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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Música da Cabeça - Programa #156


É 1º de abril, mas duvido que alguém diga que é mentira que o Música da Cabeça tem o poder de alegrar esses dias de quarentena. Pelo menos, as quartas-feiras, como a de hoje, em que teremos coisas como Itamar Assumpção, The Manhattans, Sepultura, Tracy Chapman e Detrito Federal. Ainda, "Música de Fato" sobre os mentirosos que andam por aí, "Palavra, Lê" em homenagem a Riachão e "Cabeção" lembrando Krzysztof Penderecki, morto esta semana. Pode conferir às 21h o MDC, na idônea Rádio Elétrica, que não é lorota. Produção, apresentação e a mais pura verdade: Daniel Rodrigues. #ficaemcasa



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 24 de novembro de 2018

III Teresópolis Blues Festival - 15 e 17 de novembro - Praça Nilo Peçanha - Teresópolis/RJ



Estive no último final de semana, de feriadaço aqui no Rio, na simpática Teresópolis, na serra fluminense, e aproveitei para dar uma conferida do III Teresópolis Blues Festival que estaria rolando na cidade por aqueles dias. Evento muito bacana de fundo beneficente, cuja entrada era doação de alimentos, com boa infraestrutura de um modo geral, considerando o porte do evento. Ótimas opções gastronômicas com food-trucks variados, muita cerveja artesanal com diversos expositores de qualidade apresentando seus produtos e, é claro, muita música.
Na quinta-feira, quando cheguei à cidade, só consegui ir assistir aos shows no final da tarde, pegando assim, ainda, o finalzinho da banda Belonave que fez um pop-rock competente apesar de um tanto óbvio e batido mas que serviu pra esquentar bem a galera. Na sequência, veio a boa RJ Café Band que fez tributo a dois grandes nomes do rock nacional, ambos com grande influência do blues em sua música: Cazuza e Celso Blues Boy. Números muito bem executados, chamando atenção, especialmente os de Cazuza pela semelhança do timbre do vocalista da RJ Café Band. No que diz respeito a Celso Blues Boys, se "Aumenta que isso aí é rock'n roll" levantou todo mundo, de outra feira, senti falta de "Mississipi", homenagem a Robert Johnson, ainda mais em um festival dedicado ao blues. Ouvi depois, de entreouvidos, que a produção teria impedido o bis da banda, por conta do atraso na programação, que provavelmente contemplaria a canção. Independente do quer tenha ocorrido, se o veto ou a ausência no set-list da banda, gostaria de tê-la ouvido lá, até pela relevância que tem dentro do contexto do blues produzido no Brasil e porque tenho certeza que seria muito bem executada, dada a competência e domínio que a banda demonstrou quanto ao repertório do bluesman brasileiro.
A RJ Café Band levou ao placo sucessos de Cazuza e Celso Blues Boy
Assim, um pouco atrasada, entrou no palco para fechar a noite a banda do músico norte-americano radicado no Brasil, Al Pratt, que do alto da experiência de seus longos cabelos brancos, só controlava tudo sentado à frente de órgão enquanto a meninada fazia o trabalho "pesado", mandando muito bem e a cantora convidada Camila Gobbi arrasava em interpretações contagiantes de soul, rock e rhythm'n blues.
Al Pratt, ao teclado, comandou sua banda, abrilahntada pelos vocais de Camila Gobbi
A sexta-feira foi, infelizmente, impraticável. A chuva impiedosa, constante e intensa, fez com que eu optasse por não ir ao evento que parecia, pela descrição dos artistas e de suas especialidades, muito interessante e promissor. Aliás, eu e mais um monte de gente, pois soube de um dos expositores que a presença de público acabara sendo bastante fraca. Mesmo com uma boa infra-estrutura, como destaquei, os poucos pontos cobertos no parque onde se realizava o festival, não teriam dado conta da chuva que batia lateralmente com o vento.
A Alphen, banda de Teresópolis, levantou o púlbico com seu metal de ótima qualidade.
Já no sábado, embora o tempo ainda não estivesse totalmente firme e confiável, pude voltar à praça da música de Teresópolis e de cara tive uma agradabilíssima surpresa. Cheguei por volta das 17 horas, e o que encontrei foi a banda Alphen, a única banda da cidade no line-up, que vigorosa e competente, despejou todo seu peso sobre a galera que respondeu com o mais alto entusiasmo e vibração a clássicos de todos os tempos do metal.
Os instrumentos
à Bo Diddley da
O Velho Bllues
Depois do êxtase causado pela Alphen, quem entrou foi a banda Corcel Mágico pra baixar a rotação e deixar tudo mais suave. Com ênfase no folk, o grupo, ainda que irretocável tecnicamente, na minha opinião poderia, para um festival, onde o público, queira ou não, é um tanto heterogêneo, ter escolhido um repertório um pouco mais popular, mais conhecido, de modo a arrebatar o público, ainda que, justiça seja feita, tenham tocado Simon and Garfunkel, Creedence, Raul, mas por outro lado, tenham executado muitas composições próprias que davam uma certa esfriada na platéia. Um Neil Young, um Dylan, um The Band, apesar de óbvios, teriam caído bem.
A noite de sábado fechou com a banda O Velho Blues, time azeitado da cidade de Petrópolis, também na serra do Rio de Janeiro, que com seus instrumentos atípicos quase rudimentares, usando caixas de charuto e uma tábua de lavar roupa fabricados pelo vocalista Bruno Fraga, ao contrário do que anunciava o nome, não tocava só os antigos nomes do blues, tendo executado "novos" clássicos de bluesman contemporâneos como Albert King, Stevie Ray Vaughan e Freddie King, mas sem deixar de lado, é claro, o bom e velho blues de mestres como Elmore James, Robert Johnson, Muddy Waters e outros. O show, que contou também com composições próprias da banda, esquentou a galera na noite fria de Teresópolis e manteve animação lá em cima.

Banda O Velho Blues

Saí de Teresópolis no início da tarde de domingo e, portanto, não pude ver os shows daquele dia, o último do festival, mas tenho certeza que, epal amostragem dos dias anteriores, mantiveram o ótimo nível do evento que me deixou com a melhor das impressões e com o sincero desejo de retornar nas próximas edições.

Apesar da chuva, quase todos os dias, o evento foi um sucesso e agradou ouvidos e paladares.







Cly Reis

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Iron Maiden - "Somewhere In Time" (1986)




"Up the Irons!"



O West Ham United embora não seja lá um clube de grande expressão no futebol inglês, é um dos mais tradicionais e um dos mais queridos da Inglaterra e mesmo não tendo uma torcida tão numerosa quanto a de outros londrinos como Arsenal, Chelsea e Tottenham pode se orgulhar pelo menos de ter um fiel e autêntico torcedor ilustre que leva seu nome aos quatro cantos do mundo. Steve Harris, baixista e fundador do Iron Maiden não só é torcedor fanático como já quis ser jogador do clube, tendo tentado a sorte nas categorias de base dos Hammers, como é conhecido o time, em sua adolescência. Dividido entre o futebol e sua outra paixão, a música, Harris, percebendo que sua aptidão não seria suficiente para encarar uma carreira profissional, optou pelo mundo da música e nós e que agradecemos. Harris ainda bate uma bolinha com seu time de pelada, o Maidonians, mas onde ele bate um bolão, de verdade, é à frente de sua banda, o Iron Maiden, uma das mais influentes e respeitadas de todos os tempos, não somente no universo metal, como em todo o mundo do rock.
Steve Harris não abandona o time nem no palco.
A munhequeira é das cores do clube e pode-se notar
um escudo do West Ham grudado no instrumento.
Com essa coisa toda de Dia do Rock e a boa campanha do English Team na Copa, aproveitamos para falar dos caras por aqui, mais especificamente do disco "Somewhere in Time", de 1986, trabalho de inspirações futurísticas que sofreu uma certa resistência inicial por parte dos fãs, por conta do uso de sintetizadores, mas que com o tempo teve uma justa reavaliação e hoje é visto como um dos melhores trabalhos do grupo britânico, sendo frequentemente reconhecido, em boas colocações, em listas de fãs.
Destaques para a faixa que abre o disco, "Caught Somewhere in Time", com sua levada arrebatadora e empolgante; para "Wasted Years", que a segue, um dos singles do álbum e uma das melhores músicas da discografia da banda; para a boa "Déjà Vu"; e para "Stranger in a Strange Land", preciosa, com um dos melhores solos de Adrian Smith no álbum.
Talvez o último grande disco do Iron Maiden, ainda que mais adiante tenham vindo bons trabalhos como "Brave New World", já deste século (2000) e o cultuado "Fear of The Dark", de 1992 mas que soam em muitos momentos como uma busca por auto-referência. "Somewhere in Time" por sua vez, consegue unir a tradição do melhor do Iron Maiden com o atrevimento de uma nova proposta, e o resultado é um trabalho equilibrado e original.
Como se não bastasse ser um grande disco musicalmente, a capa é um das mais criativas e complexas da banda e, novamente aparece uma alusão a futebol e ao clube do coração de Harris. Num dos painéis luminosos da cidade futurista inspirada em Blade Runner que ilustra a capa, aparece o placar de uma partida entre West Ham e Arsenal com uma vitória bem pouco real de 7x3 dos Hammers sobre os Gunners. "Up the Hammers!", então, como conclama o slogan da torcida do time londrino. Ou melhor, como na adaptação do bordão feita pelo fanático torcedor ilustre, "Up the Irons".
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FAIXAS:
1. "Caught Somewhere in Time" 7:25
2. "Wasted Years" 5:07
3. "Sea Of Madness" 5:42
4. "Heaven Can Wait" 7:21
5. "The Loneliness of the Long Distance Runner" 6:31
6. "Stranger in a Strange Land" 5:44
7. "Déjà Vu" 4:56
8. " Alexander the Great" 8:37


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Ouça:

terça-feira, 13 de março de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Savatage - "Gutter Ballet" (1989)




"Acho que o trio,
Jon, Criss e eu,
permitiu a nós mesmos
que abríssemos portas
que não seriam abertas regularmente."
Paul O'Neill, produtor




    Lisonjeado em participar das comemorações dos 10 anos da página, confesso que senti certa carência de heavy metal entre os Álbuns Fundamentais do blog, então decidi falar de um dos grupos mais únicos do estilo: o Savatage.
   Pensem numa banda de baixíssima rejeição dentro dos mais variados âmbitos da cena heavy, do melódico ao extremo, mas ainda assim pouquíssimo lembrada quando falamos de seus grandes e mais criativos nomes. Outra curiosidade: não se fez justiça com ela dentro de seu próprio estilo, mas conseguiram ser gigantes no mainstream, repetindo sua exata proposta sonora para as grandes massas sob uma nova roupagem, a da Trans-Siberian Orchestra. Por fim, pensem em como o Savatage conseguiu manter sua essência ao longo de duas décadas (afora tantos trabalhos paralelos de seus integrantes, incluindo a TSO), mesmo tendo percorrido diversos caminhos, flertado com diversos elementos e sonoridades e, ainda, sofrido com tantas mudanças de formação - incluindo aí o trágico falecimento de um guitarrista e compositor fenomenal, irmão do líder da banda.
    As formas de se encarar o Savatage são tantas, que fica difícil até mesmo escolher um álbum sem cometer injustiças com o restante da discografia, pois todos os discos são capazes de mudar a mente do ouvinte com relação às possibilidades e alcance da música pesada. Afinal, o início já foi bombástico com "Sirens" e "Dungeons Are Calling", discos mais crus, diretos, que poderiam ser só "mais um" na cena oitentista, já não fosse uma fina dose de sofisticação que seria a marca do grupo dali em diante. O flerte óbvio com o hard/AOR viria no contido "Fighting For The Rock" (e qual grupo heavy não fez ao menos um disco tipicamente hard?). E o marco, o divisor de águas, seria a chegada do mágico produtor Paul O'Neill (que nos deixou precocemente em 2017) no clássico "Hall Of The Mountain King". A partir de 90, a banda ainda investiria em cada vez mais alucinantes e pomposas rock operas, ganhando na intensidade das composições e na complexidade e diversificação de sua música.
   Ao se colocar tantos elementos na balança, talvez resida em "Gutter Ballet" (1989) o meio-termo que buscamos. O disco é posterior ao ingresso de O'Neill, anterior à morte de Criss, já traz aquela deliciosa aura teatral que abrilhanta os álbuns da banda (embora discutível se o álbum pode ser considerado conceitual ou não), mas, ao mesmo tempo, escancara o mais autêntico hard/heavy, além de um marcante - e pouco reconhecido - toque progressivo (o que é bom ressaltar para quem esquece do Savatage ao falar apenas de Dream Theater, Queensrÿche ou Fates Warning na vanguarda do Prog Metal).
   "Gutter Ballet", pois sim, é um resumo do que é todo o Savatage. É o tapa na cara logo na abertura com "Of Rage And War" (de letra crítica que facilmente se volta, ainda hoje, ao próprio EUA). São os intensos temas emocionais de "When The Crowds Are Gone", "Summer's Rain" e da faixa-título, nas quais o indefectível Jon Oliva deposita garganta, coração e alma em sua interpretação. Mas também é a beleza dos interlúdios, indo da apoteótica "Temptation Revelation" à tranquilidade de "Silk And Steel". É o hard descompromissado e pegajoso de uma sexy "She's In Love", que encontrará em seguida o heavy visceral de uma "Hounds", "Unholy" ou "Thorazine Shuffle", de climas absolutamente sombrios e introspectivos, também marcas dessa banda de inúmeras facetas, sem jamais perder em peso e originalidade.
   Um disco que te faz rever conceitos. Eu, ao menos, descobri e redescobri o heavy metal com ele. E pautou tudo o que eu devia procurar em qualquer banda que eu ouvisse dali para frente.


por Samir Alhazred


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FAIXAS:

1. "Of Rage and War" 4:47
2. "Gutter Ballet" 6:20
3. "Temptation Revelation" (instrumental) 2:56
4. "When the Crowds Are Gone" 5:45
5. "Silk and Steel" (instrumental) 2:56
6. "She's in Love" 3:51
7. "Hounds" 6:27
8. "The Unholy" 4:37
9. "Mentally Yours" 5:19
10. "Summer's Rain" 4:33
11. "Thorazine Shuffle" 4:43

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Ouça:
Savatage - Gutter Ballet





Samir Alhazred é, como ele mesmo se define, um "colecionador paulista".

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Blue Cheer - "Vincebus Eruptum" (1968)



"O que fazemos é apenas
pegar o blues e distorcê-lo
até deixá-lo irreconhecível."
Dickie Peterson,
vocalista



Ta aí uma banda que eu sempre curti pra caramba e há muito tempo vinha querendo falar dela aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. O Blue Cheer foi mais uma daquelas que eu conheci graças à Discoteca Básica da extinta revista Bizz (depois Showbizz), mais especificamente grças à curiosidade do meu irmão e co-editor daqui do ClyBlog, o Daniel Rodrigues, que sempre procurava comprar ou gravar os discos que saíam naquela seção. De vez em quando me aparecia com umas coisas que não me agradavam muito, outras eu só fui apreciar mais tarde, mas o Blue Cheer sempre me impressionou por aquele peso todo. O legal no som dos caras é que parecia funcionar quase como uma espécie de ponte entre alguns subgêneros e, de maneira espantosa, antecipava outros: psicodélica, meio garage-rock, tinha elementos de blues, prenunciava o metal, antevia o hard rock e  o inspiraria o punk. O resultado dessa fusão toda e desse pioneirismo era um som explosivo e arrebatador que pode ser comprovado em sua plenitude em seu excelente trabalho de estreia, o bombástico "Vincebus Eruptum" de 1968.
Já para começar, pegam o clássico do rock'n roll de Eddie Cochrane, "Summertime Blues" acrescentam nitroglicerina tornando-a ruidosa, retumbante, estrepitosa e acima de tudo, fantástica. O clássico de B.B. King, "Rock Me Baby", transforma-se num blues psicodélico de estrutura irregular e mutante;  a longa "Doctor Please" com sua distorção ensurdecedora e vocais ensandecidos é um dos momentos mais pesados dos disco. "Out of Focus" lembra aqueles blues quebrados e malucos de Bo Diddley; e Parchment Farm" tem uma bateria alta, estourando, vocais rasgados e solos absolutamente selvagens. "Second Time Around" finaliza o disco numa anarquia sonora que lembra "European Son" do Velvet Underground e prenunciava a sujeira sônica dos Stooges, com destaque para o riif insistente e repetido do bom Leigh Stephens, os vocais gritados de Dickie Peterson e um solo irado do baterista Paul Whaley.
Considerado por muitos o primeiro disco de heavy metal, "Vincebus Eruptum" tem apenas seis faixas e pouco mais de 30 minutos mas é duração o suficiente para para não deixar pedra sobre pedra. Em 1968, quando as coisas já começavam a se ensaiar para uma sonoridade mais vigorosa, poderosa e minimalista, "Vincebus Eruptum" era a peça que faltava para dar encaminhamento a tudo de pesado que viria a partir dali.
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FAIXAS:
  1. "Summertime Blues" (Eddie Cochran) – 3:47
  2. "Rock Me Baby" (Josea/B.B. King) – 4:22
  3. "Doctor Please" (Dickie Peterson) – 7:53
  4. "Out of Focus" (Peterson) – 3:58
  5. "Parchment Farm" (Mose Allison) – 5:49
  6. "Second Time Around" (Peterson) – 6:17

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Ouça:


Cly Reis

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Marilyn Manson - "Antichrist Superstar" (1996)



Duas versões da capa do álbum
"Vejo meu trabalho como
sendo alguém que deve provocar as pessoas.
Não quero ser apenas mais um.
Não quero ser apenas um rosto risonho
que aparece na TV apresentando
algum tipo insípido de lixo de fácil digestão."
Marilyn Manson



O mundo do rock sempre teve seus palhaços. Desde que David Bowie inventou inventou um personagem extraterrestre, tirou as sombrancelhas, abusou da maquiagem e adotou um visual andrógino, o número de artistas do universo pop a aderirem a máscaras, maquigens, caras pintadas, personalidades paralelas, encenações, etc. só fez aumentar. New York Dolls, Kiss, Gwar, Alice Cooper, mais recentemente o Slipknot, e até os brasileiros dos Secos e Molhados são apenas alguns desses arlequins fantasiados que a cena musical nos apresentou o longo dos anos. Mas quando eu falo 'palhaços' não tenho a intenção de ser pejorativo. Acho legal essa coisa do personagem, da pose, da indumentária. Utilizo a figura mais pelo fato de esconderem-se atrás de um “rosto artificial”, criarem um determinado padrão de procedimentos pré-concebidos, e pela teatralidade que a proposta exige. Mas acho legal, acho que tem tudo a ver com rock. Muitos não valem nada, é verdade, são muita imagem, muita pose, muito efeito especial, pirotecnia, estardalhaço, mas música, que é bom, nada. Mas de vez em quando o mundo do rock nos sai com um desses bufões que valem a pena e um dos mais relevantes dos últimos tempos é um cara que combina um nome feminino de um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema com o de um dos mais brutais e terríveis assassinos psicopatas de todos os tempos. A combinação sexo+cinema+violência+rock, acrescida de muito peso, doses equilibradas e precisas de tecnologia, somada a uma quase convincente teatralidade, resulta em um dos personagens musicais mais interessantes do cenário nas últimas décadas: eu falo de nada mais nada menos que Marilyn Manson.

Escabroso, satânico, pervertido, sádico, bizarro, escatológico? Pode ser tudo isso e pode não ser nada também, mas o fato é que o cidadão nascido Brian Hugh Warner, trazia no meio da década de 90 com a banda que leva seu nome artístico, um industrial vibrante, renovado, cheio de peso e tecnologia, apadrinhado por um dos mestres do gênero, Trent Raznor, do Nine Inch Nails, que produziu seu álbum de estreia de 1994, “Portrait of an American Family” e seu brilhante segundo álbum, “Antichrist Superstar” uma pequena ópera rock que, de forma mais perfeita, coesa e técnica que seu antecessor, funde elementos eletrônicos, metal e pop.

Numa época em que o CD já mandava no pedaço e os álbuns não podiam contar mais com a divisão lados A e B para marcar características diferentes dentro de uma mesmo álbum, como em "Low" do já citado Bowie, "Autobahn" do Kraftwerk, o "V" da Legião Urbana, “Antichrist Superstar”, sem este recurso, é dividido em 'ciclos', “O Hierofante”, “A Inauguração do Verme” e “A Ascenção do Desintegrador”, com características musicais sutilmente diferente entre si, referindo-se cada uma delas a fases da vida/carreira do artista e reforçando a intenção conceitual da obra.

Se tematicamente o trabalho é repleto de referências filosóficas, especialmente em relação a Nietzsche, e discute questões como a formação de mitos, da exposição de mídia e do pensamento coletivo, sonoramente o disco é uma pedrada com inserções eletrônicas, samples, e um trabalho minucioso, cuidadoso e preciso de Trent Raznor na mesa de produção. A abertura com “Irresponsible Hate Anthem”, é incendiária; “The Beautiful People” com seu início galopante é um tijolaço; a provocativa “Mister Superstar”, detona; e a faixa que dá nome ao disco e que abre o último ciclo, “A Ascenção do Desintegrador”, com seus gritos que sugerem uma espécie de saudação nazista, abordando exatamente a idolatria cega a devoção a falsos líderes, soa messiânica e monumental.

Não dá pra deixar de destacar também o metal bem pop “Dried Up...”; a ótima “Wormboy”; a bomba "Angel with the Scabbed Wings"; a muito bem elaborada "Kinderfeld"de ótimo trabalho de produção; e a levada funkeada do baixo de “Minute to Decay”.

Muitos fãs levam a sério toda a imagem que Marilyn Manson tenta passar e, sendo justo com ele, tenho que admitir que o cara se esforça um pouco mais do que outros similares para dar credibilidade ao seu personagem. Mas particularmente prefiro me ater mesmo ao som que foi uma das coisas mais revigorantes no cenário metal dos últimos tempos com a fúria e o peso que o gênero exige, mas com um toque pop e uma teatralidade que acabaram por ser os diferenciais de MM.

Satanismo, autodeformações físicas, perversões, maltratos a animais? Hum... Não sei. Acredite se quiser. Eu recomendo apenas ouvir. Na dúvida, apenas ouça.
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FAIXAS:
  • Ciclo I - O Hierofante
1. "Irresponsible Hate Anthem" - 4:17
2. "The Beautiful People" - 3:38
3. "Dried Up, Tied and Dead to the World" - 4:16
4. "Tourniquet" - 4:29 


  • Ciclo II - A Inauguração do Verme
5. "Little Horn" - 2:43
6. "Cryptorchid" - 2:44
7. "Deformography" - 4:31
8. "Wormboy" - 3:56
9. "Mister Superstar" - 5:04
10. "Angel with the Scabbed Wings" - 3:52
11. "Kinderfeld" - 4:51


  • Ciclo III - A Ascensão do Desintegrador

12. "Antichrist Superstar" - 5:14
13. "1996" - 4:01
14. "Minute of Decay" - 4:44
15. "The Reflecting God" - 5:36
16. "Man That You Fear" - 6:10
99. "Track 99" - 1:31
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Ouça:




por Cly Reis


quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sepultura - "Roots" (1996)



“Max Cavalera é uma lenda.
Nunca se vendeu, 
sempre foi verdadeiro - 
e sempre poderá dizer
‘Eu gravei Roots’.
Para mim, isso é grandioso.”
Dave Grohl (Foo Fighters e ex-Nirvana)


Um daqueles discos que mudou o rumo das coisas. "Roots", da banda brasileira Sepultura, de 1996, como se não bastasse ser legal pra caramba, deu uma nova perspectiva ao metal levando-o a uma nova dimensão. Algum douto pretensioso pedante pode alegar que "uma banda dinamarquesa lá de mil novecentos e setenta e pico já havia misturado regionalismos e folclores nórdicos ao metal e coisa e tal e blablablá..." Tá bem, tá bem. Mas tenho certeza que ninguém o fizera com tamanha qualidade, riqueza e sobretudo, com alcance, por conta do renome que o Sepultura já gozava no cenário mundial.
"Roots" conseguia a proeza de agregar ao metal ritmos brasileiros, indígenas, regionalismos, tradicionalismos e folclore, sem abrir mão do peso e da agressividade, suas marcas registradas.
É certo que seu antecessor, "Chaos A.D.", de 1993, já indicava o caminho, mas coisas como a incrível "Ratamahatta", em parceria, quem diria, com Carlinhos Brown, de letra em português com palavras soltas lançadas praticamente aleatoriamente; e a literalmente tribal "Itsári", uma levada acústica de violões acompanhada de cantos xavantes gravada na própria reserva indígena; eram a confirmação daquela tendência da banda e a afirmação da ousadia sonora em um nível poucas vezes visto no gênero.
No entanto, a melhor síntese da sonoridade pretendida e alcançada no projeto da banda fica por conta da faixa que abre o disco, "Roots", que ao mesmo tempo que mantém as características básicas da banda com todo seu peso e energia, mescla de maneira perfeita  e muito sonora, os elementos rítmicos estranhos à sua linguagem. Uma paulada metal com batucada brasileira. Genial e espetacular.
"Attitude", com seu berimbau; a excelente "Cut-Throat", influência inequívoca para o chamado Nu-Metal com sua estrutura toda quebrada ; a batucada à Olodum de "Breed Apart"; e a ótima "Born Stubborn" em ritmo de ponto de umbanda, também são dignas de nota, bem como o metal-industrial, "Lookaway", que conta com a participação de Mike Patton do Faith No More. Algumas edições do álbum trazem ainda faixas extras como a versão para "Procreation (of the Wicked)" do Celtic Frost e a competente cover do Black Sabbath, "Symphtom of the Universe".
Muitos fãs torceram o nariz para o trabalho mas não há como negar o caráter absolutamente inovador da proposta. Aquilo havia sido algo novo e inusitado e era tão interessante que não só viria a dar rumo aos novos caminhos musicais que a própria banda seguiria, como influenciaria diversas bandas e artistas da cena musical dali por diante.
Um daqueles álbuns que mudou o rumo das coisas.
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FAIXAS:
1-Roots Bloody Roots
2-Attitude
3-Cut-Throat
4-Ratamahatta
5-Breed Apart
6-Straighthate
7-Spit
8-Lookaway
9-Dusted
10-Born Stubborn
11-Jasco
12-Itsári
13-Ambush
14-Endangered Species
15-Dictatorshit

16-Canyon Jam

17-Procreation (Of The Wicked) – Celtic Frost Cover*
18-Symptom Of The Universe (Black Sabbath Cover)*


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Ouça:
Sepultura Roots


Cly Reis

sábado, 26 de janeiro de 2013

Danzig - "Danzig II - Lucifuge" (1990)



“Vós tendes por pai o Diabo,
e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”
citação do livro de João, da Bíblia,
no encarte da edição original do álbum



Dia desses estava eu numa loja de CD’s comprando uma camiseta do Johnny Cash, e como não raro acontece, o som que tocava na loja me chamou a atenção. Um metal semi-acústico alicerçado no blues, interpretado com ênfase, paixão e vigor. Interessantíssimo aquilo! Fui até o balconista e perguntei do que se tratava, ao que ele me respondeu que era Danzig. Ora, já havia ouvido falar da banda mas nunca efetivamente havia escutado. A surpresa foi agradabilíssima. Perguntei o nome da música. Aquela chamava-se “I’m the One”. Estusiasmante, extasiante! Ao melhor estilo dos blueseiros da antiga mas cantado com a força do metal.

Procurei saber de onde era aquela música e a mesma fazia parte do álbum chamado “Lucifuge” que, já na primeira audição, ratificando a boa impressão inicial apresentava-se como um maravilhoso exemplar de uma espécie de blues-metal bastante original na sua concepção, execução e interpretação.

Embora utilizando-se, sim, de instrumentos elétricos, de peso e vocais impetuosos, A produção caprichada do ótimo Rick Rubin (de "BloodSugarSexMagik" dos Chilli Peppers e a série "American" de Johnny Cash , por exemplo) estreita de maneira admirável as correntes do metal com as características mais primárias do bom e velho blues tradicional dos grandes mestres, isso sem falar nas temáticas, é claro, sinistras, cheias de lendas e demônios comuns a ambos os estilos.

Além da já citada “I’m the One”, minha favorita, destaque especial também para a primeira “Long Way Back from Hell” um metal galopante, potente, forte e vigoroso; para a balada “Blood and Tears”; para o ótimo blues-metal apocalíptico "777";  e para a excelente “Killer Wolf”, referência ao lendário blueseiro Howlin’ Wolf, pelo título e pela interpretação. No restante, todas são boas canções mas, se pode-se apontar um defeito é que, talvez uniformes demais, algumas acabem soando muito parecidas com as outras. Mas nada que desdoure ou invalide todos os méritos deste ótimo trabalho.

Só algum tempo depois de conhecer o Danzig foi que descobri que o líder, vocalista, idealizador, Glen Danzig era o vocalista do extinto Misfits, que para falar a verdade, nunca me agradou muito. Já o Danzig, bastou um pouquinho daquele blues diferente, envenenado, sujo, satânico pra me pegar pelos ouvidos.
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FAIXAS:
  1. "Long Way Back from Hell" - 4:27
  2. "Snakes of Christ" - 3:59
  3. "Killer Wolf" - 4:14
  4. "Tired of Being Alive" - 4:03
  5. "I'm the One" - 4:09
  6. "Her Black Wings" - 4:47
  7. "Devil's Plaything" - 3:58
  8. "777" - 5:40
  9. "Blood and Tears" - 4:20
  10. "Girl" - 4:18
  11. "Pain in the World" - 5:46
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Ouça:
Danzig II Lucifuge



Cly Reis

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

AC/DC - "Back in Black" (1980)



"Eu pensei,
'bom, que se foda!
Eu não vou ficar sentado deprimido
todo o resto da porra do ano' "
Malcolm Young,
referindo-se à morte, naquele ano
do ex-vocalista Bon Scott
e à decisão de voltar à ativa imediatamente.


É impressionante como eu perdi tempo na minha vida brigando contra o AC/DC. Era uma espécie de implicância praticamente injustificada. Atribuía ao fato de não soar com tanto peso quanto eu julgava que um metal devesse ter, de julgar superestimada a idolatria pela guitarra de Angus Young, de o cara se vestir como um colegial, do vocalista ter uma boina de açougueiro, ao fato de ter um vocal esganiçado, de ... sei lá mais o que. Bobagem! Bobeira minha. E não é esta mesma característica pesada sem ser barulhento que eu aprecio em bandas como The Cult, por exemplo? A veia blueseira que eu admiro tanto nos hard-rocks do Purple ou do Led? E não tolero a voz esganiçada do Axl e seus Guns'n Roses? Ora, diabos! Por que que repudiava tanto as mesmas coisas no AC/DC?
Acho que a fronteira final da minha resistência se deu assistindo ao filme "Homem de Ferro 2" no qual “Shoot to Thrill” toca no início, na Expo. Aquele riff me pegou de jeito e depois de anos desconsiderando os Young e sua turma, acho que acordei. E depois todas as outras que rolam ao longo do filme, porra! Mas não só por causa do tal do filme... Onde é que eu estava todo esse tempo?
Bom, antes tarde do que nunca!
(Aqui abro um parêntese: Imagino que os apaixonados, os fãs de longa data, os puristas me olharão de viés por ter, não só demorado a perceber o óbvio da imprescindibilidade do AC/DC no universo, mas também pelo fato de só ter notado isso vendo um longa de um super-heroi canastrão num blockbuster de qualidade duvidosa; mas dir-lhes-ia então que ainda pudesse tê-lo conseguido por qualquer outro meio mais digno, como um amigo me emprestando o disco, na casa de uma namorada, ter do ido ao show só por curiosidade ou algo do tipo, da maneira que se deu só mostra como a 'luz' pode vir de, rigorosamente, qualquer lugar, até dos mais improváveis, e também que... de mais a mais, pelo menos o Homem de Ferro terá tido alguma utilidade na sua existência, não? Mas se de qualquer forma, sua eventual antipatia por este novo fã persistir, se não me considerarem digno de fazer parte de sua legião de seguidores, se considerarem sem profundidade de conhecedor esta minha resenha, ou inapto para tecê-la, eu dir-lhes ia que... ora, fodam-se, então.)
Mas voltando ao assunto, o que sei é que aqueles sinos que soam no início de “Hells Bells”, abrindo o álbum, parecem querer anunciar que o que virá dali para a frente será algo sagrado (ou profano). A partir dali começa uma aula de rock’n roll com o que é provavelmente a maior concentração de riffs espetaculares por centímetro quadrado num álbum de rock. A própria “Hells Bells mencionada é espetacular, um pouco mais cadenciada que o habitual do som da banda mas com um peso admirável; a própria “Shoot to Thrill”, objeto dessa redescoberta, é de tirar o fôlego; “Givin the Dog a Bone” é eletrizante com a guitarra de Angus pegando fogo; a belíssima “Let Me Put My Love Into You” bebe no blues mas não esquece a pegada; tem a clássica “You Shook Me All Night Long” absolutamente arrebatadora; “Back in Black”, que dá nome ao disco, simplesmente um dos maiores clássicos da história do rock, um dos riffs mais incríveis e mais lembrados de todos os tempos; e fecha com a ótima “Rock’n Rol Ain’t a Noise Pollution” um manifesto-desabafo pra encerrar com chave de ouro.
Um disco de reação e coragem da banda que resolveu voltar às atividades logo após a morte de seu vocalista original, Bon Scott, até mesmo pra não se deixar abater. E o resultado do luto foi este: um grande álbum!
Um baita disco!
Rock'n Roll puro! Na essência!
O incrível é que o AC/DC estava ali o tempo todo e eu não o percebia. Onde eu estava com a cabeça? Onde estavam meus ouvidos?
Senhor, eu era surdo, agora posso ouvir.
(Milagre!)
Que soem os sinos. Que soem os sinos!
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FAIXAS:
01. Hells Bells
02. Shoot To Thrill
03. What Do You Do For Money Honey
04. Given The Dog A Bone
05. Let Me Put My Love Into You
06. Back In Black
07. You Shook Me All Night Long
08. Have A Drink On Me
09. Shake A Leg
10. Rock And Roll Ain’t Noise Pollution

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Ouça:

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sepultura- "Arise" (1991)




“Max Cavalera é um homem muito importante.
Ele, ao lado do Sepultura, foi o primeiro brasileiro no Metal
a realmente tocar fora do Brasil
e ganhar uma grande e fanática
legião de fãs estrangeiros."
Lemmy Kilmister,
Motörhead



Eles já eram respeitados no exterior e reconhecidos por nomes de pesocomo Anthrax e Motörhead, mas em seu próprio país de origem, somente a partir de “Arise” (1991) foi que passaram a receber a devida atenção. É verdade que o álbum anterior, “Beneath the Remains” já havia chamado atenção aqui, mas seu sucessor então apresentava um aprimoramento tal que não tinha como ser ignorado e colocava a banda, não apenas por conta de seu tardio reconhecimento no Brasil, mas muito pelo inegável salto de qualidade, como um dos grandes nomes do metal mundial.
O som às vezes tosco, os vocais excessivamente guturais com letras inaudíveis, a ausência de ousadia rítmica e questões técnicas de produções deficientes presentes nos trabalhos anteriores davam lugar uma banda mais segura de si, mais equilibrada, mais criativa, metendo o ferro, é claro, mas com muito mais maturidade e qualidade sabendo dosar o peso, a melodia e os estilos musicais, numa produção caprichada e cuidadosa.
O vocal de Max Cavalera continuava gritado, é claro, monstruoso, é lógico, mas com mais técnica e com um inglês aperfeiçoado mais inteligível; as guitarras continuavam aquele turbilhão sonoro, aquele troar vulcanico, mas com riffs mais marcantes, com levadas precisas, com partes e entrepartes, com variações entre o metal, o hardocore, o funk, além das incursões eventuais remetendo a música latina e indígena que viriam a ter importância crucial nos trabalhos posteriores da banda. E a bateria de Igor Cavalera? O que dizer da bateria? Ora,... Fúria, velocidade, técnica precisão em tempestades sonoras proporcionadas por um dos grandes bateristas dos últimos tempos.
Destaques para a faixa que dá nome ao disco uma bomba impiedosa, cheia de peso e alternâncias; para a excelente “Dead Embrionic Cells”, uma das melhores composições do álbum; para “Altered State”, que introduz sutilmente elementos tribais que seriam importantes posteriormente; para a matadora “Desperate Cry” com seu show de bateria com o bumbo duplo no final; para a "Subtraction", não muito badalada mas uma das minhas preferidas; e para o clássico “Orgasmatron”, cover do Motörhead só presente na versão brasileira do álbum, com seu ritmo bem cadenciado, vocal urrado de Max Cavalera e seu final absolutamente extasiante.
“Arise” era enfim o alavancamento do Sepultura como grande nome no cenário mundial, entrada definitiva da banda em seu próprio país e provavelmente, por isso mesmo, marco inicial para uma liberdade artística e criativa que culminariam em experimentações sonoras interessantíssimas já presentes no álbum seguinte, “Chaos A.D.” e que culminariam no excelente  e inovador álbum “Roots” de 1996. Mas isso é assunto para outra resenha, com certeza.
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FAIXAS:
  1. "Arise" - 3:19
  2. "Dead Embryonic Cells" - 4:52
  3. "Desperate Cry" - 6:41
  4. "Murder" - 3:27
  5. "Subtraction" - 4:48
  6. "Altered State" - 6:34
  7. "Under Siege (Regnum Irae)" - 4:54
  8. "Meaningless Movements" - 4:40
  9. "Infected Voice" - 3:19
  10. "Orgasmatron" (cover do Motörhead)- 4:43

a edição de relançamento de 1997 traz ainda :
11. “Intro”
12. “C.I.U. (Criminals In Uniforms)”
13. “Desperate Cry (Scott Burns Mix)”

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Ouça;
Sepultura Arise



Cly Reis

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Deep Purple - "Made in Japan" (1972)

“Ainda adoro o rock n’ roll,
mas, para dizer a verdade,
não costumo ouvir nem mesmo 
as minhas gravações de rock,
pois prefiro uma música com mais substância.
É legal de tocar, mas não de ficar ouvindo.”
Ritchie Blackmore



Quando o assunto é Deep Purple a primeira coisa que me vem à cabeça é o vinil "Made In Japan" de 1972 que eu tive o prazer de escutar aos nove anos. Sim, aos nove! Quando eu não tinha o que fazer, eu e minha amiguinha ficávamos mexendo nos discos do irmão dela. Entre um vinil e outro, escutávamos coisas do tipo Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Janis Joplin, Jethro Thull, Rolling Stones, The Police, ACDC e bem de vez em quando rolava uma Xuxa também, afinal éramos crianças. Mas o que predominava era o rock! Foi ai que começou minha paixão por música boa...
E uma das músicas do D.P. que mais me deixou alucinada com a guitarra mais fascinante que já havia escutado até então, foi a maravilhosa 'Strange Kind Of Woman', como um grito de início de Ian Gillan e os riffs e solos de Ritchie Blackmore deslumbrantes. Aliás, no meio dessa música tem um belo duelo de guitarra-vocal com Gillan e Blackmore que ao vivo sempre termina com um extremamente longo, grito estridente de Gillan.
A canção foi originalmente chamada de "Prostitute". Gillan introduziu a música no Deep Purple: "Era sobre um amigo nosso que se relacionou com uma mulher e foi uma história triste. Eles se casaram, e alguns dias depois ela morreu”. Mas o fato é que esta música não é sobre uma mulher, mas sim uma compilação de emoções e decepções, e tal pacote foi nomeado Nancy.
E voltando ao assunto gritos estridentes, não posso deixar de destacar também a maravilhosa 'Child In Time' com os inacreditáveis agudos de Gillan e o solo de Jon Lord nos teclados, aliás, a banda inteira faz uma baita contribuição de solos inexplicáveis nessa música!
Não, eu não vou falar sobre 'Smoke On The Water', essa música nem precisa de comentários né?! É simplesmente o hino da banda!
O álbum que eu escutava, do grito inicial até o grito final e que, nove anos depois, finalmente encontrei em CD esse disco que com certeza marcou minha infância.
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FAIXAS:
1. Highway Star
2. Child In Time
3. Smoke On The Water
4. The Mule
5. Strange Kind Of Woman
6. Lazy
7. Space Truckin'

*em 1998 foi lançada uma edição remasterizada com um disco extra com mais 3 faixas:
1. Black Night
2. Speed King
3. Lucille
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Ouça:
Deep Purple Made In Japan

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Helmet - Beco - Porto Alegre - RS (30/07/2011)




Em 1994, por algum abobadice da qual não me recordo, não fui a Capão da Canoa, cidade próxima a Porto Alegre, para o festival de música M2000 Summer Concert, que, apresentava como atrações um monte de babas como Deborah Blando, Robin S. e otras coisas do gênero, mas que curiosamente trazia também o alternativo Helmet, a melhor banda de rock pesado surgida nos anos 90 e a qual eu já adorava àquela época. Perdi e nunca me perdoei por isso. Até que, passados 17 anos daquele descuido, o Helmet volta ao sul, agora exatamente em Porto Alegre, para uma única apresentação no pub Beco. Não podia deixar escapar dessa vez. Juntamente com o povo que lotava o local, pude conferir o grande show que o grupo apresentou, tocando clássicos do seu repertório.

O Helmet parecia estar curtindo o show. A galera agradece!
O show abriu com uma das clássicas: “Wilma’s Rainbow”, cantada com emoção por todos no marcante refrão: “Wathershed we comes/ You’re flush with fever/ The richest junk dealer". Já nesta, a banda, liderada pelo excelente compositor e guitarrista Page Hamilton, mostra a perfeição na execução das complexas linhas melódicas, característica própria da banda. Isso, claro, aliado a muita pegada, flertando direto com o hardcore e o heavy metal, não sendo, apesar de tudo, nenhum dos dois. Aliás, esta é uma marca do Helmet: é simplesmente um belíssimo rock, enfurecido, de guitarras distorcidas, bateria pulsante e baixo que rosna, mas sempre inteligente e bem composto, mas sem apelar para o virtuosismo masturbatório. Isso se pôde perceber nas excelentes “Vacccination”, com sua criativa variação de 3 e 6 tempos, “Milquetoast”, muito festejada pelo público, e “Give It”, com seu tempo “atrasado” de bateria que sincopa a música entre um urro de guitarra e outro.

Galera ainda meio comportada.
Bem à esq., na parte inferior, um pedaço da minha cabeleira,
antes de me juntar à roda do pogo.
Como cheguei já com a casa cheia, posicionei-me, antes do show, pelo meio da pista; mas a intenção era, quando começasse, cair na roda punk. Rolaram as primeiras músicas, e os que estavam logo à minha frente só assistiam parados. Fazer o quê? Direito deles, né? Mas quando a banda tocou a furiosa “Turned Out”, com seu vocal raivoso e sua estrutura toda “quebrada”, não pude resistir: saí abrindo passagem a socos e pontapés para misturar-me à saudavelmente ensandecida galera que pogueava. A glória! E ali fiquei até o fim. Vieram na sequência a emputecida “Ironhead”, “Role Motel” (das minhas preferidas) e “Better”, todas do célebre álbum “Meantime”, de 1992.
Os simpáticos integrantes mostraram o tempo todo estarem se divertindo, agradecendo, inclusive, várias vezes a presença do público. Mas o ponto alto foi, de fato, “Unsung”, maior hit da banda, quando a plateia toda cantou junto. No bis, três músicas, fechando com nada mais, nada menos que “Just Another Victim”, da trilha sonora do filme “Judgment Night” que, na original, é tocada junto com os rappers do House of Pain. Mas como só tinha Helmet no palco, a segunda metade da música, quando entraria a parte do rap, teve uma ótima solução: emendaram-na com “In the Meantime”, a joia que abre o disco mais conhecido da banda.
Já na rua, com os ouvidos zunindo e a canela doída por causa de um chute, ao invés de pegar um táxi, preferi sair caminhando, curtindo aquela sensação gloriosa pelo show que acabara de acontecer. A cada música que me lembrava, bengueava sozinho pela noite porto-alegrense. Voltei para casa com o sentimento de que, agora, estou perdoado por mim mesmo.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Motörhead -"Ace of Spades" (1980)

"Motörhead é heavy metal no únco sentido significativo do termo. Todo o resto é apenas faz-de-conta"
Gary Bushell,
jornalista da revista Sounds



Conheci o Motörhead através do Sepultura, com a clássica regravação de "Orgasmatron", depois fui ouvindo uma coisa aqui outra ali e sempre gostando do que ouvia mas nunca tomando vergonha na cara para ter alguma coisa dos caras. Ouvia a boa "Hellraiser" da trilha da terceira sequência da franquia, a versão deles pra "Enter Sandman" do Metallica , e há pouco tempo um colega do trabalho me trouxe uns arquivos pra gravar no MP3 e me apresentou uma versão ao vivo de "Ace of Spades". Nossa! Aquilo me enlouqueceu. Era o que eu precisava pra tomar uma atitude. Tinha lido a respeito no "1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer" , havia ficado curioso, mas agora conhecendo-a eu tinha que ter aquilo em casa. Dia desses numa loja dessas de CD's usados me deparo com o dito álbum, "Ace of Spades", novinho, na embalagem, por 20 pratas. Putz! "Só se for agora!".
Ouvi no dia seguinte no carro indo para o trabalho...
Cara... Quase derreti os alto-falantes.
O carro chegou em casa fumaçando.
O Motörhead que tem a fama de ser a banda mais barulhenta e mais rápida do mundo, justifica areputação com um incesante e imponente troar de guitarras, ritmos incontrolavelmente acelerados e levadas verdadeiramente alucinantes, tudo isso conduzido pela voz rouca e cavernosa do deus Lemmy Kilmister.
"Shoot You In the Back" com sua levada galopante é um tiro à queima-roupa; a rápida "Bite the Bullet" chega e põe tudo abaixo; "Love me Like a Reptile" é simlesmente arrasadora; "The Hammer", uma das melhores, é uma marretada hardcore; e a faixa-título, "Ace of Spades" tem possivelmente o riff mais destruidor, matador, detonante já produzido por um ser humano. Humano? Mas quem disse que Lemmy é humano?
Disco foda!
Referência do metal e indubitavelmente, álbum fundamental.
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FAIXAS:
1.. "Ace of Spades" – 2:49
2.. "Love Me Like a Reptile" – 3:23
3.. "Shoot You in the Back" – 2:39
4.. "Live to Win" – 3:37
5.. "Fast and Loose" – 3:23
6.. "(We Are) The Road Crew" – 3:12
7.. "Fire Fire" – 2:44
8.. "Jailbait" – 3:33
9.. "Dance" – 2:38
10.. "Bite the Bullet" – 1:38
11.. "The Chase Is Better Than the Catch" – 4:18
12.. "The Hammer" – 2:48

todas as faixas: Clarke, Kilmister, Taylor

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Ouça:
Motörhead - Ace of Spades



Cly Reis