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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022
Música da Cabeça - Programa #249
domingo, 9 de janeiro de 2022
DOSSIÊ ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2021
O velho Wayne de olho no trono dos Beatles |
2021 foi o ano do jazz nos ÁLBUNS FUNDAMENTAISÁLBUNS. Das 29 obras destacas na nossa seção de discos, 11 foram do refinado estilo norte-americano. Se aproveitando desse predomínio, neste período, o craque Wayne Shorter encostou definitivamente no pessoal de cima. Ainda não alcançou os Beatles, que continuam liderando, mas, junto com seu companheiro de sopro, Miles Davis, que também chegou nas cabeças, já começam a botar uma certa pressão nos rapazes de Liverpool. A propósito da Terra da Rainha, curiosamente no último ano, não tivemos NENHUM artista britânico teve discos incluídos na nossa seção. as ações ficaram basicamente divididas entre norte-americanos e brasileiros, com destaque para o primeiro japonês na lista, o versátil Ryuichi Sakamoto.
No que diz respeito aos brasileiros, Caetano Veloso que dividia a liderança com Jorge Ben, agora toma a frente isoladamente por conta pela participação no disco "Brasil", com João Gilberto, Bethânia e Gilberto Gil. Mas a disputa está tão apertada quanto no internacional e qualquer disco aqui, disco ali, no ano que chega, pode mudar o panorama.
Entre as décadas com mais obras mencionadas, os anos 70 continuam imbatíveis, embora o ano que aparece mais vezes seja o de 1986. Chama atenção que cada vez mais é inevitável que seja reconhecida a qualidade e se projete a relevância de trabalhos recentes, o que faz com que venham aparecendo com mais frequência, em maior número e cada vez mais fresquinhos, como foi o caso do recém lançado "Carnivore", do Body Count, que mal nasceu e já figura entre os melhores.
Então, vamos aos números que é o que interessa. Chegou a hora da verdade!
- The Beatles: 6 álbuns
- David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis e Wayne Shorter: 5 álbuns cada
- Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, John Coltrane e John Cale* **: 4 álbuns cada
- Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Lee Morgan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
- Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, Body Count, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Caetano Veloso: 6 álbuns*
- Jorge Ben: 5 álbuns **
- Gilberto Gil* **: 5 álbuns
- Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
- Gal Costa, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto* ****: 3 álbuns cada
- Baden Powell**, João Bosco, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 3
- anos 40: -
- anos 50: 19
- anos 60: 96
- anos 70: 138
- anos 80: 116
- anos 90: 89
- anos 2000: 13
- anos 2010: 15
- anos 2020: 2
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 22 álbuns
- 1977: 19 álbuns
- 1969 e 1985: 17 álbuns
- 1967, 1972, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
- 1968 ,1970 e 1991: 15 álbuns cada
- 1971, 1979, 1980 e 1991: 14 álbuns
- 1965, 1975 : 13 álbuns
- 1965 e 1992: 12 álbuns cada
- 1964, 1966, 1987,1989, 1990 e 1994: 11 álbuns cada
- 1978: 10 álbuns
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 192 obras de artistas*
- Brasil: 139 obras
- Inglaterra: 114 obras
- Alemanha: 9 obras
- Irlanda: 6 obras
- Canadá: 4 obras
- Escócia: 4 obras
- México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
- Japão, País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
Emílio Santiago - "Emílio Santiago" (1975)
As duas versões da capa do disco lançado pela CID em 1975 |
Em meados dos anos 70, todo mundo sabia que a chegada de Emílio Santiago ao cenário musical significava o ápice da arte do canto na música brasileira. Menos o próprio Emílio Santiago. Havia décadas que os tronos restavam devidamente ocupados: Roberto Carlos reinando para as massas; Orlando Silva, uma lenda vida; Cauby Peixoto emocionando plateias; Nelson Gonçalves mantendo a tradição da Rádio Nacional; Agnaldo Timóteo caprichando no “dó de peito”. Até que surgiu um cantor que não só reunia todas as qualidades de seus colegas quanto, ainda, era capaz de superá-los. Dono de uma voz de barítono que conectava num tempo potência, leveza e perfeição técnica, além de um timbre aveludado inconfundível, Emílio há muito impressionava. Embora sua fama já corresse havia um tempo, aquilo que todos desconfiavam aconteceu de fato somente em 1975, quando lança, pela Companhia Industrial de Discos (CID), seu álbum de estreia e se confirma como o mais completo talento masculino da arte de interpretar canções no Brasil.
Precisou, no entanto, que muita água passeasse debaixo da ponte para que o próprio Emílio se convencesse disso. Desde os anos 60, quando ainda estudante de Direito na Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, sua cidade-natal, ele ansiava pela emancipação que seus antepassados não tiveram. Sabia que pertencia à primeira leva de negros brasileiros de uma recente classe média que chegava à universidade após séculos de escravidão e poucas décadas de liberdade. Não queria perder, portanto, a oportunidade de se tornar alguém reconhecido e, por isso, pensava em formar-se advogado ou até, quem sabe, diplomata. Porém, nem desconfiava que seria por outro caminho que este reconhecimento viria. Na faculdade, quando não estava em sala de aula estudando as leis, Emílio cantava nos bares em roda de amigos. Mas como o seu talento era evidente para os outros, mas não para o próprio Emílio, que relutava em se tornar um cantor profissional, por obra divina, quando as inscrições do festival de música da faculdade foram abertas, os amigos o inscreveram sem que ele soubesse. Resultado? Emílio participou e venceu o concurso, chamando a atenção dos jurados, entre eles, Beth Carvalho.
A partir daí, a música já falava mais alto na vida de Emílio. Sua presença em festivais estudantis passou a ser frequente, ganhando todos os concursos dos quais participava. Formou-se em Direito, mas abandonou a toga para dedicar-se àquilo que agora ficava-lhe claro que havia ganho de sobra dos céus: a voz. Participou do programa de auditório de Flávio Cavalcanti, trabalhou como crooner da orquestra de Ed Lincoln e substituiu Tony Tornado quando este saiu para disputar o V Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Já famoso no meio musical foi, então, que Emílio gravou, enfim, seu primeiro e aguardado disco. O prestígio era tamanho que ninguém quis ficar de fora daquele projeto, o qual reuniu músicos do mais alto gabarito como João Donato, Azymuth, Ivan Lins, Tita e Dori Caymmi, que fizeram questão de montar a cama para que sua voz de ouro brilhasse soberana.
O repertório, inteligentemente bem montado, trazia canções de compositores consagrados e de várias épocas e vertentes, mas não óbvias escolhas. Começava ali a se configurar um estilo de repertório que marcaria sua carreira. De Gilberto Gil, nada de consagradas como “Aquele Abraço” ou “Procissão”, e, sim, “Bananeira”, coautoria com Donato que, inclusive, conta com este ao piano elétrico e na assinatura do arranjo, de ares jazzísticos e certamente um dos mais brilhantes de toda a música brasileira. Emílio, depois de muito relutar, agora tinha plena noção de que seu debut devia ser à altura do tamanho que já alcançara. Por isso, “Bananeira” é mais do que somente a faixa de abertura do álbum, e, sim, um “cartão de visitas”. Samba-funk com cores da soul como é típico dos sopros em tons médios de Donato, tem, no entanto, na voz elástica de Emílio uma prova de que estava ali o cantor mais versátil que a MPB via até então. E que “cozinha”: Ariovaldo e Orlandivo na percussão; Vitor Assis Brasil, Zé Bodega e Aurino Ferreira no sax; Carlos Roberto Rocha e Durval Ferreira na guitarra; Edson Maciel, no trombone; e Marcio Montarroyos no trompete!
Muita classe para interpretar o samba-dark de Nelson Cavaquinho “Quero alegria”, dando ao partido-alto um tom de bossa-jazz, o qual conta novamente com Donato no arranjo e electric piano, mais o arranjo de cordas de Dori. Ainda, o baixo magistral do “Clube da Esquina” Novelli e a bateria igualmente classuda de Wilson das Neves marcando o ritmo. A melodiosa “Porque Somos Iguais”, com a participação de outros craques – a guitarra de Helio Delmiro, a bateria de Ivan Conti "Mamão" e a flauta de Danilo Caymmi, além do arranjo do irmão Dori – é mais uma prova da capacidade interpretativa de Emílio, bem como ”Batendo a porta”, outro samba que vem na sequência. De autoria da certeira dupla Paulo César Pinheiro e João Nogueira, aqui, é à malandragem que o ex-office boy morador do subúrbio recorre para cantar com a malemolência que o carioca tem. O célebre refrão (“Pode tentar, pode me olhar, pode odiar/ E pode até sair batendo a porta/ Que a Inês já é morta do lado de cá”), conhecido na voz potente de Nogueira, ganha na versão de Emílio uma elegância insuperável. Novamente, que arranjo de Donato! E ainda conta com os serviços de Copinha, lenda da flauta.
O primeiro lado do LP ainda traz Emílio cantando uma das duas de Ivan Lins no disco, “Depois”, com arranjo e piano do próprio e o acompanhamento do grupo Modo Livre. Fortemente combativo à Ditadura Militar em suas canções à época, Ivan não amolecia nesta. O que os milicos achavam tratar-se de uma lamúria romântica, era, na verdade, um recado de resistência: “Não vou no teu segredo eu já sei/ Vou aumentar teu medo eu bem sei/ Não me arrependo e fico na lei/ A culpa só se pune uma vez”.
Depois de virar o vinil num samba-canção “barra pesada”, mais uma surpresa, que demonstrava toda a versatilidade e inteligência de repertório de Emílio. Assim como iniciou o disco, com uma autoria de Gil e Donato menos óbvia, na segunda metade ele faz o mesmo, porém com outro consagrado compositor da música brasileira: Jorge Ben. “Taj Majal”? “Fio Maravilha”? “Chove Chuva”? Como diria o próprio Ben, “mas que nada”! Emílio simplesmente regrava a improvável “Brother”, do cultuado disco “A Tábua de Esmeraldas”, gravado por Ben um ano antes mas que, até então, ninguém havia sondado em explorá-la. E o faz resgatando a tarimba de crooner ao desenvolver num belo inglês a letra original deste gospel transformado em samba-rock. As ajudas, também, são à altura: a lendária Azymuth na base, Assis Brasil no sax alto; Delmiro na guitarra; Zé Bodega no sax barítono; percussão de Orlandivo e Ariovaldo mais Chacal; e um coro que conta, entre as vozes, com as de Lucinha Lins e as irmãs Jurema e Nair. Pouco mais de 2 min de puro suingue e maestria.
A rumba “La Mulata”, dos irmãos Valle, quebra mais uma vez a linearidade e transporta o ouvinte para um novo universo. E quando se fala em ritmo latino, claro que Donato estaria presente. É ele quem, novamente, assina o arranjo e ataca nos teclados, enquanto os sopros conversam entre si e a sessão rítmica, composta pelo trio da percussão Wilson, Ariovaldo e Orlandivo, garante o sacolejar dos quadris. Noutro samba de morro, a clássica “Nega Dina”, de Zé Keti, repete-se o primor de Emílio para este tipo de tema. Aqui, no entanto, Donato com ginga nos teclados (mais a graciosa flauta de Copinha) garante um arranjo orgânico, com breques insuspeitos e compasso propício para Emílio desfilar seu barítono invejável.
Ivan Lins, que havia concluído o lado A, volta agora a ser interpretado noutro samba ainda mais mordaz: “Doa a quem doer”. “Eu não sei ganhar/ Que eu só sei perder/ Que eu não sei matar Eu só sei morrer (...)/ Nessa escuridão/ Quero me acender/ Quero me atiçar/ Doa a quem doer”. Precisa dizer mais? Arranjo magistral de Gilson Peranzzetta, que trabalhava à época com Ivan em seus discos, e a Modo Livre de Joãozinho, Luiz Carlos, Wagner Santos e cia. se despede do disco, que já vai chegando ao final. E que final! O que começa como uma balada somente ao violão, “Sessão das Dez”, vai aos poucos evoluindo para um blues pra lá de sensual. O vozeirão de Emílio, quase sussurrado na primeira parte, faz arrepiar. Arrepia também o sax intenso do genial Assis Brasil, o violão da autora Tita e o electric piano de Laércio de Freitas, que assume somente para esta faixa o arranjo, inclusive das cordas, comandadas pelo germânico-brasileiro Peter Dauelsberg. Cazuza certamente se inspiraria muito neste tema anos mais tarde.
A admiração da crítica e do meio artístico Emílio já tinha antes de lançar sua marcante estreia fonográfica. Outros belos discos vieram na sequência, porém, o sucesso comercial demorou. Voz e qualidade musical tinha de sobra; precisava era acertar o conceito. Foi, então, somente na segunda metade dos anos 80, que Emílio obteve o verdadeiro reconhecimento das massas com a série “Aquarela Brasileira”, lançada pela Som Livre e produzida por Roberto Menescau. Os pout-pourri de sambas-enredo e o repertório pop com músicas como “Você é Linda”, “Bem que se Quis” e os megahits “Saigon” e “Verdade Chinesa” caíram nas graças do público e Emílio vendeu como jamais havia conseguido. No entanto, os admiradores de antes torceram o nariz para a “plastificação” da sua sonoridade, bastante pobre na comparação com trabalhos antigos.
Independentemente dessa discussão, Emílio forçou que se providenciasse um novo trono no panteão dos grandes cantores da MPB. Gay, preferiu em toda a carreira a discrição como fizeram Johnny Alf e Assis Valente, artistas negros como ele igualmente sabedores do preconceito que sofreriam. Ainda ganharia um Grammy Latino como melhor álbum de Samba-Pagode por “Só Danço Samba Ao Vivo”, de 2011, até sofrer um AVC dois anos mais tarde, que tirou sua vida prematuramente aos 66 anos. Como se vê, não fosse o abreviamento do destino, Emílio Santiago estaria produzindo e logrando reconhecimentos como fez desde que entendeu que o mundo inteiro cabia em sua voz.
FAIXAS:
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
Música da Cabeça - Programa #226
Não é o "Baile da Favela" da Rebeca Andrade, mas também tem muito ritmo o programa de hoje. Fazendo a trilha do nosso baile tem Gilberto Gil com Jorge Ben, Red Hot Chili Peppers, Lee Morgan, Ivan Lins, Talking Heads e outros. No "Cabeça dos Outros", a cantora inglesa Arlo Parks no pedido do ouvinte e também um "Música de Fato" e "Palavra, Lê". Dá pra falar até em japonês, que você já sabe: vai ter baile do MDC às 21h, na laje da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e passinho: Daniel Rodrigues.
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quarta-feira, 14 de julho de 2021
Música da Cabeça - Programa #223
A vida não tá fácil nem aqui e nem em Cuba, né minha filha? Para facilitar um pouquinho as coisas, a gente só traz coisa boa no MDC desta semana. Saca só: Cibo Matto, Electronic, Jorge Ben Jor, Miles Davis, MF DOOM, Barão Vermelho e mais. Tem também notícia e letra de música homenageando os 7.5 de João Bosco. Então, ouve o programa hoje, às 21h. É fácil: só sintonizar na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e una cuba libre bem gelada (que ninguém é de ferro): Daniel Rodrigues
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quinta-feira, 17 de junho de 2021
“Sergio Mendes no Tom da Alegria”, de John Scheinfield
E dizer que eu virava a cara para Sergio Mendes... Visão totalmente equivocada a minha, como se, para ser músico, precisasse necessariamente ser um prolífico compositor. De fato, esso não é o caso de Mendes, pianista que erigiu sua carreira em grande parte sobre o repertório de outros autores elaborando engenhosos arranjos que unem sofisticação harmônica à satisfação pop. Foi isso que ele fez com maestria em temas como “Mais Que Nada”, do Jorge Ben, “Água de Beber”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e "Fool on the Hill", dos Beatles, por exemplo, para citar três clássicos de seu cancioneiro. Mas parecia-me insuficiente, pois dava-me a impressão de que tanto sua obra era menor por causa disso quanto seu êxito se dava justamente pelo critério muitas vezes simplista do público norte-americano. Superados meus preconceitos e já admirador da obra de Mendes há algum tempo, assisti com muito prazer a “Sergio Mendes no Tom da Alegria”, documentário dirigido e roteirizado por John Scheinfield, premiado documentarista norte-americano afeito aos registros audiovisuais de músicos como John Coltrane, Herb Albert, John Lennon e Bing Crosby.
A produção gringa, no caso de Mendes, se justifica plenamente. Desde que o Regime Militar o afugentou do Brasil dias após o Golpe de 1964, o músico, que já tinha contatos e nutria certo respeito na terra de Charlie Parker já da época em que a bossa nova estourara por lá no início dos anos 60 (havia gravado, em 1963, por exemplo, um disco em parceria com Cannonball Adderley), decide fazer as malas e seguir carreira por lá. E dá muito certo. Depois de alguma batalha inicial na nova terra, sua inteligência musical o condicionou a criar a Brasil 66, banda que contava com músicos brazucas e ianques e com a qual gravou nove discos entre 1966 e 1971 de estrondoso sucesso. Com o grupo, Mendes juntava a brasilidade do samba e a levada do jazz e da soul, criando um híbrido até então inédito que virou cult. Os gringos, desde então, o reverenciam - até mais do que os brasileiros. Nessa lista de admiradores, estão Quincy Jones, Herb Albert, Lani Hall, John Legend e Black Eyed Peas.
Mendes e sua Brasil 66:a música brasileira ganha os EUA |
Numa narrativa um tanto comum, mas eficiente, “Sergio Mendes no Tom da Alegria” faz uma louvação aos então 80 anos que o artista completara em 2020, pontuando momentos em que este, um apaixonado pela música, reinventou-se. Invariavelmente com um sorriso cativante no rosto, é o próprio Mendes que conta sobre a adaptação inicial a outro país e mercado, a composição do megassucesso AOR “Never Gonna Let You Go”, cantada por Joe Pizzulo e Leza Miller nos anos 80 (sim, é de Mendes!), o renascimento com o disco “Brasileiro”, nos anos 90, a sua redescoberta pela nova geração dos últimos 20 anos para cá e a indicação ao Oscar de Melhor Trilha Sonora por "Rio". Tudo feito com um homenageado em vida, participativo e lúcido, outro bom exemplo que podíamos copiar mais dos norte-americanos.
Sergio Mendes e seu sorriso contagiante: 80 anos de amor pela música |
Daniel Rodrigues
quarta-feira, 28 de abril de 2021
Música da Cabeça - Programa #212
Se até o Oscar foi mais simplinho, por que a gente também não pode? O MDC hoje vem assim: na simplicidade. Simples não são, no entanto, nossas atrações: Pixies, Peter Gabriel, Jorge Ben, Kraftwerk e H.E.R. por exemplo. Também tem um balanço do Oscar 2021 no Música de Fato e um Cabeça dos Outros com Anderson .Paack. Sem glamour, mas na maior das elegâncias, o programa hoje vai ao ar às 21h, na nada simplória Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Simplesmente.
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quarta-feira, 3 de março de 2021
Música da Cabeça - Programa #204
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2020
Corre pro abraçaço, Caetano! Você tá na liderança. |
A propósito de país estreante nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, no ano que passou tivemos também a inclusão de belgas (Front 242) e russos (Sergei Prokofiev) na nossa seleta lista que, por sinal, continua com a inabalável liderança dos norte-americanos, seguidos por brasileiros e ingleses.
Também não há mudanças nas décadas, em que os anos 70 continuam mandando no pedaço; nem no que diz respeito aos anos, onde o de 1986 continua na frente mesmo sem ter marcado nenhum disco nessa última temporada, embora haja alguma movimentação na segunda colocação.
A principal modificação que se dá é na ponta da lista de discos nacionais, onde, pela primeira vez em muito tempo, Jorge Ben é desbancado da primeira posição por Caetano Veloso. Jorge até tem o mesmo número de álbuns que o baiano, mas leva a desvantagem de um deles ser em parceria com Gil e todos os de Caetano, serem "solo". Sinto, muito, Babulina. São as regras.
Na lista internacional, a liderança continua nas mãos dos Beatles, mas temos novidade na vice-liderança onde Pink Floyd se junta a David Bowie, Kraftwerk e Rolling Stones no segundo degrau do pódio. Mas é bom a galera da frente começar a ficar esperta porque Wayne Shorter vem correndo por fora e se aproxima perigosamente.
Destaques, de um modo geral, para Milton Nascimento que, até este ano não tinha nenhum disco na nossa lista e que, de uma hora para outra já tem dois, embora ambos sejam de parcerias, e falando em parcerias, destaque também para John Cale, que com dois solos, uma parceria aqui, outra ali, também já chega a quatro discos indicados nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
Dá uma olhada , então, na nossa atualização de discos pra fechar o ano de 2020:
PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)
- The Beatles: 6 álbuns
- David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones e Pink Floyd: 5 álbuns cada
- Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Wayne Shorter e John Cale* **: 4 álbuns cada
- Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Bob Dylan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
- Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Caetano Veloso: 5 álbuns
- Jorge Ben: 5 álbuns *
- Gilberto Gil*, Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
- Gal Costa, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
- Baden Powell**,, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
*** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto" ****
contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 3
- anos 40: -
- anos 50: 15
- anos 60: 90
- anos 70: 132
- anos 80: 110
- anos 90: 86
- anos 2000: 13
- anos 2010: 13
- anos 2020: 1
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 21 álbuns
- 1985, 1969 e 1977: 17 álbuns
- 1967, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
- 1968 e 1972: 15 álbuns cada
- 1970, 1971, 1979 e 1991: 14 álbuns
- 1975, e 1980: 13 álbuns
- 1965 e 1992: 12 álbuns cada
- 1964, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
- 1966, 1978 e 1990: 10 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 171 obras de artistas*
- Brasil: 131 obras
- Inglaterra: 114 obras
- Alemanha: 9 obras
- Irlanda: 6 obras
- Canadá: 4 obras
- Escócia: 4 obras
- México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
- País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Chico Science & Nação Zumbi - Usina do Gasômetro - Porto Alegre/RS (1994)
O talentoso Chico Science no palco: única vinda a Porto Alegre |
Contando assim hoje, em que o país vem de anos de crises econômica, política e social e massacre à cultura, parece até mentira que se teve coisas assim numa Porto Alegre não muito distante. Tanto é que para alguns é difícil acreditar quando digo que assisti, em 1994, a Chico Science & Nação Zumbi com a formação original. Sim, com Chico à frente e o como ele falecido Gira. Em plena Usina do Gasômetro, em praça pública, e de graça. E isso quando a banda ainda não era ainda idolatrada mundo afora. Os não muitos dos presentes como eu que estiveram na apresentação daquele sábado à noite certamente conheciam a banda muito por conta da Rádio Ipanema, que desde cedo identificava o mangue beat como a nova revolução da música pop brasileira.
A Nação, que cedo ganhou este apelido, já era reconhecida no centro do país e, principalmente, em sua Recife, onde reinavam na cena musical de então, a qual contava com vários outros talentos, como os coirmãos mundo livre s/a, a Devotos do Ódio, a Querosene Jacaré, a Sheik Tosado, a Mestre Ambrósio, entre outros. Mas no Rio Grande do Sul as coisas funcionavam ainda sem a velocidade que a internet ainda passaria a impor, e as informações demoravam ainda para chegar por estes pagos. O que talvez explique o porquê do público fiel mas acanhado que presenciou aquele show histórico, que registrava o primeiro disco da banda, “Da Lama ao Caos”, lançado aquele ano e que tinha produção do craque Liminha. Era o começo da carreira deles, e Porto Alegre era uma das primeiras cidades a presenciar aquele som revolucionário que mesclava rock, funk, rap, reggae, eletrônica e afro beat com maracatu, embolada, samba de roda e baião. Tudo com muita psicodelia e originalidade.
Antes da entrada dos pernambucanos no palco, teve pelo menos uma apresentação que me lembro com vivacidade: a célebre De Falla. Show bem rock ‘n’ roll com cara de anos 50/60, quando Edu K já havia passado pela fase funk-rock de “Kingzobullshitbackinfulleffect92”. Showzaço, aliás. Mas estava lá para ver mesmo a CS&NZ. A iniciante banda trouxe no repertório basicamente as faixas do seu disco de estreia, o que foi suficiente para uma apresentação memorável. Praticamente na sequência do álbum, começaram com "Monólogo ao Pé do Ouvido", em que os três tambores de maracatu, Gira, Bola 8 e o ainda percussionista Jorge Du Peixe, postavam-se à frente do palco enfileirados marcando o ritmo forte. Chico entra com o magistral texto-manifesto:
Modernizar o passado é uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui?
Não preciso delas, basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo da origem é o mal
O homem coletivo sente a necessidade de mudar
O orgulho, a arrogância, a glória enchem a imaginação de domínio
São demônios os que destroem o poder bravio da humanidade
Viiva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os Panteras Negras!
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza: eles também cantaram um dia!
Aí, como no disco, que eu já tinha e ouvia direto, entra "Banditismo por Uma Questão de Classe", a direta crítica social que fez a galera enlouquecer com as guitarreiras de Lúcio Maia, que soavam pela primeira na atmosfera de Porto Alegre, cidade a qual a banda voltaria outras vezes, sendo nenhuma mais com Chico, que morreria precocemente num acidente de carro, em fevereiro de 1997.
Seguiram-se "Rios, Pontes & Overdrives" e o sucesso “A Cidade”, que incendiou o público, assim como “A Praieira”, a qual tocava direto na Ipanema e era já adorada pelos fãs. O peso do heavy-maracatu “Da Lama ao Caos” dava a certeza àqueles gatos pingados indies como eu que estávamos diante da maior revolução do rock desde o grunge. Os batuques nordestinos de alfaia, que carregam toda uma cultura regional dos caboclos-de-lança e dos ritos folclóricos, misturavam-se, como jamais se havia ousado (ou pensado) com o rock pesado e os samplers herdados do rap. E o jeito de cantar único de Chico, um verdadeiro mangue boy com “Pernambuco embaixo dos pés” e a “mente na imensidão” - como diz a letra de "Mateus Enter", do disco seguinte deles, "Afrociberdelia".
Na sequência, entre outras, tocam a impressionante instrumental “Lixo do Mangue”, que ganharia um registro ao vivo no póstumo a Chico “CZNZ”, de 1998, dando a ideia do que foi ouvi-la sendo tocada naquela ocasião. Também, "Computadores Fazem Arte", de autoria do parceiro de mangue beat Fred Zero Quatro, foram outras que movimentaram o público, formado essencialmente de fãs daquela que foi a grande banda da geração 90 – o que, aliás, já identificávamos sem que a mídia precisasse nos dizer.
Após a psicodélica “Coco Dub”, última faixa do disco que dava origem ao show, Chico Science e seus caranguejos musicais tocariam o que no bis? Novamente, “A Cidade”! Bem coisa de grupo iniciante ainda sem repertório além do próprio primeiro disco. Mas foi muito legal, pois a turma curtiu uma vez que sintonizada com aquele clima de banda ainda “não-profissional”. Eles, visivelmente em casa, pareciam estar num Abril Pro Rock em Recife, pois sabiam que tocavam para uma galera que os curtia. O bis teve ainda uma surpresa: Jorge Du Peixe cantando “Rise”, da Public Image Ltd. Ele, que se tornaria o vocalista da banda após, prenunciava, ali, naquela apresentação despretensiosa mas muito empolgada, o que viria a acontecer na história da banda depois que Chico deixou-a por motivos de força maior.
Haja vista que se trata de um resgate da época pré-internet no Brasil, esses registros são basicamente fruto da minha memória. Buscando em arquivos históricos físicos certamente encontraria, mas seria desnecessariamente trabalhoso para uma singela matéria como esta e até inviável neste momento de pandemia. O que me impressiona, na verdade, é que não se encontre nada sobre esta apresentação em sites e afins, nem na imprensa, nem em blogs, nem em lembranças de possíveis fãs. Nada. Sequer em matérias de veículos locais que registraram, sim, vindas mais recentes da Nação Zumbi à capital. Ou seja: ninguém se prestou, nestes anos todos transcorridos de 1994 para cá, a perguntar aos atuais integrantes sobre a ligação deles com Porto Alegre. Sobre aquele histórico show na capital numa fase romântica da carreira da banda e que marcou a única performance de Chico no Rio Grande do Sul. Se se tivessem dado conta de questionar, bairrista como se é por aqui, certamente estaria escrito em algum lugar.
Talvez, como disse no início do texto, isso seja reflexo da tal depreciação a que a cidade de Porto Alegre vem sofrendo há aproximadamente duas décadas para cá. Não se assistem mais programações artísticas como este show da CS&NZ e outros aos quais citei faz muito tempo em Porto Alegre, seja por falta de grana, iniciativa, capacidade e até bom gosto. Se naquela noite no Gasômetro já não éramos muitos, hoje parece que existimos apenas nas memórias.
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Milton Nascimento & Criolo - "Existe Amor" (2020)
"Criolo é um dos artistas mais criativos com quem já convivi na vida. Conheço poucas pessoas que conseguem fazer letra e música do jeito que ele faz."
Milton Nascimento
“Milton é um ser de luz. Isso não se explica, apenas, se sente.”
Criolo
Encontro de gerações e de almas |
A começar pela sensibilidade inequívoca do pianista pernambucano Amaro Freitas, um dos maiores talentos da MPB/Jazz brasileira dos últimos anos, convidado para tocar e assinar o arranjo de duas das quatro do projeto: a clássica “Cais” (de Milton e Ronaldo, escrita em 1971) e a música a qual se tira sabiamente o controverso título, “Não Existe Amor em SP” (esta, de Criolo, do seu “Nó na Orelha”, de 2011). Amaro dá uma coloração que une nitidez e abstratismo, mas em tons introspectivos, oníricos, que reinventam canções já eternizadas no cancioneiro brasileiro. Mais do que regravações, tomam caráter de ressignificação, principalmente, “Não Existe...”, cuja mensagem deliberadamente crítica de Criolo à sociedade e ao mundo materialista é endossada pelo canto incomparável de Milton.
Não apenas estas duas, mas existe ainda mais amor em “Existe Amor”. Além das duas gravadas com o toque virtuoso de Amaro Freitas, o disco apresenta duas gravações feitas pelos artistas em 2018 com regência de Arthur Verocai, outra lenda da música brasileira, compositor, arranjador e maestro carioca presente em obras memoráveis da MPB como “Por que é Proibido Pisar na Grama”, de Jorge Ben (1971), e “Pra Aquietar”, de Luiz Melodia (1973), além de seus próprios trabalhos solo, considerados cult no Brasil e no exterior. Dessa safra, Milton e Criolo regravam com a fineza dos arranjos de Verocai a já citada “Dez Anjos” e “O Tambor”, esta, parceria dos dois últimos, originalmente registada no último álbum de Verocai, “No Voo do Urubu”, de 2016. Se com Criolo a relação é mais recente, com Milton os caminhos de Verocai se cruzaram já no final dos anos 60, quando participaram do movimento Músicanossa junto de outros compositores como Roberto Menescal e Marcos Valle. Ou seja: tudo em casa, conexões certas em todos os pontos. Outras duas preciosidades que, embora difiram do arranjo contemplativo e da textura pianística das primeiras, em nada destoam no conjunto da obra, formando um disco curto, mas 100% assertivo. Um novo clássico da música brasileira.
Além da qualidade musical, a reunião também tem méritos humanistas. A venda do EP pretende arrecadar projeto R$ 1 milhão para um projeto em conjunto com a agência AKQA e o Coala.Lab para ajudar pessoas durante a pandemia do Coronavírus. Milton, em depoimento sobre a atual situação do país e o desafio cidadão deste momento, falou: “E, diante desse cenário que se mostra cada dia mais absurdo, precisamos fazer a nossa parte, urgente.” O parceiro, por sua vez, engrossa o coro: “'Arte cria energia para a luta contra quem fomenta o mal”. Ao que depender dos dois, a chama da elaboração crítica fará com que os justos sobrevivam a tamanho obscurantismo e perversidade do Brasil atual. Ao contrário de todo o mar de negatividade que se impõem, eles nos dão um lugar - de fala e de escuta. Essa "SP" real e imaginária que representa a todos. A rebeldia, a não aceitação, a insubmissão como maior prova de amor. É a negação dos versos originais ("Não existe amor") como um chamado positivo de salvamento ("Existe Amor"). Por sorte, ele ainda existe em todas as “SP’s” simbólicas a que Milton e Criolo nos loteiam.
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FAIXAS:
1. "Cais" (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos) - participação: Amaro Freitas - 6:03
2. "Dez Anjos" (Milton/Criolo) - 4:53
3. "Não Existe Amor em SP" (Criolo) - participação: Amaro Freitas - 5:48
4. "O Tambor" (Arthur Verocai/Criolo) - 3:25
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