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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Música da Cabeça - Programa #201


 Estão nessa de "cancelar" tudo que é diferente? Deve ser por isso que tem três missões indo a Marte! Mas é com o pé no chão que a gente vem com o MDC de hoje e sem essa de cancelar, não! Na maior das aceitações, temos uma junção de diferentes, como Public Enemy e The Mission, Jards Macalé e New Order, Sepultura e Cocteau Twins. Ainda, um Sete-List sobre, claro, 7 coisas parecidas, mas diferentes. É o MDC de hoje, 21h, na Rádio Elétrica, sem cancelar ninguém. Produção, apresentação e saudáveis diferenças: Daniel Rodrigues (E Um "Fora Bolsonaro" com pequena diferença: #ForaCapitãoCloroquina)


Rádio Elétrica:
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Música da Cabeça - Programa #199

 

Bernie Sanders passou a semana esperando sentado só pra ouvir o MDC. Então, chegou a hora, senador! Hoje teremos conterrâneos seus como Tracy Chapman, Beck e Angelo Badalamenti, mas também os britânicos da Chemical Brothers e Cocteau Twins e brasileiros, representados por Ronnie Von, Milton Nascimento e Gilberto Gil. Além disso, tem "Cabeça dos Outros" e "Palavra, Lê" com letra de Djavan - que prometemos compreendê-la. Isso às 21h, na paciente Rádio Elétrica. Produção, apresentação e toneladas de leite condensado: Daniel Rodrigues (#BolsonaroGenocida)


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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Música da Cabeça - Programa #198

 

A vacina chegou, mas justo o "pulmão do mundo" está sem ar... Respiremos fundo, então, pro MDC desta semana. E oxigênio é o que não falta para Paul McCartney, Beastie Boys, Engenheiros do Hawaii, Adriana Partimpim, Koko Taylor e Legião Urbana, que teremos hoje. No Cabeção, lembramos o "amo del lounge" Juan Garcia Esquivel, pra perder o ar de vez, mas de emoção. Por isso, digamos a plenos pulmões: programa hoje, 21h, na calcogênia Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. #OxigenioparaManaus e #ForaBolsonaro


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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Música da Cabeça - Programa #195

 

Se a pandemia cortou o barato até de se ouvir os fogos de fim de ano, não tem outra: o negócio é ouvir o MDC desta semana. No último programa de 2020, vai ter som muito melhor do que estouro de bomba. Saca só: tem Deee-Lite, Criolo, Tonho Crocco, Beach Boys, Philip Glass, Velha Guarda Da Portela e mais. No "Palavra, Lê" a gente ainda relembra Aldir Blanc, que partiu neste ano sem fogos. Mas também de muito MDC, como o de hoje, às 21h, na espoucante Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. #Feliz2021 e, antes que me esqueça: #ForaBolsonaro


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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Música da Cabeça - Programa ESPECIAL #190

 

VIDAS NEGRAS IMPORTAM! Assim como a cultura, a arte, a música. Estes temas estão todos na entrevista da edição especial 190 do MDC com o ex-Ministro da Igualdade Racial e Embaixador do Movimento AR Eloi Ferreira no Mês da Consciência Negra. Além disso, também outros pretos como Marku Ribas, Jimi Hendrix, Public Enemy, Milton Nascimento e Moacir Santos e os quadros "Música de Fato" e "Palavra, Lê". Programa imperdível hoje, 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. #movimentoAR #VidasNegrasImportam



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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Música da Cabeça - Programa #186

 

O MDC vem tal essa imagem aí da bandeira: separando o joio do trigo. Nessa com a gente estão Moacir Santos, Steely Dan, Cartola, New Order, Gilberto Gil, Lobão e mais. Além da conquista democrática dos hermanos chilenos no "Música de Fato", vamos ter um "Sete-List" lembrando os 80 de Pelé e um "Palavra, Lê" para o também recém aniversariante Milton Nascimento. Tudo assim hoje: sem resquício de autoritarismo, 21h, na constitucional Rádio Elétrica. Produção, apresentação e estallido social: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Música da Cabeça - Programa #175


Negritude, raça, cultura, preconceito, branquitude, raízes, apropriação. Esses e outros temas estarão no MDC de hoje, que terá entrevista com o historiador e professor Cleber Teixeira Leão no quadro "Uma Palavra". Além disso, o programa contará também com música, de Djavan a John Lennon, passando por Jimi Hendrix e Emílio Santiago & João Donato e os quadros fixos. Às 21h, na Rádio Elétrica e apresentação/produção de Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Música da Cabeça - Programa #174


Tá aí mais uma edição do Música da Cabeça com toda a pompa, brilho e cristal que lhe é de direito. No programa de hoje, além do novo trabalho de Beyoncé, que vem gerando elogios e polêmicas, termos também Gene Page, Gabriel Yared, Elis Regina, L7, John Cale e mais. Também, um "Cabeção" sobre a world music de Jon Hassell e, claro, Música de Fato" e "Palavra, Lê". Isso às 21h, na naturalmente glamourizada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e estampa de oncinha: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 25 de março de 2020

Música da Cabeça - Programa #155


Quem foi que disse que não dá pra dar uma bela saída mesmo estando em isolamento? Basta ouvir o Música da Cabeça, que a gente providencia esse passeio musical sem que você saia do conforto do lar. Damos uma passada na Inglaterra de Amy Winehouse e The Smiths, na Islândia de Björk, na Alemanha da Die Krupps, na Escócia da Cocteau Twins e noutros destinos. Ah, claro: não deixamos de fora os EUA de Bob Dylan e o quintal de casa, com Marisa Monte, Cazuza, Black Alien e mais. Sentiu aquela vontade louca de uma banda? Calma, a gente te ajuda. É só sintonizar às 21h na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. All abourd! #ficaemcasacomMDC


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quarta-feira, 18 de março de 2020

Música da Cabeça - Programa #154


Não é só porque o caos tá instaurado e você não tem o que fazer isolado em casa por causa do Coronavírus: é porque a melhor programação dessa quarta à noite é mesmo o Música da Cabeça. Vê só como a gente tem razão: vai ter Public Enemy, Queen, Raul Seixas, Gene Clark, Aracy de Almeida, Tom Zé e mais. Ainda, tem os quadros fixos de sempre e um "Cabeça dos Outros". Curte a quarentena escutando o MDC às 21h, na desinfectada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e potinho de álcool gel: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 4 de março de 2020

Música da Cabeça - Programa #152


Sabe o que realmente cura epidemia? Não é o óleo consagrado dos charlatões, mas ouvir o Música da Cabeça! Hoje, nossos fiéis ouvintes serão abençoados com o som de Fernanda Abreu, Vitor Ramil, Miles Davis, Talking Heads, Rita Lee, Nico e outros. Tem também "Sete-List" sobre compositores e as suas escolhidas. A profecia começa às 21h, na ungida Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Porque a doença vai cair quando chegar em você! 


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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #141



Pirralhas, incendiários e energúmenos: uni-vos! O Música da Cabeça está com vocês provando que não tem Bozo que nos denigra. No programa de hoje, Mutantes, Joy Division, Carlinhos Brown, Public Enemy, Filho Do Zua, Secos & Molhados e mais. Ainda tem a segunda parte da entrevista com a escritora angolana Marta Santos, “Música de Fato”, “Palavra, Lê” e mais. Tudo no MDC, às 21h, na Rádio Elétrica, antro dos que sabem o valor que têm. A produção e a apresentação são do pirralho, incendiário e energúmeno Daniel Rodrigues, com muito orgulho.



quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #129


Não tem jeito: nem a bala que atinge inocentes, nem a ofensa a nossos ídolos, nem discursos desastrosos nos abalam. Vejam só o quão forte está o Música da Cabeça de hoje: João Gilberto, Echo & The Bunnymen, Trio Mocotó, Ice-T, Tim Maia e Pixies são apenas algumas mostras disso. Se você é dos que seguram todas mesmo em meio a tanta perversidade, é sinal que você merece escutar o MDC. É às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e casca grossa: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Música da Cabeça - Programa #123


Se os ecos de paz e amor de Woodstock ecoam até hoje, é sinal de que ainda existe esperança, não é mesmo? O Música da Cabeça de hoje relembra os 50 anos do maior festival de rock de todos os tempos e, como em Woodstock, trazendo muita variedade de estilos. Vamos ter Jorge Ben, PinkFloyd, Joe Cocker, Plebe Rude, Bernard Hermann, Racionais MC’s e mais. No “Sete-List”, relembramos também os 120 anos de nascimento do mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Vai ter multidão ouvindo o MDC hoje. Será na fazenda enlameada da Rádio Elétrica, às 21h. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues, with a little help for my friends.


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sábado, 9 de junho de 2018

O Rappa - "Rappa Mundi" (1996)





"O futebol faz parte da cultura nacional não é à toa. 
É um esporte que representa pra caramba
a maneira que a gente vive.
O que é?
Você driblando as atrocidades,
as condições impróprias que a gente tem."
Falcão, vocalista



O rock nacional dos anos 80 já começava a dar sinais de desgaste. Cazuza já tinha morrido, Renato Russo agonizava em público e sua doença refletia nos discos da Legião, Lobão começava a perder o rumo, os Titãs perdiam integrantes e a identidade, os Engenheiros se afastavam do grande público e, só os Paralamas, mesmo com discos um tanto irregulares, tenham conseguido sustentar o sucesso comercial e o interesse do público. Nesse ínterim, naquele início de anos 90, um bom time de novas bandas nacionais começava a dar as caras vindas de diferentes lugares do Brasil e trazendo sonoridades e propostas interessantes: os calangos do Raimundos e seu hardcore irreverente e desbocado; os mineiros do Pato Fu com seu bom humor e criatividade; o pessoal do Skank, também de Minas, apresentando com um pop gostoso e contagiante; também das Gerais o Jota Quest com seu pop-soul, estes já um pouco mais apelativos comercialmente; os recifenses do Mangue-Beat misturando sons regionais com peso e tecnologia; e no Rio, O Rappa, um pessoal que fundia reggae, com hip-hop, com soul, com MPB, utilizando-se de peso de guitarras distorcidas e elementos eletrônicos como samples e batidas programadas. A banda já havia aparecido bem com seu álbum de estreia, de mesmo nome, de 1994, chamando atenção, além da sonoridade, pelas ótimas letras com abordagens de questões sociais de forma lúcida e consciente, veio a conquistar definitivamente público e crítica com seu segundo álbum, "Rappa Mundi" de 1996.
Produzido pelo mestre dos estúdios no Brasil, Liminha, "Rappa Mundi" teve uma série de grandes sucessos com suas faixas sendo executadas incansavelmente nas rádios e na MTV. Contando com as letras sempre críticas e engajadas do então baterista Marcelo Yuka e com o vocal poderoso e versátil do carismático vocalista Falcão, a banda discorria sobre temas como drogas, violência urbana, trabalho infantil, religião, racismo e pobreza, das formas mais criativas, desde a maneira mais incisiva à mais bem-humorada.
Em "A Feira", por exemplo, faixa que abre o disco, num raggae-pop descontraído e embalado, falam sobre a venda de "substâncias ilícitas" e a facilidade de se encontrar os produtos em qualquer esquina; em "Miséria S.A." Falcão interpreta como se recitasse um texto decorado a criativa letra do cantor e compositor Pedro Luís, que imita aqueles bilhetinhos que pedintes entregam aos passageiros nos ônibus, escancarando a realidade da pobreza no Brasil e as situações a que se sujeitam homens, mulheres e muitas vezes crianças; "Vapor Barato", clássico multi-regravado da música brasileira, ganha uma versão competentíssima, mais embalada e de interpretação marcante de Marcelo Falcão, incluindo-se entre as grandes versões que a canção de Waly Salomão e Jards Macalé já recebeu. "Ilê Ayê", conhecida na voz de Gilberto Gil no álbum "Refavela", vai perfeitamente ao encontro do discurso e da proposta dO Rappa e com uma pegada mais elétrica e vibrante, é outra cover que não decepciona. Assim como "Hey Joe", outra versão, esta da canção imortalizada por Jimi Hendrix, que, embora não tenha o brilho daquela do gênio da guitarra, garante uma boa releitura em português e completamente carregada no reggae.
Grande sucesso, a inspiradora "Pescador de Ilusões" é aquele trunfo radiofônico perfeito; "Uma Ajuda" juntamente com "Lei da Sobrevivência" talvez sejam as menos empolgantes do disco; já "O Homem Bomba" e "Tumulto", por sua vez são incendiárias, ambas abordando a indignação do home  comum, do cidadão tão desrespeitado no dia a dia. "Tumulto", em especial, muito a calhar, fala sobre manifestações populares, povo, não o povo da Paulista, mas o povo de comunidades, indo à rua por justiça, por igualdade, por necessidades básicas ou por conta da violência cotidiana. Mais uma porrada dO Raapa!
Altamente ligados a futebol, torcedores e frequentadores de estádios, tendo inclusive participado da coletânea de hinos de clubes brasileiros, da revista Placar, gravando o hino do Flamengo, o esporte, que segundo eles mesmos tem tudo a ver com a música e com a vida do brasileiro, aparece em vários momentos no disco. A ótima "Eu Não Sei Mentir Direito", por exemplo, começa com os versos "No país do futebol/ Eu nunca joguei bem..." revelando alguém que, numa terra de onda a malandragem é a lei, não consegue se adaptar à conduta dominante enraizada na cultura do brasileiro; "O Homem Bomba", fala em "tocar bumbo na garganta do Maracanã"; "Óia o Rappa", música que fecha o disco e que também fala sobre o jeito do cidadão se virar, refere-se a "pênalti" quando a situação fica crítica numa batida da polícia num negócio informal um tanto suspeito. Mas é em "Eu Quero Ver Gol" que a verve futebolística fica totalmente exposta retratando a realidade de um torcedor que enfrenta os perrengues do dia a dia, dá duro durante a manhã na praia, mas que não quer perder de jeito nenhum o jogo do fim da tarde e, mais do que qualquer coisa, ver seu time ganhar ("Tô no rango desdas duas e a lombra bateu/ O jogo é as cinco e eu sou mais o meu/ Tô com a geral no bolso, garanti meu lugar/ Vou torcer, vou xingar pro meu time ganhar"). A versão do especial acústico gravado para a MTV, que posteriormente viraria CD e DVD, gravada em 2005 é ainda mais "boleira" e tem mencionados, em seu final, os nomes de vários jogadores da Seleção Brasileira que estavam prestes a disputar a Copa de 2006, num final apoteótico para aquela apresentação.
Depois de "Rappa Mundi" a banda ainda apresentaria o bom "Lado B, Lado A" mas após um incidente urbano em 2001, infelizmente cada vez mais familiar a todos nós, uma tentativa de assalto que vira a deixar Marcelo Yuka, baterista e principal compositor da banda paraplégico, O Rappa, com sua saída, perdia bastante em qualidade de letras e criatividade mostrando-se irregular e inconsistente, embora ainda conseguisse sustentar um relativo sucesso comercial. Mas "Rappa Mundi" com toda sua atitude, gingado, irreverência e sonoridade já havia garantido o nome dO Rappa em destaque entre os grandes discos da música brasileira e por extensão, para nós, na galeria dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS do ClyBlog.
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FAIXAS:
1. "A Feira" - Marcelo Yuka (3:59)
2. "Miséria S.A." - Pedro Luís (4:01)
3. "Vapor Barato" - Waly Salomão, Jards Macalé 4:23)
4. "Ilê Ayê" - Paulinho Camafeu (3:50)
5. "Hey Joe" (participação de Marcelo D2)  - Bill Roberts, versão: Ivo Meirelles, Marcelo Yuka (4:25)
6. "Pescador de Ilusões" -  Marcelo Yuka (4:29)
7. "Uma Ajuda" - Marcelo Yuka (4:29)
8. "Eu Quero Ver Gol" - Falcão, Xandão (3:41)
9. "Eu Não Sei Mentir Direito" -  Marcelo Yuka 4:03
10. "O Homem Bomba" - Marcelo Yuka (3:14)
11. "Tumulto" - Marcelo Yuka (3:14)
12. "Lei Da Sobrevivência (Palha de Cana)" - Falcão (3:05)
13. "Óia O Rapa" - Lenine, Sérgio Natureza (6:00)

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Ouça:
O Rappa - Rappa Mundi


Cly Reis

terça-feira, 15 de maio de 2018

Criolo - "Nó na Orelha" (2011)




"Posso dizer que Gil e Caetano são gênios. Eu, na verdade, sou um trabalhador contumaz, sou obsessivo. Aí, quando entra o Milton e o Criolo, pronto."
Tom Zé

Confesso que resisti um pouco a Criolo. Em 2011, por sugestão de meu primo-brother Lúcio Agacê, ouvi o então recém-lançado “Nó na Orelha” e me impressionei de cara. Conhecendo-me bem, Lucio acertara que eu iria gostar de um rapper de São Paulo até então chamado Criolo Doido, que tinha tomado um “banho de loja” e produzira um disco de se prestar atenção. Como sempre, fui na dele, que nunca dá dica furada. E, caramba: que musicalidade era aquela?! Ao mesmo tempo em que destrincha hip hop com estilo próprio de letras incomuns e rimas ligeiras, forjando quase uma nova linguagem que junta o vocabulário da periferia com um entendimento profundo do português culto, também mandava ver com naturalidade outros ritmos (às vezes, mesclando a este rap tão original), como samba, afrobeat, reggae e soul.

Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Ney Matogrosso, Tom Zé, Martinho da Vila e Milton Nascimento ou seja, a nata da MPB – o elogiavam. Era tão legal, que cheguei a desconfiar. Pensei em escrever sobre o disco no calor do impacto, mas meu cérebro buscou comparações e parâmetros que, embora não devessem ter nada a ver com o simples ato de gostar, foram suficientes para, preconceituosamente, rechaçar a minha ideia de imediato. Para ajudar, um infeliz tributo a Tim Maia ao lado de Ivete Sangalo, no qual Criolo se sujeitou a participar, em 2015, ajudou a alimentar minha antipatia por ele.

Entretanto, “Nó...” resistiu a mim. Por isso, faço aqui o que não tive coragem seis anos atrás depois daquela primeira audição. Afinal, o disco se mantém intacto em sua qualidade, simbolizando aquilo que na época já era uma certeza: a chegada do maior artista da música brasileira dos últimos tempos. Com a luxuosa produção e arranjos de Daniel Ganjaman (Planet Hemp, Sabotage, Otto, Racionais MC’s, Nação Zumbi, entre outros, no currículo) e poucas mas preciosas participações (como da excelente cantora Juçara Marçal, da Metá Metá, nos backings), “Nó...” traz essa originalidade letrística e sonora, algo evidenciado já na faixa de abertura, “Bogotá”. Um ritmo latino com beats e sopros afiados muito bem cantado com a voz melodiosa e agradável de Criolo. Não é rap, mas namora com o estilo na força da mensagem e no approuch, mostrando o quanto o artista, já no segundo disco, havia ampliado sua musicalidade.

Avança-se somente mais um pouco para provar definitivamente esta afirmação em “Subirusdoistiuzin”. Este, sim, um rap, com direito aos tradicionais beats funk, scratches e samples. Mas cheio de groove, numa atmosfera de jazz-soul – adensada pelo elegante trompete de Rubinho Antunes e o baixo acústico de Marcelo Costa, coarranjador do disco. Novamente muito bem cantada por Criolo, destaca-se, antes de mais nada, pela letra de rimas improváveis e pela divisão silábica quebrada, como bem fazem Tom Zé e Marlui Miranda. E o que dizer desses versos? “Mandei falá/ Pra não arrastá/ Não botaram fé/ Subirusdoistiozin/ O baguio é loco/ O sol tá de rachá/ Vários de campana aqui na do campin/ Má quem quer preta/ Má quem qué branca/ Todo azule/ Requer seu rejuntin/ Pleno domingão/ Flango ou macalão/ Se o negócio é bão/ Cê fica é chineizin/ Cença aqui patrão/ Aqui é a lei do cão/ Quem sorri por aqui/ Quer ver tu cair/ É, é... justo é Deus/ O homem não/ Ouse me julgá/ Tente a sorte, fi”.

Na sequência, um dos motivos da reverência dos papas da música brasileira: “Não Existe Amor em SP”. Cantada por seu autor ao lado de Caetano no Video Music Awards daquele ano numa apresentação que “chancelara” a posição de Criolo no rol da MPB, a canção, contundente e melodiosa, já se tornou naturalmente um clássico e um novo hino popular sobre a cidade paulistana. O título, cuja menção à grande metrópole brasileira é pronunciada na forma de sigla (“essepê”), desvenda a mensagem: “Um labirinto místico/ Onde os grafites gritam/ Não dá pra descrever”. Lembra, em poética e raciocínio, outro talentoso rapper de Sampa, o amigo Mano Brown, nos versos de “Vida Loka nº 1”, dos Racionais MC’s, quando diz “em São Paulo, Deus é uma nota de 100”, principalmente comparada com esta parte da música de Criolo: “Os bares estão cheios de almas tão vazias/ A ganância vibra, a vaidade excita/ Devolva minha vida e morra/ Afogada em seu próprio mar de fel/ Aqui ninguém vai pro céu/ Não precisa morrer pra ver Deus”.

“Mariô” vem dar ainda mais sentido à ideia jazzística lançada em “Bogotá” e “Subirusdoistiuzin”, uma vez que intensifica a pegada de jazz moderno, haja vista que é coescrita com Kiko Dinucci, o principal compositor da Metá Metá, a inovadora banda paulistana do novo jazz brasileiro. Emulando sons e vocabulários do matiz africano, típico da musicalidade de Dinucci, remonta ao “pop nagô” de Marku Ribas pela mistura de sonoridades funk, soul, samba e batuque de terreiro.

Surpreendendo novamente, Criolo traz o bolero "Freguês da Meia-Noite". Balada brega ao estilo Nelson Ned e Reginaldo Rossi, contextualiza mais uma vez a São Paulo urbana, aqui no clima decadente e rasgado da boemia noturna. “Meia Noite/ Em pleno Largo do Arouche/ Em frente ao Mercado das Flores/ Há um restaurante francês/ E lá te esperei”. Já “Samba Sambei”, embora o título faça supor o estilo musical, é, na verdade, um reggae, engendrando a tirada metalinguística de canções como “Samba da Minha Terra”, de Dorival Caymmi, na versão heavy dos Novos Baianos, o rock-exaltação “A Bossa Nova é Foda”, de Caetano, ou “Amigo Punk”, a milonga (e não um punk-rock) do grupo gaúcho Graforréia Xilarmônica.

Claro, a raiz de Criolo não poderia deixar de estar presente. Com a mesma desenvoltura que passeia por outras formas musicais, o artista também articula seu inato rap. Caso de "Grajauex", com os criativos versos rimados em “écs” (“É o play 3 na golfera te sai, chanex/ É o ouro branco o pó mágico e o poder de Rolex/ Na favela com fome atrás dos Nike Air Max/ Os canela cinzenta que não tem nem cotonets/ Os Mc das antiga é dinossauro T-Rex/ Pra fazer bobaginha cole ali com Jontex/ Pra zoar na rua com os cachorro é pex pex/ E as princesinha na nóia de um papel faz bo...”); "Sucrilhos", crítica social em que exercita sua poética sui generis (“Calçada pra favela/ Avenida pra carro/ Céu pra avião/ E pro morro descaso/ Cientista social/ Casas Bahia e tragédia/ Gosta de favelado mais que Nutella”); e "Lion Man", de excelente construção melódica e harmônica.

“Nó...” encerra revelando outra habilidade que Criolo traria mais vezes a partir de então – inclusive em parcerias com Martinho da Vila e Tom Zé –, que é o domínio do samba. Partido alto estiloso, que lembra os bambas da velha guarda, "Linha de Frente" faz uma brincadeira com os nomes dos personagens da Turma da Mônica, inserindo-os na realidade do tráfico de drogas na periferia. Os versos iniciais dizem: “O nó da tua orelha ainda dói em mim/ E Cebolinha mandou avisar/ Que quando a ‘fleguesa’ chegar/ Muitos pãezinhos há de degustar”. O refrão é ainda mais interessante: “O dinheiro vem pra confundir o amor/ O santo pesado que tá sem andor/ Na Turma da Mônica do asfalto/ Cascão é rei do morro e a chapa esquenta fácil”.

Dentre as várias qualidades de “Nó...” está a que o trabalho trouxe de vez a turma do rap para o patamar dos músicos, vencendo a pecha de meros “coladores de música dos outros” ou de “vozes da favela”. Criolo representa a nova geração mestiça brasileira, saída das classes baixas e sintonizada com a política, com a produção cultural e com a realidade social, personalidades que têm (e se põem no) compromisso de pensar o Brasil. Além disso, o convencimento de que rapper não sabe (e nem precisa) só fazer rap. Mas mesmo com toda a diversidade sonora e de referências conceituais que carrega, “Nó...” é, contudo, um disco saboroso de se ouvir, mesmo que desafiador – desafio este que, de pronto, não me permiti vencer em relação a Criolo. Mais do que a “repaginada” a qual meu primo se referiu ao me indicar a audição, o disco é a afirmação de um artista que tem muito a dizer e que veio para ficar. Talvez por tudo isso, o disco tenha dado em meu pretenso conhecimento e gosto musical um verdadeiro nó na orelha. Acho que, com todas estas linhas escritas, eu agora tenha desenosado.

FAIXAS:
1. "Bogotá" - 4:40
2. "Subirusdoistiozin"  - 3:33
3. "Não Existe Amor em SP" - 4:40
4. "Mariô" - 3:37
5. "Freguês da Meia-Noite" - 4:09
6. "Grajauex" - 2:36
7. "Samba Sambei" - 3:42
8. "Sucrilhos" - 4:00
9. "Lion Man" - 3:25
10. "Linha de Frente" - 4:30
Todas as composições de Criolo, exceto “Mariô”, de Criolo e Kiko Dinucci

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OUÇA O DISCO

Daniel Rodrigues

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Racionais MC’s – “Sobrevivendo no Inferno” (1997)




“Refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça.” 
Salmo 23, capítulo 3


“Ilumina minha alma, louvado seja o meu senhor/ Que não deixa o mano aqui desandar/ E nem sentar o dedo em nenhum pilantra/ Mas que nenhum filha da puta ignore a minha lei.” 
– Da letra de “Capítulo 4, versículo 3”


Era Réveillon de 1997. Após muitas cervejas, samba, risadas e conversas altas no volume típico da minha família, pouco depois da virada do ano, nas primeiras horas de 1998, meu primo-irmão Leandro “Lê” Reis Freitas me chama para dentro da casa ao lado da garagem onde todos se reuniam. Fugíamos um pouco da algazarra, pois Lê queria me mostrar algo para se ouvir com atenção. Olhando-me com convicção e euforia, ele me disse: “Dã, tu tem que ouvir isso!”. Era um disco. Um disco de rap chamado “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MC’s, que completa 20 anos em 2017.

Sabia que ele curtia bastante rap, então não estranhava que quisesse me apresentar algum artista. Geralmente, não me animava tanto, admito, haja vista que o rap nacional sempre me parecia ficar bastante a dever ao dos Estados Unidos e principalmente ao Public Enemy, meus preferidos do estilo até hoje. Mas aquilo que Lê me mostrava era, definitivamente, diferente. O início salta com um “Ogunhê!”, a saudação ao orixá Ogum do Candomblé. Imediatamente, começa um rap arrastado feito sobre a base de “Ike’s Rap 2”, de Isaac Hayes – o mesmo sample usado em “Glory Box”, do Portishead, e “Hell Is Round the Corner”, do Tricky. Era uma versão originalíssima de “Jorge da Capadócia”, de Jorge Ben. Agradou-me bastante, mas Lê me alertou: “Essa é legal, mas o melhor vem a partir de agora”.

Sim, o melhor vinha em seguida. Após um prólogo interessantíssimo, muito bem escrito e revelador (a vinheta “Gênesis”), a faixa seguinte trazia em sua letra o mais pungente e expressivo manifesto escrito no Brasil depois do Antropofágico, do Concretista e do Tropicalista. E mais: sem ter a intenção de ser um manifesto propriamente dito, o que aumenta ainda mais sua força. Ali, falava-se de algo que estava grudado na garganta há muito tempo, bem dizer, desde que os escravos vieram para o Brasil, séculos atrás. Desde que, alforriados, os negros permaneceram na miséria por descaso do estado. Num trecho, a letra diz: “Minha intenção é ruim/ Esvazia o lugar/ Eu tô em cima, eu tô afim/ Um, dois pra atirar/ Eu sou bem pior do que você tá vendo/ O preto aqui não tem dó/ É 100% veneno/ A primeira faz ‘bum’, a segunda faz ‘tá’/ Eu tenho uma missão e não vou parar”. Era “Capítulo 4, Versículo 3”, a brilhante canção que mostrava, com todas as letras, que os Racionais, formado pelos mc’s Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue e o DJ KL Jay, realmente tinham uma missão. E que não iriam parar.

Enquanto a noite seguia animada lá fora, Lê e eu ouvíamos de cabo a rabo o longo 5º disco dos Racionais, o ápice da maturidade dos rapazes da Zona Sul paulista e o melhor disco de rap brasileiro de todos os tempos, 14º colocado na lista da revista Rolling Stone dos 100 melhores álbuns da história da música brasileira. Tínhamos a noção de que estávamos diante de algo diferenciado e revolucionário. Além da qualidade técnica nunca antes atingida no rap no Brasil, com samples bem escolhidos e elaborados, densidade sonora e produção impecável do próprio KL Jay, “Sobrevivendo...” era um grito até então ensurdecido. O grito da periferia – em sua grande parte, negra. Um grito de revolta e ressentimento pelo apartheid social brasileiro; um grito agressivo contra a desigualdade de classes; um grito de protesto contra a repressão da polícia e do estado. Mas tudo traduzido em poesia, musicalidade, criatividade. “Sobrevivendo...” propunha uma revolução ideológica.

Os anos 90, primeira década da democracia no Brasil, traziam nas rádios o samba “embranquecido” do pagode e o conveniente “rap de classe média” de Gabriel O Pensador. Ou seja: os pretos mesmo não estavam representados. Precisou que o rap levantasse a bandeira, e os Racionais MC’s cumpriram essa função abrindo definitivamente um novo paradigma para a música brasileira em temas como “Diário de um Detento”, “Mágico de Oz”, “Fórmula Mágica da Paz” e a já mencionada “Capítulo 4...”. Nelas fala-se abertamente sobre o racismo e a miséria na periferia de São Paulo, marcada pela violência e pelo crime, numa representação muito maior do que somente aquilo: era um retrato da sociedade brasileira.

Outra das melhores do disco e da banda, "Tô Ouvindo Alguém me Chamar" disseca a vida de um assaltante, homem pobre que, ao contrário do irmão advogado, escolheu o caminho do crime. A narrativa de Brown é brilhantemente contada em fluxo de consciência a partir do momento da morte do protagonista, engendrando uma sucessão de flashbacks que vão construindo a história. A batida (tirada de Charisma", de Tom Browne) ganha sons de pulso cardíaco, que dialoga metalinguisticamente com o tema. A dramaticidade da saga do marginal é uma aula de escrita. Afundado nas drogas e na criminalidade, ele é morto com a mesma arma que um dia havia presenteado seu parceiro de delinquência (o Guina, único personagem que o nome mencionado). A recorrente referência ao irmão, cuja figura se confunde com a do parceiro, com a do pai e do sobrinho, é tocante, como nesta passagem, quando o criminoso, agonizando, percebe que já está na berlinda: “Meu irmão merece ser feliz/ Deve estar a essa altura/ Bem perto de fazer a formatura/ Acho que é direito, advocacia/ Acho que era isso que ele queria/ Sinceramente eu me sinto feliz/ Graças a Deus, não fez o que eu fiz/ Minha finada mãe, proteja o seu menino/ O diabo agora guia o meu destino”.

De fato, muito dos Racionais se deve à cabeça privilegiada de Mano Brown. Ele é o rapper que superou o discurso rebelado mas geralmente pouco articulado do hip hop brasileiro, abrindo caminho para gente como Emicida e Criolo. Brown é, sem medo de errar, um dos maiores escritores brasileiros da atualidade – léguas à frente de nomes celebrados da literatura como Paulo Coelho, Fabrício Carpinejar ou Martha Medeiros. Para se ter ideia, segundo pesquisa da revista Billboard Brasil do ano passado, ele figura entre os 50 artistas mais completos do país. Suas letras trazem uma improvável e incomparável mistura de consciência social e racial e ativismo político com pitadas de religiosidade católica, evanvélica e afro misturadas ao melhor português, seja o culto ou o vulgar. Tudo como muita contundência e até agressividade. “Minha palavra vale um tiro e eu tenho muita munição”, diz um de seus versos.

Essa força expressiva está no maior clássico do disco, canção de muito sucesso à época: “Diário de um Detento”. Quase uma versão musical do livro “Estação Carandiru”, de Dráuzio Varella, a música de Brown, realista e crítica, amarra a narrativa de depoimentos do ex-presidiário Jocenir. Sobre o sample de “Easin' In”, de Edwin Starr, é uma carta que perpassa o dia anterior ao massacre do Carandiru (2 de outubro de 1992) até o dia seguinte à tragédia, 3. A abertura é inesquecível: “São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8 horas da manhã/ Aqui estou, mais um dia/ Sob o olhar sanguinário do vigia/ Você não sabe como é caminhar/ Com a cabeça na mira de uma HK/ Metralhadora alemã/ Ou de Israel/ Estraçalha ladrão que nem papel”. Uma “rima preciosa” – tipo que uniformiza palavras de idiomas distintos –, vem logo na sequência: “Na muralha, em pé, mais um cidadão José/ Servindo o Estado, um PM bom/ Passa fome, metido a Charles Bronson.  Outros trechos, cujas sentenças são verdadeiros petardos, impressionam igualmente: “Sua cara fica branca desse lado do muro” ou “Já ouviu falar de Lúcifer?/ Que veio do Inferno com moral um dia/ No Carandiru, não, ele é só mais um/ Comendo rango azedo com pneumonia” ou ainda “O ser humano é descartável no Brasil/ Como Modess usado ou Bombril.”

A onomatopeia “Ratátátá”, repetida algumas vezes e que vai se avolumando no decorrer da letra, ao mesmo tempo dá a ideia do trem que passa em frente ao presídio, elemento que simboliza a tortuosa passagem do tempo na prisão, quanto o som de tiros, como um prenúncio da chacina. Ali, naquela realidade, o destino inevitável é a morte. Vendo nos noticiários as rebeliões e acontecimentos violentos ocorridos em vários presídios brasileiros nos últimos tempos, “Diário...” parece lamentavelmente atual.

Se Brown apavora com canções como esta, Edi Rock, entretanto, não fica muito para trás. Mais fraco em termos letrísticos, ele ganha na criatividade das melodias e na voz potente. “Periferia é Periferia (Em Qualquer Lugar)” é um caso: baseada num tema de Curtis Mayfield, sampleia uma série de outros rap’s brasileiros, como os pioneiros Thaíde e DJ Hum, Sistema Negro e MRN. Já “Rapaz Comum” tem uma pegada mais gangsta ao samplear Dr. Dre e Snoop Dogg, retrazendo o mote de “Tô Ouvindo...” ao relatar, na 1ª pessoa, os momentos de agonia de “um preto a mais no cemitério”. É dele também o ótimo instrumental e "Qual Mentira Vou Acreditar?", parceria com Brown e a faixa mais light do repertório. A letra conta as funções de festas e pegações, mas nem por isso deixa de tocar no tema do racismo, como nesta engraçada passagem em que Ice Blue relata a Edi um episódio em que levava uma “mina” no carro. “Eu ouvindo James Brown, pá.../ Cheio de pose/ Ela perguntou se eu tenho, o quê? Guns N' Roses?/ Lógico que não!/ A mina quase histérica/ Meteu a mão no rádio e pôs na Transamérica/ Como é que ela falou?/ Só se liga nessa/ Que mina cabulosa/ Olha só que conversa/ Que tinha bronca de neguinho de salão, (não)/ Que a maioria é maloqueiro e ladrão (aí não)/ Aí não mano! Foi por pouco/ Eu já tava pensando em capotar no soco”.

“Mágico de Oz”, outra de Edi (“Queria que Deus ouvisse a minha voz/ E transformasse aqui no mundo Mágico de Oz”), é mais um sucesso de “Sobrevivendo...”. Evidencia o mundo desamparado da mendicância infantil e a falta de esperança e horizonte de quem nasce na pobreza. Por falar em “magia”, Mano Brown manda a última joia do disco: “Fórmula Mágica da Paz”. Espécie de autobiografia, canta a reflexão do próprio autor quando se deparou com a fronteira entre o crime ou o “caminho do bem”. Com um fluxo narrativo impressionante, Brown relembra: “Não tava nem aí, nem levava nada a sério/ Admirava os ladrão e os malandro mais velho/ Mas se liga, olhe ao seu redor e me diga/ O que melhorou? Da função, quem sobrou?/ Sei lá, muito velório rolou de lá pra cá/ Qual a próxima mãe que vai chorar?”. Momentos trágicos, como o de um “rapaz comum” da comunidade que morre baleado, o fazem pensar: “Na parede o sinal da cruz/ Que porra é essa? Que mundo é esse?/ Onde tá Jesus?/ Mais uma vez um emissário/ Não incluiu Capão Redondo em seu itinerário/ Porra, eu tô confuso/ Preciso pensar/ Me dá um tempo pra eu raciocinar/ Eu já não sei distinguir quem tá errado, sei lá/ Minha Ideologia enfraqueceu/ Preto, branco, polícia, ladrão ou eu”. Os questionamentos, entretanto, logo dão lugar à consciência: “Agradeço a Deus e aos Orixás/ Parei no meio do caminho e olhei pra trás/ Meus outros manos todos foram longe de mais/ ‘Cemitério São Luis, aqui jaz’.”

“Salve” repete a base de “Jorge...”, finalizando o disco de rap mais vendido da história mesmo que por um selo independente, Cosa Nostra, ou seja, sem a estrutura de uma grande gravadora por trás. Oficialmente, foram 1,5 milhão de cópias comercializadas, porém, não se contabilizam aí os outros milhões de cópias ilegais, uma vez que se estava no auge da pirataria de CD’s no Brasil à época – nós mesmos, Lê e eu, ouvíamos um pirateado naquela fatídica noite de 1º de janeiro.

Mesmo que criticável pelo discurso de “vingança racial”, pela apologia ao ódio ou até da visão machista e homofóbica por vezes, é inegável a importância do papel que cabe aos Racionais MC’s na cultura pop brasileira nesses últimos 20 anos desde que “Sobrevivendo...” foi lançado. Afinal, uma voz calada por tanto tempo e das maneiras mais cruéis que o ser humano é capaz, caso do povo africano e seus descendentes diretos, quando posta para fora, só pode vir carregada de coisas boas e ruins. A causa dos direitos humanos é mais valiosa do que qualquer coisa quando a mesma é subvertida. A única solução é a reação. Confesso que, naquela primeira audição, o discurso maniqueísta me chocara. Mas quem sou eu, um “mano” cuja história de vida sempre teve boas condições sociais (ou seja: protegido de uma série de constrangimentos e humilhações), para julgar? Neste sentido, o rap brasileiro dos anos 90, capitaneado pelos eles, alinhou-se ao que o samba do morro representou ao longo do século XX: a resistência. Se o samba agoniza mas não morre, o rap sobrevive e mata. E se hoje se fala tanto e com propriedade de “empoderamento” das minorias e “orgulho negro”, a tal missão que os Racionais se impuseram, violentamente pacífica, foi cumprida com êxito.

Racionais MC's - "Diário de um Detento"


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FAIXAS
1. Jorge da Capadócia (Jorge Ben)
2. Gênesis (Mano Brown)
3. Capítulo 4, Versículo 3 (Brown)
4. Tô Ouvindo Alguém Me Chamar (Brown)
5. Rapaz Comum (Edi Rock)
6. Instrumental (Rock)
7. Diário de Um Detento (Brown/ Jocenir)
8. Periferia é Periferia (Em Qualquer Lugar) (Rock)
9. Qual Mentira Vou Acreditar (Brown/Rock)
10. Mágico de Oz (Rock)
11. Formula Mágica da Paz (Brown)
12. Salve (Brown)

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OUÇA O DISCO
Racionais MC's - Sobrevivendo no Inferno