sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Música da Cabeça - Programa #394
Mal o BBB começou e já tem polêmica - e justo sobre ovo! Louco pra dar uma beliscada nesse prato, o MDC de hoje traz receitas da mais alta gastronomia. Echo & The Bunnymen, Vitor Ramil, Syd Barrett, Maria Bethânia e Stevie Wonder são os chefs convidados. Ainda, um aperitivo com sabor alemão no Cabeça dos Outros. Com o banquete farto, o programa põe a mesa às 21h na suculenta Rádio Elétrica. Produção, apresentação e "gema mole, por favor": Daniel Rodrigues.
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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2024
Se liga rapaziada de Liverpool que o tio Wayne tá chegando |
Então surgem outras curiosidades: a gente vê vários de Rolling Stones, Elton John, Smiths, e se pergunta "Quantos ingleses tem na lista?", aí vê Ramones, Madonna, Herbie Hancock, Aretha Franklin, e compara, "Será que tem mais americanos ou ingleses?", "e os brasileiros, como estão nessa parada?", e vão surgindo categorias e mais categorias. Qual ano tem mais grandes discos lembrados? Qual década se destaca?... E assim criamos o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, um levantamento que fazemos a cada ano, contabilizando os discos incluídos na última temporada na nossa seção, apresentando então quem está na frente em cada um dos critérios.
No último ano, entre os artistas internacionais, os Beatles continuam firmes na ponta como aqueles com mais discos citados, mas começam a sentir a proximidade do gênio do jazz Wayne Shorter que vem chegando como quem não quer nada. No âmbito nacional, se Caetano Veloso se manteve à frente por conta de um disco em parceira com Chico Buarque, o mesmo álbum fez com que o próprio Chico se aproximasse e alcançasse a segunda posição. Entre os países, o Brasil, com 8 dos 21 discos destacados no ano, deu um salto na tabela ampliando ainda mais a vantagem em relação aos ingleses, mas ainda longe dos norte-americanos que lideram com folga. Já nas épocas, a década de 70 continua sendo a que tem mais grandes álbuns mencionados, embora o ano que tenha mais obras seja da década de 80, o ano de 1986. No entanto, no ano passado, por trazer alguns discos que recentemente completavam 50 anos, o de 1974 foi o que apareceu mais na nossa galeria.
Ainda no que diz respeito aos anos, vamos dar uma 'trapaceada' desta vez: como o disco "Me & My Crazy Self", do bluesman Lonnie Johnson contém gravações de 1947 a 1953, vamos incluí-lo nos anos 40 só porque, até hoje, era a única década que não tinha nenhum disco indicado. Pode ser? (Segredo nosso. Fica entre a gente. Shhhh!!!)
Como destaques tivemos as estreias da talentosíssima musa francesa Françoise Hardy e do subestimado Ivan Lins no nosso seleto grupo de elite; o disco ao vivo de Gilberto Gil, no Tuca, um dos álbuns cinquentões do ano passado; mais um da rainha Madonna para marcar sua grandiosa vinda ao Brasil; e, em ano de Olimpíadas, um disco de atleta, o excelente "Rust in Peace", do faixa preta em taekwondo Dave Mustaine do Megadeth.
Bom, chega de papo-furado: vamos às listas, às colocações, aos números que é o que interessa aqui. Com vocês o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2024.
Dá uma olhada aí:
PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)
- The Beatles: 7 álbuns
- Kraftwerk e Wayne Shorter***: 6 álbuns
- David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane e John Cale* **: 5 álbuns cada
- Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, Philip Glass e Lee Morgan: 4 álbuns cada
- Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Madonna, Iron Maiden , U2, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
- Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Chemical Brothers, Sean Lennon, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Sinéad O'Connor, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
- Caetano Veloso: 8 álbuns*#
- Gilberto Gil * ** e Chico Buarque ++ #: 7 álbuns
- Jorge Ben ** e João Gilberto* ****: 5 álbuns
- Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, , e Milton Nascimento***** º: 4 álbuns
- Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
- João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura, Cartola, Baden Powell*** e Criolo º : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
PLACAR POR DÉCADA
- anos 20: 2
- anos 30: 3
- anos 40: 1
- anos 50: 121
- anos 60: 101
- anos 70: 166
- anos 80: 142
- anos 90: 108
- anos 2000: 20
- anos 2010: 18
- anos 2020: 3
*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1
PLACAR POR ANO
- 1986: 24 álbuns
- 1977 e 1972: 21 álbuns
- 1969: 20 álbuns
- 1976: 19 álbuns
- 1970, 1971, 1985 e 1992: 18 álbuns
- 1968, 1973 e 1979 17 álbuns
- 1967, 1975 e 1980: 16 álbuns cada
- 1983 e 1991: 15 álbuns cada
- 1965, 1988, 1989 e 1994: 14 álbuns
- 1987 e 1990: 13 álbuns
- 1990: 12 álbuns
- 1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
- Estados Unidos: 218 obras de artistas*
- Brasil: 167 obras
- Inglaterra: 130 obras
- Alemanha: 11 obras
- Irlanda: 8 obras
- Canadá: 5 obras
- Escócia: 4 obras
- Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
- Austrália, França e Japão: 2 cada
- Itália, Hungria, Suíça, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
cotidianas #852 - "Poema Abraço"
Ilustração original de Cândido Portinari do livro As Metamorfoses, de 1944 |
lutam com os sonhos
Pela posse do poema.
Convida a criação às núpcias,
O véu da ternura desce
Sobre a carne inconformada.
Mostra a inicial de Altair.
Responde o clarim augusto:
─ Vestida de água e céu
No espelho do futuro
Te assisto refletida.
Serás tu mesma? Ou sou eu.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
A arte do MDC em 2024
Contudo, música boa nunca morre. E como nos alimentamos disso, também aproveitamos esse poder de Fênix para exibirmos 41 programas, a grande maioria inéditos, entre janeiro e dezembro, mesmo com a devida parada forçada entre maio e julho e a boa atrapalhada que isso gerou para o restante dos meses. Igualmente às música que preenchem o programa, os temas que os motivam também tiveram aquelas artes que anunciam cada programa semanalmente. Baseadas em temas do cotidiano, fatos do Brasil ou do mundo, curiosidades ou até mesmo uma imagem interessante, essas artes formam uma espécie de vitrine cronológica do MDC ao longo do período. Reuni-las, assim, em retrospectiva, dá essa dimensão de crônica visual daquilo que formos expressando no ano.
Como já dito nos últimos anos desde que começamos a fazer esse resgate tal qual o blog já propunha há mais tempo com, essas sim, consideráveis artes de A Arte do Clyblog (feitas com a devida habilidade por meu irmão e coeditor Cly Reis), as produções artísticas do MDC não são lá essas coisas tecnicamente. Mas se se peca por perícia, compensa-se com criatividade e olhar, digamos, jornalístico para a escolha dos temas. Aí, sim, o MDC se acha. E rolou bastante coisa pra gente se inspirar em 2024! Teve de show da Madonna em Copacabana a prenúncio apocalíptico de Baby do Brasil, passando ainda por cadeirada do Datena, tiro na orelha do Trump, reverência a Rebeca Andrade nas Olimpíadas e Cate Blanchet confessando seu amor por Clarisse Lispector... e pelo MDC!
Fiquem com a seleção de algumas dessas artes em imagem e vídeo. Não deu pra ser tão rico como 2022 e 2023, certamente. Perdoem-nos. Mas não invalida nossa retrospectiva, que se saiu bem com o que foi possível fazer. Confiram.
Lá do início de 2024, o segundo MDC do ano e há exatos 365 dias dos atos golpistas de 2023. Sem anistia! |
O começo do ano também teve coisa boa, como os 80 anos de Angela Davis, celebrado no programa 355, de 31 de janeiro |
E o Carnaval? Ah, a festa do Momo sempre nos guarda momentos insuspeitos, como este envolvendo Ivete Sangalo e Baby do Brasil em Salvador. Não podíamos deixar de aproveitar essa deixa |
Na edição fechada de 360, demos, literalmente, um 360 graus em quadrinhos, cinema, história e muito mais na entrevista especial com o amigo Christian Ordoque. Foi muito legal. |
Ninguém gosta de perder um amigo, que foi o que sentimos quando Ziraldo nos deixou e lhe fizemos a devida homenagem na edição de 10 de abril |
Deu tempo de tirar um sarro da Madonna às vésperas dela fazer seu show histórico em Copacabana. Mal sabíamos que este seria o último programa antes da parada por causa das enchentes no RS... |
E, em junho, chegaram as Olimpíadas de Paris! Não tinha como não fazer meme com essa cara de inveja da Simone Billes vendo a Rebeca Andrade se apresentar |
O polêmico e necessário tema da escala 6x1 veio à tona e motivou nosso MDC 386, de 13 de novembro, que contou com essa sagaz arte da amiga designer Mariluce Veiga |
Na edição 388, mais uma vez inspirados pela arte, mas desta pela falta de criatividade do italiano Maurizio Cattelan. Só achando graça mesmo - e viva Andy Warhol! |
Ludmila inventou de usar o boi folclórico sem permissão e se deu mal. Nossa arte - que ficou joinha - em cima deste fato ocorrido na semana de 23 de outubro |
Só se falava em Vini Jr. pelas ruas e redes sociais. Claro, a gente falou também do melhor do mundo, inegavelmente. Edição de 30 de outubro |
Queda de ditador? Tivemos também em 2024. Bashar Al-Assad caiu, e o MDC tascou lá em uma de suas últimas edições do ano, já em dezembro, para o programa especial de 390 |
Não só na Síria: aqui mesmo no Brasil os intocáveis começaram a cair também. Que confortante (e pedagógico) ver Braga Neto, um general, recebendo voz de prisão. 2025 promete... |
E Papai "Luloel" fechou nosso ano difícil, mas sempre com bom humor - e, claro, sempre vale lembrar: é sem anistia, porraaaaa! |
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Música da Cabeça - Programa #393
2024 teve eleição do Trump, chuvas torrenciais, prisão de General, voo de surfista, perda do Ziraldo e do Cícero, bloqueio do X... É, teve um "de tudo", mas o que teve também foi MDC a dar com pau todo o ano. Mesmo com uma pausa forçada entre maio e junho, o programa trouxe todas as quartas aquelas músicas que grudaram na mente, e são elas que vão preencher nossa primeira edição de 2025. Uma retrospectiva de várias edições do ano que se encerrou há pouco é o que rola hoje, 21h, na próspera Rádio Elétrica. Produção, apresentação e dias melhores: Daniel Rodrigues.
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Globo de Ouro 2025 - Os Vencedores
Repetindo o feito histórico de sua mãe, a grandiosa Fernanda Montenegro, indicada ao mesmo prêmio em 1999 e que levou com Waltinho o de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa por "Central do Brasil" naquele ano, a vitória de Fernanda, para além do eficiente marketing que Sony Pictures vem investindo em "Ainda Estou Aqui" no mercado norte-americano, reforça aquilo que, a partir de agora, tornou-se o próximo objetivo a ser alcançado: o Oscar.
Neste caso, o buraco é mais embaixo, mas não impossível. Enquanto os indicados ao Oscar não saem, o que deve ocorrer em 17 deste mês, há duas hipóteses visíveis. Uma delas, é Fernanda, sendo realmente indicada, disputar diretamente com Demi Moore, forte concorrente pelo ótimo "A Substância". No Globo de Ouro, esse embate não ocorreu, pois ambas estavam em categorias diferentes, sendo que Demi, na de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical, também foi premiada. Ou seja: em relação a Nicole, Tilda, Angelina e Kate, outras possíveis indicadas, Fernanda já largou uma cabeça à frente. Falta ver agora se terá fôlego pra ultrapassar Demi no páreo.
Há um fator que, curiosamente, pode contribuir positiva ou negativamente: a conquista de sua mãe anos atrás. Naquele feita, a Academia do Oscar valeu-se da indicação de Fernandona por seu papel de Dora em "Central..." e a premiação do mesmo (também de Walter Salles, informações essencial) como salvo-conduto para não premiar uma "não-americana". Embora merecesse - a própria Gwyneth Paltrow, vencedora daquele Oscar, concordava com isso -, a brasileira teve de se contentar com o Globo de Ouro., jamais previsto a uma senhora de um país exótico diante das figuras estelares de Hollywood àquela época. No caso de Fernanda Torres, essa correlação com a mãe é também favorável, pois os norte-americanos gostam de valorizar a ancestralidade - como produto, claro.
Por outro lado, por mais que se precise fazer algum esforço para acreditar que o pessoal do Oscar evoluiu de lá para cá - haja vista os reconhecimentos a atrizes estrangeiras como a nipônica Michelle Yeoh, em 2023, para se centrar nessa categoria -, é possível que uma visão mais moderna (e equânime) dos tempos atuais favoreça Fernanda. Afinal, a conquista do Globo de Ouro sempre foi um indicativo a qualquer vencedor de que este é um forte candidato ao Oscar. Isso, mais o lobby da Sony, o prestígio e a carreira internacionais de Waltinho, o espelhamento com o que já acontecera com "Central...", a pré-indicação de "Ainda..." ao Oscar de Melhor Filme Internacional e, principalmente, a força da atuação de uma atriz já reconhecida internacionalmente (vale lembrar que Fernanda Torres é Palma de Ouro em Cannes por "Eu Sei que Vou te Amar", de 1986) dão a ela totais condições de superar Demi. Talvez o filme em si seja o favorito para que o Brasil vença o Oscar, mas, na prática, é bastante cabível pensar que Fernanda também posso levar.
Resta agora saber se a Academia permitirá que se faça justiça nessa corrida "cabeça a cabeça" entre Fernanda e Demi.
Confira a lista completa dos vencedores do Globo de Ouro 2025:
📹📹📹📹📹📹📹📹
Melhor Filme (Drama)
O Brutalista
Melhor Filme (Musical ou Comédia)
Emilia Pérez
Melhor Diretor
Brady Corbet, O Brutalista
Melhor Ator (Drama)
Adrien Brody, O Brutalista
Melhor Atriz (Drama)
Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui
Melhor Ator (Musical ou Comédia)
Sebastian Stan, Um Homem Diferente
Melhor Atriz (Musical ou Comédia)
Demi Moore, A Substância
Melhor Ator Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)
Kieran Culkin, A Verdadeira Dor
Melhor Atriz Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)
Zoe Saldaña, Emilia Pérez
Melhor Roteiro
Conclave
Melhor Filme em Língua Não Inglesa
Emilia Pérez
Melhor Filme de Animação
Flow
Melhor Canção Original
El Mal, Emilia Pérez, música e letras de Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard
Melhor Trilha Sonora Original
Rivais
Maior realização cinematográfica e em bilheteria
Wicked
Melhor Série Dramática
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
Melhor Série de Comédia ou Musical
Hacks
Melhor Série Limitada, Antologia ou Filme para TV
Bebê Rena
Melhor Ator Em Série Dramática
Hiroyuki Sanada, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
Melhor Atriz Em Série Dramática
Anna Sawai, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
Melhor Ator em Série Musical ou Comédia
Jeremy Allen White, O Urso
Melhor Atriz em Série Musical ou Comédia
Jean Smart, Hacks
Melhor Atriz Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)
Jessica Gunning, Bebê Rena
Melhor Ator Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)
Tadanobu Asano, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
Melhor Ator (Série Limitada, Antologia ou Filme para TV)
Colin Farrell, Pinguim
Melhor Atriz (Série Limitada, Antologia ou Filme para TV)
Jodie Foster, True Detective: Terra Noturna
Performance em Comédia Stand-up para TV
Ali Wong
Daniel Rodrigues
domingo, 5 de janeiro de 2025
“Juvenal en Viaje_Colômbia”, de Renato Mangolin - Pandorga Cia. de Teatro (2024)
Filmes de teatro, na grande maioria das vezes, não funcionam. No campo da ficção, há, sim, inúmeras boas adaptações. Porém, comumente essas artes não dialogam tão facilmente, o que leva a que, não raro, os problemas da transposição já apareçam no roteiro, prejudicando, em geral, todo o restante do filme. É como se ambas as linguagens, teatro e cinema, fossem formadas de barros muitas vezes incompatíveis. Com documentários de teatro, embora por motivos distintos, não é muito diferente. O conceito de “teatro filmado” é uma das coisas mais enfadonhas que existe, visto que deixa de cumprir as duas funções: nunca consegue captar a atmosfera da encenação ao vivo e, por consequência, resulta em um audiovisual superficial e desprovido de alma.
Há, porém, quem entenda que essa estratégia fílmica precise de maior criatividade. "Moscou", de Eduardo Coutinho, (2009), e "Filme Ensaio", de Maria Flor (2018), são bons exemplos. É o caso também do saboroso documentário “Juvenal en Viaje_Colômbia”, da companhia de teatro carioca Pandorga e da qual tenho especial carinho, principalmente por conta dos amigos Cleiton Echeveste, dramaturgo e diretor, e Eduardo Almeida, ator e produtor, este último, o que encarna o personagem Juvenal e protagoniza filme e peça. Tive, aliás, o prazer de assistir a montagem que originou o documentário, "Juvenal, Pita e o Velocípede", há pouco menos de 10 anos, no Centro Cultural Justiça Federal, Centro do Rio de Janeiro, onde esta estreou, ao lado de minha esposa Leocádia e de minha sobrinha Luna, então com 5 anos, e fiquei encantado (aliás, como elas e a absoluta maioria da plateia).
Terceiro espetáculo para público infanto-juvenil da Pandorga, “Juvenal, Pita e o Velocípede”, com direção de Cadu Cinelli e dramaturgia de Cleiton, é um monólogo que traz diversas reminiscências de Edu, contando o reencontro do protagonista com Pita, sua amiga imaginária da infância, após se afastarem por cerca de 30 anos. Fazendo um inventário de lembranças, Juvenal se depara com o velocípede que seu tio construiu especialmente para ele, o que serve de estopim para uma série de reencontros e descobertas emocionais. O espetáculo foi ganhador dos Prêmios CBTIJ na categoria Ator (Eduardo Almeida) e Zilka Sallaberry nas categorias Texto (Cleiton Echeveste) e Iluminação (Ricardo Lyra Jr.) e foi apontado como um dos destaques da temporada 2018 paulistana pelo Guia Folha.
Cartaz da peça de 2015 |
Este breve argumento é suficiente para criar uma narrativa muito agradável deste quase roadie-movie, mostrando os trechos percorridos para as duas apresentações, desde a saída do Brasil até a viagem de uma cidade à outra em terras colombianas. Além disso, traz com riqueza os momentos na maioria das vezes distantes aos olhos comuns, que são os bastidores do mundo teatral. As decisões, as trocas de ideias, as adaptações, as inseguranças, as apreensões, os intercâmbios, as horas de preparação física e emocional de cada um dos membros da equipe, da iluminação à cênica, tudo é evidenciado de uma maneira bastante orgânica, que dá uma noção do quanto trabalho exige para que o público assista o produto final, aquilo que vai para o palco.
Ou seja, o documentário acerta em não reproduzir a peça e, sim, em delineá-la. São poucos trechos de Eduardo em cena que se veem na tela, mas suficientes para transmitir a atmosfera da mesma e, principalmente, a interação desta com os públicos locais: um, num espaço fechado, o Teatro Matacandelas, e o outro em plena rua. A edição funciona muito bem, dando um ritmo ideal entre bastidores, diálogos filmados, depoimentos, cenas e, claro, atuação. Dá tempo até de o espectador "turistar" um pouco nas bonitas cenas de passeio da trupe pelas ruas da capital da Colômbia ou nas paisagens do interior do país andino, o que atribui outro aspecto interessante ao filme.
Mais do que isso, no entanto, é apreciável o sensível crescente emocional a que a história leva quem assiste. O universo onírico da peça é reproduzido e ressignificado no filme num outro estado de apreciação para além do original, fazendo dialogar, de forma criativa, teatro e cinema. “Juvenal en Viaje_Colômbia” faz com que se aproveite a experiência do que a viagem proporciona, fazendo valer aquela máxima de que nunca se retorna desta o mesmo que começou o trajeto. Por isso, culminar as filmagens com a apresentação em plena praça pública, no meio do povo, mais o desfecho em off e retornando à infância de Eduardo, dá um caráter ainda mais metalinguístico à obra. É a linguagem do teatro e do cinema se conciliando, provando que é possível casar estas duas artes e forjá-las com o mesmo barro quando este barro é de natureza nobre.
Eduardo Almeida, já encarnado do personagem Juvenal, anda no meio do povo antes de entrar em cena na bucólica Santa Fé de Antioquia |
Daniel Rodrigues
sábado, 4 de janeiro de 2025
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
cotidianas #851 - "Dia 1"
E ficava ótimo curtir a cidade assim no Natal. Ruas
desbloqueadas, trânsito civilizado, pouco movimento no supermercado,
restaurantes frequentáveis. Um alívio a todos aqueles estímulos sensoriais
constantes. A grosseria, o barulho, a histeria, a violência, até a mendicância
haviam todos se mudado – mesmo que temporariamente. Nei não lembrava que a
cidade ficava tão boa nessa época.
Porém, como é de praxe também, após a festividade natalícia,
aí sim é que a cidade esvazia de verdade.
E esvaziou.
Havia ainda uma pessoa que outra a pé nas ruas. Carros,
muito de vez em quando. O comércio, a maioria fechado: em recesso ou em férias
coletivas. Todos merecem descanso, pois trabalharam o ano todo, pensava. Nas
descidas do apartamento para as necessidades do Guilherme, foi raro encontrar
algum vizinho fazendo o mesmo. Uma, duas, três, quatro vezes - e fosse pela
manhã, tarde ou noite, independia. Tudo muito vazio, inóspito, silencioso, até
inseguro. Nei arrepiou-se.
No fundo, ele entendia tamanho deslocamento. Havia um
sentimento no ar de aproveitar o melhor possível os feriadões do final de ano,
pois aquele tinha sido especialmente difícil para todo o Estado. Uma grave
tragédia climática se abatera sobre o lugar meses antes, matando gente, desalojando
milhares, provocando perdas irreparáveis. Recuperar-se disso demandou muita
força de vontade e resiliência da população. Concluir o ano, então, tornou-se o
primeiro e imediato alívio para mentes e corações ainda abalados com a calamidade.
Era compreensível que a maioria quisesse passar os bons momentos da virada
longe de onde sofreram tanto, já que, inevitavelmente, haveriam de voltar
depois para as próprias casas (os que não as perderam na tragédia, claro).
Nei e sua família só não acompanharam o fluxo da massa
porque, justo por conta do aquecimento imobiliário no litoral, amigos haviam
alugado sua confortável casa de praia para a temporada. Então, resolveram de
comum acordo ficarem na evacuada Horto Feliz. Mas conforme se aproximava do dia
31, mais ermo ficava. Menos gente se via. Aliás, mais ninguém. Casas mudas,
janelas fechadas, trânsito zero. Estranho... Todo ano, o povo se mudava para
outros lugares no Ano Novo, isso era comum. Mas desta vez, estava diferente.
Algo radical e misterioso parecia estar acontecendo. Nei e os seus não quiseram
pagar pra ver: valeram-se do que tinham na dispensa, passaram a tranca na porta
e se enclausuraram dentro de casa. Temerosos.
Nem precisa dizer que aquela foi a mais desagradável virada
de ano de suas vidas. No escuro, socados em casa, com medo e no silêncio. Nem
os fogos de artifício espocaram no céu, para sorte de Guilherme, que desta vez
se livrou dos desesperadores barulhos de bomba. Não houve contagem regressiva, espumante,
cumprimento, Feliz Ano Novo, selfie e nem abraços. O negócio era dormirem
algumas horas para, quando o sol raiasse, tomarem juntos alguma providência.
Já de manhãzinha, desceram as escadas cuidadosos em direção à porta de saída,
mas sem qualquer ameaça (ou esperança) ao redor, tendo em vista que nenhum
vizinho se encontrava no bloco. Nem em todo o condomínio. Sob o olhar julgador
dos filhos e da esposa, Nei avisou que não seria possível pegarem o carro, porque
não havia abastecido o suficiente para uma viagem maior na crença de que, em
alguma saída boba ao mercado, passaria num posto e reporia o tanque. Teriam que
ir a pé.
Em grupo, quase colados, mas ligeiros, andaram pelo bairro o
qual raramente acessavam a pé, olhando para os lados, tão admirados pelo o que
não conheciam do que pela inação a qual presenciavam. Um silêncio assustador abrandado
apenas pelo barulho do vento na vegetação e pelo canto dos pássaros, que podiam cantar livremente sem competirem com
o ruído da urbe.
A esposa mandava os filhos não se distanciarem. A marcha era
forte, principalmente para as pernas mais curtas do menor. Precisavam chegar em
algum lugar. Cruzaram com uma árvore em frente a um prédio em que as luzinhas
de Natal tocavam um antes inaudível Jingle Bells já desafinando em razão das
pilhas gastas. Foi quando ouviram, de repente, o som de um veículo se
aproximando. Uma caminhonete de vidros insulfilmados, que dobrou a rua cantando
pneu e saiu em alta velocidade até sumir no horizonte em segundos. Eles, que acharam
por alguns instantes terem retornado à civilização, se entreolharam desiludidos
e sem se dirigirem palavras. Depois disso, mais nenhum sinal de vida por
qualquer lado que olhassem. Tudo havia parado de fato. Nenhuma viva-alma sequer
vista em quarteirões. Deserto.
Horto Feliz tinha se tornado uma cidade-fantasma.
Como Nei desconfiou, todos os postos de gasolinas que
avistaram no caminho restavam abandonados: nem frentista, nem carros e nem
energia. A cena calamitosa, ao menos, lhe amenizou um pouco a culpa por não poder
pegar o carro e evitar aquela situação para todos, que caminhavam assustados e
apressados para chegar sabe-se lá onde.
Carregando no colo Guilherme – cujas articulações gastas não o permitiam mais andar tanta distância – Nei, embora ofegante, indagava-se mentalmente: “Será que lá no litoral as pessoas estão felizes?” “Será que, realmente, estão TODOS lá?” “Terão gostado tanto de lá, que não pensem mais em voltar?” “Será que os encontraremos quando chegarmos, se chegarmos?” Outras inquietações, inclusive, lhe ocorriam: "Como ficará nosso apartamento, nossas coisas, o trabalho, a escola das crianças?!" "Teremos chance de... recomeçar?..."
Nei apressava o passo e cobrava com a voz trêmula de pavor
que os outros o fizessem também. A noite começava a cair, e na estrada não era
nada recomendável que andassem no escuro. A madrugada os esperava, contudo. Era
inevitável. Quem sabe, após resistirem à noite, o dia 2 guardasse uma boa
novidade.