva, foram só sucessos do início ao final do show. Algumas, que levantaram a galera, que cantou e dançou junto sem dar bola para a chuva que ia a voltava. A embalada versão da Skank para “Vamos Fugir”, de Gilberto Gil, foi uma delas, assim como “Acima do Sol”, “Vou Deixar” e “Saideira”. Só alegria. São músicas tão embrenhadas no emocional do público, que as pessoas cantam a letra completa mesmo sem saber que as sabiam de cor. Que brasileiro, afinal, não sabe cantarolar “Amores Imperfeitos”, “Tão Seu” ou “Te Ver”, por exemplo? Além destas, tiveram surpresas. Com um Samuel menos atido só ao repertório da Skank, teve cover da beatle “Lady Madonna” com “I Can See Clearly Now”, de Jimmy Cliff, uma homenagem à gaúcha Cachorro Grande, banda coirmã da Skank, com a balada “Sinceramente”, e uma esfuziante “Lourinha Bombril”, da Paralamas do Sucesso, coautoria dele com Herbert Vianna.
Por falar em chuva, que ameaçava desabar a qualquer momento, Samuel, um doce de educação e simpatia, confessou que haviam reduzido um pouco o set-list no meio da apresentação com medo de que isso ocorresse. Mas como durante o show foram, por sorte, apenas algumas pancadas leves, ele mesmo fez questão de alterar a ordem dos números e tocou todas as que haviam se programado. Isso fez com que os principais clássicos estivessem lá. O que dizer de “Resposta”, dele e de Nando Reis, uma das mais belas baladas do cancioneiro brasileiro? E “Dois Rios”, também com Nando e contando com o toque “Clube da Esquina” do conterrâneo Lô Borges? Para fechar, no bis, não uma escolha garantida de algum outro sucesso da Skank, mas, sim, uma versão de “Wonderwall”, da Oasis, pois, como Samuel justificou, o Rio Grande do Sul é terra de roqueiro, então todos ali entenderiam o porquê.
Passados todos estes anos desde que aquela revista previa que Samuel Rosa se tornaria um pilar da música pop brasileira, fica muito claro que isso realmente aconteceu. Parceiro de alguns dos mais importantes nomes da música nacional, como Nando Reis, Erasmo Carlos, Lô Borges, Chico Amaral e Fernanda Takai, pode-se dizer que, por alto, Samuel é responsável por cerca de 20% dos grandes sucessos da música no Brasil dos anos 90 para cá. Curiosamente, a adoção definitiva do nome próprio e a dissociação direta da Skank fazem com que, de certa forma, Samuel Rosa se reinvente e renasça, como se, novamente, estivesse começando. Então: vida longa a este “velho novato”. Que venham mais 30 anos de maravilhas pop e canções que tocam o coração do Brasil.
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Confira alguns momentos:
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| Samuel e a Simjazz começando o show |
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| Detalhe do telão |
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| Público atento e interagindo |
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| Samuel em sintonia com a galera |
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| Os dois de rosa pra ver Samuel Rosa: coincidência |
segunda-feira, 2 de outubro de 2023
Marcelo Gross - Oktoberfest Praia de Belas Shopping - Praça Itália - Porto Alegre/RS (1º/10/2023)
Depois de dias intensos de chuva, temporais, ciclones, enchentes, alagamentos, enfim, o sol raiou em Porto Alegre. E um clima solar como este é, claro, um pedido parasse aproveitar o domingo. Após algumas voltas, fomos parar no agradável Esquenta da Oktoberfest, que o Praia de Belas Shopping, empreendimento vizinho nosso, promoveu durante a tarde. O mais legal foi que, diferentemente de outros anos, quando o shopping montava estruturas assim com food trucks, atrações e tudo mais, na área interna, desta vez o evento foi levado para a Praça Itália, ao lado do shopping, e a céu aberto e em espaço público. E que céu!
A Praça Itália, que passou por uma revitalização no início deste ano sob a gestão do Praia de Belas Shopping, sediar este preparativo para a famosa Oktoberfest, tradicional evento germânico que a cidade de Santa Cruz do Sul sedia durante o mês de outubro. Com uma programação diversificada, que reuniu jogos germânicos, personagens típicos e as soberanas do Oktoberfest, o principal, entretanto, foram as atrações musicais.
Não ficamos a tarde inteira, em que estiveram artistas como Fabrício Beck e Bando Alabama, a OktoberBand by Boris Cunha e o DJ Fábio Lopez, mas tivemos a felicidade de assistir boa parte do show do “Cachorro Grande” Marcelo Gross. Com uma formação clássica de rock, baixo, guitarra e bateria, Gross, muito à vontade e simpático, trouxe um punhado de canções que unia o seu repertório solo (“Que loucura!”, “Carnaval”), clássicos da Cachorro (“Bom Brasileiro”, “Dia Perfeito”) e outras agradáveis surpresas, como “O Novo Namorado”, do ex-parceiro Júpiter Maçã, e uma versão de “Taxman”, dos Beatles.
Aliás, Gross e sua banda fizeram jus às próprias referências no rock e na psicodelia dos anos 60, juntando The Who, Rolling Stones e Beatles e colocando todo mundo no palco. É ou não é briga de cachorro grande? Embora não seja um fã da banda, tenho o maior respeito pela honestidade de Gross e seus companheiros de estrada, bem como pela relevância deles para a cena rock gaúcha. A Cachorro abriu pros Stones em Porto Alegre em 2016, ora essa! No show, embora intimista, era visível o som profissional dos caras, e o quanto este universo do rock faz sentido para eles.
Confiram, então, algumas imagens do belo dia de sol e que a Praça Itália foi agradavelmente aquecida pelo Esquenta da Oktober.
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| Show rolando no palco montado na Praça Itália |
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| Marcelo Gross mandando ver no bom e velho rock 'n roll |
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| Beatles, Sontes, Who: briga de cachorro grande, literalmente |
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| Leocádia e eu curtindo a tarde de sol na praça |
terça-feira, 5 de setembro de 2023
"Quadrilha de Sádicos", de Wes Craven (1977) vs. "Viagem Maldita", de Alexandre Aja (2006)
A história é basicamente a mesma nos dois filmes: uma família em férias, passando pelo deserto do Novo México, resolve pegar um atalho e passar por uma área que dizem abrigar uma antiga mina de prata, numa região que também fora uma área de testes militares do exército dos Estados Unidos. Nessa rota alternativa, o grupo formado pelo patriarca, um ex-policial aposentado, sua esposa, seus dois filhos adolescentes, sua filha casada, o sogro, o bebê do casal, além de seus dois cães, têm problemas com o carro no meio do nada, ficando à mercê de um grupo de canibais que habitam as colinas daquela região. Obrigados a se separarem por diversas circunstâncias (procura de ajuda, a fuga de um dos cães...), o grupo fica ainda mais fragilizado e vulnerável diante de seus caçadores que, depois de inúmeras perversidades, sequestram o bebê do casal e o levam para as montanhas. Aí o jogo meio que se inverte e os caçadores passam a serem caçados. A família resolve reagir e, especialmente o pai da criança, Doug, que já tivera sua esposa assassinada pelos selvagens, decide ir atrás da criança e recuperá-la custe o que custar. É o momento em que o "cidadão comum", uma pessoa que, talvez, não fosse propensa à violência, formado por todos os valores morais da sociedade, pode vir a tornar-se tão animalesco e brutal quanto seus algozes, criaturas sem nada, nem ninguém, forjados na violência desde sempre em suas vidas. Aqui, o verdadeiro enfrentamento é CIVILIZAÇÃO X BARBÁRIE.
"Quadrilha de Sádicos" (1977) - trailer
"Viagem Maldita" (2006) - trailer
As produções apresentam pequenas diferenças: enquanto, no filme de 1977, o acidente com o trailer é causado pela autossuficiência e irresponsabilidade do paizão Big Bob, no de 2006 é consequência de uma armadilha dos maníacos; se no original a parte do resgate do bebê se dá em meio à bela e labiríntica topografia rochosa do deserto, no segundo, grande parte dela se passa numa espécie de cidade cenográfica, uma "cidade fantasma" repleta de manequins sorridentes, na qual o governo simulava as situações de impacto nuclear em áreas habitadas.
Ambos são muito violentos, à sua maneira. O filme de Wes Craven é quase um precursor no que diz respeito à violência extrema, com cenas extremamente chocantes para a época, como o cachorro estripado ou o ataque no trailer; mas o remake mantém o impacto e, em alguns momentos, é ainda mais gráfico que seu antecessor, como no suicídio do dono do posto, a do genro num freezer cheio de membros, ou ainda a luta com o mutante grandalhão na cidade cenográfica.
O original tem o mérito de ter sido um rompedor, um daqueles filmes que encarou as críticas, as estranhezas, para se tornar um clássico e consolidar uma linguagem; a nova versão, por sua vez, tem o mérito de contextualizar um pouco melhor para o espectador o porquê daquele grupo, exposto à radiação dos testes nucleares, viver isolado ali, agir daquela forma e apresentar aquelas aparências repugnantes e deformadas. A propósito de deformidades, as do remake, com um orçamento bem melhor e numa época de melhores recursos técnicos, são muito superiores à esforçada, porém primária maquiagem do primeiro filme. Pluto, por exemplo, se já é repugnante e assustador em "Quadrilha de Sádicos", é algo verdadeiramente horroroso e amedrontador em "Viagem Maldita". Porém, a favor do original temos que o discurso da desumanização, da desesperança no ser humano, embora presente também na refilmagem, é mais significativa e pungente na primeira versão.
A chocante cena do pai da família, Big Bob, crucificado num cactus acontece nos dois e com o mesmo impacto; a cena do estupro da filha mais nova no trailer é clara no remake e apenas sugerida no original; a armadilha que os jovens preparam para os canibais é ótima nos dois, mas tem um efeito mais prático e decisivo no filme de 1977; a luta final nas colinas, entre o pai do bebê sequestrado, Doug, e um dos canibais (Marte, no filme antigo, e Lizard, no mais novo), é intensa em ambos os casos, tem um desfecho semelhante, mas é mais impactante na primeira versão, até porque, ali se dá a cena final, acabando o filme com uma imagem congelada e tingida. Parece que a Quadrilha vai levar a melhor com o gol decisivo no apagar das luzes, mas, nos acréscimos, quando os sobreviventes da Viagem sentem-se a salvo, depois de terem despachado 'todos' os malucos da colina, a imagem se afasta e... vemos que eles estão sendo observados por um binóculo. Hum... Deu rúim!
Até pode ter "dado ruim" pra família no deserto, mas foi a boa pro time do técnico Alexandre Aja. É o gol de empate de "Viagem Maldita". E sobem os créditos e é o apito final do árbitro.
Grande jogo, dois grandes times e um desafiante à altura para um grande clássico do terror.
por Cly Reis
sábado, 8 de julho de 2023
Frank Jorge & Naipe de Sopros - Bar do Alexandre - Porto Alegre/RS (30/06/2023)
“Rock 'n' roll: amor e morte”. Com este lema, emprestado do amigo e também roqueiro gaúcho Julio Reny, o carismático e catalisador Frank Jorge subiu não ao palco, mas à calçada do badalado Bar do Alexandre, em plena Rua Saldanha Marinho, no Menino Deus, quadras da minha casa. Tão perto é que, chegando a pé e uns minutos após o começo do show, fui recebido por Frank tocando “Se Você Pensa”, de Roberto e Erasmo, ao lado de Alexandre Birck, na bateria, e Régis Sam, baixo, além de um afiado naipe de sopros: Carlos Mallmann (trombone) Joca Ribeiro (trompete) e Gustavo Muller (sax tenor e barítono). Que luxo! Combinação simples, mas suficiente para o front man entregar um show cativante e de puro rock. No set-list, temas da carreira solo de Frank, hits da sua tão lendária quanto ele Graforréia Xilarmônica, uma das bandas fundadoras do rock gaúcho e clássicos nacionais, internacionais e regionais.
A convite do próprio Frank, pude presenciar uma apresentação digna da melhor Porto Alegre roqueira. O público que cantou com ele de cabo a rabo joias do seu repertório solo como “Pode Dizer Assim”, “Não Pense Agora”, “Sensores Unilaterais”, “Elvis” e “O Prendedor” até aquelas da Graforréia que não podem faltar: "Eu", "Twist", "Nunca Diga" e "Amigo Punk", esta milonga-rock que é mais do que uma música: é um dos hinos não-oficiais da Porto Alegre alternativa.
Frank e sua banda tocando o hino "Amigo Punk"
Mas teve também covers muito legais e coerentes com a pegada rock 50/60 que sempre caracterizaram a obra e a estética de Frank. Dos parceiros de rock gaúcho, além de "Amor e Morte", de Reny, teve "Lugar do Caralho", do ex-parceiro de Cascavelletes Júpiter Maçã (à época, anos 80, ainda Flávio Basso) e "Cachorro Louco", pedrada da própria Cascavelletes. Ainda menos vaidoso, ele tocou, sob um coro geral da galera, o hit "Núcleo-Base", dos paulistas do Ira!, ato, convenhamos, raro em artistas do Rio Grande do Sul, comumente bairristas.
Mas teve mais! Frank não poupou relíquias. Outra de RC, numa emocionante "Quando"; Beatles, "Nowhere Man", rock argentino e até Ramones. Porém, claro, nada do punk grosseiro, e sim, uma versão da sessentista "Rock 'n' Roll Radio". Nada mais condizente com Frank Jorge. O clima de celebração se completou ainda com o anúncio, horas antes, da inegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. O próprio Frank puxou mais de uma vez o coro: "Ele é inelegível!" em ritmo de "Seven Nation Army", tal as torcidas organizadas, porém dentro dos acordes de "Nunca Diga", de autoria do próprio Frank (que, diga-se, foi escrita bem antes do megasucesso da White Stripes).
Um começo de noite agradabilíssimo regado àquilo que hoje se reserva a pequenos redutos porto-alegrenses, que é a cena rock. Por algumas horas, o clima da antiga Osvaldo Aranha foi recuperado e se reproduziu ali, testemunhado pelo céu nublado da noite. Um momento de resistência, de celebração. Quase litúrgico. Frank, na 'seriedade", como diz a todo tempo, trata, de fato, rock como algo sério. Empunhando sua guitarra como um padre carrega um crucifixo, São Frank Jorge conduziu sua legião de séquitos em enlevo de oração. Coisa muito séria esse rock 'n' roll, hein? Assunto de amor é morte. Amém.
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| Frank e banda mandando ver no bom e velho rock 'n' roll |
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| Rua e bar lotados para assistir Frank Jorge |
Daniel Rodrigues
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Debate 17ª Mostra Unisinos de Cinema - Cinemateca Capitólio - Porto Alegre/RS (19/12/2022)
Esta aproximação, aliás, já vinha sendo alentada desde o ano
passado, quando Milton havia me convidado para uma sessão comentada sobre o
clássico filme gaúcho “Um É Pouco, Dois É Bom” (1970), primeiro longa-metragem
dirigido por um cineasta negro no Rio Grande do Sul, Odilon Lopez. Na ocasião,
um conflito de agendas me impossibilitou de participar, mas desta vez não titubeei.
Numa Cinemateca Capitólio lotada e com mediação da professora Jessica do Vale Luz, assistimos a cinco curtas, todos produzidos
por alunos de Milton e do também professor e cineasta Vicente Moreno,
coordenadores do curso de Realização Audiovisual da universidade.
Impossível não notar algumas inconsistências nos filmes, compreensíveis a trabalhos acadêmicos, pois geralmente os primeiros exercícios no audiovisual de seus realizadores. Os filmes, no entanto, guardam todos qualidades em narrativa e nos aspectos técnicos, como edição de som, fotografia e edição. Os roteiros, alguns menos trabalhados do que outros, foram os grandes responsáveis por balizar o maior ou menos sucesso das obras. O simpático “Confluência”, que narra os encontros e desencontros de uma juventude porto-alegrense, é um exemplo disso. O frescor das histórias de amor juvenis, tão presentes no cinema da Nouvelle Vague ou mesmo no moderno cinema gaúcho dos anos 80, funciona até o momento em que, por escolha da diretora, Valentina Ritter Hickmann, recentemente premiada em Gramado com o emocionante "Somente para Registro", doc subjetivo e pessoal, não consegue repetir a mesma coesão nesta nova realização. Muito por delegar (palavras da própria autora) a fruição da história aos atores e menos ao roteiro, base de toda obra audiovisual. Enfim, erros e acertos inerentes ao caminho.
Interessante filme, mas que também requer maior trato de
roteirização, é “Sufoco”. Dirigido pelo jovem negro Maicon F. Silva, aborda
aspectos sociais importantes como preconceito, bullying, ancestralidade e
identidade. Porém, as amarrações narrativas parecem um tanto soltas, fazendo
com que elementos interessantes – como o colar capaz de encorajar o aflito
protagonista – ressinta-se de maior coerência.
Já “Sem Cabeça”, de Beatriz Potenza, é daqueles casos em que
tudo funciona de forma bastante eficiente. Contando a história de um casal de
jovens em que a moça experimenta pela primeira vez maconha na casa do namorado,
a diretora extrai de uma história pequena nuances bastante profundas. Olhares,
diálogos bem alocados, tempo de ações e uma eficiente fotografia revelam uma
questão social nem tão abordada como deveria, que é a relação heteroafetiva
abusiva.
Também feliz a realização de "Fim de Festa",
inclusive por tratar de outro tema tabu, mas igualmente essencial de ser
exposto assim como racismo e a violência doméstica, que é a questão LGBTQIA+. Afora
alguma inconsistência cênica, o curta de Luísa Zarth Carvalho traça, num
engenhoso diálogo entre duas jovens que vai se de desenrolando pouco a pouco,
perfis bem estruturados das personagens, a quem se descobre ter havido num
passado algo velado entre ambas.
Dessa leva, no entanto, “Enquanto Irmãos”, de Leonardo Kotz,
se destaca pela inteireza da realização. Filme que funciona do início
ao fim, traz a história de dois pequenos amigos que se encontram na casa de um
deles no dia em que o irmão do outro está nascendo. As delicadas falas, as
sutilezas da relação de irmandade entre os amigos, bem como as preocupações
existenciais das crianças, são conduzidas com absoluta assertividade.
Tecnicamente também. Para quem formou sua cinefilia assistindo filmes
protagonizados por crianças como “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”, “Minha Vida de Cachorro” e “Pelle, O Conquistador”, este curta foi uma
grata surpresa.
Enfim, filmes que, mesmo desiguais, mostram que a difícil
arte de se fazer cinema é objeto de paixão das novas gerações. Uma ótima maneira
de terminar um 2022 repleto de cinema, mas desta vez, num encontro com a raiz. Como
diz o policial Malone vivido por Sean Connery a Elliot Ness (Kevin Costner) em “Os
Intocáveis”: “se você não quer pegar uma maçã podre, não vá ao cesto: tire-a da
árvore”.
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| Panorâmica do palco com os realizadores e a professora Jessica |
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| Começando o bate-papo |
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| Falando aos alunos e público |
































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