Poderia elencar uma série de qualidades e aspectos para falar de “Ainda Estou Aqui”, esse fenômeno de bilheteria e sucesso de crítica que vem arrebatando plateias ao redor do mundo. O filme acaba de ser indicado ao Oscar de Melhor Filme e de Melhor Filme Internacional, além da indicação de Fernanda Torres a melhor Atriz, ela que, no último dia 5 de janeiro, já havia vencido um prémio inédito e importantíssimo para o cinema nacional, o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama. Poderia falar sobre os outros importantes prêmio, como o de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, e aclamações, como em Toronto. Poderia falar do alvoroço em torno do filme de Walter Salles e sua possível vitória no Oscar de Filme Internacional e, quem sabe, em mais de uma categoria. Porém, o que mais me salta aos olhos e ao coração quando “Ainda...” vêm à retina da memória é a palavra “integridade”. Em mais de um sentido: na sua feitura, nas atuações, no respeito aos personagens e à história recente do Brasil.
A começar pela direção de Waltinho. Pode soar negativo, mas não se enganem: “Ainda...” não me fez chorar como a muitos espectadores. Não retiro a razão e muito menos o direito das pessoas se emocionarem. Longe disso. Afinal, a história da família Paiva durante o período da ditadura militar no Brasil, quando a matriarca Eunice, após seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ser levado pelos militares e desaparecer, precisa se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos enquanto busca pela verdade é, sim, tocante em diversos aspectos. Porém, por se tratar da reprodução de um período doído e repleto de fatores interligados (políticos, civis, humanos, judiciais, etc.) capazes de despertar diversos sentimentos. No meu caso, o que mais faz emergir é a indignação e o assombro com o horror da ditadura – o que não me leva a lágrimas, mas muito mais ao espanto e à fúria. Em comparação àquele que considero a obra-prima do cineasta, “Central do Brasil” (1998), daqueles filmes de se debulhar chorando, “Ainda...” não passa nem perto de provocar tamanha comoção, não deste jeito sentimental.
Porém, como fiz questão de advertir, isso não é um demérito de “Ainda...”, e, sim, resultado de uma de suas principais qualidades: a integridade de como conta-se a história. Cuidadoso com a reprodução da verdade em seus mínimos detalhes, Salles valeu-se de um roteiro (Murilo Hauser e Heitor Lorega) que respeita as páginas do livro que motivou o filme, escrito por um deu seus ativos personagens, o escritor Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Rubens e Eunice e que aparece no filme em vários momentos, da infância à fase adulta. Disso, Salles captou o que melhor serviria para o audiovisual, parte onde, aí sim, é o olhar de cineasta que age. No entanto, desse híbrido “realidade/memória” + “tradução”, resta um filme rigoroso, ciente de sua responsabilidade em cada enquadramento, cada cenário, cada movimento, cada temperatura da foto. Basta ver a comparação de tomadas do filme com fotos da família da época, que estão circulando pelas redes sociais.
Fernanda Torres: vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar
A emotividade recai com mais propriedade na atuação dos atores, principalmente, claro, na de Fernandinha. A atriz está dona da cena. Extremamente absorvida pela personagem, ela usa de toda sua experiência de uma carreira de mais de 55 anos para expressar em cada olhar, cada pronúncia, cada gesto a dignidade, a integridade de Eunice. O pavor, a incerteza, a amorosidade, a coragem, tudo envolve o corpo da atriz. Ela faz com que se torne verossímil (pois a intenção foi a de ser o mais fiel possível aos fatos) a personalidade ao mesmo tempo frágil e valente de Eunice, que reage e age diante de tamanha brutalidade, mesmo com o mundo em suas costas e a repressão sobre sua cabeça. É tão real a personificação dada por Fernanda, que a mim passa mais um sentimento de assombro do que qualquer outro sentimento. É como se se estivesse vendo aqueles momentos de pavor diante dos olhos e, nesta hora, é muito mais pasmo do que choro que me acomete.
Comparativamente a outros filmes sobre a ditadura no Brasil, “Ainda...” também é diferente, visto que emprega uma austeridade narrativa mais profunda, o que lhe volta como potência para a tela. “O que É Isso, Companheiro?”, de 1997 (um dos três concorrentes do Brasil ao Oscar de Melhor Filme Internacional nos últimos 30 anos, juntamente com “O Quatrilho”, de 1995, e o já citado “Central...”), “Batismo de Sangue”, de 2006, e “Zuzu Angel”, também de 2006, para citar três filmes de ficção brasileiros que abordam histórias reais dos anos de chumbo, são todos mais escancaradamente violentos, principalmente “Batismo...”, que contém fortes cenas de tortura nos porões militares. No caso de “Ainda...” essa violência é muito mais interna da ação, uma vez que os fatos se dão a partir do ponto de vista e Eunice – que, embora presa e torturada psicologicamente, não assistiu às cenas de horror as quais escutava pelos corredores do DOI. A barbárie está lá e o espectador nem precisa vê-la para arrepiar-se junto com a protagonista.
É apavorante, contudo, pensar noutra coisa: não apenas o sucesso, mas a existência deste filme em uma época de obscurantismo como o que vivemos anos atrás no Brasil. Fosse no contexto político anterior, certamente se travaria uma batalha entre os realizadores e o então governo, como ocorrera com “Marighella”, quase impedido de ser lançado. Ver “Ainda...” podendo provocar discussões e a corrida de gerações mais novas e pouco informadas em busca da própria história em sociedade é de uma riqueza incalculável. É a própria democracia em ação. Como em alguns poucos momentos da nossa recente história como nação democrática, é possível perceber o brasileiro dando, mesmo que indiretamente, valor àquilo que lhe é mais caro: a liberdade. Isso sim é realmente tocante e íntegro graças a "Ainda Estou Aqui".
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trailer oficial de "Ainda Estou Aqui"
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O Brasil Ainda Está Aqui
por Rodrigo Dutra
Uma obra to-tal-men-te aclamada. "Ainda Estou Aqui" estreou em novembro de 2024 e já alcançou mais de 3 milhões de espectadores brasileiros. Está trilhando uma jornada de sucesso em festivais conceituados pelo mundo, desde sua apresentação em Veneza. O ápice deste caminho foi a entrega emocionante e inédita do Globo de Ouro para Fernanda Torres, como melhor atriz dramática, 25 anos depois da “Fernandona” ser indicada por "Central do Brasil", também com direção de Walter Salles. Mas enquanto redijo essas palavras, os indicados ao badalado Oscar 2025 ainda estão por vir. Quem sabe até o final do texto teremos mais novidades sobre, como disse Cláudia Laitano, “...o filme nacional mais importante deste século.”?
Cresci em um ambiente militarista, com família orgulhosa pelos “heróis generais, duques e marechais” do passado, dos presidentes não eleitos pelo povo e, lógico, dos seus próprios integrantes nas Forças Armadas. Eu até quase segui este caminho. Mas o período da ditadura sempre foi negado (e é negado por um mar de pseudopatriotas). Essa mancha sombria na história não é explorada explicitamente no filme de Salles, adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, político cassado pela ditadura e que foi morto pelos militares. Nota-se a opção de não chocar o público com sangue e cenas de tortura, mas sim com gritos de desespero de pessoas sendo torturadas no Dops, ouvidos por Eunice Paiva, a viúva admirável, obstinada e resiliente, além de toda a atmosfera nebulosa de capangas, fardas e armas.
A Eunice de Fernanda Torres é uma versão assombrosa, hipnótica, determinada, com uma força inexplicável que só as mulheres extraordinárias possuem (como Eunice e Fernanda). O começo solar da família Paiva começa a desmoronar a partir da cena marcante da foto na praia, onde todos estão felizes na pose, e o olhar aguçado de Eunice mirando um tanque do exército ao longe. Essa cena mostra que o “monocordismo” de Fernanda só existe na cabeça de gente ignorante, que nunca teve o prazer de assistir a "Eu Sei que Vou Te Amar" (ela ganhou como melhor atriz em Cannes em 1986), ou "Terra Estrangeira", ou a libertina baiana de "A Casa dos Budas Ditosos", ou Vani, ou Fátima e tantos outros trabalhos percorrendo dramas e comédias deste patrimônio cultural brasileiro, filha de dois gigantes da nossa cultura.
Além da exuberância da interpretação de Fernanda Torres, quero destacar outros aspectos do filme que explicam o seu sucesso mundial. O cuidado com a restituição da época. Salles convidou colecionadores de carros antigos e fechou a avenida para que eles circulassem, não precisando resgatar imagens reais antigas para utilizar. As crianças e jovens que interpretam os filhos da família Paiva são espetaculares, desde os pequenos, incluindo os cãezinhos, até Valentina Herszage e Bárbara Luz, nova geração de atrizes de gabarito. A trilha sonora é de uma beleza absurda, reinflando o hino contra a ditadura "É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo", de Roberto e Erasmo, além de Tim Maia, Tom Zé e até, vejam só vocês, de Juca Chaves, que morreu tristemente defendendo uma nova intervenção militar. E, por fim, os poucos minutos de silêncio de Fernanda Montenegro na parte final do filme, desestabilizando o público com sua interpretação não-verbal histórica e arrepiante.
Deve ser extremamente difícil, para os defensores da ditadura, testemunhar a expansão da família Paiva, a relevância de Rubens Paiva na história política, o ativismo pelos direitos humanos de Eunice, o sucesso literário e intelectual de Marcelo. A luta contra o fascismo e a extrema direita está mais viva do que nunca e nesse momento temos que comemorar essas 3 indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Filme, fato inédito na história cinematográfica nacional. A vida presta, como diz Fernanda. Acima de tudo, o cinema brasileiro presta....e muito!
Se liga rapaziada de Liverpool que o tio Wayne tá chegando
A gente que gosta de falar sobre grandes discos, volta e meia quando descobre alguma coisa, reouve ou reavalia algum disco esquecido, pensa "Eu tenho que escrever sobre esse disco!". Mas aí, muitas vezes, a gente pondera, "Poxa, mas vai ser mais um álbum do Fulano nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS... Já tem tantos". É que tem uns que é inevitável que tenham mais de um. Dois, três..., um monte. Beatles, por exemplo, muitos defenderiam que toda a discografia estivesse destacada entre os melhores discos de todos os tempos (e não seria nenhum absurdo). Caetano Veloso, Stevie Wonder, Miles Davis, é impossível que em obras tão relevantes que influenciaram gerações, nos impressionemos e nos limitemos a destacar apenas um grande trabalho de cada um deles. Depois de alguns anos fazendo a seção de grandes álbuns, acumuladas grandes obras de diversos nomes desse porte, a gente fica sempre com a curiosidade: quantos discos daquele cara, daquela banda tem nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS?
Então surgem outras curiosidades: a gente vê vários de Rolling Stones, Elton John, Smiths, e se pergunta "Quantos ingleses tem na lista?", aí vê Ramones, Madonna, Herbie Hancock, Aretha Franklin, e compara, "Será que tem mais americanos ou ingleses?", "e os brasileiros, como estão nessa parada?", e vão surgindo categorias e mais categorias. Qual ano tem mais grandes discos lembrados? Qual década se destaca?... E assim criamos o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, um levantamento que fazemos a cada ano, contabilizando os discos incluídos na última temporada na nossa seção, apresentando então quem está na frente em cada um dos critérios.
No último ano, entre os artistas internacionais, os Beatles continuam firmes na ponta como aqueles com mais discos citados, mas começam a sentir a proximidade do gênio do jazz Wayne Shorter que vem chegando como quem não quer nada. No âmbito nacional, se Caetano Veloso se manteve à frente por conta de um disco em parceira com Chico Buarque, o mesmo álbum fez com que o próprio Chico se aproximasse e alcançasse a segunda posição. Entre os países, o Brasil, com 8 dos 21 discos destacados no ano, deu um salto na tabela ampliando ainda mais a vantagem em relação aos ingleses, mas ainda longe dos norte-americanos que lideram com folga. Já nas épocas, a década de 70 continua sendo a que tem mais grandes álbuns mencionados, embora o ano que tenha mais obras seja da década de 80, o ano de 1986. No entanto, no ano passado, por trazer alguns discos que recentemente completavam 50 anos, o de 1974 foi o que apareceu mais na nossa galeria.
Ainda no que diz respeito aos anos, vamos dar uma 'trapaceada' desta vez: como o disco "Me & My Crazy Self", do bluesman Lonnie Johnson contém gravações de 1947 a 1953, vamos incluí-lo nos anos 40 só porque, até hoje, era a única década que não tinha nenhum disco indicado. Pode ser? (Segredo nosso. Fica entre a gente. Shhhh!!!)
Como destaques tivemos as estreias da talentosíssima musa francesa Françoise Hardy e do subestimado Ivan Lins no nosso seleto grupo de elite; o disco ao vivo de Gilberto Gil, no Tuca, um dos álbuns cinquentões do ano passado; mais um da rainha Madonna para marcar sua grandiosa vinda ao Brasil; e, em ano de Olimpíadas, um disco de atleta, o excelente "Rust in Peace", do faixa preta em taekwondo Dave Mustaine do Megadeth.
Bom, chega de papo-furado: vamos às listas, às colocações, aos números que é o que interessa aqui. Com vocês o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2024.
Dá uma olhada aí:
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PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)
The Beatles: 7 álbuns
Kraftwerk e Wayne Shorter***: 6 álbuns
David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane e John Cale* **: 5 álbuns cada
Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, Philip Glass e Lee Morgan: 4 álbuns cada
Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Madonna, Iron Maiden , U2, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Chemical Brothers, Sean Lennon, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Sinéad O'Connor, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale, "Songs for Drella"
*** contando o álbum "Five Star', do V.S.O.P.
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
Caetano Veloso: 8 álbuns*#
Gilberto Gil * ** e Chico Buarque ++ #: 7 álbuns
Jorge Ben ** e João Gilberto* ****: 5 álbuns
Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, , e Milton Nascimento***** º: 4 álbuns
Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura, Cartola, Baden Powell*** e Criolo º : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
***** contando com o álbum Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"
+ contando com o álbum "Edu & Tom/ Tom & Edu"
++ contando com o álbum "O Grande Circo Místico"
# contando com o álbum "Caetano & Chico Juntos e Ao Vivo"
º contando com o álbum Milton Nascimento e Criolo "Existe Amor"
PLACAR POR DÉCADA
anos 20: 2
anos 30: 3
anos 40: 1
anos 50: 121
anos 60: 101
anos 70: 166
anos 80: 142
anos 90: 108
anos 2000: 20
anos 2010: 18
anos 2020: 3
*séc. XIX: 2 *séc. XVIII: 1 PLACAR POR ANO
1986: 24 álbuns
1977 e 1972: 21 álbuns
1969: 20 álbuns
1976: 19 álbuns
1970, 1971, 1985 e 1992: 18 álbuns
1968, 1973 e 1979 17 álbuns
1967, 1975 e 1980: 16 álbuns cada
1983 e 1991: 15 álbuns cada
1965, 1988, 1989 e 1994: 14 álbuns
1987 e 1990: 13 álbuns
1990: 12 álbuns
1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
Estados Unidos: 218 obras de artistas*
Brasil: 167 obras
Inglaterra: 130 obras
Alemanha: 11 obras
Irlanda: 8 obras
Canadá: 5 obras
Escócia: 4 obras
Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
Austrália, França e Japão: 2 cada
Itália, Hungria, Suíça, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada
*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de países diferentes, conta um para cada)
Um gigante. Tony Tornado é um gigante. Mas não só por sua estatura de 1,90 metro, que se avoluma ainda mais no palco. Tony é gigante por sua importância para a cultura black, por sua figura emblemática para o povo preto, por sua música, por sua idade quase centenária, prova da força arrebatadora de um homem negro filho de escravo. Por sua existência divina.
Nada mais adequado que, então, celebrar o primeiro feriado do Dia da Consciência Negra em Porto Alegre, a cidade que viu nascer a ideia do 20 de novembro há mais de 50 anos com Oliveira Silveira e a ANdC em homenagem ao herói da resistência Zumbi dos Palmares, em pleno Museu do Hip-Hop, o primeiro do Brasil sobre este tema tão ligado à cultura negra moderna, recebendo este homem gigante, enorme física e simbolicamente chamado Antônio Viana Gomes. Ex-engraxate, ex-crooner, ex-cafetão, ex-traficante, ex-paraquedista do Exército, ex-combatente da Guerra de Suez, filho de um foragido da Guiana sobrevivente da seita Jim Jones, ex-exilado político, o ator de papéis memoráveis. Uma lenda. Ou seja: quando Tony Tornado pisa num palco, não é só um show que se vislumbra: é uma festa de santo, uma celebração, um toque, um ritual, um culto onde a divindade está ali, diante de nossos olhos.
Foi nesse clima de epifania que Tony Tornado subiu ao palco montado no pátio do Museu para, como se diz atualmente, entregar uma apresentação não menos que memorável. Como um totem que expõe uma mensagem de resistência negra, vestia uma camiseta preta com uma escancarada estampa de Malcom X tão grande e auto-iluminada que se podia ver a quadras de distância. Acompanhado da excelente banda Funkessência e tendo ao lado o talentoso filho Lincoln Tornado, o mítico interprete de BR3, música com a qual venceu o Festival Internacional da Canção em 1971 impactando todo o Brasil com aquela performance histórica, já não dança mais como antigamente. Perfeitamente compreensível, afinal, os 94 anos que carrega naquele corpanzil lhe desculpam totalmente. Equilibrando performance sua com a do restante da banda, o show é uma aula de repertório e narrativa, com aqueles funkões cheios de groove intercalados por baladas para diminuir o ritmo, e formado por sucessos de Tony, homenagens e algumas surpresas.
O gigante negro toma o palco
A abertura não podia ser com outra: “Tornado”, o excepcional funk autorreferente a la James Brown que encerra o clássico primeiro disco de Toni (ainda escrito com “i”), de 1971. Na sequência, o velho emenda outra pérola: “Me Libertei”, com seu refrão cativante: “Todo meu canto/ Sai do meu coração”. Aí, uma preciosidade escondida: “Manifesto para Angola”, escrita quando do exílio político de Tony no país africano, mas justamente quando este finalmente se libertava do colonialismo de Portugal. Por isso, esse ska africanado espetacular diz assim: “Temos que fazer algo agora/ Sem desesperar como outrora/ Retomar o tempo perdido/ Sentido, ferido/ Todo nosso tempo perdido/ E covardemente agredido/ Nós estamos voltando agora/ Angola é hora”.
O filho Lincoln, que faz as vezes daqueles clássicos mestres de cerimônia dos shows de soul, é um verdadeiro crooner que "soluciona" a menor mobilidade do astro principal cantando, dançando e divertindo com a plateia. E como dança! Ele é quem assume os microfones, com autoridade e irreverente, deixando o pai no backing-vocal, quando este dá as devidas paradas para descanso. Entoa, logo em sua primeira incursão, um clássico da black music brasileira: “Mandamentos Black”, do seu “tio”Gerson King Combo. Mais tarde, noutra pausa de Tony, aumenta ainda mais o nível evocando o pai de todos do funk: James Brown. É “Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine”, para delírio geral. Lincoln canta, dança, chama o público, interage com a banda e com a plateia. Um showman, que segue muito bem, com o mesmo sangue negro, o legado de seu pai.
Mas não se enganem que Tony faz um show “meia-boca” e delega para os mais jovens da banda a condução. Não! Mesmo com as pausas estratégicas para sentar e tomar um fôlego, Tony canta, e canta muito bem, ainda mais para a sua idade (diante de cantores com 60 anos menos que ele, inclusive). O cara manda ver nos gritos tipo James Brown, entoa frases em inglês com o sotaque de um negrão do Harlem ("clap your hands!", "everybody!") e, principalmente, é afinado. Sim! Tony cantou os versos melancólicos da primeira parte da clássica "BR-3", a penúltima do show, com afinação e direito a vibratos! Muito cantor jovem desses que se vê nos festivais por aí não tem esse cuidado - e nem essa qualidade. Isso quando não manda um rap em inglês que não deixa a dever a nenhum Notorius Big ou Snoop Dogg.
Tony Tornado mandando ver no rap
Visivelmente emocionado com o carinho e a vibração do público, Tony volta para dar mais presentes. E este presente se chama Tim Maia. Homenageando o amigo a quem conheceu nas ruas do Harlem, quando ambos viveram de contrabando em Nova York, e que viu nos últimos momentos antes de morrer, Tony faz um medley com “Primavera”, “Azul da Cor do Mar” e "Sossego", apoiado pela estupenda voz da cantora Francine Moh. Ela, aliás, com capacidade para isso, chamou outro hino de Mr. Dynamite, “I Got You (I Feel Good)” e, a pedido de Tony, “Respect”, de Aretha Franklin, em que Francine atingiu boas oitavas como pouco se vê. Muito respeito aos dois.
Tony retorna ao microfone principal trazendo outras maravilhas de seu repertório: “Podes Crer, Amizade”, com a qual é impossível ficar parado, e “Sou Negro”, com seu refrão tomado de resistência e negritude: “Sou negro, sim/ Mas ninguém vai rir de mim”. Para encerrar, “BR-3”. Quando inicia a segunda parte da música, naquela explosão funk da virada, é fechar os olhos e ver a imagem daquele negrão gigantesco com um sol desenhando no peito e dançando frenética e sensualmente para todo o Brasil no Festival da Canção. Já saindo do palco, forte o suficiente para sustentar o seu peso e importância, a Funkessência toca “Descobridor dos Sete Mares”, outra do Síndico. Lincoln se esbalda dançando. Francine explora as oitavas. A banda carrega no groove. Tony se despede com o punho cerrado dos Black Panthers.
Esta tarde histórica para a cidade e para a vida do público presente começou com muita alegria e emoção. Música preta - funk, soul, rap, charme, reggae, samba - emanava e se conectava aos fios dos cabelos black que desfilavam pelo lugar, mas também às mentes e corações. Um senso de pertencimento era sentido por todos: pretos, brancos, jovens, idosos, crianças, adolescentes. E Tony, neste sagrado dia de consciência secular, foi o ápice. Todos dançaram, se divertiram, conversaram, cantaram. Sacralizaram em torno de um Deus negro. E se Jesus fosse um homem de cor?...
Palmares se (re)instaurou. Porto Alegre aquilombou-se. Zumbi estava lá.
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Tony com a ótima banda Funkessência, Lincoln Tornado e Francine Moh
Olhar para o céu tem trazido surpresas ultimamente. Mas não estou falando do sol vermelho de poluição, que esse é motivo de se preocupar. Falo, sim, do MDC, que raiou no céu para iluminar mentes e corações. Tem PJ Harvey, Milton Nascimento, Kula Shaker, Tim Maia e Pat Metheny pra cumprir esse papel. Ainda, um Sete-List, enumerando momentos da carreira de Sérgio Mendes. Radiante, o programa vai ao ar (puro, neste caso) às 21h, na solar Rádio Elétrica. Produção, apresentação e olhos ardendo: Daniel Rodrigues.
Montar uma lista com músicas preferidas de Chico Buarque é, antes de mais nada, desafiador, mas também garantia de uma seleção do mais alto nível da música brasileira. Dada a magnitude e qualidade de sua obra – além de extensa, sempre muito significativa – não haveria como ser diferente. Para celebrar o aniversário de 80 anos deste mestre da nossa cultura completos esta semana, juntamos, então, uma lista de 80 músicas preferidas por alguns de seus inumeráveis fãs.
Disso, porém, uma coisa foi quase unânime: a reclamação dos votantes de que é difícil compor uma lista dessa natureza. Todos os que se dispuseram a realizar essa tarefa quase trocaram o prazer em compô-la por dúvidas atrozes ou, pior, a angústia por não poder escolher mais títulos além de apenas 10. Compreensível. Quando fizemos, em 2022, uma listagem semelhante a esta para o aniversário de outro mestre da música brasileira, Gilberto Gil, o sentimento foi o mesmo. Isso sem falar, após a divulgação, da transformação desse desconforto em arrependimento por não se ter lembrado de incluir esta ou aquela canção...
O fato é que amamos a obra de Chico, e nisso me incluo tanto quanto todos os nossos outros 6 fãs, que toparam comigo e Cly, a ingrata missão de listar apenas 10 músicas da vasta e qualificadíssimo cancioneiro buarqueano. Pois, realmente, 10 é muito pouco para dar a dimensão do quanto o admiramos e da importância de sua obra. Sabemos. Mas, de modo a contemplarmos pelo menos 8 destes ardorosos fãs, a matemática nos obriga a separar apenas uma mísera dezena para podermos completar 80 escolhas celebradoras de suas 80 primaveras.
Para tanto, reunimos um time especial de “buarqueiros” de diferentes áreas. Jornalistas, escritores, publicitários, ilustradores, produtoras culturais. Há, mas são poucos os que não gostam de Chico – e quando gostam, é assim, de “Todo o Sentimento”. A ponto de fazer canção em sua homenagem, como um dos nossos convidados, o músico radicado em Londres Thomas Pappon - da Fellini, Tres Hombres, Voluntários da Pátria, Smack, The Gilgertos e outros vários projetos – coautor da bela “Chico Buarque Song”, da Fellini. Ou mais do que isso: alguém que dedica-lhe uma obra, caso do jornalista e escritor Márcio Pinheiro, esporádico colaborador do blog, que acaba de lançar o livro "O que Não tem Censura nem Nunca Terá: Chico Buarque e a Repressão Artística na Ditadura Militar".
Afora os impasses, o legal é que existe um Chico para cada um. “Paratodos”, mais certo dizer. Há músicas desde sua fase inicial, nos anos 60, dos tempos da “capa do meme”, até a mais recente produção, deste “Velho Francisco” agora oitentão. 80 músicas é pouco, sim. Melhor seriam mais “Umas e outras”, mais um “Frevo Diabo”, mais um “Tango do covil”, um “Partido alto”, uma “Opereta de casamento”. E “Que tal um samba?”, um pra Vinicius, um de Orly, um de adeus?... “Qualquer canção”, desnaturada, inédita, de Pedroca. Não? Então, como diz ele mesmo, “palmas para o artista confundir”. Que prazer é essa confusão de não saber o que mais nos toca da maravilhosa obra de Chico Buarque.
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Kaká Reis
produtora cultural (Rio de Janeiro/RJ)
"HELP! Chegou o momento mais temido da minha vida: escolher 10 musicas do Chico! Eu sei que vou me arrepender muito de alguma coisa, mas segue..."
1. "Tatuagem" ("Chicocanta" ou "Calabar", com Ruy Guerra, 1972)
2. "Bom Conselho" ("Quando o Carnaval Chegar", 1972)
3. "Pedro Pedreiro" ("Chico Buarque de Hollanda", 1966)
4. "Eu Te Amo" ("Vida" , com Tom Jobim, 1980)
5. "Biscate" ("Paratodos", 1993)
6. "As Caravanas" ("Caravanas", 2017)
7. "Bye Bye Brasil" ("Vida", com Roberto Menescau, 1980)
8. "Mil Perdões" ("Chico Buarque", 1984)
9. "Ode aos Ratos" ("Carioca", com Edu Lobo, 2006)
10. "Todo o Sentimento" ("Francisco", com Cristóvão Bastos, 1987)
Jana Lauxen
escritora e editora (Carazinho/RS)
"Chico Buarque é patrimônio cultural brasileiro, lenda viva, meme, galã e puro suco da arte made in Brasil. Não bastasse, canta, compõe, escreve, interpreta, defende a democracia e já enfrentou, na trincheira, dois governos fascistas. Ele me representa de tantas maneiras, que um parágrafo é insuficiente para explicar. Obrigada, Chico!"
1. "Apesar de Você" ("Chico Buarque" ou "Disco da Samambaia", 1978)
2. "O Meu Guri" ("Almanaque", 1982)
3. "Geni e o Zeppelin" (Trilha sonora da peça "Ópera do Malandro", 1977)
4. "Roda Viva" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 3", 1968)
5. "Jorge Maravilha" (aka Julinho da Adelaide, 1974)
6. "Cotidiano" ("Construção", 1971)
7. "Cálice" ("Chico Buarque" ou "Disco da Samambaia", com Gilberto Gil, 1978, por Milton Nascimento e Chico Buarque)
8. "Construção" ("Construção", 1971)
9. "Hino da Repressão" (Trilha Sonora do filme "Ópera do Malandro", 1985)
10. "Meninos, Eu Vi" (Trilha Sonora do filme "Para Viver um Grande Amor", com Tom Jobim, 1983)
Leocádia Costa
publicitária, produtora cultural e locutora (Porto Alegre/RS)
1. "Biscate"
2. "Paratodos" ("Paratodos", 1993)
3. "Tua Cantiga" ("Caravanas", com Cristóvão Bastos, 2017)
4. "Imagina" ("Carioca", com Tom Jobim, 2006)
5. "Baioque" ("Quando o Carnaval Chegar", 1972, por Maria Bethânia)
6. "Minha Canção" ("Os Saltimbancos", com Sérgio Bardotti e Enriquez, 1977)
7. "Beatriz" ("O Grande Circo Místico", com Edu Lobo, 1983)
8. "Roda Viva" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 3", 1968)
9. "Samba e Amor"("Chico Buarque de Hollanda - vol. 4", 1970)
10. "Cotidiano" ("Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo", 1972, com Caetano Veloso)
Clayton Reis
arquiteto, cartunista e blogueiro (Rio de Janeiro/RJ)
"Que tarefa ingrata escolher só dez. Meu Deus! Vai indo 1, 2, 3 e vai se aproximando de 10 e a gente fica pensando, 'mas essa vai ficar de fora', 'e aquela...', 'e aquela outra...'. É uma obra incrível, muita coisa maravilhosa, letras incríveis, fases distintas, temas, motivações. Não tem nem o que falar. Só aplaudir um cara assim, agradecer por existir há 8 décadas e nos dar coisas como essas."
1. "Construção"
2. "Rosa dos Ventos" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 4", 1970)
3. "O que Será? ((À flor da pele)" ("Meus Caros Amigos", 1976)
4. "Vai Passar" ("Chico Buarque", com Francis Hime, 1984)
5. "Cotidiano"
6. "Apesar de Você"
7. "Agora Falando Sério" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 4", 1970)
8. "Geni e o Zeppelin"
9. "Samba do Grande Amor" ("Chico Buarque", 1984)
10. "Jorge Maravilha"
Daniel Rodrigues
jornalista, escritor, radialista e blogueiro (Porto Alegre/RS)
"'A gente se torna repetitivo falar que 10 músicas não são suficientes para dar conta da grandiosidade de Chico Buarque. Fazer o quê? Muito queria ter incluído aqui 'Mil Perdões', 'Samba e Amor', 'Leo', 'Pedro Pedreiro', 'Assentamento', 'Ciranda da Bailarina', 'Alumbramento', 'Rosa dos Ventos', 'Sinhá'... mas não cabem. Fico com o sintético depoimento do amigo Tom Jobim, que dizia, atribuindo sua genialidade aos deuses da religiosidade afro-brasileira, que Chico era 'um cavalo'".
1. "Construção"
2. "Vida" ("Vida", 1980)
3. "A Bela e a Fera"("O Grande Circo Místico", com Edu Lobo, 1983, por Tim Maia)
4. "Futuros Amantes" ("Paratodos", 1993)
5. "Vai Passar"
6. "O Meu Guri"
7. "Tua Cantiga"
8. "Beatriz"
9. "Amando sobre os Jornais" ("Mel", 1979, por Maria Bethânia)
10. "Estação Derradeira" ("Francisco", 1987)
Lívia Araújo
jornalista e ilustradora (Porto Alegre/RS)
"Amo Chico e seu repertório pela sua amplidão de temas e estilos: tanto interpretando a realidade brasileira e seus personagens, quanto falando sobre os meandros íntimos de homens e mulheres nos mais variados contextos. A música do Chico, que dá o balanço perfeito entre melancolia e alegria, exaltação e introspecção, é a expressão perfeita de alguém que entende como o brasileiro, em suas próprias palavras na ocasião da entrega tardia do Prêmio Camões, traz nas veias "o sangue do açoitado e do açoitador. Bônus track. 'Samba de Orly'".
1. "Tanto Amar" ("Almanaque", 1982)
2. "Vai Passar"
3. "Feijoada Completa"("Chico Buarque" ou "Disco da Samambaia", 1978)
4. "Joana Francesa" (Trilha sonora do filme "Joana Francesa", 1973)
5. "Geni e o Zeppelin"
6. "João e Maria" ("Os Meus Amigos São Um Barato", com Sivuca, 1977, por Nara Leão)
7. "Roda Viva"
8. "Caçada" ("Quando o Carnaval Chegar", 1972)
9. "Acorda, Amor" (aka Julinho da Adelaide, "Sinal Fechado", 1974)
10. "Terezinha" (Trilha sonora da peça "Ópera do Malandro", 1977, por Gal Costa)
Thomas Pappon
músico (Londres/Inglaterra)
1. "Samba e Amor"
2. "Cotidiano"
3. "Partido Alto" ("Quando o Carnaval Chegar", 1972, por MPB-4)
4. "Ana de Amsterdã" ("Chicocanta" ou "Calabar", com Ruy Guerra, 1972)
5. "Construção"
6. "Gente Humilde" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 4", com Garoto e Vinícius de Moraes, 1970)
7. "Pois É" ("Chico Buarque de Hollanda - vol. 4", com Tom Jobim, 1970)
8. "Deus lhe Pague" ("Construção", 1971)
9. "Olha Maria" ("Construção", com Tom Jobim, 1971)
10. "Joana Francesa"
Márcio Pinheiro
jornalista e escritor (Porto Alegre/RS)
"Aí vai uma lista idiossincrática: 10 músicas de Chico Buarque em parcerias. A melhor do Chico em parceria com:"
1. Caetano Veloso: "Vai Levando" ("Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo", 1975)
2. Edu Lobo: "História de Lily Braun" ("O Grande Circo Místico", 1983, por Gal Costa)
3. Francis Hime: "A Noiva da Cidade" ("Meus Caros Amigos", 1974)
4. Gilberto Gil: "Cálice"
5. João Donato: "Cadê Você?" ("Francisco", 1987)
6. Miltinho: "Angélica" ("Almanaque", 1982)
7. Ruy Guerra: "Tatuagem"
8. Sivuca: "João e Maria"
9. Tom Jobim: "Retrato em Branco e Preto"("Chico Buarque de Hollanda - vol. 3", 1968)
10. Toquinho: "Samba de Orly" ("Construção", 1971) e Vinicius de Moraes: "Valsinha" ("Construção", 1971)
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As mais votadas
"Construção", "Cotidiano" - 4 votos
"Roda Viva", "Geni e o Zeppelin", "Vai Passar" - 3 votos
"Biscate", "Beatriz", "Apesar de Você", "Cálice", "Tatuagem", "O Meu Guri", "Jorge Maravilha", "Tua Cantiga", "Samba e Amor", Joana Francesa", "João e Maria" - 2 votos
"Vai Levando", "História de Lily Braun", "A Noiva da Cidade", "Cadê Você?", "Angélica", "Retrato em Branco e Preto", "Samba de Orly", "Valsinha", "Partido Alto", "Ana de Amsterdã", "Gente Humilde", "Pois É", "Deus lhe Pague", "Olha Maria", "Tanto Amar", "Feijoada Completa", "Caçada", "Acorda, Amor", "Terezinha", "Vida", "A Bela e a Fera", "Futuros Amantes", "Amando sobre os Jornais", "Estação Derradeira", "Rosa dos Ventos", "O que Será? ((À flor da pele)", "Agora Falando Sério", "Samba do Grande Amor", "Paratodos", "Imagina", "Baioque", "Minha Canção", "Hino da Repressão", "Meninos, Eu Vi", "Bom Conselho", "Pedro Pedreiro", "Eu Te Amo", "As Caravanas", "Bye Bye Brasil", "Mil Perdões", "Ode aos Ratos" e "Todo o Sentimento" - 1 voto