Jogaço!!!
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
"Medéia, A Feiticeira do Amor", de Pier Paolo Pasolini (1969) vs. "Medéia", de Lars Von Trier (1988)
Jogaço!!!
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
"Histórias Reais", de David Byrne (1988)
O Olho de Fora
Não é de hoje que, às vezes, a visão do estrangeiro me diz mais do que a do nativo. Ofuscado pela cotidianidade, o vivente local comumente não se apercebe de elementos básicos daquilo que ele mesmo é. “Cego de tanto vê-la”, como disse o poeta. O forasteiro, como uma folha em branco, está livre para ser escrito, rabiscado, rasurado, e sem que se trace por cima de escritas já grafadas. Tal como as tatuagens de Nagiko, de “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway (1996), seu corpo serve, agora, de página para algo novo que se inscreva, em letras de novíssimos significados. Essa visão de fora, no cinema, é, igualmente, a ferramenta para que algumas obras incomuns sejam criadas. É o caso de “Histórias Reais” (True Stories, EUA-1988), a bem sucedida experiência audiovisual do músico – e estrangeiro – David Byrne.O escritor e viajante francês François Chateaubrinad, em seu “Voyage en Italie”, disse que “cada homem traz em si um mundo composto de tudo o que viu e amou, e onde ele entra em permanência, ao mesmo tempo em que percorre e parece habitar um mundo estrangeiro”. Tão peregrino quanto, o escocês David Byrne escreveu e conduziu “Histórias Reais”, um filme no qual engendra com delicadeza e humor uma crônica cotidiana da vida norte-americana, tudo permeado por um olhar aparentemente infantil mas, na verdade, carregado de perspicácia. E essa visão própria está diretamente ligada à relação emocional do autor com o seu lugar, daquilo “tudo o que viu e amou.”
Byrne: narrador e personagem quebrando a "4ª parede" |
Na obra de Byrne, o cenário ideológico representa mais do que uma cidade, mas os Estados Unidos como um todo, país que lhe acolheu e com o qual é tão identificado desde os tempos da geração punk nova-iorquina dos anos 70, da qual ele foi um dos principais atores à frente da lendária banda Talking Heads. A solução encontrada por ele para representar a amplitude de uma nação toda em um único espaço físico foi a de inventar uma cidade fictícia, a extravagante Virgil, onde a história transcorre. Nela, o diretor-viajante (Narrador, como é chamado), encarnado pelo próprio Byrne, percorre como um repórter esta localidade do Texas em plena comemoração dos 600 anos da cidade, onde encontra diversos personagens hilários, entre eles a Mulher Mais Preguiçosa do Mundo e o solteirão Louis Fyne (o sempre excelente John Goodman) à procura de casamento e da realização como artista.
Figurinos e cenários kitsch: o americano médio no centro |
Por outro lado, o filme revela belezas escondidas. E o faz muito bem. Com um olho atilado e sensível, Byrne enxerga, por exemplo, as tradicionais casas ao estilo norte-americano (tão comumente filmadas em centenas de outros filmes) nos planos gerais em travelling, aqui enquadrados não só com a câmera, mas também com a alma. A cena final na estrada de terra que se perde ao infinito, igualmente, é de pura poesia, visual e conceitualmente.
A emocionante cena das casas sob o olhar do estrangeiro Byrne
A fotografia do competente Ed Lachman (que se tornaria diretor mais tarde, fazendo, entre outros títulos, o ótimo “Ken Park”, de 2002) se encaixa na medida certa para as intenções do filme, tanto nas composições propositadamente artificiais, nas cenas em que Byrne aparece dirigindo pela estrada ou no vídeo de “Love For Sale” (que funcionou perfeitamente como clipe na MTV), como nas imagens naturais, a ver os lindos enquadramentos em grande plano da paisagem horizontalizada do deserto norte-americano, lembrando, sem medo da comparação, “Paris, Texas” (Win Wenders, ALE-EUA, 1984). Lachman também acerta no tom da exacerbação cenográfica proposta por Byrne, quando capta, dentro daquele emaranhado de imagens publicitárias, diversos formatos e tipos de telas de vídeo, provocando uma interessante profusão de superenquadramentos. Ideia esta, assim como as tonalidades cromáticas fortes, visivelmente aprendida por Byrne com o cinema novo alemão (movimento do qual Wenders originou-se) e do cineasta americano Jonatham Demme, diretor de vários clipes do Talking Heads.
Superrnquadramento de "Histórias...", à esq., e de "Paris, Texas" ao lado: Byrne se inspira em Wenders |
Filme de músico, “Histórias Reais” tem ótimas músicas, é costurado por música, mas não é, a rigor, um musical. Conceitual, “Histórias Reais” é um dos produtos de um projeto multimídia – pouco comum à indústria de entretenimento naqueles anos 80 – lançado simultaneamente em outros dois formatos: livro, um book de trabalhos fotográficos com imagens captadas para o filme, e LP, um dos melhores do Talking Heads. Aliás, na minha percepção de fã da banda, “True Stories”, o disco, de princípio, mesmo com os grandes hits “Love for Sale” e “Wild Wild Life”, não me impressionava tanto quanto outros do grupo. Porém, sua audição passou a me fazer mais sentido e, consequentemente, a gostá-lo mais, depois de assistir a sua “versão” audiovisual.
Pelo viés da música, Byrne – já premiado anteriormente como diretor de videoclipes de sua banda – mostra domínio ao explorar todos os níveis narrativos de um filme musical. Ele se utiliza da trilha diegética, como na divertida cena de “Wild Wild Life”, expediente bastante usado nos musicais em que a música e a dança provocam um distanciamento da realidade para criar um universo próprio dentro daquele instante em que ocorre a performance. Em outro momento, usa também a não-diegese, como na apresentação na igreja em que há uma banda inteira executando a peça como se fosse ao vivo, integrando totalmente a música ao ato narrativo. Byrne também se vale da mistura dos dois extremos, como na sequência das crianças percutindo latas e cantando na rua a caribenha “Hey Now”.
O clássico clipe de "Wild Wild Life": cinema, a TV e a vídeo-arte
“Histórias Reais”, contudo, intenta ir além do musical. E vai. A constatação é um tanto preconceituosa, confesso, mas resisto um pouco a este gênero. Claro que existem grandes realizações nesse estilo ao longo da história do cinema; estão aí para provar “O Mágico de Oz” (Victor Fleming, EUA-1939) e o balé “Sapatinhos Vermelhos” (Michael Powell e Emeric Pressburger, ING-1948). Mas em geral incomoda-me aquela artificialidade da transição diálogo-performance, nem sempre justificável, nem sempre coerente. E até me irrita, em alguns casos, a forçada conversão do texto em canto quando a mesma poderia funcionar muito bem em uma simples fala coloquial. Pergunto-me: para que todo aquele contorcionismo para dizer um corriqueiro “bom dia”? “Hair” (Milos Forman, EUA-1979), por exemplo, me enjoa. Os que mais me agradam nesta linha são, justamente, aqueles que, de alguma forma, burlam o padrão do musical de Aistaire ou Kelly. De atmosfera onírica, cada um a seu modo, “Dançando no Escuro” (Lars von Trier, DIN/FRA/EUA -2000) e "Brasil Ano 2000" (Walter Lima Jr., BRA-1969) são exemplos felizes de reapropriação do elemento música dentro do contexto fílmico.
Não tão radical, “Histórias Reais” se situa entre um estilo – o clássico hollywoodiano – e outro – o do cinema moderno –, visto que é bastante palatável como o cinema comercial, porém, agregando aspectos de outras linguagens, como a publicidade e a vídeo-arte.
Fotografia valorizando o esverdeado luminoso, típico dos filmes de Demme e do cinema novo alemão |
A era pós-11 de Setembro evidenciou ao mundo a crise moral e política a qual os Estados Unidos vinham alimentando há décadas, a começar pelo período de governo Reagan, da época em que "Histórias Reais" foi rodado. Mas e os dentes brancos da propaganda do creme dental? E as admiráveis engenhocas da tecnologia moderna? Ainda nos dizem alguma coisa? O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss foi no alvo quando escreveu: “esta grande civilização ocidental, criadora das maravilhas de que desfrutamos, certamente não conseguiu produzi-las sem contrapartida”. A ilusão que o filme de Byrne quase carinhosamente identificava sem apontar o dedo, a geração de cineastas como Michael Moore e Charles Ferguson cresceu para poder, hoje, com propriedade e direito, arregaçar as próprias feridas. De fato, parte da sociedade descobriu, um tanto tarde, que o Super-Homem jamais existiu a não ser nos quadrinhos, e que todos são de carne e osso, eles e os outros. “People Like Us”, sintetiza uma das músicas da trilha. Como diz naquele texto de Caetano Veloso: “Americanos não são americanos. São os velhos homens humanos chegando, passando, atravessando. São tipicamente americanos.”
"People Like Us", da Talking Heads: uma tradução do filme
Daniel Rodrigues
domingo, 10 de maio de 2020
Mãe é Mãe - Algumas das Mães Mais Marcantes do Cinema
Ela, inatingível, pairando sobre tudo. |
2. "Psicose", de Alfred Hitchcock (1960) - Esse é o caso de uma mãe que é fundamental para a trama mas, na verdade, não está presente fisicamente o tempo inteiro durante o filme. Hitchcock, genial como era, até nos deixa com a pulga atrás da orelha num primeiro momento, sugerindo alguma farsa ou assombração, uma vez que nos tornando conhecedores do fato que a mãe do dono do motel, Norman Bates, está morta, faz aparecer um vulto feminino na janela da casa, nos deixa ouvir uma bronca de voz feminina envelhecida no filho Norman e, por fim mostra-nos uma senhora de cabelos brancos e coque esfaqueando a cliente loura no chuveiro, numa das cenas mais clássicas do cinema. "Como assim?", pergunta-se o espectador de primeira viagem. Acho que não vou dar *spoiler porque a essas alturas, mesmo quem não viu, está cansado de saber que é o próprio Norman que, perturbado e esquizofrênico assume o papel da mãe, vestindo-se como ela e punindo quem quer que seja que venha a despertar algum tipo de desejo no reprimido Norman.
É incrível mas uma das mães mais célebres do cinema, não está verdadeiramente no filme. Loucura!
3. "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski (1968) - Rosemary (Mia Farrow) é uma futura mãe que pressente uma ameaça ao filho que ainda está em sua barriga, vinda de seus vizinhos, um casal de velhotes estranhos e enxeridos e, por incrível que pareça, de seu próprio marido. Tudo começa quando se mudam para o novo apartamento, conhecem os vizinhos e não muito tempo depois, o esposo, um ator pouco valorizado, ganha um papel importante em um filme em virtude da morte do ator que interpretaria o papel. O marido passa agir estranhamente, os velhos passam a estar constante e inconscientemente presentes em sua casa e sua vida e até mesmo administram à grávida uma estranha dieta à base de algumas ervas de origem e efeitos duvidosos. Aos poucos Rosemary, fragilizada física e emocionalmente, começa a desconfiar estar sendo vítima de alguma espécie de seita para a qual o bebê que leva dentro de si, provavelmente, virá a ser elemento chave.
Paranoia, imaginação, ansiedade, fantasia, reflexo de sua fraqueza física, estresse da gravidez? Exagero ou não, essa mãe vai brigar até o último instante para proteger seu filho de algo que, na verdade, nem ela sabe bem ao certo do que se trata mas que, pelo que vai se apresentando a ela, parece algo muito, muito maligno.
Mães e filhas e suas histórias. |
A maluca mãe de Carrie, disposta tudo para
que a filha continue pura.
|
A velha podia ser louca, mas não dá pra dizer que ela não avisou.
Sarah Connor não vai permitir que robô nenhum
se meta com seu filho.
|
Ela é fria é pragmática, objetiva, dura, durona, mas não poderia ser de outra maneira quando se sabe que seu filho, além de já ser naturalmente importante somente por ser seu filho, pode ser a salvação da humanidade.
9. "Leonera", de Pablo Trapero (2008) - Circunstância estranhas... Um homem morto, outro ferido, uma mulher inconsciente. Um dos dois seria o assassino? Teria sido uma quarta pessoa? Por que não ela não lembra de nada? Teria sido drogada? Ou não quer lembrar? O fato é que nesse mistério todo, a garota é quem vai parar na cadeia, só que grávida como se encontra, é enviada a uma instituição onde é permitido que as internas tenham lá seus bebês e depois permaneçam com as crianças no presídio, até os 4 anos de idade. Revoltada com a gravidez, relutante e resistente em ter o filho, num primeiro instante, Julia Zarate (Martina Gusmán), aos poucos vai sendo conquistada pelo seu pequeno rebento e seu instinto e amor de mãe acabam prevalecendo, fazendo dela uma mãe atenciosa e carinhosa, mesmo dentro daquele ambiente prisional.
O lugar, mesmo com as características tradicionais de uma instituição carcerária, em muitos momentos acaba parecendo uma creche e a presença das crianças acaba iluminando um pouco o lugar e garantindo-lhe, de certa forma, sempre um rasgo de alegria e esperança.
Só que em meio às situações corriqueiras de um presídio, envolvimentos íntimos, desavenças com outras internas, visitas do advogado, audiências de apelação, Julia vê-se às voltas com as investidas de sua mãe para levar o neto dali daquele ambiente que considera pouco apropriado para a criação de uma criança. Sob pretexto de tratar um resfriado do menino, a avó consegue convencer a mãe a tirá-lo de lá, em princípio, apenas para uma consulta médica, com a promessa de levá-lo de volta. Só que isso não acontece e aí Julia vai fazer de tudo para ter seu filho de volta.
Filme de uma mãe que até hesita um pouco no ofício divino que lhe é concedido mas que a partir do momento que se sente mãe, não vai deixar que ninguém tire isso dela. Uma leoa que protege sua cria a qualquer custo.
Uma das mortes clássicas de "Sexta-Feira 13".
Jason aprendeu direitinho com a mamãe.
|
quinta-feira, 19 de março de 2020
10 Filmes de Epidemias e Contaminações em Geral
As gotículas de saliva livres ao ar no bom sul-coreano "A Gripe".
|
O parasita de laboratório saindo de um dos hospedeiros. |
O médico, do filme dentro do filme, saindo de seu gabinete e indo tentar levar a cura à população. |