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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Os 100 Melhores Filmes de Terror da IndieWiere (e aquelas 12 títulos que faltaram)


 
Cada vez mais fica claro que listas são feitas para serem complementadas. As famosas (e polêmicas) seleções de melhores do cinema não desmentem: por mais criteriosas que sejam em suas elaborações, sempre deixam aquela sensação de que algo faltou. Ainda mais quando o tema envolve os melhores “de todos os tempos ", que, por motivos óbvios - o de abarcar tudo que o universo daquela temática ou recorte deve oferecer -, corre muito mais risco de erro.

"O Iluminado", um clássico do terror incontestável.
Mas há outros
Caso da lista divulgada recentemente pelo IndieWire, reconhecido portal sobre cinema, que elaborou uma publicação com os 100 melhores filmes de terror de todos os tempos. Por si só, aliás, um gênero polêmico, seja pela classificação de um filme dentro desse gênero (às vezes, discutível se é terror ou não), seja pela paixão que exerce sobre seus milhares de fãs (o que supõe uma maior diversidade de preferências). 

Porém, a IndieWire encarou a empreitada. E o fez muito bem, por sinal. Tem de tudo: zumbi, monstro, slasher, vampiro, espírito, lobisomem. Sangue, morte e medo para todos os gostos. Podem se achar listados os principais filmes de terror que se conhece. Clássicos incontestes como "O Iluminado", "O Bebê de Rosemary", "Tubarão" e "O Massacre da Serra Elétrica" estão lá. Igualmente, a consideração a obras nem tão badaladas, mas inegavelmente merecedoras, tal "A Beira da Loucura", de John Carpenter (69°), "Irmãs Diabólicas", de Brian De Palma (87°) e "Violência Gratuita", de Michael Haneke (15°). Até mesmo a primeira colocação a "Possessão" (de Andrezej Żulawski) surpreende, mas é bem interessante em se tratando de uma lista claramente revisionista. Também é apreciável o prestígio aos orientais com várias produções do Japão e Coreia do Sul da década de 50 até a de 2000. Como diz a própria publicação, “prestamos atenção às seleções que abriram caminho em inovações para o gênero e para o cinema como um todo”.

No entanto, há controvérsias, claro. A começar pela má colocação de alguns títulos que fazem jus a uma melhor pontuação, seja por sua importância para o gênero ou para a própria história do cinema, como "A Hora do Pesadelo", pondo o icônico Freddie Krugger apenas no 98° lugar; o referencial "Psicose", obra-prima de Alfred Hitchcock e possivelmente top of the tops numa relação mais tradicional, aqui contentando-se somente com o 39° posto; ou o já citado "O Bebê...", 42°, recorrentemente tido como um dos principais filmes da história do cinema em todos os gêneros. E "Nosferatu" de Murnau, na 40ª? Ou "O Exorcista" só 51ª? Sinistro...

Mas são as ausências que mais gritam tal qual a mocinha clichê fugindo do serial killer no meio da noite. Ver uma seleção de 10 dezenas de obras de terror e enxergar algumas sendo esquecidas (ou preteridas) motiva àquilo que referimos no início do texto: o ímpeto de querer complementá-la. Por isso, trazemos aqui 12 títulos não listados pela IndieWire, mas que consideramos essenciais de constarem. Tirar alguns? Ampliar? Adicionar aquele "plus"? Tanto faz. Importante é contribuir com mais filmes certamente cabíveis numa lista como esta: legal, mas incompleta. Os amantes do terror hão de concordar.


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"O MAL QUE NOS HABITA", de Damián Rugna - ARG (2023) - Um desses recentes, mas que já mexeu com as estruturas do universo do horror é o aterrorizante argentino "O Mal Que nos Habita". Tem possessão, tem gore, tem violência extrema, tem canibalismo, tem sobrenatural, tem perseguição e, de quebra, ainda, na entrelinha, crítica social. A gente fica apavorado com o que vê, cenas gráficas e sangrentas daquelas de fechar os olhos, como a famosa sequência do cachorro matando a menininha; espantado com o que aconteceu mas não viu, como o garoto que comeu a avó; e amedrontado pelo que não vê, a maldição que persegue os moradores de uma cidadezinha interiorana na argentina e que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Um dos grandes filmes do gênero nos último anos.





"TERRIFIER", de Damien Leone - USA (2016) - "Terrifier" surgiu meio que como um cult. Era uma espécie de clássico do underground daqueles que só tinha visto quem conseguia por algum meio menos convencional. Mas o fato é que, mesmo difícil, restrito a alguns fanáticos sanguinários e incansáveis ratos de internet, o filme era muito comentado pelas barbaridades, atrocidades e brutalidades de um palhaço mímico que comete uma verdadeira carnificina numa noite de Halloween. E de fato, a fama não era a toa. "Terrifier" é dos filmes mais brutais que já assisti. As coisas que faz o palhaço Art são duvidáveis até para o mais acostumado fã de slashers. Tipo, "Ele não vai fazer isso... não vai fazer...  Fez!!!". O visual da fantasia preto e branco com uma mini-cartola, aquele sorriso sujo assustadoramente amplo, a determinação em seus objetivos assassinos, o sadismo doentio, e o talento para as execuções de suas vítimas fazem de Art um dos novos grandes matadores do cinema e mais um personagem clássico do horror.



"INVASÃO ZUMBI", de Yeon Sang-ho - KOR (2016) - Os zumbis foram mudando ao longo da história do cinema desde que George Romero os 'inventou". Já foram apalermados, organizados, individualistas, inconscientes, cruéis, devoradores, possuídos, experimentais... Em "Invasão Zumbi" um dos grandes baratos é que ao invés de zumbis lentos, descoordenados, capengando com os braço estendidos para a frente e babando, temos zumbis rápidos. Velozes, determinados, imparáveis e vorazes! A partir do momento que o primeiro infectado entra no trem de Seul para Busan o frenesi não tem mais fim. Aí ele morde um que morde outro que morde outro, e os corredores apertados do trem são o cenário perfeito para um dos filmes de zumbi mais alucinantes que já se viu.





"ATIVIDADE PARANORMAL", de Oren Peli - USA (2007) - Sei que o found-footage já tá enchendo no saco de tanta coisa que se fez no formato desde o sucesso do fenômeno "A Bruxa de Blair", mas não dá pra ignorar e deixar de fora o igualmente criativo "Atividade Paranormal". Basicamente uma câmera num tripé posicionada no quarto de um jovem casal que suspeita sua casa, suas vidas, estejam sendo atormentadas por alguma força sobrenatural, um espírito, um demônio ou algo assim. Para tentar tranquilizar a esposa Katie e esclarecer as dúvidas, o marido, Micah, aficionado por eletrônicos, vídeos, filmagens, coloca câmeras gravando o tempo inteiro em vários pontos da casa, inclusive no dormitório do casal. É, e para desespero dos dois, as imagens revisadas nos dias seguintes às gravações, depois de suas noites de sono, confirmam seus piores temores: tem alguma coisa lá. Simples? Sim, mas eficiente. O passar dos dias, o aumento gradual da atividade, dos fenômenos mantém o interesse do espectador. Sem graça? Uma câmera fixa na mesma posição... Que nada! Aquele silêncio, aquela imagem parada na amplitude do quarto faz a gente ficar com o olho atento a cada detalhe, a cada cantinho. Será que a porta vai mexer? Será que sai alguma coisa debaixo da cama? E o lençol? E o chinelo? E o pé dela? E o pé dele?... Pior é, depois de ver o filme, ir dormir e ter que apagar a luz do quarto.



"CREEPSHOW", de George A. Romero - USA (1982) - Se um filme dirigido por George A. Romero com argumento e roteiro de Stephen King, inspirado nos clássicos quadrinhos de terror dos anos 50 não é uma das melhores coisas do mundo do terror, eu não sei mais o que é bom ou não. Com todo aquele colorido e visual de HQ na tela, com arte desenhada, fontes Comic Sans, layout de tela como uma página de papel, os mestres do terror nos apresentam cinco contos recheados de medo, morte, sangue e humor, com mortos-vivos, criaturas assassinas, coisas de outros planetas, infestações incontroláveis, em tramas envolventes que desfilam ódio, traição, vingança, ambição e repugnância. King, Romero, quadrinhos, sangue, decapitações, zumbis, insetos nojentos, monstros... O que pode ser melhor que isso?







trailer de "Creepshow"



"O SEGREDO DA CABANA"
, de Drew Godard - USA/CAN (2012) - Reverência e crítica ao mesmo tempo, "O Segredo da Cabana" brinca com os clichês dos filmes de horror construindo a partir disso, por incrível que possa parecer, uma obra inteligente e singular. Grupo de jovens, cabana no meio do nada, lenda local, livro no porão, despertar de algo sobrenatural... Sei, sei. Já vimos tudo isso. Mas e se tudo isso estivesse sendo meticulosamente controlado por uma espécie de central mundial de eventos paranormais que decide qual monstro, assombração ou criatura será destinado para cada local, e quando e como o maligno deverá agir? Tipo de arma, tipo de morte, ambiente, essas coisas... Enquanto o 'escolhido' entra em ação, os funcionários do local, que já prepararam tudo, luz, nevoeiro, trilhas, dificuldades, obstáculos, apostam entre si, enquanto assistem por um circuito privado de vídeo, como se dará, efetivamente, cada execução: morte rápida, lenta, decapitação, mutilação, estrangulamento, muito sangue, pouco sangue, etc. Lá pelas tantas as coisas fogem do controle desse pessoal da retaguarda da 'empresa' e dois dos jovens descobrem suas instalações secretas subterrâneas, e é quando muita coisa passa a entrar em jogo, incluindo a existência da humanidade se aquela horda de aberrações, mantida até então sob controle, for libertada e sair pelo mundo afora. A hora em que os garotos abrem os elevadores das criaturas é um dos momentos de maior caos que já se viu em filmes do gênero, e ao mesmo tempo um dos momentos mais "lindos" para fãs de terror. Tudo está ali: Lobisomens, vampiros, bruxas, ciclopes, górgonas, dragões, duendes doentios, crianças malignas, palhaços assassinos, répteis gigantes, zumbis famintos, surgem todos ao mesmo tempo, remetendo a diversas referências do mundo do cinema que entusiastas do gênero com certeza não deixam de notar. "Hellraiser", "It", "O Chamado", "Poltergeist", "O Iluminado", "A Noite dos Mortos-Vivos", "A Múmia", "O Monstro da Lagoa Negra", "O Massacre da Serra Elétrica" e outros mais... todos estão homenageados nas celas de vidro ou corredores de sangue da tal 'empresa', a fábrica de pesadelos do diretor Drew Godard. Um deleite para nós, cultuadores desses filmes! Uma crítica ao cinema hollywoodiano, seus vícios, seus padrões, seus métodos, sua influência e abrangência, mas também, de certa forma, uma cutucada quanto ao mundo em que vivemos como um todo, no qual uma minoria de poderosos, 'donos do mundo', decide como as coisas são e como devem continuar sendo. 


"POLTERGEIST, O FENÔMENO", de Tobe Hooper – USA (1982) - Assim como "O Exorcista", "Tubarão" e "Pânico", o filme de Tobe Hooper - àquela altura, início dos anos 80, bem melhor aparado pela indústria do cinema do que quando realizou na raça o independente "O Massacre da Serra Elétrica" em 1974 - é daqueles que títulos que, independentemente da colocação conforme o critério adotado para a seleção, não pode faltar a uma lista de 100 best horror of all times de jeito nenhum. Produzido por Steven Spielberg e com trilha do craque Jerry Goldsmith, além do enorme sucesso que fez à época de lançamento, tornando-se um marco dos filmes de terror assim como os citados acima, "Poltergeist" "cumpre" algo que nem sempre filmes do gênero, por mais bem feitos que sejam, conseguem alcançar: ele assusta. Depois de assisti-lo, nunca mais se olha para uma árvore ao lado da janela da mesma maneira.



“O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO”, de José Mojica Marins - BRA (1968) - O máximo que a lista da IndieWire vai fora da América do Norte, da Ásia ou da Europa é um filme do Oriente Médio (“Garota Sombria Caminha pela Noite”, do Irã) e outro da América do Sul, o chileno “Santa Sangre”. Talvez por essa pouca atenção além do circuito tradicional tenham deixado de voltar seu olhar para o Brasil e o seu grande ícone do cinema de horror: José Mojica Marins, o homem por trás do personagem cujo mundo é tão estranho quanto magnífico. Os gringos que não se façam de loucos, pois o conhecem muito bem como Coffin Joe, quando o brasileiro foi descoberto nos festivais internacionais de cinema como Avoriaz, nos anos 90, e passou a ser cultuado. Poderia ser o seminal “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” ou o lisérgico “O Despertar da Besta”, mas “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” é sua obra mais bem acabada e sintética do estilo híbrido de seu cinema, que vai do trash e o vampirismo ao gótico e o body horror.



“O MENSAGEIRO DO DIABO”, de Charles Laughton – USA (1955) - Se tem um filme absolutamente injustiçado nessa listagem publicada esse filme é "O Mensageiro do Diabo". Clássico da segunda fase do cinema noir, o único longa dirigido pelo experiente ator inglês Charles Laughton impressiona pela perfeição em todos os aspectos fílmicos: fotografia, roteiro, edição, trilha, atuações. E que atuações! Robert Mitchum, que encarnaria o perigoso Max Cady na primeira versão de "Cape Fear" 12 anos depois, leva muito para aquele papel o clima do personagem deste filme, o assassino de viúvas ricas Harry Powell. Mas não só Mitchum: a perseguida Willa, vivida por Shelley Winters e, principalmente, as crianças (Lilian Gish e Billy Chapin) dão um show de interpretação, lembrando o desempenho acima da média de outra dupla de pequenos atores noutro título clássico do terror: "Os Inocentes" (41° da lista).





“AS DIABÓLICAS”, de Henri-Georges Clouzot – FRA (1955) - Um dos critérios adotados pela IndieWire para compor a lista é de que os filmes não fossem somente fantásticos, mas também dessem medo. Seguindo esta lógica, "As Diabólicas" não estar presente é definitivamente um equívoco. Uma das mais marcantes obras da cinematografia francesa dos anos 50 pré-Nouvelle Vague, "As Diabólicas" assusta pra caramba! Michel Delassalle dirige com mão de ferro um pensionato para meninos, assistida por sua doce esposa Christina. Ele tem por amante Nicole Horner, professora da instituição. Cansadas do despotismo de Michel, as duas mulheres unem para assassiná-lo. Alguns dias depois do crime, no entanto, o cadáver desaparece e situações estranhas começam a se suceder. Esteticamente impressionante, algo expressionista, é contado de forma magistral pelo diretor Henri-Georges Clouzot, mestre de narrativas tensas a se ver pelo sufocante Palma de Ouro "O Salário do Medo", de 1953. O ambiente sombrio do pensionato, a figura arrepiante de Simone Signoret como a fria Nicole e, principalmente, as reviravoltas do roteiro, fazem deste filme uma obra-prima do gênero do terror. Ah: e é uma das inspirações de Hitchcock para produzir "Psicose". Não precisa dizer mais nada, né?


trailer de "As Diabólicas"



"A CASA QUE PINGAVA SANGUE", de Peter Duffell - ING/IRL (1971) - Típico filme de terror inglês "das antigas": histórias criativas, instigantes e bem contadas. Reunião de quatro histórias que são contadas ao Inspetor Holloway, que investiga o misterioso desaparecimento do ator de filmes de terror Paul Henderson após mudar-se para uma antiga casa. Assassinos que saem dos livros para a realidade, um museu de cera que desperta desejos proibidos, uma menina alijada de uma boneca e uma capa capaz de dar poderes a um homem fazem dessa reunião de pequenos filmes - mas interligados entre si - daqueles clássicos que dava gosto de assistir na tevê com a dublagem da TKS. E ainda conta no elenco com o veterano Peter Cushing, que viveria Sherlock Holmes no cinema em 1984, e ele: Christopher Lee, lenda do terror.





“HALLOWEEN III – A NOITE DAS BRXAS”, de Tommy Lee Wallace – USA (1982) - Tá ok: já tem o clássico “Halloween” do Carpenter, o filme que melhor captou o lado sombrio dessa comemoração muito peculiar da cultura norte-americana, abrindo a porta para uma interminável sequência que perdura até hoje, mais de 40 anos após seu lançamento. Mas é impossível não referir nessa relação de melhores de terror uma dessas sequências, a de nº 3. Curiosamente (e isso é uma das qualidades do filme de Tommy Lee Wallace), não tem nada a ver com a história do assassino Michael Myers entabulada nos até então outros dois anteriores. Mas a principal qualidade de “Halloween III” é o de ser absolutamente arrepiante como poucos filmes o são. Antecipando a viagem paranoico-televisiva de “Videodrome” de Cronenberg e resgatando ideias de obras como “Invasores de Corpos”, dos filmes de zumbis, inova a abordagem dos filmes de bruxa ao adicionar, inclusive, a crítica ao sistema capitalista, capaz de penetrar no cérebro dos consumidores e lobotomizá-los para vender seus produtos. Isso tudo sem deixar de ser sanguinolento. Em uma época em que se começava a discutir os efeitos nefastos da propaganda subliminar, é de arrepiar só de ouvir aquele jingle maldito mas aparentemente inocente.



Cly Reis
Daniel Rodrigues

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

cotidianas #846 - Semi-humano (Mordida)




Dizem que quem é mordido fica igual a eles.

Eu não sei ainda. Quero dizer..., ainda não tenho certeza. Tenho que esperar as próximas horas. Ou os próximos minutos. Não sei quanto tempo. O que sei é que dói. Acho que uma mordida humana doeria de qualquer maneira mas o ferimento está muito feio. Pode ser que eu esteja apenas impressionado, meio em choque mas o fato é que a ferida parece apodrecer a cada minuto. Minuto... Não sei quanto tempo tenho até virar um deles. Se é que vou virar. E como será? De um instante para o outro deixarei de ser o cara que sempre fui, cordial, gentil (me considero uma boa pessoa, ora), e vou sair arrebentando a porta desse porão e sair numa fúria assassina tentando devorar meus semelhantes? Que horror! Se bem que lá fora já não deve haver muitos como eu. Digo, como eu normal, são, sem a mordida. Humano. (Ainda). Isso se for mesmo a mordida que provoca isso tudo. Ah, já não sei de mais nada! Só me resta esperar. Quanto tempo será que ainda tenho?




Cly Reis

"A Primeira Profecia", de Arkasha Stevenson (2024)

 


"A Primeira Profecia" é um "Imaculada" só que com a mácula. Muito semelhante ao recente bom filme também protagonizado por uma freira, só que neste, da diretora Arkasha Stevenson, o mal realmente está lá.

Na ânsia da referência, da homenagem ou da identidade, muitas cenas são praticamente 'copiadas' do "A Profecia"  de 1976, como a barra caindo na cabeça do padre (empalamento), a garota se jogando do telhado (só que desta vez em chamas), o cara sendo partido ao meio (só que aqui sem o vidro), tudo de modo a estabelecer o laço e refrescar a memória do espectador que tem o filme original como referência. 

"A Primeira Profecia", na verdade, é uma prequela do clássico "A Profecia", do de Richard Donner, e como tal, dá sentido, motivos e explicações para fatos que aparecerão no futuro, no caso, coisas que já conhecemos do clássico de 1976. Nele, uma jovem norte-americana que é enviada a Itália para prestar seus serviços religiosos num convento em Roma. Lá se depara com fatos estranhos, acontecimentos obscuros e atitudes misteriosas das pessoas da ordem religiosa e de outros à sua volta. Coisas que a fazem questionar sua fé e suspeitar que talvez faça parte de uma macabra trama que espera pretende trazer ao mundo a personificação do mal, o verdadeiro anticristo.

Apuro estético, ótimo trabalho fotográfico, referências cinematográficas diversas e uma coerente e bem montada amarração que encaminha para a adoção do menino demônio que virá a ser o protagonista d'A Profecia". O resto nós já sabemos como acontece.

Destaque para Sônia Braga como a sinistra Madre Superiora

"A Primeira Profecia"
Título Original: "The First Omen"
Direção: Arkasha Stevenson
Gênero: Terror
Duração: 117 min.
Ano: 2024
País: EUA
Onde encontrar: Disney+

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Cly Reis

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Entidade Paranormal

 









Entidade Paranormal - REIS, Cly
 (foto de superfície reflexiva 
com edição digital posterior) 



Entidade Paranormal
Cly Reis

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Bombardeio em Laranjeiras

 



Bombardeio 1



Bombardeio 2







Escultura de avião da Praça Del Prete (Praça do Avião),
no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro
fotos tiradas a partir do viaduto Engenheiro Noronha
com tratamento digital posterior
por Cly Reis

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

"Culpa", de Gustav Möller (2018)

 



Prova que se pode fazer um filmaço, basicamente, com um ator e um telefone.

Um policial, Asger Holm, punido internamente na instituição com a tarefa de ocupar a central de emergências telefônicas enquanto seu processo não é julgado, entre ligações corriqueiras de badernas, acidentes de trânsito, pequenos delitos, acaba se envolvendo excessivamente em um dos casos que atende de uma briga conjugal na qual, aparentemente, uma mulher está sendo ameaçada e diz estar sendo sequestrada pelo próprio marido. Muito em função da culpa que carrega devido à sua conduta em um caso que não sabemos exatamente do que se trata, mas que ao que parece, ocorrera há pouco tempo e tem implicações sérias dentro da polícia, Asger tenta de todas as maneiras resolver o caso de modo a, diante de sua consciência, se 'redimir'.

O interessante, e um dos grandes méritos do longa, é que vivemos todas as emoções fora da sala de telefonia, ficamos apreensivos, 'vemos' todas as situações, mesmo ele não deixando em momento algum a central telefônica. Asger até circula entre uma sala de telefonia e outra, usa a outra linha, vai até a porta, muda de mesa, mas não há externas. As imagens do que NÃO VEMOS entram na cabeça do espectador de uma forma tensa e angustiante.

E, por incrível que pareça, mesmo limitado, praticamente, por quatro paredes e uma linha telefônica, "Culpa" tem uma impressionante reviravolta...

(Já falei demais.)

Merece meus aplausos.

O policial Asger em sua mesa com o headset é praticamente o que vemos o tempo todo.
Mas não se engane: isso não torna o filme menos interessante de forma alguma.



"Culpa" 
Título original: "Den skyldige"
Direção: Gustav Möller
Gênero: Suspense / Drama
Duração: 85 min.
Ano: 2018
País: Dinamarca
Onde encontrar: Prime Video (compra)


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Cly Reis

sábado, 12 de outubro de 2024

CLAQUETE ESPECIAL Dia das Crianças - "Os Meninos" ("¿Quién puede matar a un niño?"), de Narciso Ibañez Serrador (1976)

 



"Como sempre,
os mais afetados pelas guerras
são as crianças."
trecho da narração do
'documentário' de introdução.



Nos conflitos, nas crises, nas tragédias, nas catástrofes, quem mais sofre nessas situações? Seja pela vulnerabilidade, pela fragilidade, pela dependência, pela inocência, ao longo da história, as crianças tem sido vítimas costumazes de todas as barbaridades que o homem consegue produzir. E se, cansadas de tudo que os adultos as submetem, as crianças se revoltassem? Resolvessem tomar o mundo só para elas? Se livrarem dos homens e mulheres que já não carregassem a pureza da infância? 

Em um formato inusitado de documentário, o diretor Narciso Ibañez Serrador faz questão de nos apresentar, ainda nos créditos de "Os Meninos", uma série de imagens de guerras, como a da Coreia, guerra do Vietnã, Segunda Guerra, Biafra na Nigéria, nas quais crianças, de alguma forma, sofrem com as consequências desses conflitos, revelando ao espectador números assustadores dessas vítimas inocentes. Milhares, milhões de crianças mortas!

Elas não teriam razão de se revoltar?

Pois a revolta, a conscientização coletiva de uma reação por parte dos pequenos tem início em uma ilhota, do outro lado de um popular balneário na Espanha. Em alta temporada, um casal em férias, tom e Evelyn, antes do nascimento do bebê que está para chegar, resolve passar alguns dias no lugarejo, só que chegando lá estranham o ambiente deserto, desabitado, sem serviços ou informações, e não podem deixar de notar que somente crianças circulam pelo local. Não tardam também a perceber que estas representam uma ameaça às suas vidas e à do bebê que Evelyn carrega. A estadia na ilha, então, que deveria ser o momento de tranquilidade do casal, se torna uma corrida pela vida.

Na cena da menina do bar, 
não sabemos o que esperar da garota.
Curiosidade? Ternura? Um esfaqueamento? Uma maldição?

Filme muito bem conduzido. Logo quando o casal ainda chega ao balneário, um corpo é encontrado no mar e é retirado do local numa ambulância, mas só depois é que entendemos que o cadáver possivelmente fora uma pessoa morta na ilha pelas crianças e que flutuara até a praia. Na ilha, a fotografia precisa, misteriosa, as vielas desertas, a sensação de abandono ou fuga do hotel, do restaurante, tudo muito bem planejado, causa uma sensação de inquietude constante. A cena do bar abandonado em que uma menina surge, se aproxima e acaricia a barriga da grávida, causa uma mistura de sensações: curiosidade, tensão, alerta, medo, expectativa... 

"Os Meninos" é uma espécie de "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock, só que com crianças, só que naquele, embora especulemos uma série de possibilidades a respeito do comportamento doas animais, não temos, em momento algum uma explicação para aquele ataque. Já em "Os Meninos", toda aquela introdução com imagens chocantes de guerras e números assustadores mortes, sem dúvida alguma, pretende, no mínimo, dizer, "É por esses motivos que eles estão assim". E daria para culpá-los?

A ironia do filme e uma questão que o diretor deixa no ar é que, se concretizada a dominação das crianças, aquela revolta saindo dos limites da ilha e se espalhando para o mundo, se aqueles pequenos, tão cheias de ódio, não fariam um mundo pior ou igual ao que vivem? Mais guerras, mais mortes, mais , injustiças, egoísmo... Sem falar numa coisa óbvia que, certamente, mais cedo ou mais tarde faria diferença: crianças crescem e se tornam adultos...

E adultos, nós bem sabemos, costumam estragar seu próprio mundo.



Assista:

"Os Meninos" ("¿Quién puede matar a un niño?"), 

de Narciso Ibañez Serrador (1976)



"Os Meninos" 
Título original: "¿Quién puede matar a un niño?"
Direção: Narciso Ibañez Serrador
Gênero: Suspense / Terror
Duração: 111min.
Ano: 1976
País: UK / Espanha
Onde encontrar: YouTube


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Cly Reis

terça-feira, 24 de setembro de 2024

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

cotidianas #842 - Euforice





Eunice
vivia tamanha euforia
naquele dia
que poder-se-ia,
classificar aquele estado,
praticamente,
como uma
Euforice

******************
"Euforice"
Cly Reis

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

cotidianas #841 - Natureza

 



Carolina sempre tivera uma ligação muito forte com a avó, muito próxima. Na verdade, todos no bairro adoravam Dona Tereza. Senhora alegre, falante, espontânea. Era a típica vozona, aquela cúmplice e protetora dos netos. Para Carolina, Dona Tereza era como uma mãe. Foi quem mais a incentivou quando decidira ingressar no curso de assistente social, mesmo diante da resistência do pai de Carolina, seu filho, que considerava uma profissão 'pra morrer de fome'.
Carolina cursou, se formou e, apoiada pela avó, foi para o Rio tentar a vida na cidade. Batalhou, fez concursos, entrevistas, até que conseguiu trabalho. Um bom trabalho! Conseguiu se estabelecer, montar apartamento e garantir uma vida estável e sabia que devia muito daquilo ao incentivo da avó.
Mantinha contato, voltava à cidade natal sempre que possível, mas a correria da vida, o dia a dia atropelado e cheio de obrigações, fizeram com que esse contato fosse rareando.
Ligava para o pai, recebia notícias da avó mas o fato é que o tempo passava e, inevitavelmente, Dona Tereza fica mais velha. A saúde já não era a mesma, as deficiências da idade já se manifestavam de maneira implacável, até que um dia recebera a notícia que nunca gostaria de ouvir: a avó havia falecido.
Pediu licença do trabalho, tirou uns dias e voltou à sua cidadezinha, no interior da Bahia para o adeus à tão amada vozinha.
Enterro, despedida, abraços, lágrimas, enfim... Fazer o quê? Todo mundo vai um dia. É da natureza.
Na casa do pai, já mais consolada e conformada, chegando da cerimônia fúnebre, Carolina, cansada do dia longo e desgastante, deixou-se desabar no sofá. Fechou os olhos, repassou, num flash, momentos com a avó. Sorriu. Ah, Dona Tereza! À sua frente, na mesa de centro, estava a pasta de elástico com a certidão de óbito. Como que numa certificação, agora sim, oficial do que acabara de ver no cemitério, resolvera ler o documento: Naturalina Maria Conceição dos Santos.
Como assim?
Erraram o nome da sua avó?
E nem tinha Tereza no nome.
Erguera-se num salto e saiu atrás do pai pela casa.
Mostrou-lhe o erro.
Erro nenhum.
Sua mãe, avó de Carolina, chamava-se, sim, Naturalina. Os vizinhos é que achavam muito complicado, difícil de lembrar, aí associavam com natureza: Naturalina, natureza, Naturaleza, natural, Tereza... Misturaram as coisas e simplificaram. Tereza pegou, e dona Naturalina ficou mesmo conhecida como Tereza.
Carolina agora ria. Nunca soubera o verdadeiro nome da avó. Era uma espécie de batismo após a morte. Mas seria muito estranho, agora, passar a se referir àquela mulher que estivera perto dela a vida toda como Naturalina. Seria quase como se tivesse sido outra pessoa. Dissesse a certidão de nascimento ou a de óbito o nome que fosse, para Carolina, aquela mulher de quem acabara de se despedir sempre seria a vó Tereza. Assim era natural para ela.

Cly Reis

para Ana Carolina
(inspirado em
fatos verídicos)

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Kula Shaker - "K" (1996)

 




"Govinda Jaya Jaya
 Gopala Jaya Jaya"
saudações à deusa Krishna
na canção "Govinda"



Cara, Kula Shaker é muito Beatles!

Mas calma, não precisam se exaltar os beatlemaníacos mais apressados. Não estou dizendo que é igual, não estou dizendo que é melhor. Não são os novos Beatles. Mas a vibe de "K", o disco de estreia desses ingleses é muito a cara do quarteto de Liverpool. A psicodelia, a "pureza", aquela energia com ares de rock sessentista, os vocais em dueto, os coros de fundo nos refrões, o experimentalismo, a produção com aquela sujeira quase artesanal das guitarras... Tudo está lá.

"Into the Deep", "Magic Theatre", "Hollow Man", dividida em duas partes igualmente viajandonas, e até "Grateful When You're Dead", que faz referência direta a outra banda (Grateful Dead), são provas incontestes dessa influência.

Isso sem falar no toque oriental, indiano, característico daquelas coisas que George Harrison, especialmente, gostava de fazer, e que dão a tônica praticamente de todo o álbum. A própria capa não deixa dúvidas, não. "Sleeping Jiva", instrumental executada toda com instrumentos típicos hindus; a lisérgica "Tattva" um transe rock'n roll; a celebração reverencial de "Temple of Everlasting Light"; e, especialmente, "Govinda", uma peça apoteótica, e a que melhor conjuga o psicodelismo rock'n roll com a sonoridade exótica e suas representatividades espirituais, são os melhores exemplos dessa revisita aquela rica fusão que Harrison já levara seus companheiros de banda a experimentar lá nos idos dos 60's.

Destaque também para o rock estridente da vibrante "303", para a balada folk "Start All Over, com cara de "Rubber Soul", e para o funk-rap-krishna psicodélico "Hey Dude", cuja semelhança, "por mínima que seja", com algum título de música dos Beatles que você conheça, provavelmente, não terá sido mera coincidência.

Imitação? Não. Eu diria inspiração. E os rapazes do Kula Shaker tiraram bom proveito da fonte nesse seu magnífico "K".


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FAIXAS:

  1. Hey Dude
  2. Knight on the Town
  3. Temple of Everlasting Light
  4. Govinda
  5. Smart Dogs
  6. Magic Theatre
  7. Into the Deep
  8. Sleeping Jiva
  9. Tattva
  10. Grateful when You're Dead / Jerry Was There
  11. 303
  12. Start All over
  13. Hollow Man

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Ouça:
Kula Shaker - K


Cly Reis 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Homem Pautado

 



Homem Pautado - REIS, Cly
grafite sobre folha pautada com trabalho digital posterior




Homem Pautado
Cly Reis

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

"A Mesa da Sala de Jantar", de Caye Casas (2022)


"Acho que nunca, 
nem uma vez na vossa vida, 
viram um filme tão sombrio como este. 
É horrível e terrivelmente engraçado. 
É o sonho mais negro dos irmãos Coen."
Stephen King



Fui levado a crer, pelo título, que a mesinha seria o centro da trama, algo demoníaco, sobrenatural, amaldiçoado. O diretor Caye Casas bem que astutamente colabora para essa indução começando o filme com um parto, depois entrando com uma cena longa em que um casal, com um bebê do colo, compra a mesa de centro de um vendedor um tanto bizarro e insistente, numa loja meio obscura... A gente logo pensa, "tem coisa aí". Mas não tem! Na verdade, "A Mesa da Sala de Jantar" é mesmo um terror psicológico familiar angustiante e, embora o móvel tenha papel crucial nos acontecimentos, o desenvolvimento todo não se fixa nele.
Não vou entrar em detalhes, para quem não tenha assistido, mas, basicamente, um trágico acidente doméstico acontece às voltas com uma mesa de centro recém adquirida e o proprietário do novo móvel, Jesus, se vê sem saída diante das atitudes a tomar antes que a esposa volte do supermercado e das consequências que o incidente, inevitavelmente, virá a ter... mais cedo ou mais tarde.
Olha, é impactante, é inquietante, chocante, de roer as unhas. Nos vemos tão ansiosos e sem soluções quanto o perdido e desesperado Jesus.
Havia ouvido falar bem desse filme mas ele me surpreendeu além da expectativa. 
Pra ter uma ideia do quanto estava bem falado, até o Stephen King elogiou!
E se até o cara que é mestre nesse tipo de coisa gostou, quem seria eu para discordar?

O casal sendo convencido pelo esquisito vendedor e,
diante deles, a tal mesinha.


"A Mesa de Café"
Título Original: "La Mesita del Comedor"
Direção: Caye Casas
Com: David Pareja e Estefania de Los Santos
Gênero: Terror Psicológico/Suspense/ Comédia de Humor-Negro
Duração: 91 min.
Ano: 2022
País: Espanha

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por Cly Reis